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O DESAFIO DA ENERGIA R$ 500 bi em investimentos, 1 milhão de empregos e uma oportunidade histórica: por que o Brasil tem de abraçar o RenovaBio FRONTEIRA A TERCEIRA ONDA DE CRESCIMENTO DE LUCAS DO RIO VERDE
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ção e preservação. Trata-se de uma percepção equivocada. O que se observa atualmente no País é que, a despeito de problemas isolados que devem ser combatidos, o agronegócio tem sido um importante agente em favor das grandes causas ambientais. Dados do Cadastro Ambiental Rural, analisados
Para quem pensa, decide e vive o agribusiness
pela Embrapa com a ajuda de imagens de satélites, mostram que produtores
O DESAFIO DA ENERGIA R$ 500 bi em investimentos, 1 milhão de empregos e uma oportunidade histórica: por que o Brasil tem de abraçar o RenovaBio FRONTEIRA A TERCEIRA ONDA DE CRESCIMENTO DE LUCAS DO RIO VERDE
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rurais são responsáveis pela manutenção, em pé, de vegetação nativa em 20% da superfície total de suas propriedades. No Brasil, mais de 65% do território ainda se encontra no seu estado natural preservado. O número é relevante e revelador. Infelizmente, talvez ainda insuficiente para reverter anos de estragos na imagem brasileira, provocados pela frequente exposição de danos ambientais e pela rara exibição de nossos pontos positivos nesse campo. E esses não são poucos. Nossa contribuição vai muito além do fato incontestável de ter a maior cobertura florestal (em área total e proporcional) do planeta. Enquanto o mundo discute, por exemplo, a adoção de novos modelos energéticos baseados em fontes renováveis, aqui já vivemos essa realidade há cerca de quatro décadas, desde que o primeiro carro a álcool começou a circular, em 1979. Deixemos, no entanto, de olhar o que já foi feito para mirar o que é urgente ser realizado. O Brasil tem compromissos assumidos com o mundo em relação à redução de emissão de gases do efeito estufa e a programas de combate ao aquecimento global. As metas a cumprir são ambiciosas. E, para alcançá-las, é preciso ação imediata. A boa notícia é que temos um plano. Ou melhor: o melhor plano. Chama-se RenovaBio e está à espera de aprovação presidencial para se transformar em medida provisória e dar impulso a uma enxurrada de investimentos na direção de maior eficiência e cada vez menores emissões de gases do efeito estufa, consolidando o País como case global de alternativa energética com a ampliação exponencial da produção de biocombustíveis. É uma oportunidade histórica para dar visibilidade ao Brasil como a grande nação verde do mundo, a partir de um programa que começa nas lavouras, mas congrega políticas industriais, de desenvolvimento e, sobretudo, ambientais. O Brasil tem de abraçá-la.
Luiz Fernando Sá Diretor Editorial 12
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Co la bora dores: Texto: Ana Weiss, Clayton Melo, Costábile Nicoletta, Eduardo Savanachi, Fabrícia Peixoto, Jamie Fullerton, Lívia Andrade, Marianna Peres, Romualdo Venâncio, Sally Wilson, Vicente Vilardaga Fotografia: Claudio Gatti, Emiliano Capozoli, Ferdinando Ramos, Nick Dalla Pria, Paulo Melegatti, Paulo Simões, Tadeu Fessel Design: Bruno Tulini, Camila Sá, Edson Cruz, Enelito Cruz Jr. Fernando Brum, Pedro Matallo Revisão: Rosi Melo Co mu n i caç ão Eliane Dalpizol Coordenadora de Comunicação eliane.dalpizol@datagro.com Ev en to s Simone Cernauski A d m i n i straç ão e Fi na nç as Cláudia Nastari Sérgio Nunes
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a versatilidade do bambu na arquitetura comtemporânea: Terminal 4 do Aeroporto Internacional de Madrid Barajas
G GLOBAL
O lado cosmopolita do agro
foto: shutterstock
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GLOBAL
O lado cosmopolita do agro
Centro esportivo da escola Panyaden, Tailândia
TA I L Â N D I A
ELE TEM A FORÇA
Charmoso, rústico, sustentável. O bambu tem tudo isso. E um amplo mercado a ser explorado no Brasil É no mínimo contra a intuição: um material encontrado na natureza e que, apesar de leve e oco, é capaz de suportar uma carga maior que o aço ou o concreto. Pois o bambu não apenas sustenta construções de grande porte como ainda dá à arquitetura um charme único, rústico e chique. Em países como China, Indonésia e Tailândia, onde essa tradição vem sendo transmitida há gerações, construções em bambu chegam a um grau de sofisticação que nem parecem feitas da planta. Um exemplo recente é o centro esportivo da escola Panyaden, na Tailândia. Projetada pelo escritório Chiangmai Life, a estrutura cobre uma área de 782 m2 e foi feita a partir de treliças de bambu com até 17 metros de comprimento, dispensando qualquer reforço de aço – uma exigência da própria escola, de orientação budista. Dois engenheiros especializados foram contratados para garantir que o pavilhão fosse 16
totalmente imune a fortes ventanias e até mesmo a terremotos. Um tipo de construção que em nada lembra as frágeis cabanas ainda comuns em vilarejos daquela região. Afinal, o que faz o bambu ficar entre o luxo e a pobreza? Segundo o engenheiro civil e secretário executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Bambu, Vitor Marçal, um dos principais fatores é o tratamento. “Existem estruturas feitas a partir do bambu in natura, mas nas grandes construções a planta passa por um processo de tratamento, o que permite, por exemplo, vedá-la contra o ataque de insetos e, assim, durar mais tempo. Outro ponto crucial é o projeto”, diz Marçal. Ele integra um comitê da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que está trabalhando para lançar, em breve, as normas para a utilização do bambu como matéria-prima na construção. “Será um grande incentivador para o uso do bambu
no Brasil. Com as normas, ele terá o mesmo status que outros materiais, como o concreto, a madeira e o aço.” Outro obstáculo à expansão desse segmento no Brasil é a escassez da matériaprima. Apesar de determos a maior reserva nativa de bambu do mundo, nossas mudas estão majoritariamente na região amazônica, em pontos de difícil acesso. A alternativa são os plantis comerciais, que trabalham não com espécies nativas brasileiras, mas sim de outros países. “Um plantil de bambu precisa de dez anos para se tornar comercial. Como muitos investiram há cerca de cinco anos, acredito que daqui a outros cinco teremos um mercado mais maduro em termos de oferta de matéria-prima”, diz Marçal. Por enquanto, quem trabalha com a matériaprima muitas vezes é obrigado a buscá-la em mais de um fornecedor, aumentando os custos com transporte. Considerando ainda a mão de obra, que ainda é escassa, fica fácil entender por que os projetos com bambu são ainda relativamente caros no Brasil quando comparados a outros materiais. Para o alemão Jörg Stamm, um dos maiores especialistas no aproveitamento do bambu no mundo, uma forma de fomentar esse mercado no país seria pelo que ele chama de “bambu disfarçado”. “Temos a fibra de bambu e a madeira de bambu, por exemplo, que inclusive é mais sustentável que a madeira de eucalipto”, diz. “Produtos em geral feitos de bambu, até mesmo detalhes no painel de um carro, tudo isso contribui para uma maior aceitação e também demanda da matéria-prima.”
Uma das suítes do Playa Viva Boutique Hotel, no México, e Pavilhão assinado pelo japonês Shigeru Ban, um dos maiores expoentes da arquitetura em bambu
O charme do material se faz presente em outros segmentos: à dir., a famosa cadeira Tea Ceremony, do designer japonês Hiroki Takada; amplificador de som, da Amplio; cadeira Bamboo Chair (Remy & Veenhuizen); bike artesanal da ArtBike, de Porto Alegre; e a mesa Lock, da Plancton Station PLANT PROJECT Nº6
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E S TA D O S U N I D O S
ANTIGUIDADE NATURAL Foram 14 anos de pesquisa e algumas dezenas de viagens em busca das árvores mais antigas do mundo, dentre elas exemplares com mais de 4 mil anos de idade. “São monumentos”, define a fotógrafa americana Beth Moon, autora das imagens. A ideia do projeto, segundo ela, surgiu a partir de uma notícia de jornal. “Uma árvore londrina de 1.000 anos havia sido danificada durante uma tempestade”, conta. Beth saiu da Califórnia até a Inglaterra para retratar a planta
milenar e nunca mais parou de pesquisar. Foram clicadas mais de 60 árvores, nos Estados Unidos e em países da Europa, Ásia e África, todas reunidas no livro Ancient Trees: Portraits of Time (Amazon, US$ 40).
MIANMAR
CHUVA DE SEMENTES
Parceiros da ONG Worldview International Foundation em um projeto de reflorestamento, os moradores de um vilarejo próximo à foz do rio Irauádi, em Mianmar, semearam manualmente cerca 2,7 milhões de árvores nos últimos quatro 18
anos. A partir de setembro, porém, eles vão ganhar uma ajuda dos céus: drones da startup britânica BioCarbon Engineer farão parte do trabalho, a uma velocidade muito maior. Na primeira fase, uma área de 250 hectares será escaneada pelas máquinas, que farão uma leitura sobre a topologia e a qualidade do solo da região. A partir daí um algoritmo calcula o melhor trajeto para os drones, que disparam cápsulas biodegradáveis com as sementes com uma precisão de centímetros. Eles conseguem cobrir 1 hectare em 18 minutos, com potencial para carregar até 300 sementes. Além disso, um único técnico consegue monitorar até seis drones simultaneamente.
G ALEMANHA
PAINEL... ARVORE ARTIFICIAL Com árvores cada vez menos presentes, as grandes cidades vêm perdendo uma importante fonte de renovação do ar. Uma saída seria encontrar espaço para novas mudas, o que nem sempre é viável dada a expansão urbana. Mas, se a planta for artificial, podendo ser instalada em qualquer lugar, talvez ajude. A ideia tornou-se realidade graças ao trabalho da GreenCity Solutions, uma empresa alemã que vem investindo em soluções para o meio ambiente. Com uma equipe multidisciplinar, eles criaram a CityTree, um painel feito à base
de musgos que absorve a poluição do ar com a capacidade de 275 árvores. Com 3 metros de altura, a instalação funciona com luz solar, enquanto os musgos são irrigados com água da chuva. Cidades como Oslo, Bruxelas, Berlim e Hong Kong já estão experimentando a tecnologia, que custa US$ 25 mil.
I N G L AT E R R A
Tem robô na cozinha Enquanto alguns privilegiam a comidinha caseira, outros apostam na gastronomia hi-tech. É nesse segundo grupo que se enquadra o Food Ink, restaurante itinerante que utiliza impressoras 3D na confecção de seus pratos. Os ingredientes são processados ali mesmo, até formarem uma pasta capaz de passar pelo aplicador das máquinas (receitas com carne, por exemplo, não podem ser incluídas). O resultado são pratos criados com uma precisão que só mesmo a tecnologia pode proporcionar, ainda que a um preço um pouco salgado: na estreia, em Londres, cada cliente desembolsou o equivalente a R$ 1.000 pela experiência. Diversas cidades, incluindo São Paulo, estão previstas no tour do Food Ink para o ano que vem, mas ainda sem datas PLANT PROJECT Nº6
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I TA L I A
PROIBIDO FAZER DIETA Conheça algumas das atrações do parque temático do Eataly, com inauguração prevista para novembro
Uma das principais redes de gastronomia italiana, o Eataly está prestes a ganhar seu primeiro parque temático. Com inauguração prevista para o dia 15 de novembro, o empreendimento – localizado na cidade de Bolonha – funcionará em uma área de 100 mil metros quadrados, com atrações que vão além
de restaurantes e mercearias, como nas versões tradicionais. Segundo a rede, mais de 2 mil empresas estarão representadas no espaço, que consumiu US$ 105 milhões em investimento e é resultado de uma venture entre o Eataly e a prefeitura de Bolonha. Conheça algumas das atrações do parque, cuja entrada será gratuita:
PARA COMER Com 40 opções gastronômicas, o Fico Eataly quer atender os mais variados tipos de público, que poderão experimentar desde menus rápidos em food trucks até os mais elaborados, nas tradicionais trattorias. A linha central será, claro, a culinária italiana, mas o visitante poderá mergulhar em opções específicas, como o Urbani, restaurante especializado em pratos à base de trufas, a Rossopomodori (pizzaria) e a Antica Ardenga, para os amantes de embutidos. 20
AS ORIGENS Para mostrar ao público como e por que os produtos italianos são, muitas vezes, de qualidade superior, os organizadores resolveram montar uma fazenda com mais de 200 animais. Os visitantes poderão fazer um tour e aprender um pouco sobre os processos por trás de algumas das iguarias locais, como o presunto de parma, o grana padano e a mortadela. O espaço de 20 mil metros quadrados terá ainda uma horta com mais de 2 mil tipos de ingredientes, dentre verduras, ervas, legumes e frutas, incluindo aí algumas das uvas mais importantes da vinicultura italiana.
G
PARA LEVAR Jogue o primeiro pedaço de queijo quem nunca saiu da Itália com alguns embutidos disfarçados na mala. Se você é desses, prepare-se para as compras: o Fico Eataly reservou 9 mil metros quadrados para a venda de produtos típicos. São mais de 100 lojas e mercearias recheadas de vinhos, embutidos, azeites, queijos, tudo para fazer você o turista pagar excesso de bagagem (por uma boa causa).
PARA FAZER Além de visitas guiadas pelas fazendas e por processos produtivos, o parque temático também irá oferecer atividades práticas, como workshops e visitas participativas. Turistas poderão, por exemplo, aprender a fazer receitas ou se aprofundar em determinado tema, como pizzas ou vinhos. PLANT PROJECT Nº6
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G BRASIL
MAIS QUE BEM-VINDOS A maior feira de alimentos do mundo, a Anuga, acontecerá pela primeira vez no Brasil, especificamente em São Paulo, e já com data marcada: entre os dias 12 e 14 de março de 2019. Como acontece em outros eventos regionais, a edição nacional será chamada de Anufood Brasil e terá a participação de grandes nomes da indústria nacional e internacional de diversos pontos da cadeia, como fabricantes, distribuidores, supermercadistas e importadores. “Estamos continuamente investindo no Brasil, apesar das dificuldades que ele atravessa. O país vai se fortalecer como uma nação exportadora e com um forte mercado interno”, disse Gerald Böse, CEO da Koelnmesse, empresa alemã organizadora da Anuga. A Anufoods Brasil será dividida em dez grandes áreas de atividade, como agricultura, carnes, orgânicos e bebidas, entre outras.
E S TA D O S U N I D O S
DÚVIDA CRUEL Fazer parte de um grupo não é fácil. Alguns amigos querem ir para o bar, outros para o restaurante, enquanto uns preferem ficar em casa. Com as vacas não é muito diferente. A constatação é de um grupo de pesquisadores americanos, que decidiu estudar o movimento dos rebanhos por meio de um modelo matemático. Segundo eles, a dispersão das vacas no campo pode parecer aleatória, mas na verdade atende a algumas regras, muitas vezes dominada pela tensão. A pesquisa mostrou que, em rebanhos maiores, é comum a formação de dois grupos distintos – animais mais lentos de um lado e ágeis do outro. “As vacas precisam decidir quem seguir, e algumas ficam literalmente indecisas. É um sistema mais dinâmico do que imaginávamos a princípio”, diz Erik Bollt, pesquisador do Centro Clarkson de Ciências em Sistemas Complexos, de Nova 22
H O L A N DA
Feito de açúcar
Essa deve ter surpreendido até mesmo Elon Musk, CEO da Tesla, fabricante de carros elétricos. Um grupo de estudantes da Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda, desenvolveu um carro que não apenas é movido a energia limpa, mas também é construído a partir de matérias-primas biodegradáveis (apenas os pneus e o motor são convencionais, pelo menos ainda). A estrutura, por exemplo, é feita com uma resina desenvolvida a partir do açúcar de beterraba e coberta com um material à base de folhas de linho, o que, segundo os jovens inventores, tem uma resistência similar à da fibra de vidro. Com capacidade para quatro passageiros e velocidade máxima de 50 km/h, o Lina, como foi batizado, ainda precisa de melhorias para sair às ruas – se bater forte, ele quebra. Os estudantes garantem, porém, que continuarão a pesquisa.
ÍNDIA
CHÁ EM EBULIÇÃO Conhecida por produzir alguns dos chás mais tradicionais (e valorizados) do mundo, a região de Darjeeling, na Índia, passa por um momento conturbado. Os gurkhas, população local de etnia de origem nepalesa, intensificaram sua campanha separatista, exigindo que sejam reconhecidos como um novo estado dentro da Índia. Pertencentes ao estado de Bengala Ocidental, os gurkhas vêm convocando greves e chegaram a recomendar que turistas deixassem a região. As lideranças reclamam, principalmente, das condições de trabalho nas lavouras de chá, controladas por grandes companhias internacionais. Os gurkhas argumentam que, com um novo estado, a fiscalização sobre essas empresas seria mais eficaz. PLANT PROJECT Nº6
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Araras sobrevoam canavial no Sul de Goiás: RenovaBio une política ambiental e energética em um mesmo programa
Ag AGRIBUSINESS
Empresas e líderes que fazem diferença
foto: Tadeu Fessel PLANT PROJECT Nº6
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Ag AGRIBUSINESS
Empresas e líderes que fazem diferença
A ENERGIA DA OPORTUNIDADE Como, com investimentos projetados em R$ 500 bilhões e a criação de 1 milhão de empregos, o RenovaBio pode mudar o clima dos biocombustíveis no Brasil e fazer do agronegócio uma referência internacional no combate ao aquecimento global POR COSTÁBILE NICOLETTA | FOTO TADEU FESSEL
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Ag Especial O Desafio da Energia
epousa no gabinete da Casa Civil da Presidência da República uma oportunidade histórica para o Brasil. Atualmente, é um calhamaço de papel, a minuta de um projeto tão ambicioso quanto factível. Caso implantado – e para isso basta uma assinatura do presidente da República, Michel Temer, transformando-o em medida provisória enviada ao Congresso --, terá o condão de, simultaneamente, colocar o País em condições excepcionais para enfrentar alguns dos maiores desafios impostos às nações nas próximas décadas: fazer uma ampla migração da matriz energética, trocando combustíveis fósseis por fontes alternativas, e, com isso, atingir as metas de redução de emissão de gases assumidas nos acordos internacionais de combate ao aquecimento global. Com números grandiosos e efeitos transformadores, o projeto também pode colocar o Brasil na vitrine como um protagonista mundial em políticas ambientais, graças à capacidade e à eficiência do seu agronegócio.
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Usina de açúcar e etanol no Interior de São Paulo: Regras estáveis trazem estímulo a novos investimentos no setor
Todo esse impacto está detalhadamente descrito no RenovaBio, o programa que aguarda o pontapé inicial do Planalto. Elaborado com o objetivo de regular o setor de biocombustíveis, com regras claras e de longo prazo, tem potencial para gerar investimentos de nada menos que meio trilhão de reais até 2030, ano estabelecido para seu funcionamento pleno. A conta, feita pelos formuladores do projeto, inclui os recursos necessários para preparar a lavoura e as usinas para destilar o aumento da oferta de biocombustíveis, assim como os desenvolvimentos tecnológicos para melhorar tanto a produtividade das áreas plantadas quanto o rendimento dos combustíveis renováveis nos motores e equipamentos. Isso será possível porque a regulamentação do setor deve trazer de volta o interesse de investidores nos segmentos que o compõem – como o etanol, o biodiesel e o biogás, para ficar nos principais – e criar mecanismos que permitam ao País cumprir seus compromissos ambientais.
