Para quem pensa, decide e vive o agribusiness A ECONOMIADASOJA O pequeno grão já vale meio trilhão e é o principal pilar do desenvolvimento do país AGRICULTURA REGENERATIVA O QUE É VERDADE E O QUE NÃO É NOS RUMORES DE NEGOCIAÇÃO DE UMA DAS MAIORES FAZENDAS DO BRASIL HORTA CONECTADA AS STARTUPS QUE ESTÃO ELIMINANDO OS ATRAVESSADORES E LEVANDO TECNOLOGIA AO PEQUENO PRODUTOR FRONTEIRA COMO O CACAU SE TORNOU O VETOR DE PRESERVAÇÃO E RENDA PARA AGRICULTORES NO PARÁ PLANT TALKS SUSTENTABILIDADE, CRÉDITO, SEGUROS E OUTROS TEMAS EM QUATRO ENTREVISTAS ESPECIAIS AGRONEJO QUEM SÃO OS ARTISTAS QUE TRANSFORMARAM A DEFESA DO CAMPO EM SUCESSO MUSICAL venda distribuiçãoproibidadirigida www.plantproject.com.br
Para
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Mais do que cultivar alimentos, o campo produz desenvolvimento. quem está longe ou perto, é nele que tudo começa. É lá que se colhe a história e se planta o futuro, é o lugar em que a evolução vem da inovação, conectando a terra e a tecnologia ao nosso dia a dia. E, assim como a natureza interliga todos os lugares e as pessoas, nós também construímos pontes para um amanhã muito mais harmônico. pelo campo. Juntos pelo futuro croplifebrasil croplifebrasiloficial
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3PLANT PROJECT Nº32 Fotografia: Mário Castello
Luiz Fernando
Esta edição que você lê agora foi concluída em simultâneo com o início ofi cial das campanhas dos candidatos para as eleições presidenciais de 2022.
As chapas estão escolhidas, a temperatura política está alta, mas, até esse este momento, de agronegócio pouco se falou. Pelo menos no que se refere a propostas concretas para o setor, nada se ouviu de nenhum dos candidatos. Espera-se que, ao longo das próximas semanas, o tema entre na pauta. E, de preferência, sem viés partidário ou ideológico. O agro, maior atividade econômica do Brasil, deve estar fora do âmbito de polarização pré-eleitoral.
O DOPARTIDOAGRO Editorial Para
Diante da sua dimensão socioeconômica, não é exagero dizer que ter uma plataforma clara para o agronegócio significa endereçar os principais temas da atualidade no paísPaís. Emprego, inflação, ambiente, mudanças climáti cas, industrialização (sim, ela passa pelo campo). O exemplo da soja, tratado em reportagem nessa nesta edição, mostra de forma inequívoca como as atividades agropecuárias impactam no desenvolvimento do paísPaís. Ape nas a imensa cadeia produtiva associada ao cultivo e ao processamento do grão movimentaram, em 2021, cerca de R$ 580 bilhões, o equivalente a 6,7% do PIB nacional, segundo estudo realizado em conjunto pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultu ra Luiz de Queiroz (Esalq-USP).
A ECONOMIADASOJA O pequeno grão já vale meio trilhão e é o principal
pilar do desenvolvimento do país AGRICULTURA REGENERATIVA O QUE É VERDADE E O QUE NÃO É NOS RUMORES DE NEGOCIAÇÃO DE UMA DAS MAIORES FAZENDAS DO BRASIL HORTA CONECTADA AS STARTUPS QUE ESTÃO ELIMINANDO OS ATRAVESSADORES E LEVANDO TECNOLOGIA AO PEQUENO PRODUTOR FRONTEIRA COMO O CACAU SE TORNOU O VETOR DE PRESERVAÇÃO E RENDA PARA AGRICULTORES NO PARÁ PLANT TALKS SUSTENTABILIDADE, CRÉDITO, SEGUROS E OUTROS TEMAS EM QUATRO ENTREVISTAS ESPECIAIS AGRONEJO QUEM SÃO OS ARTISTAS QUE TRANSFORMARAM A DEFESA DO CAMPO EM SUCESSO MUSICAL venda distribuiçãoproibidadirigida www.plantproject.com.br
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Não se deve olhar para essa pujança apenas com cobiça. O governante elei to deve compreender que o setor tem também suas fragilidades e que elas devem estar no radar de sua gestão. Ignorar pressões externas relacionadas às conexões ambientais do agro é expor nossa maior riqueza ao julgamento internacional. Ampliar o combate ao desmatamento e reforçar as forças res ponsáveis pela fiscalização ambiental, por sua vez, ajudará a desarmar com pradores externos, cada vez mais pressionados por consumidores a verificar a origem das commodities que adquirem. Não é bandeira para um ou outro partido. Preservar as matas é preservar empregos. Conservar a biodiversidade é conservar um clima apropriado à produção rural. Implantar uma política agroambiental é contribuir para o desenvolvimento do país País como um todo e garantir a perenidade do negócio que tem sido e pode continuar a ser a locomotiva do Brasil. Não é bandeira para um partido. É obrigação de todos. Sá Diretor Editorial quem pensa, decide e vive o agribusiness
6 plantproject.com.br Diretor Editorial Luiz Fernando luiz.sa@plantproject.com.brSá Diretor Comercial Renato MarketingLeiteePublicidade Multiplataforma renato.leite @plantproject.com.br Diretor Luiz Felipe Nastari Arte Andrea Vianna Projeto Gráfico e Direção de Arte Colaboradores : Texto: Amauri Segalla, André Sollitto, Evanildo da Silveira, Irineu Guarnier Filho, Lívia Andrade, Marco Damiani, Marusa Trevisan, Ronaldo Luiz. Fotos: Eduardo Scaravaglione. Design: Bruno Tulini Revisão: Rosi Melo Administração e Finanças Cláudia Nastari Sérgio publicidade@plantproject.com.brNunes Impressão e acabamento: Piffer Print EDITORA UNIVERSO AGRO LTDA. Calçada das Magnólias, 56 - Centro Comercial Alphaville – Barueri – SP CEP 06453-032 - Telefone: +55 11 4133 3944 Índice G GLOBAL pág. 7 A AGRIBUSINESS g pág. 17 F FORUM o pág. 71 F FRONTEIRA r pág. 75 W WORLD FAIR pág. 85 rA ARTE pág. 93 S STARTAGRO pág. 99 M MARKETS pág. 116
O docosmopolitaladoagro G GLOBALProtesto de produtores na Holanda: Qual o limite das exigências ambientais?
Na Holanda, maior produtor de hortaliças da Europa, por exemplo, produtores levaram seus tratores para ruas e estradas no mês de julho passado, provocando paralisações e transtornos que cruzaram suasTodofronteiras.essemovimento foi causado pelo anúncio, em 5 de julho, de uma nova meta RESTRINGEM ESQUENTA docosmopolitaladoagro
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E O CLIMA
HOLANDA
G GLOBAL O
É consenso que o agronegócio tem papel central nas discussões sobre redução de emissões de gases de efeito estufa e em políticas de mitigação das mudanças climáticas. Produtores rurais de todo o mundo sabem que eventos climáticos extremos, em frequência cada vez maior, trazem consigo perdas extremas para a produção agropecuária – e é o que tem acontecido em diversas regiões. Também já se espalham por vários países, em diferentes continentes, políticas ambientais mais duras exigindo medidas de redução de emissões nas propriedades rurais e impondo restrições severas, inclusive de crédito, a quem não se adequar a elas. A intenção é das melhores, mas o impacto sobre o setor nem sempre tem sido bem mensurado. E, em alguns casos, a dose das medidas tomadas ameaçou gravemente a saúde financeira dos produtores. O resultado foi que, em vez de aliados, os governos colheram protestos.
OS GOVERNOS
Produtores rurais de vários países do mundo protestam contra medidas que impõem exigências ambientais em excesso no campo
Quem não cumprisse as metas poderia ser excluído do sistema de crédito rural e estaria sujeito, em casos mais extremos, até mesmo à desapropriação de suas fazendas.Areação do setor agrícola foi imediata. Alegando estarem excluídos do debate que levou à adoção dessa oholandêscomodeeprotestosofertaderuraisquedadiretamenteoutrasmuitostodoelesregulamentaçãonovaambiental,organizaramprotestosemopaís,contando,emcasos,comoapoiodecategorias,queseriamatingidaspelanarendadosprodutoresoumesmocomaaltapreçoscausadapelamenordealimentos.OsduraramváriosdiasreceberamasolidariedadeprodutoresempaísesItáliaeEspanha.Arespostadogovernofoi,então,buscardiálogo.Aministrada
9PLANT PROJECT Nº32 de redução de 50% das emissões de nitrogênio e amônia até 2030. Isso exigiria empenho gigantesco de um grande número de produtores rurais holandeses, que teriam de fertilizantesdrasticamentediminuirousodenitrogenados e também seus rebanhos (em torno de 30% do número de animais).
Tensão na Holanda e convulsão em Sri Lanka: aoproduziramagrícolaspolíticasequivocadasprotestosredordomundo
Agricultura, Carola Schouten, anunciou que buscaria contato com associações e representantes de agricultores, assim como com organizações em práticas como agricultura alternativa, com o objetivo de propor alternativas viáveis para os agricultores. “Estamos trabalhando por um setor agrícola forte, de olho em um ambiente agrícola sustentável”, disse a ministra. O exemplo holandês repercutiu também fora da Europa. No Canadá, os tratores foram mobilizados em protestos contra um anúncio do primeiro-ministro Justin Trudeau de que pretende exigir uma redução de 30% das emissões de carbono das propriedades rurais. Nos Estados Unidos, houve reação a uma proposta da SEC (Securities and Exchange Commission), a reguladora do mercado de capitais nos Estados Unidos, para que as empresas de alimentos passem a reportar as condições de produção nos seus fornecedores, secando o crédito a quem não estiver de acordo com normas ambientais
Nenhumavigentes.reação foi tão intensa quanto a dos produtores de Sri Lanka, nação localizada ao sul da Índia que tem no cultivo do arroz e do chá sua principal atividade econômica. Lá, no dia 12 de julho, manifestantes invadiram o palácio presidencial e depuseram o governo de Gotabaya Rajapaksa, em resposta a sua tentativa de implantar uma nova política agrícola que proibia a importação de fertilizantes e agroquímicos, com o objetivo de tornar o país o primeiro do mundo a ter uma produção totalmente orgânica. O governo chegou a recuar das medidas, mas os poucos meses em que ficou em vigor provocaram quedas bruscas na produção e prejuízos aos agricultores. Cerca de 40% da safra de arroz ficou comprometida – também graças a problemas climáticos – e a inflação dos alimentos disparou, chegando a 80% em 12 meses. Com isso, a população aderiu aos protestos dos agricultores e a convulsão social gerou a queda do regime.
O mercado global de ácido cítrico é estimado em US$ 4 bilhões. Além disso, a tecnologia poderia ser exportada para países vizinhos, especialmente a Costa do Marfim, principal produtor mundial. Os primeiros testes confirmam as boas perspectivas.
Sexto maior produtor de caju do mundo, a Nigéria exporta 80% de sua produção. Os maiores clientes são Vietnã e Índia, que usam o fruto como insumo para a indústria de alimentos e até cosméticos. Mais de 600 mil nigerianos vivem do seu cultivo, mas a geração de riqueza ainda é pequena: apenas US$ 58 milhões por ano. Por isso, pesquisadores locais estão concentrados em dar novos usos à polpa do caju, muitas vezes descartada por seu baixo valor econômico. Eles acreditam que há grande potencial no uso de seu suco para a produção de ácido cítrico, muito usado pela indústria farmacêutica (na produção de medicamentos e na conservação de sangue), assim como na de alimentos e bebidas. Inflação, crise energética, guerra na Ucrânia... Há muitos problemas a preocupar os franceses. Mas tem um em especial que mexe com o humor deles: está difícil encontrar mostarda nos supermercados. A pasta amarela e de sabor forte é um dos condimentos favoritos, quase um símbolo em um país de gastronomia riquíssima. A mostarda de Dijon, na região da Borgonha, na França, é mundialmente reconhecida. A escassez, no entanto, vem de longe. Cerca de 80% das sementes utilizadas na produção da pasta vêm do Canadá – o processamento, sim, é feito em solo europeu. Uma onda de calor atípico no ano passado, porém, provocou uma quebra de cerca de 50% na safra das províncias canadenses de Alberta e Saskatchewan, maiores fornecedoras globais. Outra importante fonte das sementes é a Ucrânia, que também teve de interromper as entregas. As altas temperaturas afetaram também as lavouras francesas, particularmente na Borgonha, criando uma tempestade perfeita. A crise é tão séria que até mesmo chefs famosos estão usando redes sociais para pedir socorro a quem tiver alguma mostarda em estoque.
NIGÉRIA DERECICLAGEMCAJU
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FRANÇA A CRISE MOSTARDADA
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Agosto/2022
encostar é
Um dos grandes males dos tempos modernos é o excesso de uso – e sobretudo de descarte – de materiais plásticos. Redes de fast-food têm investido pequenas fortunas na busca de substitutos para pratos, copos, canudos e talheres. A primeira alternativa foi usar materiais biodegradáveis – mas que mesmo assim lotam lixões e ainda levam algum tempo para se decompor. A onda do momento é produzi-los com compostos comestíveis, adicionando um sabor extra às refeições. E aí a matéria-prima, em vez de vir de refinarias, sai de lavouras ao redor do mundo. Startups de vários países do mundo têm lançado no mercado produtosderivados de commodities agrícolas como arroz, tapioca, trigo, aveia ou cana e conquistado clientes como a Disney, entre outras, dando um novo tempero ao discurso da sustentabilidade. “Queremos revolucionar o jeito que comemos, substituindo o plástico usado uma única vez por talheres comestíveis”, afirma Dinesh Tadepalli, fundador da Incredible Eats, que produz colheres e garfos em sabores como chocolate ou chili com orégano. Confira algumas opções já consumidas (literalmente) ao redor do mundo.
12 G ESTADOS UNIDOS VOCÊ COME ATÉ OS TALHERES
- Canudos da Sorbos: a marca espanhola oferece oito sabores, incluindo gengibre, chocolate e canela, já degustados por visitantes da Disney, Busch Gardens e na rede americana Tropical Smoothie Cafes. O gosto dos canudos não passa para as bebidas. Só sente quem os morde. - Colheres da Incredible Eats: além de serem usadas por algumas cadeias de restaurantes nos Estados Unidos, podem ser compradas para uso doméstico em redes de lojas como T.J. Maxx, Marshalls e Home Goods. Na sua composição são usados trigo, aveia, milho, grão-de-bico e arroz - Copos da Cupffee: a tradicional marca italiana de cafés Lavazza adotou em suas lojas e anuncia que eles têm 56 calorias e continuam crocantes por 40 minutos.
- Copos da Good-Edi: empresa com sede em Melbourne, na Austrália, fabrica os copos com aveia e grãos. Duram até oito horas após o seu uso com líquidos quentes ou frios, mantendo a consistência e o sabor. Segundo anuncia, os australianos jogam mais de 1 bilhão de copos de plástico no lixo por ano.
- Canudos da Equs: a matériaprima varia conforme o sabor – cana, arroz, café ou tapioca –, para combinar com a bebida e dar um aroma especial. A especialidade da marca são produtos biodegradáveis (inclusive garfos, facas e colheres), mas os canudos podem ser digeridos também.
- Pratos da Biotrem: a marca é polonesa e combina produtos biodegradáveis (que se decompõem em menos de 30 dias com composteiras) e comestíveis, produzidos com farelo de trigo. Já são vendidos em mais de 20 países em cinco continentes.
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também a saúde e a produtividade dos animais”, dis Pedram Rezamand, professor de Ciência Animal e Veterinária. Em cinco anos de coletas de dados sobre doenças e mortes de vacas em duas fazendas de Ifaho e Washington, os pesquisadores registraram maior incidência de casos de mastite, infecções do úbere e até aumento de mortalidade entre bezerros quando os incêndios florestais elevaram o nível de partículas finas presentes no ar. Também encontraram alterações significativas nas células imunes e sinais de inflamação. Com as doenças mais presentes, a produção média de leite caiu de forma significativa, cerca de três litros a menos por dia por animal.
Com a busca de mais alternativas alimentares para uma população crescente, as algas marinhas entraram no radar de cientistas e das empresas. Várias espécies já foram introduzidas nas dietas de pessoas e até de rebanhos, mas o seu cultivo ainda exige maiores conhecimentos em áreas como a Durantepolinização.séculos, acreditava-se que ela ocorria meio que por acaso, dependendo do fluxo das marés. Um estudo recémpublicado na revista Science por pesquisadores do Centro Nacional para Pesquisa Científica da França revelou que a flora dos oceanos pode contar também com uma versão marinha das abelhas. O estudo mostra a ação de minúsculos crustáceos denominados Idotea balthica no transporte dos gametas masculinos (ou espermácias) de determinadas espécies de algas até as plantas femininas, num processo de polinização subaquática. A pesquisa também revelou que a participação de animais na reprodução das plantas é mais antiga do que acreditava-se. Os dados coletados pela ciência até então indicavam que os primeiros indícios de polinização datavam do período Mesozóico, há 140 milhões de anos. Agora, com as novas descobertas, essa o relógio foi reajustado para 550 milhões de anos.
14 FRANÇA AS ABELHAS DO MAR ESTADOS UNIDOS
Todos os anos, no verão, incêndios florestais consomem vastas áreas rurais nos Estados Unidos. A fumaça toma conta do ar e afeta a saúde de milhares de americanos, com aumento dos atendimentos por problemas respiratórios. Mas o que acontece com os rebanhos, expostos ao mesmo ambiente tóxico mas sem a opção de se refugiar em ambientes fechados e dotados de filtros de ar? Pesquisadores da Universidade do Idaho estão debruçados sobre essa questão e seus estudos preliminares já indicam que as consequências para eles podem ser grandes. “Acreditamos que, se está afetando os seres humanos, há uma grande chance de afetar
Onde háfumaçahánãoleite
15PLANT PROJECT Nº32
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Uísque caranguejosabor
A startup belga Paleo não tem limites para suas ambições. A empresa usa um processo de fermentação de precisão para transformar substâncias extraídas de vegetais em diferentes tipos de alternativas para carnes. De seus laboratórios já saíram substitutos para carnes bovinas, suína, ovina, de frangos e atum, sempre tendo como base o heme, uma proteína rica em ferro que está presente nos músculos das mais diferentes espécies e lhe confere um sabor único. Recentemente, porém, eles desafiaram a natureza de uma forma jamais vista, ao produzir uma versão plant based da carne de mamute, parente pré-histórico e gigantesco dos elefantes. “Podemos descrevê-la como mais carnuda”, tentou explicar Hermes Sanctorum, um ex-membro do Parlamento da Bélgica que hoje atua como CEO da Paleo. O sabor e o aroma são mais fortes que os de outros produtos já desenvolvidos pela companhia. Mas como eles chegaram à conclusão de que a carne de mamute, um animal extinto, se assemelha à sua versão vegetal? Aparentemente, a resposta pouco importa. Vale mais o marketing de mostrar que seus laboratórios podem ir longe – inclusive no tempo. O que você faz para acabar com uma espécie exótica que se tornou praga em sua região? Transforma em uísque! Foi essa a solução que uma destilaria da costa do estado americano de New Hampshire encontrou para combater a invasão de caranguejos verdes, que há quase dois séculos trazem riscos ao ecossistema marinho na região. Eles chegaram “de carona” em navios europeus, multiplicaram-se e atualmente alimentam-se de espécies nativas de mariscos e destroem habitats utilizados para a reprodução de peixes. Agora os americanos podem sentir um gosto de vingança ao beber o uísque Crab Trapper, da destilaria Tamworth, que passou a usar um caldo feito com os caranguejos como ingrediente da bebida. O caldo do cozimento dos crustáceos é destilado em um moderno alambique a vácuo. “Parece um equipamento de laboratório maluco”, afirma Will Robinson, desenvolvedor do produto. O caldo é temperado com especiarias como sementes de mostarda, coentro e canela e depois misturado a uma base de bourbon. A ideia é promissora, mas será preciso muita sede para exterminar a praga definitivamente.
BÉLGICA
fazemeEmpresaslíderesquediferença A AGRIBUSINESS g Soja pronta para ser colhida no Mato Grosso: O grão de meio trilhão
P or A m A uri S eg A ll A Empresas e líderes que fazem diferença Ag Como a cadeia produtiva do pequeno grão se tornou o principal pilar do desenvolvimento do País ao gerar riqueza e abrir incontáveis oportunidades de negócios A ECONOM
IA DA SOJA
20 U m pequeno grão com não mais do que 130 milímetros cúbicos de volume – algo como o tamanho de uma ervilha média – se transformou nos últimos anos num gigante brasileiro. Nenhum produto é capaz de rivalizar na geração de riqueza, na conquista de mercados mundo afora e na vocação para desenvolver ecossistemas inteiros de negócios. Não há equivalência quando se pensa em qualquer tipo de mercadoria, seja industrial ou nascida no campo, que tenha contribuído tanto para o surgimento de novas forças econômicas. No século 21, é impossível encontrar no Brasil qualquer correspondência em termos de importância comercial. Como se não bastasse, poucos alimentos – talvez nenhum – são tão completos. Nesse miúdo grão, escondem-se preciosidades como proteínas, carboidratos, vitaminas e outros nutrientes essenciais tanto para humanos quanto para animais. Graças a ele, bilhões de seres vivos alimentam-se com qualidade e outros tantos ganham a vida com dignidade. O milagre atende por um nome curto, mas de enorme presença na vida nacional: soja. Basta olhar com atenção para os números divulgados em junho pelo Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) para compreender a real dimensão do chamado “Complexo Soja”, que engloba o produto em grão, o farelo e o óleo. Em 2021, esse grupo respondeu por praticamente um quarto (ou exatos 22,9%) das exportações brasileiras, à frente de carnes (16,9%) e produtos florestais (14,1%). Ou seja: a soja lidera com folga as vendas nacionais para o exterior e é a principal provedora de divisas para a balança comercial.
