Plant Project #30

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

A NOVA ORDEM DO AGRO Guerra, pandemia, barreiras ambientais... O mundo está mudando e isso mexe muito com a produção no Brasil UCRÂNIA

Bombas no lugar de sementes em uma das regiões mais férteis do planeta O AGRO É PEC! POR QUE GRANDES GRUPOS AGRÍCOLAS COMO BOM FUTURO E SLC ESTÃO INVESTINDO PESADO NA PECUÁRIA

MERCADO DIGITAL

Os criptoativos entram em cena e já compram até fertilizantes SUSTENTABILIDADE COMO AS REVENDAS DE INSUMOS ENTRARAM NO JOGO DO ESG

venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

PANTANAL Três décadas depois, nova versão da novela retoma o foco na região


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O MUNDO E A PLANT

Você tem em mãos a edição de número 30 da revista PLANT PROJECT. Ao longo de pouco mais de cinco anos, procuramos trazer em nossas páginas uma visão ampla do universo agro, com suas conexões globais, sua face moderna e sofisticada, sua relação (nem sempre bem resolvida) com uma sociedade cada vez mais urbana e distante do campo. É um desafio que nos

Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

mantém mobilizados, sobretudo em um mundo tão complexo e submetido A NOVA ORDEM DO AGRO

a tantos impactos, como ocorreu nesse nosso curto período de vida.

Guerra, pandemia, barreiras ambientais... O mundo está mudando e isso mexe muito com a produção no Brasil UCRÂNIA

Bombas no lugar de sementes em uma das regiões mais férteis do planeta

O AGRO É PEC! POR QUE GRANDES GRUPOS AGRÍCOLAS COMO BOM FUTURO E SLC ESTÃO INVESTINDO PESADO NA PECUÁRIA

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PANTANAL Três décadas depois, nova versão da novela retoma o foco na região

Esta edição foi produzida sob a sombra da invasão russa na Ucrânia. Um evento regional com implicações planetárias, seja em sua dimensão humana, seja nas consequências para a produção de alimentos em todos os continentes. As férteis terras ucranianas ajudam a abastecer o mundo com trigo, cevada, óleo de girassol e outros grãos. Da Rússia, como se sabe, vem boa parte do fornecimento de fertilizantes utilizados no Brasil. Não é exagero dizer que, a partir da terrível sequência de fatos pandemia-Ucrânia, a geopolítica global jamais será a mesma. Dentro de décadas, olharemos para esses momentos como definidores de um novo equilíbrio (ou seria desequilíbrio) de poderes e relações entre as nações. Ter em mente, hoje, essa nova perspectiva nos deixará mais preparados para sermos ainda mais fortes e influentes, como a nação do agro, nesse futuro que se desenha. E que é terreno fértil para o jornalismo que nos propomos a fazer na PLANT.

Luiz Fernando Sá Diretor Editorial

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G pág. 7 Ag pág. 17 Fo pág. 59 Fr pág. 63 W pág. 75 Ar pág. 81 S pág. 89 M pág. 108 G LO B AL

D i r etor E ditoria l Luiz Fernando Sá luiz.sa@plantproject.com.br D i r etor Comerc ia l Renato Leite Marketing e Publicidade Multiplataforma renato.leite @plantproject.com.br D i r etor Luiz Felipe Nastari A rt e Andrea Vianna Projeto Gráfico e Direção de Arte E d i tor Romualdo Venâncio romualdo.venancio@plantproject.com.br Col ab o ra dores: Texto: Amauri Segalla, André Sollitto, Bruno Cirillo, Evanildo da Silveira, Lívia Andrade, Marco Damiani, Ronaldo Luiz, Suzana Barelli Design: Bruno Tulini Revisão: Rosi Melo Ev e n to s Simone Cernauski A d m i n i st ração e Fina nç as Cláudia Nastari Sérgio Nunes

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Exemplar de Conophytum, planta típica da África do Sul:

GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

foto: Shutterstock

Rara e valiosa, espécie se tornou alvo de traficantes

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GLOBAL

foto: Shutterstock

O lado cosmopolita do agro

AFRICA DO SUL

NEM TUDO SÃO FLORES Caçadores ilegais de conos, rara planta ornamental do deserto, ameaçam a sobrevivência da espécie e fazem surgir um novo tipo de crime internacional

Todos os anos, a estação das flores em Namaqualândia, uma região árida na província do Cabo Setentrional, na África do Sul, atrai uma legião de turistas que vão em busca de um espetáculo encantador. Entre agosto e outubro, plantas raras desabrocham e tingem de variadas cores a vegetação seca do deserto sul-africano. Uma espécie, contudo, é ainda mais especial. Trata-se da furtiva Conophytum, ou simplesmente cono, um minúsculo exemplar de planta ornamental em formato de cone que floresce em períodos curtos e é tão difícil de ser encontrado que se tornou um dos grandes patrimônios nacionais, assim como os rinocerontes e os históricos sítios arqueológicos de hominídeos. Como 8

são raros, os conos tornaram-se valiosos – e isso, é óbvio, acabaria despertando a cobiça de caçadores ilegais. Pior ainda: com eles, vieram o contrabando, a violência e o crime internacional. A maior parte das cerca de 100 espécies de Conophytum espalhadas pela África do Sul está ameaçada de extinção. Algumas estão escondidas em uma única encosta ou em meio a agrupamentos rochosos. Uma espécie premiada cresce apenas em um complexo de mineração de zinco e outra é exclusiva de uma fazenda de ovelhas. Elas estariam protegidas da ganância humana se não fosse um fenômeno impossível de ser contido nesta nova era tecnológica: as redes sociais.


Mais de 100 espécies de conos existem na África, mas todas estão em risco de extinção

Nos últimos anos, turistas que visitaram a região começaram a publicar nas mídias digitais fotos dos belíssimos conos, e a história de espalhou. Em algum momento, um admirador estrangeiro de plantas ornamentais encomendou exemplares genuínos da África do Sul. Depois vieram outras encomendas. E mais outras, e assim por diante. Na lógica do mercado, os vendedores subiram seus preços, até que o negócio passou a ser bastante rentável. Com os valores nas alturas – algumas plantas são vendidas por milhares de dólares, “mais do que heroína”, conforme disseram as autoridades locais –, os caçadores entraram em cena. Agora perseguidos e caçados, os conos correm o sério risco de desaparecer. Na África do Sul, desde 1974 é ilegal tirar Conophytum da natureza. Durante anos, a planta manteve certo anonimato, mas os roubos dispararam durante a pandemia, quando colecionadores estrangeiros não puderam viajar para a África do Sul por causa das restrições sanitárias. Ao mesmo tempo, as lindas fotos da espécie viralizaram nas redes sociais, e

formou-se então o cenário perfeito para que o contrabando avançasse. Os criminosos são arrojados. Armados com fuzis, eles invadem as fazendas locais, ameaçam proprietários e arrancam do solo todo os conos que encontrarem pela frente. Em 2017, a polícia prendeu cinco caçadores da planta. Em 2020, foram 55. No ano passado, mais de 100 e em 2022 o número certamente será maior. Segundo as investigações, compradores e vendedores usam plataformas como Facebook e WeChat para fazer encomendas e negociar preços. Os principais destinos das plantas são China, Japão e Coreia do Sul, mas há registros de contrabando para os Estados Unidos e a Europa. Oficialmente, os infratores estão sujeitos a multas pesadas ou até dez anos de prisão. Mas são raríssimas as condenações de moradores locais que caçam e vendem conos. Em geral, eles passam poucos dias presos e acabam liberados para responder aos processos em liberdade. Segundo ambientalistas, o sistema é tão corrupto que policiais e autoridades judiciários poderiam estar envolvidos, seja fazendo vistas grossas aos crimes ou até mesmo os estimulando.

Um aspecto preocupante é que a maioria das pessoas parece não se preocupar com a possível extinção da Conophytum. “Os juízes não pensam em crimes contra plantas da mesma forma que pensam sobre a caça ilegal de animais como rinocerontes”, disse à revista National Geographic o detetive Karel du Toit, que lidera uma equipe que investiga crimes contra a vida selvagem na região. “Um animal respira, tem olhos e faz som. Temos uma ligação emocional com isso, mas não temos o mesmo apego com uma planta, e isso é um problema em um processo judicial”, disse à mesma publicação o botânico Pieter Van Wyk, que dirige um parque nacional no Cabo Setentrional. É uma pena que o problema esteja longe de ser resolvido. As plantas crescem muito lentamente – um cono de 50 anos pode não ser maior que uma noz, dependendo da espécie –, e vê-las na natureza é um espetáculo único e inesquecível. Certas espécies podem ser listradas e, na primavera, algumas produzem flores rosa, vermelhas ou brancas. Se a caça ilegal continuar, tal exuberância desaparecerá por completo. PLANT PROJECT Nº30

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G E S TA D O S U N I D O S

FRANGO HIGH TECH

A empresa americana Upside Foods inaugurou na região de São Francisco, na Califórnia, um laboratório para o desenvolvimento do primeiro peito de frango sintético feito com células-tronco do mundo. A produção é complexa. Em primeiro lugar, os cientistas extraem um pedaço de músculo de um animal doador. A amostra, então, é dissolvida com a ajuda de enzimas, num processo que tem por objetivo “liberar” as células. Estas, por sua vez, são colocadas em tanques com nutrientes, nos quais se reproduzem durante oito semanas. Depois desse período, as células são colocadas em biorreatores, que aceleram a sua multiplicação. A seguir, são retiradas do tanque, já secas e processadas. Segundo a Upside, o produto tem nesta fase a aparência de carne moída. Basta prensá-lo para adquirir o formato de peito de frango. A ideia é que a carne sintética chegue aos supermercados dos Estados Unidos até o final do ano.

EQUADOR

GUERRA AMEAÇA PRODUTORES DE BANANAS Os produtores de banana do Equador enfrentam um obstáculo inesperado. Com a invasão da Ucrânia pela Rússia e as consequentes sanções impostas ao país de Vladimir Putin, um dos mais importantes mercados do mundo tiveram suas portas fechadas. O resultado é trágico: os estoques equatorianos da fruta chegaram aos maiores níveis da história e parece não haver solução imediata para o problema. No início de abril, 10

um produtor de bananas do Equador despejou sua colheita de 45 mil quilos em uma rodovia por não saber o que fazer com o produto. Outro doou todo o seu estoque para comunidades carentes. Os preços caíram tanto – 50% em média – que muitos agricultores estão deixando as bananas apodrecer nos

campos, já que os valores baixos não cobrem sequer os custos de produção. A Rússia é a terceira maior compradora de bananas do Equador, que faturou US$ 3,5 bilhões no ano passado com a produção da fruta. No país, 300 mil trabalhadores dependem diretamente do cultivo de bananas.


FRANÇA

BITUCAS DE CIGARRO VIRAM ROUPAS DE INVERNO As bitucas de cigarro são grandes vilãs da poluição ambiental. Cada uma delas, deixada na natureza, leva 12 anos para desaparecer, mas antes disso espalha um rastro de substâncias químicas pelo caminho. Por isso mesmo, a inovação desenvolvida pela startup francesa TchaoMegot é considerada revolucionária. A empresa criou um método que

possibilita a reutilização dos filtros, transformando-os em tecido e outros materiais. Funciona assim: a folha de papel, as cinzas e o resto de tabaco de cada cigarro são separados e, depois, levados para a compostagem. Por meio de um intrincado sistema de filtragem, são extraídas todas as substâncias tóxicas presentes na bituca, incluindo a nefasta

nicotina. O produto resultante da compostagem é uma fibra que pode ser convertida em matéria-prima para tecidos isolantes. Segundo a TchaoMegot, a fibra funciona bem na construção – para o isolamento de paredes – e, especialmente, na fabricação de roupas. Um colete de inverno, por exemplo, utiliza os filtros de 3,2 mil cigarros.

PORTUGAL

Fungos e caju dão sabor aos queijos veganos

As carnes à base de plantas são uma realidade cada vez mais presente, mas os queijos veganos também vêm conquistando espaço no mercado. Em 2019, o setor movimentou no mundo R$ 14,1 bilhões. Em 2027, serão R$ 24 bilhões, conforme relatório da consultoria Insight Partners. Parte desse filão deverá ser fisgado pela startup portuguesa Muka, uma das líderes do segmento na Europa. A empresa desenvolveu queijos estilo brie e camembert usando como matérias-primas alguns tipos de fungos e caju, que são maturados e fermentados por longos períodos até se transformarem em um produto que, conforme assegura o fabricante, tem sabor “quase idêntico” aos queijos originais. Depois da Europa, os principais mercados de queijo vegano são Estados Unidos e Canadá, que vendem itens desse tipo nas grandes redes de supermercados. PLANT PROJECT Nº30

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G ARGENTINA

O insaciável apetite dos hermanos O consumo de carne costuma depender de dois fatores: preço e aspectos culturais. Na Argentina, porém, a inflação bovina não tem sido suficiente para mudar as preferências da população. De acordo com uma pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o país lidera com folga o ranking dos maiores consumidores de carne no mundo. Acompanhe:

O TAMANHO DO REBANHO A Argentina tem mais cabeças de gado do que humanos. Seu rebanho formado por 54 milhões de animais é maior do que a população de 45 milhões de pessoas 12

OS CAMPEÕES DAS PROTEÍNAS (QUILOS PER CAPITA AO ANO) 1º Argentina – 36,9 2º Estados Unidos – 26,1 3º Brasil – 24,6 4º Israel – 23,3 5º Chile – 20,5 6º Cazaquistão – 19,9 7º Austrália – 19,2 8º Canadá – 17,4 9º Suíça – 14,4 10º Noruega – 13

PREÇOS EM ALTA Entre janeiro de 2021 e janeiro de 2022, o preço dos cortes bovinos disparou 55,5% no país, mas o consumo se manteve em patamares elevados


PROIBIÇÃO DE EXPORTAÇÃO No ano passado, a Argentina adotou uma medida polêmica. Para supostamente domar preços, impôs limites e até proibiu a venda de alguns cortes para o mercado internacional. A decisão revoltou produtores e aumentou as tensões entre o setor privado e o governo

VALOR CULTURAL A carne bovina faz parte da identidade nacional e tem valor social e cultural importante para o país. Reuniões entre amigos e encontros familiares são feitos em torno da boa e velha parrillada O QUE DIFERENCIA A PARRILLADA DO CHURRASCO BRASILEIRO Na parrillada, os cortes fogem da tradição brasileira. É o caso do vacío, ancho, chorizo e bife de tira, pouco consumidos no Brasil. Os bifes são menores e mais finos, e o espeto está fora de cogitação. Aproveita-se tudo do animal, inclusive os miúdos. Sal, só o médio. Como resultado de todo esse capricho, as carnes são macias e suculentas PLANT PROJECT Nº30

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G ÍNDIA

COLHEITADEIRA MARÍTIMA Enquanto a agricultura em terra firme é uma máquina de inovação, a oceânica está na “idade da pedra.” Pelo menos é isso o que dizem os fundadores da Sea6 Energy, empresa indiana que inventou um catamarã capaz de colher e replantar algas marinhas no oceano em velocidade jamais vista. A máquina viaja para a frente e para trás entre as linhas de algas marinhas, colhendo as plantas totalmente crescidas e substituindo-as quase ao mesmo tempo por

linhas recém-semeadas. Cada unidade SeaCombine é projetada para cultivar cerca de 50 hectares da superfície do oceano, mas desenvolver modelos maiores do catamarã está nos planos da Sea6 Energy. Por enquanto, a startup usa as

algas colhidas pela máquina para fabricar produtos como ração animal e fertilizantes agrícolas. O projeto, contudo, é ambicioso. Nos próximos três anos, a startup pretende colocar no mercado bioplásticos feitos a partir das algas.

SRI LANKA

FIASCO ORGÂNICO

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Em abril do ano passado, o presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, proibiu o uso de pesticidas e fertilizantes no país. Sua ideia era arrojada: tornar o Sri Lanka a primeira nação com agricultura 100% orgânica. O que parecia ser uma proposta sustentável revelou-se, na verdade, um grande equívoco. Seis meses depois de a medida ser anunciada, quase um terço de todas as terras agrícolas do país permaneceu inativa. Em diversas regiões do Sri Lanka, a produção de arroz caiu 20%, o que obrigou o governo a desembolsar US$ 450 milhões para importar o cereal e evitar a falta do produto. Além disso, outros US$ 200 milhões foram pagos aos agricultores como forma de compensar suas colheitas estéreis e quebras de safra. Para o consumidor final, o resultado foi igualmente trágico: o preço do arroz disparou 50% em menos de um ano. Outras lavouras também sofreram. O setor do chá, produto mais exportado do país, teve prejuízos de US$ 425 milhões. Diante de tantos efeitos adversos, o governo foi obrigado a suspender a proibição de pesticidas.


Quando o campo de incertezas Temos mais informações, é vasto, o mais certo é ter por isso aconselhamos melhor. especialistas ao seu lado.

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Mudanças tecnológicas, mudanças climáticas, impactos ambientais, segurança alimentar e pandemia mundial. Esses são apenas alguns dos fatores que geram uma volatilidade sem precedentes no mundo do agronegócio. Todas essas mudanças deixam o ambiente ainda mais competitivo, tornando o acesso ao capital cada vez mais desafiador. Os investidores locais e internacionais buscam por empresas que possuam uma governança corporativa bem estruturada e que estejam realmente engajadas em reduzir o impacto socioambiental em sua cadeia de valor. É por isso que sua organização precisa contar com quem possa apoiar a sua empresa na tomada das melhores decisões. Com um time de especialistas no setor, utilizamos uma abordagem 360º em consultoria e transferência de risco e soluções estruturadas que ajudam a identificar, gerenciar e transferir melhor as exposições de risco atuais e futuras. Tenha um especialista do seu lado nos momentos mais decisivos. Conte com a expertise no Agro da Aon.

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G EGITO

O PÃO DE CADA DIA SUMIU Em nenhum outro país o trigo é tão essencial quanto no Egito. Segundo o International Food Policy Research Institute (IFPRI), o cereal é responsável por 39% da ingestão calórica de cada egípcio – não à toa, o baladi, o pãozinho de formato arredondado, é onipresente nas refeições locais. Agora, porém, a tradição está ameaçada. Rússia e Ucrânia respondem por 80% das importações anuais de trigo do Egito, mas a guerra na Europa deverá afetar consideravelmente a cadeia de fornecimento. Segundo alerta da FAO, a agência das Nações Unidas para agricultura e alimentação, há inclusive o risco de o Egito enfrentar um quadro de insegurança alimentar. Para milhões de pessoas no país, a oferta de trigo pode ser a diferença entre passar fome ou não: cerca de 70% dos 105 milhões de egípcios têm direito a cinco pãezinhos subsidiados por dia. Se o governo não encontrar rapidamente novos fornecedores, dificilmente a cota será cumprida.

REINO UNIDO

O NOVO MAPA AGRÍCOLA A agricultura pode ser forte aliada da redução das emissões de carbono. Um caminho possível, e ainda inexplorado, é a realocação de terras agrícolas. Na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, pesquisadores estão desenhando o que chamaram de “novo mapa agrícola mundial”. A proposta é estabelecer, por meio de modelos matemáticos, as melhores regiões para determinados tipos de cultura, o que aumentaria consideravelmente o seu rendimento e, ao mesmo tempo, abriria espaço para a 16

restauração de habitats naturais. “Em muitos lugares, as terras agrícolas substituíram o habitat natural que continha muito carbono e biodiversidade – e as plantações nem mesmo crescem muito bem lá. Se deixarmos esses lugares se regenerarem e transferirmos a produção para áreas mais

adequadas, veremos os benefícios ambientais muito rapidamente”, escreveram os cientistas responsáveis pelo estudo. No mapa redesenhado, novas áreas agrícolas, por exemplo, são adicionadas na região Centro-Oeste dos Estados Unidos e no Deserto do Saara.