Outro trunfo do RenovaBio é o de ser uma obra coletiva. Elaborado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), um ente interministerial, contou com a colaboração e o apoio de numerosas entidades de praticamente todos os segmentos envolvidos na produção e distribuição de biocombustíveis. Cálculos dessas organizações e do Ministério de Minas e Energia (MME) indicam que, uma vez em funcionamento, toda a engrenagem pode adicionar mais de 1 milhão de empregos às lavouras das culturas relacionadas aos biocombustíveis (cana, milho, soja, entre outras), às unidades de processamento e à distribuição desses produtos. “Digamos que o programa está no forno e logo daremos uma solução a isso”, disse o presidente da República, Michel Temer, no começo de agosto. O forno a que se referiu Temer aparenta estar funcionando em fogo baixo. Desde seu discurso, todos os diversos setores envolvidos aguardavam com ansiedade que a proposta
foto: Adriano Machado
foto: Tadeu Fessel
do RenovaBio fosse encaminhada ao Congresso em forma de medida provisória – de tramitação mais célere, como preferem os empresários do setor e, até mesmo, os ministérios envolvidos na elaboração da minuta, como o MME e as pastas do Meio Ambiente e de Agricultura – ou de projeto de lei. “Há uma convergência de opiniões muito forte, como nunca se viu antes, em toda a cadeia produtiva envolvida no RenovaBio”, afirma Elizabeth Farina, presidente da União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica), uma das principais entidades de defesa dos interesses dos produtores de etanol. “O setor ficará extremamente frustrado se o projeto de lei ou a medida provisória não for encaminhado o mais breve possível ao Congresso.” O RenovaBio pode incentivar a produção de biocombustíveis de forma geral. A indústria de etanol é a que será mais beneficiada com a sua adoção, dada a magnitude do setor sucroenergético, que, depois de duas décadas de crescimento, está estagnado
no patamar de 650 milhões de toneladas de moagem de cana por ano desde 2010. A expectativa dos produtores de etanol é de que o RenovaBio eleve essa produção a mais de 1 bilhão de toneladas, graças à adoção de regras críveis, estáveis e previsíveis. “Dessa forma, haverá mais disposição para investimentos”, afirma Elizabeth Farina, da Unica. “O RenovaBio está calcado em dois pilares: indução de ganho de eficiência e reconhecimento da capacidade de cada biocombustível contribuir para as metas de descarbonização assumidas internacionalmente pelo Brasil, sem subsídio algum”, explica Plínio Nastari, representante da sociedade civil no CNPE e reconhecido especialista na área de energia. Segundo ele, a indução de ganhos de produtividade é relevante porque, de 1975 a 2010, a produtividade do setor passou de 2.025 para 6.831 litros de etanol hidratado equivalente por hectare, uma expansão de 3,54% ao ano. De 2010 a 2016, entretanto, com a crise do setor, essa produtividade
caiu para 5.688 litros, uma redução de 3% ao ano. “Com a tecnologia disponível hoje, facilmente se poderia chegar a uma média de 8.500 litros, o que já é alcançado por alguns produtores.” A redução do custo de produção do etanol pelo aumento de produtividade pode variar de 12,2% a 29,4%, dependendo do cenário, o que será transmitido na forma de preços menores aos consumidores, completa Nastari. ATALHO PARA PARIS O Brasil é o país que mais reúne capacidade de expandir a produção de biocombustíveis de maneira sustentável, sem desmatamento e com substanciais reduções de emissão de gases causadores do efeito estufa (GEE). Segundo Márcio Félix, secretário de Petróleo, Gás e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), o RenovaBio tem peso estratégico para o crescimento sustentável do mercado de combustíveis renováveis no País. Foi lançado como proposta em dezembro de 2016 e detalhado PLANT PROJECT Nº6
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Ag Especial O Desafio da Energia
Plínio Nastari, do CNPE: “O RenovaBio está calcado na indução de ganho de eficiência e no reconhecimento da capacidade de cada biocombustível contribuir para as metas de descarbonização”
Elizabeth Farina, da Unica: “Há uma convergência de opiniões muito forte, como nunca se viu antes, em toda a cadeia produtiva envolvida no RenovaBio”
Márcio Félix, do MME: “O RenovaBio é o atalho para o Brasil cumprir as metas assumidas no Acordo de Paris” 32
durante 2017. O objetivo é torná-lo um marco regulatório de metas de produção e distribuição para que os biocombustíveis representem 18% da matriz energética brasileira até 2030, ano em que as emissões de gases do efeito estufa (GEE), como o gás carbônico (CO2), deverão ser 43% menores no País, conforme compromisso assumido pelo governo federal na COP21, em Paris, no final de 2015. Até 2025, o Brasil terá de reduzir 37% suas emissões de GEE. A meta de 2025 é vinculante, a de 2030, indicativa. “O programa é o atalho para cumprirmos essas metas”, afirma Félix. O CNPE estabelecerá as metas de descarbonização para atingir gradativamente a redução das emissões. O cumprimento das metas se dará com a compra de Créditos de Descarbonização de Biocombustíveis (CBios) por parte das distribuidoras de combustíveis. Os CBios serão emitidos pelos fabricantes de biocombustíveis a partir de uma nota a lhes ser conferida por uma entidade certificadora, que aferirá a eficiência energética dos bicombustíveis produzidos por cada empresa. Quanto mais energia o biocombustível proporcionar por uma menor quantidade de gases emitidos, maior a nota recebida pelo produtor. Somente as usinas certificadas poderão negociar CBios. O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de
Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) – que reúne as companhias que terão de comprar os CBios – também apoia o RenovaBio. Conforme seu presidente executivo, Leonardo Gadotti Filho, a entidade tem a expectativa de que o processo de regulamentação do programa garanta uma visão equilibrada que considere os efeitos positivos de usar um combustível renovável. “A discussão consistente de todos os processos desse marco regulatório é fundamental para que sejam conhecidos de forma transparente todos os benefícios do programa para o setor, o governo e, principalmente, o consumidor”, diz Gadotti. O RenovaBio usa como referência regulações similares às dos Estados Unidos (Low Carbon Fuel Standard [LCFS], da Califórnia) e da Europa (Renewable Energy Directive, o RED). Tanto o programa americano quanto o europeu estabelecem indicadores de intensidade de carbono, porém não induzem ganhos de eficiência como o programa brasileiro. Os recursos obtidos com os CBios poderão ser empregados no esperado aumento da produtividade e da capacidade instalada das usinas para cumprir os compromissos ambientais assumidos pelo Brasil até 2030. Isso significa, por exemplo, ampliar a oferta anual dos atuais 27 bilhões para 44 bilhões de litros de etanol e de 3,8 bilhões para 18 bilhões de litros de biodiesel no período.
REFLEXOS NA CIDADE “A implantação do RenovaBio permitirá que o setor sucroenergético brasileiro tenha parâmetros claros para o planejamento e a definição de investimentos na produção de biocombustíveis”, afirma Luís Roberto Pogetti, presidente do Conselho de Administração da Copersucar. Na opinião dele, os reflexos da adoção do programa serão positivos não só para a indústria de etanol, mas para toda a cadeia de valor do setor e a economia brasileira como um todo, considerando os efeitos multiplicadores do investimento no emprego, na geração de tributos e na atividade produtiva, além de todos os benefícios ambientais da descarbonização da matriz energética. “Mais que um programa, o RenovaBio é a base para o reconhecimento, pelos brasileiros, do papel dos biocombustíveis como ponto catalisador das políticas agrícola, de desenvolvimento econômico, ambiental e até mesmo de saúde”, afirma Miguel Ivan Oliveira, diretor de Biocombustíveis do MME. “Se pensarmos que apenas na cidade de São Paulo 11 mil pessoas morrem por ano devido a problemas agravados pela poluição do ar, ao entregarmos uma solução que reduz as emissões de gases estaremos promovendo também uma opção energética com menos externalidades negativas.” Pelos cálculos da Unicamp, o etanol reduz até 90% as emissões de CO2, quando comparado
foto: Agência IstoÉ
Bomba de abastecimento de biodiesel: 73% menos emissões do que o diesel de origem fóssil
à gasolina. “Hoje a qualidade do ar nas grandes cidades brasileiras é melhor que nas de outras grandes cidades ao redor do mundo por conta da frota flex”, reforça Guilherme Nastari, diretor da consultoria Datagro. “Esse é outro ponto positivo dos biocombustíveis que a sociedade ainda não valoriza”, diz. Cerca de 50% dos veículos brasileiros hoje têm motores flex. E mesmo a gasolina que move os demais possui 27% de etanol na mistura, reduzindo o impacto ambiental de sua queima. “Não somos os maiores produtores do mundo porque temos sol, solo e água, mas porque temos clientes, gente que consome etanol. A frota flex é o grande motor da indústria de renováveis e o RenovaBio é a continuidade disso”, afirma Guilherme Nastari. “O RenovaBio será referência para toda a agenda de biocombustível que o Brasil pretende atingir no futuro”, reforça Fábio Venturelli, presidente da São Martinho, outra grande protagonista da indústria sucroenergética. “Para quem trabalha no dia a dia com a gestão de produção de combustível renovável, é fundamental poder planejar o futuro e a gestão de investimentos da empresa”, continua o executivo, para
quem toda a cadeia, não só os produtores de biocombustíveis, será beneficiada com o RenovaBio e terá ganhos futuros. “O RenovaBio é uma iniciativa ganha-ganha”, avalia Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). “Nosso setor tem capacidade técnica e industrial para atender ao aumento gradual da mistura de biodiesel no diesel mineral e, em consequência, atender às metas do RenovaBio.” Lovatelli enumera outros reflexos positivos: para cada ponto porcentual de mistura obrigatória, o biodiesel proporciona aumento da produção de 720 milhões de litros; aumento da demanda por óleos vegetais de 670 mil toneladas; aumento da demanda por gorduras animais de 51 mil toneladas; aumento do processamento doméstico de óleo de soja de 2,9 milhões de toneladas. Hoje, o índice de mistura obrigatório de biodiesel no combustível mineral é de 8%. Um estudo da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio) sobre a emissão de dióxido de carbono na atividade, desde o plantio das oleaginosas – matérias-primas do biodiesel – até a combustão do biodiesel nos motores indica uma redução superior a 73% em PLANT PROJECT Nº6
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foto: Divulgação
Lançamento da Plataforma Biofuturo, na COP 22, em Marrakesh: movimento global pelos biocombustíveis
relação ao óleo diesel fóssil. “Com o RenovaBio, o cálculo das reduções será individualizado e as usinas mais eficientes e que processem a oleaginosa de produtores com as melhores práticas agrícolas, como plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, poderão comprovar reduções ainda maiores”, diz Erasmo Carlos Battistella, presidente da entidade. DO BRASIL PARA O MUNDO Para ter uma dimensão da importância dos biocombustíveis para o País, Plínio Nastari cita algumas comparações. O Brasil não é o maior produtor mundial de biocombustíveis. Perdeu essa posição em 2006 para os Estados Unidos, que no ano passado produziram 58,5 bilhões de litros de etanol e cerca de 8 bilhões de litros de biodiesel, ao passo que das usinas brasileiras saíram 27,3 bilhões de litros de etanol e 3,8 bilhões de litros de biodiesel. Mas, em termos relativos, o Brasil é o maior consumidor de biocombustíveis do mundo. Enquanto os Estados Unidos estão substituindo 10% de sua gasolina por etanol, no Brasil essa proporção fica entre 36% e 45%. No diesel, o Brasil mistura 8% de óleo feito a partir de fontes renováveis (como a soja), 34
enquanto os Estados Unidos usam, em média, 3%. “Os Estados Unidos são os maiores produtores porque têm um consumo muito elevado de derivados de petróleo. São responsáveis por aproximadamente metade do consumo de gasolina do planeta, além de diesel. No entanto, praticamente, só usam o etanol como mistura, quase nunca como combustível puro para abastecer veículos. Isso só ocorre por enquanto no Brasil”, conta Nastari, para quem o modelo do RenovaBio é perfeitamente exportável, por exemplo, para outros países da América Latina e do continente africano – cujas condições climáticas são parecidas com as brasileiras –, o que contribuiria para dar um impulso na economia local e evitar o êxodo de populações em busca de melhores condições de vida. O movimento de internacionalização da ideia do RenovaBio já está em curso. Na reunião do Clima de Marrakesh, no Marrocos (COP 22), o Brasil e outros 19 países, inclusive os Estados Unidos, a China e a Índia, assinaram um acordo para promover a ampliação dos biocombustíveis em suas matrizes energéticas. Chamada de Plataforma Biofuturo,
atualmente é coordenada pelo brasileiro Renato Godinho e se propõe a estimular o debate em torno da bioenergia, discutir as melhores práticas no segmento e preparar uma declaração em que se estabeleça metas coletivas de produção de biocombustíveis nos próximos anos. “Havia um vazio no debate internacional em torno desse tema. O Brasil, com o RenovaBio, tem condições de liderar esse movimento e ocupar uma posição de destaque global na busca por um modelo mais sustentável e limpo de geração de energia”, afirma Godinho. Segundo ele, a adesão internacional à plataforma demonstra a disposição de grandes países em encampar o etanol e outros biocombustíveis. O debate internacional trará um benefício espetacular para o Brasil, não só pelo domínio tecnológico da produção de etanol, mas também de seu ciclo de distribuição, em ambos os casos calcado em décadas de experiência num país de dimensões continentais como o nosso. Isso sem falar do enorme benefício ambiental resultante da disseminação do seu uso. “Temos tudo nas mãos para reforçar que somos a maior nação verde do mundo”, completa Guilherme Nastari.
P
Especial O Desafio da Energia
Ag
NADA SE PERDE, TUDO SE TRANSFORMA
P
Como o Brasil vem transformando necessidades ambientais em oportunidades de negócio ao longo de sua história ara a imensa maioria dos brasileiros, a história da utilização do etanol como opção à gasolina nos veículos surgiu em meados da década de 1970, por causa do Proálcool – programa criado em novembro de 1975 pelo governo federal para estimular a substituição de combustíveis derivados de petróleo. Mais de 50 anos antes, porém, já havia carros rodando com álcool como mistura da gasolina em nossas estradas. O pioneirismo cabe ao usineiro Salvador Lyra, que, em 1926, lançou a ideia, com sucesso, em Alagoas. O combustível ficou conhecido com Usga, acrônimo de Usina Serra Grande, de Lyra, pai do senador Carlos Lyra e avô de Robert Carlos Lyra, empresário à frente do grupo Delta, do Triângulo Mineiro. Combinado com éter, o Usga chegou a ser distribuído em
algumas cidades de Pernambuco e Alagoas por cinco anos, porém sucumbiu ao alto preço do frete para distribuí-lo, cobrado pelas ferrovias, então controladas por companhias de petróleo. Outras tentativas esporádicas de mistura ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial, como forma de atenuar as dificuldades de importar gasolina.
Usina Serra Grande, em Alagoas, em foto de 1929: primeira experiência com o uso de etanol
PLANT PROJECT Nº6
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Ag Reportagem de Capa
Planta piloto para produção de energia a partir de biogás: alternativa poderia proporcionar ao País o equivalente a uma Itaipu e meia
O Proálcool é, de fato, um marco, que indica o início da popularização dos motores movidos a etanol. Desde então, nos últimos 40 anos, a indústria automobilística desenvolveu novas tecnologias, que aumentaram sua eficiência e a possibilidade, com os carros flex, de usarem tanto gasolina contendo etanol anidro quanto etanol hidratado puro. A existência de mercado para sua produção levou também os produtores a investir. Hoje, algumas usinas extraem até 10 mil litros de etanol por hectare. A média em 2016 foi de 5.866 litros, mas já atingiu 6.831 litros em 2010. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), de Piracicaba (SP), informa ser possível chegar a 30 mil litros por hectare até 2030, ano-meta do RenovaBio. Em seus laboratórios já foi desenvolvida uma cana transgênica resistente à broca, praga responsável no ano passado pela perda de 400 mil dos 9,2 milhões de hectares da planta no País. “Os ganhos de produtividade virão principalmente com as novas variedades de cana-de-açúcar adaptadas aos 36
diferentes ambientes de produção, variedades geneticamente modificadas resistentes a insetos, tolerantes a herbicidas, resistentes a seca e com maior eficiência fotossintética”, explica Viler Janeiro, diretor de etanol celulósico e assuntos corporativos do CTC. “A redução de perdas no manejo e novas tecnologias para produção de etanol (segunda geração) serão também fundamentais para atingir esses níveis de produtividade.” Outra fonte para obtenção de etanol é o milho. É a mais utilizada nos Estados Unidos, mas o Brasil também dá seus primeiros passos nessa área. No início de agosto, a FS Bioenergia, uma sociedade entre a brasileira Fiagril Participações e a gestora americana Summit Agricultural Group, inaugurou a primeira usina do Brasil que produzirá etanol exclusivamente a partir do milho. Localizada em Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, no coração do principal estado produtor de milho, demandou investimentos de R$ 450 milhões, para ter capacidade inicial de produção de 240 milhões de litros de etanol por ano, além de
7 mil toneladas de óleo de milho. A planta deverá ser duplicada até o final de 2018, quando estará agregando valor a 1,2 milhão de toneladas de milho por ano. Assim como os motores, começam a operar as primeiras usinas flex, que podem usar tanto o milho quanto a cana para produzir etanol, tirando proveito da entressafra de uma e de outra cultura, aproveitando o vapor e a eletricidade gerados com o bagaço ENERGIA DO LIXO Além de usar os restos do processo produtivo para gerar energia, os fabricantes de etanol testam formas de aproveitar resíduos celulósicos também para destilar o combustível, o chamado etanol de segunda geração (E2G) citado pelo executivo do CTC. É enorme o potencial de aproveitamento do bagaço e da palha de cana-de-açúcar. Um grande problema ambiental no estado do Pará é o assoreamento dos rios causado pelo descarte indevido do caroço de açaí, fruta muito apreciada também no Sudeste. Desde 2014, a ComBio Energias Renováveis faz
Posto de abastecimento com biometano: produzido a partir de resíduos, combustível poderia reduzir 44% do diesel usado no Brasil
a coleta de grande parte desse resíduo na região do município de Barcarena (PA) e o usa como biocombustível para alimentar a caldeira geradora de vapor para um de seus clientes. Sediada em São Paulo, a ComBio instala e opera unidades de produção de vapor nas fábricas de seus clientes, sempre usando como biomassa para queimar na caldeira resíduos de atividades agrícolas e de reflorestamento. As cinzas provenientes dessa queima são utilizadas na produção de adubo orgânico e em material para compostagem. Em 2016, seus cinco clientes lhe proporcionaram um faturamento total de R$ 60 milhões, segundo o diretor comercial da companhia, Paulo Skaf Filho. O reaproveitamento de resíduos também é a tônica de duas tecnologias que começam a florescer no País, o biogás e o biometano. O primeiro é uma mistura de gases composta principalmente por metano e dióxido de carbono, obtida normalmente através do tratamento de resíduos domésticos, agropecuários e industriais, por meio de processo de biodegradação anaeróbia (na ausência de oxigênio).
O biometano, por sua vez, é resultado do processo de purificação do biogás até adquirir características similares às do gás natural. Para chegar a essa condição, é necessária a remoção da umidade, do dióxido de carbono e do sulfeto de hidrogênio, resultando então em um combustível de alto poder calorífico e que pode ser utilizado em substituição ao gás natural veicular (GNV). “O biometano é um combustível celulósico avançado, com enorme capacidade de redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE). Por utilizar resíduos em sua produção, sua intensidade de carbono é baixa, podendo até ser negativa, dependendo da metodologia adotada”, afirma Alessandro Gardemann, presidente da Associação Brasileira de Biogás e de Biometano (ABiogás). Ele acredita que o RenovaBio será um marco no desenvolvimento do mercado de biometano no Brasil, assim como aconteceu em outros países que adotaram incentivos semelhantes, como os Estados Unidos. Segundo Gardemann, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP) já regulamentou o biometano para ser vendido em postos ou injetado no gasoduto. “Temos as primeiras plantas em escala comercial entrando em operação, e o mundo detém as tecnologias prontas para uso de gás em veículos pesados, substituindo o diesel, que é fóssil, caro e em grande parte importado”, diz Gardemann. “O Brasil poderia substituir 44% do diesel com o biometano produzido de maneira descentralizada somente com os resíduos não aproveitados hoje, reduzindo custos para o consumidor e gerando renda local, e o RenovaBio é o caminho para essa realidade acontecer.” De acordo com a ABiogás, o Brasil tem potencial de gerar 71 milhões de metros cúbicos de biogás por ano, o que equivale a 115 mil gigawatts-hora (GWh) de energia elétrica com o aproveitamento de resíduos do setor sucroenergético, de outros resíduos agroindustriais e dos rejeitos urbanos. Esse volume equivale à produção de quase uma Itaipu e meia, e seria suficiente para suprir 25% de toda energia elétrica consumida no País em 2016. PLANT PROJECT Nº6
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Ag Especial O Desafio da Energia
RenovaBio em Números Investimentos previstos de
A demanda de biodiesel deverá
R$ bilhões até 2030 em projetos agropecuários/ agroindustriais, em desenvolvimentos tecnológicos, na construção de novas usinas de biocombustíveis e na infraestrutura para seu funcionamento
alcançar bilhões de litros em 2030, a partir de matérias-primas nacionais em uma proporção estimada de óleo de soja (77%), sebo bovino (8%), óleo de palma (8%) e outras (7%). Em 2017, a capacidade instalada de produção de biodiesel é de 7,3 bilhões de litros anuais
500
45
Economia de US$ bilhões à balança comercial com a redução da importação de 95 bilhões de gasolina no período entre 2015 e 2030
Ativação do comércio e da indústria nacional com a venda de máquinas e equipamentos
18
42
1.400
mortes de quase e mais de 9.000 internações anuais, totalizando uma economia da ordem de R$ 430 milhões por ano para o sistema de saúde pública e privada
O Brasil tem mil postos de combustíveis que vendem etanol, gasolina e diesel
37%
Meta de redução de das emissões de CO2 até 2025 e
43%
54
até 2030
Necessidade de
bilhões de litros de etanol em 2030. O consumo atual, no Brasil, é de 28 bilhões de litros anuais
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Estima-se que o consumo de biocombustível apenas nas oito principais regiões metropolitanas do Brasil seja responsável pela redução
Interiorização do desenvolvimento em
1.600
municípios com cultivo de cana-de-açúcar
1
Criação de
milhão de empregos diretos e indiretos
O menos tóxico 1-15
O mais tóxico 16-30
31-45
46-60
61-75
76-90
91-105
106-120
121-135
Sem dados
infografia: Fernando Brum
A CONDIÇÃO AMBIENTAL NOS PAÍSES AO REDOR DO MUNDO
Fonte: The EcoExperts (Business Insider), Fev/17. Cinco critérios: nível de consumo de energia per capita, emissão de CO2 a partir de combustíveis, poluição do ar, mortes causadas pela poluição do ar e produção de energia renovável. Estudo do Instituto de Efeitos da Saúde mostrou que a poluição do ar causou mais de 4 milhões de mortes no mundo, em 2015 Fontes: Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio), Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise), Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Ministério de Minas e Energia (MME), União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).
Consumo de combustível para transporte no Brasil:
111,9
bilhões de litros em 2016
USO DE COMBUSTÍVEIS NA MATRIZ ENERGÉTICA
28,1% Gasolina
13,0% Etanol Hidratado
26,8%
10,4% Etanol Anidro
45,1% Diesel
3,4%
Biodiesel
Etanol + Biodiesel
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Ag Especial O Desafio da Energia
I
foto: Divulgação
CARRO ELÉTRICO MOVIDO A ETANOL
Combustível já é usado, em protótipos, como fonte de obtenção do hidrogênio necessário para gerar energia ao veículo
mpulsionadas pelo Proálcool – programa governamental que incentivava o uso de etanol como substituto da gasolina para atenuar os problemas decorrentes da crise do petróleo –, as indústrias automotivas instaladas no País passaram a produzir carros movidos com o combustível extraído da cana-de-açúcar.
