Plant Project #28

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

O AGRO SUSTENTÁVEL COM TODO O GÁS

A COP26 reafirma o papel do agronegócio como parte da solução na descarbonização do planeta OS GUARDIÕES DA ÁGUA

GESTÃO HÍDRICA DAS FAZENDAS TEM AJUDADO A MUDAR O CURSO DA PRODUÇÃO

PLANT TALKS AS PERSPECTIVAS DO SETOR NA VISÃO DE CINCO LÍDERES O ARTISTA DAS PLANTAS EXPOSIÇÃO CELEBRA A GENIALIDADE DE BURLE MARX, O HOMEM QUE SEMEOU OBRAS-PRIMAS NOS JARDINS

CONECTIVIDADE LEILÃO DO 5G DÁ A LARGADA PARA A NOVA CORRIDA DO AGRO DIGITAL

AGTECH

venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

O DESEMBARQUE DE UM UNICÓRNIO AMERICANO NO BRASIL PLANT PROJECT Nº28

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RECOMENDA

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PLANT PROJECT Nº28

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E d ito ri a l

A edição que você tem nas mãos foi concluída ao apagar as luzes de 2021. Ano

O AGRO EM 2022

complexo, de crise hídrica, pandemia em curso, retomada lenta da normalidade, se é que um dia voltaremos a viver como vivíamos anteriormente. Quem olha para o campo pode ter a sensação de que, na prática, nada mudou. Con-

Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

tinuamos produzindo mais a cada safra, embora sempre sob a lâmina cruel dos humores do clima ou de fatores externos de mercado. No agro brasileiro, a

O AGRO SUSTENTÁVEL COM TODO O GÁS

resiliência e a superação são o velho e bom normal.

A COP26 reafirma o papel do agronegócio como parte da solução na descarbonização do planeta OS GUARDIÕES DA ÁGUA

Saímos de 2021, porém, diante de um novo cenário: após a COP26, ficou mais

GESTÃO HÍDRICA DAS FAZENDAS TEM AJUDADO A MUDAR O CURSO DA PRODUÇÃO

PLANT TALKS AS PERSPECTIVAS DO SETOR NA VISÃO DE CINCO LÍDERES

presente para o mundo a percepção de que nas fazendas não vivem os vilões

O ARTISTA DAS PLANTAS EXPOSIÇÃO CELEBRA A GENIALIDADE DE BURLE MARX, O HOMEM QUE SEMEOU OBRAS-PRIMAS NOS JARDINS

ambientais do planeta, mas sim muitas das soluções para os urgentes desafios

CONECTIVIDADE LEILÃO DO 5G DÁ A LARGADA PARA A NOVA CORRIDA DO AGRO DIGITAL

AGTECH

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O DESEMBARQUE DE UM UNICÓRNIO AMERICANO NO BRASIL PLANT PROJECT Nº28

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impostos pela aceleração das mudanças climáticas. Produzir energia limpa, sequestrar carbono, regenerar áreas degradadas, produzir mais em menos área. O mundo busca soluções que podem ser aplicadas imediatamente – e todas essas já estão postas, testadas e aprovadas em propriedades rurais brasileiras. Falta o incentivo financeiro, a valorização do mercado, a compreensão de que só será verde o produtor que não estiver no vermelho. A COP26 avançou, por exemplo, na regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris, que trata da criação de um mercado global oficial de carbono. Abre-se, ali, uma porteira imensa para a chegada de novos recursos ao agro brasileiro. Em 2022, temos a oportunidade – para não dizer obrigação – de implementar regras nacionais para o funcionamento desse mercado. Em 2022, podemos iluminar ainda mais a vitrine do nosso agro responsável, incentivando a adoção de boas práticas e punindo, efetivamente, aqueles que desrespeitam as nossas modernas leis ambientais e trabalhistas. Em 2022, talvez não seja hora ainda de colher, mas de cuidar do manejo da imagem que plantamos e gostaríamos de ver crescer no nosso campo. O clima, nesse caso, pode ficar a nosso favor. Um produtivo e próspero 2022 para todos!

Luiz Fernando Sá Diretor Editorial

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D i r etor E ditoria l Luiz Fernando Sá luiz.sa@plantproject.com.br D i r etor Comerc ia l Renato Leite Marketing e Publicidade Multiplataforma renato.leite @plantproject.com.br D i r etor Luiz Felipe Nastari A rt e Andrea Vianna Projeto Gráfico e Direção de Arte E d i tor Romualdo Venâncio romualdo.venancio@plantproject.com.br Col ab o ra dores: Texto: Texto: Amauri Segalla, Daiany Andrade, Eliane Lobato, Evanildo da Silveira, Felipe Porciúncula, Irineu Guarnier Filho, Lívia Andrade, Ronaldo Luiz. Fotos: Isadora Guarnier Design: Bruno Tulini Revisão: Rosi Melo Ev e n to s Simone Cernauski A d m i n i st ração e Fina nç as Cláudia Nastari Sérgio Nunes

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Queda da produção provoca um doce debate no Canadá

GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

foto: Shuttestock

Retirada de seiva das árvores de bordo, matéria-prima do famoso maple syrup:

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GLOBAL

fotos: Shuttestock

O lado cosmopolita do agro

CA N A DÁ

UM DOCE PROBLEMA Mudanças climáticas afetam produção do xarope de bordo, famoso por adoçar panquecas e waffles, e obrigam canadenses a recorrer a reservas estratégicas para evitar a escassez do produto no mercado

Ao longo da história, os países construíram sua reputação com a ajuda das marcas e produtos que exportam. Na Itália, as grifes de roupa e os carros esportivos consolidaram a imagem perfeita da sofisticação. Nos Estados Unidos, as Big Techs e o Vale do Silício passaram mais recentemente a associar a maior economia do mundo a grandes feitos tecnológicos. No Canadá, esse papel é exercido por um singelo produto: o xarope de bordo, conhecido em inglês como maple syrup. Parece coisa à toa, mas quem já provou panquecas e waffles adoçados com a iguaria sabe de seu imenso valor. Do ponto de vista 8

econômico, o xarope de bordo é um monumento. Seu litro custa atualmente US$ 9, o que equivale a cerca de cinco vezes o preço do petróleo. Não à toa, o produto acrescentou aproximadamente US$ 780 milhões ao PIB do Canadá em 2021. Estaria tudo certo se um fenômeno típico dos novos tempos não ameaçasse o xarope de bordo canadense. Com as mudanças climáticas e os efeitos nefastos do aquecimento global, a última primavera no Canadá foi mais curta e quente, o que afetou a produtividade das árvores de bordo (ou ácer, como é seu nome na botânica), que fornecem a seiva para a produção do


xarope. Fenômenos incomuns como o degelo precoce e as altas temperaturas verificadas em abril no Canadá contribuíram para que a produção em 2021 mal chegasse a 60 mil toneladas, bem abaixo das 79 mil toneladas produzidas em 2020. Ao mesmo tempo, a demanda mundial, impulsionada principalmente pelos Estados Unidos, subiu 21% no ano, e o que se viu foi a formação de uma tempestade perfeita para o setor. Apaixonados por panquecas e waffles, os Estados Unidos respondem por cerca de metade do mercado global. Escassez da matéria-prima e demanda elevada compõem, na economia, o cenário perfeito para comprometer o abastecimento. Para evitar o agravamento da crise, a Federação de Produtores de Xarope de Bordo de Quebec (QMSP, na sigla em inglês) usou um artifício típico dos produtores de petróleo: recorreu às chamadas reservas técnicas. A entidade decidiu liberar cerca de 22 mil toneladas de maple syrup guardadas estrategicamente – foi a única maneira encontrada para eliminar de vez o risco de sumiço do produto no mercado.

As reservas estratégicas do xarope de bordo foram criadas em 2020 como mecanismo para combater as flutuações da produção e demanda do adoçante. Em linhas gerais, trata-se exatamente do mesmo procedimento adotado pelas grandes petrolíferas. Nos anos em que ocorre o excesso de produção, separa-se o excedente para futuras emergências. No caso do maple syrup, ele fica guardado em barris vedados e esterilizados em uma área do tamanho de cinco campos de futebol na cidade de Laurierville, no Canadá. Se a demanda é maior do que a produção, exatamente o cenário que se viu em 2021, parte do xarope é retirada das reservas para então abastecer o mercado. Atualmente, as reservas de Laurierville armazenam 44 mil toneladas do xarope, mas esse volume agora será reduzido à metade. A preocupação é que novos eventos climáticos possam atrapalhar a produção nos próximos anos, o que seria devastador para o equilíbrio do mercado. Produtores da região de Quebec já estudam inclusive a possibilidade de antecipar a safra e melhorar o manejo das árvores de bordo, o que poderia

ao menos aliviar a oscilação dos humores atmosféricos. Não é a primeira vez que os produtores canadenses ficam sob forte tensão. Em 2012, US$ 18 milhões em maple syrup foram roubados da reserva estratégica da QMSP, num esquema sofisticado que consistia no desvio paulatino do produto ao longo de meses. A polícia prendeu 20 pessoas pelo golpe. O xarope de bordo está enraizado na alma canadense. A tradição começou séculos atrás, quando a maioria das famílias de Quebec vivia na zona rural e a retirada da seiva das árvores era a principal fonte de renda. Com o passar do tempo, a produção cresceu de maneira explosiva e todo o sistema tornou-se mais profissional. Surgiram os grandes grupos donos de terras, que passaram a exportar e fazer negócios em larga escala. Atualmente, a região de Quebec reúne 11 mil produtores e é responsável por 70% do xarope de bordo consumido no mundo. A maple tree é tão reverenciada que sua folha acabou incorporada à bandeira do Canadá, em 1965. Como se vê, o xarope de bordo é mesmo um dos grandes patrimônios do país. PLANT PROJECT Nº28

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G I TÁ L I A

UM BAND-AID PARA PLANTAS Nos últimos dois anos, pesquisadores do Instituto Italiano de Tecnologia, uma das referências em inovação na Europa, se dedicaram a um projeto inédito. Eles queriam encontrar maneiras de monitorar e tratar eventuais doenças das plantas ao mesmo tempo. Depois de testarem diversos tipos de materiais, encontraram finalmente o que buscavam: um adesivo inteligente, parecido com o bom e velho Band-Aid, que não apenas colhe informações dos vegetais, mas também libera moléculas no seu sistema vascular. Assim, o tal “curativo”, que é na verdade um chip robótico, capta dados sobre as condições de saúde da planta e os níveis de temperatura, umidade e luz. Se ela estiver doente, o chip pode, por exemplo, liberar substâncias como pesticidas ou fertilizantes. “Nossos estudos sempre começam observando a natureza, buscando replicar as estratégias empregadas por criaturas vivas por meio de tecnologias robóticas de baixo impacto ambiental”, disse Barbara Mazzola, uma das líderes da pesquisa.

SUÉCIA

Fungos no lugar da gordura animal

Fazendeiros tailandeses adotaram uma estratégia inusitada para atacar pragas e ervas daninhas das plantações: em vez dos tradicionais pesticidas, os agricultores usam patos como defensores das lavouras. Funciona assim: de tempos em tempos, milhares de aves são soltas nos campos para que se alimentem. E elas, conforme os tailandeses aprenderam, adoram comer 10

ervas daninhas, pragas e moluscos como caracóis – tudo o que pode destruir uma plantação. Não é apenas isso. Os excrementos dos patos se transformam em adubo e a força produzida pelos seus passos é capaz de deixar o solo mais plano, diminuindo a necessidade de lavrar a terra. Em uma semana, 10 mil patos eliminam pragas em uma área de 15 acres (cerca de 6 ha) de plantação. A iniciativa parece excêntrica, mas a utilização das aves vem ganhando espaço na agricultura. China, França, Irã e Japão também são adeptos do método.


G REINO UNIDO

INSETOS PARA ALIMENTAR GALINHAS A WM Morrisons, segunda maior rede de supermercados do Reino Unido, adotou uma estratégia inédita para reduzir as emissões de carbono de suas operações. Os fornecedores de ovos da empresa irão alimentar as galinhas com insetos em vez de ração de soja. De acordo com estudos recentes, o maior contribuinte para as emissões de criadores de galinha é a ração, que normalmente representa 85% da pegada de carbono de um ovo. Ao usar insetos como alimentos, esse índice será reduzido drasticamente.

Não é a única iniciativa da Morrisons na área ambiental. O grupo associou-se recentemente a uma startup canadense para desenvolver outro projeto incomum. Nesse caso, a ideia é alimentar vacas com algas marinhas e, assim, também substituir a tradicional ração. Segundo a companhia, as emissões de seus fornecedores deverão ser reduzidas em pelo menos 70% até 2030.

E S TA D O S U N I D O S

AS PIMENTAS DO ESPAÇO SÃO MAIS ARDIDAS Os astronautas que estão a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS) degustaram no final de outubro um banquete único. Eles comeram pimentas cultivadas no próprio espaço sideral. Não foi a primeira vez que alimentos produzidos em órbita puderam ser consumidos. Desta vez, porém, a iniciativa quebrou um recorde: trata-se do experimento com plantas mais longo da história da Estação Espacial. As 48 sementes da pimenta Hatch Green Chile chegaram à ISS em junho de 2021 e, 137 dias depois – 17 dias a mais do que levariam na Terra –, 26 delas se desenvolveram perfeitamente. Segundo os astronautas, o sabor é mais intenso do que as pimentas terráqueas, o que talvez se deva aos efeitos da microgravidade. Batizado de Plant Habitat-04, o projeto é liderado por pesquisadores da Nasa, a agência espacial americana, e tem como meta produzir quantidade de alimentos suficiente para fornecer boa parte da dieta dos astronautas. PLANT PROJECT Nº28

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G E S TA D O S U N I D O S

Uma fazenda no metaverso O QUE É Happy Land é um jogo baseado em tecnologia blockchain que permitirá aos praticantes se tornarem fazendeiros no metaverso. Eles terão a oportunidade de comprar e vender terras, cultivar lavouras, criar animais, desenvolver sementes e até trazer novas tecnologias para o ambiente agrícola virtual. INSPIRAÇÃO Os criadores do jogo se inspiraram nos grandes fazendeiros do Texas, estado americano que detém um dos maiores rebanhos bovinos do mundo. Alguns deles chegaram a atuar como consultores para o desenvolvimento do jogo.

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O metaverso, ambiente virtual no qual as pessoas de carne e osso se relacionam, trabalham, estudam e se divertem com seus avatares, está ganhando impulso com o avanço das tecnologias de realidade virtual. Como não poderia deixar de ser, o conceito está presente no universo agrícola. Ao longo de 2021, um grupo

de investidores e desenvolvedores de diversos países, incluindo Estados Unidos, Inglaterra e Austrália, criou a Happy Land, plataforma de jogos no metaverso que tem a temática agrícola como foco. Conheça mais sobre o projeto, com lançamento oficial previsto para o início de 2022.


OBJETIVOS A ideia central do jogo é que as pessoas atuem como fazendeiros de verdade. Para isso, elas terão de investir

MOEDA VIRTUAL Para fazer transações, é preciso converter dinheiro real em tokens negociados dentro do jogo. Os tokens serão

recursos para comprar, por exemplo, mais terras, rações para o gado ou fertilizantes para as plantas. O fruto de seu trabalho – uma boa safra de

soja, digamos – é negociado diretamente com outros jogadores, em um formato de interação comercial que replica a vida real.

vendidos em corretoras de criptomoedas sob a sigla HPL – quanto mais pessoas jogarem, mais a moeda se valoriza.

INOVAÇÃO Uma área dentro do jogo, chamada techlab, funcionará como uma espécie de hub de inovação. Nela, será possível desenvolver sementes mais raras e, portanto, de valor maior. Isso fará com que cada jogador tenha a oportunidade de ser criativo com a sua agricultura. PLANT PROJECT Nº28

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G DINAMARCA

O VALE DO SILÍCIO DOS ALIMENTOS Copenhague, a charmosa capital da Dinamarca, está no centro de uma revolução alimentar. Os principais restaurantes da cidade se uniram para criar soluções capazes de reduzir radicalmente o desperdício de alimentos. Chefs jovens, descolados e inovadores lideram o movimento, e não à toa a região passou a ser chamada de Vale do Silício dos alimentos, uma referência ao templo das empresas de tecnologia. No restaurante Amass, ossos de peixes são triturados e processados até se transformarem em farinha, que então é usada na massa de seus famosos bolinhos. No Il Buco, as sobras de pães são enviadas a cervejarias da cidade, que as transformam em fermento para a fabricação de cerveja. Na padaria Jalm&B, restos de

alimentos são agora usados para alimentar porcos de fazendas vizinhas. A ideia do movimento é zerar por completo o desperdício de comida e levar a experiência dinamarquesa para outros países, inspirandoos a seguir o mesmo exemplo.

E S TA D O S U N I D O S

EM BUSCA DOS CAÇADORES DE SEMENTES

Nos próximos 20 anos, os Estados Unidos pretendem plantar bilhões de árvores e, assim, restaurar 100 milhões de hectares de florestas devastadas. A meta pode não ser atingida por um motivo inesperado: a falta de coletores de sementes. Profissionais especializados, aqueles capazes de distinguir a espécie e a qualidade das sementes, estão trocando esse tipo de trabalho 14

por outros de melhor remuneração. Segundo o Bureau of Land Management, agência do governo dos Estados Unidos responsável pela administração das terras federais, a situação é dramática. À medida que a seca e os incêndios se intensificam devido ao agravamento das mudanças climáticas, o acúmulo de terras a serem reflorestadas está aumentando a uma taxa que poderá tornar a devastação irreversível. Para regenerar as florestas, o Bureau defende a criação de um programa nacional que recompense melhor os caçadores de sementes. Só assim mais pessoas seriam atraídas para o trabalho.


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CA N A DÁ

Olho atento nos vinhedos

Todos os anos, faça chuva ou faça sol, boa parte dos vinhedos do Canadá é atacada por diferentes espécies de vírus, que, em maior ou menor grau, acabam afetando a produtividade das lavouras. Mas o problema pode estar com os dias contados. A Universidade Brock, em Ontário, lidera um projeto que consiste no uso de imagens

fotográficas ultrassensíveis para detectar a presença dos seres incômodos em videiras jovens e assintomáticas. Se a doença for descoberta precocemente, evita-se a sua propagação – e lavouras inteiras podem ser salvas. O trabalho é feito com o uso de câmeras hiperespectrais, compostas por múltiplos sensores que geram registros de altíssima qualidade e resolução. “É muito difícil identificar essas infecções por vírus com base apenas em observações visuais”, disse Sudarsana Poojari, cientista responsável pela pesquisa. “Por isso precisamos da ajuda de equipamentos que enxergam o que nossos olhos não podem ver.”

PORTUGAL

AS FAZENDAS VERTICAIS AGORA SÃO PORTÁTEIS Fazendas verticais não são exatamente novidade nas grandes cidades. O que diferencia a agtech portuguesa Raiz Farm é a proposta de criar pequenas centrais produtivas e espalhá-las pelo país, como se fossem verdadeiras lavouras portáteis. As fazendas são instaladas numa espécie de caixa, que parece um contêiner, de 18 metros quadrados. Para gerenciálas, a startup recorre a algoritmos e softwares avançados de inteligência artificial, de modo que todo o sistema produtivo seja acompanhado por sensores. Eles regulam a temperatura interna, os níveis de umidade, a incidência de luz e até as emissões de CO2. Segundo a empresa, diversos tipos de cultura se adaptam à proposta, mas por 16

enquanto a prioridade é o plantio de ervilha, alface e tomates, que serão destinados para restaurantes e supermercados locais.