Sessão do parlamento Europeu, em Bruxelas: Bloco estuda projeto de lei que pode criar barreira ambiental para produtos agropecuários do Brasil

Ag AGRIBUSINESS

Empresas e líderes que fazem diferença

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Ag Empresas e líderes que fazem diferença

A NOVA ORD Guerra na Ucrânia, o crescente poder de influência da China e as exigências ambientais da União Europeia impõem novos desafios ao agronegócio brasileiro

P or A mauri S egalla

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EM DO AGRO Lavouras de arroz na China: país lança plano para reduzir dependência da importação de grãos de países como o Brasil PLANT PROJECT Nº30

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E

m fevereiro de 2022, enquanto a Rússia iniciava os ataques à Ucrânia, o agronegócio brasileiro quebrava um recorde histórico. Naquele mês, as exportações do setor totalizaram US$ 10,51 bilhões, valor 65,8% maior que o alcançado um ano atrás e que correspondeu ao maior volume para o mês em todos os tempos. Como sempre tem ocorrido nos últimos anos, mais uma marca foi batida graças ao impulso avassalador das compras chinesas. Maior importador de soja em grãos do Brasil, o país asiático aumentou em 130% a quantidade comprada, chegando a 4,3 milhões de toneladas – ou quase 70% de toda a produção brasileira exportada. O valor pago pelo produto aumentou 186,6% na comparação com fevereiro de 2021 e cravou o montante também recorde de US$ 2,17 bilhões. Os números acima retratam um movimento extraordinário para o agronegócio brasileiro. Como poucas vezes se viu, o setor tem surfado o boom das commodities, fenômeno que ganhou tração em 2021 e que segue revigorado em 2022. Isso, claro, é ótimo para produtores, empresas e o mercado em geral, na medida em que expressa, acima de tudo, a capacidade de o Brasil suprir a crescente demanda estrangeira. Dito isso, há outro aspecto que precisa ser considerado: os dados superlativos das exportações representam uma fotografia momentânea do comércio internacional e é incerto que continuarão a crescer na mesma velocidade por muito tempo. Talvez não cresçam. Ou, o que é ainda mais preocupante, pode ser que diminuam com o passar dos anos. Dois fenômenos em conjunto estão movendo rapidamente as peças do tabuleiro geopolítico e econômico global, o que certamente provocará reverberações no agronegócio. O primeiro deles é a guerra na Ucrânia, que tende a ampliar o poder de influência da

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de um oponente poderosíssimo e sedento por espalhar sua influência pelo globo – a China. O segundo aspecto, este bastante decisivo nas trocas comerciais entre as nações, está intimamente ligado a questões afeitas ao meio ambiente. As demandas globais por desmatamento zero não apenas se intensificarão em um futuro próximo como deverão excluir do jogo quem desprezar esse tipo de compromisso. Não custa lembrar: o segundo maior destino das exportações do agronegócio brasileiro é a Europa, que tem liderado a busca por produtos agrícolas sustentáveis. Observe-se o que

Agricultor chinês usa drone no campo: uso maciço de tecnologia faz parte da estratégia chinesa

Foto: Shutterstock

China no embate com os americanos pela hegemonia no planeta. Analistas apontam que, como resultado direto do conflito, a China reforçará suas estratégias para alcançar o topo do mundo, ganhando nova estatura nas escaramuças com os Estados Unidos. “O mundo está se movendo em direção à multipolaridade”, disse em entrevista recente Jude Blanchette, analista do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS). “O leste está crescendo e o oeste, declinando.” Em outras palavras: os Estados Unidos e seus seguidores no Ocidente perdem poder de fogo diante do surgimento

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diz Niels Sondergaard, doutor em Relações Internacionais e pesquisador sênior do Insper Agro Global: “A maré das demandas ambientais, vinda de governos, atores privados ou das próprias forças da natureza, não vai ceder”. Ele prossegue: “Os países que não se engajarem em mitigar as suas emissões sofrerão pressão externa para fazer isso”. As ambições da China para se tornar a maior potência do planeta – até 2030, prevê-se que o PIB chinês, de fato, passe o americano – e as exigências dos grandes compradores de commodities para que produtores cumpram requisitos ambientais cada vez mais abrangentes culminaram em um fenômeno marcante: o agronegócio está prestes a ingressar em uma nova ordem mundial. Mais do que defini-la 22

como boa ou ruim, a verdade é que está aí colocada e os que a ignorarem certamente perderão mercados e relevância na balança agrícola mundial. O Brasil, portanto, precisa se preparar para o futuro, quer goste ou não da nova realidade que inevitavelmente surgirá. A CHINA, A RÚSSIA E O ASIOCENTRISMO Os movimentos recentes feitos pela China são um indicativo de que o Brasil não pode se tornar excessivamente dependente dos desígnios da nação da Muralha. Em janeiro último, o governo chinês anunciou que pretende aumentar de maneira acentuada a produção de soja nos próximos quatro anos, o que está em sintonia com o esforço para aumentar a autossuficiência no

fornecimento do grão. Segundo o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais chinês, a meta é produzir cerca de 23 milhões de toneladas até o final de 2025, o que representará um aumento de 40% em relação aos níveis atuais. “A China depende do mercado global para 85% de sua demanda de soja e as origens de importação são altamente concentradas”, disse um documento emitido pela pasta. De acordo com o informe, a China destinará terras especificamente para o cultivo de soja, expandirá os programas de rotação soja-milho e vai se concentrar no aumento do rendimento da leguminosa. O que o governo quer, portanto, é a desconcentração, o que atingiria em cheio os negócios com seus fornecedores. Os dois maiores


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fornecedores de soja para a China são Brasil e Estados Unidos, sendo que os brasileiros ocupam o topo do ranking. Não é difícil imaginar, portanto, os estragos que a redução drástica das encomendas chinesas provocaria nas lavouras do País em particular e em toda a economia em geral. Diante de seu poderio, o país dita as regras do jogo, muda eixos do mercado e altera preços de acordo com os seus próprios interesses. Em 2021, dados da FAO, organismo da ONU que monitora a oferta e distribuição de alimentos no mundo, mostram que os custos de produção de commodities como milho, soja e café subiram 52%. Algumas razões justificam a disparada, mas há uma em especial: a decisão da China de reduzir a oferta de fertilizantes no mercado global, o que elevou os preços desses insumos em mais de 300% nos últimos quatro anos. O Brasil depende em demasia dos fertilizantes importados – algo como 85% vêm do exterior. Durante a pandemia, o cenário agravouse. Houve meses, por exemplo, em que a China cortou a zero as exportações de fertilizantes para evitar o desabastecimento do mercado interno. O desejo da China em produzir itens como arroz, carne, trigo e soja em volume suficiente para suprir a demanda interna e garantir a segurança alimentar de

sua população de 1,4 bilhão de pessoas já provoca impactos em alguns setores. No quarto trimestre de 2021, o volume das exportações de carne suína brasileira caiu cerca de 50%, enquanto os preços baixaram 17%. Mas isso é apenas um retrato momentâneo, dado que o movimento de autossuficiência dos chineses está apenas começando. Os impactos tendem a se tornar mais severos na mesma velocidade em que a China aumentar a produção de suas lavouras. Como reagir a esse movimento? Para especialistas, a palavra mágica é diversificação. “Depender de poucos parceiros aumenta a vulnerabilidade”, afirma Rafael Cagnin, economista sênior do Iedi (Instituto de Estudos para

Ag

Xi Jinping e Vladimir Putin: aliança dos líderes da China e da Rússia desloca o eixo do poder para o Leste

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Protesto contra a carne brasileira em Londres: pressão dos consumidores em nosso segundo principal mercado

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o Desenvolvimento Industrial). Segundo ele, o melhor caminho para reduzir riscos é expandir o número de compradores e de produtos, mas isso não tem sido feito. Muito pelo contrário. Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços indicam que, em 2021, a China respondeu por 31,3% das exportações brasileiras. Uma década atrás, o índice estava em 17,2%. Entre os principais produtos vendidos aos chineses estão representantes ilustres do agronegócio, como soja e carne bovina. O contexto, que já era desafiador, ganhou contornos mais alarmantes com a guerra na Ucrânia. Professor de Agronegócio Global do Insper, Marcos Jank afirma que a nova configuração geopolítica beneficia sobretudo o “asiocentrismo”. Com a guerra, afirma Jank, a Rússia reaparece com maior influência no comércio global e sua aliança com a China provavelmente estimulará o crescimento da produção agrícola na região. Isso impõe novos desafios para os produtores brasileiros. No longo prazo, conclui o especialista, Rússia e países da região poderão se tornar grandes concorrentes do Brasil. No curto prazo, a guerra deverá desencadear uma crise na segurança alimentar de diversos países em proporção não vista desde a Segundo Guerra Mundial, conforme

avaliação do Insper Agro Global. Afinal, os dois países envolvidos no conflito são grandes exportadores agrícolas. Juntos, Rússia e Ucrânia respondem por 27% das exportações globais de trigo, 18% de milho e 77% do óleo de girassol. A Ucrânia possui inclusive um dos solos mais férteis do mundo, o chamado chernozem, riquíssimo em matéria orgânica. A guerra já trouxe impactos significativos na produção – estima-se que 30% das terras agricultáveis do país estejam dentro das linhas de batalha. Além disso, o redirecionamento de combustíveis e mão de obra para uso das Forças Armadas tem neutralizado a capacidade de plantio dos ucranianos. BATALHA NO FRONT AMBIENTAL A guerra, contudo, não é o único balizador da nova ordem do agro mundial. As mudanças climáticas elevaram ao grau máximo a preocupação de grandes parceiros comerciais do Brasil com os impactos ambientais do processo agrícola. No ano passado, a Comissão Europeia apresentou a proposta de criação de um sistema de due diligence que, em linhas gerais, deverá banir as importações de produtos associados ao desmatamento. No caso brasileiro, a maior fonte das contribuições para as mudanças climáticas é o desmatamento ilegal. Ou seja: se o País não


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se ajustar às demandas europeias, terá sérios problemas pela frente. O projeto está em discussão no Parlamento Europeu, com grande adesão de países como França e Alemanha, líderes naturais do bloco. Caso seja aprovado, pode banir o acesso ao mercado europeu de produtos agropecuários oriundos de áreas em que houve desmatamento após 31 de dezembro de 2020. A proposta não distingue a abertura legal ou ilegal de áreas abertas para plantio ou pecuária. Soja, óleo de palma, cacau, café, madeiras, bovinos vivos, carnes, móveis, carvão vegetal, papel e até construções pré-fabricadas de madeira são possíveis alvos da União Europeia, numa lista com valor

de exportação de US$ 10 bilhões ao ano que estão ameaçados. O cenário é duplamente desafiador. De um lado, há o risco de redução da demanda por parte dos chineses, que lançaram um projeto nacional para se tornarem autossuficientes em diversos produtos agrícolas. De outro, existe a pressão cada vez maior da União Europeia para que seus parceiros de negócios cumpram severos requisitos ambientais. Como o Brasil irá se posicionar no novo contexto? A resposta não é simples e exige que os produtores corram contra o tempo, sob risco de perderem o curso da história. Para enfrentar a provável queda da demanda chinesa, o único caminho é a diversificação das exportações. Nos últimos

Ag

anos, o Brasil tem tentado ampliar a sua rede de parceiros globais, mas ainda sem resultados efetivos. Japão e Coreia do Sul, por exemplo, já sinalizaram a possibilidade de ampliar as importações de commodities brasileiras. É óbvio, no entanto, que não serão capazes de absorver tudo o que a China compra, dadas as suas limitações demográficas. Uma saída possível é aumentar as transações com a União Europeia, mas isso só será realizável com a completa adequação da agenda ambiental. Nesse campo, é preciso reconhecer que o agronegócio brasileiro tem ótimos exemplos a apresentar. Estudos recentes mostram que somente 2% das propriedades agrícolas PLANT PROJECT Nº30

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respondem por 62% de todo o desmatamento ilegal. Embora o número de infratores seja restrito, eles muitas vezes acabam comprometendo a reputação de todo o setor – o que não é correto e tampouco justo. De toda forma, interromper as transgressões ambientais é uma questão, acima de tudo, econômica. “Nada é mais nocivo à marca brasileira do que o desmatamento ilegal”, constata Marcelo Britto, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). Ao longo dos anos, o agronegócio não se tornou apenas o braço mais importante do PIB brasileiro, mas também uma força protetora da fauna e da flora do País. A adoção de novas tecnologias, a gestão responsável dos recursos

naturais e a busca permanente pelo equilíbrio entre produção e preservação tornaram algumas das lavouras do País símbolos internacionais de respeito ao meio ambiente. “O agro brasileiro é moderno, é um agro do século 21”, frisa Marcos Jank. “Temos a integração lavoura-pecuária, que é uma revolução, desenvolvemos energias renováveis, criamos o Código Florestal. O agro atrasado é uma minoria que tem que ser combatida.” A boa notícia é que, de fato, as grandes propriedades, os maiores produtores e as empresas líderes do setor estão focadas em adotar práticas cada vez mais sustentáveis, o que agradará em cheio os exigentes compradores europeus. Se fizer a lição de casa, o Brasil será inevitavelmente protagonista da nova ordem mundial do setor.

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Colheita de grãos na Rússia: país fez do agronegócio um setor estratégico para novos investimentos

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Técnico da Nutrien com produtora: capilaridade das equipes dos distribuidores é arma na difusão de informações no campo 28


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DISTRIBUIDORES DE SUSTENTABILIDADE Como as redes de revenda de insumos agropecuários estão incorporando a agenda ESG em seus negócios e ganhando o papel de difusores de conhecimento de boas práticas junto aos produtores rurais Por Lívia Andrade

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s revendas de insumos agropecuários são instituições fundamentais para o agronegócio brasileiro. Estima-se que sejam mais de 6 mil endereços espalhados pelo País, com faturamento superior a R$ 100 bilhões ao ano. Tão relevante quanto o peso econômico, porém, é o papel que desempenham junto a milhões de propriedades rurais. Ponto de encontro para troca de experiências ou para a busca de assistência técnica, elas formam uma rede de difusão de conhecimento com imensa capilaridade. Nos últimos anos, esse universo tem vivido um grande processo de transformação. Com investimentos maciços, grupos nacionais e estrangeiros têm promovido seguidas rodadas de aquisições, criando conglomerados com centenas de lojas e maior poder de comercialização, conforme a PLANT contou em sua edição número 4. A era digital também chegou ao setor, com a entrada em ação de lojas

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virtuais e marketplaces. A mais recente transformação vem baseada em três letras: ESG, a sigla que resume as melhores práticas ambientais, sociais e de governança. O conceito surgiu em 2005 em uma conferência liderada por Kofi Annan, então secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que resultou num relatório intitulado “Quem se importa ganha”. Na ocasião, o objetivo era criar uma maneira de envolver o setor financeiro na construção de um futuro positivo. Mais de uma década depois, Larry Fink, CEO da BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, soltou um comunicado que não mais investiria em companhias que não tivessem um plano para a descarbonização da economia. A partir daí, o mercado financeiro passou a ser rigoroso na análise de riscos socioambientais e de governança das empresas investidas, o que levou as companhias a se movimentarem no sentido de reorganizar as ações de


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sustentabilidade segundo a agenda ESG. No setor agropecuário não foi diferente. Com os holofotes ambientais voltados para o campo, vários grupos do agro têm incluído a agenda ESG em suas diferentes áreas de negócios. Para as distribuidoras de insumos, é um movimento mais do que necessário, cobrado por seus investidores. Mas, mais do que isso, é uma oportunidade única de se posicionar como grandes fomentadores da produção responsável, usando sua capilaridade e relacionamento com os produtores para difundir a relevância da adoção de boas práticas socioambientais. É o que estão fazendo, por exemplo, Belagrícola, AgroGalaxy e Nutrien, três das principais companhias do setor de revenda e distribuição de insumos agrícolas. Na Belagrícola, as mudanças vêm acontecendo desde 2015, quando a empresa começou um relacionamento com o International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial. No AgroGalaxy, é uma demanda que vem do acionista majoritário Aqua Capital, um fundo bem ativista nas questões ESG. “O CEO colocou isso como um dos pontos essenciais na estratégia da empresa. A minha vinda foi em consequência do engajamento da alta liderança e dos acionistas para estruturar

melhor a implantação da agenda ESG”, diz Mônica Alcântara, Head de ESG do AgroGalaxy. Já a Nutrien, que chegou no Brasil em 2019, está escrevendo suas políticas neste momento e todas elas têm como pilar as três letrinhas. Questionadas sobre como conciliar as crescentes metas de vendas com a sustentabilidade, que prega o uso racional de insumos, Belagrícola e AgroGalaxy tiveram respostas parecidas. “A comissão dos consultores de vendas não está focada na comercialização de agrotóxicos, mas num mix de produtos, que engloba calcário, sementes, fertilizantes, produtos foliares, biológicos, defensivos e um percentual muito grande em cima do grão que a gente recebe”, diz Samuel Sousa, coordenador da área de Meio Ambiente e Segurança do Trabalho da Belagrícola. No AgroGalaxy, a toada foi a mesma. “A gente entende que o nosso modelo tem uma possibilidade grande de alcançar boa produtividade nesta transição [para agricultura de baixo carbono], porque temos um mix de produtos bastante diversificado. Lógico, temos os químicos, mas também temos os bioinsumos”, diz Mônica. Já o direcionamento da Nutrien é diferente. “Estamos trabalhando com o RH para o nosso time comercial não ter meta de volume vendido, mas a

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Funcionário em unidade da Sementes Goiás: marca foi uma das aquisições da Nutrien no Brasil

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Mônica Alcântara, Head de ESG da Agrogalaxy: “O impacto ambiental da atuação da nossa clientela, que são os produtores rurais, os detentores da terra, está sob nossa influência”

meta de sucesso do cliente. O sucesso pode ser o uso racional de insumos, pode ser o agricultor atingir melhores índices de produtividade e de rentabilidade em conformidade ambiental”, diz Catharina Pires, diretora de Assuntos Corporativos da Nutrien Soluções Agrícolas na América Latina. A seguir, conheça um pouco mais da história dessas três varejistas e como elas estão organizando as ações da agenda ESG, esse universo em construção, que muitos consideram uma evolução da agenda de desenvolvimento sustentável. AGROGALAXY Criado em 2018, o AgroGalaxy já é uma das maiores plataformas de varejo e insumos agrícolas do Brasil. No último ano, aumentou sua musculatura comprando as redes Boa Vista, Ferrari Zagatto e Agrocat e obteve uma receita líquida de R$ 6,6 bilhões, sendo R$ 4,4 bilhões provenientes de insumos. 32