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O pioneiro foi o modelo 147, da Fiat, em 1979. O auge das vendas ocorreu em 1983, quando os veículos a álcool chegaram a representar 96% do total comercializado pelas montadoras. Após várias crises pelas quais o setor passou depois desse período – acentuadas com as do País como um todo –, as vendas
de etanol se revigoraram a partir de 2003, com o advento do carro flex, que roda tanto com gasolina contendo 27% de etanol anidro, quanto com etanol puro hidratado. Dos quase 43 milhões de veículos da frota brasileira em 2016, perto de 60% (25,6 milhões) podem ser abastecidos com qualquer um desses combustíveis numa rede de distribuição que
foto: Agência Istoé
conta com quase 42 mil postos espalhados pelo Brasil. Segundo Plínio Nastari, do CNPE, os desenvolvimentos tecnológicos que resultaram nos veículos flex e a parruda rede de distribuição de 42 mil postos de abastecimento podem inserir o País numa nova revolução nos transportes: a adoção do etanol como combustível para movimentar carros elétricos, com significativas vantagens ecológicas na comparação com outras fontes de eletricidade, o que reforça a importância da entrada em vigor do RenovaBio. A maior parte dos carros elétricos já existentes no mercado precisa ser conectada
Protótipo de veículo movido à célula combustível a base de etanol da Nissan e posto de combustível em São Paulo no fim dos anos 1970: duas eras do mesmo combustível
a uma tomada de energia para reabastecer a bateria que lhe dá autonomia para andar. Mas, no ano passado, a montadora japonesa Nissan trouxe ao Brasil um protótipo de carro elétrico dotado de uma célula de combustível na qual se produz o hidrogênio a ser transformado na energia que o movimentará. A célula é alimentada com etanol, do qual se extrai o hidrogênio.
EFICIENTE E ECOLÓGICO 55:45
ETANOL HIDRATADO
Curto tempo de reabastecimento Baixa restrições DE infraestrutura Combustível seguro (etanol hidratado)
CANA DE AÇÚCAR
LIMPO BIOETANOL
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infografia: Fernando Brum
ICIÊ
ALTA EF
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CICLO DE CARBONO NEUTRO
CIMEN
GRANDE AUTONOMIA
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CUSTO DE FUNCIONAMENTO EQUIVALENTE A VEÍCULOS ELTÉRICOS
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100% ETANOL
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foto: Agência Istoé
Ag Especial O Desafio da Energia
Modelo histórico: Fiat 147 ano 1979 foi o primeiro carro a álcool produzido em série no País
Além de emitir muito menos gases nocivos para gerar energia em relação às fontes primárias (como usinas movidas a óleo mineral ou carvão, por exemplo) que levam eletricidade às tomadas onde precisam ser plugados os outros carros elétricos, o com célula de hidrogênio extraído do etanol pode ser reabastecido facilmente na mesma bomba dos postos aos quais recorrem os carros convencionais. Seu tanque comporta 30 litros de etanol, que lhe dão autonomia de 620 quilômetros. No caso do protótipo da Nissan, conta Nastari, é possível que a montadora lance o automóvel no Japão com bateria, embora a tecnologia da célula a combustível dispense isso, pois usa o tanque de etanol no lugar: “A Nissan está pensando em usar bateria para armazenar eletricidade enquanto o carro anda, durante o dia. À noite, quando o motorista estacionar o veículo em sua casa, poderá plugá-lo à sua residência para transferir-lhe a energia gerada pelo carro, ao contrário dos demais veículos elétricos, que 42
precisam extrair eletricidade da casa para reabastecer sua bateria”. “Hoje, não se discute o carro elétrico como tendência. A questão não é mais se vem, e sim quando vem”, afirma Ricardo Bacellar, diretor da consultoria KPMG e especialista em indústria automobilística. Segundo Bacellar, até hoje, somente a Nissan avançou na tecnologia de célula a combustível com etanol, mas ainda não foi muito adiante por falta de incentivo. “Como em quase todas as indústrias no País, não há como desenvolver negócios desatrelados de ações governamentais, seja na questão regulatória (como o RenovaBio), seja no incentivo em forma de fomento ou de pesquisa.” Em nota, a subsidiária brasileira da Nissan informa que, em relação ao RenovaBio e seus reflexos sobre o desenvolvimento do protótipo que usa célula de combustível a etanol, até o momento todas as diretrizes e ideias ainda estão em discussão entre o governo e o setor automotivo: “Por isso, a Nissan acompanha os debates, mas aguarda o programa RenovaBio
ser definido para se pronunciar”. Um documento produzido pela companhia japonesa em junho de 2016, no entanto, demonstra como a empresa vê o Brasil em posição estratégica para tomar a dianteira na adoção da tecnologia. “Com a infraestrutura existente de distribuição de etanol, o Brasil já resolveu o problema da distribuição de hidrogênio”, diz o documento. Para Bacellar, se o Brasil conseguir comprovar a eficiência do etanol como fonte energética da célula de combustível, obterá uma oportunidade histórica para posicionar-se fortemente como uma alternativa viável para o mundo inteiro. Importantes países europeus já decretaram o fim do motor a combustão. Na Alemanha, a produção de automóveis com o sistema será proibida a partir de 2030. No Reino Unido e na França, em 2040. No Brasil, tramita no Congresso o Projeto de Lei 304/2017, de autoria do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que proíbe a venda de veículo novo movido a gasolina ou diesel a partir de 2030 e, a partir de 2040, veda a circulação de qualquer automóvel desse tipo.
Ag Finanças
UM NOVO SCHEFFER QUER BRILHAR Como o jovem produtor Guilherme Scheffer revolucionou a gestão financeira dos negócios rurais de sua família e colocou o Grupo Scheffer no radar de investidores internacionais
foto: Cláudio Gatti
Por Eduardo Savanachi
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O
produtor rural Guilherme Scheffer carrega um dos mais tradicionais sobrenomes agrícolas do Brasil. Há 34 anos seu pai, Eliseu Maggi Scheffer, fundou o Grupo Scheffer, que hoje produz algo em torno de 340 mil toneladas de grãos em mais de 120 mil hectares espalhados por fazendas na região de Sapezal, no Mato Grosso do Sul. Em seu “DNA agrícola” ainda constam nomes como o do seu tio, o megaprodutor Eraí Maggi Scheffer, considerado um dos “reis da soja” do país, rivalizando com o atual ministro da Agricultura e primo, Blairo Maggi. Mas, no caso de Guilherme, o uso do termo “tradicional” se limita ao seu sobrenome. Desde que assumiu a gestão financeira do grupo, há 13 anos, ele trabalha na implementação de um modelo de administração com mecanismos típicos de grandes multinacionais, cujo objetivo era fincar os pés em um habitat ainda hoje pouco explorado por empresários rurais: o mercado financeiro. Nos últimos meses, ele começou a colher o que plantou. Guilherme é o primeiro produtor a conseguir emitir, como pessoa física, um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), título que gera direito de crédito a possíveis investidores e possibilita acesso a recursos financeiros fora da rede bancária.
Mais do que linhas de crédito mais barato, a emissão do CRA tem um papel estratégico para o futuro das lavouras da família, pois funciona como um tipo de chancela econômica em relação a gestão dos negócios, colocando o Grupo Scheffer no radar de investidores internacionais. O plano do produtor é tornar o nome do grupo mais conhecido no mercado com a emissão do Certificado e, com isso, ser capaz de captar recursos com juros mais baixos. “O ganho não é apenas uma possível redução de custo no futuro, mas sim o possível acesso a um novo ’bolso‘ de créditos”, afirmou a PLANT PROJECT. De acordo com o produtor, esse é um segmento totalmente diferente do bancário. Nele, os recursos são acessados com um bom projeto que ofereça uma projeção financeira atraente e confiável. “Trata-se de um volume indefinido de recursos oriundos de investidores internacionais que precisam de um bom fator de risco versus retorno para entrar no negócio. E achamos ter essas condições”, diz Guilherme Scheffer. Ele ressalta que o alto custo da emissão do CRA se paga pela posição estratégica que ele possibilita. “Vamos começar a colher os frutos nos próximos dois anos, com o nome ficando mais conhecido no mercado e uma possível segunda emissão do Certificado”, planeja o produtor, que
Lavoura de algodão do grupo Scheffer: referência na produção e na gestão
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não fala de nomes nem valores. “Já estamos conversando com alguns fundos e observando que é possível estabelecer parcerias. Acreditamos que com o modelo de organização que temos hoje, já é possível alavancar bons negócios em parceria com esses agentes.” O “modelo de organização” ao qual ele se refere envolve uma série de práticas administrativas, que mexem com toda a estrutura funcional do grupo. “Todo o processo que resultou na emissão do CRA é resultado de um trabalho de longo prazo para a estruturação da empresa.” Um dos principais exemplos é o balanço auditado, que permite que os resultados econômicos do grupo sejam comprovados. “Já estamos há 13 anos com o balanço auditado, nos últimos quatro anos feito pela KPMG”, ressalta. Além disso, outro aspecto importante está na política de transparência e gestão de risco, que gera uma série de regras para equilibrar o grau de risco que o grupo pode correr em cada tipo de operação. “São parâmetros que dão segurança ao investidor e tornam o grupo mais sólido”, complementa. De acordo com a corretora Vert, que atuou como a securitizadora e emissora do CRA, o certificado funciona como um instrumento de captação de recursos destinados a financiar transações do mercado do agronegócio e é emitido com lastro em recebíveis originados de negócios entre 46
foto: José Medeiros/Editora Globo
produtores rurais, inclusive financiamentos ou empréstimos relacionados à produção, comercialização, beneficiamento ou industrialização de produtos. Ou seja, é um mecanismo atrelado diretamente à produção, sem o intermédio dos bancos, por isso a necessidade de comprovação de um modelo de gestão transparente e confiável para conseguir a aprovação da emissão. “Para ter acesso a esses mecanismos, é preciso profissionalizar a gestão administrativa e financeira da fazenda, tendo um histórico de bom pagamento junto a fornecedores e bancos, além de ter disponibilidade de dar garantias reais. No caso de Guilherme Scheffer, isso foi possível e resultou na primeira operação de grande produtor rural emitindo sozinho”, explica Fernanda Mello, sócia da Vert. Segundo Fernanda, o CRA é atrativo por causa da isenção de imposto que ele oferece ao investidor. “A vantagem é que investidores pessoa física têm isenção de IR quando investem em CRA e, com isso, os tomadores de recursos conseguem taxas mais competitivas e diversificam suas fontes de financiamento, tornando-se menos dependentes de bancos e fornecedores”, ressalta. Aos 35 anos de idade, Guilherme é um dos exemplos de
uma nova geração de produtores que começa a assumir as rédeas dos negócios de suas famílias, com autonomia para aplicar na prática o conhecimento adquirido durante os anos de estudos. Um perfil que o fez entrar no radar de um programa realizado pelo Rabobank, chamado Agrolíder, voltado para identificar e ajudar a lapidar novas lideranças rurais. “O programa é dirigido aos filhos de clientes que já fazem parte da gestão ou que pretendem assumir o negócio da família, podendo ser os futuros líderes do agronegócio”, explica a diretora do Rural Banking do Rabobank Brasil, Fabiana Alves. Na prática, o programa promove encontros anuais, com a realização de workshops e road shows nacionais e internacionais, em que jovens produtores podem desenvolver novos conhecimentos gerenciais para aplicação direta nos negócios da família, como finanças, análises de investimento, governança, sucessão e gestão de pessoas. De acordo com a diretora do Rabobank, que atuou como consultor durante o processo de emissão do CRA, a maturidade de gestão operacional, financeira e de governança do Grupo Scheffer são aspectos amplamente trabalhados no programa. “Enxergamos atualmente uma
Finanças
geração empreendedora que vê no agronegócio não só uma chance de dar continuidade ao negócio da família, mas também uma oportunidade de carreira”, diz. Para Guilherme, a forma como essa nova geração foi inserida nos negócios da família é um dos principais fatores para o sucesso do modelo implantado. “Todo o processo de transformação de uma empresa familiar para um modelo mais corporativo é um trabalho que começou na primeira geração e está sendo consolidado pela segunda geração”, revela Guilherme, que conta que seu pai, Eliseu Scheffer, sempre se preocupou em atrair os filhos para os negócios da família. Dessa forma, cada um dos três filhos cuida de uma parte importante do grupo. O filho mais velho, Gilliard, cuida do planejamento operacional das lavouras, enquanto a irmã, Gislayne, é diretora administrativa. Olhando os resultados do grupo, é possível ver que a sucessão tem dado resultado. Nas últimas seis safras, a produção de soja dobrou, passando de 120 mil para 240 mil toneladas. No caso do milho, a produção - que era de pouco mais de 15 mil toneladas na safra 2012/13 - passou para 120 mil hectares plantadas entre primeira e segunda safra, crescimento de 700%. O grupo ainda produz 60 mil toneladas de pluma de algodão e abate cerca de 12 mil cabeças de gado
Nelore por ano. “Noventa por cento do faturamento do grupo vem da soja e do algodão. No caso do algodão, 81,65% do que é produzido pelo Grupo está dentro do tipo, na classificação visual, para os padrões de exportação.” Os planos para o futuro não são modestos e até mesmo uma abertura de capital do Grupo, embora afirme não estar nos planos, não é descartada. “Atuar no mercado de capital não é interessante no momento. Mas futuramente, se for, queremos estar preparados”, pondera Guilherme.
Ag
O patriarca Eliseu Scheffer: preocupação em atrair os filhos para a empresa da família
POR DENTRO DO GRUPO SCHEFFER Onde produz Sapezal (MT) e Maranhão Como produz 11 propriedades agrícolas Nas lavouras Algodão 27 mil hectares ]68 mil toneladas de armazenagem de caroço de algodão 60 mil toneladas de pluma 66 mil toneladas de caroço Soja 60 mil hectares 220 mil toneladas Milho 14 mil hectares 120 mil toneladas Pecuária 12 mil cabeças de gado abatidas por ano Onde ganha 90% do faturamento vem da soja e algodão
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O SATÉLITE DO AGRO Recém-lançado, o SGDC promete oferecer banda larga de qualidade a preço acessível para todo o território nacional, resolvendo um problema crônico do agronegócio brasileiro: a conectividade Por Vicente Vilardaga | Ilustração Camila Sá
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lançamento ocorreu na base de Korou, na Guiana Francesa. Mas todas as atenções estavam voltadas para vastas áreas no coração do Brasil. Era para elas que, assim que rompesse a atmosfera terrestre, um satélite batizado com a sigla SGDC (Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas) apontaria suas antenas. A promessa é de que o equipamento ajude a resolver um dos mais evidentes problemas do agronegócio brasileiro: o acesso à internet em banda larga por um preço acessível a todos os produtores. De um modo geral, falta conexão de qualidade no interior do País, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A mesma carência é sentida na área rural de cidades médias e pequenas. E o novo satélite, que cobre todo o território nacional, deve superar esse entrave. Sua banda Ka permite que o custo da internet na zona rural, com 99% de disponibilidade -- o que representa um funcionamento estável e permanente --, despenque em relação às soluções oferecidas hoje no mercado. “Pelos estudos que fizemos, o preço do acesso à internet deve ficar pelo menos 10% menor do que os valores mais baixos hoje praticados por operadores de satélite e telefonia móvel, hoje na casa dos R$ 250”, afirmou o presidente da Telebras, Jarbas Valente, em São Paulo, na primeira de uma série de apresentações para promover o edital do leilão de capacidade do SGDC. “E o agronegócio, como apresenta grande demanda reprimida, será certamente um importante comprador do serviço.” A conectividade chegaria, assim, a um universo maior de agricultores e pecuaristas, permitindo que eles venham
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a adotar sistemas mais modernos de produção. Hoje, muitas delas estão restritas aos grandes produtores, que conseguem encontrar soluções próprias na transmissão de rádio ou na telefonia celular 3G e 4G. Já os pequenos produtores, donos de propriedades em áreas remotas, sofrem com o custo elevado ou mesmo com a impossibilidade de acesso à banda larga. Os leilões promovidos pela Telebras cederão para exploração, pelas operadoras privadas, 57% da capacidade civil do satélite. Serão dois lotes, um com 35% de capacidade, ou 21 Gbps (Gigabits por segundo), e outro com 22%, equivalente a 12 Gbps. Um Gbps equivale a um bilhão de bytes por segundo, velocidade alta o suficiente para atender qualquer necessidade. Inicialmente, conforme anunciado em fevereiro, a estatal pretendia vender 79% da capacidade do satélite e manter 21% para uso do governo, mas decidiu manter um estoque adicional de segurança com o objetivo de cumprir políticas públicas. A banda larga permitirá que o agronegócio leve novos planos de evolução adiante. Valente destaca, por exemplo, que há muitas fazendas automatizadas que não conseguem dar vazão em tempo real às suas informações de produção por conta de uma rede pouco disponível. Há também aqueles agricultores que tentam implantar projetos de agricultura de precisão, que usam a tecnologia para aferir dados de variação do solo e do clima a fim de implantar processos de automação e dosar adubos e agrotóxicos. A evolução futura do agronegócio dependerá, em grande parte, da robustez e disponibilidade da rede. A internet em banda larga via satélite não é uma novidade no País. A operadora
americana Hughes já oferece acesso à rede pela banda Ka, mas sua cobertura abrange 4 mil de um total de 5,6 mil municípios, e não alcança vastas regiões do interior. As áreas de fronteira, por exemplo, com exceção do Mato Grosso do Sul, estão praticamente descobertas – ou, quando são alcançadas, não têm uma internet de qualidade. “O que a gente vê no mundo rural é bastante deficiência e em locais pouco densos a viabilidade econômica do serviço é muito difícil”, afirma Rafael Guimarães, presidente da Hughes do Brasil. “Com nosso satélite, nós começamos a preencher uma parte dessas lacunas.” O uso da banda Ka foi uma iniciativa americana. O primeiro serviço foi lançado nos Estados Unidos pela própria Hughes, em 2007, e se destacou pela excelente relação custo-benefício. Isso permitiu, de certa forma, que sua
oferta fosse massificada. Até o ano passado, a banda larga por satélite no Brasil se limitava às bandas C, L e Ku, cujo acesso é muito mais caro que o da banda Ka e inacessível aos pequenos e médios agricultores. Guimarães conta que a Hughes tem hoje 60 mil assinantes de banda larga por satélite e entre 15% e 20% desses clientes exercem atividade rural. Cerca de 80% do total de assinantes estão em cidades com até 50 mil habitantes e a assinatura mais barata, de 10 Megabites por segundo, sai por R$ 249,00. “Na comparação do custo do Kilobite transmitido, a diferença entre as bandas Ku e Ka, por exemplo, é de 70 para 1”, diz o executivo. PEQUENOS DRAMAS Situado a 14 quilômetros da pequena cidade de Paraisópolis, no sul de Minas Gerais, o Sítio Graúna, da produtora rural PLANT PROJECT Nº6
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O presidente Temer acompanha, de Brasília, o lançamento do SGDC na base de Korou, na Guiana
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Roberta Pessoa, era, até agosto do ano passado, uma dessas propriedades inalcançáveis pela rede. Roberta tinha planos de erguer sua empresa, a Cesta do Sítio, que faz entregas domiciliares sob demanda de produtos hortifrutigranjeiros orgânicos em São Paulo, a 200 quilômetros de distância, e precisava se comunicar com seus clientes. O negócio é baseado no contato direto, via WhatsApp, e ela não conseguia encontrar nenhum serviço de internet que atendesse suas necessidades. Era um e-commerce sem site. “Como aqui é um lugar montanhoso, tínhamos dificuldade de sinal”, conta Roberta. “Tentamos várias empresas que oferecem internet via rádio e até por cabo, inclusive pensamos em bancar o investimento em antenas, mas não encontramos fornecedores.” Foi com a banda Ka da Hughes que a Cesta do Sítio saiu do mundo das ideias e passou a funcionar de fato. Em um ano de assinatura, o serviço pago por Roberta nunca falhou, cumprindo sua promessa de disponibilidade, e ela pôde estreitar o contato com seus cerca
de cem clientes. “Produzimos vários produtos orgânicos no sítio, mas integramos vários agricultores locais para compor nossas cestas e, nesse caso, o WhatsApp também é muito útil”, afirma. Cerca de 15 produtores da região de Paraisópolis, inclusive de queijos e doces, vendem seus alimentos por meio da Cesta do Sítio. Situações positivas como as vividas por Roberta tendem a se multiplicar assim que o SGDC entrar em operação comercial, o que deve começar a acontecer até o fim deste ano. A Hughes, apesar de seus planos de expansão, que preveem a cobertura de todo o território nacional com seus próprios recursos, até 2020, não vê conflito de concorrência com o satélite oferecido pelo governo e estuda inclusive participar das licitações junto com um consórcio de operadoras ou mesmo sozinha. Para Rafael Guimarães, o SGDC pode ser um atalho para a empresa antecipar seus planos. “A Telebrás fez algo muito inteligente ao se posicionar como atacadista”, diz. “O importante é termos uma cobertura nacional, de um jeito ou de outro.”
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Plant + Azul apresentam
as cidades do
AGRO ´ NEGOCIO
PORTO ALEGRE É AGRO Negócios, natureza, gastronomia e lazer se misturam na capital do Rio Grande do Sul.