Como um todo, o Complexo Soja consolidou no ano passado sua condição de pilar da economia brasileira. De acordo com um estudo realizado em conjunto pela Associação Brasileira das Indústrias
É QUANTO O COMPLEXO SOJA MOVIMENTOU NO BRASIL EM 2021
AgMatéria de Capa
de Óleos Vegetais (Abiove) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), as cadeias produtivas ligadas ao grão movimentaram no ano passado R$ 580 bilhões, o equivalente a 6,7% do PIB nacional. Não há nenhuma outra atividade econômica capaz de gerar, sozinha, tanta riqueza. Diversos estudos econômicos comprovam a vitalidade do grão. Recentemente, ele foi tema de um robusto levantamento realizado por Marcos Fava Neves, professor titular do curso de Administração da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto e especialista em agronegócio, a partir de dados relativos à safra 2020/21. O trabalho traz dados impressionantes. No período, o Brasil respondeu por 51% de toda a soja exportada no mundo – é a maior participação da história. “Portanto, significa que capturamos mais da metade do mercado global de soja”, pontua Neves. Em cifras, o Brasil vendeu R$ 179 bilhões em grão, farelo e óleo para 65 países, mais do que qualquer outra nação, inclusive os Estados Unidos, que até pouco tempo atrás lideravam essa disputa. Por dia, vendemos ao mercado internacional cerca de R$ 500 milhões. Por hora, algo como R$ 20 milhões.
R$ 580 BILHÕES
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No cômputo geral, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) estima que a soja seja responsável por aproximadamente 7,5 milhões de empregos diretos e indiretos no País, e esse número tem crescido em ritmo veloz.
Qual é o impacto do Complexo Soja para o mercado interno? Nesse aspecto, o estudo do professor Neves também traz informações surpreendentes. Ele diz que o investimento médio para se manter uma cultura de soja esteve em torno de R$ 2,7 mil por hectare, considerando sempre a safra 2020/21. Diante dos 39 milhões de hectares dedicados à soja no território nacional, significa que os produtores desembolsam, em um ano típico, pelo menos R$ 105 bilhões para dar vida às suas lavouras. O valor inclui gastos com toda a cadeia produtiva, incluindo compra de sementes e defensivos agrícolas e despesas com funcionários, entre outros. Para efeito de comparação, o número supera em dez vezes todo o faturamento do mercado de games no Brasil, um setor considerado de alto crescimento.Nãoésó.Nos últimos anos, tem sido cada vez mais comum a conversão de pastagens para a produção de soja. Neves estima que são necessários R$ 6,5 mil para transformar um hectare anteriormente usado como pastagem em uma área destinada para a soja. “Se você lembrar que o Brasil tem 1 milhão de novos hectares para soja por ano, podemos calcular que são aplicados R$ 6,5 bilhões no desenvolvimento de novas áreas”, afirma o professor. “É muita movimentação financeira que a soja traz para o Brasil.” Sob qualquer ângulo que se olhe, a soja é, de fato, imbatível como propulsora da economia brasileira. Recentemente, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) compilou dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) referentes a 2021. A agropecuária gerou 140,9 mil postos de trabalho no País, o maior saldo de vagas em uma década. O saldo de 2021 é quatro vezes superior ao registrado no ano anterior, quando o setor criou 36,6 mil vagas formais de emprego. Entre as atividades agropecuárias, as que mais contribuíram para a geração de empregos ao longo de 2021 foram, como tradicionalmente ocorre, o cultivo de soja (22,2 mil), bovinos para corte (21,6 mil) e a plantação de cana-de-açúcar (8,9 mil).
23PLANT PROJECT Nº32
Poucos estados brasileiros passaram por transformações tão contundentes nos últimos anos quanto o Mato Grosso, que responde por 27% da produção brasileira de soja. “Por causa da soja, nós temos crescido em ritmo chinês, em torno de 5% ao ano”, diz Fernando Cadore, presidente da Aprosoja-MT. Ele lembra que seu estado deverá finalizar a safra 2021/22 com a produção de 39 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 6% em relação ao período anterior, cujo desempenho já havia sido forte. Graças ao agronegócio em geral e à soja em particular, o Mato Grosso passou relativamente incólume pela pandemia de Covid-19. Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, reforça que os estados que têm uma base forte de commodities como soja, minério de ferro e celulose são justamente aqueles que mais crescem no Brasil. Nos últimos anos, o Complexo Soja teve papel vital no desenvolvimento do interior do País. Atualmente, estima-se que 2 mil municípios brasileiros se dediquem a essa cultura. De acordo
AgMatéria de Capa R$ 105 BILHÕES É O VALOR INVESTIDO PARA CULTIVAR OS 39 MILHÕES DE HECTARES PLANTADOS COM SOJA
24 com a Aprosoja, no início do século cerca de 90% dessas localidades tinham um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) inferior à média brasileira. Vinte anos depois, a lógica se inverteu: agora 96% das cidades plantadoras de soja têm IDH superior à média nacional. A soja, portanto, tem o mérito de espalhar riqueza por onde passa, gerando imenso valor para toda a sua cadeia produtiva.
7,5 MILHÕES DE EMPREGOS DIRETOS E INDIRETOS ESTÃO LIGADOS À PRODUÇÃO, BENEFICIAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO DO GRÃO
Os R$ 580 bilhões movimentados pela soja no Brasil estão distribuídos em três frentes principais. A primeira delas, a fase antes da porteira – que consiste principalmente na aquisição de insumos – responde por 11% desse montante. A segunda frente já é a etapa dentro da porteira, ou seja, a produção em si, que fica com o equivalente a 26% daquele valor. Por fim, os negócios relativos ao beneficiamento (como logística, comércio e exportações) absorvem
É fácil entender a relevância da soja quando se olha para o Porto de Santos, o maior do País. “Em 2021, ultrapassamos 29 milhões de toneladas movimentadas pelo Complexo Soja, o que representa 31% do volume exportado pelo Porto”, afirma Bruno Stupello, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Santos Port Authority (SPA).
O executivo lembra que 12 terminais do Porto são dedicados à soja, e novos investimentos estão previstos para os próximos anos. Recentemente, a trader chinesa Cofco anunciou o desembolso de R$ 1 bilhão nas obras do terminal STS11, destinado principalmente ao embarque de soja. Até 2025, a empresa pretende dobrar o volume de grãos originado no Brasil. A produção de soja no Brasil tem contribuído para outro aspecto fundamental no mundo dos negócios: a inovação. Em artigo publicado em junho na revista científica Frontiers in Microbiology, a soja brasileira foi apontada como melhor exemplo mundial no uso de biofertilizantes.
25PLANT PROJECT Nº32 os 63% restantes. “A produção de soja é o negócio mais lucrativo para o agro brasileiro”, resume Luiz Fernando Gutierrez Roque, especialista da consultoria Safras & Mercado. Se ela é rentável dentro da porteira, é fora dela que os ganhos se multiplicam. Na cadeia logística, a soja exerce papel vital. Apenas no Mato Grosso, a safra do grão faz com que cerca de 300 mil veículos pesados circulem pelo estado para escoar a produção dos campos. Na Scania, o agronegócio representa 40% de suas operações no Brasil, sendo que a soja responde pela maior parte dos negócios. As transações financeiras estão por toda a parte. Em junho, a Amaggi, uma das maiores produtoras mundiais de soja, comprou 440 caminhões Volvo para levar a produção de soja das lavouras do Centro-Oeste para os terminais de transbordo da região Norte.
“O Brasil é um dos poucos países do mundo a obter sucesso na utilização de biofertilizantes na soja”, escreveu no documento Rafael de Souza, pesquisador associado do Genomics
AgMatéria de Capa
A soja mobiliza inúmeros agentes econômicos, de fornecedores de insumos à indústria de máquinas e equipamentos, de empresas de tecnologia a fabricantes de ração, de produtores rurais a usinas de biodiesel. Sua força está por toda parte. De acordo com a Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (AMA Brasil), a soja representa 45% do consumo de fertilizantes no País. Para se ter ideia do que o número significa, o milho, outra importante cultura, responde por 18% desse mercado. Foi a expansão da cultura da soja a partir dos anos 1970 do século passado que impulsionou a indústria brasileira de tratores, máquinas e implementos agrícolas, contribuindo significativamente para a geração de empregos na indústria.
A inovação traz ganhos ambientais e econômicos. Segundo o pesquisador, estima-se que 430 milhões de toneladas de CO2 equivalente não sejam lançados na atmosfera graças ao uso, nas lavouras de soja, de bactérias fixadoras de nitrogênio. Do ponto de vista financeiro, o projeto é igualmente bem-sucedido. “O Brasil importa aproximadamente 77% do fertilizante nitrogenado utilizado nas culturas agrícolas. A soja é a única exceção. Ela não depende dessa importação justamente por conta dos fixadores biológicos de nitrogênio, o que gera uma economia de aproximadamente US$ 10 bilhões em fertilizante nitrogenado”, disse o pesquisador. A iniciativa é histórica. Recentemente, a microbiologista brasileira Mariangela Hungria, da Embrapa Soja, passou a integrar a lista dos 100 mil cientistas mais influentes do mundo organizada pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, graças ao trabalho desenvolvimento por ela na fixação biológica de nitrogênio.
26 for Climate Change Research Center (GCCRC). “O país é o maior produtor e exportador da commodity e, atualmente, 80% da área plantada de soja utiliza microrganismos para fixar o nitrogênio. Isso tem um impacto ambiental positivo muito grande.”
135,4 MILHÕES DE TONELADAS FOI QUANTO O BRASIL COLHEU DE SOJA NA SAFRA 2021/22
O Brasil chegou tarde ao mercado de soja, mas levou pouco tempo para se consolidar como uma potência mundial. As primeiras sementes vieram ao País no final do século 19, mas foi apenas no início do século 20 que ela começou a ser cultivada com aspirações comerciais. Ainda assim, o grão pouco progrediu. A expansão começaria de fato nos anos 1970, quando a indústria de óleo passou
27PLANT PROJECT Nº32 a crescer em ritmo veloz. “O Brasil tropicalizou a soja”, diz Marcos Jank, coordenador do centro Insper Agro Global. “Até os anos 1970, sua produção estava concentrada no sul do País, mas variedades desenvolvidas pela Embrapa acabaram sendo levadas para o CentroOeste e Nordeste.” Foi uma decisão certeira. Com o passar dos anos, a demanda chinesa explodiu, e era esse o estímulo que o setor precisava para avançar no Brasil. Graças ao apoio da Embrapa, dos avanços genéticos e do uso de novas tecnologias no campo, a produtividade nacional disparou. Na safra 2020/21, as lavouras brasileiras deram origem a 3,5 mil quilos de soja por hectare. Há 40 anos, a média produtiva era de mil quilos por hectare. No mundo, ninguém é capaz de igualar tal desempenho. Nos Estados Unidos, principal rival do Brasil no setor, a produtividade foi de 3,3 mil quilos por hectare na última safra. Na Argentina, outra protagonista do segmento, o índice foi de 3 mil quilos. Em toda a União Europeia, 2,9 mil quilos, conforme dados compilados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Os números da safra 2020/21 colocaram o Brasil, com certa folga, como campeão mundial na produção de soja. Foram 135,4 milhões de toneladas, bem acima das 112,5 milhões de toneladas dos americanos. Como a produtividade brasileira é maior, a distância entre as duas nações tende a aumentar. A fome do mercado por produtos do Complexo Soja está muito longe de ser aplacada. Em uma década, o consumo mundial do produto passou de 264 milhões de toneladas para 370 milhões de toneladas, sempre de acordo com informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Nos próximos anos, é provável que o ritmo de crescimento se mantenha com a mesma intensidade. Portanto, a soja brasileira tem tudo para quebrar novos recordes e alimentar ainda mais a economia do País. AgMatéria de Capa
Ag Ambiente
Projeto incentiva pequenos produtores do Paraná na recuperação de matas da árvore símbolo do estado O RESGATE ARAUCÁRIADA Por Evanildo da Silveira
onhecida como pinheiro-doparaná, a araucária é uma árvore imponente que se tornou símbolo do estado em uma época em que era abundante. Hoje, porém, as florestas de araucária em bom estado de conservação estão confinadas em apenas 1% do seu território original.
O desmatamento de amplas áreas de Mata Atlântica em décadas passadas colocou a espécie em risco. Mas há muita gente trabalhando para mudar esse quadro. Transformar a arraigada concepção de que a natureza é empecilho para a agricultura e reverter a ideia de que os remanescentes de vegetação nativa são áreas improdutivas são dois dos principais objetivos de um projeto que apoia pequenos proprietários de 15 municípios do sudeste do Paraná, na implementação de medidas para a recuperação e manutenção da biodiversidade em suas terras, levando o que era considerado “mato” a ter valor. Trata-se do Projeto Produção de Biodiversidade (JTIBio), uma iniciativa da empresa Japan Tobacco International (JTI) em parceria com a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). “Nosso objetivo é contribuir com a manutenção e o aumento dos serviços ecossistêmicos nas propriedades rurais, e de forma indireta em toda a região”, explica a bióloga da SPVS, Vitória Yamada, coordenadora-geral do projeto. “Para isso, procuramos mudar cenários com uma série de recomendações de melhores práticas, para aumentar a biodiversidade em terras dos pequenos proprietários, as quais são implementadas aos poucos por eles, de maneira voluntária.”
C Ag Ambiente
31PLANT PROJECT Nº32
O JTIBio começou em 2014, com um diagnóstico das propriedades da região e capacitação inicial dos técnicos em agronomia da empresa. A segunda fase, entre 2015 e 2016, foi dedicada à preparação de um protocolo de monitoramento da biodiversidade, que foi testado em dez propriedades. Na terceira fase, entre 2018 e 2019, foi realizado um aperfeiçoamento do documento e um novo teste em 17 propriedades. Vitória explica que o protocolo foi FlorestadoruralespecialmenteelaboradoparaoprodutorintegradoàJTI,habitantebiomaMataAtlântica,nacomAraucária.
“É bem específico, porque aborda os principais problemas ambientais encontrados nessa região, a realidade do pequeno proprietário e a biodiversidade desse ecossistema, tão ameaçado e que necessita de ações urgentes de proteção e recomposição”, conta. De acordo com ela, o monitoramento participativo considera cinco temas –vegetação nativa, água, solo, fauna silvestre e clima – e cada um tem seus indicadores, num total de 11. Entre os quais, por exemplo, a qualidade da vegetação nas áreas de preservação permanentes e na reserva legal, a contaminação por espécies vegetais invasoras, focos de erosão, presença de fauna nativa sensível às alterações da vegetação e também das espécies dispersoras de sementes, entreDeoutros.2021até agora, o projeto entrou em sua quarta fase, que foi a aplicação do protocolo em 48 propriedades, capacitação de técnicos em agronomia da JTI e ações de comunicação para disseminar informações para os produtores. “Eles são convidados a participar e as ações são voluntárias e custeadas por eles próprios”, conta a engenheira florestal Patrícia Feldmann, técnica responsável pelas atividades de campo do JTIBio. “A SPVS e a JTI apoiam nas questões técnicas e na distribuição de mudas de espécies nativas raras ou ameaçadas de extinção.” Os proprietários envolvidos no projeto cultivam tabaco para a JTI, que fornece insumos para a produção e presta assistência técnica para a planta, bem como para as florestas de eucalipto. “Isso é feito por meio de um sistema integrado de produção, que garante qualidade ao tabaco brasileiro”, diz Clóvis Borges, diretor executivo da SPVS. “Existe um contrato de compra e venda entre as partes. As florestas de eucalipto servem de fonte de energia para a cura do tabaco.” Desde seu início, o projeto contemplou 75 pequenos produtores rurais distribuídos nos municípios de Agudos do Sul, Campo do Tenente, Ipiranga, Ivaí, Mallet, Palmeira, Paula Lavouras e matas no sudeste do Paraná: em busca de convivênciaharmoniosa
32 Freitas, Paulo Frontin, Piên, Quitandinha, Rebouças, Rio Azul, Rio Negro, São João do Triunfo e São Mateus do Sul.
A maior parte das culturas e da criação de animais é destinada à subsistência, mas pode vir a ser comercializada, dependendo da quantidade e nichos de mercado.”
Os resultados do projeto para os produtores não são mensurados em termos de produtividade ou lucro, no entanto. “São avaliados pelos benefícios difusos e coletivos”, explica Patrícia. “Os proprietários são recompensados pelo que chamamos de eserecebemconservacionista,extensãoouseja,auxíliotécnicoparaadequarperantealegislaçãoasustentabilidadeda propriedade. E, claro, as adequações vão melhorar a questão da disponibilidade e qualidade da água, polinização das outras culturas que o produtor tenha na propriedade.”
“A área impactada até o momento é de 1.017,27 hectares, considerando a soma total das pequenas participantes”propriedades , diz Vitória. Embora o fumo seja, na maioria dos casos, a fonte de renda principal das propriedades, elas são diversificadas. “Produção de milho, feijão, cana-de-açúcar, erva-mate, arroz, batata, cebola, mandioca, hortifrútis, pastagens, matas nativa e reflorestada são alguns exemplos do que podemos encontrar nos proprietários que participam do projeto”, diz Borges. “Assim como criação de galinhas, porcos, ovelha, cabritos e bovinocultura (leite e carne).
Ag Ambiente
O foco do JTIBio é mesmo contribuir com a manutenção e o aumento dos múltiplos benefícios diretos e indiretos gerados pela natureza, tais como a polinização, a provisão de água, o controle do clima, a fertilidade do solo que propicia a produção de alimentos, a produção de madeira, o controle da erosão e do assoreamento, os princípios ativos para a produção de medicamentos, além dos valores culturais, o lazer e a saúde que as áreas nativas fornecem para
“Estar legal já é, num sentido amplo, gerar valor a suas produções”, diz. “Interessante contextualizar que as áreas naturais da propriedade representamprivada‘ointeresse público dela’. O contexto que gerou o Código Florestal é esse e surgiu no Brasil há mais de 50 anos, surpreendentemente.”
Para Borges, esses serviços precisam ser vistos como parte do negócio, que é o conceito que é transmitido aos proprietários e ao público em geral. “Só sairemos da cultura da destruição rasa como forma de desenvolvimento, se passarmos a reconhecê-los como essenciais”, defende. “Tudo isso pode hoje ser monetizado, e só não é porque o modelo de produção ignora essa realidade.”
33PLANT PROJECT Nº32 o ser humano. “Sem essa produção de serviços ambientais pela natureza, não há vida na Terra”, diz Vitória.
Por isso, segundo Vitória, o JTIBio também busca auxiliar o pequeno produtor rural a conhecer e entender melhor a legislação ambiental brasileira, e quais são os passos necessários para a adequação da sua propriedade a ela, ao mesmo tempo que os conceitos de biodiversidade e serviços ecossistêmicos são disseminados na área rural. Isso é um benefício do projeto aos pequenos proprietários, pois pode evitar que eles sofram punições por não cumprir a lei. “Embora, nas atuais circunstâncias políticas, haja a posição das instituições de governo de ignorar as ilegalidades no campo ambiental, o não cumprimento da legislação que rege a
Além disso, acrescenta, esses produtores criam uma relação de fidelização com seu parceiro corporativo e abrem a possibilidade futura de receber mais pelas ações de conservação, a partir de diversos sistemas de pagamento por serviços ambientais, que devem ser interpretados como um adicional à permitido.atividadesasproprietáriosdécadaversãoacumprimentoconvencionalproduçãoeaodalegislação.Borgeslembraque,desdepromulgaçãodaprimeiradoCódigoFlorestal,nade1960,amaioriadosruraisignorouregras,ampliandosuasparaalémdo
34 manutenção de áreas naturais numa propriedade pode, sim, gerar multas e o impedimento no recebimento de financiamentos também”, explica Borges. “Num país sério isto estaria sem ser levado em adequadamente.”conta Além disso, descumprimentoo da legislação ambiental pode ocasionar o descredenciamento dos produtores nas suas relações comerciais com seus parceiros. Isso é uma tendência que deve crescer cada vez mais. Um exemplo é a pressão de importadores de commodities do Brasil ameaçando fazer boicotes. Apesar desses benefícios, é um trabalho longo e delicado convencer os pequenos produtores a participarem do projeto sem ter no horizonte ganhos de produtividade e lucro. “É um processo de conscientização que não é fácil nem simples”, reconhece Borges. “Demanda tempo, paciência e método. Em tese, a conservação pela conservação deveria ser um valor aceito pela sociedade como parte de suas convicções, assim como deveria ser com o patrimônio cultural de um povo. A prática mais usual que busca uma alternativa ao valor intrínseco ser internalizado é o pagamento por serviços ambientais.” No caso do JTIBio, trata-se de um projeto de pequena envergadura, que trabalha apenas com os proprietários que entenderam e aceitaram as premissas de receber apoio para restaurar suas áreas de preservação permanente. “Caso a caso, há uma evolução positiva
regiãosímboloaraucária:comProdutoresmudasdeda
De acordo com ela, as boas práticas de conservação da biodiversidade nas áreas rurais são um caminho de encontro a esse entendimento, que, além de propiciar a manutenção dos serviços ecossistêmicos, possibilita a produção agrícola para gerações atuais e futuras, garantindo a sustentabilidade do setor. “O monitoramento e as intervenções propostas, em escala, ajudam a reduzir os custos de acesso à água, de controle de pragas, de polinização das culturas, de fertilidade do solo, entre outros, contribuindo diretamente para a minimização dos efeitos das mudanças do clima”, explica.
“Esse é um caminho longo, mas que a JTI e a SPVS escolheram trilhar para biodiversidade‘produzir’efuturo.”
35PLANT PROJECT Nº32 nesse aspecto, o que representa ainda apenas um exemplo demonstrativo de pequena escala”, diz Borges. “Mudanças de larga escala, que alterem cenários regionais, representam desafios apenas atingíveis a partir de novas políticas públicas e de investimentos de grande porte.” Seja como for, embora modestos, já há resultados.