Pode-se dizer que 2021 foi um ano emblemático. A empresa abriu capital, com uma oferta pública inicial de ações (IPO) na B3, que movimentou R$ 350 milhões. Além disso, foi o ano da chegada de Mônica Alcântara, profissional com 20 anos de experiência na área de sustentabilidade, que foi contratada como Head de ESG do AgroGalaxy, que hoje está com 145 lojas em 12 estados, o que compreende 13 milhões de hectares de área plantada e mais de 24 mil clientes. Antes da vinda de Mônica, o AgroGalaxy já tinha uma política de responsabilidade socioambiental e um Comitê de Sustentabilidade para assessorar o Conselho de Administração. No entanto, com a chegada da executiva, foi feita uma revisão na área e novas metas foram traçadas. Estabeleceu-se que todas as iniciativas de sustentabilidade do AgroGalaxy serão focadas no stakeholder cliente. “Podemos contribuir para o desenvolvimento sustentável no

campo. O impacto ambiental da atuação da nossa clientela, que são os produtores rurais, os detentores da terra, está sob nossa influência. Vamos incentivá-los a cuidar desse solo, preservar e, ao mesmo tempo, tornar a área mais produtiva”, explica Mônica. Entre os principais pontos, Mônica destaca dois. O primeiro é denominado Produtividade com Inovação e Sustentabilidade no Campo. “Este é o carro-chefe do que chamamos posicionamento ESG do AgroGalaxy e abrange a oferta de produtos, serviços e soluções digitais para modelos agrícolas mais responsáveis”, explica a executiva. O segundo ponto-chave é a Emergência Climática e a Biodiversidade. “Neste tema desenvolvemos projetos para influenciar a cadeia, incentivar o produtor a zerar o desmatamento, recuperar áreas degradadas e valorizar os serviços ambientais. É uma agenda para combater as questões relativas às mudanças


“Este é o nosso posicionamento: ser o principal parceiro do agricultor brasileiro na transição para a agricultura regenerativa” Mônica Alcântara, Head de ESG do AgroGalaxy

climáticas e estimular a preservação da biodiversidade”, esclarece Mônica. “Este é o nosso posicionamento: ser o principal parceiro do agricultor brasileiro na transição para a agricultura regenerativa”, diz. Para aprimorar essa parceria, o AgroGalaxy criou um instituto homônimo, que tem por objetivo impulsionar a inovação aberta e a sustentabilidade no agronegócio, sobretudo no âmbito dos médios e pequenos produtores, que nem sempre têm acesso a esse tipo de conhecimento. “O instituto vai ser a via de articulação deste ecossistema de inovação: hubs, aceleradoras e incubadoras de agritechs. Queremos nos conectar com esse universo e levar as soluções para serem testadas em campo”, diz a Head de ESG. Para isso, o instituto fará chamadas públicas para dois desafios por ano. As inscrições para a primeiro se encerraram em abril e o tema foi: Soluções para Agricultura Regenerativa. “Nós escolhemos as três melhores inovações, a equipe

agronômica acompanhará o desenvolvimento da tecnologia em campo e monitorará os impactos. Se a solução apresentar bons resultados e for viável, usaremos a nossa plataforma para dar visibilidade, escalar a ferramenta”, diz Mônica. Outra estratégia é usar o instituto para promover diálogos. Um exemplo foi o webinar aberto sobre Agricultura Regenerativa, que teve como convidados Marcelo Morandi, da Embrapa Meio Ambiente, e Rodolfo Daldegan, da reNature. “O instituto tem missão de ampliar o acesso à tecnologia e inovação para os produtores através da educação”, esclarece Mônica. Além de webinars, o AgroGalaxy leva talkshows sobre a temática de sustentabilidade para os eventos que promove, como o SuperAgro. NUTRIEN A Nutrien é outra novata de peso. Fundada em 2018 no Canadá pela fusão da PotashCorp e Agrium Inc., a empresa atua na produção PLANT PROJECT Nº30

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“Queremos ativar a sustentabilidade, porque se o agricultor otimiza o uso de insumos agrícolas, se consegue usar Big Data para atingir melhores padrões, se alcança uma melhor rentabilidade, ele está sendo sustentável” Catharina Pires, diretora de Assuntos Corporativos da Nutrien Soluções Agrícolas na América Latina

de fertilizantes e no varejo agrícola. No Brasil, a companhia aterrissou em 2019 e opera no segundo segmento, o de revendas e distribuição, e tem crescido rapidamente por meio de fusões e aquisições. No ano passado, a Nutrien comprou duas redes de revendas – a Terra Nova, em Minas Gerais, e a Bio Rural, no Mato Grosso do Sul – e teve uma receita líquida de R$ 3 bilhões. Atualmente, contabiliza 40 lojas, 12 Centros de Experiências, 2 fábricas de produção de sementes, 4 misturadores e 1 fábrica de nutricionais espalhados pelos estados de São

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Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás. Por ser uma empresa jovem, a companhia está escrevendo o seu modelo de negócio, suas políticas nas áreas comercial, social, ambiental, de relação com fornecedores, de crédito, entre outras. “Desde o início, vamos escrever com a lente da agenda ESG e da sustentabilidade”, diz Catharina Pires, diretora de Assuntos Corporativos da Nutrien Soluções Agrícolas na América Latina. “A nossa estratégia de sustentabilidade foi inspirada no que o time global já tinha desenhado, aliado à

oportunidade que o Brasil nos dá na agenda ambiental e no modelo diferenciado de varejo agrícola que a Nutrien está implementando no País”, explica. Com a ambição de estar próxima do produtor e presente em todo o território nacional onde houver agricultura, a Nutrien tem um modelo de negócio alicerçado num amplo portfólio para atender os mais diferentes agricultores. “Quando falo em amplo, estou falando de sementes, defensivos, biológicos, nutricionais e fertilizantes”, diz a diretora. “Não temos a bandeira de uma indústria. O


compromisso nosso é com o cliente, não com quem bota produto na nossa prateleira. Isso significa que somos agnósticos na recomendação agronômica para o agricultor”, acrescenta. A varejista trabalha com diversas marcas, inclusive, com marcas próprias. Além disso, a Nutrien está estruturando uma série de ouros serviços, sobretudo na área financeira. Na operação brasileira, a estrutura ESG está baseada em três pilares. O primeiro tem foco em ajudar o cliente a ser mais sustentável. “A distribuição é o parceiro para todas as horas do pequeno e médio produtor. O grande não precisa, faz contato direto com a indústria, tem acesso às novas tendências”, diz Catharina. Nesse pilar, o objetivo da Nutrien é ajudar o agricultor que está aberto a melhorar a sustentabilidade na propriedade. Para isso, o trabalho da varejista começa com a equipe comercial. “Lançamos nossa Escola de Sustentabilidade para capacitar todo o nosso time de vendas e incluímos um módulo inteiro de Agricultura de Baixo Carbono para garantir que nosso time estará capacitado a disseminar esse conhecimento e apresentar todo o ferramental que temos na prateleira”, diz a diretora. Concluída essa etapa, a Nutrien pretende usar a capilaridade para impulsionar o agricultor. “Os produtores que

ainda não estão 100%, que têm problemas com o CAR [Cadastro Ambiental Rural] ou estão com dificuldades para recuperar as áreas de RL [Reserva Legal] ou APPs [Áreas de Preservação Permanente], queremos ajudálos com conhecimento e incentivos. Se ele precisa de dinheiro, podemos conectá-lo com as linhas de crédito mais baratas ou ser o parceiro que financia isso”, explica Catharina. Os 12 Centros de Experiências são outro instrumento da Nutrien para multiplicar conhecimento. São espaços de interação para propagar informações sobre o uso da agricultura digital, ervas daninhas ou qualquer outro tema demandado pelos agricultores. “Queremos ativar a sustentabilidade, porque se o agricultor otimiza o uso de insumos agrícolas, se consegue usar Big Data para atingir melhores padrões, se alcança uma melhor rentabilidade, ele está sendo sustentável”, diz a diretora. Ela também ressalta a missão da Nutrien de ajudar o agricultor a operar dentro das leis para não ver o lucro escorrer pelo ralo por alguma multa ou processo judicial por inconformidade socioambiental. A Governança é outro pilar da Nutrien. “No global, temos um compromisso assumido de redução dos Gases de Efeito Estufa. Para isso, estamos com um parceiro para fazer o inventário, para entendermos

onde estão nossas emissões e traçar um plano de descarbonização”, diz Catharina. E o terceiro pilar é o Social, que está focado em educação. “Ano passado, lançamos o programa Nutrien Transforma, em que abraçamos, por cinco anos, escolas nas comunidades em que atuamos”, explica a diretora. As ações são definidas em conjunto com prefeituras e diretores de escolas. A equipe da Nutrien senta com eles para entender qual é a necessidade (livros, benfeitorias, equipamentos) de cada uma e também leva o time da empresa para atuar como voluntário nessas escolas. BELAGRÍCOLA Fundada em 1985 no município de Bela Vista do Paraíso, no norte do Paraná, a Belagrícola atua na distribuição de insumos e comercialização de grão e, ao longo dos últimos seis anos, vem reconfigurando a política de sustentabilidade para dar mais visibilidade às ações. De acordo com Samuel Sousa, coordenador da área de Meio Ambiente e Segurança do Trabalho da Belagrícola, esse rearranjo teve início em meados de 2015. “Quando começamos o relacionamento com o IFC, eles fizeram um check-list para saber o que fazíamos. Já tínhamos as ações, mas não estruturadas como uma política de sustentabilidade”, explica. Na época, o IFC apresentou uma lista de defensivos PLANT PROJECT Nº30

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“Quando começamos o relacionamento com o IFC [International Finance Corporation, braço do Banco Mundial], eles fizeram um check-list para saber o que fazíamos. Já tínhamos as ações, mas não estruturadas como uma política de sustentabilidade” Samuel Sousa, coordenador da área de Meio Ambiente e Segurança do Trabalho da Belagrícola

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comercializados no Brasil e sugeriram que a Belagrícola não trabalhasse com eles. “A gente não comercializava esses produtos, mas excluímos dos itens cadastrados para não ter possibilidade de compra”, diz Sousa. As tratativas com o IFC foram para a Belagrícola levantar US$ 35 milhões para o plano de expansão no Brasil, financiamento que foi aprovado em julho de 2016, chancelando os elevados padrões socioambientais e de governança corporativa da Belagrícola, já que o IFC não opera com empresas que possam manchar sua credibilidade. Na época, Luiz Daniel de Campos, executivo responsável por investimentos da IFC no País, declarou: “Temos a satisfação em celebrar o primeiro investimento direto da IFC no setor de distribuição de insumos agrícolas no Brasil”. E mais: “O setor de agronegócios é uma

prioridade para a IFC, pois, além de gerar maior segurança alimentar, também ajuda no aumento da renda rural, promovendo o crescimento inclusivo e fortalecendo práticas socioambientais sustentáveis”. Os cuidados com sustentabilidade da Belagrícola é algo enraizado. “É uma preocupação que começa com a diretoria e vai cascateando para a empresa toda”, diz Sousa. O corpo diretor tem um Comitê ESG, que discute várias ações. “Se há algum ponto de alerta, são realizadas várias reuniões até que aquela temática seja finalizada”, diz Sousa. A Belagrícola também tem um 0800 que centraliza as dúvidas e denúncias sobre a temática de sustentabilidade. Dependendo do conteúdo relatado, uma investigação é instaurada para solucionar o caso. Além disso, a varejista agrícola organiza eventos que contemplam o assunto sustentabilidade. O maior deles é o Bela$afra, que antes da pandemia costumava reunir mais de 8 mil produtores em quatro dias de evento e passou a ser virtual por causa do coronavírus. Os cuidados com os aspectos socioambientais e de governança envolvem todas as ações da Belagrícola, tanto internas quanto no relacionamento com clientes. Dentro de casa, nenhuma unidade é inaugurada sem estar com todas as licenças


ambientais em dia. E há um código de conduta no dia a dia com o produtor rural. “O nosso pessoal de vendas faz a assessoria rural. Eles vão até a fazenda, recomendam fazer o MIP [Manejo Integrado de Pragas]. Se identificam a necessidade de usar algum produto químico, fazem a receita agronômica e orientam o produtor quanto aos cuidados que o colaborador deve tomar para aplicar”, explica Sousa, salientando que a Belagrícola não vende agroquímicos para áreas situadas no entorno de aglomerados urbanos. “Neste caso, recomendamos o controle biológico ou implantação de culturas que funcionem como barreiras naturais para ajudar

no controle de pragas”, explica. Desde 2017, a Belagrícola está sob o comando da Dakang International Food & Agriculture, braço agrícola do grupo chinês Pengxin, que detém 53,99% de participação. No ano passado, a varejista agrícola comprou o setor de comercialização de insumos da Sefert, reforçou a atuação no estado de São Paulo e fechou com um faturamento de R$ 4,3 bilhões. Atualmente, está com 40 unidades de recebimento de grãos e 54 lojas de insumos agrícolas distribuídas no Paraná, em São Paulo e Santa Catarina. No entanto, a empresa está em fase de expansão e duas novas unidades devem ser inauguradas em breve.

Bela$afra: evento presencial com mais de 8 mil produtores tornou-se virtual após pandemia

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O AGRO É PEC Grupos consagrados na produção de grãos investem em projetos de criação de gado em harmonia com suas lavouras. O que os atrai na pecuária? Por Marco Damiani

Curral em fazenda do Grupo Bom Futuro: gigante dos grãos é dono de um dos maiores projetos de ILP no país PLANT PROJECT Nº30

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configuração da pecuária brasileira está em franca mudança – para melhor. Ao lado de criadores tradicionais, de diferentes portes, a atividade ganha o reforço de novos e poderosos players, com cultura empresarial sólida e histórico de gestão eficiente. O que surpreende é sua origem: são especialistas em lavouras. Grandes grupos nacionais que sempre se dedicaram ao cultivo de grãos, a ponto de se tornarem líderes do agronegócio, estão em franca expansão em direção à pecuária, fazendo o agro ser cada vez mais pec. O eixo central dessa mudança é o modelo Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), que vem recebendo a adesão de gigantes como os grupos SLC e Bom Futuro. Com histórico amplamente vitorioso no agro, ambos cultivam, somados, um total superior a 1

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milhão de hectares em várias regiões do País. O cultivo de soja, milho e algodão, entre outras culturas, fez com que as duas companhias se posicionassem entre as maiores empresas de produção agrícola do Brasil. Toda essa competência administrativa está sendo usada a favor das operações em pecuária que cada uma delas desenvolve nos últimos tempos. Com imensas áreas disponíveis e capacidade de investimento, rapidamente suas operações de pecuária ganham peso e se destacam entre as maiores do país. O primeiro a abrir a porteira das fazendas de produção de grãos para a entrada do gado foi o Grupo Bom Futuro, da família Scheffer, com sede em Cuiabá (MT). O ingresso na pecuária foi discreto, em 2007, quando os primeiros animais foram adquiridos. Hoje, a empresa cria mais de 130 mil reses, a maior parte da


raça Nelore. Uma premissa inicial foi transferir para a nova área de negócios tecnologia de manejo de terra e gestão administrativa adquirida no agronegócio. Atualmente, com a rotação de áreas dentro do sistema ILP, há diálogo e complementação entre as técnicas usadas lado a lado. Na pecuária, a linha é criação por cruzamento industrial em sistema de semiconfinamento. “Com experiência, empenho e auxílio da tecnologia, temos o maior projeto de integração lavoura pecuária do mundo, com uma área de 31 mil hectares para essa modalidade”, assinala a diretora de Pecuária, Dayla Scheffer (confira entrevista à PLANT na página 45). A executiva de escritório e de campo sublinha que o modelo promove ganhos ambientais, comerciais e de produtividade da terra e dos animais. QUEBRA DE PARADIGMA Nas últimas décadas, a pecuária brasileira ganhou o reconhecimento como maior fornecedora de proteína animal para a alimentação do mundo. O rebanho de aproximadamente 215 milhões de cabeças só perde em tamanho para o da Índia, mas o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) atesta ser o Brasil o maior exportador de carne do planeta. Tamanho peso global atraiu, no entanto, o olhar atento e muitas vezes crítico

de concorrentes e de ambientalistas, que passaram a associar o gado nacional a imagens de queimadas e desmatamentos para a criação de áreas de pasto onde antes havia matas e florestas. Quebrar esse paradigma é uma das missões do maior produtor de grãos do País ao investir cada vez mais na atividade pecuária. “O modelo Integração Lavoura Pecuária está em franca evolução, com a carne dividindo o mesmo espaço com áreas de lavoura extensiva de baixa eficiência”, afirma à PLANT o engenheiro agrônomo Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola. Em meados de 2020, a empresa resolveu apostar na engorda de gado dentro de suas plantações de soja e milho. No primeiro ano, 15 mil cabeças fizeram parte da iniciativa. O número subiu no ano seguinte para 28 mil e chegou a 35 mil no início deste ano. No médio prazo, a SLC espera contar com 100 mil

Pavinato, da SLC: “Não precisamos de mais terra,e sim aumentar a produtividade nos espaços em que atuamos”

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reses em seu plantel. Considerado de alta qualidade genética e nutricional, o rebanho é monitorado em todas as fases do seu desenvolvimento pelo sistema Sisbov. Essa cobertura vai da procedência à rastreabilidade de todas as fases até o abate. “É uma decisão da companhia ampliar a atuação em pecuária seguindo princípios ESG”, diz Pavinato. “Essa é não apenas uma exigência crescente do mercado, mas também um compromisso de governança já estabelecido”, completa ele. Com um total de 675 mil hectares de áreas cultivadas, espalhadas por diferentes estados das regiões Centro-Oeste e Nordeste, a SLC anunciou formalmente este ano o fim do seu ciclo de expansão territorial. “Não precisamos de mais terra, e sim de aumentar a produtividade nos espaços em que atuamos”, afirma Pavinato. 42

Assim, a pecuária em convívio com a agricultura permite intensificar, de forma sustentável, o uso das áreas já exploradas, atendendo à demanda de compradores globais por animais que não sejam provenientes de novas áreas desmatadas. Cerca de 25% das áreas cultivadas pela empresa já são endereço de práticas ILP, com a destinação de cerca de três cabeças de gado por hectare. A intenção é aumentar gradativamente essa relação. A pecuária moderna exige, de fato, boas técnicas agrícolas para fornecer pastagens de qualidade aos animais. Junto à introdução das sementes de soja e milho em suas lavouras, os técnicos da SLC passaram a criar espécies de braquiárias nas alamedas formadas entre as plantações. Após a colheita da soja, entre fevereiro e março, o


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gado jovem, perto de chegar ao peso ideal para o abate, é instalado no mesmo terreno. As braquiárias passarão, então, a servir de pasto por dois meses, tempo suficiente para as reses atingirem o peso ideal para o abate. Nas áreas de milho, cuja colheita se dá em junho e julho, o gado permanece entre agosto e setembro, repetindo o mesmo procedimento verificado no primeiro semestre. Enquanto as plantações de soja e milho estão em crescimento, o gado magro, comprado por antecipação, fica aos cuidados dos criadores originais. Após as colheitas, as entregas são feitas para que se complete o processo de desenvolvimento das reses. “Dessa maneira, estamos conseguindo o que chamamos de terceira safra, tanto para a soja como para o milho, em forma de produção de carne”, define o CEO Pavinato. Com faturamento de R$ 4,3 bilhões em 2021, a SLC faz parte do grupo de companhias mais sustentáveis listadas na Bolsa de Valores de São Paulo. Em 2007, na estreia, cada papel da companhia foi cotado a R$ 7, valendo neste momento aproximadamente R$ 50. A aposta é que a adesão à pecuária acelere ainda mais essa valorização. “O mercado internacional exige boas práticas de sustentabilidade. Sem elas, perdemos mercado”, resume o executivo à frente da SLC.