Há muito para se ver e fazer em Porto Alegre, a metrópole do Sul do Brasil. Uma cidade cosmopolita, mas que não perdeu seus laços com a agropecuária gaúcha, rica em costumes, em produção em inovação. Não à toa, um de seus símbolos é a estátua do Laçador, instalada próxima do Aeroporto Salgado Filho, como a dar boas-vindas aos visitantes. Na capital e no seu entorno, indústrias foram desenvolvidas para fornecer insumos para a produção e, em caminho inverso, para beneficiar o que foi produzido. Alguns dos maiores fabricantes de máquinas agrícolas têm sua sede no estado. E o que dizer do polo calçadista do Vale dos Sinos, desenvolvido a partir do couro extraído da pecuária local. As raças europeias de gado produzem uma carne especialmente macia e saborosa, orgulho da região pampeira. A cidade cresceu, mas não perdeu de vista a qualidade de vida. Há muitos caminhos imperdíveis para quem quiser conhecer o melhor da capital gaúcha, como o histórico Mercado Público Central, movimentadíssimo espaço de compras e gastronomia, os 72 km da orla do Lago Guaíba e seu consagrado pôr do sol ou o cardápio de diversidade oferecido pela noite porto-alegrense, capaz de atender variados gostos, do sofisticado ao mais irreverente. A capital está entre as cidades mais arborizadas do País e segunda com a maior área rural preservada. Mas, acima de tudo, Porto Alegre é o ponto de acesso a um estado que vale por muitos, com diferentes atrações e culturas em cada quadrante. Alguns deles, ao alcance de carro. Outros, conectados pela Azul a partir do seu hub meridional. Confira algumas atrações:
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SABOR DE SUL
Do pasto ao prato Especializado em servir cortes de procedência, de animais jovens e de raças britânicas, Vermelho Burgers & Steaks é uma parada obrigatória para quem quer conhecer o melhor da carne sulista. Ao invés do tradicional rodízio, sistema à lá carte com cortes tradicionais e especiais, além do carré de cordeiro e do Kobe Beef, oriundo da raça oriental Wagyu. Nos dias de semana, durante o almoço, o “Vermelho Easy”, refeição executiva, tem um preço especial (entre R$ 30 e 35). Para uma refeição em família (2 adultos, 1 adolescente e 1 criança) gasta-se em média R$ 190 a 260. A carta de vinhos também é ótima. Poucos rótulos, mas selecionados e com preços honestos. E o melhor: o restaurante é wine-friendly (ou seja, pode-se levar o vinho, pagando-se R$ 30 pela rolha). Viva Open Mall – Av. Nilo Peçanha, 3228 Lojas 20 e 21, Chácara das Pedras Aberto de segunda a sexta, 12h-14h30 e 19h-23h. Sábados, 12h-16h e 19h-23h30. Domingos, 12h-16h Telefone: (51) 3333-0253 http://www.vermelhogrill.com.br/
Cerveja + cervejas + cervejas Com ambiente descontraído no melhor estilo irlandês e mais de 70 marcas de chopes e cervejas alemãs, belgas, inglesas, holandesas, a irlandesa, o Mulligan é o ponto de encontro de amigos na Capital Gaúcha. Oferece um delicioso cardápio, como a Boxty, tipo de panqueca de batata com recheios diversos como carne de panela, salmão e iscas de filé, além do famoso filé camembert (R$25,00) um medalhão suculento coberto com queijo derretido e acompanhado de massa penne e molho com cogumelos (R$53,00). Rua Padre Chagas, 25 Aberto de segunda a sexta, das 11h30 às 14h30, e terças a domingos das 18h às 00h Telefone: (51) 3029-3725 www.mulligan.com.br
Galeto ou Passarinhada? Depende de onde se come, na Itália ou na Serra Gaúcha. Na hospitaleira Caxias do Sul, o galeto al primo canto é o prato típico e não faltam opções de endereços para apreciá-lo. O destaque fica para a Casa DiPaolo – hoje uma rede com várias casas na região --, que serve
um galeto irresistível, eleito pelo Guia Quatro Rodas como o melhor do Brasil. O cardápio contempla massas, saladas, polenta e outros acompanhamentos elaborados com ingredientes frescos e selecionados. Os preços variam de R$ 31 a R$ 60 por pessoa. Rua Os Dezoito do Forte, 454 Aberto dariamente, 11h30-15h; jantar, de segunda a sábado, 19h-23h Telefone: (54) 3533-6500 www.casadipaolo.com.br
Mesa farta Gramado e Canela, também na Serra, são os destinos gaúchos mais visitados por turistas de todos os cantos do mundo. As cidades reúnem casinhas em estilo enxaimel, ruas limpas e tomadas por hortênsias, parques emoldurados por araucárias e pinheiros, além de ótima gastronomia. E muita fartura. Nos cafés coloniais, por exemplo, as refeições contêm mais de 80 itens, entre receitas doces e salgadas. Na estrada que liga as duas cidades, o Café Colonial Bela Vista tem um amplo salão com mesas enormes, onde é servido de tudo – pães, tortas, frios, picles, pães doces e salgados, geleias, patês, salgadinhos, docinhos elaborados, regados a jarras de vinho branco e tinto, suco de uva ou chocolate quente para quem assim escolher. Quando se pensa que acabou, surge uma grande vitrine, com um buffet de sobremesas. Tudo a partir de R$ 69,90. Av. das Hortênsias, 3500 e 4665, Gramado Aberto de segunda a sexta, 11h-23h; sábados, domingos e feriados, 10h-23h. http://belavista.tur.br/ Telefone: (54) 3286-1608
ESTRELAS DA HOSPEDAGEM
decoração é feita com peças trazidas do Velho Continente, como os lustres Maria Tereza, que vieram da República Tcheca. Com mordomos 24 horas à disposição dos hóspedes, o estabelecimento conta com apenas 11 suítes – uma extensão acaba de ser anunciada e agregará mais oito. A incrível vista da Serra do Quilombo completa com louros o requinte interior. Os preços das diárias variam entre R$ 1,5 mil e R$ 3,6 mil. A mais cara tem 110 metros quadrados. Rua das Flores, 171, Vale do Bosque, Gramado Telefones: (54) 3295-7700 e (54) 9957-4220 reservas@saintandrews.com.br
Relaxar e beber Rodeado por vinhedos, o Hotel & Spa do Vinho propicia, literalmente, uma imersão nas melhores propriedades da bebida. Seja explorando os mais de 700 rótulos nacionais e internacionais de sua formidável adega – considerada a maior de um hotel brasileiro --, seja em sua área de relaxamento, uma piscina terapêutica aquecida, sauna úmida, trilha de pedra. Tratamentos exclusivos à base de vinho são o destaque do cardápio do Spa. As diárias variam entre R$ 360,00 e R$ 1.200,00. O Hotel & Spa do Vinho está a 15 minutos de carro do centro da cidade de Bento Gonçalves e a 115 km do Aeroporto Internacional Salgado Filho. Rodovia RS 444, KM 21- Vale dos Vinhedos, Bento Gonçalves http://www.spadovinho.com.br Telefone: (54) 2102-7200
TRADIÇÃO E FÉ
Castelo em Gramado
Passeio ao passado
O único hotel seis estrelas do País fica a apenas 2 km do centro de Gramado, a 9 km do centro de Canela e a 111 km de Porto Alegre. O Saint Andrews tem o estilo dos chateaus europeus e sua
Pelotas já foi conhecida como a “Princesa do Sul”. Era a província mais rica dessa região, atraindo a nobreza por causa do desenvolvimento do charque no século XIX. Hoje
é lembrada pelos doces, casarios antigos, charqueadas e universidades, que garantem um fluxo importante de turistas na cidade. Um passeio pela histórica cidade fica mais típico a bordo do Expresso Quindim, com sua cor de gema e design vintage. Trata-se de um veículo de 1961 restaurado, que hoje opera para passeios turísticos por meio de agendamento, visitando pontos como o Museu da Baronesa. Local de partida: Mercado Central de Pelotas. Informações: (53) 99138-1452
Berço religioso Santo Ângelo, no Noroeste do estado, é a antiga Capital das Missões. Destaca-se por sua história riquíssima, a arquitetura e suas belezas naturais. A 432 quilômetros de Porto Alegre, serve como base dos passeios que levam até São Miguel das Missões. A Catedral Angelopolitana foi construída sobre as ruínas da Igreja da Redução de Santo Ângelo Custódio, com estilo barroco missioneiro, um misto de barroco, renascentista e guarani. Na fachada, em pedra grês ou arenito, colunas, arcos e esculturas de Valentim Von Adamovich homenageiam os padroeiros dos Sete Povos das Missões. Catedral Santo Ângelo Praça Pinheiro Machado Rua Marquês do Herval S/N, Santo Ângelo
A AZUL LEVA VOCÊ Porto Alegre é ponto de partida para a exploração do Rio Grande do Sul. De lá, partem voos para destinos exclusivos da Azul, cidades como Santo Ângelo, Uruguaiana, Pelotas, Santa Maria, Passo Fundo, além de Caxias do Sul. Também a partir da cidade é possível viajar pela Azul a Montevidéu e Punta Del Este, no vizinho Uruguai.
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UMA REFEIÇÃO COM KIM JONG-UN Os segredos da “gastronomia” da Coreia do Norte contados por um ocidental que visita o país há 15 anos e provou o melhor – e o pior – que o “Reino Isolado” tem a oferecer P0r Jamie Fullerton, de Pequim (China)
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ocê jamais verá um norte-coreano faltar a uma refeição por vontade própria”, afirma Simon Cockerell. Ele já fez mais de 150 visitas ao “Reino Isolado”, portanto deve saber do que fala. Como gerente-geral da Koryo Tours, especialista em turismo para a Coreia do Norte, Cockerell, que é britânico, tem ido regularmente ao país desde 2002. Como qualquer estrangeiro, as áreas que ele pode visitar são estritamente limitadas. Portanto, o guia e seus turistas devem ser acompanhados sempre por profissionais norte-coreanos. Ainda assim, em suas viagens, mesmo que restritas, ele vem desvendando um lado fascinante da cultura e hábitos alimentares do país. A população da Coreia do Norte foi devastada pela fome de 1994 a 1998. E, embora o regime ditatorial de Kim Jong-un mantenha os olhos dos forasteiros longe da pobreza do país, grupos de direitos humanos reportam regularmen-
te a escassez de alimentos como apenas um dos problemas que as populações mais pobres se deparam no país mais isolado do mundo. Mesmo na capital, Pyongyang, a cidade da elite norte-coreana, memórias da inanição afetam enormemente a cultura alimentar. “Qual quer pessoa com mais de 20 anos ali tem lembranças de passar fome”, afirma Cockerell. “Assim, a comida é muito importante e a cultura é culinária. As pessoas sabem que perder uma refeição é uma extravagância que elas não costumavam fazer, e realmente não o fazem. Há um conceito real de viver a comida.” Cockerell tem percorrido o caminho da alimentação pelo país por 15 anos, adquirindo ensinamentos e postando fotografias no seu perfil na rede Instagram (@simonkoryo). Pedi a ele que falasse sobre as dez coisas mais interessantes que experimentou na Coreia do Norte. Eis seu relato: PLANT PROJECT Nº6
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Noodles frio com trilha sonora Talvez a refeição mais comum em Pyongyang, esse prato tem uma forte tradição cultural. “Trata-se do prato clássico norte-coreano, chamado de naengmyeon na Coreia. Há uma canção clássica sobre isso: [Ele canta] “Naengmyeon, naengmyeon, Pyongyang naengmyeon!”. A música é uma forma de propaganda para mencionar que a comida dá às pessoas um senso de orgulho nacional, e também demonstra segurança na comida. Os noodles frios de Pyongyang são feitos de trigo-sarraceno. Eles são pretos e servidos em um caldo frio e, normalmente, ovo em pó, algumas fatias de carne e molho apimentado. Sua aparência não é boa, mas é saboroso. Noodles compridos significam vida longa ou um casamento duradouro. Em uma cerimônia de casamento, todas as pessoas são servidas com noodles frios, e a possibilidade de recusa seria considerada um gesto bastante grosseiro. ” O kimchi, reconhecido pelas Nações Unidas A maioria dos norte-coreanos é obcecada pelo kimchi à base de repolho, com a versão apimentada do país agora reconhecida em uma lista de patrimônios culturais das Nações Unidas. “Se for possível, os norte-coreanos comem kimchi em todas as refeições. O prato pode ser acondicionado, pois é feito de ingredientes frios – uma maneira tradicional de refrigeração é enterrá-lo no solo. O kimchi norte-coreano 58
normalmente é mais apimentado que o kimchi sul-coreano. Minha empresa recebeu muitos coreanos na China. Ficar sem kimchi durante várias refeições os deixava mal-humorados. Eu conheci alguns coreanos que trabalharam nas Ilhas Maurício. Um deles me disse que lá era um paraíso por ter frutas e carne barata e um clima agradável, mas a pior coisa sobre o local é que o preço do repolho era muito alto e eles gastavam muito com o vegetal. Não comer repolho é uma coisa inconcebível para um norte-coreano.”
Carne de cachorro como uma “iguaria” É um item de alimentação coreana um tanto clichê, porém a carne de cachorro só é consumida em ocasiões especiais no Norte. “Eles não chamam de ‘carne de cachorro’ na Coreia do Norte, mas de ‘carne doce’. Pode ser um eufemismo, mas, de todo modo, não é vergonha comê-la no país. Trata-se de uma iguaria e as pessoas consomem no máximo uma ou duas vezes por ano, se puderem pagar por isso. Existe, logicamente, um grande número de pessoas
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que não têm essa opção e raramente comerão esse tipo de carne. Na maioria das vezes, o que eles oferecem para os turistas é sopa de carne de cachorro. Ela em geral é picante e não tem muita carne. Há poucos restaurantes em Pyongyang especializados em iguarias como costelas de cachorro e bife de cachorro. O sabor não é muito bom, mas, se feito da maneira correta, tudo bem. É bastante almiscarada e pode ser levemente indigesta. Eu achei dura, mas já experimentei carne de cachorro macia. A cultura de cães como animais domésticos não é comum na Coreia do Norte. Há cães de guarda e cães de fazenda, mas você tem que pertencer à classe média para poder ter um animal de estimação.” Hambúrguer da Koryo: “A pior comida de todas”? Algumas vezes descrita com frases como “a pior coisa que eu já comi” pelos usuários de mídias sociais ocidentais, o hambúrguer servido na Air Koryo, companhia aérea nacional norte-coreana, transformou-se em um cult. “A única vez que eu vi alguém passar mal em avião foi em um voo da Air Koryo. Achei que era por ele nunca ter voado antes, e não por ter ingerido um hambúrguer da Koryo. Dito isso, o fato é que o hambúrguer não é muito bom, além de não ficar claro de qual tipo de carne ele é feito. Provavelmente, não é de cachorro. Ninguém voa na Air Koryo pela comida, mas eu possivelmente já comi uns 30 deles até hoje -- mas somente quando estava com muita fome. A maioria dos norte-coreanos nunca
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viajou de avião. Todos que o fizeram voaram pela Air Koryo. A opção vegetariana da companhia aérea é ‘Não coma o hambúrguer’.”
Cerveja comprada com vouchers de racionamento Em 2000, a Coreia do Norte importou uma cervejaria inteira, a Ushers, de Trowbridge, no Reino Unido, para produzir a Taedonggang, hoje a cerveja mais popular no país. “Já aconteceu de uma pessoa ser presa na Coreia do Sul por afirmar publicamente que a cerveja norte-coreana era melhor que a cerveja sul-coreana, o que, definitivamente, é uma verdade. A cerveja sul-coreana é horrível, e isso não é difícil de comprovar. A Taedonggang, nome de um rio que atravessa Pyongyang, agora é a cerveja mais conhecida na Coreia do Norte. Há um racionamento de cerveja no país – os homens recebem vouchers mensais. Não é necessariamente uma política nacional, mas é o que ocorre em Pyongyang. É possível comprar mais. A ‘ração’ significa apenas que você obteve vouchers, em vez de seu consumo ser limitado. Se você quiser beber uma cerveja Taedonggang, pode ir a um bar PLANT PROJECT Nº6
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requintado e comprar uma caneca por dois ou três dólares, ou ir a um local mais simples e adquiri-la em troca de um voucher ou pagar 25 centavos. A maioria dos estabelecimentos que oferecem cerveja tem mesas baixas, em que você normalmente poderia se sentar, mas sem cadeiras. Tal qual no Ocidente, você pode beber e se divertir nos bares. Virar canecas, comprar rodadas, embriagar-se, cantar e, ocasionalmente, derramar seu copo. Piadas até são permitidas, mas nada de humor político. As cervejas Taedonggang são identificadas por números: a Um é feita de cevada, água e lúpulo e é bem gostosa. A Dois é a mais comum, com cevada, água, lúpulo e um pouco de arroz. A Três é uma mistura de 50% de cevada e 50% de arroz. A Quatro tem mais arroz, e a Cinco é feita de arroz. Ela é repulsiva. Uma vez eu estava no maior bar da capital, chamado Kyonghungwan, com uma equipe de TV belga. O grupo queria filmar as pessoas, por isso nós fomos a uma mesa onde a maioria eram mulheres. Duas delas falavam inglês. Elas disseram que eram obstetras e ginecologistas em um hospital. Clássicas profissionais da saúde: elas tinham acabado seu turno de 16-18 horas e ali já estavam ficando mais soltas. Eram as pessoas mais embriagadas, faziam muitos brindes. A maioria desses locais é frequentada por homens. Mulheres até vão a bares, mas jamais sozinhas.” 60
Soju e makolli “rústico” O soju, barato e abundante vinho de arroz, é a bebida mais popular em Pyongyang, enquanto o makolli domina no interior. “É difícil fazer uma refeição à noite na Coreia do Norte sem bebida alcoólica. Se você chegar atrasado a um jantar, normalmente beberá três goles de soju. Essa é uma ‘punição’ comum. Soju é uma bebida de arroz com 18-25% de teor alcoólico e é mais acre na Coreia do Norte que na Coreia do Sul. Não é tão horrível quanto o baijiu [a bebida mais popular da China], mas não há nada comparável no mundo. Makolli é uma bebida feita com o mesmo processo do soju; não é alcoólica e tem uma aparência leitosa. É gostosa, mas na Coreia do Norte é uma bebida pouco sofisticada, feita do que sobrou de alguma coisa melhor. Mas se você for para Seul, poderá experimentar todos os tipos de sabores de makolli em bares hipsters. Para os coreanos, é como uma bebida de caipiras: uma coisa tomada por seus primos do interior, não uma bebida requintada. Você pode beber makolli em Pyongyang, mas as pessoas acham engraçado se você comprá-la. Mesmo lá, é uma coisa ultrapassada. ”
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do e saboreando-as. Se você pedi-las em um bar, eles sempre cortarão o pacote com tesouras e as colocarão no prato para dar uma imagem de algo sofisticado. Para petiscar, as pessoas preferem lulas secas e principalmente peixe. Lula seca com mostarda e molho de soja vai bem com cerveja.” KHC: batata frita de lamber os dedos Se a Kentucky Fried Chicken fizesse batatas fritas em vez de frango, elas se pareceriam com isso. “A KHC, uma barraca próxima de um estande de tiros e de uma pista de boliche, vende batatas fritas. Como ninguém na Coreia do Norte sabe o que é KFC, não é preciso se preocupar com plágio. As batatas fritas têm gosto de... batatas fritas. Mas sem o sal. Por conta da falta de reconhecimento de marcas, não existem muitas franquias de alimentos na Coreia do Norte. Na Rússia, frequentemente vemos os Arcos Dourados de cabeça para baixo, imediatamente reconhecidos por nós. Mas em Pyongyang eles acham que um W grande amarelo não significa nada. Eu vi por lá algumas xícaras da rede Costa Coffee, porém não estava em um café da marca, e sim em um restaurante comum. Elas provavelmente foram obtidas de um varejista. Nenhum norte-coreano foi lá e pensou, ‘Ooh, eles estão servindo Costa Coffee aqui!’.Eles têm produção local de batatas fritas, mas você não vê muitas pessoas caminhan-
Fast-food ocidental (com uma longa espera) Embora as políticas norte-coreanas sejam antiestrangeiros ao extremo, é surpreendentemente fácil encontrar opções de fast-food ocidental em Pyongyang. “Há mais restaurantes italianos do que restaurantes chineses em Pyongyang: três. O primeiro local a servir pizza foi o café Pyolmuri. Então, por volta de 2008, foi aberto um restaurante italiano que foi chamado de... Restaurante Italiano. O chef coreano foi treinado na Itália. O local foi inaugurado com apoio estrangeiro e de fato era muito bom. Há restaurantes de hambúrguer também. Eles não têm força de mercado em Pyongyang – uma vez abriram uma hamburgueria, mas ninguém a frequentou, então acabou sendo fechada. É fácil para as pessoas verem tudo que é feito na Coreia do Norte como algo produzido ‘pela’ Coreia do Norte. Quando alguém lança um restaurante de hambúrguer, sempre foi ‘Kim Jong-un que abriu um restaurante de hambúrguer’. Mas a verdade é que deve ser um empreendimento de comerciantes motivados por lucros. PLANT PROJECT Nº6
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Nessas lanchonetes de fast-food o alimento não fica pronto quando você chega lá. Eles possuem armários atrás dos balcões, mas não há nada neles. Uma longa espera para comer é comum na Coreia do Norte. Felizmente, a maioria das pessoas em Pyongyang tem duas horas de almoço. Você pode encontrar hambúrgueres em toda a Pyongyang hoje em dia. Se tiver dinheiro, poderá abrir qualquer negócio na cidade, embora provavelmente não possa abrir um local chamado Uncle Sam’s All-American Steak House. Isso pode ser um passo muito ousado." Sushi de seus antigos opressores Os norte-coreanos são historicamente mais dispostos a odiar japoneses que americanos, mas em Pyongyang muitos residentes adoram sushi. “Qual país a Coreia do Norte odeia mais que a América? O Japão. Apesar disso, Pyongyang tem dois restaurantes de estilo japonês clássico, com esteiras para sushis. Todas as pessoas que conhecem os estabelecimentos sabem que servem comida japonesa. Eles não negam isso, mas também não vestem os chefs com trajes típicos japoneses ou cumprimentam os clientes no estilo japonês. Os pratos não são chamados de sushi de Sol Nascente de Hirohito ou algo semelhante. O número de pessoas em Pyongyang que pode pagar por 62
eles, hoje em dia, provavelmente é de dezenas de milhares, portanto há mercado para isso. E é delicioso.”