Até o momento, eles mostraram que, dentre os indicadores monitorados, muitas ações foram tomadas pelos produtores que aderiram ao projeto, como a retirada de espécies exóticas invasoras, retirada de fatores de degradação das áreas de proteção permanente (APPs) e plantio de mudas de espécies nativas. Além disso, a presença de fauna original dentro das propriedades rurais, o que faz com que o proprietário passe a observar quais são os animais ali presentes. “Esses relatos são
importantes para medir como estão as florestas do entorno, pois muitos animais são indicadores da saúde das áreas naturais”, diz Vitória. Para ela, um dos principais ganhos do JTIBio é a troca de informações com os produtores e sensibilização para o cuidado com a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, ou seja, o projeto tem um forte caráter de educação para a conservação que não pode ser medido no curto prazo, mas que com certeza está deixando um legado importante para a Paralelamenteregião.
ao monitoramento, o JTIBio investe em ações de comunicação, voltadas para toda a família dos proprietários rurais, por meio de cards que são enviados por aplicativos no celular, na elaboração de um almanaque para crianças e adolescentes e uma série de podcasts voltados exclusivamente para os produtores. “Esses produtos podem ser replicados para toda a cadeia produtiva da empresa”, acrescenta a bióloga.
terras
venda? Conheça a resposta UMA GIGANTE NO MERCADO Por Marco Damiani
gestão
Agro
gado, soja,
Daniel
Dona de 400 mil hectares de no Pará, com 150 mil cabeças de milho e profissionalizada, a SB, pelo banqueiro Dantas, está mesmo à
fundada
AgNegócios Vista aérea de uma das propriedades do grupo: mais de 400 mil hectares de terras, todos no Pará
38 ascida, criada e enriquecida a ponto de ser avaliada pelo mercado em US$ 1,8 bilhão, a Agro SB está mesmo com todos os seus ativos à venda, em linha com os rumores publicados na mídia? A resposta oficial chega a ser divertida pelo paradoxo: Não. E sim... “Não, a empresa não está à venda”, responde à PLANT, de pulmão cheio, o CEO e integrante do Conselho de Administração da Agro SB, Cristiano Soares, 41 anos. “Mas como o nosso negócio é vender ativos, sim, nossos ativos estão à disposição do mercado”, completa ele. “Alguns corretores podem ter somado o valor dos bens da companhia e chegado a um número qualquer, mas nem o reconheço nem nunca pensamos em venda total, como se ofertássemos um bairro inteiro”, reforça ele. “Se trata apenas de que o nosso negócio é vender ativos um a um quando somos procurados e consideramos isso uma boa oportunidade.”
Uma abertura de capital, opção de centenas de companhias nos últimos tempos para se capitalizar, igualmente não está no horizonte da Agro SB. “Em geral, essa não é uma boa opção para empresas como a nossa. Quando o mercado estiver atrativo, podemos pensar, mas não agora. Empresas com muito ativo em terras acabam sendo precificadas abaixo do seu valor real”, avalia Soares. Outra situação é a de que a Agro SB não tem, até onde se sabe, nenhum problema de caixa. A empresa é rica. “Há pouco, por um bom preço, vendemos quatro fazendas, mas isso porque o cliente certo apareceu, e não porque estamos à venda como empresa”, afirma Soares, um advogado egresso do próprio agronegócio, que cumpre uma sólida carreira dentro da companhia. Ele ingressou no grupo como integrante do Conselho de Administração e, ideia após ideia bem-sucedida, assumiu o cargo de liderança executiva. “Não colocamos plaquinhas de ‘vende-se’ em N
Soares, o CEO: “Nosso negócio é vender ativos um a um quando somos procurados eoportunidade.”consideramosissoumaboa
Todas elas devidamente negadas e abatidas na Justiça. Com mais ou menos polêmicas, o certo é que a Agro SB é uma potência que só não abre o capital porque não quer. Internamente, todas as regras exigidas por autoridades como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já são cumpridas “de velho”
conspiração,NessaSilva,ex-presidentecondenaçãodeaPesouempresadecisão,adaopertencentefundoadministração.diretoriaáreaexterna,permanentementemonitoradaporauditoriatemumabemfornidadecompliance,possuiexecutivaeconselhodeOcontroleédeumdeinvestimentosfechadoaobancodeDantas,emblemáticoOpportunity.ArecentemudançadonomecompanhiaparaAgroSBtemver,numadasduaspernasdecomaassociaçãodaaoacúmulodelitígios.paraatroca,atémesmo,coincidênciadeofamosoSítioAtibaia,quevaleuumadeprisãoaoLuizInácioLuladateronomedeSantaBárbara.paranoicateoriadearematada
AgNegócios
39PLANT PROJECT Nº32 nossas propriedades, mas os corretores, os vizinhos, enfim, o mercado todo sabe que estamos abertos a vender”, explicita. Dona de 400 mil hectares de terra no Pará, a companhia de 850 funcionários opera sob a exata ótica do mercado financeiro. É guiada para o lado que dá mais ganhos, sem dogmas ou fundamentalismos. Fundada em 2005 pelo banqueiro Daniel Dantas, um reconhecido camisa 10 do mercado financeiro nacional, a companhia nasceu voltada exclusivamente aos negócios imobiliários no campo. A intenção inicial era apenas a de compra e venda de terras, sempre com foco territorial exclusivo no Pará. O estado atraiu os interesses de Dantas e seu time restrito por oferecer áreas bem mais baratas que os estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste. “Aqui, a margem para a arbitragem, sem dúvida, é maior”, aquiesce o CEO Soares. Em compensação, o preço menor veio acompanhado de uma série de situações de conflitos. Acampamentos do Movimento Sem Terra (MST), críticas da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e acusações de grilagem de terras públicas ora da União, ora do estado paraense, fazem parte do Google do Grupo Santa Bárbara.
A empresa é
fake news de que uma ou mais fazendas da organização pertenciam a um dos filhos do líder petista igualmente abria ranhuras na imagem da empresa. É sobre a perna do negócio em si, com sua diversificação e ampliação ao longo do tempo, que a troca do nome original para o atual Agro SB se mostra mais justificada. Dos primórdios de apenas uma grande proprietária rural, a operação evoluiu gradativamente para a criação de gado de corte e melhoria genética, plantio de soja e milho e a especialização, rara no agronegócio, de recuperação de terras degradadas para a venda
40 de matrículas de fazendas sem óbices e, mais ainda, em franca produção. “Esse é o nosso core business: comprar terras degradadas, fazer a regularização necessária, promover a produção e, quando madura, vender”, resume Soares. “Temos concorrentes, mas acho que somos os melhores nisso.”
Hoje, a Agro SB está organizada em torno de três unidades que reúnem diferentes fazendas em cada uma delas. Do total da área controlada, metade é preservada, para efeito de cumprimento do Código Florestal. “Nunca ao longo da nossa história pedimos sequer uma autorização para desmate”, afirma o jovem piloto da empresa, cuja sede fica em Palmas (TO). “A cidade está virando um hub do agronegócio”, justifica Soares. “No nosso caso, fomos um dos primeiros a chegar aqui.” A relativa curta distância para o sudoeste do Pará faz de Palmas a cidade ideal para o comando dos negócios. Na outra rota, a maior proximidade com o Rio de Janeiro, sede do Opportunity e local de residência dos principais executivos da companhia, deixa tudo mais suave. No total, mais de 150 mil cabeças de gado pastam nos domínios da Agro SB. A produtividade é rainha. Algumas fazendas da companhia chegam a acomodar até oito animais por hectare. Em média, três cabeças ocupam um hectare dentro das cercas próprias, contra uma média nacional de um bovino no mesmo espaço de terra. “Nós nos preocupamos com um carrapato sobre o lombo de um boi, mas isso ainda não é muito comum entre os pecuaristas”, diz Soares. Com o passar do tempo, a companhia avançou para o plantio de soja, milho e capim, entremeado com o deslocamento do gado no Pecuária e lavoura da Agro investimentoSB: em recuperação de terras degradadas.
Auditoria externa da Ernst & Young destaca 2021 como um ano em que a Agro SB lucrou R$ 677,6 milhões
AgNegócios Auditada externamente pela Ernst & Young, a Agro SB experimentou em 2021 um ano bastante lucrativo. No foco de seu negócio – a venda de fazendas que estavam com terras degradadas até serem recuperadas pela empresa –, concluiu ao menos quatro vendas significativas. Os valores dessas transferências de matrículas, somados às receitas de vendas de cabeças de gado e produção de soja e milho endereçaram a um lucro líquido de nada menos que R$ 677,6 milhões, contra R$ 148,6 milhões no exercício anterior. Numa mostra de eficiência de sua máquina administrativa, o lucro líquido antes do Imposto de Renda e da Contribuição Social atingiu R$ 649,3 milhões. As duas obrigações, por outro lado, somaram R$ 31,6 milhões. As demonstrações financeiras da E&Y sobre a Agro SB apontam, ainda, para o valor de R$ 533,9 milhões em ativos biológicos, além de R$ 52,7 milhões em estoques de insumos. Com um traço na rubrica prejuízos acumulados, o que mostra a empresa sem problemas financeiros, as contas destacam que, ao final do ano passado, a companhia possuía um total de patrimônio líquido de R$ 1,57 bilhão.
A Agro SB desenvolve um trabalho antigo na melhoria genética. Todo o seu processo de produção tem rastreabilidade. A boa leitura do mercado indica, neste momento, que um bezerro com entre 7 e 8 meses de vida pode ser vendido com um ágio de 50% sobre os gastos de criação das fazendas do Opportunity. “Acompanhamos as tendências. Quando mudarem, mudamos também”, ensina Soares. Na safra 2022/23, a Agro SB dedica 21 mil hectares à safra de soja e outros 7 mil hectares à de milho. Junto com o milho é plantado o capim. Quando o grão é colhido, fica o pasto disponível para a entrada dos animais. As vendas dos produtos pecuários e agrícolas são para os mercados nacional e internacional, via traders. Toda a produção tem sido comprada. Por isso, não há pressa da parte da companhia em vender seus ativos imóveis. Pelo bom e velho motivo capitalista de que eles estão dando lucro. Com relações normalizadas com as autoridades e numa fase de maturidade neste momento, a Agro SB é uma reluzente joia da coroa de bons investimentos de Daniel Dantas. “No agronegócio, não há concorrentes enquanto houver terra disponível para produção de riquezas”, afirma o jovem CEO Soares. Se você quer comprar produtos ou terras da Agro SB, eles realmente estão à venda. E se há crença nos rumores de venda integral da companhia, a prova dos nove entre a verdade e a mentira está facilmente ao alcance de quem tem US$ 1,8 bilhão para pagar para ver. Basta procurar o controlador Dantas, oferecer o valor apregoado nas colunas de jornalistas bem informados e aguardar para ver se ele aceita a oferta. Quem sabe? O certo mesmo é que, se o negócio não fosse bom, o primeiro, segundo e terceiro melhor aluno do professor Mário Henrique Simonsen já não estaria mais nele. De velho.
41PLANT PROJECT Nº32 diapasão da engorda. Neste exato momento, o maior giro de capital da empresa está sobre os cascos dos bezerros. “O mercado está favorável para a venda de novilhos, e temos muitos, e dos bons, para oferecer”, conta Soares.
Um patrimônio de R$ 1,57 bilhão
O ataque desse inseto costuma ser mais intenso no momento final do enchimento das vagens – os grãos são sua parte preferida nas plantas. Dessa forma, pode derrubar em até 30% a produtividade das lavouras e, pior, comprometer a qualidade da soja e a
A produção de 124 milhões de toneladas de soja na safra atual (2021/22) mantém o Brasil na disputa pela liderança global na produção da oleaginosa. Houve, é certo, uma queda de 10,2% no volume colhido, se comparado ao período anterior, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O clima é um dos principais motivos dessa redução. Por conta do fenômeno La Niña ocorreram menos precipitações de chuvas na Região Sul e em Mato Grosso do Sul, o que derrubou a produtividade nessas áreas. Por outro lado, a soja em grão continua sendo o principal item na pauta de exportações agrícolas do Brasil. No ano passado os embarques passaram de 86,1 milhões de toneladas, com receita de US$ 38,6 bilhões, índices 3,8% e 35,2% superiores aos de 2020, respectivamente, de acordo com dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
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Nessas duas referências, o agricultor tem um papel essencial. Ainda que não controle os efeitos climáticos nem influencie as cotações do mercado internacional de commodities agrícolas, sua eficiência na gestão das lavouras pode reduzir os impactos negativos e otimizar o que já é positivo. Exemplo significativo dessa relação está no manejo sanitário das plantações, mais especificamente no controle do percevejomarrom (Euschistos heros), a principal praga da soja na atualidade.
Solução inovadora da Bayer eleva o patamar de proteção das lavouras de soja contra o percevejo-marrom e percevejo-verde-pequeno, trazendo maior eficiência no controle de pragas e evitando os riscos de resistência
PROTEÇÃO COM
CONTROLE INOVADOR Para evitar esse cenário na produção de soja, o agricultor deve sempre fazer o monitoramento da pressão do percevejomarrom em suas plantações, o que pode ser realizado com a tradicional batida de pano. Essa identificação é fundamental para determinar como e quando entrar com a aplicação do inseticida. E é muito importante não subestimar a praga. “Um único inseto pode consumir até 9 quilos por dia em um hectare”, alerta Cecilia Melo, diretora de Inseticidas para América Latina da Bayer CropScience. “Se o agricultor encontrar um percevejo que seja por metro quadrado já é preocupante.” Quanto mais limpa a área estiver na passagem de uma safra para outra, inclusive com rotação de culturas, melhor.
43PLANT PROJECT Nº32 rentabilidade do agricultor, pois gera enorme prejuízo tanto na entrega da produção para as traders quanto na geração de sementes. O perigo aumenta porque o percevejo-marrom se reproduz e se espalha pelas lavouras com facilidade e rapidez.
TECNOLOGIA
A Bayer desenvolveu uma solução que permite essa condição, deixa a palhada mais limpa nessa transição pois tem forte impacto na redução da pressão da praga e apresenta longo período de controle. Trata-se do inseticida Curbix 200 SC, que é baseado em uma nova molécula (Etiprole) e age no sistema nervoso central do inseto, sobre o inibidor reversível GABA (ácido gama aminobutirico), causando sua morte em até 24h. O Curbix atinge o percevejo-marrom por ingestão e por contato, direto ou tarsal. “Ou seja, andando pela folha ele já entra em contato com o produto”, diz Cecilia Melo. Plant +
Plant +
Já consagrado nas culturas da cana e lançado recentemente para algodão e café, o Curbix para soja foi lançado em 2021, e já responde por 4% de share desse mercado. Esse resultado é consequência da performance apresentada nas fazendas. “Os produtores de soja estavam carentes de uma inovação como essa, de uma molécula que promovesse um grande salto no controle do percevejo-marrom”, afirma a executiva da Bayer. De acordo com levantamento da companhia junto a seus clientes, o inseticida pode trazer até 2,0 sacas a mais por hectare, preservando o potencial produtivo da planta e qualidade do grão.
MANEJO ADEQUADO A Bayer inovou o controle do percevejo-marrom com o Curbix, mas para aproveitar ao máximo os benefícios dessa solução tecnológica é necessário que o agricultor faça o manejo de forma correta. A indicação é entrar com a aplicação do inseticida na fase reprodutiva R3, que marca o início do desenvolvimento das vagens e determina o rendimento da planta. Além de ser uma etapa crucial para a soja, é um momento importante para quebrar o ciclo do inseto, para impedir que ele também se reproduza. A eficiência do manejo pode ser ampliada com a associação do Curbix ao inseticida Connect, também indicado para o controle de percevejos. A estratégia dessa integração de soluções vai depender das condições da lavoura e da pressão da praga, mas de maneira geral o Connect entra na fase vegetativa e como uma terceira aplicação, 14 dias após o Curbix. Esses detalhes podem ser definidos com o profissional responsável pelo manejo sanitário da fazenda e com o apoio da equipe de campo da própria Bayer. O agricultor só necessita ter em mente que a precisão nesse processo é decisiva para o sucesso do manejo, pode reduzir o número de aplicações, o que tem impacto direto nos custos de produção, e evitar o surgimento de resistência por parte dos insetos, beneficiando a agricultura como um todo.
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45PLANT PROJECT Nº32 29 AGOSTO 202221 SETEMBRO 252022-25 OUTUBRO 2022
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HOJE
Durante o Global Agrobusiness Forum, realizado em São Paulo, na segunda quinzena de julho, a série Plant Talks apresentou entrevistas ao vivo com especialistas em crédito, seguro, proteção e sustentabilidade no agronegócio. Confira os principais trechos:
CEO da Lockton, companhia de seguros com origem nos Estados Unidos, o engenheiro José Otávio Sampaio atua por mais de 30 anos em corretoras internacionais. Nes se período, ele participou direta mente das rotinas de atendimento a grandes empresas de diferentes setores, o que inclui a consolidação das principais apólices da fabri cante brasileira de aeronaves Em braer. Sua missão, agora, é demo cratizar o acesso ao seguro em todos os setores do agronegócio. Conheça essa estratégia: COM A SUA EXPERIÊNCIA EM MULTINACIONAIS,SEGURADORAS O QUE O SR. PODE DIZER SOBRE A REALIDADE DO SEGURO RURAL NO BRASIL E EM OUTROS PAÍSES DO MUNDO? Nos Estados Unidos, para citar como exemplo o lugar da sede mundial da Lockton, praticamen te não existe propriedade rural que não esteja segurada. No Brasil, ao mesmo tempo, a penetração do seguro rural ainda é muito peque na. Representa em torno de 10% das propriedades, em termos de área total. O que queremos mos trar aqui é o nosso aprendizado lá fora, para ajudar a vencer os desa fios nacionais, de modo a aumen tar a cobertura. O seguro rural é um fator de proteção imprescindí vel para os produtores. QUAIS BARREIRAS PRECISAM SER VENCIDAS? Em primeiro lugar está o desafio da cultura. Você tem de mostrar ao produtor como o seguro pode aju dá-lo. Hoje, os produtos do merca do segurador estão muito avança dos e podem somar em tudo, inclusive na realização de políticas ESG, que são mandatórias para uma agricultura sustentável. Es pecialmente, o bom seguro soma na produtividade da agropecuária, e muito. O agronegócio brasileiro é talvez o mais moderno do mundo, e nós acreditamos que o seguro para este setor tem de acompa nhar essa realidade.
PARA PROMOVER O SEGURO RURAL? Falar em tecnologia, neste mo mento, é falar das grandes expecta tivas que temos com a entrada em operação do 5G. Será um fator fun damental. Quando chegar ao cam po como um todo, você vai poder ter marcadores e saber a peculia ridade de cada uma das proprie “Nos Estados
46 Especial GAF
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JOSÉ CEOSAMPAIOOTÁVIODALOCKTON
DO PONTO DE VISTA DE TECNOLOGIA, FERRAMENTASQUAISEXISTEM
O GOVERNO SEMPRE FOI UM BALIZADOR DO MERCADO DE SEGURO RURAL, SOBRETUDO EM FUNÇÃO DOS VOLUMES APLICADOS EM SUBVENÇÃO. HOJE, ESSES VALORES ESTÃO EM UM PATAMAR ADEQUADO PARA O SETOR? A verdade é que, este ano, para atingir o universo inteiro do agro negócio, o governo começou com um orçamento de R$ 990 milhões mais ou menos. Agora está subin do para R$ 1,1 bilhão, aportando mais R$ 200 milhões. Mas a gente sabe que vai precisar de R$ 1,4 bi lhão, segundo as projeções que te mos. Nunca é suficiente. É mais um motivo para a gente criar uma massificação maior, para baratear. Porque massificando se consegue atingir mais gente a um preço de custo/benefício melhor. Aí, cabe ao setor privado, as seguradoras, tam bém demonstrar mais esse apetite para o risco. E nós vamos apostar na hora em que a gente tiver a cer teza de que o pessoal acredita. Na hora que o pessoal acreditar e con sumir mais seguro, esse negócio vira e vai ganhar mais massa. patrocínio
JÁ HÁ ALGUM TEMPO EXISTE UMA FORTE PREOCUPAÇÃO COM OS EVENTOS CLIMÁTICOS, CADA VEZ MAIS EXTREMOS E FREQUENTES. COMO O CLIMA IMPACTA A INDÚSTRIA DE SEGUROS PARTICULARMENTE,OLHANDO,
A análise socioambiental da pro priedade é hoje talvez até mais im portante do que a análise financei ra, para efeito do cálculo do seguro. A agricultura sustentável é uma questão crucial para todo o mundo, que está preocupado com a ques para ajudar a disseminar as melho res práticas do mundo no setor agrícola, justamente apostando na importância dos valores ESG. Toda a cadeia produtiva é fundamental, e não apenas a propriedade em si. É por isso que eu acho que o seguro vai não apenas proteger o agrone gócio, mas também incentivar o campo a desenvolver mais rapida mente esse tema.
47PLANT PROJECT Nº32 priedade, criando produtos sob medida para cada uma delas. Com isso, o produtor segurado vai ganhar muito. Vamos conse guir precificar através de produ tos que estão surgindo agora, ba seados em índices ainda mais precisos. Nesse modelo, os bons não vão pagar pelos maus, e nem os maus vão pagar pelos bons. Será possível fazer distinções e continu ar precificando da melhor manei ra, atraindo assim mais consumi dores. Vamos deixar de fazer aquela análise regional para fazer uma análise individual, mais deta lhada, da propriedade. Isso terá for te impacto em termos de custo, ba rateando valores.
ONDE O FATOR ESG ENTRA NA CONTA DO PRÊMIO DO SEGURO RURAL?
PARA O AGRONEGÓCIO? De maneira geral, impacta muito. Da perspectiva da indústria de se guros, tem cinco anos à frente para analisar. Desses, geralmente três anos são péssimos em termos de clima e dois são superfavoráveis. O que a gente precisa é mais asserti vidade nisso e fazer aquelas ações de médio e longo prazos com os produtores e agricultores no senti do de o seguro fazer parte da cultu ra deles. Previsibilidade é tudo, mas não se controla tudo. A ques tão do clima é impossível contro lar, mas se você tiver uma previsi bilidade consegue calcular melhor o custo/benefício de transferência do que que você acha que tem que transferir para o seguro e aquilo que você vai reter diretamente na continuidade do seu negócio. Es ses movimentos exigem educação do produtor, no sentido da contra tação do seguro mais adequado para a propriedade dele.
48 Campeão entre os bancos priva dos no financiamento ao agrone gócio, o Bradesco detém hoje uma carteira próxima dos R$ 100 bi lhões em créditos, títulos, progra mas e outras modalidades de sus tentação à atividade agropecuária. Na entrevista a seguir, o superin tendente executivo Luiz Renato Gonçalves de Lima, formado em Direito do Agronegócio e, entre ou tros títulos, pós-graduado em Transformação Digital pelo MIT, nos Estados Unidos, apresenta as expectativas e planos do banco da Cidade de Deus para o financia mento à atividade econômica no campo. Acompanhe: O GOVERNO LANÇOU NO FIM DE JUNHO O NOVO PLANO SAFRA. HÁ MAIS RECURSOS PARA O PRODUTOR, MAS POR OUTRO LADO OS CUSTOS ESTÃO EM ALTA. COMO O BRADESCO SE POSICIONA NESTE CENÁRIO? O Bradesco é um banco que desde a sua origem apoia o agronegócio. Nascemos lá em Marília, no inte rior de São Paulo, e, desde os pri meiros anos, seguimos em apoio aos produtores rurais de café por todo o interior do estado e pelo Pa raná. Mantivemos esse apoio du rante toda a nossa história, nos or gulhando de ajudar a transformar o agro no setor mais pujante da economia. Sobre o atual momento, vale dizer que o Plano Safra veio muito bom, com 36% de cresci mento no volume de recursos so bre o período anterior. São mais de R$ 340 bilhões, fora outras linhas de sustentação que estão fora do plano, porque os bancos privados possuem outras alternativas de crédito. Por tudo isso, nossa expec
QUAL O PRÓXIMO PASSO?