MODELO ILPF O desenvolvimento de grupos como o Bom Futuro e o SLC no cenário da pecuária brasileira é salutar. Novos modelos de organização da cadeia produtiva do gado são necessários para alinhar o Brasil às exigências internacionais. Em fevereiro deste ano, a dimensão da importância da governança por princípios ESG foi mostrada sem retoques no episódio que culminou com o veto a um pedido de financiamento da Marfrig Global Foods, de

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Dayla Scheffer, diretora de Pecuária da Bom Futuro: um bom negócio para a entressafra

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US$ 200 milhões, junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A instituição considerou que a companhia não conseguiu provar a existência de práticas de sustentabilidade ambiental em todos os elos de sua cadeia de produção. O ILPF torna essa cadeia mais transparente e, portanto, em melhores condições de provar suas ações sustentáveis. Para disseminar a adoção das técnicas de integração, a Embrapa articulou a formação de sistemas ILPF. São parcerias público-privadas que fomentam pesquisa, transferência de tecnologia e comunicação sobre o tema, ao lado de capacitação para assistência técnica,

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certificação de propriedade e viabilização de crédito rural. Participam da Associação Rede ILPF empresas como Bradesco, Ceptis, Cocamar, John Deere, Soesp e Syngenta. Para o produtor rural, esse modelo que, já se pode dizer, está testado e aprovado permanece ao alcance da mão. Quem quiser integrar produção agrícola e de proteína animal, a boa dica é a de que este é um ótimo momento. Ao mesmo tempo que práticas de sustentabilidade em lavouras e pastos são cada vez mais exigidas pelos mercados nacional e internacional, nunca o apoio a esse modelo de atividade foi tão grande. Em resumo, a hora de mudar para melhor é agora!

Gado Angus da Bom Futuro


“São inúmeras as vantagens de integrar lavoura e pecuária” A zootecnista Dayla Scheffer, diretora de Pecuária do Grupo Bom Futuro, é uma das principais responsáveis pelo avanço da criação sustentável de gado dentro das fronteiras da companhia. Pioneira, entre os grandes produtores de grãos, em acreditar nas possibilidades de compartilhamento de áreas entre lavoura e gado, a empresa entrou no negócio em 2007, e hoje colhe resultados expressivos. Dentro de suas áreas cultivadas, nada menos que 31 mil hectares já são ocupados pela companhia com pecuária em prosseguimento das lavouras. Isso faz do Bom Futuro dono do maior projeto de Integração Lavoura Pecuária do planeta. À PLANT, a respeito deste tema, a executiva Dayla concedeu a seguinte entrevista via e-mail: Qual o modelo de pecuária sustentável praticado pela Bom Futuro? Desde quando se dá essa prática? Desenvolvemos na entressafra a Integração Lavoura Pecuária (ILP), prática que possibilita maior capacidade no suporte de animais durante a estação seca do ano, quando a produção de capim é escassa. Realizamos esse trabalho desde 2007. Em atenção aos protocolos ESG, o que a Bom Futuro pode mostrar na atividade pecuária? Somos autossustentáveis em utilização de insumos para ração. A fonte de utilização da água para o gado é artificial, via bebedouros. Desta forma preservamos encostas de rios e nascentes. Além disso, em áreas onde não se possibilita a ILP, são realizadas a reforma e a manutenção das pastagens a fim de melhorar a produção de forragem e deixar o solo degradado. Quais são as vantagens em termos de produtividade e comercialização no modelo ILP? São inúmeras as vantagens quando existe eficiência em equipamentos como cercas elétricas e bebedouros artificiais. O manejo adequado de pasto e técnicas de plantio direto igualmente

trazem lucros. Os principais ganhos econômicos agrícolas são o menor custo de produção por hectare. Isso ocorre porque a integração possibilita maior segurança para a germinação da semente de soja e menos perdas por lixiviação de insumos. Além do aumento da produtividade, devido os benefícios que a rotação de cultura oferece, melhora o perfil do solo, em termos de capacidade de retenção da humidade, aeração e o acúmulo de matéria orgânica. A agricultura também ganha, ou só a pecuária? Sim, as duas ganham muito. O modelo ILP influencia diretamente na quebra do ciclo de algumas doenças que prejudicam a soja, por exemplo. Já o principal ganho econômico na pecuária, sem considerar a parte quantitativa e tecnológica da suplementação, é a ótima qualidade da forragem que esse sistema traz. Há um favorecimento à continuidade da evolução do ganho de peso e maior capacidade de lotação animal. Ao se tratar dos ganhos operacionais, diminui as chances de repetir operações como o plantio. Onde entra o meio ambiente neste modelo? Os ganhos ambientais estão no aumento da biodiversidade no solo, que ajuda na reciclagem de nutrientes e diminui as emissões de gás de efeito estufa como o óxido nitroso. O aumento da produção de carne com a mesma área em menor tempo, ou seja, com a adoção ao sistema ILP, não necessita da exploração de novas áreas para atender a demanda crescente de alimento. É um ganho e tanto para as áreas verdes. O grupo tem metas para aumentar a presença da pecuária em seus negócios? Sim, todo ano realizamos a prática de ILP em novas áreas. Damos prioridade àquelas que precisam ser melhoradas em algum aspecto. É o que a presença do gado nos oferece. Anualmente, realizamos em torno de 40 mil a 50 mil hectares em pecuária. Queremos crescer sem precisar ocupar novas áreas.

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O GANHA-GANHA DA ENERGIA Título verde de sucesso nos biocombustíveis, CBio alcança 100% de valorização em dois anos

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m título financeiro verde, que interessa diretamente ao agronegócio brasileiro e, em especial, aos produtores de bioenergia e distribuidores de combustíveis está em franca confirmação. E com viés de alta bastante sustentado. Trata-se do CBio, criado dentro das normas do programa RenovaBio, que desde abril de 2020 é negociado na Bovespa, com cada vez maior aceitação pelo mercado. Uma unidade corresponde à economia de 1 tonelada de carbono na atmosfera, tornando-se um incentivo à produção e ao uso de combustíveis de fonte renovável como o etanol, o biodiesel, o biogás e o biometano, todos eles menos poluentes que os derivados de petróleo. A modelagem dos CBios demandou dois anos de estudos por

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um grupo formado por órgãos federais do setor de energia, Agência Nacional do Petróleo e Federação Brasileira dos Bancos. Defensor de primeira hora da ideia de um título verde atrelado ao setor de combustíveis e norteado por princípios ESG, o banco Santander tornou-se pioneiro na custódia do papel e hoje detém um market share de 56% das operações. “Acreditamos desde o primeiro momento no sucesso de um título financeiro de incentivo aos biocombustíveis e, portanto, à melhoria do meio ambiente”, afirma a superintendente do Corporate do Santander Brasil, Carol Perestrelo. “A constante valorização dos CBios, a partir de uma rápida e sólida formação de mercado, mostra que esse papel é uma contribuição

direta para o fortalecimento das empresas produtoras de energia renovável e toda a cadeia produtiva do setor”, completa Carol. Nestes dois anos de circulação, o papel experimenta uma valorização superior a 100%. Todos os grandes grupos nacionais do setor de energia e combustíveis aderiram aos CBios, num circuito em que as ofertas dos títulos pelos produtores são preenchidas pelas cotas de compras obrigatórias por parte dos distribuidores, de modo a compensar as suas emissões com a comercialização de combustíveis fósseis. A lógica é a de melhorar as condições de comercialização dos combustíveis de fonte renovável, contribuindo para a redução do preço nas bombas, e penalizar os


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de matriz altamente poluente, onerados pela compra obrigatória do título. Quanto maior a comercialização de biocombustíveis, mais papéis entram em circulação à disposição dos distribuidores “Nestes dois anos desde o início do programa, verificamos uma adesão cada vez maior por parte dos produtores e, na outra ponta, maior demanda por parte dos distribuidores, resultado das metas crescentes de descarbonização do programa”, diz Boris Gancev, gerente da Mesa de Derivativos de Commodities da Tesouraria do Santander Brasil. Para o ano de 2022, cuja a meta de descarbonização é de 35,9 milhões de toneladas, a expectativa é de um excedente de apenas 5% desse volume, um quadro mais apertado de oferta

e demanda que tem motivado a alta do papel. O banco dá assistência aos produtores e distribuidores interessados em aderir ao título. “Criou-se um círculo virtuoso e sustentado, com ampla verificação em todos os elos da cadeia, o que dá total confiança a todos os envolvidos”, atesta Mariângela Grola, especialista do Setor Sucroenergético da Tesouraria do Santander Brasil. A partir da emissão do papel, muitas produtoras de biocombustíveis têm realizado resgates de recursos apenas dois dias após a oferta ao mercado. Nesses dois anos, os distribuidores estão se adaptando e aprendendo a repassar o custo do CBio no valor do combustível fóssil. No início de março, o Grupo

Santander anunciou a compra de 80% da WayCarbon, líder em consultoria ESG, com o objetivo de avançar ainda mais com seus clientes e parceiros em sustentabilidade ambiental. “Estamos no início de uma fase muito promissora para os títulos verdes no Brasil”, sustenta a superintendente Carol. “O sucesso dos CBios é a base para o desenvolvimento e consolidação de um mercado que poderá ter diferentes derivativos e uma plataforma de futuros bastante competitiva”, aponta ela. “O Santander acredita em instrumentos financeiros para promover a sustentabilidade do meio ambiente e vai se manter na vanguarda desse setor fundamental para o desenvolvimento humano”, assegura a executiva. PLANT PROJECT Nº30

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LÚPULO COM TEMPERO TROPICAL Com pesquisa, tecnologia e espírito empreendedor, produtores brasileiros adaptam a produção do insumo que dá sabor às cervejas e mostram que podemos concorrer em qualidade com os líderes globais Por Evanildo da Silveira

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Brasil é o terceiro maior consumidor mundial e 17º produtor de cerveja, com 14 bilhões de litros fabricados por ano, por cerca de 1,4 mil cervejarias. Dos três ingredientes da bebida (sem contar as leveduras, que são o fermento), malte de cevada, lúpulo e água, apenas esta última não é importada. Do primeiro, 70% vêm de fora, e do segundo 98%. A boa notícia é que o Brasil está começando a produzir lúpulo, o mais nobre dos componentes da cerveja, o “tempero” responsável por seu amargor e aroma característicos. Em 2020, últimos dados disponíveis, a produção dele aumentou 110% em relação a 2019, chegando a 24 toneladas, 50 hectares cultivadas. É uma gota no oceano, é verdade, pois o Brasil consome cerca de 3,2 mil toneladas anuais da planta. Mas há outra boa notícia: a qualidade do lúpulo nacional é tão boa quanto ao cultivado nos Estados Unidos, na Alemanha e na República Tcheca, três grandes produtores internacionais do ingrediente. “Isso engloba o aspecto químico, que inclui a produção de óleos voláteis, cujos constituintes são responsáveis pelo aroma da cerveja; e de ácidos amargos, (responsáveis pelo amargor da bebida; e ainda o aspecto fisiológico, como o metabolismo, que inclui fotossíntese”, explica o farmacêutico e doutor em Química Orgânica, Fernando Batista da Costa, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da Universidade de São Paulo (USP). Ele fala com propriedade. Durante dois anos, de 2019 a 2021, com auxílio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp),

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Costa e sua equipe pesquisaram a produção nacional do lúpulo. Eles pesquisam especialmente os cones, inflorescências da planta, das quais são extraídas substâncias para fabricação da cerveja. “O objetivo era avaliar a sua aclimatação em clima tropical, no estado de São Paulo”, explica o pesquisador. “Para conseguir isso, nos propusemos a investigar as respostas fisiológicas do vegetal durante dois anos consecutivos e, ao final, avaliar em laboratório a produção de ácidos amargos e de óleos voláteis de material coletado em duas safras.” O local escolhido para o experimento foi o Horto de Plantas Medicinais da FCFRP. “Adquirimos no mercado nacional quatro diferentes cultivares da espécie e o cultivo foi realizado no segundo semestre de 2019”, conta Costa. “Houve colheita de cones no primeiro semestre de 2020 e de 2022, sendo que apenas dois cultivares (Cascade e Chinook) produziram material em quantidade satisfatória. Utilizando nossos modelos de estudo, concluímos que o lúpulo pode ser cultivado em clima tropical, pois as respostas fisiológicas foram satisfatórias e o produto possui qualidade comparável ao equivalente importado, atendendo às especificações da literatura em relação aos teores de ácidos amargos e de óleos voláteis.” “Ao final, a equipe utilizou os cones dos dois cultivares coletados em 2020 e 2021 para produzir cerveja artesanal em um laboratório de pesquisa da FCFRPUSP. Por fim, com a colaboração de pesquisadores da FEARP-USP, realizamos um estudo de aceitação pelo consumidor, o qual foi realizado em quatro diferentes


estabelecimentos da cidade, quando 100 experimentadores compararam as cervejas produzidas com lúpulo de Ribeirão Preto e com o importado dos Estados Unidos.” Apesar dos bons resultados do estudo, Costa diz que há mais a ser feito. “Acredito que, do ponto de vista agronômico, ainda é necessário estudar com mais detalhes as técnicas de manejo, a fim de se ajustar o cultivo às condições ambientais (clima, solo, água, adubação, por exemplo) de cada região do Brasil”, diz. De acordo com ele, o lúpulo é uma planta trepadeira, que se desenvolve bem em regiões de clima temperado, preferencialmente em solo arenoso e bem irrigado, e começa a produzir seus cones na época da primavera, e exige alta taxa de incidência de luz,

sendo que fica dormente durante o inverno. Ele teve origem como espécie selvagem no norte da Europa e no oeste da Ásia, tendo sido citado pelos romanos no século 1º. Mais tarde, o lúpulo foi ainda cultivado como planta medicinal em conventos e monastérios europeus nos séculos 8 e 9. Ele surge como cultivo para a produção de cerveja no norte da Europa nos séculos 12 e 13, principalmente na Alemanha, expandindo-se nos séculos subsequentes para a região dos Flandres e depois para a Inglaterra. No século 19 começa a ser cultivado nos Estados Unidos. Sua utilização como ingrediente de cervejas foi documentada, no entanto, no Egito e na Suméria há mais de 3 mil anos. No Brasil, apenas por volta de 2010 é que as primeiras

Plantação de lúpulo nos Estados Unidos: clima favorável à planta

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Campo de testes com cultivo de lúpulo na USP: aclimatação às Condições brasileiras

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variedades passaram a ser cultivadas, pois achava-se que a planta não se daria bem em regiões tropicais. “Uma das razões para não se acreditar no cultivo do lúpulo no Brasil era em virtude de sua origem e cultivo em larga escala em regiões de clima temperado, todas no Hemisfério Norte (Europa e Estados Unidos)”, explica Costa. Por isso, sua introdução inicial no País ocorreu em regiões com clima mais ameno. “Porém, com o estudo de técnicas de cultivo aliado a estudos agronômicos e químicos, incluindo aqueles realizados nas universidades e instituições de

pesquisa, fez com que o cultivo se expandisse para regiões mais quentes do País”, diz Costa. Segundo o publicitário, empresário no ramo de tecnologia e cervejeiro, Marcos Paulo Stefanes Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo), as plantas vendidas legalmente no Brasil hoje são de origens alemã e americana. “A introdução delas começou em 2009, mas só foi difundida amplamente a partir de 2018, quando foi fundada a associação”, conta. “Teoricamente elas só poderiam ser cultivadas em regiões de clima seco, frio, e em


determinadas latitudes, mas vimos que muitas destas teorias não se aplicam ao País, pois já temos produtores em 14 estados da Federação.” Ribeiro diz que para viabilizar o cultivo do lúpulo no Brasil, foram realizadas muitas reuniões, conversas, estudos e principalmente pesquisas para que se provasse que é uma cultura viável física e economicamente. “As plantas estão se adaptando e, em algumas regiões produtoras, está sendo usada iluminação artificial, com leds, para aumentar a produção vegetal e consequentemente a de cones”, acrescenta. Costa enumera outros motivos para a expansão do cultivo da planta no Brasil. De acordo com ele, ocorreram vários eventos que contribuíram para isso, desde o avanço de técnicas agrícolas e manejo até a paixão pela produção de cerveja artesanal, processo estimulado pelo alto volume de registro de cervejarias artesanais nos últimos anos. A partir disso, muitos cultivares foram registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e passaram a ser comercializados. Além disso, Costa diz ainda que a fundação da Aprolúpulo veio estimular e fortalecer a cadeia produtiva. “Teses e dissertações acadêmicas sobre a planta e seu cultivo também começaram a ser defendidas em

universidades”, diz. “Recentemente houve ainda incentivo da Ambev, para que produtores iniciassem o cultivo em áreas de Santa Catarina. Tudo isso gera maior visibilidade e aumenta ainda mais o estímulo.” É o caso do agrônomo e produtor Vítor Vargas, do município catarinense de Palmeira (SC), que começou a produzir lúpulo em agosto de 2018, depois de ter participado da fundação da Aprolúpulo. “Nós, eu e meu pai, adquirimos nessa época nossas primeiras 120 mudas e iniciamos os testes com 40 delas, das variedades Cascade, Chinook e Columbus e mais algumas em menor quantidade”, conta. “Queríamos entender como era o comportamento de cada uma na região.” Como produtores agrícolas, eles viram na cultura do lúpulo uma oportunidade de negócio. Os dois perceberam o aumento da demanda, principalmente por causa do crescimento do número de cervejarias artesanais. “Também percebemos a busca cada vez maior pela qualidade do produto”, diz Vargas. “Há quatro anos, cultivamos cerca de 1.100 plantas em meio hectare, o maior delas das variedades Columbus, Chinook e Cascade e algumas outras.” O maior desafio ainda é a produtividade, mas eles têm percebido uma evolução. “Do ano passado para cá ela PLANT PROJECT Nº30

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aumentou cerca de 100% por planta”, relata. “Nós produzimos algo em torno de 200 gramas de lúpulo processado, peletizado, por pé do vegetal, o que está aquém ainda do que se produz no mundo, mas são indicadores bem satisfatórios para um início de projeto.” Apesar dos custos iniciais serem altos e de ainda não os terem amortizado, pela primeira vez eles vão conseguir pagar as contas e começam a identificar o potencial da cultura. O principal cliente é a Ambev, que apoia a colheita e o processamento. “Nós pretendemos continuar cultivando e aumentar a área da plantação”, diz. “Mas em função da atual conjuntura econômica, talvez não venhamos a fazer 56

neste momento.” O produtor Ricardo Beolchi de Souza Lima, de Cedral, na região de São José do Rio Preto (SP), também tem planos de aumentar sua lavoura. Hoje ele tem uma lavoura com um pouco menos de mil plantas. “Para crescer, vou automatizar a colheita e o beneficiamento”, revela. “Estou esperando este ano para dar esse passo.” Ele conta que teve contato com a primeira muda de lúpulo em 2015, 2016, e a partir daí nunca mais parou. “Me apaixonei pela planta, pelos desafios que cercavam o seu cultivo, que até aquele momento era uma incógnita”, explica. “Não existia nenhum produtor no Brasil, a informação era quase que nenhuma. Apenas de artigos