Delegações nos debates da COP26, em Glasgow: Do pasto ao prato, setor enfrenta momento de adaptação

Ag AGRIBUSINESS

foto: UNFCCC / Kiara Worth

Empresas e líderes que fazem diferença

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Ag Empresas e líderes que fazem diferença

AGRO SUSTENTÁVEL COM TODO O GÁS foto: UNFCCC / Kiara Worth

Quanto mais o Brasil implementa práticas agropecuárias que ajudam a mitigar emissões de gases de efeito estufa, mais favorável é sua posição frente ao mercado de créditos de carbono, que pode vir a ser uma terceira safra para os produtores de commodities

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P or R omualdo V enâncio


Cenas da COP26: nesta e nas próximas páginas, imagens da reunião que pode determinar um novo rumo para questões como o mercado de carbono PLANT PROJECT Nº28

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O

fotos: UNFCCC / Kiara Worth

mundo todo deseja e necessita de cadeias produtivas mais sustentáveis, com redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE) e menos impactos negativos sobre o meio ambiente. Mas nem todo mundo está disposto ou tem condições de contribuir o suficiente para essa mudança, que visa amenizar as consequências das mudanças climáticas. Como tal demanda é global e urgente, abre-se espaço para a lei da compensação, ou seja, quem preserva mais e melhor pode salvar a pele de quem está na berlinda da redução dos GEE e da preservação ambiental. E lucrar com isso, por que não? Esse é o início do conceito das negociações dos créditos de carbono – e o Brasil, sobretudo o rural, tem potencial de faturar cerca de US$ 100 bilhões com esse novo negócio nos próximos dez anos, de acordo com o estudo “Oportunidades para o Brasil em Créditos de Carbono”, encomendado pela ICC Brasil (International Chamber of Commerce) para a WayCarbon. Essa centena de bilhões de dólares refere-se às condições de o País atender a demanda global de créditos de carbono, sendo de 2 a 22% dentro do mercado regulado no âmbito da ONU (Organização das Nações Unidas) e entre 5 e 37,5% no mercado voluntário, com negociação direta entre empresas. No momento, as oportunidades

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Matéria de capa

de o Brasil avançar nesse cenário ficam restritas ao mercado voluntário, pela falta de uma legislação específica para entrar no regulado. Na verdade, essa regulamentação até já existe, trata-se do Projeto de Lei 528/2021, que institui o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões e vai regular a compra e venda de créditos de carbono no País. Mas que ainda segue em tramitação na Câmara dos Deputados. O AGRO COMO SOLUÇÃO O entendimento de que promover a preservação ambiental em grande escala, como o mundo necessita, tem uma forte relação com investimentos ficou mais explícito durante a 26ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), realizada em Glasgow, na Escócia, no início de novembro, com a participação de representantes de cerca de

Ag

200 países. “Nunca vi tanto CEO na minha vida em uma COP”, comenta Eduardo Bastos, diretor do Comitê de Sustentabilidade da Associação Brasileira de Agronegócio (Abag) e diretor de Sustentabilidade da divisão agro da Bayer no Brasil, que participou de diversos painéis durante o evento, inclusive como palestrante. “Em outras edições, os negócios estavam presentes, mas não o ‘dono da caneta’. A discussão subiu, não está mais só na área da sustentabilidade.” Outra alteração significativa nas discussões da COP26, segundo Bastos, é que passaram a considerar também as nature-based solutions (NBS), as soluções baseadas na natureza. Essa percepção ressalta ainda mais o valor de práticas sustentáveis que preservam o solo, já utilizadas pela agropecuária brasileira. “Em país tropical só vai ter carbono no solo se construir matéria orgânica”, diz o executivo da Abag. Bastos comenta ainda que daqueles US$ 100 bilhões do mercado de carbono citados no estudo da ICC Brasil, 10% estão relacionados ao agronegócio e 65% às florestas. O restante corresponde ao setor de energia. “Fica claro que 75% das oportunidades financeiras que o País tem estão ligadas a nature-based solutions, seja pelo potencial das florestas, seja pelo potencial de recuperação [de áreas degradadas]. Estamos falando de US$ 10 bilhões para o PLANT PROJECT Nº28

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agro, mas o maior impacto dessa questão do carbono virá pelo aumento de produtividade, tanto do solo quanto da pecuária. O crédito de carbono será um brinde”, afirma Bastos, que acha até conservador esse valor para o agronegócio. “Estima-se preço médio de US$ 10 por tonelada [de gás carbônico], mas nos Estados Unidos já se fala em US$ 20, então deve aumentar.” O estudo da ICC Brasil define as soluções baseadas na natureza como ações que visam a proteção, o gerenciamento de forma sustentável e a restauração de ecossistemas naturais ou modificados que se relacionam aos desafios da sociedade de modo efetivo e adaptativo, gerando simultaneamente o bem-estar humano e benefícios da biodiversidade. É praticamente uma descrição do que muitas cadeias produtivas agropecuárias brasileiras têm buscado, apoiadas no desenvolvimento da tecnologia tropical, um perfil que surpreendeu os participantes da COP26. “Parece que estavam descobrindo o Brasil. O que vimos muito por lá é esse casamento das discussões do clima envolvendo o agronegócio, o setor como parte da solução para mitigação das emissões de gases de efeito estufa”, afirma Bastos. Quem também voltou da COP26 satisfeito com a participação brasileira foi Celso Moretti, presidente da Embrapa. 22

Se havia algum receio de que o Brasil pudesse sair do encontro com a imagem desgastada, essa sensação caiu por terra a partir do convencimento de que a questão da descarbonização no Brasil já passou do discurso para a prática faz tempo. “Isso já ocorre desde os anos 1990, com a utilização de técnicas como o plantio direto, a fixação biológica de nitrogênio [FBN] e a integração lavoura-pecuáriafloresta [ILPF], por exemplo”, afirma o dirigente. Ele reforça que essas e muitas outras práticas sustentáveis estão contempladas no plano de agricultura de baixo carbono, o Plano ABC+, que tem como objetivo reduzir a emissão de carbono equivalente em 1,1 bilhão de toneladas da agropecuária até 2030 – sete vezes mais do que a meta estipulada na primeira etapa, realizada entre 2010 e 2020. O progresso na construção – e na consolidação – de uma agropecuária cada vez mais sustentável rende resultados práticos que chegam até o consumidor final. Um exemplo é a linha de carne bovina carbono neutro, lançada no ano passado, fruto de uma parceria entre a Embrapa e a Marfrig, que investiu cerca de R$ 10 milhões para o desenvolvimento dos produtos. “Agora estamos trabalhando com leite carbono zero, e vamos avançar para o café, o algodão e até bezerro carbono zero”, diz Moretti. Aliás,


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produção de milho e soja no Centro-Sul do Brasil: cooperação Bayer e Embrapa para o desenvolvimento sustentável”. O dirigente afirma que iniciativas como essa são muito importantes, pois é preciso que se tenha metodologias específicas para a entrada de países tropicais nesse segmento de créditos de carbono. A proposta desse trabalho coletivo vai além da redução das emissões de GEE, buscando a sustentabilidade na sua forma mais ampla, impulsionando a produtividade das lavouras e a rentabilidade dos agricultores, o que consequentemente melhora

fotos: UNFCCC / Kiara Worth

esse envolvimento com a iniciativa privada é de grande valia para que a Embrapa amplie o alcance das tecnologias que desenvolve. “Somos parceiros de todos os grandes grupos que atuam no agro brasileiro, tanto no segmento vegetal quanto no de defensivos e de proteína animal”, acrescenta. Entre as parcerias citadas por Moretti está uma cooperação técnica com a Bayer, iniciada no ano passado, que busca a consolidação de um mercado de carbono específico para o País. O nome do projeto é autoexplicativo: “Avaliação piloto do balanço de carbono na

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fotos: UNFCCC / Kiara Worth

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sua qualidade de vida. “Trabalhamos com três unidades nessa parceria [Informática Agropecuária, Instrumentação e Meio Ambiente] e estamos avançando em metodologia e validação para ter uma estrutura bem preparada”, comenta Moretti. “Estamos nos preparando para quando esse mercado de carbono estiver mais forte.” Moretti sugere até que possa nascer uma nova onda de startups por conta de tamanha preocupação mundial em relação às mudanças climáticas, e de toda a movimentação dos diversos segmentos do agronegócio em torno desse tema. “Primeiro vieram as agtechs, depois as fintechs – muitas inclusive relacionadas ao agronegócio – e agora vão surgir as climertechs”, diz o presidente da Embrapa. Segundo ele, diante de todo esse cenário, é provável que startups 24

especializadas em questões do clima apareçam, se multipliquem, ganhem espaço e dinheiro. SAFRA DE CARBONO Celso Moretti entende que o mercado de créditos de carbono pode representar uma relevante fonte de renda para os produtores rurais, praticamente uma terceira safra, considerando que muitos já conseguem cultivar duas safras por ano, seja com uma ou mais commodities. Essa é a aposta da Basf Agricultural Solutions, que em 2022 lançará o Global Carbon Farming Program, uma iniciativa que ajudará a companhia a reduzir em 30% a pegada de carbono por tonelada de safra produzida, até 2030, nas culturas de trigo, soja, arroz, canola e milho. Por meio desse programa, que será apresentado ao mercado em fases, a indústria ainda pretende construir uma

estrutura global que permita aos agricultores gerar créditos de carbono de certificadoras reconhecidas e, dessa forma, conseguirem uma segunda fonte de receita, recompensando seus esforços para reduzir as emissões de GEE. Aqui no Brasil, a Basf já disponibilizou até uma operação de barter baseada em créditos de descarbonização, os CBIOs, para compra de insumos. A negociação foi feita com a produtora de biodiesel de soja 3Tentos, empresa do Rio Grande do Sul, a partir da Política Nacional de Biocombustíveis, a RenovaBio. A ideia de Moretti sobre a oportunidade de negócios é reforçada por Eduardo Bastos, da Abag, que chama a atenção para a importância dessa participação da iniciativa privada, de as empresas integrarem o processo para que se encontre um caminho


comum de descarbonização e se obtenha lucro com isso. “Há uma visão equivocada de que a agenda da descarbonização está em cima de custo. Na verdade, é uma agenda de ganho”, diz ele. Diversas companhias já estão nesse caminho. Um grupo de 12 multinacionais do setor de commodities agrícolas anunciou, durante a COP26, uma ação conjunta de apoio aos esforços para reduzir globalmente a zero as emissões de gases poluentes até 2050. Entre as empresas que firmaram esse acordo estão Grupo Amaggi, Bunge, Cargill, JBS, Marfrig, ADM, Cofco e Viterra. Mais do que reconhecer o papel das commodities agrícolas no enfrentamento das mudanças climáticas, a iniciativa leva em conta a importância de se alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, o que contribui para o

desenvolvimento econômico e a redução da pobreza. Dessa forma, a sustentabilidade passa a ser alcançada nos seus três pilares: ambiental, econômico e social. Como a proposta é de responsabilidade compartilhada, também entram nessa rede outros agentes direta ou indiretamente conectados às cadeias produtivas, como comerciantes, processadores, fabricantes, varejistas, consumidores e governos. Nessa linha de ações coletivas, ainda foi apresentada na COP26 a iniciativa IFACC (Innovative Finance for the Amazon, Cerrado and Chaco), que propõe um aporte de US$ 3 bilhões – sendo US$ 200 milhões até 2022 – para mobilizar empréstimos agrícolas, fundos de investimento em terras para agricultura, instrumentos de dívida corporativa e ofertas de mercado de capitais, tudo com PLANT PROJECT Nº28

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fotos: UNFCCC / Kiara Worth

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o intuito de facilitar a produção sustentável de soja e carne bovina livres de desmatamento na América do Sul. A novidade é resultado de uma ação conjunta da The Nature Conservancy (TNC), organização internacional sem fins lucrativos voltada à conservação da biodiversidade e do meio ambiente, e da Tropical Forest Alliance, plataforma que reúne múltiplos parceiros dedicados a encontrar soluções para combater o desmatamento resultante de atividades comerciais em áreas de florestas tropicais. Ações como essas serão cada vez mais necessárias, pois há 26

estudos alertando sobre o fato de que os investimentos para conter os efeitos das mudanças climáticas são aquém do que o mundo precisa. O levantamento “Panorama Global do Financiamento do Clima 2021”, elaborado por pesquisadores do Climate Policy Initiative (CPI), mostra que o mundo deveria aplicar US$ 4,3 trilhões por ano, até 2030, para limitar o aquecimento global a 1,5 °C. No entanto, de acordo com a pesquisa, esse valor está em US$ 632 bilhões, menos de 15% do que seria o ideal. Foi por isso que o CPI criou o Laboratório Global de Inovação em Finanças Climáticas, iniciativa que já

conta com mais de 70 investidores e instituições público-privadas e que acelera soluções de investimentos voltadas ao desenvolvimento sustentável em mercados emergentes. MUDANÇAS NA ORIGEM Paralelamente aos debates que acontecem nas cúpulas mundiais sobre o clima, o que algumas gigantes do agro brasileiro – e global – vêm fazendo é promover uma transformação nas propriedades, incentivando a aplicação de práticas mais sustentáveis. Desde 2018 a SLC Agrícola trabalha com integração


lavoura-pecuária (ILP), sistema de produção já implementado em dez fazendas parceiras da companhia, nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Maranhão, abrangendo uma área de 9,7 mil hectares e um rebanho de 35 mil cabeças. O processo começou um pouco antes, em 2017, e até agora já foram investidos cerca de R$ 3,7 milhões. Como resultado, a empresa vem colhendo mais produtividade, das lavouras e dos animais, e impactos ambientais positivos, a exemplo da maior absorção de carbono pelo solo. A rentabilidade também cresceu: em 2020, a produção em ILP acrescentou R$ 32 milhões ao faturamento. Na região do Vale do Araguaia, composta pelos estados de Mato Grosso, Goiás e Tocantins, cerca de 100 fazendas de pequenos e médios produtores passarão por uma transformação com foco em sustentabilidade. A John Deere e a The Nature Conservancy firmaram um acordo de colaboração para promover uma transição dessas propriedades para sistemas integrados de produção, inclusive lavourapecuária-floresta, envolvendo práticas agrícolas regenerativas, combinadas à restauração e à conservação de vegetação nativa. A iniciativa, que terá duração de quatro anos e deve alcançar 55 mil hectares, vai priorizar governança territorial, transformação sistêmica,

segurança hídrica e mudanças climáticas. Além disso, a ideia é que as fazendas passem a ser referência para a multiplicação desse processo. A redução de emissão de gases de efeito estufa na pecuária já está sendo comprovada pela Minerva Foods em 25 de suas fazendas fornecedoras distribuídas em Brasil, Argentina, Colômbia, Paraguai e Uruguai. Trata-se de uma parceria com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) envolvendo o Carbon on Track, novo programa de instituição desenvolvido para medir o balanço de carbono. Esse projeto-piloto envolveu mais de 232 animais e uma área de 185 mil hectares de pastagens dos biomas Amazônia, Pantanal, Cerrado, Pampas e Chaco. A constatação é de que as ações da Minerva visando à pecuária de baixo carbono estão dando resultado, pois essas propriedades registraram 44% menos emissões de GEE na comparação com a média mundial em produção de carne bovina, estimada em 19,9 tCO2e por tonelada de carne produzida. A Fazenda Corumbiara, por exemplo, localizada em Rondônia, com 16,8 mil hectares e mais de 20 mil bovinos, registrou 42% menos emissões do que a média mundial. Esse desempenho foi alcançado com intensificação do ciclo de produção e a utilização de cerca PLANT PROJECT Nº28

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AGENDA DE LONGA DATA O mercado de carbono vem sendo definido desde o Protocolo de Quioto, assinado em 1997, com o objetivo de reduzir a emissão de GEE e, consequentemente, o aquecimento global. Por conta das idas e vindas na adesão dos países participantes aos compromissos estabelecidos, o protocolo só entrou em vigor em 2005. Dez anos mais tarde veio outra iniciativa global com esse intuito. Durante a 21ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP21, em 2015, foi firmado o Acordo de Paris, em que 195 nações se comprometeram a reduzir suas emissões de GEE e a manter o aumento da temperatura da Terra em níveis menores do que 2 °C. O acordo entrou em vigor no ano seguinte. Desde então, o tema vem ganhando mais importância, tanto que o mercado de carbono 28

esteve no centro dos debates da COP26, realizada em Glasgow, na Escócia, no início de novembro de 2021, com a participação de representantes de cerca de 200 países. O agronegócio foi citado em grande parte das discussões, pois espera-se do setor uma ampla revisão de conceitos e ações concretas no campo para que a produção de alimentos, fibras e bioenergia esteja cada vez mais alinhada e comprometida com a mitigação das emissões de GEE. Isso envolve a interrupção do desmatamento – e aqui ainda há a discussão sobre o que está dentro ou fora da legalidade –, a recuperação de áreas degradas e a manutenção do solo, entre outras tantas ações de preservação. Como tudo isso demanda investimentos, quem está no início dessa cadeia cobra o que chamam de uma justa remuneração por serviços ambientais.


tem como diferencial melhorar a pegada de GEE da carne bovina. Se é que essa questão do metano pode ser analisada pela visão do copo meio vazio ou meio cheio, de um lado há a preocupação em reduzir as emissões desse gás, mas de outro há também a oportunidade de aproveitá-lo até como combustível. A New Holland anunciou que no ano que vem trará para o Brasil seu trator modelo T6 Methane Power, movido a biometano, e que já vem sendo testado por aqui. É possível abastecê-lo com biogás produzido dentro da fazenda, a partir dos dejetos dos animais, por exemplo. Dessa forma, o produtor ganha na redução do custo em combustível e até no balanço de emissões de gás carbônico do maquinário.

fotos: UNFCCC / Kiara Worth

de 30% da área aberta para a produção de insumos agrícolas que abastecem o confinamento. Muito se fala sobre as emissões de carbono, mas o gás metano também está no centro dos debates, até mesmo incentivando parcerias para tornar a agropecuária mais sustentável. Outro acordo tecnológico assinado entre multinacionais durante a COP26 envolveu a Royal DSM, empresa que atua nas áreas de saúde, nutrição e biociência, e a JBS, com a meta de reduzir a emissão de metano entérico bovino em escala mundial. Para isso, as empresas vão desenvolver um plano conjunto para implementação do Bovaer na cadeia produtiva, suplemento nutricional desenvolvido pela DSM que

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OS GUARDIÕES DA ÁGUA Projetos de gestão hídrica e de preservação de nascentes transformam fazendas em ativos estratégicos para enfrentar estiagens cada vez mais severas Por Lívia Andrade

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Rubens Carbore, um dos produtores de Extrema (MG): pioneiro no projeto Conservador das Águas

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Brasil possui 12% da água doce do mundo. A abundância não significa, entretanto, que o recurso hídrico está disponível de forma equânime em todos os cantos do País. Prova disso é o semiárido, região em que a agricultura só é viável por causa da irrigação. Mas a conjuntura atual, caracterizada pelas mudanças climáticas e pela pior crise hídrica dos últimos 91 anos, acende um alerta: é imprescindível uma boa gestão dos recursos hídricos. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as áreas que contam com algum tipo de sistema de irrigação em todo o mundo representam pouco menos de 20% do total de cultivo, mas contribuem com 40% da oferta de alimentos, fibras e biocombustível. Isso evidencia a importância do recurso para a segurança alimentar e nutricional da população mundial. Em território nacional, a irrigação possibilita, por exemplo, que algumas regiões tenham três safras no mesmo ano. O Brasil está entre os dez países com a maior área irrigada – ocupa a sexta posição com 8,2 milhões de hectares, atrás de China, Índia, EUA, Paquistão e Irã. E há possibilidade de expansão. De acordo com um levantamento de 2019/20, feito pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional e a Esalq/ USP, da área total hoje ocupada no País com agricultura e pecuária, 22% tem potencial efetivo de irrigação. Em números, isso representa uma área adicional de 13,7 milhões de hectares, sobretudo no Centro-Oeste (45%), Sul (31%), Nordeste (2%) e Norte (2%). Há, no entanto, barreiras a ser


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superadas. Uma delas é aprimorar o manejo hídrico. “O Cerrado Mineiro é dependente de irrigação. Mas são raros os produtores rurais que têm um manejo apurado. A maioria, enquanto tem água, está molhando”, diz Oséias Mendes, coordenador de projetos do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), que trabalha com os cafeicultores da região. Outro gargalo é a falta de dados sobre o uso da água. Isso acontece porque vários comitês de bacias hidrográficas – comissão com múltiplos participantes que, segundo a política nacional do setor (instituída pela Lei 9.433, de 1997), deveria gerir os recursos hídricos – em muitos lugares ainda engatinham. Exemplos positivos são, por outro lado, cada vez mais comuns. O protagonismo de produtores rurais tem feito a diferença e acarretado em um aumento da produção de água no período da seca. Também há iniciativas de plataformas, como a da Produzindo Certo e do Consórcio Cerrado das Águas, construindo um caminho para a melhor gestão dos recursos hídricos. Em comum, elas têm o objetivo de fazer um raio X das fazendas e das bacias hidrográficas em que estas propriedades estão inseridas para conseguir, no médio prazo, saber o quanto o incremento da produção agropecuária impacta na disponibilidade de água. E,

uma vez comprovado que os agricultores contribuem para aumentar a oferta hídrica, ter parâmetros sólidos para apresentar ao mercado e atrair investimentos e Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). FÁBRICA DE ÁGUA Muito antes do tema PSA vir à tona, Marco Túlio Paolinelli, produtor rural do Triângulo Mineiro, já se dedicava a recuperar minas (nascentes d’água), plantar árvores e aplicar técnicas de manejo para conter as voçorocas, grandes erosões no solo causadas pela ação das águas das chuvas. Dono de oito fazendas na região, desde 1983 o engenheiro agrônomo faz curvas de nível – que auxiliam a água da chuva a escoar de forma mais mansa, o que protege o solo e evita a erosão. Ele também abre bolsões interligados, que retêm e ajudam a infiltrar o recurso hídrico no solo. Na fazenda São Francisco, de 885 hectares, foram feitos 20 quilômetros de curvas de nível e 800 bolsões. Tal manejo resultou no que ele denomina de uma “Fábrica de Água”. A propriedade abriga uma Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Uberaba, por onde passam os córregos Borá e Borazinho, que são responsáveis por 16% da captação de água do rio. “O Borazinho costuma ter uma vazão de água bem menor que o Borá. Mas fizemos curvas de níveis e bolsões nos arredores do

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Borazinho, que – no tempo da seca – passou a ter mais água que no Borá”, diz Paolinelli, que há alguns anos começou a fazer a medição da vazão dos córregos. “Quando chega agosto, setembro, outubro, o período de estiagem, é como se tivesse um lago embaixo do solo. O lençol freático fica encharcado, o que ajuda a abastecer o Borazinho”, explica o produtor. Ele produz no sistema de Integração Lavoura-PecuáriaFloresta (ILPF) e planeja fazer um parque ecológico com 80 mil árvores nativas. ÁRVORES QUE SALVAM RIOS Outro projeto que tem colocado o produtor rural em evidência é o Conservador das Águas, que teve início em Extrema (MG) em 2005. Na época, o poder público municipal em parceria com diversas ONGs, como a The Nature Conservancy (TNC), começou a mobilizar os proprietários rurais para proteger as nascentes e florestas, recuperar as matas ciliares, reflorestar topos de morro, fazer terraços e barragens para evitar erosão, além de adotar manejos que ajudam a proteger o solo. “Uma vez que é um programa voluntário, há um incentivo [pagamento por serviço ambiental] para o proprietário rural adotar boas práticas e até mesmo antecipar a questão legal, já que o Cadastro Ambiental Rural dá o prazo de 20 anos para recompor o percentual mínimo PLANT PROJECT Nº28

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de Reserva Legal”, diz Samuel Roiphe Barrêto, gerente de Água da TNC. O projeto já plantou 2 milhões de árvores e hoje abrange os 20 mil hectares de área rural do município, englobando 300 sítios. Entre eles, o de Rubens Carbore, um funcionário público que desde 1984 vem reflorestando as margens do Rio Jaguari, que passa por sua propriedade. Na época, era chamado de louco, mas sua dedicação ao reflorestamento fez com que seu sítio fosse um dos primeiros beneficiados pelo projeto da Secretaria de Meio Ambiente de Extrema. A iniciativa rendeu dezenas de prêmios ao município mineiro e mostrou que preservar o meio ambiente não é um impeditivo para o desenvolvimento econômico, pelo contrário. 34