COMO ISSO VAI SE DAR? A CPR financeira, por exemplo, já é o maior instrumento de financia mento ao agronegócio. Nos orgu lhamos, no Bradesco, de liderar mos os rankings da Febraban e da B3 em volume desses títulos. A gente já tem uma carteira, só de CPR financeiro, superior a R$ 20 bilhões. É uma das alternativas que a gente tem para continuar fi nanciando o agro. Historicamente, uma das dificuldades aí para o crescimento do crédito está na análise de risco do produtor. A tec nologia da transformação digital está mudando também os mode los de análise, nos dando novas ferramentas para enxergar o real risco de cada produtor e não olhar apenas o quadro como um todo. Isso é positivo para todo o setor.
QUAL É A VISÃO DO SENHOR PARA OS PRÓXIMOS ANOS?
Sim, com toda certeza. É consenso que o agronegócio é o setor mais pujante da economia. Profissionali zou-se muito, detém altíssima tec nologia e não deve nada para ne nhum país desenvolvido. Temos uma agricultura de altíssima preci são. Isso me dá a certeza de que não só o Bradesco, mas os bancos priva dos, de um modo geral, e os públi cos também, iremos continuar fir memente apoiando o agronegócio.
COMO ESTÃO INCORPORANDO A QUESTÃO SOCIOAMBIENTAL
Estamos em busca do que cha mamos de conceito expandido, no qual a gente inclui as opera ções de câmbio, de debêntures e outras modalidades. No total, o Bradesco já tem uma carteira pró xima a R$ 100 bilhões no agrone gócio, o que nos faz o principal banco privado do setor.
tativa é muito boa. O Bradesco vem crescendo, no agronegócio, à razão de 30% nos últimos anos. Es peramos manter esse crescimento. Hoje, nossa carteira de crédito para o agronegócio já está próxima dos R$ 50 bilhões.
UMA DAS MAISPREPARADOREALMENTEMERCADOCRÉDITOPRIVADOSTRAZSAFRAESPECIALISTASAPONTADASCARACTERÍSTICASPELOSNOPLANOÉADEQUEELE,DEFATO,MAISOSBANCOSPARAOJOGODOAGRÍCOLA.OPRIVADOESTÁMELHORPARAEMPRESTARPARAOAGRO?
COMO A TECNOLOGIA PODE IMPACTAR, POR EXEMPLO, EM TAXAS DE JUROS MAIS FAVORÁVEIS AOS BONS PRODUTORES OU ATÉ EM TAXAS INDIVIDUALIZADAS? O agronegócio se profissionalizou muito e, hoje, os produtores rurais têm já uma excelente gestão. Mui tos têm balanço auditado e atuam com consultorias. Mesmo assim, há produtores que se ressentem achando que o bom produtor, por vezes, acaba pagando pelo mau. A tendência é isso ir desaparecendo. Cada vez mais seremos capazes de distinguir as diferentes condições e resultados de cada unidade pro dutora. Estamos entendendo me lhor os critérios socioambientais respeitados por cada produtor. A tendência, assim, é a dos bons pro dutores serem cada vez mais reco nhecidos, inclusive nas taxas de oferta de crédito.
É UM FATOR DE EXCLUSÃO?
LUIZ DEGONÇALVESRENATOLIMASUPERINTENDENTEEXECUTIVODO
OS BANCOS ESTÃO PRONTOS A TRAZER ESSA QUESTÃO ATÉ
PARA FECHARMOS, COMO O BRADESCO ENCARA AS FINTECHS, QUE TAMBÉM SE PROPÕEM A FINANCIAR O AGRO? COMO É RELACIONAMENTOO COM ESSAS FINANCIADORAS? Para nós, a concorrência é boa. Nos sentimos desafiados a melho rar, a fazer cada dia melhor para os nossos clientes. Temos ótimas re lações com todos os bancos públi cos, privados, cooperativas de cré dito e fintechs. Aproveitamos as oportunidades de fazer coisas em conjunto. Estamos sempre aber tos e à disposição.
“Com a aindadoArtificial,Inteligênciaatendênciacréditoruraléficarmaisacessível”
49PLANT PROJECT Nº32 patrocínio
Já de longa data a concessão de crédito rural no Brasil observa o respeito do produtor às regas le gais. Fazemos uma análise rigoro sa sobre a existência de embargos ambientais, de trabalho análogo à escravidão e de atenção aos princí em uma grande evolução, já faz parte do dia a dia dos bancos e também dos produtores rurais. Quem não cumpre a lei não tem acesso ao crédito.
PARA UM PRÊMIO FUTURO PARA O BOM PRODUTOR, COM TAXAS MAIS FAVORÁVEIS? OU ATÉ COM CUSTO DE SEGURO MAIS VANTAJOSO, POR ESTAR EM CONFORMIDADE COM AS BOAS PRÁTICAS? Claro, com certeza. O produtor que tem a sustentabilidade em sua agenda de governança é sempre premiado, não só pelo sistema fi nanceiro, mas por todo o mercado. Há um reconhecimento de que mais de 99% dos produtores no Brasil têm já uma gestão sustentá vel e nós respeitamos muito o tra balho que eles vêm fazendo pelo nosso País.
“A Serasa está no agro para ser uma facilitadora do acesso ao crédito com segurança”
50 Marca consagrada no meio urba no no segmento de análise, prote ção e score de crédito, o grupo Sera sa Experian está avançando sobre uma nova fronteira. Posicionada já há dois anos no agronegócio, a em presa adquiriu recentemente a Brain Ag, companhia considerada estratégica no objetivo de cresci mento no setor rural. Para apre sentar as novas estratégias nessa incursão aos negócios no campo, o diretor de Operações da Serasa Ex perian e também fundador da Brain Ag, Renato Girotto, falou à série Plant Talks durante a realiza ção do GAF. Criador de diferentes startups de sucesso, Girotto é um típico empreendedor serial, agora também responsável pelas opera ções de agro dentro da companhia. Confira: QUAL A FOTOGRAFIA DE MOMENTO DA SERASA EXPERIAN NO AGRONEGÓCIO?
A Serasa Experian é reconhecida mente muito forte na área de crédi to, análise e score. Surgiu a oportu nidade, que está sendo aproveitada já nos últimos dois anos, de tam bém aplicar no campo o que a companhia já tem realizado no crédito tradicional, mas agora em relação especificamente ao crédi to agrícola. Neste sentido, mon tou-se uma estrutura vertical, com uma unidade de negócios cem por cento focada em agrone gócio. Há pouco mais de um ano, a companhia adquiriu a Brain Ag, empresa que eu fundei. A inten ção foi a de compor e fortalecer essa iniciativa. Hoje, já temos essa unidade de negócios funcionando a pleno, com mais de 100 pessoas olhando diretamente para o agro negócio. Temos atendido verticais específicas do agro.
QUAIS SÃO ELAS? A primeira e óbvia é o crédito. Isso, afinal, é a razão de ser da Serasa. Mas a gente também tem olhado para a sustentabilidade, através de soluções para monitoramentos de safra, acompanhamentos agríco las e apólices de seguro. Uma outra vertical é voltada para a inteligên cia de mercado.
DIRETOR DE OPERAÇÕES DA SERASA GIROTTORENATOEXPERIAN
DE QUE FORMA A SERASA CONTRIBUI PARA QUE ESSES PROCESSOS SEJAM MAIS ÁGEIS E MAIS CONFIÁVEIS? Um dos grandes benefícios que a tecnologia traz é justamente essa automação e a redução do tempo operacional. A gente tem um “case” bem bacana, de sucesso, com a Ra ízen. Para esta companhia, conse guimos reduzir em mais de 90% o custo operacional para análise de crédito e também para renovação de contratos. Graças a esse siste ma, hoje um cliente da Raízen im puta um CPF no sistema e, em menos de três minutos, a gente traz todas as informações relacio nadas a esse produtor para uma decisão mais assertiva de crédito.
QUANTOS QUECONSEGUEMSOCIOAMBIENTAISINDICADORESVOCÊSANALISAREDETIPO? Nós olhamos para praticamente todos os indicadores que existem hoje. Ibama, ICMBio, LDI, desma tamento, enfim, tudo que existe de informação pública. Algumas aná lises nós mesmos realizamos, por meio de assessoramento remoto. Nesse trabalho, entendemos se houve algum desmatamento, se aquela propriedade possui exce dente de reserva legal ou não. Isso é muito importante para a geração de crédito de carbono. Temos uma vertical socioambiental, portanto, extremamente robusta.
TUDO SOMADO, SERÁ QUE ESSA PLATAFORMA PODE SER A BASE, NO FUTURO, PARA UMA ESPÉCIE DE CADASTRO POSITIVO QUE BENEFICIE O PRODUTOR QUE ESTÁ EM SOCIOAMBIENTAL?CONFORMIDADE Acredito que sim. Eu acho que toda empresa está buscando esse tipo de produtor socioambiental mente responsável. Dentro das ferramentas que a gente oferece, o cliente já consegue olhar para a carteira dele e entender quais são, ali, esses produtores. Nessa medi da, quem concede o crédito pode oferecer algum tipo de benefício como incentivo à produção agro pecuária responsável. patrocínio
O que a gente agregou de valor foi a expertise no setor. A plataforma que a gente construiu é pautada em Big Data. Trata-se de uma ferra menta que consolida dados, uma grande catalisadora, que busca in formações em mais de 70 fontes distintas espalhadas aí pelo País. Entre essas informações está a de propriedade, uso de solo, certidões, conformidade socioambiental, pro cessos e protestos. Tudo isso se as sociou à base de dados que a Serasa já tem e é muito forte. Foi, digamos, um casamento por interesse. A gen te uniu a nossa expertise de agro com o que a Serasa tem de muito forte, justamente essa base de da dos e as análises para o crédito.
Acredito que sim, o fato é que esta mos empolgados com o setor. Em bora pareça ser o mesmo produto, o crédito urbano é diferente do crédito para o campo. Seguros, análises de risco, os nomes são os mesmos, mas os mundos são dife rentes, tem outras características. Eu não digo nem que haja uma complexidade maior ou menor, mas diferente. O agronegócio tem suas particularidades e dificilmen te quem não conhece o agro vai conseguir emplacar no agro.
51PLANT PROJECT Nº32 A SERASA FOI TE BUSCAR PORQUE CONHECERPRECISAVAMELHOR
FOI QUASE UMA PROFECIA? Eu diria que foi justamente uma profecia. Desde sempre existiu uma grande sinergia e a gente está fazendo bom fruto disso.
O QUE A BRAIN AG AGREGOU DE TECNOLOGIA NA ANÁLISE DO CRÉDITO DA SERASA?
COMO SE DÁ ISSO NA PRÁTICA?
O AGRO, NÃO É?
A PLATAFORMA JÁ CONSEGUE DAR UM RETRATO COMPLETO DA EMPRESA RURAL?
QUANDO SE FALA EM INFORMAÇÕES, ISSO TAMBÉM ABORDA AS PROCESSOMAIORIAINDISPENSÁVELUMAAFINAL,PROPRIEDADESOCIOAMBIENTAISCARACTERÍSTICASDADESSECLIENTE?ATUALMENTEESSAÉCONDIÇÃOPARAADOSCASOSDEUMDECRÉDITO,NÃOÉ?
A Se rasa enxergou esse potencial na Brain Ag, fez a aquisição e unimos forças, agregando o conhecimento que a gente já tinha no agro com a expertise de dados de análises que a Serasa já tem. Antes mesmo da aquisição, a gente brincava quan do a gente ia apresentar o nosso produto para alguma empresa que éramos a Serasa do agro.
Justamente. Hoje, grande parte das políticas de crédito da companhia já levam em consideração a análise socioambiental. Ela acaba sendo mandatória para uma decisão de ir ou não ir à frente com aquela ope ração de crédito. Essa é uma das particularidades que o agronegó cio tem que está cada vez mais em pauta. A pressão externa é muito grande. Todas empresas estão pre ocupadas também em conceder um crédito sustentável.
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Na agricultura orgânica, a econômicasustentabilidadejáanda junto com a ambiental”
“VIANROGÉRIOFUNDADORPRESIDENTEDOGRUPOASSOCIADODEAGRIGULTURASUSTENTÁVEL
CRÍTICAS AO USO IRRACIONAL DA TERRA E AOS CUSTOS ALTOS DA MOMENTO?COMOAGRÍCOLA.PRODUÇÃONESTESENTIDO,VOCÊVÊOATUAL
Para abordar esse notável salto de organização, o fundador e presi dente Rogério Vian participou da série Plant Talks e compartilhou sua experiência, relatando resulta dos e apontando perspectivas. Vian é agricultor no sudeste de Goi ás, onde cultiva soja, milho, sorgo e gergelim orgânicos em larga escala, além de cana-de-açúcar, eucalipto e mix de plantas de cobertura.
Nascido como grupo de WhatsA pp, nove anos atrás, o Grupo Asso ciado de Agricultura Sustentável (Gaas) evoluiu para ser hoje uma entidade representativa de mais de 3 mil empreendedores rurais com prometidos com os valores ESG a cada etapa do processo produtivo.
Acredito que estamos vivendo uma fase de transição entre a anti ga agricultura e a agricultura mais sustentável. Neste cenário, há uma turbulência mundial, com a guerra na Ucrânia, e toda a questão de mudanças climáticas. Todos os anos acontece uma grande seca. A gente veio de uma seca brava no ano passado, no período da safri nha, e este ano, de novo, uma re gião grande do País sofreu com a falta de chuvas. Ao mesmo tempo, a guerra acelerou muito e o Brasil se mantém extremamente depen dente de importações. Para se ter uma ideia, hoje o País importa 85% do MPK que a gente consome aqui.
Acompanhe: DE ONDE VEM, COMO ESTÁ O DESENVOLVIMENTO E QUAIS SÃO OS OBJETIVOS DO GAAS?
Nós surgimos como um pequeno grupo de agricultores aglutinados, a partir de 2013, no WhatsApp. Na quele momento, estávamos todos já inconformados com os modelos de produção agressivos à natureza e os altos custos de maneira geral.
O NASCEU COM
GRUPO
“Será que não tem alternativa para essa situação?”, era a pergun ta básica que procurávamos res ponder. Desse ponto, o grupo veio crescendo muito, tanto que um ano depois a gente já fez um fó rum brasileiro, com participantes de várias regiões do País, para tra tar das novas formas de produzir alimentos. Quando chegamos a 256 participantes no ‘zap’, fomos para o Telegram e continuamos a crescer. Hoje, temos mais de 3 mil membros que participam ativa mente das nossas redes sociais.
ESSA TRANSIÇÃO TEM UM CUSTO. EXISTE DISPOSIÇÃO NO MERCADO EM AJUDAR O PRODUTOR A PAGAR ESSE CUSTO DE FAZER A TRANSIÇÃO?
53PLANT PROJECT Nº32 HÁ RAZÕES PESSIMISMO?PARA
Sem dúvida. Dentro do nosso gru po, não importamos nada. Nós trabalhamos com insumos regio nais, que são remineralizadores do solo. São os conhecidos “pó de rocha”. A gente usa bioinsumos, muitos deles produzidos em nos sas propriedades. Trabalhamos com microrganismos que coloca mos na mata nativa da nossa fa zenda, nas áreas de reserva legal. A gente também aproveita os compostos da região, tanto sóli dos quanto líquidos. Criamos, as sim, várias ferramentas e conse guimos substituir praticamente em 100% o que é importado. Mas todo esse processo é muito traba lhoso e requer muita informação e disposição.
Esse é um ponto importante, por que realmente há um gargalo mui to grande. Todo mundo quer com prar o produto certificado pronto, mas não quer financiar essa transi ção. Eu sou certificador de orgâni cos há cinco anos e falo isso para todas as empresas que nos procu ram. A gente precisa de mais pro dutos e produtores, mas é preciso financiar a transição, senão o pro dutor não vai mudar nunca.
COM ESSAS SUBSTITUIÇÕES, TEM SIDO POSSÍVEL MANTER OS GANHOS? É impressionante, mas a resposta é sim. E por quê? Porque o nosso foco não é produtividade, mas sim a rentabilidade por hectare. O nos so grupo parou de falar em produ tividade para, em lugar disso, pro curar saber quanto sobra no bolso ao final de cada safra. A rentabili dade está subindo por hectare, que é o que importa. Isso é o con trário do que está acontecendo hoje na agricultura tradicional, na qual para dez em cada dez produ tores a conta não fecha. O custo hoje está altíssimo. No próximo ano, a serem mantidos os preços atuais das commodities agrícolas, isso não vai pagar a conta da pro dução tradicional.
EM RELAÇÃO AO CRÉDITO FORNECIDO PELOS BANCOS PARA FINANCIAR AS SAFRAS, SER SUSTENTÁVEL FAZ A DIFERENÇA A FAVOR DO PRODUTOR? Não, não faz nenhuma diferença. Não existe uma linha de crédito melhor ou um bônus para quem é sustentável ou orgânico. Eu fico indignado. patrocínio
VOCÊ VÊ ESSE FUTURO COMO POSSÍVEL?
O PRINCIPAL INSUMO DA AGRICULTURA HOJE SERIA, ENTÃO, O CONHECIMENTO? Exatamente. A questão é saber se o produtor brasileiro está aberto a esse tipo de discussão e a fazer as necessárias substituições para completar a transição. É costume falar que a gente só muda de dois jeitos, ou pelo amor ou pela dor. E agora chegou a hora da dor. O pro dutor é como qualquer ser huma no, que no final do dia tem de pagar boleto. Quando a conta começa a não fechar, ele começa a pensar em outro modelo, mas mudar de ativi dade, isso ele não vai.
A AGRICULTURA BRASILEIRA TEM FEITO PROGRESSOS NA DIREÇÃO DA SUSTENTABILIDADE? Sim, a agricultura brasileira é mui to sustentável, mas ela pode ser muito mais sustentável do que é hoje. A gente está conseguindo provar isso, tanto que já temos 6 milhões de hectares ocupados com esse novo modelo de agricultura, em várias culturas, de todos os ti pos de tamanhos. A agricultura or gânica está avançando e é viável. O processo para fazer essa mudança, porém, não é da noite para o dia.
De fato, não quero passar uma mensagem negativa, mas há muito a ser feito. Para realizar a transição para uma agricultura sustentável, o produtor terá de entender prati camente todo o processo produti vo. Não adianta mais você enten der só de soja, só de cana ou só de café. Você tem que entender do ecossistema, especialmente do solo. Ele é a nossa principal base. Cada vez mais será preciso traba lhar com o solo vivo, com microrga nismo, com plantas de coberturas e outros insumos naturais. Ele terá de trabalhar com várias culturas e com vários tipos de fertilizantes, que não esses importados que a maioria usa atualmente.
Com o avanço das pesquisas e tecnologias, a Unipar trouxe de volta ao mercado uma solução que utiliza o Ácido Clorídrico no processo de produção do etanol
54 Há uma revolução silenciosa em curso no setor sucroalcooleiro. Desde 21 de julho, a Usina de Açúcar e Álcool São José da Estiva, com sede em Novo Horizonte (SP), opera com o uso de Ácido Clorídrico (HCl) na fermentação, em substituição ao Ácido Sulfúrico (H2S04). O insumo fornecido à usina pela Unipar é resultado de um bem-sucedido desenvolvimento tecnológico realizado em parceria com a Fermentec, empresa líder no mercado em tecnologia para o setor sucroenergético e uma das grandes referências no desenvolvimento e seleção de leveduras. Trata-se de um passo decisivo na oferta de uma alternativa avançada, viável e sustentada para o tratamento do creme de levedura – etapa crucial no processo produtivo do etanol. “Esse é um projeto inovador, que nos dará uma flexibilização diante de um mercado de insumos agitado, seja com relação a disponibilidade ou quanto a preço”, aponta Ricardo Ribeiro da Silva, gerente de Produção Industrial da Estiva. “O sucesso desse projeto será importante para ganhos em todo o setor sucroalcooleiro. Ganhos relacionados à disponibilidade de produto, visto o atual panorama de disponibilidade de Ácido Sulfúrico, competitividade de custo e sem dúvida o apoio de um parceiro e fornecedor como o Grupo Unipar”, afirma Lucas Bispo, gerente de Contas Sênior da BatizadoUnipar.deProjeto Cana, a reestreia do uso do Ácido Clorídrico (HCl) no processo de produção de etanol foi cuidadosamente preparada pela Unipar nos últimos anos. Um a um, todos os testes de validação do Ácido Clorídrico como elemento não corrosivo, capaz de reduzir a contaminação por bactérias e manter o levedo sem flocos foram vitoriosos. Departamentos especializados da USP, UFRJ, UFSCar e do Senai/Sertãozinho constataram em provas de qualidade que o uso manteve o pH nos parâmetros desejados e auxiliou no controle da contaminação microbiana.
DE VOLTA AO JOGO
Ainda em escala piloto, os testes com o uso do HCl não demonstraram nenhuma observação negativa em comparação ao Ácido Sulfúrico (H2S04). Além disso, ganhos econômicos significativos são projetados diante das constantes oscilações de preço e oferta do Ácido Sulfúrico, utilizado neste momento pelas demais empresas produtoras de etanol.
O Especialista em produtos clorados e integrante da Diretoria Técnica da companhia, Antônio Caprino, corrobora a avaliação. “A implementação desse Projeto nos permite oferecer mais segurança de fornecimento do insumo ao setor sucroalcooleiro”, reforça Caprino. “O que estamos promovendo é uma alternativa, após anos de uso exclusivo do Ácido Sulfúrico pelas usinas”, destaca o Diretor de área de Projetos (PMO) da Fermentec, Marcel Salmeron Lorenzi. “O importante é que o Ácido Clorídrico agora se apresenta como uma alternativa viável às usinas”, afirma Salmeron. Em tempos de dólar alto, a diferença de custo entre os dois modelos tende a se acentuar, com vantagem para o Ácido Clorídrico.