Moluscos com um toque de gasolina A melhor maneira de cozinhar moluscos? Mergulhe-os em gasolina e deixe a chama subir. “Na costa oeste, os norte-coreanos cozinham moluscos em uma chapa de metal. Na costa leste eles mergulham em gasolina e os deixam flambar. Então colocam mais gasolina até ficar pronto. Eles os abrem esmagando-os no chão, como os macacos no início de 2001, Uma Odisseia no Espaço. Eles sempre deixam o motorista [de um grupo de turistas] cozinhar, como se o fato de ele dirigir fizesse dele a única pessoa que soubesse como manusear esse material inflamável extremamente perigoso. Os moluscos cheiram a gasolina e têm gosto do combustível. Às vezes você pega um que está parcialmente fechado, com gasolina dentro. Essa é a regra do jogo.”
APRESENTA:
NOVO SABOR Colheita na Fazenda Terra Alta, na região de Araxá (MG): visão de mercado financeiro no mercado de cafés especiais
Fo FORU M
As histórias dos melhores produtores do Brasil
foto: Paulo Simões
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TOP FAR ME R CA F É
ENGENHEIROS DA CAFEICULTURA O contato de Juliana Armelin e Paulo Siqueira com o café não ia além da xícara, até descobrirem no cultivo do grão uma possibilidade real de negócio. Cercaram-se de especialistas, entraram de cabeça na atividade e passaram de meros consumidores a premiados fornecedores de produtos especiais Por Romualdo Venâncio | Fotos Emiliano Capozoli
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Fazenda Terra Alta, localizada em Ibiá (MG), é uma referência em cafés especiais na região do Cerrado Mineiro. É o que mostram as premiações já conquistadas por Juliana Armelin e Paulo Siqueira, os proprietários, e a opinião de seus clientes no mercado norte-americano. A maior parte dos grãos que produzem vai para os Estados Unidos e muitas das negociações são feitas por meio de empresas que trabalham com o sistema direct trade, também conhecido no setor como “planilha aberta”. Há ainda vendas diretas para algumas torrefadoras, resultado da persistência e da ousadia do casal, que chegou a abrir uma empresa por lá para facilitar a comercialização. “É um negócio interessante, pois o preço que pagam é superior aos do mercado de commodity e não flutua tanto”, diz Paulo. “É praticamente travar uma negociação futura”, acrescenta Juliana. O casal fala com clareza a respeito dos mercados de cafés especiais, nacional e internacional, refletindo a intensidade com que o trabalho foi desenvolvido na Terra Alta, sobretudo por ainda ser algo recente. Os dois se aventuraram pelas lavouras há poucos anos. O plantio começou em janeiro de 2011. Dois anos depois, com a primeira colheita, já veio a conquista de um terceiro lugar na décima edição do Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais – Região do Cerrado Mineiro CD, promovido pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG). Em 2015, chegaram ao primeiro lugar do Prêmio Nacional Ernesto Illy de Qualidade do Café para Espresso, resultado que pode se repetir, pois estão entre os três melhores colocados da edição 2016. O resultado final do concurso será anunciado em outubro, em Nova York, e o vencedor vai direto para a disputa internacional do prêmio.
Juliana e Paulo se surpreendem com esse rápido reconhecimento, pois começaram o empreendimento do zero, tanto em infraestrutura quanto em experiência. Formados em engenharia elétrica pela Escola Politécnica da USP, com MBA pela Universidade de Chicago, eles trabalhavam em setores bem diferentes antes de se tornarem produtores de café. Ela era consultora gerencial na McKinsey. Ele atuava no mercado financeiro, pela Credit Suisse e por fundos independentes. “A gente entrou na atividade por uma série de coincidências”, conta Juliana. Tudo começou por causa do pai dela, que ao se aposentar decidiu comprar uma fazenda no Cerrado Mineiro. “Como era uma região de café, passamos
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Fomos para um negócio que não é tradicional para nós, é arriscado e dá trabalho. Tinha de ser algo do qual tivéssemos orgulho”
a analisar a atividade e acabamos considerando uma mudança de carreira para iniciarmos algo nosso”, conta a cafeicultora. Passados seis anos do início do projeto, há 210 hectares plantados com café arábica, podendo avançar mais 30. A área total soma 380 hectares. As variedades cultivadas são IAC 125 RN, IBC 12, Catuaí 2 Amarelo, Catuaí 2 Vermelho e Obatã Amarelo. “Reservamos um espaço desse terreno para testarmos outras opções, como Caturra, Catiguá e Paraíso”, comenta Paulo. A meta de produti-
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vidade média é de 55 sacas por hectare, algo que não deve ocorrer este ano por conta da forte geada que caiu sobre a região no ano passado. A TÉCNICA COMO NORTE Para Juliana e Paulo, a qualidade de sua produção resulta da própria dedicação de ambos e de diversos outros fatores. A lista deles começa a ser escrita no momento em que decidiram apostar na cafeicultura, com o planejamento. Se por um lado faltava experiência agronômica, por outro havia muito conhecimento sobre gestão de negócios, o que foi importante até para encarar as surpresas. “Houve riscos que não computamos”, lembra Paulo, que continua: “Quando mostramos a planilha ao pessoal mais experiente, ouvimos que faltava ali uns 30% de outros custos”. Juliana acrescenta que a bagagem das carreiras anteriores permitiu que estruturassem com mais facilidade e rapidez as solicitações de 66
financiamento. “Tanto que fizemos sozinhos”, afirma. O background acadêmico, acrescenta Paulo, serviu como estímulo para questionar a maneira como as coisas eram feitas e descobrir se podiam ser aprimoradas. “Foi isso que nos levou a fazer escolhas diferentes do que era comum na região. Também ajudou o fato de não termos uma tradição na atividade, de o negócio não vir de família já com um modelo a ser seguido”, diz ele. Já na questão técnica, foi imprescindível a ajuda de especialistas para cada setor da atividade: plantio, irrigação, mecanização, pós-colheita e qualidade. “Falamos com outros produtores e diversos profissionais da cadeia para saber como fazer o negócio da melhor maneira possível”, conta Juliana. A preparação da terra, por exemplo, foi um grande desafio, pois a maior parte era pasto e uma pequena área tinha batata. Iniciaram o plantio do café em 50 hectares e arrendaram o
restante da área destinada à lavoura para um vizinho cultivar soja e feijão. Com o tempo, foram conseguindo o nivelamento do solo que precisavam para avançar em produtividade. Outro fator crucial nesse início foi a produção de mudas. “Compramos as sementes e montamos nosso viveiro. Isso faz muita diferença, pois assegura qualidade e sanidade”, comenta a produtora. Entre as escolhas que mais chamaram a atenção na fazenda estão os terreiros suspensos. Desde o início, a secagem de todo o café da Terra Alta é feita nesse sistema. “Nos incomodava a ideia de produzir os grãos com tanto cuidado e depois vê-los espalhados pelo chão, sendo pisoteados”, justifica Paulo. A relação custo-benefício também pesou na decisão. “O custo inicial do terreiro suspenso é 25% do que custa um terreiro de concreto. Fizemos as contas e decidimos apostar, ainda que fosse necessário aumentar a equipe para dar conta
do trabalho”, diz Juliana. A opção foi favorecida pela organização na gestão da propriedade. O plantio e a colheita escalonados permitiram um melhor controle do fluxo e do manejo da produção. Muita gente visita a fazenda principalmente para ver os tais terreiros. Os resultados passam também pelo sistema de irrigação por gotejamento, que além de água leva nutrientes para as plantas, e pelos cuidados com a sanidade do cafezal, sobretudo no combate à broca. A colheita mecanizada é acompanhada de perto pelo casal, que para ter a melhor regulagem dos equipamentos buscou a ajuda de Fábio Moreira da Silva, professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla) especializado em máquinas agrícolas. Paulo comenta que a fazenda é um grande laboratório, pois com tantos fatores que influenciam os resultados é preciso fazer diversas experiências. “Quando você olha um
centro de pesquisas em finanças, há dados para analisar o que quiser, projetar cenários. Ou seja, virtualmente é possível testar tudo e avaliar a variável específica que você quer entender. No café, a gente pega partes de pesquisas, informações de lugares diferentes e variáveis diversas”, comenta. QUALIDADE PRESERVADA As conquistas de Juliana e Paulo no setor de cafés especiais têm relação direta com a capacidade de preservarem a qualidade dos grãos produzidos até a torrefação. Nessa etapa do negócio, o casal contou com a assessoria de Flávio Borém, também professor da Ufla e especialista em qualidade do café, que os ajudou a diferenciar os lotes que poderiam apresentar melhores resultados e a entender essa classificação. Outra contribuição importante veio das equipes técnicas responsáveis pela implantação de toda a estrutura de pós-colheita, secagem e embalagem dos grãos.
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Fizemos escolhas diferentes do que era comum na região. Ajudou o fato de o negócio não vir de família já com um modelo a ser seguido”
A rastreabilidade de todos os lotes ajuda a distinguir a influência de cada fator no processo produtivo, condição fundamental tanto para corrigir o que está fora do padrão quanto para otimizar o que vai bem. “Se o resultado não sai como esperado, a gente consegue fazer o caminho de volta, pois sabemos, por exemplo, quando aquele café foi colhido e a qual talhão pertencia, temos anotações de como foi no terreiro – se cheirou melhor ou estava mais doce, e vários outros dados”, diz Paulo. Segundo ele, esse controle é um instrumento de venda. PLANT PROJECT Nº6
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JULIANA ARMELIN E PAULO SIQUEIRA
47 anos e 44 anos Ela é nascida em São Paulo (SP) e ele, em Belo Horizonte (MG), são casados e têm dois filhos. Moram na Granja Viana, na capital paulista, mas passam bastante tempo na fazenda, principalmente no período de colheita. Cargo: proprietários Faturamento: não revelado Participação nos negócios: Área total: 380 hectares Área de plantio: 210 hectares Produção média (meta): 55 sacas por hectare Capacidade total: Hobbies: viagens em que praticam esportes de aventura (escalada, caminhada e mergulho) e experimentam comidas exóticas e cervejas diferentes. Juliana gosta de fotografia e cinema e Paulo, mergulho e jiu-jítsu.
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Nada disso seria possível sem a sintonia dos profissionais que trabalham em cada setor da fazenda com os objetivos dos proprietários. Quanto mais entendiam o que as premiações e a valorização comercial representam para o negócio como um todo, maior se tornava o comprometimento. “A preocupação começa com a gente, mas precisamos transmitir à equipe”, comenta Juliana. “As premiações ajudaram bastante, pois a gente percebe uma sensação de orgulho dos colaboradores por fazerem parte”, acrescenta Paulo. A soma desses fatores cria uma plataforma para conquista de novos clientes, sobretudo os que pagam melhor. A Terra Alta tem dois clientes na Flórida e um com operações na Califórnia e no Kansas. Paulo conta que exportar cafés especiais para os EUA é trabalhoso e tem alto custo, mas ainda assim tem sido mais vantajoso do que vender aqui no Brasil. Ele explica que uma torrefadora pequena de lá chega a comprar até dez sacas por mês, enquanto uma empresa brasileira com a mesma dimensão compraria essa quantidade em um ano. “Além disso, há mais dificuldades por conta da logística e de questões tributárias, o que acaba encarecendo também para o consumidor final.” A seleção e a preparação dos lotes com maior potencial de exportação têm a assessoria de empresas especializadas. A qualidade do café é o fator primordial nas negociações com os compradores estrangeiros, mas a venda fica ainda mais interessante se o produto chegar às
mãos deles bem apresentado. Um trabalho de desenvolvimento de marca e embalagem foi realizado em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o Centro Brasil de Design (CBD) e a agência Casa Rex. EVOLUÇÃO POR INTEIRO A origem no meio urbano exigiu de Juliana e Paulo um grande esforço para entender como é a vida no campo e as particularidades da produção agrícola. Por outro lado, já começaram o negócio com a importante visão sobre os costumes e as preferências do consumidor dos grandes centros, algo que grande parte dos agricultores não tem. Tal consciência ajudou até mesmo na definição do conceito do empreendimento. “Como saímos de carreiras executivas para fazer um negócio que não é tradicional para nós, é arriscado e dá tanto trabalho, tinha de ser algo do qual tivéssemos orgulho”, diz Juliana. “Além de assegurar a qualidade do café, precisamos produzir de forma correta.” Devido a essa preocupação com a imagem que passam ao mercado, há uma busca permanente por melhorias no processo produtivo, a exemplo da etapa de fermentação do café. O objetivo é fazê-la sem água, diferente do que ocorre normalmente. A opção, no entanto, é mais trabalhosa e exige um controle mais rigoroso para alcançar a uniformidade. Enquanto não chegam à equação correta para a fermentação a seco, procu-
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ram alternativas de reutilização dos recursos hídricos. “A intenção é conseguirmos uma forma eficiente de chegar com essa água até a irrigação, pois tem também muito material orgânico que faria bem aos cafezais”, explica Juliana. O amadurecimento como produtores trouxe outras mudanças significativas. Uma delas é a forma como Juliana e Paulo passaram a tomar café. Hoje é praticamente um ritual. “Agora leva muito mais tempo, há bem mais procedimentos”, afirma Paulo, o responsável pelo preparo da bebida na família. “Ainda estamos longe do paladar aguçado, a ponto de conseguir identificar todas as fragrâncias, as nuances do café, mas ficamos bem mais exigentes.” Naturalmente, o casal ampliou o campo de visão para novas possibilidades. Sempre que viajam a outros países trazem café dessas localidades para saber o que se bebe mundo afora, inclusive opções exóticas. MUDANÇA DE VIDA A Fazenda Terra Alta ainda é um investimento para Juliana e Paulo, pois mesmo gerando renda está distante de cobrir os recursos já aplicados. É até compreensível, levando-se em conta que formaram os cafezais e toda a infraestrutura do zero. Mas eles estão certos – e afirmam sem pestanejar – de que sua produção de café é um bom negócio, ou bem mais que isso. “Mesmo que demore um pouco mais ou um pouco menos para chegarmos aonde queríamos, temos a vantagem de estarmos
trabalhando juntos, conseguimos passar mais tempo em companhia um do outro”, conta Paulo, que continua: “A gente lida com pes soas de que gosta, e isso faz o negócio ainda mais prazeroso”. Diferentemente da carreira profissional que tinham antes, hoje os dois têm muito mais autonomia para tomar decisões, para definir os rumos a seguir. “Como é um negócio menor, familiar, a gente imprime o ritmo e consegue fazer as coisas que acha importante. Nos dedicamos bastante a realizar, implementar, enquanto nos outros empregos passávamos muito tempo convencendo outras pessoas de que as ideias valiam a pena”, avalia Juliana. A leveza para falar sobre esse equilíbrio entre a vida profissional e a familiar é uma característica marcante do casal. A seriedade com que administram a fazenda não impede que comentem seu negócio sempre de forma bem-humorada, ainda que seja sobre alguma situação complicada. “Deve ser o café”, brinca a produtora.
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Hoje nos dedicamos a realizar. Antes, passávamos muito tempo convencendo outras pessoas de que as ideias valiam a pena”
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TOP FA RME R PEC UÁ R I A D E CO R T E
TOUROS LAPIDADOS COMO JOIAS Geraldo Martins, presidente da Agro-Pecuária CFM, garante que cada reprodutor Nelore vendido pela empresa traz resultados não só para quem compra o animal, mas também para toda a cadeia produtiva da carne Por Romualdo Venâncio | Fotos Ferdinando Ramos
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APRESENTA:
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eraldo Toledo Martins, presidente da Agro-Pecuária CFM, recebeu a reportagem do projeto TOP FARMERS no Recinto Anísio Haddad, em São José do Rio Preto (SP), poucas horas antes dos primeiros lances do Megaleilão CFM, um dos momentos mais importantes no calendário pecuário da empresa. Já em sua 19ª edição, o evento é a consolidação de um longo trabalho de melhoramento com o gado Nelore. “É a apresentação ao mercado de nosso produto final, que levou tanto tempo para ser preparado”, descreveu o executivo, ansioso pelo início das negociações. A expectativa era mais do que justificável. Estavam à venda no remate cerca de 25% dos 2 mil reprodutores que a CFM oferta anualmente. Após sete horas de leilão, 453 animais haviam sido arrematados pelo preço médio de R$ 10,1 mil, com faturamento total de R$ 4,57 milhões. A cotação mais alta do dia chegou a R$ 39,2 mil, um lance da Fazenda 7 Voltas (Ribas do Rio Pardo, MS) por 49% da posse de CFM Duque, o melhor touro da safra 2015 da empresa. Prestes a completar 2 anos de idade, o animal já saiu do evento contratado pela central CRI Genética. A valorização desses reprodutores resulta, principalmente, de algumas características fundamentais do programa de seleção genética do rebanho CFM, que vem sendo realizado e aprimorado há quase 40 anos. Uma delas é a confiabilidade, pois o processo envolve mais de 30 mil cabeças, das quais 12 mil são matrizes, e reúne mais de 467 mil informações de animais desmamados. “No máximo 30% dos machos que nascem em nossas fazendas se tornam touros”, diz Martins, destacando a pressão de seleção. Outro diferencial está na criação e na prepa-
ração desses animais em condições de cerrado, para que estejam aptos a trabalhar a campo, cobrindo vacas em sistemas de produção de carne bovina a pasto. “É o que levou a CFM a ser a maior vendedora de touros do Brasil”, afirma José Bento Sterman Ferraz, professor de genética e melhoramento animal da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (Pirassununga, SP), responsável pelo programa genético da empresa. “A CFM já produziu 40 mil touros e certamente há no Brasil mais de 2 milhões de vacas com sua genética.”
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Nosso programa agrega qualidade ao produto, tanto para o pecuarista como para toda a cadeia”
A avaliação é baseada em características diretamente relacionadas a ganhos econômicos, ou seja, que garantam retorno financeiro aos clientes. Os critérios de seleção priorizam a produção de carne: peso à desmama, peso aos 18 meses, perímetro escrotal – que entra como característica reprodutiva – e musculosidade. Ferraz e o também professor da USP Joanir Eller entraram em 1994 nesse projeto da CFM, que é na verdade uma parceria público-privada. A universidade tinha o conhecimento sobre melhoramento genético, mas necessitava de um grande aparato em termos de hardware e software para realizar as análises e as interpretações dos resultados, o que foi providenciado pela empresa. “O trabalho com a CFM nos projetou no mercado”, reconhece Ferraz.
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ORIGEM DA SELEÇÃO A Agro-Pecuária CFM pertence ao grupo inglês Vestey, que iniciou suas atividades no Brasil em 1908, na indústria frigorífica. Originalmente, é uma empresa de produção de carne bovina. “A companhia surgiu a partir do Frigorífico Anglo, que tinha várias plantas no País”, conta Martins. Nas fazendas do grupo, os animais eram trabalhados desde a cria até a terminação. Depois seguiam para o abate nas unidades industriais, de onde a carne processada era exportada. A evolução na pecuária era limitada pela escassez no mercado de reprodutores que aumentassem o desempenho dos rebanhos, os chamados touros melhoradores.
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De maneira geral, a seleção desses animais ainda era muito subjetiva, feita com base na avaliação visual dos machos destinados ao abate. “Esse critério não atendia nossas necessidades. Então, na década de 1980, a empresa iniciou um programa de seleção de touros para atender sua própria demanda, buscando aumentar e acelerar o ganho de peso do gado”, diz o presidente da CFM. Com esses atributos, seria possível terminar mais rapidamente os animais e oferecer um produto final melhor ao frigorífico e ao consumidor. Os desafios estavam apenas começando. Todo o trabalho de avaliação e seleção do rebanho foi estruturado com base nas medidas
Se o profissional, seja em que nível for, sentir que não está agregando algo, ele não consegue estar feliz”
reais do gado, mas as equipes que trabalhavam nas fazendas não estavam acostumadas com tais procedimentos. “Foi preciso um grande esforço para convencer os campeiros de que, a partir daquele momento, passariam a medir os animais, e não apenas observá-los”, lembra Martins. Alguns pontos, como conformação, precocidade e musculatura, ainda eram avaliados visualmente. Um passo fundamental nesse processo foi o controle mais rigoroso do rebanho. “Todos os animais foram identificados com um número e cadastrados em um banco de dados.” Com mais organização e mais informação, o cenário mudou. Sabia-se quem era a mãe do animal, em que data ele nasceu e quando desmamou, que peso tinha nessas duas etapas e ao completar 18 meses. Com os primeiros resultados, sobretudo no período da desmama, veio uma nova etapa de superação.