“Quando os recursos naturais (solo e água) são bem cuidados, o agricultor produz mais e protege sua área de extremos climáticos”, explica o gerente de Água da TNC. O projeto de Extrema deu origem ao Plano Conservador da Mantiqueira, que visa replicar as ações em 425 municípios da região da Serra da Mantiqueira. O Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) varia de cidade para cidade. Mas, em média, o valor é de R$ 250 reais por hectare. Parceira do projeto Conservador das Águas e de outras iniciativas similares em dezenas de municípios, a TNC ajuda nos arranjos entre o poder público, o setor privado e a sociedade civil. “Nosso trabalho tem a ver com o fortalecimento da base local, que são os

municípios. É preciso ter uma governança mínima para o programa ser implementado e ter perenidade”, diz Barrêto. RAIO X HÍDRICO A falta de dados confiáveis é um dos gargalos da administração pública e não é diferente para o agronegócio. Mas um projeto-piloto da Plataforma Produzindo Certo (PPC) está driblando esta dificuldade. Através de uma parceria com o pesquisador Peter Cheung, doutor em Hidráulica e Saneamento pela USP de São Carlos, com pós-doutorado em IRSTEA Bordeaux, a plataforma está com um projeto-piloto em Mato Grosso, em que faz o diagnóstico da disponibilidade hídrica em algumas propriedades rurais. “A gente olha a


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geolocalização da fazenda, estuda a bacia hidrográfica em que ela está inserida, pega dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico [ANA], do MapBiomas, de radares meteorológicos, do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas [CPMET] e do CAR [Cadastro Ambiental Rural]”, explica Cheung. Com esses dados em mãos, que incluem informações de solo, de clima, de vegetação, de intensidade e volume de chuva, o pesquisador usa softwares que fazem a simulação de cenários hídricos. “Eu consigo simular e quantificar o impacto de uma fazenda trocar de cultivo. Isso pode orientar o produtor a tomar decisões, como adotar boas práticas visando minimizar os impactos e/ou intervenções na bacia hidrográfica”, explica. “É uma análise preditiva, de olhar o futuro e saber qual é o risco hídrico daquela propriedade”, acrescenta. Um dos grandes empecilhos é o ambiente institucional. A Lei 9.433, de 1997, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, que prevê a gestão integrada das águas via comitês de bacias hidrográficas, que são uma espécie de “Parlamento das Águas”. Um fórum que envolve produtores rurais, consumidores, pescadores, turismo, poder público, entre outros. A função dessa comissão é gerir, deliberar outorga ou cobrança pelo uso da água. “O

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Diniz, da Rizoma, e Aline Locks, da Produzindo Certo: agricultura pode gerar salto de operações com títulos verdes

problema é que muito pouco se desenvolveu em termos de comitês no Brasil. Em regiões com muita disponibilidade hídrica quase não existe comitês porque não há conflito”, diz Cheung. No entanto, o pesquisador frisa a importância dos comitês. “É por meio deles que são estabelecidos os indicadores de desempenhos, parâmetros para avaliar, por exemplo, se o incremento da produção agrícola em uma determinada bacia hidrográfica contribuiu para

Córrego do Feio e sementes para plantio de árvores no Cerrado: recuperação de nascentes

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aumentar ou diminuir o volume de água”, explica o pesquisador. Cheung – que também é professor na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – tem um acordo de confidencialidade com a Produzindo Certo. Ele orienta grupos de trabalho com graduandos e mestrandos que estão desenvolvendo e validando a metodologia para o cálculo do risco hídrico de uma propriedade rural. O EXEMPLO DO VIZINHO Em várias bacias em que os comitês foram organizados, ações saíram do papel e começaram a mostrar resultados. E esses resultados acabam sendo compartilhados, gerando iniciativas semelhantes em bacias vizinhas – ou mesmo mais distantes. Caso típico nesse sentido é o efeito multiplicador que começa a se observar a partir do Consórcio Cerrado das Águas, plataforma multi-stakeholders, que engloba empresas, governo e sociedade civil para a implementação de ações para promover a resiliência climática e tem como objetivo “produzir” água através da preservação e 36

conservação ambiental (leia mais sobre o projeto em reportagem na seção Fronteira). O embrião do Consórcio surgiu em 2014, quando a Nespresso e a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) fizeram um estudo no Cerrado Mineiro para diagnosticar os desafios na região frente às mudanças climáticas. A resposta foi: água e solo. Com isso em mente, em 2019 foi criada a figura jurídica do Cerrado das Águas, que conta com oito membros associados que participam do planejamento estratégico e contribuem anualmente com US$ 15 mil para a implementação das ações. Trata-se de um time de peso: Nestlé, Nespresso, Lavazza, Cofco, Cooxupé, Expocaccer, NKG Stockler e Volcafé. O projeto-piloto começou em Patrocínio (MG), município que é o maior produtor de café do Brasil. O ponto de partida foi a Bacia Hidrográfica do Córrego Feio. “A bacia do Córrego Feio não tinha nenhum tipo de medição para saber a quantidade de água, a vazão anual. O Consórcio instalou três estações telemétricas para fazer a medição

em tempo real, para a gente começar a ter um histórico”, explica a secretária executiva do consórcio, Fabiane Almeida. Além disso, periodicamente são feitas análises da água da bacia. “Futuramente, vamos saber se as iniciativas melhoraram a qualidade e a disponibilidade de água”, acrescenta. O consórcio venceu a desconfiança inicial dos agricultores. Hoje, das 122 propriedades rurais na Bacia do Córrego Feio, 57 aderiram a alguma ação. “Houve uma mudança radical. Inicialmente, os produtores ficavam ressabiados. O primeiro semestre foi muito difícil, mas depois um foi chamando o outro”, conta Fabiane. Agora o Consórcio está em fase de expansão para Serra do Salitre (MG), Bacia Hidrográfica do Ribeirão Grande; e Coromandel (MG), Bacia Hidrográfica do Buriti. “Projeto como o Consórcio das Águas trazem o senso de urgência climática. A ideia é começar hoje para que no futuro a gente colha não só café, mas também água”, diz Guilherme Amado, líder do programa Nespresso AAA de qualidade.


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Mais tecnologia, menos desperdício Gerir bem o recurso hídrico pode resultar em economia para diversos segmentos do agronegócio, entre eles o sucroenergético. “As usinas precisam de água para fazer o controle de temperatura no processo de evaporação do suco da cana-de-açúcar. E também na destilação do etanol, porque, se a temperatura for muito alta, há evaporação e perda do combustível”, diz Jorge Augello, CEO Latam da Buckman, empresa global especializada em tecnologias para otimização do uso da água, e diretor da Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (Aladyr). O controle da temperatura é feito pela água que passa por torres de resfriamento. No entanto, é necessário monitorar a qualidade desse recurso hídrico. “Com o tempo, a água usada vai se contaminando. Se não houver o controle microbiológico, ela se torna fonte de corrosão e de incrustação das tubulações por cálcio e magnésio”, diz o CEO da Buckman. Sem o devido cuidado, as crostas vão diminuindo o diâmetro dos dutos. “Isso gera perdas não apenas por danos na tubulação, mas também pela redução do transporte d’água e da capacidade de troca de calor”, explica Augello. Foi para resolver esse problema da indústria que a Buckman desenvolveu soluções para o controle de temperatura, com o uso de machine learning e inteligência artificial para prever eventuais problemas e evitar quedas nas trocas de calor. Um efeito colateral benéfico da tecnologia é a economia no balanço hídrico da unidade. As tecnologias da empresa têm duas pegadas, química e digital, que impedem o crescimento de micro-organismos que espessam as paredes das tubulações. “Usamos a molécula monocloramina, que impede o crescimento microbiológico, que acarretaria em problemas de resfriamento em usinas”, diz o diretor da Aladyr. A companhia também atua na área de

reaproveitamento de condensados. Em outras palavras, nas caldeiras, o caldo da cana-deaçúcar é aquecido, o que gera vapor (a água em estado gasoso). “Temos sistemas para recuperar este condensado, o que gera uma água muito pura. Para você ter uma ideia, uma usina-padrão pode recuperar mais de 200 mil litros de água por hora”, diz Augello, que tem clientes como o grupo São Martinho. Segundo o diretor da Aladyr, outra forma de reaproveitar a água no setor sucroenergético é por meio da vinhaça, resíduo da produção de etanol. “Vinhaça é 80% água. Uma forma de reaproveitar o recurso hídrico, que vem com matéria orgânica, é gerando biogás”, explica. Um terceiro segmento de atuação da empresa é no tratamento do recurso hídrico que será usado para a produção de vapor. “Esta água precisa de um pré-tratamento para tirar os sais e proporcionar uma vida longa à caldeira. Nós usamos o processo de osmose reversa, que nada mais é que a dessalinização da água, uma tecnologia muito popular nas usinas”, diz. “Nosso trabalho é prolongar a vida útil dos ativos da companhia. Sejam as tubulações, as caldeiras ou trocadores de calor. O coração da operação da usina é a fabricação do etanol. Com a otimização dos recursos, você consegue controlar a temperatura no processo mantendo o etanol líquido e impedindo o aquecimento e a perda em forma de vapor”, finaliza Augello.

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foto: CNA - Wenderson Araujo/Trilux

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SINAIS DE ALERTA PARA 2022 Os desafios do agronegócio para o ano que vem não são exatamente novos, mas suas dimensões e os cenários são variáveis que podem alterar todo o plano de voo Por Romualdo Venâncio

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eve seca como há muito tempo não se via, preço de combustível nas alturas, falta de insumos, elevação de custos, embargo à carne bovina, olhares desconfiados vindos de várias direções e outros tantos obstáculos. O ano de 2021 foi bastante desafiador na opinião de diversos representantes do agronegócio, de produtores a executivos de empresas e dirigentes de entidades. Além das adversidades peculiares ao setor, ainda paira sobre o mundo a sombra da pandemia da Covid-19, que continua a surpreender com suas novas variantes. Por outro lado, existem motivos para retomar a hashtag lançada pela PLANT PROJECT em maio de 2020: #oagronuncapara. Em meio a tudo isso, há perspectiva de novo recorde na safra de grãos

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para a temporada 2021/22, com quase 290 milhões de toneladas, 14,7% a mais do que foi colhido na safra anterior, segundo levantamento da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). As exportações do agro também cresceram. Entre os meses de janeiro e novembro deste ano, somaram US$ 110,7 bilhões, aumento de 18,4% sobre o mesmo período de 2020, conforme dados divulgados pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Conversamos com o professor Marcos Fava Neves, da Escola de Administração da USP e da FGV, para trazer uma melhor análise sobre fatores que serão muito relevantes para o agronegócio em 2022. Acompanhe os comentários do especialista.


Perspectiva 2022

INSUMOS “A crise dos insumos é realmente um problema bastante sério. O custo elevou demais por conta de problemas nos países produtores, de custos de transporte e, também, o elevado crescimento de área [plantada] que o Brasil teve em dois anos. A área de grãos vai aumentar quase 6 milhões de hectares. Isso tudo gera um desequilíbrio bastante grande. Essa é uma das principais preocupações para o bom andamento da safra para 2021/22, que tende a ser recorde, mas com preços recordes de fertilizantes e defensivos, o que nos traz uma preocupação muito grande com o aumento dos custos de produção. Acho que,

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MERCADO INTERNACIONAL “O mercado internacional tem sido muito bom para o agro, e deve permanecer assim em 2022, até porque continuaremos com a moeda excessivamente desvalorizada. As exportações deste ano devem ficar entre US$ 118 bilhões e US$ 120 bilhões, algo por aí, e repetir esses números no ano que vem. Lógico que com riscos de a China demorar muito a abrir para as importações de carne bovina do Brasil e outros eventuais problemas que a gente possa ter. Mas o mercado internacional deve continuar bom porque a expectativa é de crescimento do PIB mundial ao redor de 4,8 ou 5%, e isso é bom para as exportações do Brasil.”

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com a retração da demanda, um melhor uso [dos insumos], produtos substitutos como os biológicos e outros, os preços devem começar a cair, principalmente na segunda metade de 2022. Mas até lá vai ser um cenário de aperto, de preços elevados, o que também tem que trazer uma reflexão estratégica para o agronegócio brasileiro, que é a excessiva dependência de insumos importados para aquele que é o negócio mais importante do Brasil.”

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CRISE HÍDRICA “Outra preocupação, sem dúvida, é a crise hídrica.

Ela apareceu na safra 2020/21 e perdemos 25 milhões de toneladas de milho, 80 milhões de toneladas de cana, ‘meia Flórida’ na laranja [cerca de 30 milhões de caixas], perdemos no café também entre 15 e 20% da produção, e isso não pode voltar a acontecer. Lamentavelmente, neste momento há seca no Rio Grande do Sul, que é um importantíssimo produtor de soja e de outros itens nessa primeira safra. Então temos que ver qual será o efeito do possível La Niña na produção e observar também, e principalmente, a segunda safra de milho para que não repita a seca que tivemos este ano. Senão vai

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ser realmente um cenário muito preocupante.” TRANSPORTES “O agronegócio é extremamente dependente do modal rodoviário, porém avanços muito grandes estão acontecendo na questão das ferrovias. Este governo [federal] deu prioridade, o atual ministro dos transportes [Tarcísio Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura] tem tido uma performance muito boa, com muitos projetos em andamento e muitos outros sendo

estruturados. Então esse problema estrutural de competitividade do Brasil deve diminuir com esse investimento, concessão de portos, aeroportos e outros, que já deveriam ter sido feitos há muito tempo. Mas está andando rapidamente essa questão, não na velocidade que sonharíamos, mas dentro do possível.” ELEIÇÃO PRESIDENCIAL “Acho que o quadro já ficou mais definido porque o ex-juiz Sergio Moro vai assumir a posição, o vácuo, que estava da

terceira via. Na minha leitura, a disputa fica entre os três: o ex-presidente Lula, o Sergio Moro e o atual presidente, Bolsonaro. E, para vencer, os três terão de vir para o centro. Então estou um pouco tranquilo em relação ao quadro eleitoral, porque o radicalismo vai ter que dar margem a mais um consenso, a mais um equilíbrio. Não vejo disparada de dólar, fuga de recursos do Brasil, por conta de a economia tender a uma trilha muito semelhante com essas três candidaturas.” PLANT PROJECT Nº28

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CINCO LIÇÕES DE GESTÃO NO AGRO Na mais recente temporada da série PLANT TALKS, cinco líderes de grandes empresas do setor falam sobre como superaram desafios e demonstram otimismo para o futuro

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m ano complexo, em que muitos fatores externos influíram sobre o agronegócio. Pandemia, crise hídrica, inflação, câmbio, entre outros temas, fizeram de 2021 um período ainda mais desafiador para executivos das empresas do setor. Boa parte deles encerra o ano com a sensação do dever cumprido e uma dose moderada de otimismo. É o que se pode depreender da seleta amostra que reunimos, no último bimestre do ano, em mais uma temporada de entrevistas da série PLANT TALKS. Cinco líderes, representando diferentes segmentos do agronegócio, apresentaram sua visão desse momento único. Falaram de suas jornadas, dos projetos das empresas que representam e das perspectivas para os próximos meses, em conversas francas e abertas transmitidas ao vivo pelas redes sociais da PLANT. Ouvir o que dizem Valter Vanzella, presidente da cooperativa Frimesa; Luiz Osório Dumoncel, CEO da 3Tentos Agroindustrial; Maurício Rodrigues, presidente da divisão Crop Science da Bayer na América Latina; Rodrigo Junqueira, gerente-geral da AGCO e vice-presidente na Massey Ferguson na América Latina; e Mauricio Harger, diretor-geral da CMPC no Brasil, permite compor um mosaico vibrante das dificuldades e das oportunidades proporcionadas pelos negócios rurais no País. As entrevistas contaram também com a participação de André Ferreira, especialista em Agronegócio da SAP, patrocinador oficial da série PLANT TALKS. Nas próximas páginas, você acompanha um resumo das entrevistas, que podem ser revistas, na íntegra, em nosso site (use o QR Code na página ao lado para acessar). PLANT PROJECT Nº28

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Com Valter Vanzella

ADMINISTRAÇÃO “Antes, as cooperativas vinham de uma cultura em que o representante dos associados era o dirigente, muitas vezes um agricultor bem-sucedido, mas sem formação ou experiência. Enquanto estavam pequenas, era uma situação mais fácil de controlar, mas quando cresciam, as cooperativas exigiam uma maior especialidade em administração.” CRESCIMENTO “A Frimesa matava, lá na metade da década de 1980, entre 300 e 400 suínos por dia, e trabalhava com entre 60 a 70 mil litros de leite por dia. Hoje, esses números são muito maiores. Em 2005, já abatíamos 1,5 mil suínos por dia, hoje estamos em 8,5 mil. No leite, agregamos valor.” FATURAMENTO EM ALTA “O grupo de cooperativas que fazem parte da Frimesa é muito forte. Em 2020, o faturamento das cinco filiadas e da central foi na casa dos R$ 37 bilhões. E todas elas estão focadas em crescer. O produtor está numa região muito boa e quer crescer. Nós vamos proporcionar isso a ele.” MARCA ÚNICA “Eu sabia que tinha de concentrar, e focamos em torno da marca Frimesa, hoje bem consolidada. Isso contribuiu para a gente ter desempenho. Hoje, o nosso foco continua o mesmo, que é concentrar, ter qualidade e volume. Eu sempre digo que até po46

bre gosta de qualidade, porque quando ele compra um produto que não gosta, não vai comprar nunca mais.” NOVO FRIGORÍFICO “A partir de investimentos de R$ 1,2 bilhão, o nosso novo frigorífico deve ser inaugurado no final de 2022, com operação a partir do início de 2023. Será o maior da América Latina. Nós temos uma visão de futuro. A capacidade do frigorífico será de abater 15 mil suínos por dia, mas vai começar abatendo 3.750 suínos por dia, depois vai para 7 mil e assim por diante. A dificuldade não é criar, abater e industrializar, a dificuldade para crescer é ter mercado para isso. O que temos planejado é ter um crescimento constante. No final, em 2030, a depender de como se comportar o mundo, ele irá operar com capacidade plena. Nós não podemos parar, se não vem outro e ocupa o espaço.” PLANO DE INVESTIMENTOS “Construir o frigorífico é uma parcela do nosso crescimento. Na cadeia toda, estamos investindo R$ 3,5 bilhões. Em 13 de dezembro de 2022, a Frimesa vai completar 45 anos, quando iremos inaugurar o novo frigorífico.” META DE CRESCIMENTO “Somos o quarto maior do Brasil hoje, mas vamos avançar. Ainda não estamos de forma uniforme em todo o País. Temos de crescer em São Paulo, por exemplo, mas não adianta fazer isso


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VALTER VANZELLA DIRETOR-PRESIDENTE DA FRIMESA

agora, quando não tenho mercadoria suficiente.” TECNOLOGIA E EVOLUÇÃO “A Frimesa não é nem um pouco contrária à evolução das coisas. Eu tenho consciência de que as coisas cada vez vão mudar em maior velocidade. As empresas que não se ativerem à evolução da tecnologia e não adequarem o seu negócio vão sucumbir. Está cheio de exemplos no mundo de corporações que se deram mal diante de mudanças radicais. O consumidor muda numa velocidade fantástica.”