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ou livros ‘gringos’, que não refletiam a mesma realidade que encontramos por aqui.” Lima relata que desde então teve de enfrentar muitos desafios. Em 2017, ele se associou à Hops Brasil, empresa do americano Max Raffaele, que produz mudas de lúpulo na região de São José do Rio Preto e as distribui para o Brasil inteiro. “Ele é engenheiro e biólogo, que cultiva a planta em sua chácara nos Estados Unidos há mais de dez anos”, informa. “É um dos pioneiros no Brasil, considerado por muitos o embaixador do lúpulo nacional mundo afora, e entusiasta do produto brasileiro. Eu era seu cliente, comprando mudas, na sua antiga propriedade a ‘Lupulândia’.” A partir de 2018, quando o lúpulo foi legalizado pelo Mapa, a Hops Brasil já importou 26 cultivares, dos quais é mantenedora no Registro Nacional de Cultivares (RNC). “Hoje temos quatro frentes de atuação”, diz Lima. “Plantação comercial, viveiro de mudas, melhoramento genético, nos Estados Unidos e no Brasil, e biofábrica de mudas in vitro, visando o mercado externo.” Ele garante que, ano após ano, a empresa foi quebrando paradigmas de que é possível cultivar lúpulo no Brasil, que é viável comercialmente e tem igual ou melhor qualidade que o que vem de fora. “Agora, de dois anos para cá, é um consenso nacional de que todas as

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cervejarias, sejam elas micro ou as maiores, têm alguma cerveja em sua linha produzidas com o ingrediente nacional”, assegura. “Isso quando elas não estão plantando também, como vem fazendo a Ambev e o grupo Petrópolis, entre outros gigantes do setor.” Apesar desse entusiasmo dos seus produtores, ainda há gargalos na produção do lúpulo no Brasil. “Além da questão da produtividade e da qualidade da planta, tem também o pós-colheita”, ressalva Costa. “Nos próximos anos certamente teremos uma boa produção de cones de qualidade no País, porém, neste momento, grande parte do material produzido ainda é armazenado na forma de flores.” De acordo com ele, o produto pode ser armazenado fresco ou congelado, mas requer muito espaço para isso, além de ter menor estabilidade ao longo do tempo. “Os cones ainda dificultam o processo de produção de cerveja, por diminuírem o rendimento e serem capazes de entupir tubulações com fibras vegetais”, diz. “Por isso, as cervejarias e microcervejarias preferem utilizar o lúpulo em forma de pellets (pó altamente compactado) ou extratos concentrados, com o material em flor sendo preterido. Portanto, penso que se poderia investir mais no pós-colheita, em especial na peletização.” PLANT PROJECT Nº30

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“O Brasil é o único país que consegue produzir vinhos nas quatro estações do ano, em diferentes paralelos”

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Ilustração: Shutterstock

Ideias e debates com credibilidade

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A PRODUÇÃO DE VINHOS SE EXPANDE PELO BRASIL POR IRINEU GUARNIER FILHO*

O mapa da produção brasileira de vinhos finos se expande atualmente para muito além das fronteiras da Serra Gaúcha, seu berço mais conhecido, e de onde ainda saem cerca de 90% do vinho fino nacional consumido no País. Atualmente, mesmo no estado gaúcho, novos polos vitivinícolas conquistam espaço com vinhos premiados em concursos nacionais e internacionais, como a Campanha, a Serra do Sudeste, o Alto Uruguai, as Missões e os Campos de Cima da Serra. No Planalto Serrano Catarinense, a mais de 1,3 mil metros de altitude em relação ao nível do mar, e com invernos gelados, existe hoje um importante polo vitivinícola especializado na produção dos chamados Vinhos de Altitude.

Em torno de municípios como São Joaquim, Água Doce e Videira, empresários de outros setores da economia investem pesado em vinhedos e vinícolas modernos, e seus vinhos

elegantes e criativos já começam a chamar a atenção de críticos nacionais e estrangeiros. Desta região, já saíram o primeiro vinho biodinâmico e o primeiro icewine do País, entre outras maravilhas, principalmente brancos, espumantes e tintos leves. A vindima ocorre mais tarde do que na Serra Gaúcha, as uvas amadurecem mais lentamente, e concentram cores e aromas diferenciados. O certo é que a produção de vinhos finos conquista o Brasil. Produtores de outros estados vêm investindo em vitivinicultura com sucesso. Para isso, buscam variedades mais adaptáveis às condições de solo e clima de cada região, e desenvolvem técnicas de manejo adequadas à produção de uvas viníferas de qualidade em suas terras. Dois exemplos: a irrigação de vinhedos da casta Shiraz, no Médio Vale do São Francisco, em Pernambuco e na Bahia, e a poda invertida, dupla poda ou colheita de inverno, no Sul de Minas Gerais. No Paraná, há outro polo vitivinícola emergente, localizado no município de Toledo. No estado de São Paulo, em torno de São Roque, também se fazem bons vinhos finos, com destaque para a uva Cabernet Franc. Em Espírito Santo do Pinhal, tradicional polo cafeeiro paulista, outros produtores investem em vinhos elaborados a partir das castas Syrah e Sauvignon Blanc. A dobradinha vinho-café ganha força no Sul de Minas Gerais. Descontentes com os preços do café, e orientados por técnicos da Epamig,


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a empresa estadual de pesquisa agropecuária, cafeicultores de Diamantina, Caldas, Varginha, Três Corações e Três Pontas investem com entusiasmo na vitivinicultura. Há, também, produção de vinho em pequena escala em Goiás, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo e no Maranhão. Tudo isso possibilitou ao Brasil a criação de uma condição vitivinícola inédita no mundo, pois é o único país que consegue produzir vinhos nas quatro estações do ano, em diferentes paralelos. Do verão, temos os vinhos gaú-

chos, com uvas colhidas de dezembro a março. Do Planalto Catarinense, vinhos de uvas colhidas no outono. De Minas Gerais e da Serra da Mantiqueira, saem os vinhos de inverno. E o Vale do São Francisco, no Nordeste, que produz até duas safras e meia de uvas por ano, nos presenteia com os vinhos de primavera. Com isso, temos produção de vinhos o ano inteiro no País. Sem sair de casa, podemos viajar pela novíssima vitivinicultura brasileira a bordo de nossas taças. Uma experiência única, que só o vinho brasileiro pode proporcionar.

*Irineu Guarnier Filho é jornalista especializado em agronegócio, cobrindo este setor há três décadas. Metade deste período foi repórter especial, apresentador e colunista dos veículos do Grupo RBS, no Rio Grande do Sul. É Sommelier Internacional pela Fisar italiana, recebeu o Troféu Vitis, da Associação Brasileira de Enologia (ABE), atua como jurado em concursos internacionais de vinhos e edita o blog Cave Guarnier. Ocupa o cargo de Chefe de Gabinete na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, prestando consultoria sobre agronegócio.

NOSSA FORÇA POR MARCO RIPOLI*

O setor não está imune a economia dentro do cenário mundial e deve se preparar ainda mais para novas mudanças. O Produto Interno Bruto do Agro, de acordo com o CEPEA (ESALQ/USP) cresceu 8,36% em 2021 levando o setor no PIB brasileiro a ocupar 27,4% da economia. Segundo o mesmo órgão de pesquisa, os segmentos de insumos e primário se destacaram em 2021, com aumentos de 52,63% e 17,52%, respectivamente, crescendo assim o PIB destes dois segmentos, 2,56% para os serviços e 1,63% para a agroindústria. Houve incremento das exportações, considerada uma das principais mudanças ocorridas. Em setembro passado a balança comercial do agro-

negócio alcançou um superávit de US$ 68,7 bilhões, maior até hoje naquele período. Isso ocorreu parcialmente devido a movimentos cambiais (dólar) e crescimento da demanda chinesa por alimentos. Na época, o dólar mais valorizado ajudou a compensar parte dos preços das commodities agrícolas, favorecendo o cenário para exportadores de comodities brasileiras, mesmo que a curto prazo. Mesmo apresentando um desempenho mais fraco a pecuária brasileira devido ao aumento expressivo dos custos com insumos, no ano passado conseguiu aumentar sua receita. Contudo não foi o suficiente para gerar aumento do PIB em seu setor. O avanço da renda no segmento só não PLANT PROJECT Nº30

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foi maior devido ao incremento de outros custos de produção. Em meio a tudo isso, a sustentabilidade vem ganhando cada vez mais força devido ao aumento das exigências dos consumidores quanto aquilo de compram, principalmente em relação a procedência e caminhos que produtos percorreram e cumpriram por uma agricultura mais sustentável, levando em consideração também a relação destes produtores à cadeia de suprimentos de suas atividades fins. Ainda quanto aos impactos da pandemia no agronegócio, o fator tecnologia tem sido um divisor de águas... A mecanização e transformação digital no agro estão cada vez mais fortes e vem utilizando inúmeras ferramentas que nos auxiliam: 1- Melhoramento genético: novos cultivares de plantas que oferecem mais adaptabilidade aos campos que quando aliadas o melhoramento à biotecnologia é possível lançar de cultivares com características desejáveis ao produtor. 2- Big Data: seu uso é visto como a facilitador do processo no campo, auxiliando na tomada de decisão, ajudando na gestão; reduzindo desperdícios e custos de produção; incre-

mentando a produtividade e liquidez do negócio. 3- Veículos autônomos: maquinários e equipamentos agrícolas guiados por GPS e conduzidos de forma remota por smartphones e outros dispositivos, ajudando a reduzir os custos com operadores e aumentando a produtividade. 4- Agricultura de precisão: proporciona ao produtor maior rentabilidade, pois traz ferramentas de mapeamento e monitoração de suas áreas favorecendo o manejo das áreas. Tende a maximizar ganhos e minimizar dos impactos e desperdícios. Usando diversos tipos de sensores é possível limitar a área da fazenda, identificar as áreas úmidas e estradas existentes, caracterização das propriedades do solo, níveis de nutrientes no solo, pH, minimizar os custos com defensivos e, ainda, permitem visualizar quais áreas são as mais produtivas na fazenda. Com novas demandas, novas tecnologias serão desenvolvidas, pois o agro acaba buscando sempre se a adaptar nas adversidades. É preciso continuar a alimentar uma população que cresce rapidamente e é necessário fazer isso de forma sustentável. O Agro não para!

* Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, Ph.D. é Engenheiro Agrônomo e Mestre em Máquinas Agrícolas pela ESALQ-USP e Doutor em Energia na Agricultura pela UNESP, fundador do “O Agro não Para” e proprietário da BIOENERGY Consultoria e investidor em empresas.

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Colheita de trigo na Ucrânia: Uma cena que pouco se repetirá na safra de 2022

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foto: Shutterstock

As regiões produtoras do mundo

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As regiões produtoras do mundo

O rico “chernozem”: solo escuro da região é um dos mais férteis do mundo 64


NEM PLANTAS, NEM PLANOS Não há sementes sendo jogadas sobre o rico solo da Ucrânia, onde a guerra interrompeu um histórico processo de transformação no modelo fundiário que poderia injetar bilhões na produção local Por Luiz Fernando Sá

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oman Neyter sorri, vira a câmera do celular e mostra a bucólica cena do campo próximo a Kiev. Ele fala da parte externa da casa, o rosto iluminado pelo sol da tarde na Ucrânia. Em alguns momentos, a esposa e a filha surgem no fundo da cena, que seria corriqueira na Ucrânia em tempos normais. Não é esse o caso, embora o jovem especialista em Agricultura da Escola de Economia de Kiev faça tudo para demonstrar tranquilidade. Em alguns momentos, porém, os novos hábitos o traem. O ruído de um avião sobrevoando a área, algo antes corriqueiro para quem vive nas grandes cidades, logo chama a sua atenção. Em seguida, outra aeronave cruza o céu e a conversa para por alguns segundos. Esse não é mais um som de normalidade por lá. “Eu tive de fazer a opção de vir para cá. Eu costumava viver em Kiev, mas tive de mudar”, explica, em uma chamada por

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vídeo com a reportagem da PLANT, realizada no início de abril. Neyter fala em inglês. Sua dificuldade não é o idioma, mas traduzir em palavras as incertezas sobre o presente e o futuro do seu país. Neste início de primavera, sua rotina deveria ser acompanhar uma intensa atividade de plantio nas férteis lavouras ucranianas, fazer análises e previsões. Hoje ele se empenha em coletar informações fragmentadas para tentar montar um cenário que, assim como muitas vidas e construções em seu país, pode não existir amanhã. “É muito difícil saber de quanta terra poderemos dispor. Acredito que pelo menos um terço da área produtiva esteja sofrendo por conta de combates e não é seguro iniciar o plantio por lá”, afirma. “Isso muda todo dia. Muita gente deveria estar plantando, sobretudo na parte mais ao Sul do país, mas não tem conseguido trabalhar. Nas partes mais a leste e no


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centro do país, as temperaturas ainda estão muito baixas.” Assim como Neyter, o mundo busca informações sobre o que acontece nos 42 milhões de hectares que fazem da Ucrânia um dos principais produtores e exportadores de grãos do mundo. Um levantamento do Ukrainian Nature Conservation Group aponta para um número semelhante ao citado pelo especialista, estimando em 34% a parcela do território considerada como zona de risco para agricultores em função da ocupação por tropas russas ou na contaminação por produtos explosivos. “A maior dificuldade para que as campanhas de plantio se iniciem é a falta de combustível. Esse é hoje o maior problema da maioria das fazendas. Mas não é o único. Em algumas regiões, há batalhas nos campos, soldados e tanques, o risco de mísseis. Além disso, em algumas áreas há minas no terreno”, afirma Neyter. O relatório da entidade ambientalista confirma: “Sabemos que as tropas de ocupação russas estão destruindo deliberadamente equipamentos agrícolas dos ucranianos, exacerbando a esperada escassez de alimentos. Enfatizamos que mesmo após a liberação desse território ocupado, não será possível cultivar ali até que seja feita uma operação completa de limpeza de minas terrestres”.

Não será, infelizmente, a primeira. A presença de armas e explosivos nos locais onde deveriam ser lançadas sementes é uma triste sina das férteis terras ucranianas. Rico em matéria orgânica, o solo negro conhecido como “chernozem” – que se expande por parte do Leste Europeu até o Cazaquistão – é frequentemente cobiçado por governantes vizinhos ávidos por ter sob o seu domínio grandes áreas capazes de garantir suprimentos em abundância para suas populações e suas tropas. Nos tempos da União Soviética, há quase um século, Josef Stalin tomou as terras dos agricultores ucranianos, transformando-os em trabalhadores forçados. Toda a produção ficava na mão dos soviéticos e cerca de 6 milhões de ucranianos morreram de inanição.

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Soldado ucraniano vigia trabalho de agricultor:ataques dos russos destruíram máquinas e infraestrutura

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Colheita do trigo e combates nos campos gelados: a cena acima será cada vez mais rara em grande parte do país

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Graças à riqueza do chernozem, a Ucrânia produziu no ano passado mais de 75 milhões de toneladas de grãos. O país tem mais terras cultiváveis que França e Alemanha juntas e é conhecida como celeiro da Europa por sua importância no mercado global de commodities agrícolas. É a maior produtora mundial de óleo de girassol e está entre as principais exportadoras de trigo, milho e cevada. Um quinto de seu PIB depende do campo. “A região mais ao norte, semiocupada pelos russos, e a região central são as mais produtivas”, diz Neyter. “É muito difícil falar em reconstrução do setor. Ainda que a guerra terminasse hoje, há muitas coisas que não estão claras. Uma delas é o estado das instalações que foram alvos dos russos. Eles atacaram sobretudo os estoques de combustíveis e o armazenamento de grãos. Uma boa parte da geração de energia usada nos armazéns está destruída e pelo menos um quarto dos elevadores usados para o transporte dos grãos também foram atingidos pelas batalhas. Ainda não sabemos exatamente o impacto dos ataques na infraestrutura. Outro grande problema é o fato de todos os nossos portos estarem bloqueados. Cerca de 95% do que exportamos passa por eles e isso inviabiliza a nossa agricultura. Mesmo que tivéssemos a produção a


pleno vapor, qual seria a razão para produzir tanto?”, questiona Neyter. HISTÓRIA INTERROMPIDA Quando a guerra começou, o agronegócio ucraniano atravessava um momento histórico. Nos últimos anos o presidente Volodymyr Zelensky enfrentou a oposição – inclusive os partidos com ligações com o Kremlin – para fazer passar no Parlamento local uma lei que reabriu o mercado de terras, que viveu uma moratória de duas décadas. A reabertura da possibilidade de compra e venda de propriedades rurais ocorreu em julho do ano passado. Nos primeiros seis meses de liberalização do mercado, agricultores ucranianos venderam 155 mil hectares de terrenos, por um valor total de US$ 200 milhões, segundo informações divulgadas em janeiro pelo Ministério da Política Agrária.

Parece pouco diante de um universo de mais de 40 milhões de hectares cultiváveis e certamente não dá uma real dimensão da relevância da mudança. A moratória foi imposta no início do século com a justificativa de que era necessário proteger o chernozem e os pequenos produtores ucranianos do imenso apetite de grandes empresas com capital estrangeiro. Ela sucedeu outro processo complexo e traumático: a privatização das kolkhozes, fazendas coletivas implantadas durante o período de dominação soviética. Havia mais de 12 mil delas e sua divisão foi feita, em 1999, entre cerca de 7 milhões de ucranianos. Cada um recebeu em média 4 hectares. Apenas dois anos depois, em 2001, é que foram emitidos os títulos de propriedade dos imóveis, com a aprovação de um código fundiário. Pouco PLANT PROJECT Nº30

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mais tarde, ainda no mesmo ano, a moratória foi introduzida. Sem a possibilidade de negociar suas propriedades ou mesmo usá-las como garantias para obtenção de crédito, muitos agricultores não tiveram opção a não ser arrendar suas terras às grandes companhias agrícolas que dominam a maior fatia da produção ucraniana. OLIGARCAS DO CAMPO Criadas sob a égide do novo código, essas empresas tiveram acesso a grande quantidade de terras por valores muito baixos. Assim, ao invés de proteger os pequenos produtores, a moratória apenas incentivou

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a formação de uma elite agrária, com pouca tradição no campo, mas muitas ligações políticas. Nas últimas duas décadas, os oligarcas do campo prosperaram e transformaram a Ucrânia na potência exportadora que era até o início da guerra, sem que os verdadeiros donos da terra tenham, no entanto, se beneficiado da mesma maneira. O modelo de arrendamento faz com que o tamanho médio das fazendas hoje na Ucrânia esteja em torno de 1 mil hectares. Mas há grupos com mais de 500 mil hectares sob seu controle. Apenas 20 gigantes detêm 14% das terras aráveis


(mais de 6 milhões de hectares), quase quatro vezes mais do que possuíam há 15 anos. Estima-se que a Kernel, maior dessas companhias e principal exportadora de óleo de girassol da Ucrânia, tenha mais de 570 mil hectares sob sua gestão. Com ações negociadas na bolsa de valores de Varsóvia, a empresa foi fundada em 2007 por Andriy Vereyevskiy, ex-membro do Parlamento da facção do ex-presidente Viktor Yanukovych, aliado da Rússia.