Havia dúvidas entre os peões quando os dados da avaliação não correspondiam à aparência dos bezerros. “Eles chegavam a argumentar que determinado animal era muito mais bonito do que aquele outro mais bem classificado”, observa Martins, que continua: “A diferença é que o mais bonito era filho de uma vaca mais velha, que produzia mais leite, enquanto o outro era mais novo e filho de uma novilha”. Em outras palavras, foi preciso esclarecer a diferença entre a influência da carga genética e a do ambiente, para que a comparação ocorresse apenas entre animais criados sob as mesmas condições. EVOLUÇÃO EM CADEIA A apuração dos dados também ajudou a identificar as melhores matrizes da CFM, com base no que elas produziam. Todo ano, as fêmeas que se destacavam eram levadas para a Fazenda São Francisco, em Magda (SP), onde se formou um grupo de elite. “Come-
çamos a levar nosso pessoal para lá na fase da desmama, para verem o que estavam produzindo. Foi assim que passaram a entender o sucesso do programa”, comenta Martins. No final dos anos 1980, a empresa buscou o apoio de consultores da Nova Zelândia, que contribuíram para aprimorar a seleção, identificando os melhores acasalamentos que aperfeiçoassem a produção de carne. Já na década de 1990, essa consultoria passou a ser feita por profissionais brasileiros até que tivesse início a parceria com a USP. “Ao vermos que o programa dava certo, decidimos compartilhar o material genético com o mercado”, diz o presidente da CFM. A empresa passou de consumidora a fornecedora de touros. “Se era importante para nós, também poderia ser para muita gente.” O programa de seleção foi ampliado para melhor atender os clientes, um grupo restrito a princípio. Segundo Martins, eram
pecuaristas com uma visão mais ampla e avançada, que enxergavam um pouco além e certamente aproveitariam ao máximo a qualidade daqueles reprodutores. Alguns se tornaram compradores assíduos e todo ano estavam ali para novas aquisições, o que aumentou a importância da pecuária nos negócios da empresa e levou à venda em leilões. “Com o aumento da demanda, houve quem lamentasse o fato de não ter sido o primeiro na escolha de determinados animais”, relata Martins. “Já nos leilões, são os pecuaristas que decidem quem vai levar o touro e por quanto.” A evolução do processo de melhoramento genético e a organização do crescente banco de dados elevaram o programa de seleção do Nelore CFM a outro patamar. O projeto foi o primeiro da raça zebuína aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para emissão do Certificado EsPLANT PROJECT Nº6
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Há no Brasil mais de 2 milhões de vacas com a genética da CFM”
pecial de Identificação e Produção (Ceip). “É o reconhecimento de que nosso programa agrega qualidade ao produto, tanto para o pecuarista como para toda a cadeia, aprimorando o rebanho brasileiro”, analisa Martins. Os animais dos programas aprovados para emissão do Ceip não necessitam ter registro de raça, pois o mercado os reconhece pela qualidade. No entanto, Martins afirma que as duas coisas podem – e devem – se complementar, apesar da diferença na filosofia de trabalho. No caso do Ceip, não há grande preocupação com as características raciais, pois a prioridade está nos
índices relacionados à produtividade, que agreguem resultado financeiro. “Mas há produtores de touros que trabalham com avaliação genética, têm Ceip e registro. Esse é o ponto ótimo da coisa”, afirma o executivo. O Ceip também fortalece os negócios da CFM com a venda de sêmen. Entre a produção para uso próprio ou para comercialização, já foram coletados mais de 1,5 milhão de doses de sêmen de seus reprodutores. Nessa área, o grande destaque da empresa foi CFM Backup, que morreu no ano passado com 15 anos. O touro pertencia a um condomínio formado pela central CRV Lagoa com os
criadores Ricardo de Castro Merola, João Roberto Françolin e Pedro Novis e a Iporanga Agropecuária. CFM Backup foi recordista de produção com quase 1 milhão de doses e mais de 450 mil produtos nascidos. TRAJETÓRIA FIRME O rebanho da CFM está concentrado principalmente em Ma to Grosso do Sul, nas cidades de Aquidauana e Dois Irmãos do Buriti, ambas a pouco mais de 100 quilômetros da capital, Campo Grande. Além da Fazenda São Francisco, em São Paulo, há mais uma propriedade no oeste da Bahia, ainda em desenvolvimen-
foto aérea: Tiago Alves
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to. A pecuária representa 10% dos negócios da empresa, que tem o cultivo de cana-de-açúcar, iniciado em 1970, como principal área de atuação. A partir de 2011, a CFM passou a investir também no plantio de eucalipto – já são 10 mil hectares em MS. O faturamento total da empresa é de R$ 300 milhões por ano. A aposta em inovação foi determinante para o crescimento da companhia. “Nossa produção de cana, por exemplo, tem embarcada toda tecnologia disponível no mercado”, destaca Martins, cuja trajetória na empresa também segue dessa forma. “Se o profissional, seja em que nível for, sentir que não está agregando algo, ele não consegue estar feliz”, acrescenta. O executivo, que está há 26 anos na CFM, diz já ter recebido propostas de outros grupos, mas em vez de mudar de empresa escolheu mudar a empresa em que estava. É assim que tem sido desde a sua contratação. Martins entrou na CFM em 1991, pouco tempo depois de se formar engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Lavras (Ufla). Sua missão era mudar o quadro de
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baixa rentabilidade da produção de laranjas, pois tinha bastante conhecimento no ramo. Filho de sitiantes, conviveu com a atividade durante a infância e a adolescência e se aprofundou no tema no período da faculdade. “Em menos de um ano, acabei com a citricultura da empresa”, conta Martins, que logo emenda a justificativa: “Os pomares eram muito velhos, com baixa produtividade. Uma renovação exigiria grandes investimentos e os resultados demorariam a aparecer. A melhor saída era substituir tudo por cana”. A quem questionasse o fato de recomendar o fim do setor que lhe gerou o emprego, tinha a resposta na ponta da língua: “Antes de qualquer coisa, fui contratado para dar lucro”. A sugestão de Martins foi aceita e os pomares deram lugar a canaviais. Essa visão em relação aos negócios da empresa e a opinião firme, sempre bem argumentada, foram essenciais para que Martins chegasse à presidência da CFM. Mais que isso, é o primeiro brasileiro no cargo, até então ocupado exclusivamente por executivos britânicos.
Antes de qualquer coisa, fui contratado para dar lucro”
GERALDO TOLEDO MARTINS
49 anos, casado, dois filhos Natural de Barretos (SP), é engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Lavras-MG (Ufla) e está há 26 anos na empresa Cargo: presidente Negócios: cana-de-açúcar, eucalipto e pecuária Faturamento: R$ 300 milhões por ano – pecuária representa 10% Rebanho: 30 mil animais Nelore Produção: 2 mil touros por ano Hobbies e outras atividades: todo tipo de trabalho manual, como eletricidade, mecânica e marcenaria. Possui uma
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R EI M AG I N AN DO A AG R IC U LT U RA B RAS IL E I RA
CULTIVANDO PARCERIAS DE SUCESSO Através de programas como o Ciclo 100, Ourofino Agrociência estreita relações com produtores e colabora para o aumento da produtividade nas lavouras
Lavoura de cana na região de Ribeirão Preto (SP): soluções completas para aumentar o potencial dos canaviais
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raticar uma agricultura tropical com alta produtividade, adequada às condições de cada região, exige conhecimento. Mais que isso, demanda fazer esse conhecimento chegar ao produtor, permitindo que ele tome as decisões corretas no tempo certo. Com um portfólio completo robusto, além de serviços especializados para o cultivo de cana-de-açúcar, a Ourofino Agrociência tem apostado nessa fórmula para estreitar relações com seus clientes e, desta forma, contribuir para que seus parceiros obtenham, no cam-
po, colheitas mais fartas e rentáveis. Um exemplo desse compromisso é o Ciclo 100, um programa de soluções integradas para o cultivo da cana-de-açúcar que orienta o agricultor no sentido de fazer o manejo correto de plantas daninhas, pragas e doenças durante todo o ciclo da cultura, levando, assim, o canavial a expressar todo o seu potencial produtivo. Iniciado em 2016, o programa conta atualmente com uma equipe de 20 profissionais de campo, uma estrutura de pesquisa e desenvolvimento com mais
12 pessoas, além de diversos consultores nas áreas de herbicidas, inseticidas, entomologia, fitopatologia e parcerias com institutos de pesquisa, com foco na área de tecnologia de aplicação. “É um programa bastante robusto”, afirma Roberto Toledo, gerente de produtos herbicidas e cana-de-açúcar da Ourofino. “A ideia é utilizar o nosso conhecimento e o amplo portfólio de produtos da empresa para ajudar o produtor em todas as fases do cultivo, desde o plantio da cana até a última colheita”. PLANT PROJECT Nº6
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Encontro com produtores na fazenda experimental da Ourofino: presença constante junto aos clientes
Produzido para a Ourofino Agrociência pelo Studio Plant Conteúdos Especiais
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O Ciclo 100 foi estruturado com base nos três pilares estratégicos da Ourofino Agrociência: ‘Inovando para a Agricultura Brasileira’, que se dá através do desenvolvimento de novos produtos e soluções, sempre pensando nas condições tropicais de cultivo; ‘Presença Constante’, com diversas ações de capacitação técnica junto aos produtores; e ‘Crescendo com a Agricultura Brasileira’, ao incentivar e promover a interação entre o agricultor, o consultor e a indústria. O objetivo da empresa com esse conjunto de ações é criar um relacionamento de longo prazo com os seus clientes, sempre baseado na ciência e com foco nos resultados. Desde a criação do Ciclo 100, a Ourofino Agrociência tem trabalhado junto a grandes e médios agricultores, diversas usinas e as principais cooperativas agrícolas do País. Matheus Carneiro é um dos muitos produtores atendidos pelo programa. Dono de uma propriedade de 3 mil hectares, é atualmente um dos maiores fornecedores de cana para usinas na região de Ribeirão Preto. “As soluções da Ourofino atendem todas as necessidades da lavoura, com qualidade e preço justo. Isso facilita muito a vida do produtor”, conta Carneiro, que se diz muito satisfeito com os produtos, especialmente por
serem vendidos já prontos para o uso, o que facilita o manuseio e evita o uso excessivo de defensivos. “Temos uma equipe qualificada em campo, trabalhando em conjunto para resolver os problemas específicos de cada um dos nossos parceiros. Como o portfólio de produtos é amplo, a gente consegue montar recomendações personalizadas de acordo com a necessidade do produtor. Este é um diferencial da Ourofino”, afirma Toledo. “Por isso, mais do que ter um bom portfólio de produtos, é preciso ter gente na ponta identificando onde estão os problemas e fazendo as recomendações necessárias”. Para Miguel Favotto Padilha, diretor Comercial Executivo da Ourofino, por contar com uma equipe robusta e capacitada, que realmente dá assistência aos produtores, usinas, cooperativas, re ven das e associações de produtores, a empresa tem conseguido manter uma presença marcante no setor canavieiro. “Ao adquirir um produto da companhia, o produtor leva os benefícios em contar com uma solução produzida em uma das mais modernas fábricas de defensivos agrícolas do mundo, reconhecimento vindo de clientes e até de concorrentes. Isso nos dá uma vantagem competitiva muito grande”, afirma Padilha.
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Ideias e debates com credibilidade
foto: quietbits / Shutterstock.com
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A questão da deficiência na agricultura é claramente significativa, afetando quase 200 milhões de pessoas”
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AgrAbility: cultivando uma agricultura acessível PAUL JONES
Diretor do National AgrAbility Project
Estima-se que, aproximadamente, 40% da população mundial – cerca de 1,3 bilhão de pessoas – esteja envolvida em trabalhos relacionados à agricultura, fazendo dessa área a maior fonte de emprego do mundo. Ao mesmo tempo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que cerca de 15% da população mundial tem algum tipo de deficiência, com 2% a 4% tendo dificuldades funcionais significativas. Com base nessas estatísticas, a questão da deficiência na agricultura é claramente expressiva, afetando potencialmente quase 200 milhões de trabalhadores. Entretanto, recursos de auxílio a trabalhadores agrícolas portadores de deficiências são limitados, especialmente em países em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, um programa chamado AgrAbility foca na assistência a esses trabalhadores. Enquanto o ponto central do programa está na ajuda aos norte-americanos, membros da equipe no Projeto Nacional AgrAbility realizaram incursões significativas na partilha de recursos e estratégias com a comunidade internacional. FONTES DE DEFICIÊNCIA NA AGRICULTURA Ambientes agrícolas são inerentemente perigosos, com potencial expressivo para causar lesões incapacitantes ou fatais. Em fazendas mecanizadas, há potencial de amputação e outras lesões resultantes de esmagamentos, prisões ou enredamentos no maquinário. A pecuária também impõe perigos aos trabalhadores, através de incidentes relacionados a pisoteio, coice ou prisão. Além disso, muitos sofrem lesões fora da fazenda, decorrentes de acidentes com veículos ou outros meios, e mais milhares possuem doenças incapacitantes, como esclerose múltipla, doença cardíaca ou artrite. Com a idade média dos agricultores norte-americanos em torno de 57 anos, problemas como deficiências auditivas e visuais são significativos. Enquanto estatísticas detalhadas sobre deficiência na agricultura mundial não são disponibilizadas, especula-se que tendências semelhantes existem em outros países, embora as fontes específicas de deficiência provavelmente variem com base na natureza da agricultura e do ambiente sociopolítico em cada região. Áreas afetadas por guerras civis, por exemplo, podem ter maiores porcentagens de amputados em virtude de minas terrestres plantadas em terrenos agrícolas. 80
É importante observar que deficiência e agricultura comportam conceitos amplos. Nem todas as deficiências são “severas” ou mesmo visíveis. Enquanto o AgrAbility aborda problemas relacionados a deficiências como lesões na coluna vertebral e amputações, algumas das deficiências mais prevalentes – ou “limitações funcionais” – vistas nos clientes do programa têm como exemplo a artrite ou problemas nas costas. Da mesma forma, há uma variedade ampla de empreendimentos que se enquadram na definição de agricultura. Além das operações agrícolas tradicionais, como plantio em linha, laticínios e produção pecuária, os membros da equipe do AgrAbility estão abordando, cada vez mais, problemas relacionados a áreas como produção de vegetais em pequena escala, produção para mercados agrícolas, hidroponia, aquaponia, agricultura urbana e apicultura. HISTÓRIA E ESTRUTURA DO AGRABILITY Para ajudar a facilitar o maior acesso à agricultura para portadores de deficiências, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) implantou o Programa AgrAbility através do Farm Bill (projeto de lei que regula a política agrícola do país) de 1990, com projetos financiados com início real em 1991. O programa foi moldado em programas preexistentes em estados como Indiana, Vermont e IowaA missão do AgrAbility é melhorar a qualidade de vida para trabalhadores agrícolas através de três principais áreas prioritárias: • Educar clientes e profissionais sobre questões de deficiência na agricultura através de treinamentos pessoais, publicações impressas e mídias eletrônicas. • Conectar-se com pessoas e organizações com ideias semelhantes para alavancar recursos humanos e financeiros para o benefício dos clientes do AgrAbility. • Prestar serviços diretos, como avaliações presenciais em fazendas ou consultas individualizadas por telefone ou internet. SERVIÇOS E RECURSOS DO AGRABILITY Uma vez que o contato é feito com um trabalhador que necessite dos serviços, um membro da equipe do AgrAbility visita a fazenda ou rancho para avaliar as barreiras para conclusão das tarefas. Algumas das necessidades comumente identificadas são: • Veículos utilitários para atravessar terrenos acidentados para trabalhadores com artrite, amputação ou problemas de força/resistência. • Elevadores mecânicos para levantar operadores de maquinário com lesões na coluna vertebral ou outras deficiências de mobilidade até as cabines de seus equipamentos. • Modificações às instalações da casa ou fazenda a fim de acomodar deficiências de mobilidade. Os projetos AgrAbility não têm permissão de prover aos clientes financiamento direto ou equipamentos através de fundos do AgrAbility. No entanto, membros da equipe frequentemente trabalham com fontes de financiamento estaduais e federais para ajudar clientes a obter os equipamentos e as modificações necessários. Uma vez que a tecnologia de assistência
é claramente uma porta para permitir que trabalhadores agrícolas continuem em suas vocações, o Projeto Nacional AgrAbility desenvolveu o The Toolbox: Ferramentas, Equipamentos e Construções Agrícolas para Agricultores Portadores de Deficiências Físicas (disponível em www.agrability.org/toolbox). Esse banco de dados contém aproximadamente 1,3 mil produtos que podem ser utilizados pelos trabalhadores agrícolas portadores de deficiência envolvidos em muitos tipos de operação. Além disso, o site www.agrability.org contém outras publicações para tornar os locais de trabalhos agrícolas mais inclusivos, como relatórios técnicos sobre como tornar alojamentos de fazenda acessíveis ou trabalhar com deficiências específicas, como amputações, lesões na coluna vertebral ou deficiências visuais. Atualmente, os esforços estão em andamento para expandir recursos para trabalhadores em países em desenvolvimento. ESTATÍSTICAS E HISTÓRIAS DE SUCESSO Anualmente, os membros da equipe do AgrAbility prestam serviços diretos e presenciais a aproximadamente 1,3 mil trabalhadores agrícolas. Além disso, outros milhares recebem assistências menos intensivas, como consultas por telefone, recomendações para outras organizações e comparecimento em workshops. Um estudo de 2006 publicado no Journal of Agricultural Safety and Health indicou que 88% dos clientes do AgrAbility continuaram a se envolver com agricultura após o início de sua deficiência. Recentemente, o Projeto Nacional AgrAbility disponibilizou as descobertas de um estudo de dez anos para comparar o impacto do programa em clientes com um grupo de comparação sem tratamento. Utilizando a pesquisa de Qualidade de Vida McGill (QOL) e um instrumento de Vida e Trabalho Independentes (ILW) recentemente desenvolvido, dados são coletados dos clientes AgrAbility e de agricultores portadores de deficiências que não receberam serviços. Os resultados: em média, os 196 participantes do grupo de clientes do AgrAbility reportaram: (1) maiores níveis do QOL em 28%, enquanto o nível de QOL dos 97 no grupo de comparação sem tratamento caiu 4%; e (2) maiores níveis de ILW em 30%, enquanto o grupo de comparação sem tra-
Os desafios da agricultura na Índia HEMENDRA MATHUR sócio do Bharat Innovation Fund
tamento aumentou em 8%.Alguns exemplos de sucesso de clientes incluem: • Um agricultor de Minnesota prendeu seu pé esquerdo em uma broca de grãos, resultando em uma amputação abaixo do joelho. O AgrAbility trabalhou com a agência estadual de reabilitação vocacional para conseguir um veículo utilitário e outras modificações para o agricultor, além de estabelecerem uma conexão entre o cliente e uma rede de suporte de outros agricultores portadores de deficiências para prestar assistência emocional e orientações práticas. • Um agricultor de Oklahoma sofria de osteoartrite severa nos quadris pelos anos de trabalho com gado montado em um cavalo e pelo cumprimento de outras tarefas desafiadoras. O AgrAbility trabalhou com a agência estadual de reabilitação vocacional para ajudá-lo a conseguir próteses de quadril e tecnologia de assistência necessária. • Uma trabalhadora fabril de Indiana desenvolveu artrite e lúpus e não conseguia continuar em seu trabalho. Trabalhou com o AgrAbility e a agência estadual de reabilitação vocacional para começar uma empresa de estufas. Por vezes, trabalhadores agrícolas precisam se ajustar ao tipo de empreendimento que operam devido à aquisição de uma deficiência. Por exemplo, um agricultor de Indiana mudou da suinocultura para o cultivo de morangos, como resultado de uma lesão na coluna. IMPACTO INTERNACIONAL Membros da equipe foram convidados a viajar para países como Canadá, Coreia do Sul, Tailândia, Itália, Inglaterra, Ucrânia, Suécia, China, Áustria e Austrália para compartilhar informações sobre como tornar os locais de trabalho agrícola mais acessíveis. Além disso, profissionais de países como Brasil, Canadá e Suécia participaram do treinamento patrocinado pelo AgrAbility nos Estados Unidos. O site www.agrability.org também recebe uma quantidade significativa de tráfego de fora dos Estados Unidos. CONCLUSÃO Mesmo diante de deficiências severas, muitos trabalhado-