CONECTIVIDADE “Eu não consigo nem carregar um caminhão sem ter TI (tecnologia da informação). No tempo da Facit (máquina analógica de calcular), isso não acontecia, mas hoje está tudo interligado. O interior inteiro, todos os produtores estão inseridos na conectividade. O computador me dá a toda hora o quanto eu vendi, para quem eu vendi, a que preço eu vendi, quem vendeu, tudo. A mesma coisa é no lado do produtor, que controla tudo. Não existe outro caminho. Não é fácil, porque é um desconfor-

to constante, mas sem isso não se avança.” FATURAMENTO “Em 2020, o faturamento das cinco filiadas e da central foi na casa dos R$ 37 bilhões. Eu vejo que a Frimesa cresce com equilíbrio financeiro, para dar os passos de acordo com planejado e o necessário. Somos vistos com muita simpatia no mercado, temos uma postura mais próxima dos comerciantes. Eu pessoalmente vou às feiras e aos mercados, queremos estar sempre próximos. E temos produtos que nos ajudam.” PLANT PROJECT Nº28

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Com Luiz Osório Dumoncel

LUIZ OSÓRIO DUMONCEL CEO E COFUNDADOR DA 3TENTOS AGROINDUSTRIAL

ORIGEM “Temos sede em Santa Bárbara do Sul, no Pampa gaúcho, com 18 mil clientes. Fornecemos para o ecossistema varejo de insumos agrícolas, originação de grãos e industrialização com óleo, farelo e biodiesel de soja. Começamos a 3Tentos em 1995. Entramos agora no primeiro ano dos próximos 25 anos. Temos projetos bem importantes daqui para a frente. Nossa família tem origem na agropecuária, desde meu avô e meu pai. A nossa história como empresários rurais começou lá em 1954, quando meu pai introduziu a cultura do trigo no Rio Grande do Sul.” FUNDAÇÃO E SIGNIFICADO “Em 1995, eu e meu irmão João 48

Marcelo, que é o CEO e presidente do Conselho da companhia, juntamente com o nosso pai, fundamos a 3Tentos. Para quem não sabe, tomamos esse nome das três tiras de couro de gado que, torcidas, formam uma corda que é mais forte da lida campeira. Você pode laçar touro brabo ou cavalo chucro que essa corda não arrebenta. Papai sugeriu o nome e aprovamos em primeira mão.” CULTURA ORGANIZACIONAL “Queremos passar uma mensagem de cultura forte e união. Hoje são muitos tentos. Temos 1,5 mil funcionários, 18 mil clientes, como eu disse, e mais de 15 mil acionistas. O desejo é fazer

um agro cada vez mais profissional, sustentável e produtivo.” DE PRODUTOR PARA PRODUTOR A decisão de ampliar os negócios aconteceu entre 1990 e 1992. Fizemos um trabalho dentro da porteira inicialmente, de plantio direto, de não remover o solo, de usar produtos agrícolas que fizessem a melhor atuação e elevassem a produtividade. Isso levou em torno de dois anos. Sentimos ter potencial, além do desejo de contribuir não só para as nossas propriedades, mas compartilhar esse conhecimento com colegas produtores. Foi aí que decidimos criar uma empresa produ-


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tora de sementes de soja, trigo e revenda de sementes de milho.” PRIMEIROS PASSOS Já no primeiro ano, originamos grãos e, no segundo ano, em 1996, começamos com defensivos e fertilizantes. Assim trabalhamos 19 anos, fazendo um trabalho de produtor para produtor.” DIVISÃO DE RECEITAS “Na nossa receita, dentro de todas as sazonalidades do milho, trigo e arroz, além de a indústria nos dar uma sustentação mais tranquila, em termos de faturamento, nos meses de dezembro e janeiro, a quebra da receita seria em torno de 40% de insumos, 50% de indústria e 10% do trade de grãos. A maioria desse grão fica dentro da 3Tentos, é industrializado.” APRENDER E ENSINAR “O foco é ajudar o produtor rural a ter os melhores rendimentos e produtividades, aprender e ensinar, ao mesmo tempo, o sentido de aprender juntos quais são as melhores práticas, momentos de compra e de venda. Nosso interesse nunca foi o de ganhar em cima do produtor ou de alguém, mas de encontrar um ganha-ganha verdadeiro, que nunca será para nós um tema desgastado.” HONESTIDADE E GANHA-GANHA “Na 3Tentos, sempre dissemos aqui no time que honestidade nunca será uma palavra batida. O ganha-ganha é genuíno com a

busca por mais tecnologia, mais eficiência. Hoje, nós consideramos excelência um pré-requisito, assim como qualidade já é. Atendimento perfeito, rentabilidade, atender o outro lado, seja o fornecedor ou o nosso consumidor, e assim atender a sociedade como um todo.” CONFIANÇA E CUMPLICIDADE “Até a decisão de fazer o IPO, não havíamos nos preparado para isso. Desde 2007 eu estudo um pouco esse assunto, havíamos sido procurados, mas nunca tivemos foco nisso. Quando começamos a conversar com os bancos de investimento e o sindicato que, em seguida, se formou, ouvimos que eles não conheciam uma empresa no mundo que realizasse um trabalho tão próximo com os fornecedores, os produtores e os consumidores. Temos no nosso ambiente de negócios uma relação de confiança e cumplicidade.” REALIZAÇÃO DO IPO “A 3Tentos foi se preparando para o IPO ao longo do tempo. Em 2007, fomos procurados e eu estudei um pouquinho. Depois, novamente em 2010, e eu estudei mais um pouco. Isso sempre estava no rodapé do meu caderno. Nós simplesmente fomos criando a trajetória da empresa e chegamos naturalmente ao IPO.” MOMENTO DE REALIZAR “Quando fomos procurados por

alguns bancos, na metade de 2020, em plena pandemia, começamos a analisar com mais carinho. Chegamos a um porte em que fazia sentido olhar isso com maior atenção. Fizemos então uma reunião de acionistas, as minhas três irmãs, o João Marcelo e eu. Aí, então, decidimos ir mais a fundo. Lembro que fui para São Paulo e fizemos 12 reuniões com bancos de investimentos e, a partir dali, fomos criando um ecossistema. Até então a 3Tentos era uma empresa verticalizada. Realizamos um trabalho muito dedicado de pegar tudo o que tínhamos de bom e fazer o que faltava.” GOVERNANÇA “Antes do IPO, já vínhamos com práticas de governanças muito bem definidas. Nós crescemos 27% nos últimos dez anos e continuaremos nessa velocidade até 2025.” CPFs “No início, todas as empresas partem de um CPF ou dois ou três. E esses CPFs têm uma família por trás de si. E nossa família decidiu que poderíamos convidar o investidor brasileiro a vir nessa caminhada conosco, a partir de 2021. Foi o que começou a acontecer a partir do dia 12 de julho, quando tivemos a participação de milhares de acionistas. Esse número vem crescendo e a operação está dentro e acima do projetado. Seguimos firmes em 2022. Temos confiança em nós e no setor.” PLANT PROJECT Nº28

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Com Maurício Rodrigues

CARREIRA “Eu tenho um pouco mais de 20 anos de experiência. Trabalho há 22 anos combinados entre Monsanto e Bayer dentro do agronegócio. Antes eu trabalhei em bancos de investimento, fiz depois extensões em finanças e tive a oportunidade de morar fora do Brasil. Há cinco meses assumi a presidência da Bayer para a América Latina.” PRIMEIRA LIGA MUNDIAL “O mercado agro gera uma verdadeira fascinação. Estando no Brasil, uma vez dentro do mercado agro, você se sente jogando na primeira liga mundial. Trabalha com algo muito tangível, num País que é respeitado no mundo inteiro por sua produção agrícola. Precisei entender muito rápido a questão cíclica do segmento, lidar com a volatilidade, com o fator climático, enfim, com uma série de fatores.” DIVERSIDADE E INCLUSÃO “Eu morei nos Estados Unidos, onde a temática da diversidade e da inclusão já tem maturidade há algum tempo. Quando voltei ao Brasil, em 2014, comecei a me envolver com o tema. Ao longo dos últimos sete anos, tenho procurado trabalhar cada vez mais contra os famosos vieses inconscientes em questões de gênero, raciais, de orientação e assim por diante. A gente vem nessa toada, dentro da Bayer, de tornar o ambiente mais inclusi50

MAURÍCIO RODRIGUES PRESIDENTE DA DIVISÃO CROP SCIENCE DA BAYER NA AMÉRICA LATINA

vo e, ao mesmo tempo, trazer o máximo de diversidade para dentro da empresa. Ganhamos nisso uma tração muito grande nos últimos cinco anos. Acredito que, como empresa líder, temos uma responsabilidade grande sobre esses temas. Várias empresas, dentro e fora do setor, estão levantando a mão. Nesse campo, em lugar de competição, há uma colaboração muito maior.” ESG NO AGRONEGÓCIO “Vinte anos atrás, o segmento agro era predominantemente formado por homens e com a temática da diversidade muito pouco abordada. Hoje, o merca-

do agro já tem uma representatividade feminina muito maior do que antes. E eu percebo uma aceleração no nosso meio das questões de diversidade. As empresas que não se interessarem por isso vão acabar ficando para trás.” PORTAS ABERTAS “Ter um brasileiro como o Rodrigo Santos como gestor global da divisão agro da Bayer, eu acho muito importante. Não apenas para nós dentro da empresa, mas para todo o segmento agro também. Primeiro porque demonstra que o Brasil está jogando na grande liga mundial. Demonstra que o conhecimento


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vantagem sobre outros profissionais de outros países.”

do mercado brasileiro pode abrir muitas portas. É motivo de orgulho e abre muitas portas, gera inspiração para muitos jovens do que é possível fazer e onde é possível chegar.” VUCA “Eu não iria citar o VUCA porque, sem dúvida, ele está bem desatualizado, mas os itens que permeiam esse conceito – volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade – representam bem o que é esse nosso mercado agrícola no Brasil e no mundo. Um executivo brasileiro, que sempre lida com esses fatores, está muito mais preparado para

enfrentar o ambiente que estamos vivendo. Quem lida com isso desde cedo, como o executivo brasileiro faz, tem um verdadeiro curso de pós-graduação.” INFLAÇÃO “Hoje fala-se, globalmente, em inflação. Quem tem 47 anos, como eu, já conviveu com inflação de mais 50% ao mês. Eu acredito que lidar com esses fatores macroeconômicos, com incertezas políticas e mais uma série de fatores complexos que lidamos, são capacidades que o executivo brasileiro traz para a mesa e agrega. É muito de vivência e nos coloca em posição de

MOMENTO POSITIVO “Nos últimos 18, 20 meses, durante a pandemia, o mundo ganhou um fator a mais de volatilidade. Isso traz mais complexidade para você se planejar. Ao mesmo tempo, a gente percebe uma resiliência muito forte do mercado agrícola ao longo dos últimos anos. Estamos vivendo um momento muito positivo para o mercado agrícola mundial e, especificamente, para o mercado agrícola brasileiro. Da nossa parte, queremos apoiar o nosso cliente nesse momento com cada vez mais tecnologia e maior capacidade de antecipação. A ideia é fortalecer o que é controlável, que significa trazer inovação, trazer produto e manter uma proximidade ainda maior com o cliente. É o suporte que podemos dar.” INOVAÇÃO E TECNOLOGIA “O agro brasileiro tem um apetite muito grande por adoção de inovação, tanto do ponto de vista de produtos quanto na transformação digital do negócio. O setor tem uma capacidade de absorção muito alta, e isso é o que nos coloca nos patamares de produtividade que temos hoje. Dentro da Bayer, temos três pilares estratégicos: inovação, sustentabilidade e transformação digital. Investimos mais de 2 bilhões de euros anualmente em pesquisa e desenvolvimento.” PLANT PROJECT Nº28

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Com Rodrigo Junqueira

EVOLUÇÃO DAS MÁQUINAS “Há 20 anos, tínhamos um trator de 110 HPs puxando uma plantadeira de dez linhas, com muito pouca tecnologia. Hoje, temos máquinas maiores, mais eficientes, que ajudam o produtor brasileiro a aproveitar melhor as janelas de plantio, colher mais e com menor custo. As máquinas mudaram muito, e o produtor brasileiro, que é um empreendedor nato, se profissionalizou. Nesse movimento, buscou mais eficiência, que vem através das sementes, dos defensivos e das máquinas. Junto com eles, procuramos trabalhar nessa aceleração.” PORTFÓLIO DE MARCAS “A marca Massey é a mais tradicional, que caminhou junto com os agricultores desde o início da nossa trajetória no País. Este ano, a Massey comemora 60 anos em nosso País e 174 anos de existência no mundo. A Valtra é uma marca mais de nicho, que atua muito forte em cana-de-açúcar e no florestal, com também 60 anos de Brasil feitos no ano passado. A nossa preocupação é ter um portfólio que atenda todas as regiões do País, dentro de suas características e culturas. Precisamos ter um trator de entrada para atividades mais simples, como fazer o transporte de uma carreta de um ponto para outro. Nossa preocupação é ter uma solução completa, desde o trator de entrada, eficiente e com custo/ benefício mais coerente com a 52

atividade, até tratores de alta tecnologia, fantásticos.” MAIS CONECTIVIDADE E SUSTENTABILIDADE “Nossa preocupação é entregar máquinas que consigam dar mais eficiência e produtividade. O segundo ponto está na questão da sustentabilidade. O terceiro ponto é a tecnologia. O produtor busca máquinas eficientes, de menor consumo, com baixa emissão de poluentes e que o permitam acompanhar a operação dele, para saber onde melhorar para produzir mais e gastar menos. Precisamos agora, em nossas máquinas, evoluir em conectividade, para o produtor obter informações em tempo real e ir tomando decisões. Ele vai saber se o plantio tem falha a corrigir, se uma rota precisa mudar ou se uma pulverização tem de ser suspensa em razão da previsão do tempo, para que ele não perca nenhum dos investimentos em defensivos. Essa é uma tendência.” 5G “A primeira boa notícia que o anunciado leilão do 5G nos traz é o compromisso do investimento para levar a tecnologia 4G para as rodovias desse Brasil onde não tem nem 1G. A gente até brinca com isso. Se a 4G chegar em pontos onde hoje não chega, isso vai nos ajudar a levar o treinamento de forma mais eficiente para operadores e mecânicos dos nossos clien-

tes. Eles compram uma máquina hoje e, às vezes, a gente não consegue esclarecer todas as dúvidas e o quanto ele pode extrair daquele equipamento. Com a conectividade, vamos poder acompanhar as máquinas em tempo real, a saber como preparar o solo de forma melhor, plantar de maneira mais eficiente, pulverizar com menos custo e colher mais.” CONECTARAGRO “Antes do 5G, a AGCO se uniu com empresas do setor, como a Bayer, CNH, Jacto, Vivo e outras, e formamos uma associação que se chama ConectarAgro. Levamos conectividade para milhões de hectares. Todas as empresas estão trabalhando em testes com as suas máquinas na situação do 5G. A grande vantagem dessa tecnologia é uma leitura mais rápida. No campo, hoje, o 4G é muito mais que suficiente, mas com a evolução chegaremos ao trator autônomo.” A MÁQUINA DENTRO DO ESCRITÓRIO “Antes, o produtor queria levar o escritório para dentro da máquina. Nós conseguimos fazer isso inserindo tecnologia nas cabines. Hoje, o produtor quer levar a máquina para dentro do seu escritório, operando-a à distância e monitorando desde coisas simples, como consumo ou se a máquina está parada ou não, até pontos mais específicos, como administrar uma pulverização.”


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RODRIGO JUNQUEIRA GERENTE-GERAL DA AGCO E VICEPRESIDENTE NA MASSEY FERGUSON NA AMÉRICA LATINA

AGRICULTURA DIGITAL “O advento do motor eletrônico tornou mais fácil a ligação do hardware com a parte digital de análise de dados do produtor. O motor tem sensores que permitem capturar dados tanto na colheitadeira como no pulverizador. Isso permite que, se uma máquina quebra, a gente consegue entender o que está acontecendo com ela à distância, remotamente. É possível ler a máquina e já levar a peça necessária. Há ganho de tempo e eficiência. Também conseguimos treinar operadores de máquinas à distância, fazer revisões e outras situações que a eletrônica nos permite.”

ATENÇÃO AO CLIENTE NA PANDEMIA O agro não para e não parou, garantindo alimento para as nossas mesas e energia para os nossos negócios. Por isso, esses dois anos de desafios apresentados pela pandemia foram enfrentados e vencidos de modo muito firme. Na AGCO, procuramos proteger os nossos funcionários, mas não paramos nenhuma fábrica. O produtor continuou trabalhando e chamando as nossas equipes técnicas e táticas para seguir junto com ele. Eu, pessoalmente, duas vezes por semana visitava pelo menos dois clientes. Para estar o mais próximo possível no momento mais difí-

cil. Houve muita troca de boas práticas nesses momentos.” FATURAMENTO EM ALTA “Nestes últimos dois anos, nós dobramos o nosso volume de vendas. Na América do Sul, o crescimento foi muito grande em volume de máquinas, tecnologia e renovação expressiva do pátio dos nossos clientes. O produtor teve bons ganhos preço das commodities e da variação cambial. E ele investiu isso em máquinas, tecnologia e produziu mais. Isso vai continuar. No ano que vem, mesmo com inflação e aumento de custos, ele continua investindo, aumentando área e cada vez mais profissional.” PLANT PROJECT Nº28

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Com Mauricio Harger

MAURICIO HARGER DIRETOR-GERAL DA CMPC NO BRASIL

ALTO POTENCIAL DE AUTOMAÇÃO “Sou engenheiro mecatrônico e entrei na vida executiva, mas a engenharia deu base importante para minha vida nas indústrias e, agora, no agronegócio por meio da celulose. Hoje, já temos robôs em testes na atividade dos trabalhos do campo. O potencial de automação e robotização é muito grande.” PANDEMIA E ATIVIDADE “Assumi a companhia em 2018 e, no meio do caminho, nos deparamos com a pandemia, que nos trouxe muito aprendizado. Atuamos muito em torno dos valores da companhia, que é centenária, com 12 anos no Chile e no Brasil. A nossa cultura valoriza muito a gestão das pessoas, o cuidado com elas, e isso nós usamos desde o primeiro dia da pandemia. Precisávamos manter a operação rodando, para abastecer 54

as prateleiras dos mercados e das farmácias com produtos de limpeza e higiene pessoal, mas ao mesmo tempo precisávamos preservar a saúde dos nossos colaboradores e gerar renda. Acima de tudo, aprendemos a atuar de forma solidária.” PARADA DE MANUTENÇÃO PERFEITA “A partir de conversas de aprendizado com stakeholders e autoridades, fomos a primeira a conseguir fazer, em plena pandemia, uma parada geral de manutenção. A pandemia começou em março, e fizemos essa parada com 2 mil visitantes no nosso site e mais 2 mil pessoas internamente. Foi muito exitoso. Testamos as pessoas e não tivemos nenhum caso de Covid. Depois dos testes, trabalhamos com visitas e questionários e, para os casos que detectamos, realizamos quarentenas. No final do ano, com todo esse aparato

de segurança, batemos nosso recorde de produção.” PRODUÇÃO MANTIDA EM 100% “A produção sempre se manteve em 100%, tanto a florestal quanto a industrial. Em relação às atividades administrativas, o pessoal de negócios e apoio, reduzimos em até 90% o modelo presencial na pandemia. De outubro para cá, estamos retornando esses setores de maneira híbrida.” IMPACTO NA ECONOMIA GAÚCHA “Por diferentes métricas, somos a maior indústria do Rio Grande do Sul. Geramos 6 mil postos fixos mensais de trabalho, direto e indireto. Fizemos um cálculo junto com a PUC-RS que nos mostrou que a nossa atividade tem um multiplicador de sete. Geramos


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um efeito induzido na economia, com um impacto de 45 mil empregos no Rio Grande do Sul. Quando veio a pandemia, sabíamos que não poderíamos parar. Muita gente iria sofrer.” INVESTIMENTO SOCIAL ESTRATÉGICO “Sempre fomos investidores sociais, mas sempre em educação, qualidade de vida e emprego e renda. Saúde nunca estava no nosso escopo. Quando veio a pandemia, rapidamente mudamos a nossa estratégia e chegamos a comprar uma máquina de fabricação de máscaras cirúrgicas. Nos primeiros três meses, doamos a produção para o governo estadual e para as prefeituras, num total de 4,5 milhões de máscaras. No meio do caminho, transformamos um hospital de média complexidade para se adaptar ao tratamento da Covid.” NOVAS DEMANDAS “Existe uma demanda da sociedade por produtos renováveis, biodegradáveis e sustentáveis. A celulose está dentro desse segmento, porque usamos materiais recicláveis. Há uma nova perspectiva para a celulose que são as roupas e os materiais têxteis. O comércio eletrônico, que veio para ficar, demanda embalagens. Somando esses drivers, o potencial de crescimento para o nosso setor é muito grande.” PROJETO BIO CMPC “O setor tinha uma estatística divulgada de investimento de R$ 35 bilhões até 2023, mas agora esse número foi revisto para R$ 57 bilhões. Isso inclui o investimento de R$ 2,75 bilhões que o grupo CMPC

está fazendo. É por isso que o Brasil tem competitividade global e a maior taxa de produtividade em todo o mundo. Nossa ambição com esse investimento de R$ 2,75 bilhões é ser uma das unidades industriais mais sustentáveis do Brasil. Os investimentos para os próximos 26 meses estão alinhados com as demandas da sociedade e práticas ESG. Chamamos essa iniciativa de Bio CMPC, para lembrar a todos de seus princípios.” AUMENTO DE PRODUÇÃO “O investimento deve gerar 3,6 mil postos de trabalho em seu pico e induzir à criação de outros 3,5 mil na economia. O projeto une modernização operacional com gestão e controle ambiental. Vamos aumentar a capacidade produtiva em 18%, indo a 350 mil toneladas. Sobre controle e gestão, vamos desde eliminar uma caldeira de carvão e usar mais biomassa até implantar um centro de controle ambiental. Vamos respeitar os nossos valores, resumidos em 3Cs: criar, conviver e conservar.” GARGALO NO ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO “A cadeia logística tem sido um ponto de dificuldade para o escoamento da nossa produção. Temos tido atrasos grandes nos navios, embora tenha havido aumento de custos. Acreditamos que essa questão vai permanecer na próxima safra. Os custos internos também são um desafio importante, estamos reduzindo alguns itens químicos para tentar minimizar isso, assim como aumentamos nosso volume de produção. A inflação interna também é relevan-

te. Uma boa parte das nossas compras é dolarizada a curto e médio prazos. O diesel é o grande componente dos nossos custos.” RECICLAGEM E ECONOMIA CIRCULAR NA VEIA “Nossa meta é sermos net zero em resíduos. Trabalhamos com reciclagem e reaproveitamento de resíduos. Para nós, portanto, vai ser reciclagem na veia e economia circular na veia. Já estamos conseguindo transformar nossos resíduos, como as cinzas, por exemplo, em 16 novos produtos. Basicamente eles se tornam produtos para uso no solo, em jardinagem, no paisagismo e na agricultura. Com isso, já há mais demanda pelo nosso resíduo do que a nossa capacidade de gerá-los. A receita na transformação de resíduos já é superior a R$ 25 milhões. Por conta dessa economia circular, temos o menor custo em resíduos do Brasil, além de fazer um superbem para o meio ambiente.” INCENTIVOS A NOVAS FLORESTAS “Nós temos hoje mais de mil hortiflorestais em 70 municípios do Rio Grande do Sul. Uma boa parte das plantações são nossas, e outra parte é parceria em que fazemos a gestão total da propriedade. Neste momento, estamos expandindo a compra de madeira dos produtores. Estamos, neste sentido, incentivando o pequeno, o médio e até o grande produtor rural a se tornarem nossos fornecedores, oferecendo mudas e tecnologia de manejo. O eucalipto se dá muito bem em áreas degradadas, sendo um importante elemento de reflorestamento.” PLANT PROJECT Nº28

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foto: Shutterstock

Ag Ciência

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UMA NOVA LUZ PARA A SOJA Tecnologia desenvolvida na USP utiliza recursos ópticos e tecnologia artificial para fazer análise de sementes com mais rapidez e precisão Por Evanildo da Silveira

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Ag Ciência

foto: Divulgação

A pesquisadora Clíssia Barboza da Silva, do Cena: tecnologia pronta para uso comercial

P

or exigência do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Instrução Normativa nº 45, de 17 de setembro de 2013, as sementes de soja, assim como as de outras culturas comercializadas no País, têm que passar por um teste de germinação. Isso é feito em laboratório, num processo que demora cerca de oito dias e destrói as sementes. Além disso (e mais relevante), a avaliação é subjetiva, pois é feita por um especialista. Agora, a tecnologia está pronta para dar mais certezas, e de forma ágil, a quem as compra. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um método de testagem mais rápido, preciso e não destrutivo, que usa apenas luz e inteligência artificial. A inovação tem potencial para gerar ganhos importantes na cultura de soja. O rendimento das lavouras depende diretamente do uso de sementes de alto vigor, que garantam a germinação e o crescimento rápido e uniforme das plantas nas mais diversas condições ambientais. “Atualmente, a indústria de sementes usa testes padronizados de