“Precisamos quebrar paradigmas com relação ao uso do Ácido Clorídrico vinculada a corrosão em equipamentos já que é uma preocupação para o setor. Para aço carbono, por exemplo, o uso de Ácido Clorídrico é menos agressivo que o Ácido Sulfúrico.” Ressalta a Especialista em Corrosão, Dra. Idalina Aoki da USP. “Estamos realizando ensaios para o monitoramento da corrosão em campo durante o uso do Ácido Clorídrico na Usina S. J. da Estiva e acreditamos que trará mais confiança ao setor”
As pesquisas para a utilização do Ácido Clorídrico (HCl) adequado à operação das usinas foram iniciadas na última década pela Unipar. Durante este período, foram realizados estudos e experimentos por especialistas de diversas áreas ligadas aos setores de pesquisa e produção do etanol. Os avanços obtidos ficaram maduros e, com a adoção em escala de produção pela Usina São José da Estiva, passam a estar sob o crivo de um mercado exigente e moderno. Com base no excelente desempenho ao longo do desenvolvimento do produto, as expectativas são as melhores.
Unidade de produção da Unipar (esq.) e a Usina São José de Estiva (abaixo): nova opção para o setor sucroalcooleiro
Após quase 15 anos de avanços tecnológicos na produção do Etanol e através da validação em testes realizados pelo Laboratório de Eletroquímica e Corrosão da USP, o Ácido Clorídrico (HCl) retoma ao mercado como uma segunda opção de elemento ativo sobre as leveduras de transformação da cana-de-açúcar em etanol, durante a etapa de fermentação nos tanques de aço inox.
VERSÃO AVANÇADA Em meados de 2007, o Ácido Clorídrico (HCl) chegou a ser usado por algumas usinas nacionais como um insumo no processo de destilação do etanol. Porém após alguns casos pontuais de desgaste levaram ao abandono do uso desse insumo. A substituição foi feita pelo Ácido Sulfúrico que, nos últimos 60 anos, vem sendo utilizado por todos os produtores, sem exceção.
EFICIÊNCIA E SEGURANÇA “Tanto do ponto de vista técnico como pelas vantagens comerciais, nossa expectativa é que o Ácido Clorídrico tenha, a partir de agora, uma expressiva aceitação pelas usinas”, afirma a Engenheira Química Luciana Viviani, Coordenadora de Desenvolvimento Técnico e Mercado da Unipar. “O modelo de negócio ganha um elemento novo, confiável e econômico”, completa ela.
Plant +
NOVAS MÁQUINAS NA FLORESTA Montadoras seguem rota de inovação do setor florestal e trazem novos equipamentos para aumentar eficiência e automação Por Marco Damiani Ag Máquinas
Equipamento da Caterpillar: estratégia da empresa passa pelo desenvolvimento de acessórios adaptados ao maquinário já existente
lantar florestas é fazer agricultura. O que muda é o porte das plantas. Nos últimos anos, assim como na maior parte das culturas, a produção de árvores voltadas para as indústrias de papel e celulose ou madeireira evoluiu graças a avanços significativos em áreas como a biotecnologia, que conseguiu desenvolver variedades de crescimento mais rápido e adaptadas às condições brasileiras, transformando o País em referência global no setor. A indústria de máquinas segue, agora, a mesma rota. Atenta às necessidades dos produtores, tem desenvolvido equipamentos especiais para ampliar a eficiência e a tecnificação nas florestas plantadas. John Deere e a Caterpillar disputam o protagonismo neste campo, por meio da criação e atualização de equipamentos voltados à crescente demanda. E aproveitar também uma crescente demanda por reflorestamento, em razão das exigências legais e do mercado consumidor por modelos sustentáveis na agropecuária. Uma das principais novidades nesse terreno está em testes em uma fazenda de uma grande companhia nacional do setor de celulose. O modelo New Deere Plantadora 1.0 começou a ser desenvolvido em 2015 pela John Deere e exigiu o trabalho de um grupo de 50 técnicos, divididos em bancas de desenvolvimento instaladas nos Estados Unidos, na Índia e no Brasil. A máquina é capaz de plantar mudas de eucalipto automaticamente, à razão de 10 hectares
P Ag Máquinas
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paratransportandoAtlânticamudasreflorestamento:maiorprodutividadenosetor
“É um novo conceito”, resume Rodrigo Barbosa, gerente de Marketing da John Deere. “O produtor define quantas mudas quer plantar e o distanciamento entre elas, o restante a máquina realiza com apenas um operador”, acrescenta. A empresa disponibiliza treinamento para a operação da máquina. Ela é adequada para uso em grandes áreas e, até o momento, está restrita ao plantio de mudas de eucalipto. “O Brasil está servindo de campo de testes. Se o desempenho da plantadora ocorrer dentro do esperado, que é o que já está acontecendo, poderemos até mesmo exportá-la para outros países”, diz Barbosa. Com outra estratégia, a também americana Caterpillar desenvolveu uma linha Nova plantadora da John Deere e equipe da SOS Mata
O primeiro protótipo da plantadora foi desenvolvido sobre a plataforma de uma escavadeira padrão de construção civil, mas precisou de diferentes redesenhos até chegar ao modelo atual. O novo equipamento leva em consideração até mesmo os diferentes níveis de um mesmo terreno para insertar todas as mudas na mesma profundidade da terra. Outras duas empresas de celulose já estão na fila para realizar testes assim que o período de uso na primeira companhia se complete.
59PLANT PROJECT Nº32 por hora, o que inclui uma primeira irrigação. Para efeito de comparação, o mesmo trabalho feito por um grupo de quatro homens exige hoje, em média, entre quatro e seis horas para o preenchimento de 1 hectare com mudas.
60 completa de acessórios para limpeza, preparação, plantio e carregamento de árvores, todos eles adaptáveis ao maquinário já existente. “Acreditamos em customização, ou seja, em entregar ao cliente exatamente o que é a sua necessidade”, afirma Rogério Lima, gerente florestal da Caterpillar. “As áreas para reflorestamento são muito desiguais entre si e equipamentos de grande porte nem sempre são os mais adequados para o manejo”, ondaexemplo,OempresasdemandacomseremparacomCaterpillaremotoniveladoras,Tratores,completa.escavadeiras,subsoladorescarregadeirasfeitaspelapodemreceberkitsequipamentosespecíficosascondiçõesdasáreasareflorestadas,inclusiveespéciesnativas,umalegalquetematingidodediversossetores.demineraçãoéumbomsegundoele,danovaporrecuperaçãode
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A Máquinas Barbosa, da John Deere, e Lima, da demandaCaterpillar:crescente
CONEXÃO LIMITADA Avanço natural em outras áreas do agronegócio, a automação ainda é um sonho mais distante, porém, para o segmento florestal. Embora a entrada em operação da tecnologia 5G abra novas portas para o desenvolvimento de máquinas, representantes das fabricantes não vislumbram, no horizonte de curto prazo, uma mudança muito radical no panorama atual. “Ao mesmo tempo que é mais veloz, o sinal do 5G é mais curto, o que vai impor a instalação de muitas antenas até que ele seja realmente útil para efeitos, por exemplo, de máquinas autônomas”, calcula Rogério Lima.
florestas. “O Código Florestal e toda a legislação ambiental do País nos fazem acreditar que o interesse reflorestamentoporserá cada vez maior”, projeta Lima.
A nova máquina John Deere já enfrentou testes com a tecnologia 5G, mas ainda não conseguiu as boas notas esperadas por seus criadores. “A automação completa, em que máquinas poderão ser comandadas de um escritório, sem a necessidade de um operador, ainda está distante”, reconhece Rodrigo Barbosa.
61PLANT PROJECT Nº32
O interesse das grandes indústrias de máquinas em criar equipamentos específicos para reflorestamento é saudado por Rafael Bitante, diretor do SOS Mata Atlântica. A entidade desenvolve um trabalho de reflorestamento sobre áreas degradadas que já é referência mundial. “À medida que os produtores adquiram novas tecnologias para o plantio de florestas, mais rapidamente os nossos biomas estarão sendo recompostos”, diz ele. Para os pequenos e médios produtores interessados em reflorestar, porém, a barreira ainda existente é a econômica.
Um dos principais formuladores da atual política ambiental brasileira, o professor José Felipe Ribeiro lembra que 1 hectare de floresta restaurada chega a custar entre R$ 20 mil e R$ 30 mil. Para que a área tenha capacidade de subtrair carbono da atmosfera, cada hectare precisa ter entre 700 e 1,6 mil “indivíduos”, ou seja, raízes incrustadas no solo. “A chegada de máquinas de alta tecnologia ao setor de reflorestamento é uma boa notícia”, observa ele. “Com o tempo, a tendência é de os custos decrescerem e, com uma política adequada de incentivos, mais produtores poderão reflorestar”, acredita Ribeiro.
Variedades de abóbora obtidas com sementes recolhidas pela pesquisadora Rosa Lía Barbieri: início do trabalho
FOME DE MEMÓRIA Os bancos de sementes que conservam o futuro da alimentação no Brasil Por Sibélia Zanon* AgCiência
Hoje, as sementes de abóbora doadas pela agricultora e por muitos outros agricultores de todo o Brasil estão preservadas em geladeiras ainda mais especializadas: os bancos de germoplasma da Embrapa. A parceria entre pesquisadores e agricultores é preciosa para alimentar a coleção de 164 bancos espalhados pelas cinco regiões do País, guardando recurso genético ou material reprodutivo de plantas relevantes para a alimentação e a agricultura.
A coleção de sementes da Embrapa conta hoje com cerca de 120 mil amostras de quase 700 espécies agrícolas, coletadas ao longo dos 49 anos de existência da N
Ag Ciência
64 uma ilha na Lagoa dos Patos, bem ao sul do estado do Rio Grande do Sul, uma senhora guardava um tesouro na geladeira. Há anos uma gaveta abrigava o presente que havia ganhado de casamento: sementes de feijão e de espécies de abóbora. “Ela disse que ia me dar as sementes que ganhou da sogra”, conta Rosa Lía Barbieri. “Eram sementes de uma abóbora que eles chamam de abóbora-gila (Cucurbita ficifolia), que se usa muito para fazer doce”, diz a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que, na época, era responsável pelo banco de germoplasma de cucurbitáceas.
65PLANT PROJECT Nº32 estatal. Todas elas conservadas a 20 graus centígrados abaixo de zero. “Em resumo, a gente tem três formas de conservar. Conservamos as sementes a baixas temperaturas, em culturas de tecidos [tubos de ensaio com crescimento lento], ou as plantas no campo”, conta Rosa Lía sobre a diversidade dos bancos de germoplasma. O feijão, o arroz, o milho e as abóboras produzem sementes chamadas ortodoxas, que podem ser armazenadas em baixa umidade e temperatura em câmaras frias, durando por séculos. Já a manga, o pêssego e o abacate produzem sementes ditas recalcitrantes, que não suportam o frio e, para germinar, precisam ser usadas logo após colhidas. Nesse caso, o banco de germoplasma se traduz em uma plantação no campo. Em diversas localidades do País, são mantidos os bancos de fruteiras nativas, apelidados afetivamente de arca de Noé das frutas nativas brasileiras.
“O banco de castanha-dopará [também
, diz Rosa Lía. “Temos vários bancos de germoplasma de frutas da Amazônia, como cupuaçu e camu-camu, mantidos no campo” Nos últimos 50 anos a produtividade da agricultura foi afetada mundialmente pelas mudanças climáticas. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em Inglês) sugere que eventos extremos como secas, Trabalhos nos bancos de sementes da Embrapa: mais de 120 mil amostras de 700 espécies
tempo,castanha-do-paráconservarcampo.eEmbrapaexemplo,castanha-do-brasil],chamadaporficanoPará,naAmazôniaOriental,asplantassãocultivadasnoAgentenãoconsegueasementedapormuitoelaperdeaviabilidade”
66 ondas de calor e enchentes terão impacto sobre a agricultura no Brasil. Num panorama de altas emissões, estudos mostram que a produção de arroz poderia cair 6%; a produção de trigo 21%; e a de milho 10%.
O também chamado “Cofre de sementes do fim do mundo” já guarda mais de 1 milhão de amostras. Caixas lacradas com a bandeira do Brasil e recheadas de sementes de arroz, feijão, pimenta, cebola, abóbora, melão, melancia e milho integram suas prateleiras. Uma próxima remessa de sementes brasileiras já se aproxima.
“A questão das mudanças climáticas, com o possível degelo das calotas polares, foi um fator levado em conta. Tanto é que o Banco Mundial de Sementes de Svalbard foi construído a 130 metros acima do mar”, conta Rosa Lía, que também ocupa uma cadeira no Painel Consultivo Internacional na gestão do Banco Global de Sementes de Svalbard, localizado em Longyearbyen, a cidade mais ao norte do planeta, no meio do Oceano Ártico. Por lá, não são pastores alemães ou gansos que cuidam da segurança. O arquipélago norueguês de Svalbard conta com quase mil ursos polares, um para cada três pessoas.
Inaugurado em fevereiro de 2008 com o objetivo de conservar a biodiversidade das espécies de vários cultivos do mundo, o cofre de sementes da humanidade foi escavado em rocha sólida de montanha para resistir às catástrofes climáticas e até a uma explosão nuclear. A porta de aço repleta de sistemas de segurança abre passagem para um túnel de 125 metros de comprimento que conduz a três câmaras refrigeradas a 18 graus centígrados negativos, capazes de armazenar 4,5 milhões de amostras de sementes.
Banco Global de Sementes de Svalbard: sementes de caju a caminho do Ártico
Um movimento messiânico na década de 1950, que estimulava o abandono das práticas tradicionais, associado ao incentivo de substituir as roças pela monocultura do arroz tinha levado os Krahô a um
EROSÃO GENÉTICA Na década de 1990, indígenas do povo Krahô chegaram à sede da Embrapa em Brasília, acompanhados de um indigenista da Funai, para recuperar antigas variedades de sementes de milho que haviam desaparecido de suas aldeias.
“As sementes já estão nas caixas, embaladas, e estamos na fase de documentação. Em breve serão remetidas pelo correio”, diz Rosa Lía. Nas caixas estão espécies forrageiras para alimentação de animais, variedades de milho crioulo, de maracujá e de caju. “A castanhade-caju se comporta como semente ortodoxa, então estamos enviando as primeiras sementes de caju para Svalbard, nenhum país enviou ainda pra lá.”
As sementes armazenadas no arquipélago norueguês continuam sendo de propriedade de quem as depositou e só podem ser retiradas, ou repatriadas, em caso de catástrofe. A primeira retirada de sementes do cofre foi feita em 2016 pela Síria, que teve seus bancos locais de sementes bombardeados.
AgCiência
Naquela ocasião, cada cacique pôde levar para a sua aldeia de seis a oito sementes. Depois de um ano, retornaram a Brasília trazendo sacos de sementes que haviam sido multiplicadas em suas roças. A partir da busca dos Krahô, surgiu a parceria da Embrapa com a Kapéy, União das Aldeias Krahô, e a Fundação Nacional do Índio (Funai), gerando um diálogo entre sabedorias tradicionais e saberes científicos.
“A gente gosta de brincar que os Krahô bateram uma flecha no Banco de Sementes da Embrapa porque fomos sensibilizados por eles nesse processo”, conta Terezinha Dias, pesquisadora da Embrapa que há 20 anos coordena ações em etnociência, conservação de recursos genéticos e promoção da segurança alimentar junto ao povo Krahô.
Uma das experiências resultantes da parceria é a interação de duas estratégias de conservação de sementes: a ex-situ, que é a conservação fora do seu ambiente, como no caso dos bancos de sementes da Embrapa, e a on-farm, que é a conservação no campo, por meio do constante plantio, como ocorre nas roças dos Krahô.
O processo de desvalorização de sementes tradicionais ou crioulas é herança da Revolução Verde, movimento mundial que,
68 estado de pobreza e fome, com a perda de grande parte de sua variedade agrícola, inclusive das sementes tradicionais de milho. Os indígenas pediram aos gestores e pesquisadores da Embrapa que abrissem as câmaras frias para a busca. Foi a primeira vez que isso ocorreu por demanda comunitária. Na ocasião, quatro variedades de milho, que haviam sido coletadas em décadas anteriores junto ao povo indígena Xavante, foram reconhecidas pelos Krahô como exemplares de milho da sua cultura.
“Aqui, no nosso banco de sementes ex-situ, a gente consegue conservar tudo? Claro que não. Nós temos que ter parcerias com os índios, com os quilombolas”, diz Terezinha.
diversidadeemsementesdecampoevariedadesdemilho:preservada
AgCiência Coleta
*Reportagem publicada originalmente no site Mongabay
“O modelo de monocultivo da Revolução Verde foi ampliado no mundo inteiro e as empresas que começaram a trabalhar com agroquímicos começaram no processo de melhoramento de plantas”, diz Terezinha. “As empresas já chegavam influenciando o governo de cada país para que as leis de sementes locais proibissem o uso das sementes tradicionais.”
em meados do século 20, passou a incentivar o aumento da produção agrícola. A aposta do movimento foi na mecanização, nos agroquímicos e nas sementes melhoradas geneticamente em centros de pesquisa – muitasvezes vulneráveis e pouco adaptadas a variações climáticas e ao solo de cada região. Consequência adicional foi a contaminação de plantios tradicionais pelo pólen das crescentes lavouras transgênicas.
O resultado foi o empobrecimento agrobiodiversidade,dacom a extinção de muitas variedades vegetais e a perda dos conhecimentos culturais sobre o manejo das espécies – processo denominado tecnicamente de erosão genética. Um dos esforços que têm sido empreendidos contra essa tendência são as feiras de sementes, iniciadas em 1997 pelo povo Krahô depois do resgate das espécies de milho tradicionais. Desde então, diversas feiras foram realizadas para troca de sementes e saberes, incluindo a participação de outros povos indígenas. Em 2020, a Feira de Sementes Tradicionais dos Krahô foi uma das dez contempladasiniciativascomovalor de 50 mil reais pelo Prêmio BNDES de Boas Práticas em Sistemas Agrícolas Tradicionais.
“Os territórios indígenas são arcas de conservação. Se a gente tem um banco de sementes aqui, imagina o que tem dentro dessas comunidades? Uma coisa é a semente que você coleta e que fica parada aqui, congelada. Outra coisa é a semente que está na mão do agricultor, que ele vai adaptando.”
Ideias debatese credibilidadecom F FORUM o “A tecnologia promove o uso racional de baixoadoasseguraagroquímicos,asaúdesoloeviabilizaagriculturadecarbono”
Empresas nos quatro cantos do mun do vêm cada vez mais trazendo soluções em inteligência artificial e SaaS (software como serviço) para o agronegócio. Vá rias delas se encontram no Brasil, muitas vezes fundadas por engenheiros agrô nomos, mecânicos, eletrônicos etc.
Todo esse aparato ainda evita a compactação do solo, pois fornece
O robô captura imagens das áre as (e plantas) utilizando câmeras e sensores multiespectrais e a partir daí identifica pragas, doenças, qualidade do cultivo, analisa a nutrição e a saúde da planta e entrega essas informações para a Alice AI, que faz uma análise e dá uma recomendação de manejo para o produtor. Por fim, após o manejo, o robô escaneia novamente a área e in forma se a operação foi bem-sucedida e se trouxe os resultados esperados.
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A tecnologia utiliza dois métodos de condução: um GPS de altíssima preci são (RTK), que o permite seguir linhas previamente programadas, e o outro de câmeras e visão computacional, que identifica onde está a cultura. O equipa mento é direcionado pela inteligência artificial, que calcula o trajeto mais efi ciente e o momento ideal para realizar as operações onde é necessário. De acordo com o fabricante, a recomenda ção é de um robô para cada 200 hec tares, com capacidade de monitorar 14 milhões de plantas por semana.
Estima-se que a redução do uso de insumos químicos nas lavouras possa chegar a 30%, no caso de defensivos e fertilizantes, e a até 70%, quanto aos inseticidas, caso a praga seja identifi cada no estágio inicial.
Fo A ROBÓTICA NAS LAVOURAS POR MARCO RIPOLI*#COLUNASPLANT
Com este volume de dados e utilizan do-se de Machine Learning, o algoritmo desenvolvido calcula o melhor caminho, a melhor prática, o que está dando cer to, e indica ao produtor rural quando e como agir, do pré-plantio à pós-colhei ta, ajudando na tomada de decisões em logística, gestão, rastreabilidade, agro nomia e robótica. Alguns destes equipa mentos já são movidos a energia solar, contribuindo na diminuição do consumo de combustíveis fósseis, reduzindo o im pacto ambiental e social. Plataformas inteligentes indicam qual o melhor momento para realizar cada operação, direcionando insumos, equipamentos, maquinários e mão de obra com total autonomia. A tecnolo gia promove o uso racional de agroquí micos, assegura a saúde do solo e via biliza a agricultura de baixo carbono. Com base na inteligência artificial, o Solix funciona como os “olhos” da pla taforma dentro das lavouras. O robô, desenvolvido em pouco mais de três anos, é completamente autônomo, se movimentando por toda a fazenda, sem necessitar de controle humano. E como isso foi possível?
O foco hoje é nas plataformas di gitais de inteligência artificial para o campo (como a Alice AI) e nos equipa mentos robotizados, como o robô vol tado à produção agrícola em larga es cala chamado Solix. Estas plataformas contam com uma quantidade de dados agronômicos de mais de 10 bilhões de informações do campo por dia.
A plataforma robótica possui 5 me tros quadrados (2,5 x 2,0 m) é capaz de monitorar planta a planta, possi bilitando a descoberta de pragas e doenças ainda em seu estágio inicial, promovendo o controle mais rápido e com menor utilização de defensivos.
Todo esse sistema de soluções foi primeiramente lançado para lavouras de grãos devido à demanda mundial por alimentos. A expectativa é de que entre 1 milhão e 1,5 milhão de hectares de grãos poderão ser monitorados em um ano. Até o fim de 2022, a previsão é de que ocorra a pré-venda do Solix também para cana-de-açúcar.
Falar é fácil, fazer são outros qui POR MAIS VINHOS DE ENTRADA
Movido a energia solar, o Solix, nes te caso, carrega durante o dia e traba lha à noite, equipado com baterias que são suficientes para três dias de tra balho sem recarregar, na ausência de incidência de luz solar.
mapas de ação com base nas condi ções de cada planta, viabilizando o uso de máquinas menores para pulverizar apenas as áreas necessárias. Adicional a isso, o robô será equipado com um sensor de compactação do solo para fazer as recomendações necessárias e evitar o agravamento do problema.