Próxima a ela no ranking dos latifúndios ucraniano está a UkrLandFarming, também na faixa dos 570 mil hectares. O controlador do grupo é proprietário, Oleg Bakhmatyuk, também com contatos em Moscou e dono da Avangard, uma das maiores produtoras mundiais de ovos e derivados. FUTURO INCERTO Zelensky venceu a batalha do fim da moratória, mas não atingiu a oligarquia rural do

país. Com contratos de arrendamento valendo em média por quase 50 anos, eles não sofreriam os efeitos da medida. Para os produtores independentes, porém, o impacto poderia ser imenso. Segundo estimativa do Banco Mundial, a abertura do mercado de terras tinha potencial de acrescentar até US$ 15 bilhões à produção anual e aumentando o Produto Interno Bruto (PIB) anual em cerca de 1,5 ponto percentual. PLANT PROJECT Nº30

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Leste Europeu

O mapa da fome: em vermelho, as áreas com terras férteis ocupada em que não será possível plantar este ano

E talvez reduzir o desnível tecnológico das pequenas propriedades. “Grandes fazendas têm acesso a recursos e às melhores tecnologias: o estado da arte em máquinas, ferramentas digitais de gestão e agricultura de precisão”, diz Neyter. “Essa realidade não chegou à maioria.” A guerra parou o mercado e interrompeu outro programa que o governo ucraniano esperava colocar em prática, segundo o especialista da Escola de Economia de Kiev. “Havia a previsão de implantar um programa de crédito diferenciado para propriedades 72

com menos de 500 hectares, mas agora está tudo parado”, afirma. Também havia a perspectiva de que o fim da moratória fosse ampliado, com uma nova medida permitindo a compra de terras ucranianas por estrangeiros, que ainda é proibida. A expectativa é de que isso acontecesse em 2024, com a abertura pelo menos para cidadão da União Europeia. Hoje, no entanto, não se planta nem se faz mais planos sob o solo ucraniano. A não ser ficar a salvo, como desejei a Neyter e à família no fim de nossa conversa.


Leste Europeu

Fr

Por que a Ucrânia é uma potência do agtech mundial

Por Mateus Mondin*

É lamentável o que vivenciamos neste último mês em relação à Ucrânia e qualquer análise ou matéria que considere outro cenário que não apenas os ucranianos será totalmente injusta ou egoísta. De fato, há muitas perdas em diferentes aspectos das economias local e global, decorrentes do conflito, mas nenhuma delas será equiparada às perdas humanas. Naturalmente, fala-se dos impactos nos mercados mundiais, no suprimento de alimentos e energia, nos embargos à Rússia, em crise de fertilizantes e de uma assustadora inflação. Porém, permita-nos falar de um aspecto pouco comentado sobre esse país incrível chamado Ucrânia. Apesar de parecer pequeno, o país representa uma fronteira da produção agrícola global. Pode causar algum espanto, mas a Ucrânia possui a décima maior área agricultável do mundo. São mais de 339 mil quilômetros quadrados de área, principalmente composto por solos extraférteis ricos em fósforo, ácidos fosfóricos e amônia. Esse solo conhecido como chernozem (chernossolo) pode conter de 4 a 16% de húmus e tem alta capacidade para retenção de umidade. Portanto, são regiões que naturalmente possuem os principais elementos de nutrição para as plantas, fazendo desse pequeno país do Leste Europeu, uma singularidade em termos agrícolas. Não bastasse essa riqueza em solos, a Ucrânia ainda conta com uma forte indústria de amônia, uma das fontes mais importantes para nitrogênio como fertilizante agrícola. Isso faz com que o país

seja praticamente autossuficiente em insumos para a produção de alimentos. Não é por acaso que a Ucrânia estava entre os dez maiores produtores de trigo, milho, cevada, centeio, batata, entre outros, além de hotifrúti, aves, ovos e mel. Deixamos por último o girassol, considerado a flor nacional, onde a Ucrânia se destaca como produtor líder e maior exportador global do óleo de girassol. Em termos locais, a produção agrícola representava entre 17 e 20% do PIB ucraniano, com mais de 30% das exportações sendo responsabilidade para o setor. Fica evidente o temor do restante da Europa em relação à segurança alimentar. O outro lado dessa história, que poucos conhecem, é o ecossistema de inovação que se gerou em torno do agronegócio ucraniano. O país chegou a criar oficialmente um ecossistema para startups, que infelizmente encontra-se com o site da web fora do ar. O AgTech Ukraine era comandado pelo CEO Yuriy Petruk, o qual ainda mantém um perfil ativo pelo LinkedIn. Dentro desse ecossistema encontram-se startups como a Top Lead, que coordenava todo o marketing e a comunicação das ações de inovação, inclusive com a elaboração de mapas e relatórios (reports) sobre as tecnologias para o agronegócio, desenvolvidas pelo país. No coração das novidades agtechs ucranianas, a digitalização tem grande destaque. A startup AgroHub, por exemplo, é formada por um time de analistas que desenvolvem analytics PLANT PROJECT Nº30

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para sete das principais culturas do país. Além disso, possuem experiência em proteção de cultivos, fertilizantes, sementes e outros. Atualmente a startup tem em seu portfólio cerca de 2,5 milhões de hectares analisados em 19 regiões, além de manter fortes relações de parceria com AgFunder, McKinsey & Company, Finance in Motion e Unit.City. Outra startup nessa mesma frente é a Agrieye, especializada em sensoriamento remoto e inteligência artificial. A empresa oferece monitoramento em tempo quase real, previsão de clima, condições fitossanitárias dos cultivos, monitoramento de radiação fitoativa e cobertura por neve das áreas de cultivo, algo muito relevante para uma região de inverno rigoroso e janelas de plantios muito estreitas. Em maio de 2016, a Agrieye recebeu um investimento da ordem de US$ 150 mil do EasyPay Group, o que demonstra que a startup vinha ganhando robustez e maturidade de negócios. O intraempreededorismo também é fomentado nesse ambiente, tanto que o Kusto Group, uma holding fundada nos anos 1990 e com forte ênfase em indústria de mineração, energia e produção de materiais de construção, não hesitou em abrir sua frente chamada Kusto Agro Group. Uma verdadeira startup dentro de um grupo consolidado e com operações voltadas para a produção de grãos, elevadores de grão, trading e transporte. O diferencial da empresa é o desenvolvimento de conceitos inovativos de negócios nessas frentes. Apesar de parecerem poucos esses exemplos, a cidade de Kiev, que recentemente contava com quase 3 milhões de pessoas, era classificada na 34ª posição de um ranking global de mil cidades com alto potencial de inovação, superando cidades como Helsinque, Munique e Dublin, segundo a StartupBlink Ecosystem. De acordo com dados da TechUkraine, outro hub de inovação criado para fomentar o desenvolvimento de startups no país, apontam que, de maneira geral, o setor de tecnologia 74

ucraniano exporta mais de US$ 4,5 bilhões em serviços e possui cerca de 160 mil profissionais atuando em mais de 4 mil empresas. Os investimentos nas empresas ucranianas de tecnologia somam mais de US$ 1 bilhão em investimentos desde 2013. Esse fluxo significativo de recursos fez com que o país se tornasse um dos maiores destinos de financiamentos para startups do Leste Europeu. Apenas em termos de programadores de software calcula-se que atualmente existam mais de 200 mil próximos do front de guerra. O país tornou-se uma espécie de centro de desenvolvimento de softwares, com uma força de trabalho técnica bem-educada e com custos mais acessíveis do que o restante da Europa. O resultado disso é uma forte terceirização de serviços de engenharia e desenvolvimento de startups europeias para dentro da Ucrânia. Dessa forma, não há como negligenciar a contribuição do capital humano ucraniano para a agrotecnologia. E o futuro pós-guerra, o que ele sinaliza para a Ucrânia? Aparentemente não há grandes segredos e o país voltará a investir em uma agricultura totalmente digital. Até pelas condições geográficas, a agricultura de precisão, o uso de sensores e drones, dados e robótica devem ajudar no reerguimento do país, com soluções próprias e de startups de outros países. Certamente avançarão muito para uma produção mais sustentável, com altos rendimentos de colheitas, uso eficiente da água e sensível redução no uso de insumos agrícolas e agroquímicos. Rezamos apenas para que esse futuro brilhante esteja muito próximo para o povo ucraniano.

*Mateus Mondin é professor-doutor do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Esalq Universidade de São Paulo (USP) e editor-chefe da StartAgro


Projeção do futuro resort Bewine, na Serra Gaúcha: Projeto de R$ 300 milhões gerou debate na região

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foto: Divulgação

A grande feira mundial do estilo e do consumo

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foto: Divulgação

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A SERRA DA POLÊMICA Projetos de novos resorts provoca debate sobre modelo de exploração da terra no Vale dos Vinhedos Por Suzana Barelli

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enoturismo chegou com força à Serra Gaúcha, a principal e mais conhecida região vinícola do Brasil. Mais de 1 milhão de turistas devem passear pelos seus vinhedos e degustar os brancos, tintos e, principalmente, os espumantes durante todo o ano de 2022. Esse interesse crescente também se traduz em novos e imponentes empreendimentos imobiliários em sua paisagem. O melhor exemplo é o Bewine Resort, que promete ser o maior parque temático de vinho do mundo, ter a maior adega vertical também do mundo, com 11 andares, e também a piscina com maior borda infinita do mundo, com 190 metros. O complexo ocupará um terreno de 60 mil hectares em pleno Vale dos Vinhedos – deste total, apenas 3,1 hectares serão de vinhas. Terá 421 unidades habitacionais em um investimento estimado de R$ 300 milhões. Poucos meses após o lançamento do Bewine, em dezembro do ano passado, a centenária vinícola Salton também anunciou o seu megainvestimento turístico na região, a Gramado Parks, que, além das

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habitações e do parque aquático, deve contar até com um centro comercial. Em um primeiro momento, os dois novos projetos e as informações, ainda desencontradas, de outras construtoras interessadas em investir na região, mostram um interesse crescente pelo enoturismo e encontram eco no crescimento do consumo de vinho pelo brasileiro registrado durante toda a pandemia. Mas não tardou para os dois novos empreendimentos se tornarem também polêmicos, recebendo críticas dos donos das vinícolas no próprio Vale dos Vinhedos, que é também a primeira Denominação de Origem para os vinhos brasileiros. “São projetos enormes, desproporcionais. A nossa região não quer estas obras, que vão distorcer a nossa paisagem. Precisamos destas áreas para os novos vinhedos”, afirma Sandro Valduga, presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) e representante da quarta geração da Terragnolo, pequena vinícola de 10 hectares de vinhas na região.


Enoturismo

Não é apenas o tamanho das obras que assusta, mas também o seu propósito. Em meados de fevereiro, em reunião no Conselho Distrital de Planejamento do Vale dos Vinhedos, órgão que funciona há mais de 15 anos e tem o poder de veto nos projetos, as duas obras não foram aprovadas, o que vem gerando manifestações acaloradas dos dois lados. Atualmente, os empreendimentos estão no prazo de prestar explicações sobre os pontos levantados pelo conselho distrital. Procuradas, tanto a Salton como a Bewine informaram que só se manifestarão em momento oportuno, depois de o projeto passar pela Câmara dos Vereadores de Bento Gonçalves. Nas entrelinhas da aprovação ou não destes investimentos está a discussão de qual o futuro do Vale dos Vinhedos. Para aqueles que são contra as megaconstruções, a ideia é que o vale deve se guiar em modelos de sucesso do enoturismo mundial, como as regiões de Bordeaux, de Mendoza ou do Napa Valley. Nesses destinos, os vinhedos estão em primeiro lugar e a maioria dos serviços turísticos podem estar longe das áreas de cultivo, até para evitar que a presença humana, com suas piscinas com água com cloro, os seus lixos e tudo o mais, contamine o solo. Com uma área de quase

2 mil hectares de terra, sendo 400 hectares de vinhedos classificados dentro da Denominação de Origem (em 2010, eram 700), o temor dos membros da Aprovale é que essas construções se tornem moradias definitivas e não as hospedagens, mudando o perfil da região. Mais que isso: a urbanização gerada por essas construções pode acabar tirando o produtor da terra. “Com a exploração imobiliária, o produtor não consegue manter o seu vinhedo”, afirma

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Imagens de divulgação do empreendimento Castelo do Vale, dentro da vinícola Dom Cândido: disputa de grandes proporções

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Sandro Valduga. Atualmente, o valor do hectare na região está ao redor de R$ 500 mil, com tendência de valorização, o que já dificulta manter o viticultor no campo. Os investidores seguem outro caminho. Charles Tonet, um dos quatro sócios do Bewine, conta que o projeto aposta no enoturismo de lazer. “Houve aumento significativo por parte dos turistas em busca de experiências culturais e históricas, muito relacionadas à imigração italiana”, afirma. A ideia é trazer várias opções de lazer no vale. A diversificação de opções, digamos assim, é visível já na extensão dos terrenos. No Spa do Vinho, o primeiro hotel cinco estrelas inaugurado no vale 15 anos atrás, tem uma área construída de 3 mil metros quadrados para 80

18 hectares de vinhedos, além do projeto de vinho próprio. Nos novos projetos, a relação entre vinhedos e área construída é bem menor. Outro ponto é o perfil de moradia dos novos empreendimentos. As novas construções preveem a multipropriedade, com os proprietários comprando o local por uma ou mais semanas no ano. “Não é um hotel, é uma moradia, com escrituras”, alerta Deborah Villas-Bôas Dadalt, sócia do Spa do Vinho. Com a experiência de gerir o Spa do Vinho, ela contesta os dados de carência de vagas na rede hoteleira local como justificativa para o investimento. Nos finais de semana, diz ela, vários hotéis ficam com a sua lotação máxima, mas durante a semana são poucos os hóspedes.

“A nossa média de ocupação é de 50% das vagas, em nossos 128 apartamentos”, afirma Deborah. A discussão passa também pelo tamanho das construções e aqui, outro resort já aprovado e com obras previstas para começar em abril entra como exemplo. O Castelo do Vale ocupará uma área de 4,9 mil metros quadrados e será erguido dentro da vinícola Dom Cândido. “Era um sonho do meu pai, que estamos realizando. A ideia é que o turista possa se hospedar no coração do Vale dos Vinhedos, usufruir da estrutura de lazer e apreciar os nossos vinhos sem a preocupação com o deslocamento”, conta Marcos Valduga. Para comparar, a Gramado Parks deve ocupar uma área entre 60 mil e 90 mil metros quadrados.


Cena da nova versão da novela : Enredo vai reforçar enfoque ambiental

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foto: Michael Dantas/SEC foto: Divulgação/Rede Globo

Um campo para o melhor da cultura

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Um campo para o melhor da cultura

O RETORNO AO PANTANAL Versão autualizada da clássica novela de 1990 estreia com a missão de cativar uma nova geração, levantar a bandeira da preservação da natureza e homenagear a riqueza cultural do Centro-Oeste brasileiro Por André Sollitto

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foto: Divulgação/Rede Globo

O ator Irandhir Santos vive o peão Joventino: seu personagem se transforma na entidade Velho do Rio, uma consciência ecológica PLANT PROJECT Nº30

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foto: Divulgação/Rede Globo

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uando foi exibida pela primeira vez, em 1990, pela Rede Manchete, a novela Pantanal causou uma verdadeira revolução. Cada elemento ajudou a definir a forma com que os folhetins seriam produzidos a partir de então. As imagens da natureza, de uma exuberância incrível e ainda pouco conhecida por muitos brasileiros, chamavam a atenção muito antes da popularização de canais pagos, como o Discovery Channel, e de programas como o Globo Repórter. A fotografia cinematográfica apresentou uma qualidade antes ausente das novelas. E a história original, assinada por Benedito Ruy Barbosa, apresentou um universo rural que ainda era novidade no horário nobre da televisão. A trilha, as atuações de Cristiana Oliveira, Paulo Gorgulho e Cláudio Marzo e até a vinheta de entrada marcaram época. Agora, 32 anos depois, uma nova versão da história, adaptada para os tempos atuais, estreia

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na Rede Globo com o desafio de captar a atenção do público em um cenário muito mais competitivo e manter vivo o legado da novela original. “Quando a gente fala de audiência do horário nobre, a TV aberta reinava absoluta no início dos anos 1990. A TV a cabo só se tornou popular na década seguinte”, afirma o crítico de novelas Nilson Xavier. E o próprio Pantanal não era tão conhecido. Se falava muito da Amazônia, mas pouco do bioma da região Centro-Oeste. “Tudo tinha um sabor de novidade. E a trama misturava aventura com fantasia, com lendas da mata, com o que o Pantanal tem de encantado”, diz Xavier. Não à toa, o folhetim foi eleito um dos quatro maiores de todos os tempos e lançou Benedito Ruy Barbosa ao panteão de autores da teledramaturgia. Agora, os tempos são outros. E isso fica claro na mudança vivida pela própria região. Em 1990, o Pantanal


Televisão

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Parte do elenco da primeira fase da novela: ao centro, Irandhir Santos, de laranja, como o peão Joventino

as cabeceiras de rios foram degradadas, e o impacto do fogo na fauna e na flora locais ainda não foi totalmente mensurado. Os atores que participaram da montagem original e retornaram aos locais de filmagem ficaram surpresos com a mudança. “São 30 anos de muita seca e muito desmatamento. Fica fácil perceber a interferência humana. Espero que a novela traga a reflexão de que precisamos cuidar para que daqui a 30 anos a gente possa ter uma recuperação ambiental”, escreveu o ator Marcos Palmeira nas redes sociais. A atriz Letícia Salles, que vive Filó na primeira fase do folhetim, também disse

Almir Sater, ao centro, com a viola: o músico retorna ao folhetim em um papel diferente, mas a música também tem papel central na trama

foto: Divulgação/Rede Globo

era um dos biomas mais preservados do País e havia perdido menos de 4% de sua vegetação nativa. Em 2019, um levantamento do Instituto SOS Pantanal apontou que a devastação já atingia 15,7% da vegetação nativa. Em 2020, a região também sofreu com as piores queimadas de sua história, de acordo com dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), naquele ano foram identificados mais de 21 mil focos de incêndio. Muitas das belezas foram preservadas, mas

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Televisão

que ficou triste ao ver o impacto da seca e das queimadas. Por isso, uma das missões da nova versão da novela é justamente chamar a atenção da audiência sobre os riscos que o bioma corre. Bruno Luperi, responsável pela nova versão da trama e neto de Benedito Ruy Barbosa, afirmou que vai propor essa discussão de forma mais intensa na nova trama e que a versão atual tem uma importância muito maior do que a anterior, lançada há mais de 30 anos, justamente por conta desse impacto de conscientização. Segundo ele, o objetivo é mostrar como o Pantanal é um ecossistema muito delicado. Resta saber como essa conscientização vai se desdobrar em iniciativas de conservação. A trama que aborda as desventuras de José Leôncio, vivido por Paulo Gorgulho na versão de 1990 e por Jesuíta Barbosa no novo folhetim, terá ainda outro desafio. Na época, 86

fotos: Divulgação/Rede Globo

Juliana Paes faz participação especial: a atriz vive Maria Marruá, que morre e se transforma em onça, uma referência às lendas pantaneiras. Abaixo, Alanis Guillen como Juma Marruá: papel já foi de Cristiana Oliveira na versão original


foto: Divulgação/Rede Globo

a cultura do interior do Brasil ainda não era tão popular no horário nobre da televisão. Mas isso mudou. O próprio Benedito Ruy Barbosa se consagrou como autor ligado ao universo rural. Ele assinou Rei do Gado, em 1996, que abordava temas como a reforma agrária, e Terra Nostra, em 1999, sobre a imigração italiana nas fazendas de café de São Paulo, dois imensos sucessos que ajudaram a consolidar no imaginário popular essa visão do homem do campo como pilar da sociedade brasileira. Também na década de 1990, o sertanejo começou a ganhar espaço até se tornar o gênero mais popular do País. A trilha sonora da novela tinha canções de Sá & Guarabyra, Sérgio Reis, Renato Teixeira e Almir Sater, e teve papel importante nessa popularização. O violeiro, inclusive, estreou

como ator na novela. Ele vivia o misterioso peão Xeréu Trindade e aparecia em diversas cenas tocando viola. Em uma cena memorável, acompanha Sérgio Reis em uma interpretação de Disparada. Em outra, canta e toca Tocando em Frente. Duas de suas músicas, Chalana e Um Violeiro Toca, fizeram sucesso nos discos da trilha e ajudaram a difundir a música de raiz entre o público. Hoje, 30 anos depois, o sertanejo universitário, a sofrência e outras vertentes dominam as rádios e duplas como Maiara & Maraisa e Israel & Rodolffo lotam shows pelo País inteiro. Essa herança musical será mantida na nova versão. Tanto que Almir Sater ganhou um novo papel, como o chalaneiro Eugênio, e seu filho, Gabriel Sater, vai dar vida a Trindade. Os dois protagonizam um duelo de viola

A natureza como protagonista: assim como na versão original, as belas imagens do bioma são destaque

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foto: Divulgação/Rede Globo

Renato Góes como o jovem José Leôncio: o personagem representa os ensinamentos passados de pai para filho

em uma cena noturna gravada em uma fazenda no Rio de Janeiro. A mudança de localização foi feita para evitar os insetos da região pantaneira. Gabriel também é músico, mas seu instrumento principal é o violão. Quando soube da cena do duelo, passou a estudar a viola com mais afinco para não fazer feio, já que seu pai é considerado um dos maiores violeiros em atividade no Brasil. Há ainda outras brincadeiras de Luperi em conectar o velho e o novo, a tradição e a modernidade. Paulo Gorgulho e Marcos Palmeira, por exemplo, que estavam na versão anterior, também ganharam participações na nova trama. Mas apesar das menções ao 88

passado, o foco é no presente. “Quando uma emissora faz um remake desses, ela não quer afagar o saudosista. O gênero está fadado à extinção se não agradar ao público, e precisa cativar a nova geração”, afirma o crítico Nilson Xavier. A briga, agora, é mais acirrada. As plataformas de streaming conquistaram uma fatia importante da audiência, especialmente entre o público mais jovem. E a quantidade de produções inéditas do mundo inteiro que os consumidores têm à disposição é infinitamente maior. Mas a aposta da Rede Globo é na história cativante de Benedito Ruy Barbosa, adaptada para os gostos atuais.