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germinação e vigor para prever o desempenho dos lotes de mudas em campo”, diz a pesquisadora Clíssia Barboza da Silva, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba, que coordenou o projeto que resultou na nova técnica de avaliação. De acordo com ela, esses testes fornecem informações valiosas sobre o potencial fisiológico da semente. São basicamente dois tipos de análise: o de germinação, que é obrigatório, e o de vigor, que é facultativo, mas que muitas empresas de sementes realizam. “O primeiro é feito em condições favoráveis, com as sementes colocadas para germinar numa temperatura adequada e disponibilidade de água”, explica Clíssia. “No segundo, as sementes são submetidas a estresse, que pode ser alta temperatura ou frio intenso, para verificar como elas se comportariam em condições semelhantes no campo. Esse teste pode levar quatro dias para ser feito.” Como eles são relativamente demorados, com resultados subjetivos que dependem de analistas especializados, com resultados difíceis de serem


reproduzidos, há um grande interesse em desenvolver métodos avançados e inovadores para refiná-los ou substituí-los. No artigo “Autofluorescence-spectral imaging as an innovative method for rapid, non-destructive and reliable assessing of soybean seed quality”, publicado em setembro na revista Scientific Reports, do grupo Nature, em que divulgou os resultados do trabalho, Clíssia lembra que na indústria agrícola já há avanços nas tecnologias de imagem óptica baseadas em abordagens rápidas e não destrutivas, o que tem contribuído para aumentar a produção de alimentos para a população mundial em crescimento. O que ela fez no seu projeto foi usar imagens espectrais de autofluorescência e algoritmos de aprendizado de máquina (inteligência artificial) para desenvolver modelos distintos para classificação de sementes de soja, com diferentes qualidades fisiológicas após envelhecimento artificial (que tem sido usado para estudar os mecanismos fisiológicos e bioquímicos associados à diminuição do vigor das sementes). Trocando em miúdos,

os pesquisadores colocaram amostras de 50 a 100 sementes num equipamento dotado de LEDs, chamado Sistema VideoMeterLab (VML), que analisa características físicas, químicas, genéticas, fisiológicas e sanitárias delas, sem as destruir. Os LEDs iluminam a amostra. Cada um deles tem um comprimento de onda (cor) específico, que vai do ultravioleta à faixa da luz visível – no caso do teste, vermelho, azul e verde –, que, ao incidir sobre as sementes, excitam determinado elemento químico delas, fazendo-o fluorescer. “Há vários componentes químicos nas sementes que se excitam com a luz, mas os mais importantes para nós são a clorofila e a lignina”, explica Clíssia. “Quando essas substâncias são iluminadas por um LED, elas emitem luz de um comprimento de onda mais longo por um breve período de tempo, o que é chamado tecnicamente de autofluorescência.” Essa luz emitida pela semente, ou seja, a autofluorescência, é capturada por um sensor do Sistema VideoMeterLab, que o converte

em um sinal elétrico, que, por sua vez, é transformado em uma imagem. “A partir dela, o software, que é integrado ao equipamento, faz a extração dos dados, que passam a ser classificados por inteligência artificial, tornando possível avaliar a qualidade das sementes”, explica Clíssia. “O resultado é dado em poucos minutos e tem uma precisão de 99%.” Em outras palavras, do ponto de vista prático, a imagem baseada em autofluorescência pode ser usada para verificar modificações nas propriedades ópticas de tecidos de sementes de soja e para discriminar de forma consistente sementes de alto e baixo vigor. Assim, pode-se classificá-las com diferentes níveis de qualidade. De acordo com a pesquisadora, a técnica torna possível estimar a capacidade das sementes de germinarem em condições favoráveis ou de suportarem condições estressantes de campo. Além disso, ela fornece informações sobre o desempenho fotossintético inicial das plantas. Isso é possível porque as sementes com melhor qualidade fisiológica têm mais PLANT PROJECT Nº28

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componentes fluorescentes. “Por isso, a imagem das melhores tem mais sinal de fluorescência do que as de menor qualidade”, diz a pesquisadora. Clíssia garante que a tecnologia está pronta para ser usada comercialmente. Para isso, seria apenas necessário que alguma empresa desenvolvesse um equipamento mais simples e barato do que o VML usado por ela. O aparelho custa em torno de R$ 500 mil e foi comprado na Dinamarca, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Esse que usamos aqui no Cena é um equipamento bastante robusto, com diversos tipos de comprimento de onda e um software bastante sofisticado”, conta. “No meu ver, não há necessidade de um aparelho com tantos recursos para testar apenas sementes de soja.” Isso porque, segundo Clíssia, durante a pesquisa ela e sua equipe perceberam que existem alguns comprimentos de onda que são mais importantes para fazer essa detecção da qualidade da semente de soja do que outros. 60

“Então, uma empresa que trabalha somente com soja não precisa comprar esse equipamento específico”, diz. “Ela pode adquirir um outro, que possua somente aqueles comprimentos de onda necessários para o teste e softwares que sejam mais especializados para soja, que seria mais barato.” Nada impede, no entanto, que empresas comprem o mesmo equipamento dinamarquês. “Quinhentos mil reais não é muito dinheiro para uma grande empresa”, imagina a pesquisadora. “Mas para empresas menores, eu acredito que é possível ser desenvolvido um equipamento mais barato e que vai gerar os mesmos resultados. Utilizando menor número de LEDs, softwares de menor custo. Eu vejo assim, que num futuro próximo, a partir dos resultados da nossa pesquisa, outras empresas que trabalham com robótica e engenharia podem desenvolver equipamentos que sejam de menor custo e mais direcionados especificamente para avaliação da qualidade de semente de soja.”


Fo FORU M

Ideias e debates com credibilidade

foto: Shutterstock

“Cabe ao mundo rural cuidar da vegetação nativa sob sua responsabilidade e, ao mesmo tempo, evitar qualquer forma de desmatamento ilegal ou ações passíveis de causar degradação ambiental.”

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#COLUNASPLANT

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O PRODUTOR RURAL PROTEGE UM TERÇO DO BRASIL POR EVARISTO EDUARDO DE MIRANDA (DOUTOR EM ECOLOGIA – EVARISTO.MIRANDA@EMBRAPA.BR)

CARLOS ALBERTO DE CARVALHO (MESTRE EM COMPUTAÇÃO – CARLOS-ALBERTO.CARVALHO@EMBRAPA.BR)

GUSTAVO SPADOTTI AMARAL CASTRO (DOUTOR EM AGRICULTURA – GUSTAVO.CASTRO@EMBRAPA.BR)

O mundo rural brasileiro é complexo, dinâmico e de grande dimensão. Para conhecer e atualizar a efetiva contribuição dos produtores rurais para a preservação da vegetação nativa, a Embrapa Territorial analisou, por geoprocessamento, dois bancos de dados públicos e oficiais: o Cadastro Ambiental Rural (CAR), com 5.953.139 imóveis rurais registrados até fevereiro de 2021, e o Censo Agropecuário 2017 do IBGE, com 5.063.771 estabelecimentos agropecuários. Essa análise indica 2.828.589 km2 de áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa em imóveis rurais ou estabelecimentos agropecuários, o que representa 33,2% do território nacional. Ou seja, o mundo rural preserva um terço do Brasil. Caso único no planeta, o agricultor brasileiro utiliza, em média, 50,6% de suas terras. O restante é dedicado à preservação ambiental. Os conceitos de estabelecimento agropecuário do IBGE e de imóvel rural do CAR são diferentes, mas convergentes. No estudo realizado pela Embrapa Territorial, o CAR foi a fonte de dados principal – a área ali mapeada pelos agricultores revela 2.274.156 km2 de áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa, majoritariamente em áreas de preservação permanente (APP), áreas de reserva legal e excedente de vegetação nativa. Por procedimentos de geoprocessamento, a Embrapa Territorial identificou 1.809.626 estabelecimentos agropecuários levantados pelo Censo Agropecuário 2017, ainda sem registro no CAR e

não localizados em áreas protegidas. As razões do não cadastramento no CAR foram analisadas em seus vínculos com territórios em que a expansão do capitalismo agrário é ainda incipiente . A estimativa do adicional de vegetação nativa existente ou dedicada à preservação nesses estabelecimentos agropecuários totalizou 554.432 km2. A combinação de métodos, procedimentos e bancos de dados do IBGE, do CAR e de outras instituições (Ministério do Meio Ambiente, Funai...) permitiu expandir o entendimento sobre o tamanho e a complexidade desse mundo rural em suas diversas dimensões, sendo a ambiental uma delas. Em terras públicas, fora do mundo rural, as áreas protegidas do País – unidades de conservação integral (parques nacionais, estações ecológicas etc.) e terras indígenas – compõem um mosaico ambiental relevante. Ele está em sinergia com o mosaico das áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa pelo mundo rural brasileiro, preservadas, em sua maioria, em terras privadas. Resultantes de decretos e instrumentos legais de atribuição territorial, federais, estaduais e municipais, os limites geográficos das 1.689 unidades de conservação integral são conhecidos de forma circunstanciada. Elas protegem 9,4% do território nacional. Também situadas em terras de domínio público, as 614 terras indígenas ocupam 13,8% do território nacional. O total das 2.303 áreas protegidas, descontadas eventuais sobreposições geográficas, representam 1.974.400 km2 e 23,2% do Brasil.


#COLUNASPLANT

As áreas protegidas em terras públicas e as preservadas pelo mundo rural em terras privadas totalizam 4.802.988 km2 ou 56,4% do Brasil. Ainda restam muitos locais com vegetação nativa não contidos em terras protegidas ou preservadas. No Amazonas e no Pará, por exemplo, há grandes vazios com vegetação nativa não mapeada, associados a terras devolutas ou não atribuídas e a áreas militares, como a do Cachimbo, no sul do Pará. Quando se agregam as áreas protegidas e preservadas às de vegetação nativa em terras devolutas, áreas militares e imóveis rurais ainda não cadastrados ou disponíveis no CAR, chega-se ao total

de 5.642.359 km2 ou 66,3% do território nacional. Hoje, dois terços do Brasil estão dedicados à proteção, preservação e conservação da vegetação nativa. As vegetações nativas incluem uma profusão de formações florestais. Os biomas Pampa e Pantanal são constituídos, sobretudo, por vegetações não florestais. O mesmo ocorre majoritariamente no bioma Cerrado. E até no bioma Amazônia e Mata Atlântica existem áreas de vegetação não florestal. Na Amazônia, por exemplo, há mais de 20 tipos de florestas diferentes, além de vegetações não florestais (campos nativos, lavrados, cerrados, apicuns, vegetações rupestres, lacustres, palustres etc.).

Os resultados dessa pesquisa destacam duas realidades essenciais: o enorme desafio técnico e financeiro de gestão territorial associado à grande dimensão das áreas dedicadas à proteção, à preservação e à conservação da vegetação nativa no Brasil (66,3% do território) e o papel decisivo dos agricultores na preservação ambiental ao destinar à vegetação nativa, em terras privadas, uma área equivalente a 33,2% do País. Cabe ao mundo rural cuidar da vegetação nativa sob sua responsabilidade e,

ao mesmo tempo, evitar qualquer forma de desmatamento ilegal ou ações passíveis de causar degradação ambiental. Um desafio público estratégico quanto ao equilíbrio entre produção e preservação, cujas metas devem ser baseadas na sustentabilidade ambiental, social e econômica, sem abrir mão da competitividade dos produtores rurais brasileiros. O detalhamento dos métodos e procedimentos utilizados e dos resultados alcançados estão disponíveis no site www. cnpm.embrapa.br/projetos/car/rural2021. PLANT PROJECT Nº28

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Manejo em cafezal no Cerrado Mineiro: Projeto para preservar nascentes ajuda a mitigar crise hídrica

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As regiões produtoras do mundo

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As regiões produtoras do mundo

Córrego do Feio: principal fonte hídrica da região, está no centro do projeto Cerrado das Águas 66


MAIS ÁGUA NO CAFÉ Cafeicultores do Cerrado Mineiro enfrentam mudanças climáticas protegendo suas nascentes e córregos

foto: Divulgação

Por Felipe Porciúncula

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Cerrado Mineiro

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o mês de julho passado, o Cerrado Mineiro sofreu muito com a geada e a estiagem. A intensidade dos fenômenos deve provocar efeitos duradouros na produção agrícola, sobretudo no café, que se adaptou bem na região e hoje tem sua qualidade reconhecida internacionalmente. Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), a safra 2022 já está comprometida, já que as floradas do cafezal foram prejudicadas. O prejuízo total ainda é avaliado por agrônomos, mas a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) já estima que possa ser 7 milhões de sacas de café no próximo ano. “Essa é uma das culturas que mais dependem da água em todo o seu ciclo, porque mesmo quando não se perde a produção, a qualidade do grão é afetada. Em 2015, já tivemos esse problema e compramos café abaixo de nosso padrão de qualidade porque os grãos cresceram menos”, explica Guilherme Amado, líder do Programa AAA de Qualidade Sustentável da Nespresso.

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Mudanças climáticas, que podem tornar ainda mais frequentes as crises hídricas, preocupam produtores e a indústria – mesmo em Minas Gerais, estado banhado por oito das doze principais bacias brasileiras. Já em 2019, um relatório da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) alertava que a elevação da temperatura por conta do veranico de dezembro de 2018 teria provocado uma queda na produção mineira em 24%. Além disso, outro efeito colateral das mudanças climáticas ameaça a cultura: a redução de agentes polinizadores, que deve diminuir em 13% no Brasil inteiro até 2050, conforme o estudo “Efeitos das mudanças climáticas sobre os polinizadores de algumas culturas agrícolas no Brasil”, realizado em 2017, uma parceria entre a USP e o Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITV), de Belém, Pará. A pesquisa mostra que a região em que o cenário futuro é mais desfavorável é o Sudeste brasileiro, onde estão os três principais estados produtores de café no Brasil: São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Dentre as 13 culturas agrícolas consideradas, o café é o terceiro mais afetado (15% de probabilidade de redução de polinizadores). Para enfrentar tamanho desafio, um grupo de empresas (Lavazza, Nestlé e Nespresso), cooperativas de cafeicultores (Expocaccer e Cooxupé) e organizações internacionais como o CEPF (Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos, uma iniciativa conjunta da Agência Francesa de Desenvolvimento, da Conservação Internacional, União Europeia, da Fundo Global para o Meio Ambiente, do governo


foto: Divulgação

do Japão, e do Banco Mundial), além do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) resolveram agir. Criaram, em 2015, o Consórcio Cerrado das Águas, com o objetivo de mobilizar produtores a adotar práticas sustentáveis na produção do café. “A proposta desde o início já era unir a restauração ambiental com um modelo agrícola racional, que preservasse o nosso patrimônio que é o Córrego do Feio, a principal fonte hídrica da região, que banha uma área de 10 mil hectares”, enfatiza Fabiane Almeida, secretária executiva do Consórcio. O primeiro passo foi levantar as principais necessidades da região, a partir de um estudo do Instituto Ipê, apoiado pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Desde 2019, o Consórcio já investiu R$ 3,4 milhões no Programa de Investimento no Produtor Consciente

envolvendo 124 produtores em Patrocínio (MG), principal município produtor de café arábica do País. Para se ter uma ideia, dos 1,2 mil fornecedores dos grãos da Nespresso, cerca de mil estão nesta região. “Além de apoiar as fazendas para serem mais sustentáveis, estimulamos um cuidado com a paisagem, para que o Córrego do Feio (que faz parte da Bacia do Rio Grande) pudesse ser mais saudável”, diz Fabiane. Os resultados já podem ser percebidos. Um deles é a redução da erosão nas margens do córrego, o que garantiu uma menor retirada de água e um solo mais nutritivo. “Isso já dá para sentir hoje. Claro que a oferta maior de água só vamos sentir mais na frente, até porque com a seca recente isso atrapalhou um pouco. Mas já sentimos um movimento dos cooperados de se engajarem nesse novo modelo de produção, porque eles sentem a melhoria

Fabiane, secretária executiva do Consórcio, e Amado, da Nespresso: cuidado com a Natureza favorece produtividade das lavouras da região PLANT PROJECT Nº28

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na prática”, explica Gláucio de Castro, presidente da Expocaccer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado). O trabalho está dando tão certo que já deve se expandir para outras áreas como a Serra do Salitre e o município de Coromandel, nesse mesmo formato. Um bom exemplo é o do produtor Ricardo Bartolo. Ele tinha o desejo de produzir café orgânico, mas tinha uma falsa ideia de que fosse um processo semelhante ao extrativismo. Com a chegada do Consórcio, começou a perceber suas vantagens. “Hoje, nos meus 120 hectares, uso adubo de compostagem profissional e o defensivo é aplicado a partir de micro-organismos do arroz cozido, feito em uma biofábrica dentro da propriedade. Além de sustentável, é mais rentável, pois recebo 30% a mais por ser orgânico”, afirma Bartolo, que 70

este ano ganhou o prêmio de Melhor Café, da Expocafé. Por sua propriedade ficar próxima da nascente do Córrego do Feio, sua oferta de água é bem generosa. Para apoiá-lo de forma mais efetiva, a Lavazza, marca italiana de cafés especiais, implantou um sistema de monitoramento da irrigação da fazenda. A meta é que em cinco anos Bartolo retire apenas o essencial para sua produção, evitando o desperdício. O trabalho conta com o apoio técnico da Esalq/USP. Um dos braços importantes do projeto é a restauração de áreas degradadas, principalmente as APPs. Já foram recuperados 100 hectares, em grande parte usando o processo de semeadura direta, com o apoio da Rede de Sementes do Cerrado. “Antes de começar o plantio propriamente dito foi feito um treinamento com alguns produtores na


Cerrado Mineiro

Chapada dos Veadeiros, onde fazemos a coleta e a armazenagem das sementes. No começo usaram sementes embaladas aqui, mas em um futuro próximo os próprios produtores vão estocar suas próprias sementes no Cerrado Mineiro”, diz Camila Mota, presidente da Rede de Sementes do Cerrado. Por conta da pandemia, uma grande parte da capacitação foi feita on-line. Hoje a Rede de Sementes calcula que em torno de 70 kg por hectare é suficiente para reflorestar uma área degradada. O centro de armazenamento da rede conta com uma capacidade de 10 toneladas, com cerca de 68 espécies. Para cada plantio se faz uma seleção de espécies adequada para a região. No caso do Cerrado, além de frutíferas, se agrega gramíneas como a braquiária e arbustos. “Um fator importante a favor do café é que seu plantio já é realizado de forma consorciada com outras espécies por conta do sombreamento, que favorece a maior produção do café”, diz Camila. A meta é que em breve os produtores possam receber por essa atividade de reflorestamento. “No começo já tínhamos esse pensamento. Acho que isso deve acontecer em breve. O importante é que os cafeicultores assimilem a importância do modo sustentável de produção. São dois movimentos essenciais: da

porteira para dentro para cuidar bem da propriedade e da porteira para fora: favorecer a paisagem do Cerrado para que toda a região tenha corredores ecológicos”, lembra Michael Becker, coordenador do CEPF. Um dos produtores já convencido dos benefícios do sistema é Sebastião Sereia, que entrou no projeto em 2019. Com uma propriedade de 32 hectares, tem 6,5 hectares de APP. “Aqui já foi reflorestado 0,5 hectare. Por enquanto estamos gostando, mas seria bom que recebêssemos por esse trabalho, porque é muito árduo. A ideia do projeto é considerar a água um bem valioso. Quem vive do café sabe que sem o Córrego do Feio não temos chance de crescer. Nessa última geada perdi 3 hectares e só devo recuperar o prejuízo nos próximos anos. Aqui tiro normalmente 40 sacas por hectare e esse ano só vou conseguir colher dez sacas”, enfatiza Sereia. Um indicador de como a situação da água se agravou na região é o grande aumento da área irrigada. O que antes era feito só com a chuva, hoje precisa do apoio dos aspersores. No caso do café, se faltar água no momento da pós-floração, o prejuízo é duplo, pois além de os grãos crescerem pouco, o que compromete o seu ganho, prejudica o próximo plantio, pois as sementes para a safra seguinte também serão afetadas.

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Camila, da Rede Cerrado, e os produtores Bartolo e Sereia: sementes e produção responsável

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Cerrado Mineiro

“Aqui sentimos de perto o maior aquecimento da região, tanto é que vemos que muitos produtores buscaram terras mais altas (cerca de mil metros de altitude, com temperaturas entre 18 e 22 graus)”, diz Amado, da Nespresso. Para quem não consegue essas condições climáticas menos quentes, a saída é o plantio de arbustos, que protege o plantio do aquecimento. “Então a restauração ambiental, além de proteger os mananciais de água, com o sombreamento, favorece uma maior produtividade do

acompanhamento técnico das propriedades melhorou o cuidado com o solo. “Hoje temos uma mudança de conceito no modo de produção, porque, aos poucos, estamos reduzindo a erosão no solo, com a introdução de massa verde. Já temos cerca de 20 cooperados no projeto e eles estão entendendo a necessidade não só de cuidar da sua propriedade mas da paisagem e do Córrego do Feio, porque sem a união de todos não teremos uma boa colheita de café a longo prazo”, lembra Castro, da Expocaccer.

café. O grande salto desse projeto é que todos os atores estão sintonizados com esse objetivo”, reforça Amado. Não adianta se ter uma grande chuva só em um período e faltar em outro. É preciso regularidade em todo o ciclo. A estimativa é de que uma produção de café irrigada chega a produzir 50 sacas por hectare, enquanto a mesma produção no sequeiro chega a 35 sacas. Uma das maiores vantagens do projeto para melhoria da produção do café no Cerrado Mineiro é que o

CERRADO MINEIRO

55 municípios Produção anual de café: 6 milhões de sacas Área irrigada 85 mil ha Plantio de café 234 mil ha 50% com área certificada

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Marca de chocolates premium Dengo aposta na produção sustentável de cacau para revitalizar cultura no sul da Bahia

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A grande feira mundial do estilo e do consumo

foto: Divulgação

Do grão à barra:

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W WORLD FAIR

foto: Divulgação

A grande feira mundial do estilo e do consumo

Secagem do cacau em fazenda no sul da Bahia: incentivo financeiro para boas práticas de produção 74


UM DENGO COM A SUSTENTABILIDADE Com cacau produzido em sistema agroflorestal, marca de chocolates premium ajuda a gerar renda e recuperar o ambiente no sul da Bahia Por Daiany Andrade

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fotos: Divulgação

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cacau já foi símbolo de riqueza e de progresso no sul da Bahia na primeira metade do século 20. Também esteve na origem de um período de desolação na região, quando a vassoura-de-bruxa, uma doença exótica que se instalou na região no final dos anos 1980, atacou os cacaueiros e praticamente acabou com a cultura da região. Hoje, é o fruto da esperança, do renascimento e da sustentabilidade. Graças ao surgimento de grifes de chocolates especiais que trazem no seu DNA a produção responsável do seu principal insumo, uma série de novos projetos de impacto social fomentou a retomada da atividade, beneficiando milhares de famílias e também a restauração ambiental. Um desses projetos tem o DNA de uma das principais marcas de cosméticos brasileiros. Há quatro anos, Guilherme Leal, fundador da Natura, associou-se a Estevan Sartoreli, que trabalhou durante

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12 anos no marketing da multinacional de cosméticos, para criar a Dengo, marca de chocolates que ganhou visibilidade por apostar em endereços luxuosos para expor seus produtos e sua proposta. A empresa tem o compromisso de capacitar o produtor, pagar o melhor preço do mercado e contribuir para a transformação da vida de cada um. “Buscamos gerar uma renda decente às famílias produtoras, pagando um prêmio de preço ao cacau de qualidade e disseminando boas práticas de produção”, diz Sartoreli. O público abastado das principais cidades brasileiras comprou a ideia. Em 2017, a Dengo tinha apenas uma loja, no Morumbi Shopping, em São Paulo, e venda on-line. Hoje, está presente também no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Paraná e no Distrito Federal. Já são 30 lojas físicas, além da comercialização em diversos canais.