73PLANT PROJECT Nº32 #COLUNASPLANT
* Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, ph.D. é engenheiro agrônomo e mestre em Máquinas Agrí colas pela Esalq-USP e doutor em Energia na Agricultura pela Unesp, fundador do “O Agro não Para” e proprietário da Bioenergy Consultoria e investidor em empresas.
O Agro não para!
O sucesso da vitivinicultura nacio nal entre os consumidores brasileiros depende muito mais dos chamados “vinhos de entrada” do que dos rótu los de alta gama de nossas vinícolas. O aumento de mais de 30% no consumo de vinhos nacionais no primeiro ano da pandemia comprovou que os bra sileiros querem beber a produção do seu país – desde que a relação preço/ qualidade seja melhor que a dos im portados.Ehoje é. Com a alta do dólar e dos fretes internacionais, a Covid-19 e a guerra da Ucrânia, o preço dos vinhos brasileiros mais simples tornou-se bas tante competitivo em relação ao dos “vinhos de combate” das grandes bo degas chilenas e argentinas. Quanto à qualidade, nem se compara. Nesta ca tegoria, nossos vinhos são muito me lhores. Então, com preço e qualidade competitivos, as vinícolas brasileiras têm condições de ampliar considera velmente o seu share no mercado in terno (que, no final das contas, é o que interessa).Paraisso, mais do que nunca te rão de investir em vinhos de entrada, simples, mas tecnicamente bem-feitos; melhores que os importados, mas com preços similares. Este é o perfil da be bida que vai formar um novo público e ajudar o Brasil a ultrapassar a mirrada marca de consumo de apenas 3 litros por habitante ao ano. Podem vir a ser, também, os vinhos do cotidiano para aqueles que bebem eventualmente produtos mais caros.
POR IRINEU GUARNIER FILHO*
nhentos. O vinho nacional recolhe mais de 55% do seu preço de vare jo em tributos. A escala de produção das vinícolas brasileiras é pequena, se comparada à de suas concorrentes no Mercosul. Mas o setor terá que supe rar esses entraves e apostar cada vez mais em produtos acessíveis para o dia a dia. Toda vinícola precisa ter pelo menos um rótulo de entrada em seu portfólio. Quem pode beber um vinho de R$ 150 ou R$ 250 reais todo dia? Mesmo uma garrafa de R$ 25, se con sumida diariamente ou mesmo três ve zes por semana, já pesa no orçamento da maioria dos brasileiros que ainda podem se dar ao luxo de beber vinho.
Por outro lado, a concorrência com os importados na faixa acima de R$ 200 é feroz. Quem paga este valor por uma garrafa quase sempre prefe re os estrangeiros – principalmente os encorpados argentinos –, mesmo que tenhamos excelentes rótulos também nesta categoria. É uma questão cultu ral. Lamentavelmente, ainda se acredi ta que tudo o que vem de fora é me lhor, ou tem mais status…
*Irineu Guarnier Filho é jornalista especializado em agronegócio, cobrindo este setor há três décadas. Metade deste período foi repórter especial, apresentador e colunista dos veículos do Grupo RBS, no Rio Grande do Sul. É Sommelier Internacional pela Fisar italiana, recebeu o Troféu Vitis, da Associação Brasileira de Enologia (ABE), atua como jurado em concursos internacionais de vinhos e edita o blog Cave Guarnier. Ocupa o cargo de Chefe de Gabinete na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, prestando consultoria sobre agronegócio
Também neste caso, os rótulos de entrada podem ser um bom negócio para as vinícolas: embora o valor agre gado seja menor por unidade, produ zidos em maior escala eles poderiam bancar a produção de vinhos icônicos, mais caros, de tiragem limitada, que arrebatam medalhas e conferem pres tígio aos seus produtores, mas ven dem pouco.
#COLUNASPLANT
As doprodutorasregiõesmundo F FRONTEIRA r Amêndoas de cacau colhidas no Pará: Cultivo ajuda a recuperar áreas degradadas no estado
As doprodutorasregiõesmundo Fr FRONTEIRA
Cultura do cacau é vetor de preservação da floresta e pode ser a alavanca para melhorar a renda do agricultor familiar O FRUTO CONSERVAÇÃODA Por Lívia Andrade, de Altamira (PA)
Outro estímulo à expansão do cacau na região vem da Instrução Normativa nº 33.993/2019 do Governo do Estado do Pará, que dispõe sobre os critérios para recomposição de Reserva Legal com o plantio de cacau em sistemas agroflorestais. Segundo órgãos do Pará, o agronegócio cacau no estado engloba 28,7 mil produtores rurais, com uma média de 5 hectares cada. A maioria dessas propriedades rurais (80%) está situada na região da Transamazônica e mais de 70% dos produtores vendem suas amêndoas para atravessadores devido às dificuldades logísticas. No entanto, D
78 o espaço ou do chão é possível enxergar um horizonte positivo para regiões inteiras da Amazônia. E quem olha com atenção identifica claramente um fruto bastante popular nesta imagem. Um estudo da Embrapa chancela o cultivo do cacau como vetor de preservação da Amazônia. Fruto do cruzamento de imagens de satélite com dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e pesquisas de campo, o mapeamento feito por Adriano Venturieri, pesquisador da Embrapa, cobriu 70 mil hectares em 26 municípios paraenses. O trabalho resultou no artigo “A expansão sustentável da cultura de cacau no estado do Pará e a sua contribuição para a recuperação de áreas alteradas e redução de incêndios”, que – recentemente – foi publicado no “Estes 70 mil hectares foram até 2019, mas continuamos o monitoramento e hoje estamos com 90 mil hectares mapeados”, diz Venturieri.Apesquisa lança os holofotes para os cacauais do Pará, cultivados majoritariamente por agricultores familiares em SAF, sistema agroflorestal que integra o cacau com espécies frutíferas (açaí é um exemplo), árvores provedoras de óleos e sementes e outras com fins madeireiros. O trabalho mostrou que 70% da expansão cacaueira tem ocorrido em áreas anteriormente degradadas. E mais: aonde a cultura chega, as queimadas e o desmatamento diminuem. “99,54% das áreas mapeadas não apresentam problemas em relação a áreas protegidas. Apenas 0,46% se encontra em área de preservação ambiental (APA), que permite atividades produtivas”, relata o pesquisador.
“Este índice saiu de zero para algo em torno de 15 a 25% no ano passado”, diz Anna Paula Losi, diretora executiva da AIPC. A sede da indústria por matéria-prima é facilmente explicada. O Brasil é um lugar ímpar no mundo, reúne características que nenhuma outra nação possui: 1) produz cacau; 2) tem parque moageiro; 3) indústrias chocolateiras; e 4) mercado consumidor.
79PLANT PROJECT Nº32 de acordo com a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), ano após ano as moageiras estão aumentando a quantidade de amêndoas diretamentecompradasdosprodutores.
“Fechamos 2021 com um crescimento de 35,9% na produção de chocolate”, diz Ubiracy Fonsêca, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab).
E, mesmo em 2020, com o boom da pandemia no País, que prejudicou muito o segmento de Food Service (alimentação fora do lar), o setor fechou o ano com um crescimento de 0,5% no número de vendas. No entanto, segundo a AIPC, nos últimos cinco anos, a produção média nacional de cacau ficou em torno de 170 mil toneladas de amêndoas por ano. “Este volume está muito aquém da capacidade instalada da indústria, que é de 275 mil toneladas e distante do que temos processado anualmente, cerca de 220 mil toneladas”, explica Anna.
Um dos entraves para o aumento da produção brasileira de cacau era a desunião do setor, que mudou com a chegada do CocoaAction, em 2018. Trata-se de uma iniciativa da Fundação Mundial do Cacau (WCF, na sigla em inglês) para promover o desenvolvimento sustentável da cadeia cacaueira. “Atuamos com parcerias público-privadas e pré-competitivas, em que empresas competidoras no mercado se unem para trabalhar por objetivos comuns”, diz Pedro Ronca, coordenador do CocoaAction Brasil, que em território nacional reúne as moageiras Barry Callebaut, Cargill e Ofi e cinco chocolateiras, Dengo, Harold, Nestlé, Mondelez e Mars. O CocoaAction é uma espécie de maestro, que rege a cadeia, englobando o setor privado, a esfera pública e o terceiro setor. Entre as diversas ações, destacase o “Currículo Sustentabilidadededo Cacau”, fruto de um ano de trabalho de mais de 50 organizações da cadeia, que elencaram 32 boas práticas para o produtor ser considerado sustentável. “A sustentabilidade começa por garantir renda ao produtor. Há muita oportunidade para ele aumentar a produtividade e ficar menos suscetível às oscilações de preço”, diz Ronca. “Ao adotar boas práticas, ele também consegue acessar mercados mais exigentes”, acrescenta. Pará Venturieri, da Embrapa (foto maior ), e Fonsêca, da Abicab: mais cacau e preservaçãomaisjuntos
Fr
A família Preuss, Santos, da osmaisPaula,Callebaut,,BarryeAnnadaAIPC):ganhosparaprodutores
“No Pará, o projeto começou em 2021 com 250 produtores de cinco cidades. Hoje ampliou para 1.500 agricultores de mais de 15 cidades, incluindo produtores de cacau de várzea”, diz Gleyca Andrade, uma das supervisoras do ATeG Mais Cacau, que conta com 50 técnicos, sendo que cada um cuida de 30 produtores. A produtividade média do cacau no Brasil é baixa, cerca de 300 quilos de amêndoa por hectare/ano. No entanto, quando Fernando Vronski, técnico do Senar, chegou ao sítio da família Preuss, percebeu uma contradição: a lavoura era
80 DESAFIOS Um dos entraves é a falta de Assistência Técnica Rural (Ater), problema que não é exclusivo do setor cacaueiro. De acordo com os dados do IBGE, o número de propriedades rurais que declararam possuir Ater despencou de 53% no censo agropecuário de 2006 para 20% em 2017. A história de José Renato Preuss e da esposa, Verônica, produtores de cacau em Brasil Novo (PA), ilustra essa realidade. Eles têm 10 mil pés de cacau e, no ano passado, perderam a maior parte da produção em função da podridão-parda, doença fúngica que impacta a cultura. Mas ficaram sabendo do projeto de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG Mais Cacau) do Senar e foram em busca de ajuda. Por sorte, houve uma desistência e eles se encaixaram na primeira turma. O programa, durante dois anos, dá um nanoindividualizadoacompanhamentocomfoconãosómanejoagrícola,mastambémgestãodapropriedaderural.
A família Preuss tem se tornado uma referência no Pará. O casal faz um trabalho diferenciado desde a lavoura até o pós-colheita, com a fermentação das amêndoas, o que lhes garantiu o terceiro lugar no III Concurso Nacional de Qualidade de Cacau Especial do Brasil, na categoria Blend. Eles também são fornecedores “prata” do Nestlé Cocoa Plan (NCP). “É o nosso programa de desenvolvimento de produtores de cacau, que capacita, monitora e certifica os pilares sociais e ambientais de propriedades rurais, pagando um prêmio por tonelada de amêndoa de acordo com o nível do produtor: bronze, prata, ouro ou diamante”, diz Igor Mota, gerente de Agricultura da Nestlé. O NCP tem 41 itens, sendo 14 essenciais (a linha de corte) para o agricultor participar do programa, que já conta com 1.600 agricultores e tem a meta de chegar em 2025 com 100% das amêndoas provenientes de produtores certificados. “O prêmio varia de US$ 35 por tonelada na categoria Bronze e vai até US$ 100 por tonelada no nível Diamante”, explica Igor. Para implementar o programa, a Nestlé conta com as moageiras Barry Callebaut, Cargill e Ofi. Estas indústrias aplicam o NPC nos produtores e atravessadores parceiros.
Pará Fr
“Estes intermediários, muitas vezes, chegam a lugares remotos, que a indústria não consegue chegar. Mas se topam implementar o NPC nos agricultores de quem compram o cacau, tanto eles quanto seus fornecedores recebem um diferencial pela tonelada de amêndoa”, diz Thiago Santos, diretor de Originação e Sustentabilidade da Barry Callebaut. “É uma forma de organizar a cadeia e manter quem faz um trabalho correto”, acrescenta.
81PLANT PROJECT Nº32 produtiva, mas as perdas eram elevadas. Com a assistência técnica, o casal passou a fazer análises de solo e aplicar corretamente os agroquímicos. “Eu fazia o tratamento para a podridão-parda, mas não da forma correta. Com a orientação do Fernando, passei a fazer tudo conforme manda a regra e minha perda caiu de 70 para 10%”, diz José Renato Preuss. Hoje, o produtor está com uma produtividade média de 500 quilos por hectare, mas sua meta é alcançar 1.500 quilos por hectare.
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82 INCENTIVO PRODUTIVIDADEÀ
Nos últimos anos, a indústria tem estreitado os laços com os produtores. Todas elas têm seus próprios programas de sustentabilidade, de assistência técnica e a troca de amêndoas por insumos também tem crescido. “No Pará, 25% do volume recebido pela Cargill é através do barter”, diz Laerte Moraes, diretor do Negócio de Cacau e Chocolate da multinacional no Brasil. Segundo o executivo, o período de compra de fertilizantes para o cacau coincide com o da soja. Conclusão: os produtores do fruto tinham dificuldade em conseguir o adubo e, quando conseguiam, o preço era elevado. Na Cargill, eles adquirem o insumo e têm o prazo de um ano para pagar com as amêndoas. De acordo com os agrônomos que atuam na cadeia, o Brasil pode facilmente dobrar a produtividade do cacau, se os produtores fizerem o básico: análise e correção de solo, podas e manejo de luz. Segundo Luiz Carlos Piacentini, agrônomo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) à frente de alguns projetos de assistência técnica no Pará, “o sistema agroflorestal (SAF) de cacau ideal deve ter 20% de sombra” No entanto, muitos SAFs são antigos, com espécies arbóreas não indicadas para o consórcio com o cacau ou por proporcionar muita sombra ou por perder as folhas na época em que o cacaueiro mais precisa de sombreamento. Esta é a realidade do sítio Flor da r Pará
O catalisador do cacau no Pará
83PLANT PROJECT Nº32 Amazônia, em Medicilândia (PA), cidade conhecida como a capital nacional do cacau. A propriedade foi herdada por Elisangela Trzeciak e tem 45 hectares de cacauais em SAF com 25, 35 e 45 anos de idade. “Algumas áreas produzem 700 quilos de amêndoas por hectare/ ano, outras 1.500 quilos por hectare/ano”, diz a produtora, que contratou assistência técnica particular para fazer as adequações necessárias. “Minha meta é ter uma produtividade mínima em SAF de 1.800 quilos por hectare/ano”, esclarece. Há ainda outros obstáculos para o desenvolvimento da cacauicultura. Um deles é a falta de regularização fundiária, que deixa muitos produtores sem acesso às políticas públicas e às linhas de financiamento. Outro empecilho é a informalidade: muitos agricultores nem sequer têm conta bancária, o que impossibilita a venda direta para a Nesteindústria.contexto, as moageiras ajudam como podem. Muitas vezes, agem como facilitadores, auxiliando em processos burocráticos para os produtores regularizarem a propriedade. Elas também têm incentivado a formação e o fortalecimento de cooperativas. “Inclusive, com antecipação de pagamento para as cooperativas terem capital de giro e pagar os cooperados no momento da entrega das amêndoas”, diz o indiano Gagandeep Singh, responsável pela Originação de Cacau da Ofi no Brasil. Mas por que a indústria está com foco no Brasil? “Para preparar os produtores para a demanda dos internacionaismercadosqueexigem
O Fundo de Apoio à Cacauicultura do Estado do Pará (Funcacau), instituído pela Lei Estadual nº 7.079, de 2007, foi criado com a finalidade de incentivar a modernização da cultura do cacau no estado. Anualmente, arrecada cerca de R$ 5 milhões com a taxa cobrada em cima da tonelada de amêndoa que segue para outras unidades federativas. Esses recursos retornam ao produtor por meio de projetos que beneficiam a cadeia. O mapeamento da produção de cacau de Adriano Venturieri, pesquisador da Embrapa, é um exemplo. O laboratório de análise sensorial das amêndoas de cacau da Universidade Federal do Pará (UFPA) é outro exemplo. O local foi equipado com recursos do Funcacau. A Assistência Técnica e Gerencial (ATeG Mais Cacau) do Senar-PA também ganhou musculatura com recursos do fundo, que também patrocina festivais locais, nacionais e internacionais, entre outros projetos, desde que sejam aprovados pelo comitê gestor, composto por oito conselheiros.
84 sustentabilidade, rastreabilidade e qualidade”, diz Anna, da AIPC. A União Europeia, por exemplo, submeteu ao Parlamento a proposta de lei que proíbe a importação de commodities ligadas ao desmatamento. No caso do cacau, o Brasil tem uma posição de destaque. O fruto é vetor de preservação não só no Pará, mas também na Bahia, onde predomina o cacau cabruca, em que os cacauais são sombreados por árvores da MataAlémAtlântica.disso,no lado social, os problemas da cacauicultura nacional são mais fáceis de serem resolvidos do que na África, que abriga os maiores produtores mundiais. “O Brasil tem mais ferramental governamental e institucional e capacidade de implementar mudanças”, diz a diretora executiva da AIPC. Neste sentido, o CocoaAction Brasil está fazendo um levantamento junto às empresas para saber quanto elas investem sustentabilidade.em Quando finalizado, o material ajudará a nortear as próximas ações da cadeia na agenda ESG, sigla em inglês para melhores práticas ambientais, sociais e de governança. Fr Pará
W WORLD FAIR A grande feira mundial do estilo e consumodo Interior de picape C10, da Chevrolet: Ícones de décadas passadas hoje são relíquias valiosas
A grande feira mundial do estilo e consumodo W
Colecionadores recuperam parte da memória do campo com a restauração de picapes que marcaram época no Brasil CARREGADAS DE HISTÓRIAS Por Irineu Guarnier Filho
88 os Estados Unidos, o carro mais vendido há décadas é a musculosa picape Ford F-150 (que está vindo para cá). No Brasil, uma picape menor, a Fiat Strada, também tem frequentado com assiduidade a liderança no ranking dos veículos mais comercializados. E, a cada ano, novos modelos são anunciados, em milionárias campanhas publicitárias, pelas montadoras. Com ou sem crise, o mercado para esse tipo de veículo tem se mantido bastante acelerado.
Nas últimas décadas, os veículos espartanos de outrora se transformaram em automóveis de luxo, utilizados largamente também nas grandes capitais do País. Versáteis, as caminhonetes com caçamba atuais tanto podem carregar insumos agrícolas para as fazendas durante a semana e levar seus proprietários à missa aos domingos como conduzir famílias urbanas inteiras ao shopping.
Ferramenta imprescindível na lida do campo, as picapes tiveram forte protagonismo no desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Robustas, projetadas para enfrentar lama, calor intenso, poeira, estradas precárias e transportar cargas pesadas (com pouca manutenção), as valentes picapes ajudaram a desbravar novas fronteiras agrícolas e têm levado a civilização e o desenvolvimento econômico a regiões remotas do Brasil desde os anos 1950. O País deve muito a essas guerreiras. ScaravaglioneEduardo
N foto:
W Veículos
O que comprova que as picapes caíram definitivamente no gosto dos brasileiros – do campo e das cidades.
Trouxe para a vida adulta esta paixão pelo design, pela motorização robusta e pelo conforto da suspensão”, conta. Diretor do Veteran Car Club do Brasil-RS, e integrante do Clube da C10 no Facebook, Maciel adquiriu o veículo já restaurado.
89PLANT PROJECT Nº32
Não por acaso, uma legião de antigomobilistas brasileiros – ligados ou não ao agro – se dedica, atualmente, a preservar modelos icônicos do segmento, que marcaram época na paisagem rural brasileira. A nostalgia do campo, mesmo entre aqueles que já nasceram nas grandes cidades, se manifesta na proliferação de clubes de colecionadores de picapes por todo o País, nas redes sociais e nos encontros de veículos clássicos, eventos em que as caminhonetes atraem um público ávido por saber um pouco mais sobre a vida agropastoril de antigamente.
Dono de um pequeno criatório de cavalos crioulos em Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre, o empresário Cézar Augusto Maciel viveu a infância cercado por picapes. Seu pai era dono de uma oficina mecânica na pequena cidade de economia agropecuária e muitos de seus clientes eram ruralistas. Menino, brincava de “dirigir” as “possantes” em manutenção na oficinaDesdepaterna.então, Maciel acalentava o sonho de possuir uma Chevrolet C10 – ícone rural dos anos 1970. O desejo se realizou em 2021, com a compra de um vistoso modelo 1974 marrom de seis cilindros em linha. “O avô de um dos meus amigos tinha uma C10 e sempre gostei muito delas.
OS COLECIONADORES
Precisou apenas melhorar a parte foto: ScaravaglioneEduardo Maciel com a sua C10 ano 1974 (à esq.) ; Wollmann e seu filho Ricardo com a Ford F100 1962 e Ruiz com a sua Ford Rural F75, ano 1976 (no alto)
90 mecânica, refazendo freios e ajustando o motor e a suspensão.
E qual é a sensação de dirigir um veículo dos anos 1960 pelas ruas congestionadas de Porto Alegre, onde Wollmann vive hoje? “É muito divertido. No para e arranca do trânsito, chega a ser emocionante. As perguntas sempre aparecem: qual o ano? Gasta muito? Não vende, né? Meu vô tinha uma ‘Chevrolet’ dessas…”
Desde zero-quilômetro na família, a Ford F75 1976 do colecionador argentino radicado no Brasil Rodrigo Ruiz está, como todos os seus carros, em estado foto:
“Não tive dificuldade para encontrar peças. O mercado ainda dispõe de muita oferta de componentes e tenho um mecânico, que já me atendia em outros carros antigos, que conhece a C10 e faz uma excelente manutenção.” Paixão de criança. Assim o especialista em desenvolvimento de produtos Telmo Ricardo Wollmann, filho de produtores rurais em Cachoeira do Sul, na região central do Rio Grande do Sul, define o seu gosto por picapes.