Em 2040, a população mundial será de aproximadamente 9 bilhões. Significa dizer que haverá cerca de mais 2 bilhões de pessoas para alimentar nos próximos 25 anos, o que aumentará a tensão na agricultura em nível global. Além disso, a pecuária e os biocombustíveis colocarão mais pressão sobre a demanda de commodities agrícolas. Com a demanda tendendo a aumentar, a sustentabilidade na extremidade do abastecimento precisa ser abordada com alta prioridade, dado o encolhimento da área cultivável para agricultura e produções estagnadas para a maioria das safras. As mudanças climáticas também afetam a disponibilização de recursos naturais, que podem, no futuro, reduzir a possibilidade de produção PLANT PROJECT Nº6
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Fo agrícola em determinadas regiões. Como a agricultura na Índia está posicionada para enfrentar esse desafio? Com acesso a uma grande base de recursos naturais, com 160 milhões de hectares de terreno cultivável, a maior população pecuária no mundo e condições agroclimáticas diversas, não há dúvidas de que ocupa posição favorável para cuidar da demanda crescente por alimentos em nível nacional e global. No entanto, a sustentabilidade da agricultura indiana será desafiada pela redução no número de fazendas operacionais. A participação ativa do agricultor na agricultura está se reduzindo, tanto devido à menor remuneração quanto à falta de previsibilidade de renda. O crescente desnível entre o terreno cultivável disponível e o terreno cultivado operacional real é alarmante no contexto de segurança alimentar, bem como na viabilidade de cultivar como uma profissão na Índia rural. A sensibilidade da agricultura indiana às mudanças climáticas (especificamente chuvas e temperatura) também adiciona incerteza à agricultura indiana para alimentar a população crescente. O sucesso e a sustentabilidade da agricultura estão no centro do crescimento econômico indiano. Tornar a agricultura uma ocupação viável para milhões de agricultores é a necessidade do momento. Além da meta de dobrar a renda do agricultor a cada cinco anos (conforme definido pelo primeiro-ministro, Narendra Modi), outra meta importante deve ser manter um número suficiente de agricultores e trabalhadores significativamente empregados na agricultura. A sustentabilidade do setor de agronegócio indiano (incluindo agricultura, pecuária e beneficiamento de alimentos) é também crucial para impulsionar a economia a uma trajetória de crescimento de 8% a 10% ao ano. Pode-se argumentar que a contribuição de agricultura e beneficiamento de alimentos combinados não tem muito peso no PIB da Índia (cerca de 19%) – o crescimento de 10% desse setor contribuirá efetivamente para 1,9 ponto percentual no crescimento da economia. No entanto, o impacto real desse crescimento pode ser muito maior, visto que esse setor tem o efeito multiplicador máximo (quando comparado com indústria e serviços) pelos seguintes motivos: • O crescimento na agricultura indiana significa mais renda para lares rurais (cerca de 167,8 milhões), levando a mais consumo. • Mais produção, incluindo grãos, legumes, vegetais, leite etc., pode diminuir a inflação sobre os alimentos, reduzindo assim a lacuna entre o PIB real e o nominal. • A alta intensidade de empregos na cadeia de valores da agricultura (cerca de dois empregos diretos e dez indiretos para cada milhão de rúpias investido) será um grande elemento positivo para a geração de postos, principalmente para trabalhadores sem formação e com 82
formação parcial em cidades menores e áreas rurais. • Produtos agrícolas contabilizam 10% das exportações da Índia. O excedente de produção implica em melhor oportunidade de exportação (especificamente em categorias como condimentos, camarões, arroz, chá, vegetais e frutas), ajudando a reduzir o déficit comercial da Índia. • Por último, mas não menos importante, a meta atual do governo de dobrar a renda dos agricultores nos próximos cinco anos não pode ser alcançada sem o crescimento em dígitos duplos na economia agrária. Igualmente importante é alcançar tal número de forma sustentável e igualitária. Há três importantes dimensões de sustentabilidade na agricultura indiana: • Nutrição do solo: melhoria da produtividade através do uso otimizado de recursos naturais, incluindo solo e água. O uso excessivo e inapropriado de fertilizantes, que favorece o consumo de ureia, está impactando negativamente a capacidade do solo de absorver e reagir a nutrientes nos fertilizantes e está, com isso, reduzindo a produtividade a longo prazo. • Renda agrícola: para que a agricultura seja sustentável, a remuneração dos agricultores precisa aumentar, conforme discutido acima. A renda média do agricultor indiano é de cerca de 6.000 rúpias (aproximadamente US$ 100) ao mês. No entanto, a falta de articulações de mercado, a dominância de intermediários e a falta de crédito institucional estão tornando a economia agrícola inviável para os agricultores. A agricultura é um negócio na Índia em que o abastecimento, a demanda e os preços são imprevisíveis, especialmente em virtude da falta de dados tempestivos precisos e diversos intermediários. • Mudança climática: é importante observar que mais de 60% da área cultivada na Índia é alimentada pela chuva, tornando-a altamente vulnerável a mudanças induzidas pelo clima nos padrões de precipitação. Mais de 75% dos legumes, 66% das oleaginosas e 45% dos cereais crescem sob as condições de precipitações. Precipitações erráticas e não tempestivas, bem como secas (como testemunhado em 2014 e 2015) impactaram negativamente a economia agrária. Alguns dos problemas cruciais da mudança climática para a agricultura incluem a redução na fertilidade do solo, maior risco de pestes e doenças, escassez de água e menor produção, com implicações resultantes para a vulnerabilidade da subsistência, pobreza, desnutrição e saúde. Há uma gama de potenciais respostas de adaptação para mitigar esses riscos. Para o produtor agrícola, elas incluem boas práticas agrícolas, recursos e gestão de fazendas, avanços tecnológicos em variedades resilientes ao clima e sistemas de produção, acesso tempestivo ao crédito, gerenciamento de riscos (incluindo
Ciclista passa diante de silos em Lucas do Rio Verde (MT) Indústria agrega valor ao agro
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As regiões produtoras do mundo
Lalo de Almeida/Folhapress foto: divulgação PLANT PROJECT Nº6
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Caminhão transporta produção em meio a lavouras em Lucas: população triplicou em 15 anos
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LUCAS DAS NOTAS VERDES Inauguração da primeira usina de etanol de milho do Brasil promove a terceira onda de desenvolvimento em Lucas do Rio Verde, no coração do Mato Grosso Por Marianna Peres, de Lucas do Rio Verde
foto: Lalo de Almeida/Folhapress PLANT PROJECT Nº6
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ma cerimônia, no dia 11 de agosto passado, agitou o interior do País. Vista como um marco, capaz de iniciar uma nova era do agronegócio nacional, a inauguração da primeira usina do Brasil a produzir etanol exclusivamente a partir do milho significou bem mais que a injeção, na economia de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, dos R$ 450 milhões investidos pela F&S Bioenergia na construção da planta. O evento, prestigiado pelo presidente da República, Michel Temer – que cumpriu sua primeira agenda em Mato Grosso –, lotou a rede hoteleira da cidade, formada por pelo menos 30 hotéis, e congestionou os acessos à usina, localizada em plena rodovia MT-449, mais conhecida localmente como Rodovia da Mudança. Um nome sugestivo. A partir dali, vislumbra-se novas perspectivas de crescimento para a região, nacionalmente famosa pela pujança e pela riqueza trazidas pelas agroindústrias. A usina mostra, na prática, que é possível extrair do milho mais valor do que se obtinha até então. Ali, além do etanol, serão produzidos farelos de alto valor proteico, que irão fomentar a atividade de confinamento pecuário nas imediações, e também energia, cujo excesso – a usina é autossustentável – será comercializado para o Sistema Integrado Nacional (SIN). O investimento tem ainda o poder de reafirmar uma vocação. Lucas do Rio Verde, município localizado a 360 quilômetros de Cuiabá, no Médio Norte mato-grossense, tem apenas 29 anos de emancipação, mas possui uma espécie de ímã de atração de agroindústrias. Em área e em produção agrícola é menor que as vizinhas Sorriso (município que detém a maior área mundial destinada à soja, com 600 mil hectares anuais, e logo será também o maior produtor de milho do
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País) e Sapezal. Com 75 mil habitantes, bem planejada, com ruas e avenidas largas, sinalizadas e limpas, a cidade se revela uma cidade “metida a besta”, na melhor expressão da sentença. Quer tudo que há de melhor e consegue isso por meio da união entre sociedade e o poder público. Orgulha-se de exibir o segundo melhor IDH do estado e quer conquistar definitivamente o título de “Capital Nacional da Agroindústria”. “Lucas está próxima de atingir seu terceiro boom de desenvolvimento”, afirma Fábio Ricardo Raabe, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico. “Concretizada essa expectativa e contabilizando investimentos em infraestrutura, será, em menos de uma década, uma cidade de cerca de 100 mil habitantes e estamos preparados para essa expansão.” A meta já está contemplada no Plano Diretor do Município. Basta as coisas seguirem o rumo e a direção já tomados, sempre com a agroindústria como carro-chefe. O perfil da economia está calcado no agronegócio, porém, trabalhado a partir da transformação que agrega valor à produção primária. “Mas não fugimos do agronegócio e queremos continuar assim, ampliando o processamento de commodities e atraindo cada vez mais investimentos para essa transformação”, reforça o prefeito, Luiz Binotti. O discurso está pronto e será testado mundo afora. Binotti antecipou a PLANT que a prefeitura inicia agora um projeto de visitação a feiras, inclusive fora do País, para apresentar a cidade e mostrar seu potencial, buscar empresas e “tornar real o sonho de transformar Lucas na Capital Nacional da Agroindústria”. Na vitrine do município toda a região aparece. Binotti não perde a oportunidade de dizer que, em um raio de 150 quilômetros no entorno da
Planta da F&S Bioenergia: investimento histórico chega a R$ 450 milhões
cidade, a região oferta cerca de 8 milhões de toneladas de soja e 10 milhões de toneladas de milho. “E todo esse volume vindo do campo acaba sendo processado aqui em Lucas, o que gera riqueza ao município, renda, oportunidades de emprego e acaba atraindo mais e mais investimentos.” A PRIMEIRA ONDA Lucas do Rio Verde se move em ritmo alucinante. O primeiro boom da economia local tem apenas dez anos. Seu marco zero foi a chegada de uma unidade industrial da BRF, em 2007. O empreendimento consolidou a verticalização da produção local ao fomentar e estimular a criação de aves e suínos, fazendo valer a expressão do mato-grossense de “transformar a proteína vegetal em proteína animal” – ou então, deixar de exportar grãos para agregar valor com a venda de carnes. Esse momento está imortalizado na cidade. Uma estátua gigante, de 10 metros de altura, construída em concreto armado foi inaugurada em
2015 para comemorar a grande produção de aves -- Lucas do Rio Verde, Tapurah, Ipiranga do Norte e parte de Sorriso produzem mais de 113 milhões de aves por ano. Toda a produção é abatida na planta da BRF em Lucas. Por dia, são processadas mais de 300 mil aves, que abastecem parte do mercado nacional e ainda o mercado externo, como Japão, Oriente Médio e América Latina. A “Preciosa”, como o monumento é chamado na cidade, está localizada no trevo de acesso ao parque industrial, na MT-449. Juntamente com outras estátuas gigantes -- o “Semeador”, a “Ema” (ave símbolo de Lucas), o porquinho "Luquinha" e sua espiga de milho --, traduz a gratidão do luverdense às atividades que movimentam a economia local. Foi inaugurada pelo produtor e ex-prefeito Otaviano Pivetta, para quem o monumento simboliza o potencial econômico e a riqueza que a avicultura produz no município, e o que irá produzir nos próximos anos. Lucas não é uma ilha imune aos males impostos
pela recessão brasileira. Nos últimos anos, a cidade sentiu seus efeitos, mas com menor intensidade que outras regiões do País. “Como sempre dizemos por aqui, enquanto Lucas do Rio Verde produzir o que o mundo precisa, que são alimentos, não vai haver crise, vamos passar por ‘marolas’”, afirma o secretário Raabe. Na última década, as taxas de crescimento mantiveram uma média em torno dos 10% ao ano. Mais recentemente, enquanto o Brasil parava, a cidade crescia 5% a 6%. “Hoje estamos com crescimento menor, mas com números positivos e acima da média do estado e do Brasil. A chegada da F&S Bionergia pode contribuir, sim, para a recuperação do ritmo de crescimento da economia local e ejetar a cidade para novos ciclos econômicos.” O F no nome da empresa proprietária da usina de etanol vem de Fiagril Participações, holding comandada por outro ex-prefeito e um dos pioneiros de Lucas, Marino Franz. Ele PLANT PROJECT Nº6
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transformou uma pequena revenda de insumos em uma gigante com atuação em vários segmentos do agronegócio, com o quinto maior faturamento do estado. “O advento da BRF foi um marco para a verticalização da economia, sucedida da produção de biodiesel, com a Fiagril, que criou um cenário para a vinda de tantas outras empresas que formam a cadeia do agro para agora chegar a F&S”, afirma Binotti, o atual prefeito. Muitos municípios da região se beneficiam do polo luverdense, como Itanhangá, Ipiranga do Norte e até mesmo Sorriso, com muitas granjas de suínos e aves, e que fornecem animais à BRF. “O boom de crescimento trazido pelo frigorífico alavancou várias cidades vizinhas, que fornecem matériasprimas às indústrias de Lucas”, diz Raabe. “O produtor cria aves e suínos porque tem a certeza de que há um comprador em grande escala, nesse caso a BRF. O agricultor produz grãos porque tem a certeza de que sua produção será consumida. É uma reação em cadeia que vai abrindo oportunidades dentro de um ciclo virtuoso.” PROJETOS E INCENTIVOS As futuras expansões requerem, no entanto, investimento em infraestrutura. Binotti conta com a transformação do município em um importante entroncamento ferroviário. Ali se conectariam a Ferrovia da Integração Centro-Oeste 88
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RAIO X LATITUDE 13° 01' 59" SUL / LONGITUDE 55° 56' 38'' OESTE DISTÂNCIA DE CUIABÁ: 334 KM ÁREA TOTAL: 3,6 MIL KM2 ÁREA CULTIVADA: 280 MIL HA PIB AGRÍCOLA: R$ 484 MILHÕES* PIB INDUSTRIAL: R$ 560 MILHÕES* PRINCIPAIS CULTURAS
PRODUÇÃO SAFRA 15/16 (TONELADAS)
PRODUÇÃO SAFRA 16/17 (TONELADAS)
SOJA 718.341 769.645 MILHO 985.976 1.184.825 ALGODÃO 59.315 96.462 Fontes: IBGE/2014, Imea
(Fico) e os trilhos da Ferrogrão, o que permitiria baratear o custo de produção e ampliar o escoamento pelos portos do Norte do País. Essa é, no entanto, uma variável que foge ao controle dos administradores municipais. Para os investidores, eles acenam com a criação de um novo distrito industrial, com área de 200 hectares, localizado em ponto estratégico, próximo de grandes plantas e ao lado do aeroporto municipal, às margens da MT-449. Raabe explica que a prefeitura faz de tudo para atrair investimentos, mas não doa terrenos. “Temos essa política de gestão, mas os vendemos a preços aquém do valor venal, cerca de 50% a 60%, e facilitamos o pagamento com parcelas.” Como exemplo, um terreno com valor de mercado entre R$ 180 mil e R$ 200 mil vai custar, pela venda direta da prefeitura, de R$ 90 mil a R$ 100 mil. Além da facilidade na aquisição de áreas, o município oferta nos primeiros três anos isenção de impostos municipais, como IPTU, ISS e alvarás, tanto de funcionamento da empresa como o que incide sobre a construção do projeto. Foi esse pacote o oferecido à F&S, que começa a operar ainda longe da sua capacidade máxima. A capacidade inicial de produção prevista da planta é de 240 milhões de litros de etanol por ano. A unidade ainda terá potencial para produzir anualmente até 186 mil toneladas de farelo de milho – sendo 125 mil toneladas de farelo com alto teor de fibra e 61 mil toneladas de farelo com
alto teor de proteína –, além de 7 mil toneladas de óleo de milho. PÚBLICO E PRIVADO Lucas cresceu de maneira rápida, porém em velocidade suficiente para que o crescimento se desse de forma estruturada, fornecendo bases sólidas para novos avanços. Primeiro prefeito da cidade, entre os anos de 1989 e 1993, Werner Kothrade abriu a linhagem dos prefeitos “não políticos” da cidade, trazendo para a gestão pública, empresários e líderes da iniciativa privada. Para Kothrade, seu slogan de trabalho “Certeza de progresso”, foi uma espécie de profecia. “Se olharmos a cidade de 30 anos atrás, que começou de um assentamento criado pelo Incra, e a examinarmos agora, como protagonista do agro nacional, realmente dá para acreditar que profetizamos.” Ele viu a cidade passar de uma população de 23 mil habitantes, há cerca de 15 anos, para atuais 75 mil. Mesmo não sentindo saudades da vida pública, Werner conta com orgulho dos seis primeiros quilômetros de asfalto da cidade, implantados por ele, e de construir 18 pequenas escolas em locais, que na época, eram considerados rurais. “Quando assumi, não tinha caneta e muito menos uma sede para o paço municipal. A energia vinha de motores geradores a diesel, linha telefônica era luxo.” Natural de Santa Catarina, se radicou no estado em 1977, criou cinco filhos, o hino da cidade e vive hoje da sua vocação: produtor
O prefeito Binotti (no alto), o secretário Raabe e os monumentos Luquinha e Preciosa: cidade governada por empresários reverencia a produção
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rural, com plantações de soja e milho e criação de gado. Há um consenso em Lucas de que o sucesso da cidade como um
porto de investimentos tem muito a ver com a gestão pública, em razão do perfil dos governantes, o que na opinião da população e
de lideranças locais, “é um modelo que deveria ser adotado no País todo”. Os prefeitos migraram da iniciativa privada, pessoas
Por que Lucas? O CEO da F&S Bioenergia, Henrique Ubrig, tem respondido com frequência à mesma pergunta: por que a usina da companhia foi instalada em Lucas do Rio Verde? Afinal, entre os maiores produtores de milho no estado, Lucas do Rio Verde é apenas o 5º, de um ranking dos dez maiores, com produção anual de pouco mais de 1,2 milhão de toneladas. Ubrig tem a resposta na ponta da língua. A escolha, diz, se deu justamente pela vocação mais industrial de Lucas em relação às cidades vizinhas. E também, é claro, porque um dos investidores da empresa, Marino Franz – a F&S é uma joint venture entre Fiagril Participações, de Franz, e a americana Summit Agricultural Group –, sempre quis ampliar a demanda do grão a partir de sua cidade. “O segredo é estar perto da matéria-prima. Em menos de 50 km temos milho em abundância e isso é importantíssimo”, destaca Ubrig. A capacidade inicial de produção prevista da planta é de 240 milhões de litros de etanol por ano. A unidade ainda terá potencial para produzir anualmente até 186 mil toneladas de farelo de milho — sendo 125 mil toneladas de farelo com alto teor de fibra e 61 mil toneladas de farelo com alto teor de proteína — além de 7 mil toneladas de óleo de milho. O farelo de milho, chamado DDG (que significa grãos secos por destilação, na sigla em inglês), tem aplicação na nutrição animal. Já o óleo de milho será utilizado como combustível em motores de ciclo diesel. A usina ainda irá gerar energia elétrica proveniente de biomassa. A capacidade de cogeração da FS Bioenergia será de 60.000 MW, suficientes para abastecer uma cidade de cerca de 25 mil habitantes. A possibilidade de aproveitar o farelo de milho de alto poder proteico abre mercado para fomentar ou90
tras atividades, como piscicultura, pecuária de corte e leiteira, suinocultura e avicultura. Assim, a produção do DDG deve ser um dos pontos centrais do terceiro boom de Lucas, atraindo para o entorno da cidade, por exemplo, grandes confinadores de bovinos, pois, além da farta ração, já há toda uma estrutura industrial voltada ao processamento da carne. A planta, por gerar energia por meio de cavacos de madeira, abre ainda um novo mercado para o agronegócio local, a implantação de florestas de eucalipto, que, a longo prazo, poderão atrair indústrias de celulose. Já o óleo do milho, que por enquanto tem como destino o biodiesel, poderá ser refinado e envazado em Lucas, ampliando a rede de transformação das matérias-primas. Como resume Ubrig, o milho deixa de ser um grão “para gerar combustível, etanol de alto valor agregado, óleo de alto valor agregado, proteína de alto valor agregado, e eletricidade”. E completa: “Desse modo, conseguimos multiplicar o que valia 100 para 300 ou 400, criando oportunidades, comprando do produtor local e alimentando a demanda por novas indústrias. O milho vai deixar de ter apenas seu papel agronômico de ser uma cultura sucessora da soja para assumir o protagonismo econômico tão buscado pelo produtor mato-grossense”.