Negócios

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Sartorelli, o CEO, e a loja-modelo da Dengo em SP: experiência de imersão no universo do chocolate

“Acreditamos na oportunidade de ampliar a presença da marca em outros estados brasileiros”, destaca o CEO e cofundador. Em São Paulo, a experiência da Dengo foi testada de forma ousada no coração financeiro da cidade. Uma loja-conceito instalada na Av. Brigadeiro Faria Lima proporciona uma verdadeira imersão no universo do cacau, do chocolate e de outros produtos, como cafés especiais, queijos e vinhos. São quatro pavimentos, com cafeteria, confeitaria, restaurante, bar, além de espaços e atividades interativas para quem visita o espaço. DO CACAU AO CHOCOLATE A marca está no segmento conhecido como bean to bar, que significa “do grão à barra” e consiste em um processo de fabricação mais natural, com mais cacau e menos açúcar nas formulações. Todo o cacau usado na produção dos chocolates vem de produtores do sul da Bahia, especificamente de uma região do litoral conhecida como Costa do Cacau, a cerca de 200 km de Ilhéus. São mais de 16 mil estabelecimentos rurais com cacau, sendo mais de 50% com menos de 20 hectares. PLANT PROJECT Nº28

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Negócios

“Começamos com seis produtores, hoje já são mais de 200 conectados e em relacionamento com o negócio. Temos o compromisso de dobrar a renda de pelo menos 3 mil famílias produtoras de cacau até 2030. Apenas em 2020, apesar da pandemia, tivemos uma melhora de cerca de 25% da renda desses produtores”, afirma Sartoreli. Além da preocupação social, há também o compromisso com o meio ambiente. O cacau vem da Cabruca, sistema agroflorestal no qual as árvores do fruto são plantadas debaixo da sombra da Mata Atlântica, o que gera renda e preserva a floresta de pé. O modelo de produção é majoritário no sul baiano. Cerca de 60% dos produtores que atendem a marca são familiares, meeiros ou pequenos. A idade média é de 59 anos. Pelo menos 25% nunca frequentaram a escola e 50% têm o ensino fundamental incompleto. “Felizmente, mais de 80% dos produtores da Dengo já atingem hoje uma remuneração decente, o que chamamos de living income. A realidade da cadeia é bem diferente. Mais da metade dos produtores vive com um salário mínimo ou menos para sustentar uma família de três a quatro pessoas”, afirma o CEO. 78


O PREÇO DA SUSTENTABILIDADE Além de oferecer assistência técnica gratuita para o processamento dos frutos, o que ajuda na evolução das práticas de seleção, fermentação e secagem, o grande diferencial da marca está na remuneração dos produtores. “O principal mecanismo de impacto social da Dengo é o pagamento de um prêmio de preço que varia de 70 a 160% acima do valor de mercado”, diz Sartoreli, explicando que o percentual que o produtor recebe é definido de forma comum e transparente, mediante uma tabela de remuneração que leva em conta os critérios de qualidade que uma amostra de lote de cacau recebe, após análise laboratorial

no Centro de Inovação do Cacau, em Ilhéus. O cacau, como outras commodities, é negociado na bolsa de valores. Em 2020, os produtores que forneceram cacau à marca receberam 85% a mais que o preço da commodity, segundo Sartoreli. “Estimulamos a agregação de valor como um dos instrumentos para a viabilidade financeira da atividade cacaueira. Combinamos a isto assistência técnica agrícola e facilitação de acesso ao crédito rural”. A marca faz questão de deixar claro para o consumidor que, ao comprar um dos produtos, ele contribui para a melhora da qualidade de vida dos produtores, sem pagar mais por isso, já que o posicionamento

de preços é considerado equivalente ao do segmento premium nacional relevante. “Dizemos que a Dengo é uma ponte entre quem produz e quem consome. Cacau de qualidade, a preço justo, rastreável, com nome e sobrenome”, defende o CEO da Dengo. E são esses valores que podem levar a marca a conquistar também o mercado internacional. Apesar do contexto atual e incerto devido à pandemia da Covid-19, existem estudos em andamento dentro da empresa. “Acreditamos que o compromisso social e ambiental da marca, seus sabores inusitados e de alta qualidade sejam aderentes aos anseios de consumidores de outros mercados”, conclui Sartoreli. PLANT PROJECT Nº28

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Bebidas


A ALQUIMIA DAS ERVAS Uma sommelière de chás e um chef de cozinha decidiram apostar em novas maneiras de se aproveitar essa bebida muito além de uma xícara vespertina ou uma solução emagrecedora. Eles dizem ter criado uma “agência de turismo gustativo” Por Romualdo Venâncio

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foto: Divulgação

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iz a história que praticantes da alquimia, ao realizarem experiências unindo diversos elementos, buscavam a cura de todos os males, a vida eterna ou até uma transmutação espiritual. De um jeito ou de outro, a essência dessa ciência ancestral, até considerada mística, era a procura do bem-estar, do equilíbrio. Hoje em dia, esse conceito pode estar em uma xícara ou qualquer outro recipiente no qual se possa saborear uma infusão de chás associados a outros ingredientes, mas sempre de forma equilibrada. Essa é a aposta do casal Juliana Zannini e Henrique Campos, ela sommelière de chás e ele chef de cozinha, que criaram um novo negócio com o intuito de fomentar diferentes maneiras de se apreciar o chá como bebida, muito além do convencional. “No Brasil, o chá está bastante ligado a resolver alguma questão, algo funcional, como um ‘remedinho’ ou uma solução para perder peso”, comenta Juliana. A empresa de Juliana e Henrique ganhou um nome sugestivo – Infusiva – e toda a linguagem em torno dos produtos está alinhada para transmitir, em cada detalhe, o cuidado na composição dos

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blends dos chás. “Toda nossa coleção foi criada com muito estudo, olhando para o lado químico e fitoterápico dessa questão. O sabor é um dos pilares da Infusiva, e só é conquistado com a mistura exata que fazemos dos ingredientes”, diz Juliana, destacando a exclusividade de suas criações. Por conta dessas variadas combinações, é possível encontrar em uma mesma embalagem itens como capim-santo, clitória, ginseng, folha de oliveira, anis-estrelado e jasmim (receita chamada de “Brilha”), ou então cúrcuma, menta, abacaxi, canela, manjericão e pimenta preta (chamada de “Restaura”). Pelo olhar da gastronomia, Henrique enxergou no chá uma bebida muito potente, que traz notas e impressões como faz o vinho, e amplia o repertório gustativo. E a possibilidade de investir em harmonizações, sem a necessidade de uma opção alcoólica. “Quase tudo que a gente prepara na cozinha é por meio de infusão, como o arroz, o macarrão, o preparo de algum vegetal. Mas não é cultural relacionarmos dessa forma, não pensamos na infusão com essa possibilidade de sabor”, afirma. O chef conta que um dos


Bebidas

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O casal Juliana e Henrique (com o filho) e embalagens da Infusiva: sabor e terapia em um mesmo produto

testes para validar essa ideia foi a preparação de drinques em um restaurante parceiro, localizado em Piracicaba (SP), para harmonizar com as refeições. “Era um ambiente menos ousado do que São Paulo, por exemplo, e a resposta foi positiva, as pessoas se mostraram interessadas em novidades.” Muito dos processos da empresa na preparação dos produtos passa por esse conceito de oferecer uma nova experiência e despertar a busca por mais conhecimento, a curiosidade de saber o que mais está por trás daquelas misturas e o que mais elas podem proporcionar. “Quando conectamos o produto com aprendizagem, você sai diferente de onde o adquiriu, vai provar de forma distinta. Achamos muito importante pensar numa relação, no acolhimento, em um restauro. O chá acaba sendo a entrega final, o que vai fazer bem para o seu corpo”, explica Henrique. Diferentes segmentos do agronegócio já vêm investindo nesse conceito de satisfação para conquistar mais espaço junto aos consumidores, sobretudo os relacionados a alimentos e bebidas com preparo mais sofisticado. Vem daí a ideia do casal de chamar a Infusiva de uma “agência de turismo gustativo”.

intervalo na carreira dedicada à consultoria de projetos sociais e para empresas. O objetivo sempre foi terapêutico, primeiro como um tratamento alternativo para si mesma, depois ela se tornou a terapeuta. “Daí veio o contato maior com as plantas e a interpretação do energético com o fitoterápico, e a história do blend”, explica a sommèliere. Em meio a esse processo surgiu o contato com a Camellia sinensis, nome científico da planta original da qual derivam os chás verde, branco e preto. “Aqui, estamos acostumados a chamar de chá qualquer infusão”, comenta, lembrando que foi a partir desse momento que se dedicou mais a fundo aos estudos sobre o

universo dos chás para se tornar uma sommèliere. A Infusiva começa a surgir como negócio em 2019, mas ainda bastante voltada às experimentações. As criações dos blends eram compartilhadas com familiares, depois com amigos, e essas degustações acabaram atraindo mais pessoas. “A empresa já nasceu com essa entrega para as pessoas, e a primeira resposta que me impactou foi elas gostarem dessa combinação de sabores. A segunda foi a confirmação de que fez muito bem para elas, como fitoterapia mesmo”, diz Juliana. A participação de Henrique, naquele primeiro momento, era mais como

NECESSIDADE OPORTUNA Juliana se deparou com a alquimia quando optou por um PLANT PROJECT Nº28

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provador. “Como chef de cozinha, eu trabalhava umas 14 horas por dia no restaurante, quando chegava em casa via as caixinhas já prontas. Mas fui experimentando e dando feedback”, afirma. Logo passou a se arriscar nas criações também. “O primeiro produto que desenvolvi para a Infusiva foi uma goiabada com chá.” Paralelamente a esse processo, a sommelière foi investigar melhor o universo dos chás, e para sua satisfação constatou que o mercado estava em plena expansão. De 2013 a 2020, por exemplo, o consumo de chás no Brasil cresceu 25%, conforme dados de uma pesquisa

da Euromonitor International, divulgados pelo Canal Rural. Uma das motivações, segundo o estudo, é a redução no consumo de refrigerantes e de cafeína, por conta da crescente busca por alternativas mais saudáveis. A informação bate, em parte, com uma das interpretações de Henrique para a inserção do chá em uma refeição: “É uma bebida mais completa e que não seja água ou refrigerante”. A sinalização de que o negócio poderia dar certo foi um grande estímulo para começarem as vendas por meio do e-commerce em janeiro de 2020. Em seguida, uma combinação de fatores incentivou o casal a dar passos mais arrojados. Havia grande chance de se mudarem para Portugal, devido a uma proposta para que Henrique fosse trabalhar em um restaurante de lá. Mas o primeiro trimestre do ano passado mudou a vida de todo mundo: a chegada da pandemia da Covid-19 congelou planos e projetos. Além disso, a Europa começou a tomar medidas preventivas antes, e fechou suas fronteiras mais cedo. Se não iam mais cruzar o Oceano Atlântico, era preciso fazer as coisas acontecerem por aqui. “Aí nos dedicamos para fazer a empresa de fato, como parceiros em um negócio”, diz Juliana. INFUSÃO NA TRADIÇÃO A relação que estabeleceram no comecinho, com familiares e amigos, passou a ganhar mais

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Bebidas

intensidade e amplitude. E, de certa forma, acabaram sendo favorecidos pela pandemia. Na verdade, pelas mudanças de comportamento que a Covid provocou, pois é difícil associar essa situação toda que ainda passamos a algo positivo. Com as pessoas passando mais tempo dentro de casa, abriu-se uma oportunidade maior de estimular o consumo de chás, e uma coisa leva a outra, pois o público atendido acabava compartilhando a ideia com outras pessoas, e novos clientes iam surgindo. Essa propagação abriu espaço para mais uma etapa. Em setembro deste ano, a Infusiva abriu uma loja física na Vila Madalena, bairro da cidade de São Paulo que tem tudo a ver com o negócio, pois é uma região de muitas misturas, diversas combinações culturais que costumam gerar experiências

interessantes e até surpreendentes. “As pessoas estão vindo à loja por terem visto nossos produtos na casa de alguém”, comenta Henrique. Agora o casal já busca uma propriedade para investir na parte agronômica, com a produção de chás em sistema agroflorestal. Aliás, é exatamente na parte agrícola do negócio que a inovação se funde com a tradição. Afinal, sendo o chá uma cultura milenar, seria improvável não se conectar às origens. A Infusiva trabalha com diversos fornecedores de matéria-prima, entre eles está o Sítio Shimada, tradicional produtor de chás localizado em Registro, cidade paulista do Vale do Ribeira que é considerada a capital brasileira dos chás. “Eles têm até um terroir de lichia que dá um sabor diferenciado, o chá deles já foi premiado”, afirma Juliana. “E temos parcerias com produtores

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de orgânicos que têm um determinado tipo de erva disponível.” Quando certos itens não são encontrados exatamente da forma como necessitam, o próprio casal busca o aprendizado para fazer o processamento ideal. “É o caso da cúrcuma desidratada, que não há disponível da maneira como usamos”, diz Henrique. Agora, a aposta é espalhar cada vez mais essa ideia e multiplicar a conquista de adeptos, como já vem acontecendo com vinhos, cafés especiais, cervejas artesanais, entre outros produtos. Se depender do cuidado com que Juliana e Henrique demonstram tratar a infusão de chás e da empolgação com que falam do assunto, o agronegócio brasileiro pode ganhar mais uma forte vertente de cultura e sabores. Espaço no mercado nacional certamente não falta. PLANT PROJECT Nº28

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foto: Shutterstock

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Gastronomia


GAÚCHO COM SOTAQUE EUROPEU Como o enólogo Edegar Scortegagna realizou o sonho de produzir no Rio Grande do Sul um presunto cru brasileiro de padrão internacional Por Irineu Guarnier Filho

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fotos: Isadora Guarnier

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presunto cru é uma das iguarias mais apreciadas – e de maior valor agregado – da gastronomia mundial. Um derivado nobre da carne de porco. Como acontece com o vinho, o azeite e o queijo, as gôndolas dos supermercados brasileiros estão repletas de presuntos crus genéricos importados ou similares nacionais com preços relativamente acessíveis. Mas os presuntos crus mais tradicionais do mundo, como o Parma e o San Daniele, da Itália, ou o Serrano e o Ibérico, da Espanha, são considerados produtos de luxo – e uma peça de 7 quilos de uma dessas delícias pode custar mais de R$ 15 mil. Elaborar um presunto cru comparável em qualidade aos italianos e espanhóis, mas com sabor autenticamente brasileiro, era um sonho cultivado pelo enólogo gaúcho Edegar Scortegagna havia pelo menos 20 anos. Recém-formado em Bento Gonçalves (RS), no final dos anos 1990, Scortegagna foi completar seus estudos na Itália, em 2000, e na cidade de Verona experimentou pela primeira vez a especialidade da charcuteria italiana.

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Familiarizado com a ciência dos aromas e sabores, encantou-se à primeira prova pelo gosto levemente amendoado e quase doce do alimento. De volta ao Brasil, tentou reproduzir na casa dos pais, na localidade de Travessão Alfredo Chaves, em Flores da Cunha, algo que lembrasse o presunto que se habituara a consumir na Itália. A primeira experiência, feita com um pernil suíno comprado em um frigorífico e salgado em um freezer doméstico, com a temperatura controlada manualmente pela irmã, resultou em prejuízo para a família: o sal grosso utilizado no processo de salga corroeu as paredes metálicas do freezer. Mas nem por isso o jovem enólogo desistiu do seu projeto. Pelo contrário, a partir do experimento malsucedido passou a estudar o assunto com o mesmo afinco que dedicava à enologia quando retornou à Itália, em 2004, onde permaneceu até 2008. Em viagens à Espanha, conheceu de perto os sistemas de produção de outros tipos de presuntos nobres, como o famoso Pata Negra, os


Gastronomia

diferentes modos de salgar a carne para desidratá-la e conservá-la e as nuances de gosto resultantes das raças e do tipo de alimentação dos animais. Agora, sim, estava pronto para dar início ao seu negócio. Em uma parceria públicoprivada com a Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia, Santa Catarina, desenvolveu uma raça suína apropriada para esta finalidade – cruzamento de Landrace, Large White e Moura (o porco preto do Sul do Brasil, dotado de mais gordura). A alimentação dos animais também foi exaustivamente testada. A princípio, com bagaço de uva e pinhão, até que se chegou a um mix de linhaça, canola e sementes de girassol incorporado à ração tradicional, à base de soja e milho. Era importante que os animais acumulassem gordura, porque é onde se concentra boa parte do sabor. O processo de seleção racial e a composição de uma ração específica para este projeto durou sete anos. Uma cooperativa gaúcha parceira foi encarregada de criar, abater os animais e fornecer os pernis. A sociedade com o empresário Elton Antunes (ex-aluno de um dos cursos de sommelier ministrado pelo enólogo) resultou na empresa Antunes & Scortegagna, que, em julho do ano passado, começou a receber os primeiros pernis em sua pequena mas moderna

fábrica, na zona rural de Flores da Cunha, equipada com a mais avançada tecnologia do setor. Em julho deste ano, depois de 12 meses de cura, o primeiro lote do brasileiríssimo presunto cru Gran Nero chegou finalmente ao mercado. “Não queríamos copiar os espanhóis e italianos. Não se pode fazer um Romanée-Conti ou um Champagne no Brasil. A ideia era fazer um presunto cru brasileiro”, diz Scortegagna. Com preços inferiores aos dos importados top e apenas um pouco acima dos genéricos, o produto – vendido em peças de 8 quilos, de 1 quilo e fatiado – vem obtendo boa aceitação. “Chegamos ao mercado num momento de valorização dos produtos nacionais pelos melhores chefs”, comemora o empreendedor. O Gran Nero já está, por exemplo, no cardápio de restaurantes brasileiros do chef britânico Jamie Oliver, após passar pela aprovação do próprio cozinheiro televisivo, em Londres. E em receitas do prestigiado chef gaúcho Rodrigo Bellora. A empresa produz atualmente 2,3 mil quilos do produto por mês, mas a meta para 2020 é alcançar a cota de 11 mil quilos (ou 25 mil pernis por ano). São números de um empreendimento do tipo boutique, se comparados à produção de mais de 9 milhões de coxas por ano do Parma ou de 9 milhões do Ibérico. Mas o

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Scortegagna e o Gran Nero: duas décadas de pesquisa para chegar à qualidade desejada

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plano dos sócios é se manter nesta categoria, para não perderem o controle praticamente artesanal da produção. Na sequência, chegarão ao mercado presuntos com 18, 24 e 36 meses de cura. E, mais adiante, outros subprodutos do porco, como a bochecha curada e a pancetta (parte da barriga). A intenção dos sócios é aproveitar ao máximo possível a carne diferenciada dos animais criados sob demanda. “Queremos usar todo o porco em produtos premium da marca Gran Nero”, diz Scortegagna. Mas existe mercado, no País, para um alimento que pode custar entre R$ 100 e R$ 1,5 mil o quilo (o Gran Nero sai por R$ 175 o quilo)? Scortegagna acredita 90

que sim. “O paladar do brasileiro evoluiu muito nos últimos dez anos. As pessoas viajaram e viram muita coisa boa lá fora.” Enólogo por formação e paixão, Scortegagna continua sendo o responsável pelos vinhos da luxuosa vinícola gaúcha Luiz Argenta, pois acredita que as duas atividades são compatíveis e complementares, e que os produtos se destinam ao mesmo público. Ele lembra que existem diversos pontos em comum entre a elaboração da bebida e do presunto. “Para se fazer um bom vinho ou um bom presunto, são necessários matéria-prima de alta qualidade, processos adequados e, principalmente, tempo e paciência.” As semelhanças não ficam

por aí. A carne curada reage com o oxigênio e com as leveduras do ambiente, tal como o vinho. Há notas de aromas e sabores que podem ser percebidas durante uma degustação, como o gosto de amêndoas ou traços oxidativos. Embora a carne passe por um tipo especial de sal grosso, a gordura também aporta um leve sabor adocicado aos melhores presuntos. E, assim como acontece com o vinho, também há uma temperatura ideal para o consumo: entre 20 e 23 C°. Quanto à harmonização com vinhos, o professor de sommeliers Edegar Scortegagna é categórico: o par ideal para o presunto cru é um bom espumante. De preferência, da Luiz Argenta Vinhos Finos.