ScaravaglioneEduardo
O avô teve uma Ford F1 “Woody” (parte da carroceria de madeira) americana nas cores amarela e creme que encantava o menino. Trocou por uma Chevrolet Brasil cabine dupla com quatro faróis. Depois, seu pai comprou uma F100 1962 “saia e blusa” (pintura em duas cores) – que agora pertence a ele. A paixão pelas grandalhonas vem de longe, como se vê. “Adoro picapes pelo seu tamanho, pelo ronco do motor V8 e pelo cheirinho característico que têm até hoje. Depois da restauração, a F100 do meu pai ficou exatamente igual ao que era quando nova. Hoje temos mais uma C10 1974, que ainda está na fazenda para ser restaurada.”
91PLANT PROJECT Nº32 impecável. “Era a que tinha o melhor custo/benefício em sua época”, lembra o empresário, que a utilizou por muito tempo em sua transportadora e para abastecer uma propriedade rural em Tapes, a 126 quilômetros de Porto Alegre. Apesar de pegar no pesado regularmente, a picape da Ford sempre recebeu manutenção semelhante à dispensada aos reluzentes clássicos de sua coleção. “É muito fácil mantê-la.
As picapes desta reportagem estão entre as
“Trabalho não precisa ser sacrifício para ninguém.” Com este slogan, a General Motors do Brasil começou a vender a Chevrolet C10 em 1974, em substituição às antigas C14 e foto: F100 e a Ford Rural F75
ScaravaglioneEduardo WVeículos O painel da
Ainda se encontram peças para ela”, diz ComRuiz.mecânica simples e resistente, e o carinho com que são tratadas por seus proprietários, essas relíquias dos primeiros tempos do agronegócio brasileiro certamente ainda vão muito longe. Mas, agora, merecidamente aposentadas do trabalho duro, sem precisar sacolejar por esburacadas,estradastransportar tonéis “nas costas” e atravessar atoleiros.
Brasilnecessidadesasrudimentar.aafuncionalluxo.período.rodoviáriasadaptadasforammodelosprodutordeproduziaautomobilísticaoentrerepresentantesprincipaisdosegmento1960e1980.Eramquedemelhoraindústriabrasileiranaépoca–eosonhoconsumodequalquerrural.Derivadasdenorte-americanos,tropicalizadaseàsdifíceiscondiçõesbrasileirasdoNãotinhamnenhumOdesignerasimplese(masficamaisbonitocadaanoquepassa).EmesmomecânicaerabastanteContudo,foramferramentascertasparaasdointeriordodeentão.
AS PICAPES
foto: ScaravaglioneEduardo
92 C15, lançadas dez anos antes. Com motor a gasolina de seis cilindros em linha, que gerava 151 cv, e suspensão traseira mais moderna, transportava até 1 tonelada de carga. Sucesso na época, podia vir equipada de fábrica com cabine dupla de duas portas, para seis passageiros. Também serviu ao Exército e à Marinha brasileiros, em versão sem o teto rígido e com para-brisa basculante. A sua produção só se encerrou em 1981. Mais antiga das três, lançada no Brasil em 1957, a primeira Ford F100 – ainda com sotaque americano – tinha motor a gasolina V8 de 4.5 litros que produzia 167 cv. Nacionalizada um ano depois, a segunda geração da picape criada nos Estados Unidos chegaria em 1962. Em 1963, também ganhou cabine dupla com três portas (algo que só voltaríamos a ver no País com a contemporânea Fiat Strada). A terceira geração veio em 1971. Foi também a mais popular. A F100 atravessou toda a década de 1980 com boas vendas, fez uma sucessora, a F1000, equipada com motor Diesel, e chegou aos anos Versão1990.picape da Rural Willys (precursora dos SUVs no Brasil, derivada por seu turno da Jeep Station Wagon norte-americana), a F75 foi a primeira caminhonete com tração 4x4 no País, lançada em 1960 pela Willys Overland do Brasil, sob o emblema da Jeep americana. O motor a gasolina de seis cilindros e 2.6 litros gerava 90 cv. Em 1967, a Ford do Brasil adquiriu a Willys, mas manteve a picape em produção. A partir de 1968, passou a ser equipada com o motor a gasolina de seis cilindros e 3.0 litros de 132 cv do luxuoso sedã Itamaraty. Dois anos depois, sai a marca Jeep e o carro passa a se chamar Ford F75 (o nome Jeep só voltaria ao Brasil em 2015, já sob o controle do grupo Fiat Chrysler Automobiles, com o SUV compacto Renegade). Com novos motores, a Ford F75 seria produzida até 1982. A versão militar foi o primeiro veículo deste tipo exportado pelo Brasil – 150 unidades, para Portugal.
rA ARTE Um daparacampoomelhorcultura A cantora Bruna Viola, uma das estrelas do agronejo: Música em defesa do setor rural
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95PLANT PROJECT Nº32 À frente do movimento conhecido como agronejo, uma nova geração de artistas canta sobre as conquistas dos produtores rurais e traduz em canções o sentimento de orgulho de quem trabalha no campo A MÚSICA EM DEFESA DO AGRO Por André Sollitto
96 em o nome nem a batida pop eletrônica deixam claro de início, mas Pipoco, a música mais tocada no Spotify na primeira metade do mês de julho passado, tem suas raízes no sertanejo. Com apenas 18 anos, a jovem cantora do Mato Grosso do Sul Ana Castela é autora da canção. Ela é também o rosto mais conhecido do agronejo, uma nova vertente da música ligada ao campo, cuja temática principal das letras é a defesa do agronegócio e a valorização dos homens e das mulheres que enriquecem com seu trabalho nas fazendas.
rA Música
O estranhamento inicial dá lugar à familiaridade quando Ana Castela – a Boiadeira, como também é chamada –aparece de calça jeans, bota e chapéu. É com o visual tradicional associado ao sertanejo que essa nova geração de artistas faz questão de aparecer nos clipes. Os nomes das músicas, como A Roça Venceu, Mulher do Agro, Meninos da Pecuária e Meninas da Pecuária, e frases de efeito como “não é à toa que o PIB começa com P de pecuária” e “sertanejo começa com S de soja”, dão o tom das músicas. Nos clipes, há uma abundância de cenas aéreas de colheitadeiras, closes de caminhonetes e tratores e imagens de rebanhos – e dancinhas prontas para o TikTok. Parece propaganda. E é, como eles mesmos fazem questão de frisar. Há clipes que mostram até números do setor como forma de validar o que as letras dizem. Artistas como Us Agroboy, Antony e Gabriel e Léo e Raphael criam um antagonismo entre as pessoas da “roça” e os “playboys e patricinhas”. Boa parte das letras valoriza o sucesso dos fazendeiros e pecuaristas, ao mesmo tempo que faz piada com a postura supostamente superior daqueles que moram nas cidades. É um tipo de vingança contra o antagonismo que existe na sociedade desde que o êxodo rural, que teve início na década de 1960, e associou o ambiente urbano ao progresso e o rural, ao atraso. Há anos essa relação não faz sentido, e os hits do agronejo fazem uma tentativa de registrar a atual realidade do campo. O agronejo também vem aglutinando outras temáticas do sertanejo, como as demandas femininas. Em Mulher do Agro, N
ANA CASTELA, EM NÓIS É DA ROÇA BEBÊ
“Eu sou tipo peão Desde pequena na lida vivendo no mato Aqui tem boi tem plantação Às vezes eu vou de trator, às vezes de cavalo”
“De ponta a ponta o Brasil tem boiadeiro movimentando a parada Não é à toa que o PIB começa com P, de pecuária Eu não tenho carro importado, mas a Hilux é do ano toda suja de barro Calculo o valor que tá o gado Quantas Ferrari tem aqui neste pasto”
LÉO E RAPHAEL, EM OS MENINO DA PECUÁRIA
Bruna Viola canta sobre a força feminina e a autonomia conquistada em um setor que ainda é masculino.majoritariamenteEmalgunscasos, os artistas pegam elementos de outros gêneros que estão dominando as paradas no momento, principalmente o funk, como inspiração. “Originário do funk, o bordão ‘favela venceu’ é reapropriado para o contexto rural, assim como o estilo e o visual chavoso”, escreve o pesquisador GG Albuquerque em artigo sobre o gênero no site I Hate Flash. Até veteranos do ritmo foram atraídos pelo movimento. Fernando e Sorocaba (ele próprio um criador de cavalos Quartos de Milha) já cantaram com os Us Agroboy em Fazendinha de Madeira. E, com isso, esses artistas colecionam dezenas de milhões de visualizações de seus clipes no YouTube e em outras redes sociais.
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O trabalho e a realidade do campo sempre fizeram parte das temáticas abordadas pelas canções caipiras. Um exemplo é Rei do Gado, música escrita por Teddy Vieira e popular na voz de Tião Carreiro e de Pardinho, que canta as conquistas de um pecuarista dono de “mais de um milhão de cabeças de gado” e inspirou até novela da Globo. “Letra tecnicamente bem-feita, mas um pouco emoliente demais em relação ao pecuarista, como se ele fosse um bom exemplo, enquanto o agricultor – que planta café – é mostrado como um impostor”, escreve José Hamilton Ribeiro em seu livro Música Caipira – As 270 Maiores Modas. Com o passar do tempo, esses “Falando em emprego minha munheca já tá cansada de assinar Carteira de trabalho, nóis dá trabalho no Paraná E o agro como é que tá? Não para, não para, não para, não Vinteparaepoucos anos, vinte e tantas ligações perdidas A gerente da Sicredi querendo ser minha amiga Quem é esse agroboy que tem mais de uma milha” US EMAGROBOY,FAZENDINHA SESSIONS
O lugar de mulher é onde ela quiser Quando o homem do campo é mulher Segura que foguete não tem ré” BRUNA VIOLA, EM MULHER DO AGRO rA Música
98 temas perderam espaço e ficaram mais associados à música caipira, enquanto o sertanejo, como gênero musical, se atualizava –um reflexo da modernizaçãoprópriadosetor agrícola. “A partir da década de 1980, a agricultura industrial, ou agrobusiness, como passou a ser chamada, era decisiva para a manutenção de uma balança comercial equilibradaminimamenteparaoBrasil”, escreve Gustavo Alonso em Cowboys do Asfalto. E os cantores acompanharam o movimento. Passaram a olhar para a música country americana, e incorporaram mudanças na sonoridade e no visual. Sucessos da década de 1990 de duplas como Zezé Di Camargo e Luciano e Chitãozinho e Xororó, com seus solos de guitarra e naipes de metais, eram um reflexo direto da ascensão e dos gostos da elite do campo. A indústria agrícola passou a financiar shows e rodeios e as duplas passaram a se apresentar em feiras agropecuárias. “O agronegócio ajudou a gente, mas foi só na década de 1980, quando começaram a acontecer as exposições de gado. Acho que ela [a música sertaneja] ficou marcada como a música desse movimento rural do Brasil que deu e dá certo até hoje”, afirmou Chitãozinho em entrevista a Marília Gabriela em 2010. Hoje, doze anos depois, sua declaração continua ecoando. E, nesse tempo, a relação entre o agro e a música sertaneja também evoluiu. Grandes nomes do sertanejo deixaram de simplesmente emprestar suas imagens para campanhas publicitárias e passaram a assinar músicas e jingles para grandes empresas do setor. Em 2017, Bruna Viola escreveu e interpretou um jingle para a farmacêutica Zoetis.
Dois anos depois, Renato Teixeira, autor de Romaria, um dos grandes hinos da música caipira, assinou a trilha sonora para a campanha Legado, da Basf. Como costuma acontecer com a música do campo, qualquer novidade é criticada por detratores do gênero. E os argumentos são os mesmos há anos. O crítico Tárik de Souza, por exemplo, já reclamava da perda da identidade do homem do campo tradicional em 2011. “As mudanças sociológicas introduzidas no campo pelo agronegócio, seus utilitários de cabine dupla e rodeios luxuosos –que fez brotar até uma corrente de chamados obsolescência”condenaruniversitários’‘sertanejos–parecemoscaipirasàtotal , escreveu ele. O público, seja ele do campo ou da cidade, parece não concordar. O sucesso nas redes mostra que os novos artistas conseguiram traduzir um sentimento de orgulho do setor. E como cantam Antony e Gabriel em A Roça Venceu: “Pro azar dos playboy, é nóis tomando a pinga da cana que nóis colheu, é nóis gastando a grana do gado que nóis vendeu”.
“Ela já foi chamada de sexo frágil Agora é conhecida como a mulher do agro Ela planta e colhe, anda de caminhonete Por que a meta bateu Conquistou com orgulho, sua história escreveu Ela usa canivete, tem amor à tradição Pra peão heterotop não dá nem condição ...
As daparainovaçõesofuturoprodução S STARTAGRO Pequeno produtor de hortifrutis: Ele rambém está no radar das agtechs
As daparainovaçõesofuturoprodução S STARTAGRO
Como novas tecnologias e soluções de negócio e logística têm colaborado para eliminar atravessadores e melhorar a receita do pequeno produtor MAISINTERMEDIÁRIOS,MENOSLUCROS Por Marusa Trevisan
102 egundo o Censo Agropecuário do Brasil, a agricultura familiar responde por cerca de 70% da produção nacional de feijão, 34% do arroz e 87% da mandioca. Quando se fala de proteínas, são essas propriedades a origem de 60% do leite, 59% do rebanho suíno, 50% das aves e 30% dos bovinos. São mais de 80 milhões de hectares produzidos em mais de 4 milhões de propriedades rurais, que geram mais de 10 milhões de empregos, o equivalente a 67% da força de trabalho utilizada no campo. Assim, nos números, fica evidente a gigantesca relevância das pequenas propriedades para o País. Mas, da porteira para dentro, é nelas que se encontra também a maior concentração de dificuldades por hectare no agronegócio brasileiro. Pouca tecnificação, crédito escasso e margens apertadas fazem parte da realidade dos agricultores familiares, muitas vezes deixados à margem das principais oportunidades de mercado. A comercialização da produção é um desafio diário. Ela é feita através de intermediários, que realizam toda a operação logística dos produtos, deixando o agricultor refém de uma situação na qual, muitas vezes, não recompensa o seu esforço no campo. “O produtor depende totalmente do atravessador. Ele ganha muito menos, não sabe emitir nota fiscal, muitas vezes não tem carro para fazer a logística, então ele depende de alguém que faça tudo isso pra ele e muitas vezes essa pessoa explora o produtor”, conta Priscilla Veras, fundadora e CEO da startup Muda Meu Mundo S S Startups
103PLANT PROJECT Nº32 (MMM). A empresa é uma das que têm buscado na tecnologia alternativas para conectar as pequenas propriedades aos grandes mercados, reduzindo ou até eliminando o papel dos intermediários. E também chamado a atenção de investidores para oportunidades de negócios junto a um público que antes parecia invisível para o capital de risco. O dinheiro começou a chegar a e gerar mudanças em algumas regiões brasileiras, financiando iniciativas que diminuem as burocracias de negociações e aproximam o campo da cidade.
O DELIVERY DIRETO DO CAMPO Victor Bernardino conhece na prática a dificuldade do agricultor familiar em escoar seus produtos e negociar preços justos. Ele cresceu entre produtores e varejistas e entende perfeitamente as necessidades de cada um desses setores. Sua Os fundadores e a equipe da Clicampo: aporte de R$ 40 milhões, inclusive de grandes investidores
A Muda Meu Mundo, por exemplo, recebeu recentemente um aporte de R$ 4 milhões de um grupo de investidores, entre eles Pedro Paulo Diniz, sócio da Fazenda da Toca e herdeiro da família dos fundadores do Grupo Pão de Açúcar. Já a Clicampo, que funciona como uma espécie de delivery de produtos direto da horta, recebeu aporte dez vezes maior, com a participação de investidores estrangeiros. Sinal de que os pequenos produtores estão definitivamente conectados ao mundo agtech, das startups de tecnologia voltada ao agro. Nesta reportagem você vai conhecer essas duas empresas e entender por que elas despertam interesse de gente grande no mercado financeiro.
“No nosso logo a gente usa muita coisa com tomate, por conta dessa historinha pessoal”, conta ele. Engenheiro de produção pela UFMG, ele dedicou os últimos 12 anos em aprimorar seus conhecimentos em tecnologia e logística. Seu objeto de estudo é o supply chain (cadeia de suprimentos). Durante esse tempo ele trabalhou na Rappi, aplicativo de entregas rápidas de produtos que vão desde alimentação até suplementos farmacêuticos.
Ele liderava a operação nacional de supermercados, bebidas e farmácias. Antes disso ele passou pela Natura, que também é referência em logística. “A passagem por essas duas grandes empresas me fez aprender muito sobre negócios de impacto. Então as duas histórias convergiram, uni minha história pessoal com a profissional. O fato de o meu avô ter tido muita dificuldade financeira para criar oito filhos e não conseguir
Foi a partir do conhecimento de um caso chinês sobre agricultura familiar com comércios, há uns seis ou sete anos, que veio a motivação para criar algo similar no Brasil. “Eu queria algo que conectasse pequenos produtores e restaurantes através de tecnologias para suportar operações ponta a ponta e outras necessidades de negócio, como as comerciaisnegociaçõescomospontos de venda”, diz Bernardino. Em 2021 ele montou seu time, que, a princípio, atendia apenas as necessidades dos restaurantes. A equipe ia até a Ceasa-BH, fazia uma compra coletiva diária e entregava os alimentos aos clientes. Mais tarde, o engenheiro fez um estudo sobre o calendário de produção de regiões com alta
setores”algunscomeçarpessoas,compras,restaurante,queterras,financeiramente,prosperarmesmotendoetodasasnecessidadesviminhamãepassandonodesdeacoordenação,preparação,gestãodecaixas…memotivaramadefato,em2020,afazertestesparaajudarosdois , nos conta Bernardino.
104 mãe administrou um restaurante aproximadamentepor 30 anos em Belo Horizonte, capital mineira. acompanhavaBernardinoodesafio diário dela de negociações e compras de insumos. “Eu cresci em restaurante e via a necessidade do comerciante. Tínhamos que buscar alimentos frescos. Acordar cedo, ir até a Ceasa negociar com várias pessoas”, lembra ele. Já do lado do produtor, Bernardino presenciava as dificuldades de vendas enfrentadas pelo seu avô paterno, que produzia diversas culturas em uma área de 22 hectares no norte de Minas. Ele sempre trabalhou com base em agricultura dessespassadoaBernardinoestedeprincipalmentefamiliar,naproduçãotomates.Nãoporacaso,foioprodutoescolhidoporpararepresentarmarcaqueelecriounoanoparaaumentararendatrabalhadores.
Priscilla, da MMM: conexão e paraaprendizadoopequenoagricultor
105PLANT PROJECT Nº32 densidade de pequenos produtores e construiu uma solução que pudesse atender tanto o varejo quanto o pequeno produtor. A partir desse calendário, foram criados postos localizados em pontos estratégicos que funcionam como uma espécie de pequenas Ceasas. Os agricultores parceiros entregam seus produtos frescos ali e a agtech os distribui para os clientes da plataforma, de acordo com a demanda de cada comércio, em até 12 horas após o pedido. “A gente consegue fazer um match making entre a qualidade, a quantidade e o padrão do alimento que o agricultor produz e o canal que compra esse tipo de produto. Separamos tudo dentro dessa logística. Pegamos uma caixa de tomates, por exemplo, separamos em padrão de tamanho, maturação e estética e entregamos ao canal que tem a necessidade de cada tipo de tomate diferente. A gente vem lá da ponta fazendo essa separação para entregar o produto certo para o cliente certo e, assim, maximizar o quanto de renda o produtor recebe”, explica Bernardino.Eelegarante que a renda do produtor, sem o intermediário, aumenta bastante. Hoje, a startup paga por volta de 40% a mais que um atravessador e toda a comunicação é feita pela plataforma da Clicampo, que usa o WhatsApp para tornar o serviço simples e acessível para o agricultorAtualmente,familiar.aempresa conta com três polos desenhados por tipo de cultura em regiões estratégicas: São Paulo, Campinas e Belo Horizonte. A unidade da capital mineira atende trabalhadores impactados pela queda da barragem de Brumadinho, em 2019. O CEO explica que a maior parte dos produtores afetados pelo desastre já comercializa seus alimentos através da startup e, juntamente com parceiros como o Senar, casas de agricultura e sindicatos rurais, a expectativa é impactar até 300 pequenos agricultores afetados na região. Em menos de dois anos, a agtech, que é formada por cerca de 120 profissionais, 70 deles no time de tecnologia, já conta com cerca de 25 investidores anjos e com o aporte dos fundos como o Valor Capital Group e MAYA Capital. O montante total recebido recentemente é de R$ 40 milhões e tem sido utilizado para aumentar o time de operações e tecnologia e para a abertura de novos polos em outras regiões brasileiras. estabilizando“Estamosalgumas métricas de eficiência da operação com a ideia de continuar crescendo”, conta Bernardino com confiança. A ideia agora é levar essa tecnologia para o campo de todo o País. Até o final de 2022, a meta é estar em até cinco cidades brasileiras e, depois, crescer 20 vezes nos próximos dois anos. SStartups
O sistema gera dados de ESG – Governança Ambiental, Social e Corporativa – que são responsáveis pela transparência na relação comercial com o varejo. Funciona assim: o varejista entra no site e insere seu pedido.
A tecnologia então mostra para ele toda a rastreabilidade da cadeia produtiva. A partir dessa inteligência de dados, ele tem o poder de decisão de onde ele quer comprar o produto. “O supermercado escolhe se ele quer comprar de produtores pequenos, de produtoras mulheres... tudo com transparência.”
O produtor também tem o poder de decisão sobre para quem e por quanto ele quer vender. Tudo fica arquivado em um banco de dados da agtech.
“Ele sabe, por exemplo, que vendeu 100 alfaces a R$ 1,00 cada uma para o Carrefour e 200 alfaces a R$ 2,00 para o St. Marche”, explica Priscilla.
O sistema conta com processo de compra e venda feito através de WhatsApp. “A gente traz para o produtor o uso da tecnologia dentro da realidade dele, de uma forma simples”, diz a fundadora. O rastreio completo de toda a cadeia fica salvo e disponível, para que o varejista possa usar em seus relatórios. Da colheita ao supermercado o tempo máximo para a entrega é de 12 horas e o alimento só é colhido quando já tem um destino, reduzindo assim o
106 ESG QUE PRODUTORAPROXIMAEVAREJO
Outra solução que liga pequenos produtores com o varejo através de tecnologia e sem intermediários é a Muda Meu Mundo (MMM). A empresa foi criada em 2019 para resolver problemas de conexão de agricultores com supermercados e startups. Trata-se de um marketplace B2B que cria combinações entre as necessidades da rede varejista e o produtor que pode atendê-las. A idealizadora é a Priscilla Veras. Ela explica que a tecnologia busca solucionar os problemas que impedem que a comercialização direta aconteça. “A gente consegue trazer para o produtor todo um processo de aprendizagem, emissão de nota fiscal, assistência técnica, adiantamento de recebíveis, microcréditos e logística. Do lado do supermercado, a gente diminui todo o entrave de comercialização. Conseguimos entregar uma única nota fiscal, um único pagamento e uma única entrega. Tudo com rastreabilidade para as duas pontas.”