“Se antes era tudo uma novidade e não se sabia se a novela seria um sucesso, hoje a emissora tem um caminho mais seguro”, diz Xavier. Os primeiros capítulos foram marcados por bons resultados de audiência. De acordo com dados da Kantar Media, a estreia e alguns dos episódios subsequentes registraram 28,3 pontos, equivalentes a quase 2 milhões de domicílios ligados na novela, apenas no estado de São Paulo. O desafio é manter a atenção pelos 216 capítulos previstos. Além de audiência, o sucesso de Pantanal pode ajudar a mudar a opinião pública sobre a necessidade de conservação de um de nossos biomas mais ricos.


Nova moeda no solo do agro: Criptoativos começam a ganhar espaço no setor

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foto: Shutterstock

As inovações para o futuro da produção

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STARTAGRO

As inovações para o futuro da produção

A PORTEIRA DO CRIPTOAGRO Empresas do agronegócio entram na era da tokenização e aderem ao lançamento de criptoativos para digitalizar e simplificar operações comerciais e financeiras com insumos e commodities Por Bruno Cirillo

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Mercado digital

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produtor rural é frequentemente retratado como um sujeito conservador, desconfiado, sobretudo quando o assunto é dinheiro. Por isso, os executivos da Cibra, uma das cinco maiores empresas de fertilizantes do Brasil, foram pegos de surpresa com o interesse do público pela novidade que a empresa levou para a Expodireto, feira agropecuária promovida pela Cotrijal em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, no final de fevereiro. Em seu estande, além dos insumos tradicionais, a companhia apresentou um produto digital: a CibraCoin, uma moeda digital voltada exclusivamente para a compra e venda de fertilizantes. “O interesse na feira nos surpreendeu e tudo aponta que vai haver uma boa aceitação do mercado”, afirma Kelly Nakaura, diretora de Marketing da Cibra. A inovação, em um segmento poucas vezes associado a novidades tecnológicas, indica como as porteiras do agro estão abertas ao experimento de diferentes modelos para comercialização de insumos e da produção, que podem transformar radicalmente a forma como negócios são feitos no campo. A semente dos criptoativos, um conceito ainda complexo mesmo para investidores experientes nas cidades, já foi lançada no meio rural. Diferentemente das criptomoedas mais conhecidas, como a bitcoin, normalmente associadas à volatilidade, a CibraCoin é um criptoativo classificado como stable coin, ou moeda estável, em uma tradução livre. Isso porque seu valor está vinculado diretamente a um ativo físico, no caso os próprios fertilizantes. A principal vantagem, segundo Rafael França, head de Inovação da Cibra, é que o criptoativo permite travar

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o preço do fertilizante no momento da compra para o uso futuro do ativo, quando as cotações já poderão ter aumentado. “A CibraCoin resolve um problema real do produtor, assim como ele tem uma garantia de entrega do produto”, afirma. “A gente identificou que o mercado carecia há bastante tempo de uma ferramenta de mercado futuro de fertilizantes. O produtor tinha poucas alternativas para travar o preço. É uma oportunidade para entregar ao produtor um serviço diferente através da tecnologia de blockchain”, diz. Cada vez mais presente como padrão para conferir autenticidade em processos digitais, o blockchain é um sistema que usa blocos de dados criptografados para transmitir informações pela internet. Graças à criptografia (daí o nome criptomoedas), essas informações são praticamente à prova de fraudes. Apesar da complexidade escondida por trás dos sistemas, para quem se interessa em comprar e vender os criptoativos as operações podem ser simples. Eles são negociados em plataformas criadas especialmente para este fim, as chamadas exchange. No caso da CibraCoin, a negociação é feita pela Stonoex, a partir de um site próprio. Cada CibraCoin equivale a 1 quilo de fertilizante MAP. Para adquiri-la, basta se cadastrar, fazer o depósito e ir às compras. E não é preciso ser agricultor. Se o objetivo inicial da empresa era criar uma alternativa para a comercialização de seus produtos, a novidade também não passou despercebida por quem quer apenas ganhar com eventuais altas na cotação dos fertilizantes. “Miramos o produtor e atingimos o investidor”, diz Rafael Nezzi, CFO da Cibra.


Ele lembra que esse é um mercado novo para o setor rural, que passa por um processo de entendimento, mas acredita que a tecnologia veio para ficar. “Há um movimento de aculturamento do mercado. O relacionamento híbrido da parte digital e da parte humana, essa união dos dois mundos é muito positiva para o desenvolvimento do setor e está nos trazendo os melhores resultados”, observa. COMMODITIES DIGITAIS O mercado de criptoativos é novo e, como tal, descortina um universo de operações e termos próprios. Quando um ativo real é apresentado em forma digital para comercialização, ele se transforma em um token. Um dos mais notórios exemplos da chamada tokenização do agro é uma criptomoeda argentina para a negociação de soja, a Soya.

Criada pela empresa Agrotoken com a meta de transformar em ativos digitais o equivalente a 5% da produção agrícola mundial, a companhia investiu US$ 5 milhões na tecnologia blockchain no ano passado. O potencial da inovação chamou a atenção da filial argentina do banco Santander, que garantiu um aporte de US$ 225 milhões para criptomoedas rurais no país. O lançamento da Soya no Brasil estava previsto para abril. “Estamos aproveitando tecnologia e inovação para gerar novas soluções de negócios que facilitem a vida dos agricultores e ampliem suas oportunidades. Esta é a primeira vez que uma plataforma de serviços financeiros usa a tecnologia blockchain e criptoativos para expandir o mercado de crédito agrícola e desbloquear o potencial de negócios do agricultor”, comenta

CibraCoin, da fabricante de fertilizantes Cibra: inovação em um setor conhecido por ser conservador

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Mercado digital

o chefe de Agronegócio do banco, Fernando Bautista. A Agrotoken transforma em moedas digitais as cargas de soja depositadas em armazéns de parceiros, como a trading Cargill. Uma vez verificada a procedência do grão, a trading emite um certificado que, depositado na plataforma da Agrotoken, é convertido em uma quantidade correspondente em Soyas. O produtor pode optar entre guardar e esperar a valorização da moeda – que varia conforme a cotação da soja no mercado internacional – ou usá-la para fazer negócios com empresas parceiras. No Brasil, a cooperativa

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Minasul também já colocou no mercado a Coffee Coin, cujo valor de face equivale a 1 quilo de café verde no padrão commoditizado. E mais lançamentos devem ocorrer em breve, como a moeda Btracer, prevista para maio. “Serão emitidos 990 milhões de Btracer na Flow BTC [uma das bolsas de criptomoeda]”, revela o empresário Expedito Belmont. A companhia tem uma carteira de diversos produtos, como o Café Montueira, de Minas Gerais, queijo da Serra da Canastra (em fase de prospecção) e Amazônia Smart Food (açaí, hambúrguer vegano etc.). A meta é tokenizar o resultado do trabalho de cerca de 250 mil produtores rurais ligados

à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). “Você colocou R$ 1.000 num café de alta qualidade de Minas Gerais. Se usa a Btracer, você tem a auditoria e o relatório. O lastro é a operação. Quanto mais operações, de acordo com as culturas, o valor do token aumenta”, conta Belmont. “O produtor que está usando a Btracer tem nossa auditoria para o B2B. Ele também poderá comprar os tokens via fóruns ou outras empresas”, acrescenta. A BTracer utiliza tecnologia baseada na Cryptomiles, da fabricante de automóveis elétricos Tesla – com a qual o motorista


acumula tokens conforme conduz o veículo. A capitalização de mercado do novo token é estimada em R$ 99 milhões, ou 10% da emissão total de moedas. “O que for capitalizado é rateado entre os parceiros. É como se fosse um fundo. Um crowdfunding de criptoativos”, observa Belmont. O investimento pode ser feito em três minutos, de acordo com ele. Na outra ponta, permite o alavancamento financeiro do produtor e, numa eventual escassez de crédito bancário, substitui o déficit de dinheiro público ou privado. “Uma vez digitalizado, o crédito fica disponível. A gente pega tecnologia muito pesada, complexa e bota na mão do pequeno e médio produtor. Transforma em criptomoeda”, frisa o empresário. CAMPO FÉRTIL A tokenização do agro é vista como uma das grandes tendências do setor para os próximos anos. A tecnologia blockchain já tem sido usada na desburocratização de vários processos contratuais e

financeiras no setor e, com sua popularização, sua utilização para simplificar operações como barter ou hedge para preços de insumos deve crescer de forma exponencial. “O mercado financeiro está para a tokenização assim como em 2012 os consumidores estavam para os novos smartphones. Nos próximos três anos, o mercado de modo geral estará 100% tokenizado”, prevê Cássio Krupinski, fundador da BlockBR. A empresa é um braço da CriptoValey, considerada o Vale do Silício das criptomoedas, na Suíça. “Se você hoje tem empresas com tokens distribuídos dentro da B3, o mercado tradicional é igual água e óleo, não se mistura, tem outros sistemas de lastro e organização. O mercado financeiro sempre criou siglas que complicam, por isso 95% da população não investe”, analisa Krupinski. Segundo ele, as criptomoedas vieram para facilitar a relação da população com as finanças profissionais. “O blockchain é como se fosse um livro-razão de forma extremamente segura e eficiente, com regras claras para

o investimento. É imutável. Nunca houve hackeamento de blockchains de criptoativos desde 2008. Uma criptomoeda nasce de uma blockchain ou é um token. O que rege a regra de um contrato é um smart contract”, define o especialista. A BlockBR trabalha com 16 clientes em cinco diferentes segmentos, como mineração e imobiliário. Está começando a trabalhar no agronegócio. “O agro precisa de soluções antes de ser tokenizado, a não ser que sejam tokens para substituir CRIs, CRAs e CPRs, porque é um mercado muito tradicional. Para criar uma cultura digital na cabeça de fazendeiros, ainda vai levar um tempo”, diz Krupinski. Para o executivo, a tokenização faz sentido para tudo o que se refere a recebíveis para o agro. “O que ainda é muito nebuloso para o agro é que as empresas do setor precisam pensar em soluções em blockchain antes de tokenizar”, ele diz. A criação de regras para cada ativo faz parte do processo, permitindo a criação dos tokens. A porteira digital está aberta. PLANT PROJECT Nº30

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QUEM SEMEIA CONTEÚDO COLHE MILHÕES Como a plataforma americana AgFunder transformou um site jornalístico sobre inovação, alimentos e agricultura em um influente fundo que ajudou a moldar a cadeia agtech em todo o mundo Por André Sollitto

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foto: divulgação

Robô Solix, lançamento da Solinftec, de Araçatuba: primeira brasileira a receber aporte do Agfunder PLANT PROJECT Nº30

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AgTech

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ormalmente, as corretoras e bancos de investimento costumam criar suas plataformas, captar recursos para seus fundos e ampliar a carteira de clientes para só então investir na produção de conteúdo. Basta ligar a TV para ver propagandas de cursos de educação financeira, consultores e coaches de investimentos de alguns dos nomes mais importantes do mercado. Mas no setor de inovação para a agricultura, foi preciso inverter a lógica. Foi assim que o AgFunder, hoje a principal referência em agtech, apostou primeiro na informação para só depois levantar os recursos necessários para um fundo de investimento. Há cerca de dez anos, agtech não era nem mesmo uma expressão conhecida pelos investidores e empreendedores. Foi assim que surgiu, nos Estados Unidos, o AgFunder News, um portal de conteúdo sobre o mundo da alimentação, agricultura e inovação focado no campo. A tese de um de seus fundadores, o

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empreendedor Rob Leclerc, era tornar o setor de produção de alimentos empolgante para o público das cidades, especialmente do Vale do Silício. Assim, quem sabe, seria possível convencer os investidores a colocar dinheiro em um fundo voltado exclusivamente para o setor agtech. “Primeiro levantamos um fundo de amigos e familiares de US$ 2,5 milhões”, disse ele em entrevista ao TechCrunch, referência na cobertura de inovação e empreendedorismo. “Cinco meses depois, precisávamos de mais dinheiro, então levantamos US$ 2 milhões. E, seis meses depois, levantamos US$ 5 milhões.” A base de assinantes dos boletins de AgFunder foi fundamental nessa hora. Ele expunha suas necessidades e os leitores acreditavam em suas ideias. “A crença de que sabemos o que estamos fazendo e podemos identificar as empresas iniciaram muitas conversas que não teríamos de outra forma e isso se tornou uma vantagem estrutural.” “Leclerc é um dos monstros do ecossistema agtech do mundo. Ele criou um portal de conteúdo verticalizado altamente especializado que foi muito pioneiro”, afirma Francisco Jardim, sócio-fundador da SP Ventures. “Ele persistiu. Demorou para escalar, demorou para dar certo, como toda ideia mais inovadora e modelo mais controverso. Mas foi assim que ele construiu um ecossistema a partir de um conteúdo de altíssimo nível”, diz Jardim. Hoje, o site, conhecido apenas como AFN, conta com mais de 4 mil textos sobre o ecossistema, e sua newsletter semanal tem mais de 90 mil assinantes.


Para começar, Leclerc não é apenas um empreendedor. Tem um mestrado em ciência da computação pela Universidade de Calgary, no Canadá, e um Ph.D. em biologia computacional de Yale, uma das mais prestigiosas dos Estados Unidos. Ou seja, suas credenciais acadêmicas são sólidas. Seu sócio, Michael Dean, havia trabalhado com ele no setor agrícola do oeste africano por anos. Ambos conheciam a realidade do campo, não eram apenas aventureiros no setor. Isso foi fundamental para dar consistência e credibilidade à plataforma. O portal também oferece uma visão global sobre o setor. Além do óbvio foco no Vale do Silício, de onde surgem inovações como as proteínas à base de vegetais de hoje gigantes como Impossible Foods, o site cobre o Sudeste Asiático, a América do Sul, a África e a Europa com o mesmo cuidado. Além disso, divulga

periodicamente relatórios sobre investimentos em áreas ou mercados específicos. Assim, investidores e empreendedores sabem onde estão as novidades com maior potencial, quanto cada startup está recebendo e o estágio de maturidade de cada setor do ecossistema. É um panorama extremamente detalhado. Embora seja de fato ousada, a estratégia de Leclerc não é totalmente inédita e foi inspirada em outros casos anteriores. O site TechCrunch foi criado por Michael Arrington, que posteriormente se lançou em uma carreira como investidor. Podcasts, como o londrino Twenty Minute VC, de Harry Stebbings, e newsletters, como a This Week in Fintech, de Nik Milanović, serviram de base para que seus fundadores passassem a, de fato, investir em negócios que considerassem disruptivos. Mas o plano vem dando certo. E, assim, aos poucos, o

Leclerc e a página do AgFunder News: as notícias abriram as portas do mercado para o fundo

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O time da AgFunder e equipamento da Bear Flag, adquirida pela John Deere: lucros em larga escala

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AgFunder começou a levantar recursos para seus fundos. O início foi modesto, com US$ 2,5 milhões arrecadados entre amigos e familiares. Depois de cinco meses, precisaram de mais dinheiro para investir, e captaram outros US$ 2 milhões. Um tempo depois, foram mais US$ 5 milhões. No final de maio, anunciou a captação de US$ 60 milhões para o Fund IV, que conta com aportes do Norinchukin Bank, instituição japonesa com US$ 1 trilhão em ativos no setor de agricultura e piscicultura, e o family office europeu Nest, focado em soluções climáticas. A meta é alcançar US$ 100 milhões até o meio do ano. Com os recursos, vai expandir ainda mais seu portfólio, que já conta com 45 startups de vários cantos do planeta e está repleta de apostas certeiras. É o caso da Bear Flag Robotics, empresa americana que cria soluções

para tratores autônomos e em 2021 foi vendida para a gigante John Deere por US$ 250 milhões. Outra investida, a Root AI, com foco em robótica para a produção de alimentos em ambientes controlados, foi comprada pela AppHarvest por US$ 60 milhões no ano passado. E a Greenlight Biosciences, cuja solução de biotecnologia é centrada em pesquisas com RNA, foi listada publicamente por US$ 1,5 bilhão em uma fusão com a Environmental Impact Acquisition Corp., uma SPAC (Special Purpose Acquisition Company, companhias do “cheque em branco” que captam dinheiro de investidores justamente para fusões, acelerando o processo de IPO). Outros exemplos interessantes incluem a MycoWorks, que desenvolveu uma alternativa vegetal ao couro, feita com o micélio encontrado em cogumelos,


AgTech

e a Jüsto, um marketplace de alimentos frescos que quer assumir o protagonismo do setor na América Latina. Há ainda aportes em companhias da Austrália, Índia, Reino Unido, Japão e México, entre outras. Outro destaque é a Solinftec, expoente da agricultura digital no Brasil e no mundo. Principal candidata do setor nacional ao posto de unicórnio (como são chamadas as startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão), a Solinftec tem uma plataforma de monitoramento de cada etapa da produção. No Brasil, é usada em cerca de 80% das lavouras de cana. Em 2020, a empresa mudou o comando para os Estados Unidos como parte de uma estratégia de internacionalização. Neste ano, anunciou uma parceria com a cooperativa agrícola americana Growmark para desenvolver um robô que será conectado à plataforma de inteligência artificial da Solinftec para monitorar a lavoura diretamente do campo, identificando doenças e apontando onde é necessário aplicar defensivos. Em geral, o tíquete médio dos investimentos fica em torno de US$ 500 mil e o foco é em empresas early stage, ou seja, ainda amadurecendo. Mas há casos de cheques maiores. No final de março, o AgFunder liderou uma rodada de US$ 3 milhões na Umaro Foods, uma empresa com sede em Berkley, na Califórnia, criada em 2019 e

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que oferece uma versão vegetal de bacon produzida a partir de uma proteína vermelha extraída de algas cultivadas. Cada investimento é devidamente divulgado no site, junto com um texto de Leclerc explicando por que eles decidiram fazer o aporte em cada companhia. “O que o modelo do Rob Leclerc e do AgFunder ensina é que o investimento em agtech tem uma densidade de ciência mais profunda que outras verticais”, afirma Francisco Jardim. “Então, o conteúdo é muito importante para disseminar, popularizar e gerar massa crítica por trás de conceitos muito mais científicos, como as proteínas criadas em laboratório, soluções para mensuração de carbono no solo, entre outras teses”, afirma o investidor.