Projeto dos jardins da casa Moreira Salles, por Burle Marx: Nas mãos do paisagista, a Natureza inspira e se transforma em arte

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Um campo para o melhor da cultura

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Ar ARTE

Um campo para o melhor da cultura

O ARTISTA DA NATUREZA Exposição no Rio de Janeiro celebra a genialidade de Burle Marx, que transformou jardins em obras de arte reverenciadas no mundo todo Por Eliane Lobato

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Detalhe do projeto da Pampulha, em Belo Horizonte: obras de Burle Marx são ícones em várias cidades PLANT PROJECT Nº28

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Exposição

É verdade que a arte de fazer jardins não começou comigo, nem terminará com a minha pessoa. Mas creio que minhas experiências poderão ser úteis aos que vierem depois de mim.” _Roberto Burle Marx

Burle Marx, com seu maior parceiro, Hurayoishi Ono: espaço urbano para as plantas típicas das matas 94

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m dos legados do arquiteto e paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994) é uma ideia simples baseada na generosidade e contribuição social: plantar para os outros. Ao escolher uma muda de árvore dessas espécies que levam décadas para adultecer, ele dizia saber que não iria vê-la no apogeu, mas que isso não importava. E ensinava: o que interessa é cuidar bem da terra e do que dela pode advir, e sentir-se recompensado porque outras pessoas, contemporâneas ou das próximas gerações, irão se beneficiar. A exposição O Tempo Completa: Burle Marx, clássicos e inéditos, que pode ser vista até fevereiro na Casa Roberto Marinho, no Cosme Velho, no Rio de Janeiro, dá visibilidade a esse simbolismo através de 130 peças selecionadas pelos curadores Lauro Cavalcanti e Isabela Ono. Entre desenhos, fotografias, pinturas, croquis, maquetes e projetos, há trabalhos que ele não chegou a ver no auge da exuberância ou

usufruir. Mas quem veio depois sim. E é isso que importa. Como os monumentais Parque do Flamengo e Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro; o Parque Ibirapuera, em São Paulo; a Pampulha, em Belo Horizonte; a Praça 15 de Novembro, em Salvador e muitos outros projetos espalhados pelo Brasil e pelo mundo. São obras vivas que estabelecem um vínculo entre quem semeia e quem colhe, revelam as potentes mutações da terra e atravessam o tempo como fonte de energia e criação. O local da exposição não é mero acaso: Burle Marx assinou os jardins da casa do jornalista Roberto Marinho (1904-2003), em 1938, e ali nasceu a sólida amizade entre os dois “Robertos”. O jardineiro Augusto de Oliveira Braga, 68 anos, conviveu com ambos. Passou a metade de sua vida trabalhando na icônica residência do fundador da Rede Globo e foi testemunha de momentos de contemplação em seus passeios pelos jardins. Com o paisagista, aprendeu qual é o âmago do trabalho de quem planta: “Carinho por tudo


o que nasce da terra”. Braga afirma que “para dar certo, também tem que entender o tempo e as necessidades das mudas, sementes, raízes”. Ele considera o Sítio Burle Marx, onde o paisagista morava, um verdadeiro paraíso ao longo de 406 mil metros quadrados de área verde e mais de 3,5 mil espécies de plantas. Localizado em Barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, acaba de ser reconhecido como Patrimônio Mundial da Unesco. “O jardim do Instituto Casa Roberto Marinho é um dos projetos pioneiros do homenageado na exposição”, diz Lauro Cavalcanti. O arquiteto, curador e diretor do centro cultural tomou a iniciativa de semear bandeiras coloridas, confeccionadas a partir de desenhos do paisagista, nos jardins. O lúdico trabalho permanecerá no local em sistema de comodato por dez anos e, depois, as bandeiras serão doadas ao Instituto Burle Marx, fundado em 2019 para cuidar do acervo de mais de 120 mil itens. Cavalcanti chama a atenção para a rara oportunidade de ver o processo criativo do artista, que tem 60% de material inédito no evento. “Há desenhos de concepção, lápis meio borrado, experimentos de traços de canetas mais finas, detalhes de uma obra sendo pensada”, analisa. A mostra alcança quase nove décadas de trabalho junto a colaboradores, entre os quais o PLANT PROJECT Nº28

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Exposição

maior parceiro e amigo, Haruyoshi Ono (1944-2017), pai de Isabela Ono, a curadora adjunta e sócia-fundadora do Instituto. Falar do legado de Burle Marx, para ela, é abordar várias questões que se afunilam em um ponto: “A integração humana com a natureza e a necessidade de pensar alternativas para novos futuros”. Para entender como isso seria possível, ele viajou muito, pesquisou biomas e ecossistemas e fez uma 96

preciosa releitura deles em seus projetos, sempre em defesa do meio ambiente. Mata atlântica, Amazônia, Caatinga, Cerrado, Manguezal, estão todos ressignificados em seus trabalhos. “Burle Marx trouxe as matas para a cidade”, diz Isabela, também arquiteta e paisagista. “E mostrou que não basta preservar, é necessário, igualmente, difundir.” Cavalcanti e Isabela concordam que a pandemia fez as pessoas buscarem mais contato com a natureza, o universo rural, e que


Rascunhos para o Parque do Flamengo (esq.) e para a Avenida Atlântica (no alto): marcas na paisagem do Rio

os jardins públicos foram mais valorizados. “Independentemente da classe social, houve essa procura pela terra e pelo verde”, afirma ela. “Há um novo e melhor olhar para os espaços públicos de convivência e seus jardins”, completa ele. A exposição é a primeira ação pública do Instituto. E outras virão, garante Isabela, para que todos possam conhecer o múltiplo universo do maior paisagista do Brasil. Especialmente o público jovem,

com o qual o Instituto quer conversar sobre reciclagem, reúso de água, compostagem e mostrar como o paisagista sabia tirar proveito de um terreno. Tem água no local? Se sim, ele usava-a para regar o jardim ou mesmo para refrescar uma casa, canalizando-a para escorrer pelo telhado e diminuir o calor até diluir-se entre as plantas. Tem pedras? Em caso afirmativo, desenhava o projeto para aproveitar a topografia esteticamente e com menor custo e danos à natureza. Usou

estes recursos em seu sítio, hoje administrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Qualquer desenho de Burle Marx era milimetricamente cuidado, mesmo que fosse um simples mapa para orientar amigos a encontrar o melhor caminho para chegar em sua residência, na mata da zona oeste do Rio. Este desenho está na exposição e mostra que ele foi uma espécie de “precursor do Waze”, como brinca Isabela, tamanha a eficiência do mapa. PLANT PROJECT Nº28

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Exposição

Também chama a atenção o protótipo de um ateliê que ele fez dentro de uma pequena caixa de papelão, em 1978. A escala é menor, mas o resultado é grandioso. Na sala de projetos residenciais, há jardins hoje históricos. Por exemplo, na casa do banqueiro Walther Moreira Salles (1912-2001), inaugurada em 1951 no bairro carioca da Gávea. Assim como a residência onde Roberto Marinho morou por seis décadas, ambas passaram por obras ao longo dos anos, mas o projeto de jardinagem original nunca foi desrespeitado. Há espaços específicos para quadros, projetos institucionais, objetos e

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mobília do ateliê deste genial paulistano que se apaixonou pelo Rio e fixou residência na cidade. No evento cultural, que ficará aberto ao público até o início de fevereiro, muitos vão conhecer outras facetas do multiartista que era, também, designer de joias, músico, serígrafo, litógrafo, escultor e defensor da sustentabilidade. Burle Marx usava a arte para que todos entendessem a contribuição que a natureza pode nos dar. O Tempo Completa: Burle Marx, clássicos e inéditos ficará em cartaz até 6 de fevereiro, de terça a domingo, das 12h às 18h, na Casa Roberto Marinho, no bairro do Cosme Velho, no Rio de Janeiro.

Sítio de Burle Marx: modernismo e vegetação em harmonia


Técnicos da Jacto examinam equipamento para conectar máquinas: Leilão do 5G abre portas para aceleração da agricultura digital

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STARTAGRO

As inovações para o futuro da produção

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STARTAGRO

As inovações para o futuro da produção

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A EVOLUÇÃO ESTÁ NO AR A batida final do martelo no leilão da tecnologia 5G deu a largada para uma nova corrida de transformação digital no agronegócio brasileiro. Mas é preciso ter um pouco de paciência antes de acelerar de vez Por Romualdo Venâncio

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Conectividade

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leilão era de telecomunicações, mas para o agronegócio brasileiro o arremate gerou foi luz para as expectativas de acelerar a evolução digital. Mais do que isso, o pregão da tecnologia do 5G, realizado no início de novembro, criou a oportunidade para uma considerável valorização do setor. Diz o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que se a conexão no campo via internet aumentar 25%, o valor bruto da produção agropecuária (VBP) pode crescer 6,3%. Ou seja, pode passar dos atuais R$ 1,119 trilhão para R$ 1,189 trilhão. Sim, estamos falando de R$ 70 bilhões a mais. E é provável que esse ganho todo nem venha diretamente da quinta geração de internet móvel, pois a expansão do 4G, ao qual já estamos acostumados e que vem como parte da negociação recém-fechada, pode dar conta do recado. “O 4G já atende muito bem as aplicações de hoje e de muitos anos à frente, com a possibilidade de uma migração para o 5G de forma gradual, mais sólida e mais tranquila. A estrutura já vai estar lá”, diz Gregory Riordan, diretor de Tecnologias Digitais da CNH Industrial para a América do Sul e presidente da ConectarAgro, iniciativa formada por diversas empresas e que nasceu exatamente para promover a adoção de soluções abertas, começando pela utilização da rede 4G. Na última batida do martelo, o leilão do 5G registrou arrecadação de R$ 47,2 bilhões, valor um pouco abaixo da previsão inicial do governo federal (R$ 50 bilhões), mas considerado positivo

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pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), pois 25% do que foi ofertado não chegou a ser arrematado. “Nosso país tem uma escassez muito grande de internet, tem um deserto digital enorme, e pela primeira vez teremos a garantia e a certeza de que todos os valores arrecadados nesse leilão iremos converter em benfeitorias para a população”, comentou o ministro das Comunicações, Fábio Faria. O sinal de quinta geração da internet deve chegar ao Distrito Federal e às capitais brasileiras antes de 31 de julho de 2022, com implementação nos demais municípios até 2029. A concorrência envolveu quatro faixas de frequência: 700 MHz; 2,3 GHz; 3,5 GHz; e 26 GHz (veja descrição do uso de cada uma delas no quadro). O lote mais concorrido foi o de 3,5 GHz, exatamente por ser a faixa mais utilizada no mundo e que oferece a melhor qualidade no sinal e maior velocidade, e ficou com as operadoras Claro, Vivo e TIM. Mas, neste momento, o fato de maior impacto no agronegócio, sobretudo para os produtores rurais, é que ao levar o 5G, em qualquer uma das faixas de frequência, as empresas têm o compromisso de investir também na tecnologia 4G, ou superior, para áreas ainda sem cobertura, como pequenas localidades e rodovias federais. “Precisamos lembrar que 80% da nossa área rural ainda é ‘zero G’. Então temos de avançar muito, para o 4G no mínimo”, afirma Riordan, lembrando que esse caminho pode tranquilamente ser feito pela faixa de 700 MHz, arrematada pela Winity II Telecom. “É uma faixa muito


interessante para o meio rural, traz a conectividade adequada e as torres cobrem bem.” VANTAGENS OPERACIONAIS O presidente da ConectarAgro destaca que, enquanto a internet avançou de forma expressiva nas áreas urbanas, o mesmo não aconteceu no meio rural. “O modelo que é utilizado hoje leva as operadoras a buscar usuários, por isso a Avenida Paulista é muito mais interessante para elas do que o município de Cáceres, em Mato Grosso”, comenta Riordan. “Tanto é que cerca de 98% das áreas urbanas já têm cobertura 4G.” O executivo usa a Pirâmide de Maslow [conceito criado pelo psicólogo Abraham Maslow para mostrar a hierarquia das necessidades] como exemplo para descrever como a conectividade vai favorecer os produtores rurais. Segundo Riordan, o primeiro ponto, a base dessa pirâmide, é a mesma do meio urbano, a comunicação entre as pessoas. Alguém que está operando uma colheitadeira no meio da lavoura poderá falar ou trocar mensagens com quem está na base da operação, ou com a área de transbordo. O segundo fator, já mais avançado, é a telemetria. “O piloto automático é bastante utilizado e tem uma questão de correção de sinal”, diz. Depois vem o aprimoramento de outras aplicações, como o uso de drones em diversas atividades, informações que eram inseridas no computador

VANTAGENS DO 5G • Permite mais dispositivos conectados, o que está se tornando necessário diante do crescimento da chamada “internet das coisas”, com o crescimento da comunicação máquina a máquina. • Aumenta a velocidade de conexão, permitindo um consumo de serviços mais complexos com menos dificuldade, como a transferência de arquivos, comunicações em tempo real, o consumo de vídeos e áudios em tempo real (streaming) ou os jogos eletrônicos.

• Diminui a resposta da conexão (latência), melhorando e contribuindo para que os dispositivos móveis tenham uma conexão que permita aplicações em tempo real ou que demandam trocas de informação de forma rápida. • Tem maior capacidade de banda, o que é importante diante do aumento de informações que são publicadas e circulam na internet, seja a criação de mais conteúdo ou a melhoria da qualidade, como no áudio ou na definição em vídeo.

Fonte: Agência Brasil

de bordo das máquinas por pen drive passam a ser transmitidas pelo sinal de internet. “Há um grande ganho de velocidade na atualização dos dados e de eficiência na produção.” A precisão no manejo das lavouras é outra vantagem operacional bastante significativa.

Conforme explica Riordan, enquanto aguarda o crescimento das plantas após ter feito a semeadura, o agricultor precisa lidar com pragas, doenças fúngicas, plantas invasoras, e tomar a medida certa no momento exato define a redução de perdas de produtividade, que PLANT PROJECT Nº28

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Conectividade

pode chegar a 45%. Ainda mais dependendo do tamanho da plantação, pois no caso dos insetos o produtor ainda depende do monitoramento feito por pragueiros, passando pelos talhões. O executivo calcula que em uma propriedade de 1,5 mil hectares, a partir da conectividade é possível economizar R$ 270 mil por safra com a redução de custos, de incidentes, uso de rádio e manutenção de máquinas. São cerca de R$ 170 a menos por hectare. Hoje, há uma série de práticas de manejo que podem ser feitas por aplicativos, inclusive o reconhecimento de uma praga ou uma doença, basta uma foto tirada com a câmera do celular. “A gente faz download de aplicativo para resolver tudo quanto é problema, desde um nível para instalar uma prateleira até o acesso aos serviços bancários”, diz Riordan. A conectividade vai potencializar essas possibilidades e facilitar a rotina das fazendas. Dos 3 mil produtores entrevistados para a 8ª Pesquisa ABMRA Hábitos do Produtor Rural, divulgada pela Associação Brasileira de Marketing Rural no ano passado, 94% afirmaram utilizar smartphones. Na edição anterior do estudo, feita em 2017, esse índice era de 61%. “Isso abre espaço tanto para as startups quanto para as multinacionais”, acrescenta. 104

TRANSFORMAÇÃO JÁ COMEÇOU Por conta dos inúmeros benefícios que a conectividade traz para a produção agropecuária, muitas empresas rurais investiram por conta para ter sinal de internet nas propriedades. É o caso da SLC Agrícola, que já implementou a tecnologia 4G em 13 das suas 22 fazendas, e todas devem estar conectadas até o meio do ano que vem, expandindo a cobertura para os 668 mil hectares de área plantada. Isso tem permitido trabalhar com todas as máquinas conectadas, realizar todas as operações sincronizadas, fazer controle de pragas e doenças a partir de um tablet e aplicar os defensivos de forma precisa onde realmente é necessário. Para isso acontecer, a empresa providenciou a infraestrutura, com a instalação das antenas de transmissão, e depois buscou a operadora para fazer chegar o sinal. Enquanto o leilão 5G não acontecia, outras companhias do setor foram atrás de parcerias para estarem preparadas. Em julho deste ano, a direção da Coopavel, a Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (oeste paranaense), assinou um protocolo de intenções com a empresa Huawei Brasil e o Parque Tecnológico Itaipu (PTI-Brasil) para a utilização da tecnologia 5G. Esse projeto, com investimento inicial de cerca de R$ 6 milhões, prevê a instalação


PARA QUE SERVE CADA FAIXA DE RADIOFREQUÊNCIA Faixa Aplicação 700 MHz

Inicialmente será usada para ampliação do sinal 4G. Eventualmente, será a faixa utilizada por sensores inteligentes e carros conectados.

2,3 GHz

Alta capacidade para áreas densamente povoadas, também será usada para o 4G e será a frequência padrão de operação para dispositivos em geral.

3,5 GHz

Capaz de transmitir dados em altíssima velocidade, pode ser usada em paralelo com outras bandas e foi a faixa mais concorrida do leilão. É considerada parte do chamado 5G standalone.

26 GHz

Faixa onde deve acontecer a transmissão de dados da economia em larga escala, como automação industrial e agrobusiness; capaz de grande velocidade e também é considerada parte do 5G standalone.

Fonte: Agência Brasil

de uma moderna antena de transmissão para a quinta geração de sinal de internet, com um raio de abrangência de 5 km, na área do Show Rural Coopavel, uma das principais feiras de agronegócio do País. Além da melhoria na comunicação em toda o espaço do evento, a internet de alta performance tornará muito mais dinâmicas as demonstrações técnicas realizadas durante o período da feira, como monitoramento e transmissão em tempo real de imagens de alta definição das lavouras, funcionamento de maquinário, informações precisas sobre a alimentação e a saúde dos rebanhos e dados sobre as condições climáticas. A John Deere, que investe US$ 4 milhões por dia em pesquisa e desenvolvimento,

firmou um acordo de colaboração com a Ericsson voltado a novas aplicações utilizando a tecnologia 5G e gerando novas receitas para o agronegócio. A ideia é a partir da integração entre a conectividade e a internet das coisas (IoT) gerar soluções mais eficientes para problemas reais do setor. Para Rodrigo Bonato, diretor do Grupo de Soluções Inteligentes (ISG) da John Deere para América Latina, esse avanço é essencial porque a conectividade desbloqueia todo o potencial e a inovação disponível no campo, “beneficiando também outros setores da sociedade, desde telemedicina e educação à distância, por exemplo”. A Case IH, marca da CNH Industrial, investiu em um campo de demonstração para apresentar todos os benefícios

da internet em uma propriedade. Trata-se da Fazenda Conectada Case IH, com uma área de 3 mil hectares, localizada em Água Boa (MT). O sinal de internet é o 4G, na faixa de 700 MHz, fornecido pela TIM, operadora que integra a ConectarAgro e que por meio da iniciativa já levou conexão a cerca de 6,2 milhões de hectares. No local serão apresentadas, na prática, as vantagens da digitalização do campo, com a aplicação de tecnologias como Machine Learning, Big Data e Data Analytics. O projeto acabou beneficiando todo o entorno, pois foram instaladas duas antenas, uma na propriedade e outra no centro de Água Boa. Com isso, o sinal 4G chegou também para mais de 16 mil pessoas das comunidades ao redor, 93 outras fazendas, 21 escolas e 6 mil estudantes. Como diz Gregory Riordan, a chegada da internet promove desenvolvimento tecnológico, econômico, social e ambiental, e ainda incentiva as novas gerações a permanecerem no campo. “É o que eu chamo de efeito colateral positivo”, brinca o executivo, acrescentando que agora é importante o setor estar preparado para os novos passos. “Temos que abraçar o 5G, é o futuro, devemos entender as aplicações. Estamos falando de uma estrada digital, e quando você implementa uma rodovia abre espaço para a chegada de mais desenvolvimento e de mais investimento.” PLANT PROJECT Nº28

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UM UNICÓRNIO QUER INVADIR O BRASIL A americana Farmers Business Network (FBN), avaliada em US$ 3,9 bilhões, que reúne 33 mil produtores de EUA, Canadá e Austrália, estuda a entrada no País

Por Carlos Sambrana*

Carreta da FBN distribui insumos nos EUA: o que era um marketplace se transformou em um negócio verticalizado PLANT PROJECT Nº28

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o final de novembro, a startup americana Farmers Business Network (FBN) anunciou uma rodada Séries G de US$ 300 milhões, liderada pela Fidelity Investments e acompanhada pela Archer Daniels Midland (ADM). Com a rodada, a companhia atingiu um total de US$ 870 milhões captados desde a sua fundação, em 2014, e alcançou um valor de mercado estimado em US$ 3,9 bilhões. Trata-se de um dos maiores unicórnios do agronegócio mundial, dona de uma base que, literalmente, vale uma fortuna. A empresa conta com 33 mil produtores agrícolas de Estados Unidos, Canadá e Austrália conectados em sua plataforma e tem dados precisos de 85 mil acres (34,3 mil hectares) cobertos. Mas, se depender de um brasileiro que mora em Chicago, a empresa invadirá o território nacional. O executivo Felipe Yazbek, head de new business development, responsável por descobrir novas

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oportunidades de mercado para a companhia, esteve recentemente no Brasil visitando fazendas no Mato Grosso com uma equipe da FBN e tem estudado a entrada no mercado brasileiro. “O meu trabalho é o de encontrar novas oportunidades para a FBN”, disse Yazbek ao site NeoFeed, especializado em notícias do mundo dos negócios e de investimentos. “Estamos olhando o Brasil e a Índia, que são dois grandes players em agricultura. O Brasil, uma potência do agronegócio, que movimentou R$ 1,98 trilhão em 2020, não pode mesmo ser descartado. O terreno para a entrada da FBN no Brasil está sendo preparado com a ajuda de Antonio Moreira Salles e Julio Benetti, fundadores e gestores do Mandi Ventures, fundo de venture capital especializado em agronegócio e investidor da FBN. “É um investidor estratégico que está nos ajudando nesse