107PLANT PROJECT Nº32 desperdício de 30% para menos de 3% ao mês. “A gente trabalha com ele em um sistema de demanda puxada. O agricultor só vai colher aquilo que já está vendido. Isso traz segurança ao produtor e reduz drasticamente o desperdício de comida entre o campo e o varejo”, diz Priscilla. Entre dezembro de 2021 e abril de 2022, os cadastros de agricultores na plataforma triplicaram e chegaram a 400. Dessa quantidade, 80% são provenientes do estado de São Paulo e 20% dos produtores estão no Ceará, estado de origem da empresa. A expectativa para o final de agosto é de que esse número aumente para 600, já que a rentabilidade tem feito os próprios agricultores divulgarem a marca para seus colegas de profissão. A CEO explica que o produtor que utiliza da tecnologia tem mais que dobrado sua rentabilidade nos últimos meses: “No mínimo 100% da renda dele melhora em seis meses”. Do lado do comércio, entre os varejistas que já aderiram à solução da MMM estão as redes Carrefour, GPA e St. Marche. Também é possível citar as startups Frubana e Jüsto. Fundada por uma mulher, a MMM conta atualmente com cerca de 20 colaboradores. Setenta por cento do time do agro é composto por mulheres. Na liderança da startup, metade pertence ao núcleo feminino. “A gente prioriza as mulheres no nosso time e principalmente as mães. As mães sabem lidar com o tempo como ninguém”, diz Priscilla.Ainovação tem atraído investimentos. Recentemente, a agtech captou R$ 4 milhões em uma rodada pré-seed, através de investidores como Eduardo Mufarej, Pedro Paulo Diniz e Ticiana Rolim Queiroz, além de fundos como AgroVen, Bossa Nova, Sororitê e Squared Ventures. E não para por aí, outros investimentos também estão em processo como um Fundo do Nordeste e um de Agro. Além de outros investidores anjo. Priscilla explica que o capital será usado para ampliar a operação de forma sólida. “Vamos investir em tecnologia e produto. O objetivo é criar um modelo viável da operação, que possa ser replicável e escalável para o Brasil todo, já no próximo ano.” A meta da CEO é estar presente em todo o País, mas os próximos destinos serão o Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Além disso, se tudo der certo, os pequenos produtores de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte também contarão com a tecnologia até 2023. SStartups
da sua história, GAF debate segurança alimentar, sustentabilidade e mudanças climáticas
retomada
o mundo em tensão geopolítica O DOSFÓRUMDESAFIOS Por Ronaldo Luiz
e
maior
Na edição na pós-Covid com
patrocínio
110
Em um mundo que busca se reorganizar dos desarranjos provocados pela pandemia da Covid-19 em meio a uma guerra no Leste Europeu e a uma escalada de tensões entre grandes potências na Ásia, a busca pela segurança alimentar e energética global ganhou novos contornos, AssociaçãoSociedadeclimáticas.sustentabilidadedamoteForum5ªedeisolacionismo.menormarcadaumapreocupaçõesmomentaneamente,sobrepujandoporexemplo,ambientaisemconjunturageopolíticaaindaportendênciasdeintegraçãoemaiorFoicomestepanofundoqueocorreu,nosdias2526dejulho,emSãoPaulo(SP),aediçãodoGlobalAgribusiness(GAF),quetevecomodebaterodesafiomundialsegurançaalimentar,emudançasPromovido,emconjunto,pelaRuralBrasileira(SRB),dosProdutoresde
“Mais do que um evento, o GAF é um movimento em favor do desenvolvimento sustentável, e que neste ano tem como maior proposta discutir, de maneira urgente, os desafios e as oportunidades globais relacionados à segurança alimentar, sustentabilidade e mudanças climáticas”, disse o
presidente do Conselho do GAF, Sérgio Bortolozzo, na abertura do evento. “O Brasil tem sido internacionalmente reconhecido como protagonista da segurança alimentar mundial e da geração de energia limpa e renovável, graças, em particular, ao desenvolvimento de um modelo único de agricultura tropical”, acrescentou.Comapresença do presidente da República, Jair Bolsonaro, a solenidade de abertura do GAF contou ainda com a participação dos ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Marcos Montes (Agricultura), Joaquim leite (Meio Ambiente), Paulo Guedes (Economia), Luiz Eduardo Ramos (secretaria-geral da Presidência), Fábio Faria (Comunicações), entre outras autoridades do primeiro escalão do Executivo federal, bem como de ministros de outros países, embaixadores, parlamentares, dirigentes
Milho do Brasil (Abramilho), Aliança Internacional do Milho (Maizall), Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), o Fórum Nacional Sucroenergético, União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Datagro, o GAF 2022 reuniu 135 palestrantes de diferentes países em 32 painéis, com um público presencial de mais de 2,5 mil pessoas e 10 mil acessos on-line.
Segundo Azevêdo, a pressão decorre de fatores conjunturais, entre os quais desarranjos logísticos, em razão da pandemia, sanções econômicas pré e pós-guerra da Ucrânia, eclosão do conflito do Leste Europeu, entre outros. Já entre os estruturais, Azevêdo chamou a atenção para os impactos das mudanças climáticas para a produção agrícola. Diante desse cenário, Azevêdo citou dado da FAO/ONU, que projeta aumento superior a 20% no preço dos alimentos sobre uma base atual já elevada.
O sistema global de produção de alimentos está sob pressão sob o ponto de vista de oferta, distribuição, acesso à comida e emissões de gases de efeito estufa, alertou o embaixador Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da OMC e atual chefe de assuntos corporativos da PepsiCo.
No que diz respeito ao desafio ambiental, Azevêdo salientou que a agricultura responde por cerca de 1/3 das emissões globais, mas que o setor, por meio do sequestro de carbono, é parte da solução para mitigar as mudanças climáticas. “Um dos caminhos é a agricultura regenerativa, que precisa de incentivos para se expandir.” Diretor da divisão de commodities da OMC defende mudanças nas regras do comércio agrícola internacional O diretor da divisão de commodities agrícolas da Organização Mundial do Comércio (OMC), Edwini Kessie, patrocínio
111PLANT PROJECT Nº32 setoriais, produtores e empresários.
“Sem o Brasil, o mundo passa fome”, afirmou Bolsonaro em seu discurso. Ele citou a declaração recente da diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, durante visita ao País e lembrou que o agronegócio brasileiro garante segurança alimentar para mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. Ainda na cerimônia de abertura, o presidente da Datagro, Plinio Nastari, elencou as mais recentes ações do Executivo federal em favor do agro, ressaltando, em especial, as áreas de infraestrutura logística, a implantação do RenovaBio e os esforços diplomáticos para a garantia do abastecimento de fertilizantes. “Um dos grandes diferenciais do agro brasileiro é exatamente a integração das cadeias produtivas na transformação de matériasprimas em produtos de maior valor agregado e a intensificação da produção”, acentuou. Já o ministro da Agricultura, Marcos Montes, enfatizou os recursos do novo Plano Safra, destinado ao ciclo 2022/23 e o potencial de transformação de 60 a 70 milhões de hectares de pastagens degradadas em áreas produtivas. Joaquim Leite (Meio Ambiente) frisou a busca por “soluções ambientais criativas”, que tenham como premissa remunerar a proteção e preservação ambiental, indo além da agenda de comando e controle, bem como pontuou a relevância dos biocombustíveis, e Ciro Nogueira (Casa Civil) mencionou que o Brasil tem tudo para se tornar a Arábia Saudita dos alimentos, em alusão à nação do Oriente Médio rica em petróleo.Aolongo de dois dias, uma sucessão de painéis simultâneos movimentou os diversos palcos montados no Golden Hall do World Trade Center, em São Paulo. Confira a seguir os principais destaques da programação. Sistema global de produção de alimentos está sob pressão, diz embaixador Roberto Azevêdo
Nas palavras de Kessie, Brasil, Argentina e Austrália, por exemplo, são altamente competitivos sem fornecer elevados subsídios aos seus agricultores, diferentemente de países e blocos econômicos como Estados Unidos, Japão e União Europeia. “Para dar andamento às reformas, queremos também maior participação do setor privado – não apenas dos governos.”
Já o pesquisador sênior em agronegócio do Insper, Marcos Sawaya Jank, criticou medidas de taxação às exportações de alimentos. “Pelo contrário, só se fortalece a segurança alimentar com comércio livre.” Embrapa investe no
“É preciso modernizar, atualizar as regras que têm mais de 30 anos. O mundo mudou, temos o agravamento das mudanças climáticas, alterações no protagonismo na produção global de alimentos, entre outros pontos, que demandam uma nova agenda, que possa diminuir assimetrias e distorções em favor de um comércio agrícola mais justo. O que temos hoje não reflete a realidade atual.”
Também presente no mesmo painel, o presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, Marcos Troyjo, endossou a necessidade de reformas nas regras do comércio agrícola internacional no âmbito da OMC, acrescentando que o Brasil também deve investir em acordos bilaterais.
O ponto central da fala do dirigente da OMC residiu nos impactos negativos que a estrutura protecionista de países desenvolvidos provoca no comércio agrícola global. São mecanismos de subsídios à produção, à exportação e barreiras tarifárias e não tarifárias, que distorcem os fluxos comerciais. “A competição natural não pode estar atrelada ao Tesouro dos países.”
112 afirmou que a organização defende e vem trabalhando para viabilizar reformas nas regras do comércio agrícola internacional.
113PLANT PROJECT Nº32
desenvolvimento da soja de baixo carbono A Embrapa vem ampliando os investimentos em pesquisa e desenvolvimento para tornar a soja brasileira cada vez mais de baixo carbono. Foi o que destacou o presidente da empresa pública de pesquisa agropecuária, Celso Moretti. “O cultivo com plantio direto na palha, a tecnologia de fixação biológica de nitrogênio e os avanços do controle biológico são trunfos da produção nacional da oleaginosa sob o ponto de vista de sustentabilidade.”
Em sua fala, Moretti pontuou algumas tendências para o agro, tendo como norte 2050. Segundo ele, como não poderia deixar de ser, as questões relativas à sustentabilidade, adaptação às mudanças climáticas e menos emissões vão guiar as decisões.
IGC assegura volume satisfatório de estoques globais de grãos O diretor-executivo do Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês), Arnaud Petit, disse que o mundo tem estoques de grãos suficientes para cerca de um ano e meio de consumo, descartando, por ora, riscos à oferta. Por outro lado, Petit alertou para questões relacionadas à distribuição, devido aos desarranjos logísticos provocados pela pandemia e também pela guerra no Leste Europeu. Diante deste quadro, o diretor do IGC pontuou que os preços dos grãos estão elevados, em particular as cotações do trigo, já que Ucrânia e Rússia, que estão em guerra, são grandes produtores do cereal.
“Temos uma fragilidade no comércio global.”
Já o economista-chefe do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), Seth Meyer, endossou a conjuntura altista dos grãos, mas lembrou que uma eventual recessão mundial pode derrubar as cotações. Meyer acentuou que em relação aos fertilizantes, existe a expectativa de que os preços recuem, mas não aos níveis pré-conflito no Leste Europeu. Desmatamento obscurece robusto pacote de ativos ambientais que o Brasil tem O desmatamento, sobretudo, claro, o ilegal, obscurece junto à sociedade brasileira e à comunidade internacional o robusto pacote de ativos ambientais que o Brasil tem, inclusive os do agronegócio, como as boas práticas agrícolas, e reservas de mata dentro de propriedades rurais. Foi o que destacou o diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Barcelos Lucchi. “O agro brasileiro é sustentável, conseguimos patrocínio
Além disso, regenerativa,bioeconomia,bioinsumos,agriculturaferramentas digitais no campo e edição genômica serão questões cada vez mais presentes no dia a dia da produção de alimentos, fibras e energia a partir de base agrícola. Ademais, o presidente da Embrapa também ressaltou o diferencial do agro brasileiro relacionado aos sistemas integrados de produção, citou a oportunidade que há para incorporação de áreas de pastagens degradadas na matriz de produção e o avanço do plantio do trigo para regiões tropicais, como o Cerrado, Norte e Nordeste.
Representantes da indústria automobilística destacam etanol como melhor opção para mobilidade sustentável Executivos das subsidiárias nacionais da automobilísticaindústriadestacaram o potencial do etanol como a melhor e mais viável alternativa para mobilidade sustentável no Brasil na comparação com o carro elétrico, tanto do ponto de vista ambiental quanto social e econômico.Segundo representantes da Volkswagen, Toyota, Nissan e Stellantis [Fiat e PSA Group], o inimigo-alvo é o gás carbônico e não a tecnologia, e o etanol na matriz brasileira de transportes de veículos leves cumpre o papel ambiental [de reduzir emissões], social [de gerar empregos] e, claro, econômico [de comoconsolidada,distribuiçãoalémarrecadaçãoprodutivadesenvolvimentoproporcionardacadeiadacana-de-açúcar,deimpostosetc.],dejáterumaestruturadeaoconsumidoroqueoqualificaopçãojáescalável.PabloDiSi,executivo-chefedaVolkswagennaAméricaLatina,foicategórico:
Rafael Chang, presidente da Toyota Brasil, lembrou que na lógica da descarbonização é preciso considerar, sempre, o ciclo de vida de origem, fabricação, distribuição e uso do combustível em si, contexto em que o etanol leva vantagem em relação à eletrificação pura e simples. Isso porque a energia elétrica utilizada para abastecer um veículo pode ser proveniente, por exemplo, de uma fonte suja, como uma usina termoelétrica, o que não acontece com o biocombustível. “O objetivo maior é o ciclo de carbono neutro, e é o que estamos buscando com a célula biocombustível de etanol, já que acreditamos muito na eletrificação com o uso de biocombustíveis”, salientou o gerente sênior da Nissan do Brasil, Ricardo Abe. “O etanol é a oportunidade mais competitiva para o consumidor brasileiro”, acentuou Antonio Filosa, presidente da Stellantis do Brasil.
“De fato, não há como negar que se trata de um problema complexo, que passa, por exemplo, na Amazônia pela necessidade de regularização fundiária, e de maneira geral pela combinação de políticas de comando e controle, com outras de estímulo financeiro à proteção e preservação, como o pagamento por serviços ambientais.”'
114 produzir e preservar, mas não conseguimos ainda transmitir esta mensagem.”
Europa quer 25% da área agrícola com orgânicos até 2030 Representantes da Comissão
Segundo Lucchi, atrasos em relação à implantação do Código Florestal, bem como metodologias internacionais de medição de emissões, que desconsideram retenção e sequestro de carbono promovidos pelas boas práticas do agro nacional são fatores que contribuem para a percepção negativa acerca sustentabilidadedado setor além de suas fronteiras institucionais.
“Na perspectiva ambiental, o etanol já reduz em 90% as emissões de carbono na comparação com os combustíveis fósseis, e particularmente, no Brasil, não precisamos eletrificar”.
Parlamentares e dirigentes setoriais criticam medidas desfavoráveis biocombustíveisaos
Em painéis subsequentes no Global Agribusiness Forum 2022, parlamentares e dirigentes setoriais criticaram recentes medidas do Executivo federal, consideradas por eles, negativas para expansão biocombustíveisdosno
115PLANT PROJECT Nº32 Europeia, braço executivo da União Europeia, afirmaram que o bloco tem como meta cultivar 25% da área agrícola local com produção orgânica até 2030. “Não vamos acabar com a agricultura convencional, mas acreditamos que investir em orgânicos é um passo a mais em direção a uma agricultura mais sustentável”, disse Joaquim Ordeig Vila, um dos Cyrillerepresentantes.Laplacette, o outro representante, ressaltou que o acordo verde europeu, da fazenda ao prato, preconiza, além da redução do uso de agroquímicos, a economia circular, a remoção de carbono, a remuneração justa aos produtores, entre outros pontos.
País. Entre elas, constam a redução da mistura de biodiesel no diesel e o adiamento das metas de compra de créditos de descarbonização (CBios) por parte das distribuidoras de combustíveis, peça-chave do RenovaBio. Mário Campos, presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) e do Fórum Nacional do Setor Sucroenergético, afirmou que essas decisões corroem a previsibilidade das normativas de regulação, o que acaba sendo ruim para toda a cadeia produtiva, para o consumidor, para a sociedade em geral. Já o deputado federal Arnaldo Jardim, também presidente da Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético, disse que é preciso preservar as políticas em favor dos biocombustíveis, com foco na perenidade dos resultados. “Não se pode rasgar contratos.”
Neste contexto, Marco Fujihara, coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, alertou que o Brasil precisa, de fato, investir em regulações relacionadas à emissão de gases de efeito estufa que possam ser reconhecidas pela comunidade internacional, a fim de evitar possíveis taxações no comércio mundial. Caso contrário, acentuou, eles [estrangeiros] farão isso por nós, com metodologias que podem, por exemplo, não contemplar características positivas de nossos sistemas produtivos relacionadas à proteção e preservação ambiental, bem como de remoção e sequestro de carbono. patrocínio
Por Plinio Nastari vantagem competitiva sobre os demais. No caso da agricultura, a narrativa geralmente tem se centrado nos países-membros da União Europeia, a exemplo da França –cujo presidente Macron equivocadamente,alegou em 2020, que a produção de soja brasileira poderia estar atrelada ao desmatamento de Essaflorestas.eoutras mentiras propagam-se de maneira a prejudicar a imagem da atividade agrícola brasileira, mesmo com dados provando o contrário. A situação se torna mais desafiadora quando se avalia as necessidadePoragriculturaespecificidadesemoutremestabelecidasnormativasporquenãolevamcontaasdadoBrasil.issoaurgentedeque
DATAGRO Markets M MARKETS
Embora desempenhe papel de protagonista na segurança alimentar global, o Brasil há anos perdeu a narrativa sobre a sustentávelagropecuáriaproduçãoenão tem participado da construção das normativas em torno de um novo arranjo para o comércio global desses produtos. preservandoMesmomais de 66% do seu território conforme dados da Empresa Brasileira de Pesquisa detémglobalizada,Ememfornecedoressejasustentável,comonãocultivosuasomenteNasa,referendados(Embrapa),Agropecuáriapelaeusando7,8%detodaextensãoparaoagrícola,oPaísconsegueservistoumprodutoremboraumdosmaioresdomundovolume.umaeconomiaquemanarrativatem
116 ! "#$ % &'()"#! * &"% $$ * + , * &#-. / ",0 1 ! #* &)* &2% "* 3 4 / & )#$ ,"#56()* & )% & % 1 % "2#* &)% &5#/* $$ *&% &"% $ ()6/ $& ! É PRECISO RECUPERAR A NARRATIVA EM TEMAS DO AGRO
sejam adotados critérios de certificação para a produção nacional que levem em conta as agriculturaespecíficascaracterísticasdatropical aqui desenvolvida com inegável e reconhecido sucesso, adaptando métricas e metodologias à realidade do nosso País com base em ciência de vanguarda para emparacomunicação,também,domundoodiga-seCódigoseguiragricultoresgrandequintal.começarquadro,Paraproduzido.legitimarconseguirmosoqueéaquireverteresseotrabalhodevenonossoApesardepartedosbrasileirosàriscaonossoFlorestal–que,depassagem,émaisrigorosodo–,avilanizaçãosetordeve-se,aumafalhanasobretudoaquelesquevivemgrandescentros
Plinio Nastari é presidente da DATAGRO e do IBIO, Instituto Brasileiro de Bioenergia e Bioeconomia.
117PLANT PROJECT Nº32 M MARKETS urbanos desconheceme a verdadeira realidade da grandemesmos.falandoquaseou“autocomunicação”,errosgrandes.Oscidade.maisemilhõesaimportânciadeabrangênciaespecializada,principalmenteprocesso,crucialtambémprotegido.qualqueramazôniconãoregiõesesustentabilidade,critériossegueeconomiaprincipalmostrareeducativopassaOnacional.praticadaagriculturanoterritóriodeverdecasapelotrabalhodecriançasadultosparaqueaatividadedabrasileirarigorososdequeasprincipaisprodutorasestãonobiomaououtrobiomaAimprensatematuaçãonesseanãocujamaioréfundamentalparalevarmensagemparadebrasileirosaproximarcadavezocampodadesafiossãoUmdoscrassoséaseja,estamosotempotodoparanósChegaraopúblicode forma clara deve ser um dos objetivos centrais do setor, que muitas vezes peca na dosagem e terçoBrasil-Bolívia,dovezespraticamenteequivalentevolumequemenosbiometano,abiogáscúbicos452030,federalcana,meiodescarbonização.discussõesfrentenosenergiaagriculturaqualidade,alémDevemosdoeconômicodoandamsustentabilidadequePrecisamosnãodefinitivamente,produtores,entredebatetransformandoacabaoemumembateambientalistaseeesse,éocaminho.mostraragriculturaejuntasemproldesenvolvimentoesocialBrasil.realçarque,dealimentosdenossaproduzlimpa,oquecolocamuitoàdosdemaisnasacercadaPorderesíduosdaogovernoplaneja,atéageraçãodemilhõesdemetrospordiadeederivados,exemplodoqueé90%poluentedoodiesel.Essedegáséaduasacapacidadegasodutoeumdetodaa geração de gás do País. Já a política de Estado agricultura.emnormativaconstruçãoativaparticiparmosatomarmosaporceleiroadotadasdeiniciativas,pararepresentativascabeFeitatodosustentabilidadebrasileirooestufa.causadoresemissõesacontribuindocombustíveismercadoanacional,segurançabiocombustíveisestratégicoreconheceRenovaBioopapeldosnaenergéticaassegurandoprevisibilidadeparaodeeparamitigaçãodasdosgasesdoefeitoEmsuma,setorsucroenergéticoéexemplodeparaoglobo.aliçãodecasa,àsentidadesmostraromundotodasasmuitasdelasvanguarda,quesãoaqui.ComodaTerra,temos,competência,necessidadededevoltanarrativaedeformaeconstrutivanadaatualmentediscussãona
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