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Patrocínio

MAIS ENERGIA PARA A PAZ Abertura de Safra Santander DATAGRO: Guerra é mais um fator que evidencia necessidade de avanços para descarbonização da economia global Por Ronaldo Luiz 102


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guerra no Leste Europeu, que entre alguns de seus componentes-chave revela a ainda dependência global de combustíveis fósseis – no caso, o fornecimento de petróleo e gás provenientes da Rússia, sobretudo para o continente europeu – é mais um fator que evidencia a necessidade de o mundo avançar na busca por uma economia descarbonizada, ou seja, mais verde, amigável ao meio ambiente. Esta foi a mensagem central do Santander DATAGRO Abertura de Safra de Cana, Açúcar e Etanol 2022/23, evento realizado no dia 9 de março passado, em Ribeirão Preto (SP), e que contou com a participação do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. E, na prática, o Santander DATAGRO Abertura

de Safra deu exemplo, já que marcou a viagem inaugural de ônibus para transporte coletivo urbano da fabricante Scania, que é movido a biometano e/ ou gás natural. A viagem experimental fez o traslado dos participantes da cerimônia de abertura, da prefeitura de Ribeirão Preto até ao local do evento. De acordo com os presentes, entre autoridades, dirigentes do setor sucroenergético, executivos do segmento, produtores de cana, usineiros etc., o conflito na Europa é mais um fato que, combinado às mudanças climáticas, acentua o desafio de que o mundo precisa acelerar a transição energética em direção a fontes limpas e renováveis, e que o Brasil é protagonista nessa questão, além, obviamente, de ser grande player na produção de alimentos. Um dos participantes da solenidade de abertura, PLANT PROJECT Nº30

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o diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão, ressaltou que, além da necessidade de diversificação de fontes energéticas, o mundo precisará também, a partir de agora, se ater cada vez mais à origem da energia, considerando questões geopolíticas globais. Em sua exposição, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, disse que o Brasil está apto a receber elevados volumes de investimentos em projetos “verdes”, já que o País é o que mais apresenta diversidade de rotas para descarbonização. Segundo o ministro, já existem recursos disponíveis nesta temática, originários do Fundo do Clima e do banco dos Brics. Considerando a busca por uma mobilidade cada vez mais sustentável, Leite pontuou que não existe um modelo único, e que a escolha terá que levar em conta a fonte energética e a região do mundo. O carro elétrico, por exemplo, não será uma realidade imediata para todos os países. O Brasil, destacou, 104

tem toda a infraestrutura de bicombustíveis [etanol, biodiesel, os avanços com biometano/ biogás etc.], com entregas já consolidadas de oferta, preço e, claro, ambientais. O ministro adiantou que o governo federal desenvolve propostas para viabilizar a criação de um mercado de carbono nacional, que fomente a redução de emissões de gases de efeito estufa e simultaneamente gere créditos de carbono verdes, inclusive advindos do biometano. Estes papéis poderão ser negociados e utilizados na prática como ativos ambientais-financeiros do Brasil. “Poderemos exportar estes créditos.” O presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, cumprimentou o ministro ao ressaltar que seu mandato vem combinando as necessárias políticas de comando e controle com medidas de estímulo às soluções sustentáveis. Ao destacar o RenovaBio, a superintendente executiva da Agro Corporate do Santander, Caroline Perestrelo, lembrou


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que o banco foi pioneiro nas escriturações dos Certificados de Créditos de Descarbonização (CBios), peça-chave da Política Nacional de Biocombustíveis, e que a instituição financeira mantém 65% de participação nesse mercado de escrituração. “O RenovaBio é exemplo de modelo de mercado de carbono, e o Brasil é um celeiro de crédito de carbono”, frisou, antecipando que o Santander está preparando o lançamento de novas linhas de financiamento “verde” dedicadas ao setor sucroenergético. Entre os participantes da cerimônia, destaque, ainda, para a presença do deputado federal Arnaldo Jardim, também presidente da Frente Parlamentar de Valorização do Setor Sucroenergético; do prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira; do secretário da Agricultura de São Paulo, Itamar Borges; da deputada federal Aline Sleutjes, presidente da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados; do vice-presidente do Corporate Santander Brasil, João de Biase; do presidente do SebraeSP, Tirso Meirelles; do presidente do Siamig e do Fórum Nacional Sucroenergético, Mário Campos etc. Todos foram recepcionados pelo anfitrião, o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, que comandou os trabalhos. Confira mais destaques do Santander DATAGRO Abertura de Safra de Cana, Açúcar e Etanol 2022/23:

CHINA DEVE CONTINUAR COMO PRINCIPAL MERCADO PARA O AÇÚCAR BRASILEIRO

A China deve continuar como principal mercado para o açúcar brasileiro, já que a demanda local deve se manter acima da produção doméstica do país asiático, destacou o chefe da divisão de açúcar da unidade nacional da Cofco, trading de origem chinesa, Maurício Sacramento. O diretor-geral da Sucden Brasil, Jeremy Austin, analisou que a tendência de elevação do custo da energia na Europa, em razão dos desdobramentos da guerra no leste do continente, pode impactar nas despesas da produção do açúcar na região, que é baseado no cultivo da beterraba. Além disso, segundo ele, a valorização de commodities como milho e trigo pode fazer com que produtores do velho continente troquem o plantio da beterraba pelo de grãos, numa espiral que favoreceria a competitividade do açúcar originário da cana nos mercados internacionais. Por outro lado, o analista ressalvou que o custo logístico [frete marítimo], também em alta mundialmente, é um fator que joga contra o adoçante brasileiro. MERCADO DE CAPITAIS AVANÇA COMO VIA FACTÍVEL DE FONTE DE CRÉDITO E FINANCIAMENTO PARA O AGRONEGÓCIO

O mercado de capitais, em especial com a expansão dos

Fiagros, avança como alternativa factível de fonte de crédito e financiamento privado para o agronegócio. Atualmente, existem 18 Fiagros registrados na B3, que levantaram aproximadamente R$ 4,3 bilhões aos emissores. Segundo os participantes deste painel de crédito, entre os quais o sócio e diretor de investimentos da Vectis Gestão, Laercio Boaventura, e o diretor do banco de desenvolvimento Proparco, Guilherme Meira, as operações/negócios agrícolas com padrão ESG, ou seja, com indicadores positivos no tocante a critérios sociais, ambientais e de governança, são as que têm maior potencial para captação de recursos privados, seja diretamente [fundos de investimento, por exemplo], seja via mercado de capitais. Nesse sentido, salientou o superintendente da área de açúcar e etanol da Marsh McLennan Brasil, Luciano Cardoso, o setor sucroenergético está bem posicionado na temática ESG. ÍNDIA VAI INVESTIR NO ETANOL

O embaixador da Índia no Brasil, Suresh Reddy, afirmou que o país asiático tem um plano ambicioso para aumentar o uso de etanol, com foco em ganhos ambientais e também de geração de emprego e renda localmente. O diretor-geral da Indian Sugar Mills Association (Isma), Abinash PLANT PROJECT Nº30

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Verma, revelou que o objetivo do governo indiano é que a mistura de etanol na gasolina salte dos atuais 10% para 20% até 2025. NOVAS ESTIMATIVAS DA DATAGRO PARA SAFRA 2022/23

O presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, divulgou as mais recentes estimativas para a safra de cana no ciclo que se inicia, correspondente à temporada 2022/23. Mesmo diante das projeções de irregularidades climáticas, a produção de cana no Centro-Sul tem potencial para chegar a 562 milhões de toneladas, contra 525 milhões da safra anterior. No caso do açúcar, o volume produzido deve alcançar 33 milhões de toneladas, levemente superior ao montante de 32,1 milhões do ciclo passado. Já a produção de etanol, incluindo o proveniente do milho, deve atingir 29,8 bilhões de litros, superando os 27,7 bilhões da safra anterior. Já para a região Norte/ Nordeste, os números apontam para uma colheita de 53 milhões de toneladas de cana na safra 2022/23, contra 52,5 milhões da temporada passada. A produção de açúcar deve apresentar ligeiro aumento, passando de 3 milhões de toneladas no ciclo 2021/22 para 3,1 milhões na safra 2022/23. Ademais, o volume produzido de etanol, também incluindo o originário do milho, está previsto em 2,2 bilhões de litros frente 2,1 bilhões da temporada passada. 106

PAINEL DESTACOU BENEFÍCIOS DA FERTILIZAÇÃO ORGANOMINERAL PARA SETOR SUCROENERGÉTICO

A dependência do agronegócio brasileiro da importação de fertilizantes nunca foi tão clara e discutida como agora, em particular após o início do conflito no Leste Europeu, importante região produtora e fornecedora de matérias-primas para fabricação de adubos. As sanções sobre a Rússia, e que anteriormente já haviam sido aplicadas a Belarus – outro importante fornecedor –, irão comprometer o comércio internacional destes países. Além disso, interrupções nas rotas marítimas na região também têm potencial para prejudicar o fluxo de navios, e consequentemente a entrega de produtos, como os fertilizantes. Atualmente, o Brasil é o quarto consumidor global de adubos e é o maior importador mundial. Importamos cerca de 80% de todo o fertilizante usado na produção agrícola nacional. No caso do potássio, o percentual importado é de cerca de 95%. A Rússia é responsável por fornecer cerca de 25% dos fertilizantes para o Brasil. Em paralelo, o agro brasileiro vem buscando alternativas à dependência dos insumos [nitrogênio, fósforo e potássio – conhecidos na sigla em inglês por NPK] para fabricação de fertilizantes,


que além de tudo são de origem fóssil, investindo na expansão de tecnologias de adubação biológica e organominerais. O tema foi destaque em painel sobre a Agrion. Liderada pelo empresário Ernani Judice, a empresa é especializada na fabricação de fertilizantes organominerais a partir, por exemplo, da combinação de resíduos das usinas de açúcar e etanol, como a torta de filtro, com micronutrientes e determinadas quantidades de NPK. Após análises físicas, químicas e biológicas, explicou Judice, essa mistura é enriquecida biologicamente com bactérias e fungos, desencadeando uma “compostagem bioacelerada”, que irá gerar um adubo organomineral de elevado potencial de fertilização. De acordo com o empresário, o fertilizante especial é encapsulado sob o formato de um pellet de matéria orgânica, que naturalmente por si só já aduba o solo e simultaneamente contribui para a liberação gradual

dos demais nutrientes minerais, aumentando a absorção pelas plantas, bem como reduzindo perdas e contaminações. “A composição do pellet, ou seja, se vai mais ou menos matéria orgânica, pode ser customizada por cultura e, até o momento, em lavouras de cana-de-açúcar, temos registrado ganhos comprovados de produtividade em torno de 20%.” Judice pontuou que, além de promover uma destinação ambientalmente correta para resíduos e sobras do setor sucroenergético, o modelo de negócios de fertilizantes organomineral desenvolvido pela Agrion entrega o produto com custo menor e ainda abre a possibilidade de uma nova fonte de receita para a usina. BIODEFENSIVOS TÊM POTENCIAL PARA REDUZIR PEGADA DE CARBONO DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS

O uso de biodefensivos para proteção de cultivos também tem potencial positivo para redução da pegada de carbono

das atividades agrícolas, exatamente pelo fato de diminuir a necessidade da aplicação de produtos químicos, que têm como alguns de seus ingredientes básicos insumos de origem fóssil. Foi o que destacou o diretor comercial da Koppert Biological Systems, Gustavo Herrmann. Segundo o executivo, as oportunidades para o Brasil neste segmento são gigantescas, devido, sobretudo, à biodiversidade presente em nosso território, matéria-prima básica para o desenvolvimento de novas tecnologias. O professor do Departamento de Genética da Esalq-USP, Mateus Mondin, ressaltou que, além de acarretar em queda nos custos de produção, o uso de biodefensivos pode também funcionar como um ativo financeiro para os negócios agrícolas. Isso porque, de acordo com Mondin, cultivos protegidos com estes produtos podem ser elegíveis para obtenção de certificações “verdes”, e assim passarem a ser reconhecidos financeiramente pelo mercado. PLANT PROJECT Nº30

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M MARKETS

DATAGRO Markets

A CRISE NA UCRÂNIA E A DEPENDÊNCIA POR IMPORTAÇÃO DE FERTILIZANTES Po r Pl i n i o N a s t a r i

O conflito na Ucrânia trouxe consigo, antes de tudo, uma trágica tragedia humanitária. Mas, também, impactos significativos à segurança no suprimento e aos preços de energia, metais de commodities agrícolas fornecidas pelos países envolvidos no conflito. A Rússia é o maior produtor de petróleo e gás do mundo, e embora as sanções dos EUA e Europa ainda não tenham incluído restrições completas ao comercio desses energéticos, o preço do petróleo reagiu imediatamente. Além do que, a recusa pela União Europeia de comissionamento do gasoduto Nordstream-2 ligando Rússia à Alemanha, contribuiu para trazer mais incertezas a esse mercado. Os Estados Unidos já haviam aumentado suas exportações de gás natural para parceiros na Europa no final de 2021, devido às complicações climáticas que elevaram o preço do produto. Com a invasão russa à Ucrânia, o suprimento europeu ficou ainda mais escasso, já

que a Rússia era responsável por 40% do gás natural utilizado na Europa. A Rússia reduziu o fornecimento de gás natural para focar no abastecimento do seu mercado interno durante o ataque à Ucrânia, intensificando a decisão como resposta às sanções impostas por Estados Unidos, União Europeia e aliados. Além disso, o governo russo declarou que os pagamentos de gás natural deverão ser feitos em rublos e através de contas no banco estatal da Gazprom, dificultando as transações com países europeus. A medida passou a valer a partir de abril, e os contratos não pagos em rublos serão interpretados como calotes pelo governo russo. A alta do gás elevou o preço de energia elétrica no continente europeu, levando fábricas de fertilizantes a suspenderem parte de suas atividades. Além da geração de energia, o gás natural também é um importante insumo na produção de fertilizantes

nitrogenados. Rússia e Ucrânia são também grandes exportadores de trigo e óleo de girassol, substituto do óleo de soja. Como consequência, os preços de trigo, soja e milho sofreram impactos significativos, afetando o custo de alimentos e de operação de toda a cadeia de proteína animal. Por serem, Rússia e seu aliado Belarus grandes fornecedores de fertilizantes, o seu suprimento passou por uma grande reviravolta, com os principais produtores agrícolas buscando assegurar sua originação no Canadá, China, Marrocos e Egito. Segurança energética e alimentar passou a dominar a preocupação de países em todo o mundo.

!"#$%&'()"#!*&"%$$*+,*&#-./",01!#*&)*&2%"*34/& Nos& últimos 20 anos no& )#$,"#56()*&)%&%1%"2#*&)%&5#/-*$$* %&"%$()6/$

Brasil, houve um aumento de 300% na demanda por fertilizantes como reflexo do crescimento da produção agrícola nacional. Entretanto, no mesmo período, a produção nacional de fertilizantes caiu em cerca

Plinio Nastari é presidente da DATAGRO e do IBIO, Instituto Brasileiro de Bioenergia e Bioeconomia.

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de 30%, tornando o país cada vez mais dependente de importações, chegando a importar 90% dos fertilizantes usados em 2021. Com a crise no fornecimento de fertilizantes, a reação do governo brasileiro foi imediata, e a até recentemente ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Tereza Cristina, indo ao Canadá para reforçar laços de comércio envolvendo esses produtos, o que trouxe como resultado o anuncio de empresas canadenses do ramo de que irão aumentar sua produção para tentar suavizar os problemas decorrentes da crise. O Canadá é o principal produtor global de potássio, produzindo 22 milhões de toneladas por ano. Em 2021, o Canadá exportou 4,16 milhões de toneladas de potássio para o Brasil, o que representou 31,6% da importação brasileira do insumo, colocando-o como terceiro maior exportador de fertilizantes para o Brasil, atrás da Rússia e da China. Após acordos com o MAPA, o Canadá concordou em aumentar seu envio em 1 milhão de toneladas, tornando o Brasil o seu maior cliente. Nos EUA, o Departamento de Agricultura (USDA) planeja investimento de US$ 250 milhões para

estimular a produção nacional de fertilizantes, na tentativa de reduzir a dependência de produtos estrangeiros. Os Estados Unidos são responsáveis por cerca de 10% do consumo mundial de fertilizantes, sendo o terceiro maior comprador global, importando 93% do potássio que utilizam, principalmente do Canadá, da Rússia e de Belarus, 9% do fósforo, vindo do Marrocos e de Israel, e cerca de 12% dos nitrogenados aplicados na produção, com origem no Canadá e em Trinidad e Tobago. Em meio a toda essa turbulência, o Brasil vem estudando medidas que possam favorecer a produção nacional, seguindo diretrizes do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), publicado em março, mas que já estava em discussão desde novembro de 2021. Além de incentivos fiscais, o PNF lançou a Caravana da Embrapa FertBrasil, para divulgar conhecimento e tecnologias, com o objetivo de aumentar a eficiência do uso de fertilizantes no Brasil, minimizando o impacto do aumento de preços.

para o Brasil, visto que representou 27,4% do nosso PIB em 2021, e para o mundo. Essa dependência foi construída como resultado de isenções às importações, e a concomitante tributação da produção nacional. Em um momento de elevação drástica de preço não se deve cogitar tributar a importação de fertilizantes, mas a medida mais eficaz para estimular o desenvolvimento de nossas expressivas reservas minerais de fósforo e potássio, e o aproveitamento das nossas abundantes reservas de gás natural para a produção de nitrogenados, seria a garantia de isenção de tributos para a produção nacional nos próximos dez anos.

M MARKETS

No entanto, é preciso reconhecer que a dependência brasileira por importações de fertilizantes coloca em risco a agropecuária nacional, estratégica

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