Startups

processo de análise para entrar no mercado brasileiro”, diz Yazbek. Indagado pelo NeoFeed, Moreira Salles confirmou que está assessorando a FBN nesse desafio. “Estamos explicando para eles as questões legais, jurídicas e regulatórias. Além disso, estamos colocando-os em contato com os profissionais que entendem de agro no Brasil, municiando de estudos de mercado, análise de concorrência”, diz Moreira Salles. A FBN é um grande ecossistema composto de três plataformas. Começou, em 2014, com analytics, depois, em 2016, partiu para a venda de insumos direto ao produtor e, por último, em 2018, entrou na venda de produtos financeiros. Desses três pilares, o analytics é o único serviço que é gratuito. O que o sistema faz é reunir as informações das várias máquinas que uma fazenda tem, um trator, uma colheitadeira e assim por diante. Cada marca tem uma plataforma de dados e a FBN reúne todas as informações, até então separadas, em um único ambiente. Além disso, a startup complementa com novos insights como imagens de satélites e compara a produção com as de produtores próximos, sem identificar quem são. Todos os dados são anônimos, mas exatos de cada região. Com isso, é possível saber se o fazendeiro colheu bem ou mal, como cada

herbicida funcionou, se o plantio foi bem executado, qual a variedade de semente que funcionou melhor e assim por diante. “Não é rocket science, o que fizemos foi unir todos os dados disponíveis numa só plataforma e tornar acessível para os produtores”, diz Yazbek. A partir daí, ao ter os dados e acesso a milhares de produtores, em 2016, a startup passou a explorar outro segmento: o de insumos. A companhia montou um marketplace, com todas as sementes do mercado, para oferecer aos fazendeiros. Seria mais um canal de distribuição aliado à inteligência de mercado. Ao ver que a FBN estava vendendo diretamente aos produtores, as grandes indústrias do setor cortaram o fornecimento de sementes e de defensivos para “cortar o mal pela raiz”. Ou seja, matar a concorrência na largada. “O problema é que a gente já tinha levantado galpões, montado toda a infraestrutura logística com equipes distribuindo”, diz Yazbek. Nos três países em que opera, a startup tem 25 galpões e 500 representantes comerciais. Diante da resistência dos fabricantes de insumos, com o negócio já montado, a FBN resolveu pivotar o negócio, e a empresa se tornou uma concorrente ainda mais poderosa. “De 80 a 90%dos defensivos usados por fazendeiros já têm patentes

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Depósito da FBN nos EUA: mais de 33 mil produtores conectados

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que expiraram”, afirma Yazbek. A FBN, então, foi atrás dos registros de patentes que já tinham autorizações dos órgãos americanos. Desembolsou milhões de dólares nesse processo. Uma das empresas compradas foi a Willowood. Com os papéis em mãos, foi para a China terceirizar a produção e criou a sua marca própria. Só para soja e milho, por exemplo, a companhia tem mais de 20 registros. A startup também comprou empresa de sementes, de vacinas para gado, de sais minerais, entre outras. Com os seus produtos genéricos, acabou se tornando uma opção para um batalhão

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de consumidores conectados. Dos 33 mil membros, pelo menos, 70% fazem uma transação por ano. De olho nesse potencial, a empresa acabou criando uma fintech. “Mas não fazia sentido a gente montar um banco, tomar risco, levantar capital. O que fazemos é montar produtos junto com os bancos e ser um canal de distribuição”, diz Yazbek. E conseguir precificar o risco para os bancos. Afinal, sabe tudo sobre o produtor: quando planta, quando colhe, quanto colhe, quanto gasta, todo o fluxo de caixa dos fazendeiros. São informações valiosíssimas para as


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Yazbeck (acima): “Meu trabalho é identificar oportunidades no Brasil”

instituições financeiras que concedem crédito e vendem seguro aos produtores. “A disrupção a gente já fez, agora é operacionalizar essa disrupção”, diz Yazbek. No fim das contas, funciona como um marketplace financeiro e ganha com o spread. “Estamos hoje entre os três maiores distribuidores de seguro agrícola nos Estados Unidos.” No Brasil, a FBN não vai encontrar um competidor único. Para se estabelecer, terá de brigar em várias frentes. No campo dos insumos, vai encontrar desde as gigantes mundiais até empresas nacionais como uma Ourofino. Em marketplaces, a Bayer já tem uma operação, a Orbia, e outra empresa que atua no setor é a Agrofy. Em fintechs, a Terra Magna, entre outras.

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Yazbek, 33 anos, nascido e criado em São Paulo, formado em engenharia elétrica na Escola Politécnica da USP, vem de uma família de cafeicultores da região de Marília (SP). Ele trabalhou na área de long and short do Fundo Verde, por onde ficou seis anos, e acabou deixando o mercado financeiro para transformar as propriedades deixadas pelos avós e torná-las lucrativas. Entre 2016 e 2017, focou nas fazendas. Em 2018, partiu para um MBA na Universidade de Chicago. “Nesses dois anos, ia e voltava para o Brasil”, diz ele. O jovem acabou mudando a produção dos 70 hectares da família. No lugar dos pés de café entrou a lavoura de mandioca, o que trouxe lucratividade para a família. No MBA, Yazbek fazia parte do clube Full Environment Agriculture Development, que estudava as disrupções no mercado de agronegócio. Em um dos estudos sobre o mercado, acabou parando na sede da FBN, na Califórnia. Foi ali que ele conheceu o cofundador da companhia, o americano descendente de indianos Amol Deshpande. Agora, do mesmo jeito que ele transformou as fazendas de sua família, pode abrir as portas do mercado brasileiro para a FBN. *Reportagem publicada originalmente no site Neofeed (www.neofeed.com.br) PLANT PROJECT Nº28

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OS COMBUSTÍVEIS DA DESCARBONIZAÇÃO Conferência DATAGRO sobre Açúcar e Etanol mostrou como os biocombustíveis de base agrícola são parte essencial da jornada da indústria automobilística em direção à mobilidade sustentável Por Ronaldo Luiz

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ealizada nos dias 25 e 26 de outubro, na capital paulista, em formato híbrido – presencial e on-line –, a 21ª Conferência Internacional DATAGRO sobre Açúcar e Etanol reuniu os principais representantes do setor sucroenergético nacional e internacional, entre autoridades, empresários, produtores, acadêmicos etc., para discutir os desafios e oportunidades do segmento, em particular, o papel relevante da cana-de-açúcar e derivados, sobretudo o etanol, no desafio de descarbonização mundial. A solenidade de abertura contou com a participação presencial do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o qual pontuou que o Brasil precisa retomar sua posição de liderança na agenda ambiental global. “Temos mais de 60% de áreas nativas protegidas, uma das leis ambientais mais rígidas do mundo, o Código Florestal. Não temos

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problemas de lei, e sim do cumprimento delas”, afirmou. Lira destacou que o crédito de carbono será um dos maiores ativos do Brasil para o mundo, especialmente os que serão gerados a partir dos projetos de floresta em pé, bem como provenientes da expansão do uso de biocombustíveis. “Temos enorme potencial em energia limpa e renovável.” Em participação por vídeo, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, adiantou que a participação dos biocombustíveis na matriz de transportes nacional deve saltar dos atuais 25% para 30% em 2030. “O RenovaBio – Política Nacional de Biocombustíveis – é o primeiro mercado de crédito de carbono do País e está incorporado ao planejamento energético de longo prazo do ministério”, salientou Albuquerque, acrescentando que “a bioenergia será crucial para a mobilidade


sustentável, com potencial de posicionar o Brasil como líder global da transição energética e da agenda de baixo carbono”. A solenidade de abertura contou, ainda, com a participação do deputado federal Arnaldo Jardim; Marcelo Campos Ometto, membro do Conselho do Grupo São Martinho e presidente do Conselho da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica); Pedro Robério de Melo Nogueira, presidente do Sindaçúcar-AL; e o anfitrião Plinio Nastari, presidente da Datagro. A mensagem-chave da cerimônia de abertura foi a de

que o etanol pode contribuir de maneira decisiva para o processo de transição energética, ancorado na substituição de fontes fósseis por renováveis, em direção à descarbonização, e que o Brasil tem a missão de mostrar à comunidade internacional a qualidade da energia limpa e renovável produzida nacionalmente, que pode servir de exemplo para diversas regiões do globo. ETANOL ESTÁ FORTE NA AGENDA DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA Os biocombustíveis são parte

essencial da jornada da indústria automobilística nacional em direção à mobilidade sustentável, frisou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes. De acordo com o dirigente, o setor brasileiro de biocombustíveis é uma cadeia produtiva robusta, eficiente, geradora de emprego e renda, com capilaridade de distribuição, que não pode ficar de lado. Segundo Moraes, impulsionar o uso do etanol, por exemplo, na matriz de transportes pode contribuir de maneira decisiva para acelerar a descarbonização a PLANT PROJECT Nº28

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curto e médio prazo da frota circulante do País. “Será a interação de formas que moldará o cenário de diferentes rotas de descarbonização no Brasil.” O gerente de engenharia de produtos da Nissan, Ricardo Abe, falou sobre o projeto, em desenvolvimento pela montadora, de uma tecnologia comercialmente viável de célula de combustível a etanol, na qual o biocombustível será o gerador da eletricidade. Recentemente, a fabricante fechou acordo com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para acelerar as pesquisas. Nesta tecnologia, o etanol passa por um dispositivo, que vai extrair o hidrogênio, que, ao ser combinado ao oxigênio do ar na célula propriamente dita, promove uma reação química e gera a eletricidade que alimentará o motor elétrico. Entre as vantagens desta tecnologia reside o fato de não 114


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precisar de grandes baterias. O veículo poderá utilizar a rede de distribuição de etanol já existente para ser abastecido. “Queremos desenvolver esta tecnologia no Brasil, inclusive para exportá-la”, ressaltou Abe. O presidente da Volkswagen na América Latina, Pablo Di Si, acentuou que o Brasil tem repertório técnico e resultados suficientes já apresentados para ser desenvolvedor global de tecnologias, especialmente limpas e renováveis, para mobilidade veicular, no que foi endossado por Rafael Chang e Christopher Podgorski, respectivamente, presidentes da Toyota do Brasil e da Scania na América Latina. O chefe da divisão de energia do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e presidente da Plataforma Biofuturo, Renato Godinho, mencionou a importância de políticas públicas de Estado para expansão dos biocombustíveis e que o Brasil vem dando exemplo nesta temática. “As rotas tecnológicas a partir do etanol são as que de longe tiram a melhor nota ambiental, bem como também apresentam a melhor entrega do ponto de vista de resultados econômicos.” O presidente da Unica, Evandro Gussi, reforçou o protagonismo do Brasil quando se fala em biocombustíveis. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO AÇÚCAR PREVÊ DÉFICIT DE

3,8 MILHÕES DE TONELADAS NO CICLO 2021/22 O diretor executivo da Organização Internacional do Açúcar (OIA), José Orive, estimou que o mercado global de açúcar deve apresentar um déficit [consumo superior à produção] de 3,8 milhões de toneladas no ciclo 2021/22. A produção mundial de açúcar na temporada 2021/22 deve atingir 170,6 milhões de toneladas, crescimento de 0,3%, com aumento do volume proveniente da beterraba. Já o consumo global na safra 2021/22 deve avançar para 174,5 milhões de toneladas, incremento de 1,56%, impulsionado pela demanda pós-pandemia. Em sua participação, o diretor executivo da Isma, associação que representa o setor produtivo indiano da cana-de-açúcar, Abinash Verma, informou que a produção de açúcar da Índia na temporada 2021/22 deve se situar em torno de 31 milhões de toneladas, e os embarques devem ficar próximos a 6 milhões. De acordo com o dirigente, os subsídios governamentais destinados às exportações são importantes para o produtor local, devido aos custos elevados, e que a diversificação da produção para o etanol esbarra em questões relacionadas à infraestrutura das usinas locais. Em contraponto, o diretor executivo da Unica, Eduardo Leão, lembrou que os subsídios à exportação promovidos pela

Índia distorcem a dinâmica do mercado mundial do adoçante. Segundo ele, esse tipo de prática vai de encontro às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), gerando prejuízo de bilhões de dólares aos produtores brasileiros de cana. O governo do Brasil tem formalizado na OMC, no âmbito do Sistema de Solução de Controvérsias, painel sobre o tema. Leão ressaltou, ainda, que o açúcar é o produto agrícola mais protegido do mundo, sobretudo entre os principais países consumidores. De acordo com o diretor da entidade, ainda que essa proteção, por meio de cotas, seja legal, conforme normas da OMC, também acaba distorcendo a lógica de mercado. RENOVABIO: META PREVISTA PARA EMISSÃO DE CBIOS EM 2022 É DE 35,9 MILHÕES O coordenador-geral de etanol do Ministério de Minas e Energia (MME), Marlon Arraes, antecipou que a meta prevista para 2022 de emissões de Créditos de Descarbonização (CBios) pelas usinas produtoras de bicombustíveis é de 35,9 milhões de títulos. Este ano até 21 de outubro, balanço do MME aponta que foram emitidos 29,2 milhões de CBios, a um preço médio de R$ 34,86, resultando em um volume financeiro de R$ 860 milhões. Segundo Arraes, os CBios que têm como lastro o PLANT PROJECT Nº28

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etanol respondem atualmente por 81,75% do mercado, biodiesel (18,24%) e outros biocombustíveis (0,1%). De acordo com o representante do MME, o RenovaBio vem mostrando uma curva de adesão bastante satisfatória. “Os esforços de descarbonização, que mostrem a pegada de carbono de uma atividade, serão cada vez mais valorizados nos balanços.” AGENDA ESG CADA VEZ MAIS PAUTA TOMADA DE DECISÃO DE INVESTIMENTOS DESTINADOS AO SETOR SUCROENERGÉTICO A agenda ESG – compliance e responsabilidade ambiental, social e governança corporativa – é uma peça-chave, que cada vez mais pauta a tomada de decisão de investimentos globais nos mais diversos setores produtivos, o que inclui, claro, o setor sucroenergético e o agro como um todo. Foi o que destacou a sócia da PwC Brasil, Ana Paula Malvestio. Segundo ela, estima-se que investimentos atrelados a certificações ESG devem movimentar cerca de US$ 53 trilhões nos próximos anos mundialmente. De acordo com a executiva, ignorar esta agenda torna-se um risco, por exemplo, no comércio internacional, pela possibilidade da criação de barreiras, sobretudo de caráter técnico, para produtos sem este 116

reconhecimento. A sócia-fundadora do Pineda & Krahn Advogados, Samanta Pineda, sublinhou que ativos ambientais do Brasil, com destaque para o Código Florestal, boas práticas agrícolas, uso maciço de energia renovável, entre outros, devem ser trabalhados para que sejam reconhecidos – inclusive financeiramente – na comunidade internacional como diferenciais atrelados aos produtos brasileiros. MERCADOS INTERNACIONAIS PAGAM PRÊMIO PELO ETANOL DE 2ª GERAÇÃO A tecnologia para produção de etanol de 2ª geração, a partir de sobras e resíduos do processamento da cana-deaçúcar, é capaz de gerar até 50% a mais do biocombustível sem a necessidade de mais matéria-prima e/ou plantio de novas áreas, revelou o CEO da Raízen, Ricardo Mussa. Segundo o executivo, exatamente pelo fato de gerar mais etanol com a mesma quantidade de cana, o biocombustível de 2ª geração apresenta uma pegada de carbono – que já é baixa desde o de 1ª geração – ainda menor. “Neste sentido, o mercado internacional tem pago prêmio pelo etanol celulósico, que é considerado um combustível avançado.” De acordo com Mussa, entre

as aplicações industriais para o etanol de 2ª geração destacam-se sua adoção em mercados que têm mandatos a cumprir em relação à adição de biocombustíveis em combustíveis fósseis e para o desenvolvimento do plástico verde, por exemplo. O CEO da Raízen fez questão de ressaltar que o conceito de usina de açúcar e etanol tem que ficar para trás, sendo substituído por “parque de bioenergia”, porque uma planta do setor sucroenergético hoje já produz muito mais produtos, como a bioeletricidade, biogás, pellets etc. LIDERANÇAS REFORÇAM NECESSIDADE DE INVESTIMENTOS EM COMUNICAÇÃO Lideranças do setor sucroenergético reforçaram, uma vez mais, a necessidade de investimentos em comunicação para que os biocombustíveis, sobretudo o etanol, sejam reconhecidos como elementoschave para descarbonização global, assim como a cadeia produtiva em torno deles é forte geradora de emprego, renda e consequente desenvolvimento socioeconômico. “O setor faz muito, mas ainda fala pouco”, resumiu o presidente da Datagro, Plinio Nastari, acrescentando que “o etanol precisa ser reconhecido como energia limpa e renovável para a matriz de transportes, com foco na busca pela


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mobilidade sustentável”. O presidente do Fórum Nacional do Setor Sucroenergético, Mário Campos Filho, endossou que, de fato, é preciso que o segmento se comunique melhor com a sociedade e que um desafio a mais será mostrar todos os atributos positivos da cadeia produtiva nas eleições gerais de 2022. “Além disso, é preciso destacar o que o setor faz no tocante à proteção de mata nativa e recuperação florestal”, salientou o presidente do Sindaçúcar-AL, Pedro Robério. SETOR SUCROENERGÉTICO APRESENTA CONJUNTURA FINANCEIRA SAUDÁVEL O chefe do departamento do Complexo Alimentar e Biocombustíveis do BNDES, Mauro Matoso, adiantou que o banco prepara o lançamento de

linhas de financiamento para o agronegócio com juros a taxas fixas, além da manutenção, claro, das que são vinculadas às variações da Selic e do IPCA. De acordo com o executivo, na esteira do BNDES para lançamento também estão linhas de crédito dedicadas a fomentar o segmento de bioinsumos, expansão da conectividade rural e perenização do ProRenova, que tem como foco financiar o plantio de novos canaviais. Além disso, Matoso ressaltou, ainda, que o banco também está testando uma modalidade de fiança para emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), que teve como primeira experiência uma operação para a Cooperativa Cotrijal, de Não-Me-Toque (RS). “Queremos dar segurança para que investidores que operam no mercado de capitais tenham

confiança para aplicar no agro.” Neste sentido, Alexandre Aoude, sócio-fundador da Vectis, pontuou que, de fato, será muito difícil o agro continuar se financiando, exatamente pela força e perspectivas de crescimento do setor – apenas com recursos oficiais e do sistema de crédito tradicional. “Captar no mercado de capitais passa a ser fundamental, e a chegada dos Fiagros é de fundamental importância para esta nova jornada.” Ademais, Pedro Fernandes, diretor de Agronegócios do Itaú BBA, frisou que o setor sucroenergético apresenta uma conjuntura financeira saudável, com maior geração de caixa e redução de dívida pela maior parte das usinas. O executivo aposta em um cenário positivo para safra 2021/22, mas alerta que o custo do capital está em trajetória de alta. PLANT PROJECT Nº28

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M MARKETS

DATAGRO Markets

SEGURANÇA DO ALIMENTO: TEMA CENTRAL PARA O DESENVOLVIMENTO DO AGRONEGÓCIO SUSTENTÁVEL Po r Pl i n i o N a s t a r i

À medida que se consolidam os conceitos de ESG – padrões ambientais, sociais e de governança – em nível global, é importante lembrar que a segurança do alimento se transformou em tema fundamental para o agronegócio e o comércio justo e competitivo. Esse tema é central para o Brasil pelo seu protagonismo no mercado global de alimentos in natura e processados, assim como para muitos países que participam do mercado mundial, seja como fornecedores, seja como consumidores. Do ponto de vista da saúde, esse é um tema de grande relevância na medida em que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a

Agricultura (FAO), da Organização das Nações Unidas (ONU), estima que cerca de 600 milhões de pessoas ficam doentes todos os anos, e 420 mil morrem, como resultado de alimentos contaminados. As razões de contaminação são variadas, e em muitos casos relacionadas a praticas de conservação que precisam ser aprimoradas. Nesse sentido, cresce a percepção sobre a necessidade de construção de critérios de certificação que sejam transparentes, críveis e baseados na Ciência, reconhecidos globalmente como os padrões a serem obedecidos e exigidos em nível local e também para o comércio.

Como todo tema complexo, existe um potencial de distorção quando alguns padrões ou exigências não são definidos de forma transparente e nem baseados na Ciência. O problema surge quando formuladores de política acabam produzindo regulações baseadas na pressão de grupos de interesses específicos, que muitas vezes se provam ser absurdamente rígidas, e possíveis de serem atendidas apenas em nível local. Ou então, de forma conveniente, padrões são definidos como uma nova maneira de instituir barreiras não tarifárias ao livre-comércio.

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À medida que o comércio global se expande e as exigências dos consumidores ficam cada vez mais

Dr. Plinio Nastari é presidente da Datagro e do Instituto Brasileiro de Bioenergia e Bioeconomia (Ibio).

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sofisticadas, inclusive através de métodos que permitem a rastreabilidade total de produtos, com a verificação na gôndola através de código QR da origem de cada produto até a sua origem, é fundamental que rapidamente sejam criados padrões reconhecidos internacionalmente como sendo justos e adequados para a proteção dos consumidores, e que sirvam de orientação para todos os elos da cadeia de produção e distribuição de alimentos, em todo o mundo. Além da definição de padrões críveis e justos, é preciso que as regulações nacionais sejam adequadas para obediência a esses critérios, e sistemas de certificação sejam criados para dar suporte às cadeias de produção e comercialização.

internacional. O Codex é uma coletânea de padrões reconhecidos internacionalmente, com códigos de conduta e orientações e outras recomendações relativas a alimentos, produção de alimentos e segurança alimentar. Seus textos são desenvolvidos e mantidos pela Codex Alimentarius Commission, uma comissão estabelecida em 1963 pela FAO e a Organização Mundial da Saúde (OMS). O Codex Alimentarius é reconhecido pela Organização Mundial do Comércio como um ponto de referência internacional para a solução de disputas sobre segurança alimentar e proteção do consumidor. Por sua credibilidade e reconhecimento, a aposta no Codex como solução para o estabelecimento de critérios baseados na Ciência, de forma transparente, parece ser a melhor solução.

Neste sentido, o Codex Alimentarius é o principal ponto de partida e referência

Além disso, uma vez definidos esses padrões através do Codex, é preciso que

evoluamos para reconhecer que padrões muito mais exigentes definidos por qualquer país ou regulação local poderão ser considerados como medidas de restrição ao comércio, o que abriria a possibilidade de questionamento perante a OMC.

M MARKETS

Com certeza é preciso que mais luz seja direcionada à discussão desse tema, e que os padrões a serem seguidos, em nível local e global, sejam baseados em critérios fortemente relacionados à Ciência, e não estabelecidos simplesmente como resultado da pressão de grupos de interesse dos mais diversos matizes.

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