O presidente Temer, o ministro Blairo Maggi e o governador Pedro Taques, entre outros, na inauguração da F&S e a Rodovia da Mudança: caminho da oportunidade
que não tinham a política por profissão e por isso sabem que o cargo é passageiro e querem deixar sua contribuição. O atual prefeito, Luiz Binotti, está na região há 30 anos e é empresário e produtor rural. “Já que são empresários, e fazem uma gestão focada no desenvolvimento socioeconômico, eles acabam ganhando com a expansão das oportunidades, dando viabilidade aos seus próprios negócios de forma indireta, mas, antes de tudo, melhorando a cidade”, explica Raabe. ORGULHO DA CIDADE Se o campo é o principal cartão de visita para aportes de novos investimentos, a geração de emprego também está vinculada e dependente do setor. Em Lucas, por exemplo, não é raro se encontrar profissionais em funções pouco conhecidas, como a de técnico em manutenção de silos. É prestando esse serviço que Raulino Menezes ganha a vida. Entre seus clientes estão grandes tradings como Bunge e Cargill, empresas que ele cita com orgulho. Ele diz que, na cidade, quando o campo vai bem, tudo vai bem. “A riqueza é distribuída, fomenta todos os setores da economia local.” Em 2014, quando houve frustração de safra,
Lucas registrou um aperto na circulação de dinheiro na sua economia. “Tinha contratos para novos projetos para o ano seguinte, mas na época foram adiados e estão sendo retomados agora”, conta. Quem não vive diretamente do agro depende dele para sustentar a família. Marcos Delta, um ex-caminhoneiro que trocou as estradas pela construção civil, está nesse grupo. Nasceu em Guarulhos, em São Paulo, mas se diz luverdense. “Finquei o pé aqui em Lucas”, conta. Na cidade, o crescimento se enxerga por meio de todo tipo de obras, desde a residencial até as voltadas a grandes projetos. “Serviço não falta. Aqui tenho oportunidades. Não me vejo em outro lugar.” Os outdoors da cidade são disputados por anúncios de insumos agrícolas e de empreendimentos imobiliários. O espaço que sobra vai para franquias nacionais, como as redes Subway, Cacau Show, Brasil Cacau ou a grife feminina Carmen Steffens. “A classe alta de Lucas não precisa se deslocar mais para Cuiabá para ter acesso às novidades e produtos de luxo”, observa Rosemeri Biava Scariotto, gerente da Lenita Modas. A loja, com sede em Sorriso, tem sua única filial instalada há sete anos em Lucas. Atende
o público das classes A a D e tem um pouco de tudo, como uma loja de departamentos. Como outros endereços na cidade, revende marcas famosas e do segmento de luxo, especialmente no segmento de cama, mesa e banho. Lá, é possível comprar, por exemplo, lençóis de 500 a 600 fios, acetinados, como os utilizados em hotéis refinados. Um jogo desses para uma cama king size passa de R$ 1,2 mil. Rose, como é conhecida, conta que veio há 25 anos do estado do Paraná, já contratada pela loja. “As oportunidades oferecidas por Mato Grosso para o crescimento profissional não se encontram mais em estados do Sul e Sudeste.” As histórias de migrantes que realizam seus sonhos na região de Lucas correm o interior do Brasil e atraem novas levas de trabalhadores e empreendedores. Fábio Raabe, o secretário de Desenvolvimento Econômico, não teme pelas consequências dessa expansão. A cidade, pontua, tem um Plano Diretor bem elaborado, revisado anualmente e que tem suas diretrizes respeitadas. “Lucas possui um perímetro muito bem delimitado, preparado para atender até 300 mil habitantes”, afirma. Isso tornaria a cidade a segunda mais populosa do estado, atrás apenas da capital, Cuiabá. PLANT PROJECT Nº6
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O VOO DO PEQUENO GIGANTE
Apesar da pouca terra cultivável e das condições desfavoráveis para o plantio, as empresas de Israel se tornaram referência em tecnologia agrícola e impulsionam produtividade mundo afora
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e inseríssemos Israel, com seus 22 mil quilômetros quadrados, no território brasileiro, o país ocuparia apenas 0,26% de nossa extensão, ou seja, uma área semelhante à de Sergipe, nosso menor estado. Mas está aí uma situação em que cabe muito bem o ditado de que “tamanho não é documento”, principalmente no que diz respeito a inovações tecnológicas para a produção agropecuária. Desafiados pelas limitações de terras e escassez de água – metade da superfície é constituída por áreas desérticas –, os israelenses foram obrigados a buscar inúmeras soluções para que con-
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seguissem ter produção agrícola. E protegê-la, pois, em muitos casos, essas lavouras são também a única fonte de alimento para as pragas. Hoje, a expertise que desenvolveram em setores da agricultura virou produto de exportação e tem disseminado produtividade até mesmo em grandes nações agrícolas, como o Brasil. Alguns fatores foram fundamentais para que Israel se tornasse uma referência tecnológica mundial em setores como defensivos agrícolas, irrigação, estufas, pe cuária leiteira, sementes e fertilizantes. Primeiro, o país tem um dos melhores ín-
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dices mundiais de educação, com investimento anual de 9,2% de seu PIB neste setor. Isso resultou em grande produção científica. Apenas na área de Química, por exemplo, cientistas israelenses já ganharam quatro vezes o Prêmio Nobel. “O investimento em educação já vem da cultura do judaísmo, pois tinham de mudar de lugar constantemente e a única coisa que tinham a garantia de levar consigo era o conhecimento”, comenta Rodrigo Gutierrez, presidente da Adama Brasil. A companhia é um dos grandes exemplos de como a tecnologia israelense vem ganhando espaço nas lavouras mundo afora. Com suas raízes plantadas no solo de Israel, a Adama traz do país o DNA de inovação e a estreita relação entre agricultores e pesquisadores, outro ponto fundamental para a transformação das terras áridas de Israel em campos férteis. Seus defensivos colocaram o país em posição de destaque no mercado global de agroquímicos. A integração entre pesquisa e produção também levou Israel a ser considerado a mais avançada nação do mundo em irrigação agrícola, com 100% de suas terras subirrigadas e mais de 50% desse sistema abastecido com água de reúso. Criada no deserto israelense, a irrigação por gotejamento tem sido adotada no Brasil em diversas culturas, como cana-de-açúcar, café, citros, legumes e hortaliças. O estímulo à inovação veio ainda por conta dos conflitos no Oriente Médio. “Eles estão em guerra há 70 anos, precisam de tecnologia para se mover com agilidade e segurança. Pode-se
perder ou ganhar rapidamente”, diz Gutierrez. O investimento que impulsionou o avanço da fabricação de armas e da aviação criou também uma plataforma para o desenvolvimento da indústria de alta tecnologia, envolvendo setores como dispositivos médicos, produtos eletrônicos, software e hardware e telecomunicações. Como resultado, surgiram ainda duas características que podem – e devem – ser ainda mais estimuladas no agronegócio brasileiro: mão de obra extremamente qualificada e produção com alto valor agregado. Israel se transformou em uma startup nation, pois já conta com milhares de startups oferecendo soluções eficientes e práticas, tanto para a agropecuária como para diversos outros setores. Esse é o conceito que a Adama vem trabalhando no Brasil: “Criar simplicidade na agricultura”. A empresa, que deve faturar US$ 500 milhões este ano, aposta em uma série de tecnologias para aumentar a eficiência produtiva das lavouras, reduzir custo e facilitar a vida do
produtor. É o caso de um novo produto da Adama para o segmento sucroenergético -- mas que também vai atender outras culturas. Trata-se de uma solução com base em uma molécula inovadora para o combate e o controle de nematoides, parasitas que atacam as raízes das plantas e geram prejuízos vultosos. “A queda de produtividade pode atingir níveis entre 20% e 50%”, alerta Márcio Lemos, gerente de Desenvolvimento de Mercado da empresa. Estima-se que as perdas associadas a nematoides na agricultura brasileira cheguem a R$ 35 bilhões. Segundo Lemos, o nematicida tem grande efetividade porque mata os parasitas, reduzindo de fato sua população. “Além disso, a dosagem para aplicação é de um litro por hectare, favorecendo até a questão de armazenagem e coleta de embalagens vazias, e o grau de toxicidade é 100 vezes menor do que do produto mais utilizado no mercado”, detalha. Em fase final de obtenção de registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o nemati-
OÁSIS DA TECNOLOGIA Desempenho de Israel na ciência e na inovação em nível mundial
#1 em qualidade de instituições científicas #1 em patentes médicas per capita
#1 em gastos nacionais em Pesquisa e Desenvolvimento (% do PIB) #1 em número de startups fora do Vale do Silício #2 em inovação #3 em empresas de tecnologia listadas na Nasdaq #3 em infraestrutura científica #4 em infraestrutura tecnológica PLANT PROJECT Nº6
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Estande da Adama na feira Digital Agro e a tecnologia da empresa para combate de pragas no campo
cida deve estar disponível para o mercado em breve. Desde o início de 2016, o produto já foi testado em mais de 120 áreas demonstrativas em todo o Brasil. “O agricultor já tem de se preocupar com muitas incertezas na vida. Então oferecemos a ele um produto com a certeza de que vai trazer resultados positivos”, comenta Gutierrez. O portfólio da companhia deve crescer em várias outras frentes. A ferramenta Adama Frota, por exemplo, é baseada na expertise israelense de gestão de frotas de tanques, sobretudo monitorando posicionamento e uso de combustível. O sistema é usado no gerenciamento de veículos e maquinário, garantindo maior controle da colheita e, no caso das usinas, da velocidade da moega. “O primeiro piloto já estará pronto em novembro e, no ano que vem, conseguiremos oferecer ao mercado”, anuncia Gutierrez. Há outras inovações já em uso e com resultados relevantes, 94
como o sistema de navegabilidade Adama Wings, que captura imagens de alta definição por meio de veículos aéreos não tripulados (VANT). A ferramenta oferece três serviços que proporcionam ganho de tempo, produtividade e lucratividade na cultura da cana. Um deles é a identificação de falhas no plantio. O mapeamento na fase inicial permite
redimensionadas de forma a otimizar a colheita mecânica. “Queremos oferecer mais tecnologias para o momento do plantio da cana, pois estamos preocupados com a situação do setor. Não temos conseguido aumentar a produtividade com as opções disponíveis hoje”, comenta Gutierrez. A relação direta com o produtor, a presença no campo, é outro
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O agricultor já tem de se preocupar com muitas incertezas na vida. Então oferecemos a ele um produto com a certeza Rodrigo Gutierrez, presidente da Adama Brasil
que sejam feitas correções com exatidão. Para se ter ideia do impacto dessa tecnologia, os voos encontram falhas de 13% a 15% das áreas plantadas e, tomadas as devidas providências, após seis meses esse índice cai para 2%. Considerando o ciclo da cultura, que vai de 4 a 8 anos, é uma vantagem considerável. O Adama Wings ainda ajuda a encontrar falhas na aplicação de herbicidas e faz o mapeamento topográfico do solo para que as linhas de plantio sejam
pilar na atuação da Adama. Em média, a empresa realiza por ano 45 mil visitas a propriedades e entre 6 e 7 mil eventos, que vão desde um dia de campo na fazenda até a presença em grandes feiras e exposições. “Todo dia tem alguém visitando algum agricultor, entendendo sua necessidade para que possamos desenvolver novas tecnologias”, completa o presidente da empresa. Produzido para a Adama pelo Studio Plant Conteúdos Especiais
O arco-íris do milho mexicano Variedades exóticas do grão ganham status na gastronomia
W WORLD FAIR
A grande feira mundial do estilo e do consumo
foto: divulgação PLANT PROJECT Nº6
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W WORLD FAIR
A grande feira mundial do estilo e do consumo
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O CAÇADOR DO MILHO PERDIDO Quem é o americano que está resgatando antigas espécies do grão plantadas por pequenos produtores mexicanos, ajudando a preservar tradições seculares e a criar um novo sucesso gastronômico nos Estados Unidos Por Sally Wilson* | Fotos Molly DeCoudreaux
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W Especial Aviação
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o fim de 2014, Enrique Olvera, chef-celebridade mexicano, abriu seu primeiro restaurante internacional, o Cosme. Ele escolheu a cidade de Nova York como sede, em um edifício cavernoso a meio caminho entre a Broadway e a Park Avenue, na East 21st Street. Uma das principais preocupações de Olvera em assumir o comando de um empreendimento mexicano em Manhattan era a capacidade de recriar sabores mexicanos autênticos ao norte da fronteira de seu país. Simplificando, o estilo de comida em que Olvera acredita e produz (e que o colocou na lista dos World’s 50 Best Restaurants) está centrado no uso de ingredientes locais e mexicanos. “Cocina mexicana con productos locales”, como dizem no Pujol, seu premiado restaurante na Cidade do México. É possível adquirir muitas coisas na cidade de Nova York, mas não a quantidade de milho tradicional usada em restaurantes, como aconteceu quando Olvera iniciou seu trabalho na cidade. É milho -- e não trigo – o que constitui a base da culinária mexicana. Usa-se o grão para fazer de tudo, desde tortillas, tamales
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e atole até o agora famoso merengue de casca e o mousse de milho, que Olvera serve de sobremesa no Cosme. Para abrir o restaurante, Olvera precisava de um abastecimento confiável de Landrace. Foi então que as coisas ficaram complicadas. Milho Landrace é um termo impreciso e geral para as 59 variedades de milho nativas do México. São espécies de polinização aberta, adaptadas localmente, cultivadas e consumidas por proprietários tradicionais de terras em todo o país. Não é o milho universal amarelo-dourado e doce de que estamos falando, mas de uma ampla população de variedades, com uma diversidade fantástica. Basicamente, é possível pintar um arco-íris de milho Landrace no México. As formas, texturas e sabores do grão também são muito diferentes. Como, então, é possível fornecer e transportar caminhões dessa rica matéria-prima do México para a cidade de Nova York? Bem... é necessário ligar para Jorge Gaviria. Jorge é nativo de Miami, viveu em Nova York, mas hoje reside em San Francisco. Fez sua primeira visita ao México em fevereiro de 2014 – e foi
Gastronomia
uma viagem transformadora. Atualmente, vai para o país pelo menos uma vez a cada cinco semanas. Embora eu não o tenha conhecido pessoalmente, comi grãos de milho do tamanho de dentes caninos (servidos com polvo) e tortilhas feitas com o milho com que ele abastece o restaurante Olvera, no distrito de Flatiron. Pessoal, temos um caçador de plantas bona fide em nosso meio. Consigo sentir a outra extremidade da internet se dobrar quando digo a Jorge que ele é um caçador de plantas. No cartão de visitas, Jorge diz ser “fundador e CEO” da Masienda, mas vamos reservar esse assunto para depois. Como em uma missão, Jorge adquire, importa e fornece milho Landrace e outros produtos, buscando-os de pequenos agricultores no México e entregando-os em NYC, Los Angeles, Miami, Toronto e Copenhague. Milho Landrace, tome nota. Porque chegamos a um ponto da história do mundo em que a política do milho e, no geral, a biodiversidade agrícola se tornaram um cabo de guerra de bilhões de dólares entre governos, corporações transnacionais, pequenos agricultores e a comunidade. Esse tipo de caça às plantas não é algo pouco importante. Vai diretamente ao cerne da questão e o faz com um propósito ético – uma questão com a qual a maioria dos caçadores de plantas primitivos não precisava se deparar.
Jorge trabalha com uma rede de conselheiros e agentes locais para fornecer cerca de cinco ou mais variedades de milho Landrace, oriundas principalmente do estado de Oaxaca, no sul do México. As variedades podem se alterar a cada ano, mas Jorge mantém sempre a bolita (pequenos grãos em forma de bola nas cores branca, amarela, azul ou roxa), os elotesconicos (grãos alongados em forma de lágrima nas cores vermelha ou azul), o olotillo (grãos robustos, amarelos), o tuxpeño (grãos entalhados nas cores branca, laranja e amarela) e o chalqueño (grãos ovais nas cores branca e amarela) nos registros. “Simplificando, o principal objetivo é proporcionar aos agricultores mexicanos a oportunidade de se apoiarem economicamente e manterem as
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Lavoura na província de Oxaca e a diversidade das espécies mexicanas: cores e sabores únicos
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Produtores mexicanos (acima) e o “caçador” Jorge Gaviria: arqueologia agrícola
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tradições agrícolas e culinárias no México”, diz Jorge, sem emoção nem alarde. “Se podemos fazê-lo e fazemos bem, esperamos oferecer aos agricultores uma opção entre a promoção local de suas tradições e a busca de fontes alternativas de renda nos Estados Unidos. Como sabemos, ambos os cenários pesam profundamente sobre as estruturas familiares, a biodiversidade natural e a cultura mexicana.” O milho é sagrado no México. Seja de modo esotérico, seja de modo pragmático, faz parte da cultura mexicana: é o pão de cada dia, uma fonte de nutrição inseparável do conceito mexicano de identidade. O milho é originário do México. Na crença maia, o homem é criado a partir do milho. De acordo com a crença asteca, a divindade Quetzalcóatl, uma serpente emplumada, deu o milho, que representava uma fonte de sustento e inteligência, à humanidade.
Nos últimos anos, intervenções como o Nafta (sigla, em inglês para North American Free Trade Agreement, Tratado Norte-Americano de Livre Comércio), o agronegócio e a homogeneização de tudo (incluindo a genética do milho) reduziu substancialmente os campos de cultivo dos meios de subsistência e do bem-estar de famílias no México, cujas tradições têm por base e se desenvolvem ao redor da agricultura. No momento, culturas de milho geneticamente modificadas são oficialmente proibidas no México, porém esse milho, intensamente subsidiado nas terras inundadas dos EUA ao longo da fronteira, representa cerca de um terço do mercado local e causa impacto nos preços do milho cultivado localmente. O agronegócio ocupou todo o território no norte do México e luta pela introdução de lavouras de milho geneticamente modificado no país. Esse jogo de “empurra e puxa” é complexo
Gastronomia
e movido por grandes corporações em busca de lucro. Jorge opta por trabalhar de maneira positiva em meio à política. Seu modelo de negócios gira em torno do respeito: respeito pelos alimentos, pela diversidade, pela família, pela prática agrícola e pela participação nos lucros. “A Masienda utiliza o prazer de comer como um meio para mudar o mundo!”, ele diz. “De fato, há muito a se extrair desse trabalho. O impacto é perceptível em ambos os extremos da cadeia – dos agricultores com quem trabalhamos aos clientes que desfrutam o sabor verdadeiro de um excelente milho.” A Masienda está reaproveitando um ingrediente que, de modo geral, subestimamos. “Queremos oferecer uma opção para a estabilidade econômica regional em áreas historicamente pobres do México e criar condições para que gerem soberania alimentar. Certamente trata-se de um ato intrinsecamente político, já que as condições hoje existentes são contrárias a esse modelo de negócios. O México, local de nascimento do milho, não terá que importar um terço do produto dos EUA se houver uma alternativa viável – e há. É irônico e inspirador pensar que os pequenos agricultores agora podem se beneficiar do Nafta, por exemplo, há muito tempo associado e até mesmo vinculado ao êxodo massivo dessa
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população e à marginalização da paisagem natural.” Sabe a melhor parte dessa história? As sementes de milho de cor vermelha, laranja, amarela, azul e roxa transportadas através da fronteira estão – como uma promessa ilusória de futuro – dando suporte às famílias agricultoras, além de gerar um impacto culinário sublime. Nos EUA, elas estão sendo usadas para fazer tudo: de tortilhas, grãos e polenta a cerveja e aos pratos principais servidos no Cosme, um restaurante que chamou a atenção do mundo e celebra ingredientes locais mexicanos. “O solo escolhe a semente”, dizem os agricultores em Oaxaca. Esse é o segredo do milho, despojado de toda a sua complexidade. Publicado originalmente no site The Plant Hunter (theplanthunter.com.au)
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W Consumo SOBRE PATAS ESSE SUPORTE DA LETHAL EM FORMATO DE ARANHA É CAPAZ DE SE ADAPTAR A DIVERSOS TIPOS DE EQUIPAMENTOS, COMO SMARTPHONES, TABLETS E CÂMERAS FOTOGRÁFICAS E EM DIFERENTES POSIÇÕES. PREÇO: US$ 40.
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EFEITO JOÃO TAVARES Pioneiro do cultivo de cacau de excelência no Sul da Bahia, o produtor começou uma revolução que ganha cada dia mais adeptos Por Lívia Andrade
Tavares, com as amêndoas do cacau: “Meu trabalho é eliminar os defeitos do cacau através da seleção dos frutos”
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ão há, no Sul da Bahia, quem não conheça João Tavares. Filho e neto de grandes cacauicultores, o agricultor ganhou fama por sua ousadia e por resgatar uma tradição na região que concentra 80% da produção de cacau do estado, o maior produtor de amêndoas do Brasil, com uma participação de 55%. Por conta do trabalho dele, a Bahia voltou a frequentar os principais salões internacionais e a ser associada a cacau de qualidade. Aconteceu no ano passado, durante o International Chocolate Awards, principal competição de chocolates premium do mundo. A marca catarinense Nugali, da cidade de Pomerode, ganhou medalha de bronze com a barra de chocolate Serra do Conduru 80% cacau, feita com a matéria-prima de Tavares. “Este prêmio é tão importante porque é na categoria de chocolates puros. Com uma amêndoa inferior não conseguiríamos fazer um produto desse nível”, diz Maitê Lang, diretora comercial da Nugali. O caminho até a consagração demandou persistência. Quando Tavares resolveu apostar na qualidade, ninguém no Brasil remunerava a mais por isso. “Na verdade, fui para o cacau fino por necessidade. Com a inserção criminosa da vassoura-de-bruxa em 1989, passamos a colher um quarto do que colhíamos”, conta o empresário, que tem 340 hectares de cacau na fazenda Leolinda, em Uruçuca (BA). “Eu só tinha uma forma de viabilizar a propriedade: agregando valor. Eu poderia fazer pela qualidade, que é algo que outros países já vinham fazendo, ou verticalizar com a produção de chocolate”, explica. PLANT PROJECT Nº6
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Corte das amêndoas fermentadas (à dir.) e o premiado chocolate Serra do Conduru
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O baiano escolheu buscar um cacau de excelência, decisão recebida com desconfiança até mesmo por seu pai, Romildo Luiz Fernandes. “Rapaz, com tanta coisa para ganhar dinheiro, você foi escolher o cacau? Seu pai tem 40 anos nessa estrada e nunca viu ninguém pagar um real a mais por qualidade”, dizia o patriarca, que faleceu em 2012. Mesmo sem acreditar, Fernandes apoiava o filho, que começou uma série de ensaios experimentais. O objetivo era diminuir a adstringência, o amargor e acidez para perceber as notas das amêndoas e atingir a qualidade desejada. Deu certo, mas a trajetória para a excelência passa pelo cumprimento de um emaranhado de detalhes. “O flavor do cacau é composto pela variedade genética, os chamados aromas de constituição. Depois vem os aromas de fermentação e, por último, os aromas provenientes do trabalho do chocolateiro, quando ele faz a torra das amêndoas e a conchagem
do chocolate”, explica Tavares. Tudo começa com a escolha das variedades genéticas. Tavares, que tem uma produção anual de 150 toneladas, trabalha com três materiais: o Catongo, um cacau raro com amêndoas claras e notas de noz; o Scavinia, um cruzamento do Forasteiro com o Trinitário, cujo gosto remete à banana passa; e o Pará, que tem pouca adstringência e acidez e sabor predominante de chocolate. Depois vem a parte da colheita. “Meu trabalho é eliminar os defeitos do cacau através da seleção dos frutos”, conta o agricultor. O primeiro critério é a sanidade. Frutos perfurados por periquitos ou roedores são descartados. O mesmo acontece com aqueles infectados por doenças, como a vassoura-de-bruxa. O segundo parâmetro é a maturação: frutos verdes, verdolengos ou muito maduros são rejeitados. A separação continua no momento de abrir o fruto. “Fazemos uma abertura cuidadosa para não danificar o cacau. Se identificamos doença, defeito ou amêndoa germinando, que é a característica do cacau sobrepassado, nós descartamos”, diz Tavares. Depois dessa rigorosa triagem, as amêndoas seguem para a fermentação, que pode durar de cinco a sete dias. A etapa é crucial para elas soltarem os aromas e atingirem a coloração desejada, por isso é monitorada de perto. “Dependendo da necessidade, a gente faz revolvimentos mais intensos, mais ou menos frequentes
para introduzir oxigênio na massa e assim acelerar ou retardar a fermentação dos grãos”, explica Tavares. O zelo com essa fase levou Tavares a desenvolver uma tecnologia própria. “Eu uso umas dornas cilíndricas que são únicas no mundo, parecem as de vinho e dão uma homogeneidade maior na temperatura e, consequentemente, na quantidade de amêndoas perfeitamente fermentadas”, diz o empresário. A invenção resolveu a insatisfação de Tavares com o modelo antigo - tanques retangulares que não permitiam uma fermentação uniforme nos cantos. A secagem vem na sequência e também tem inovações do produtor. Ele pegou o conceito dos terreiros suspensos de café e adaptou para o cacau. “Fizemos aberturas laterais para ventilar e agora estou tentando automatizar”, conta. A seca arejada impede que as amêndoas mofem, o que comprometeria a qualidade. Em 2010, o capricho de Tavares rendeu ao Brasil a primeira premiação internacional em cacau
fino. O produtor venceu o Cocoa of Excellence América do Sul, competição anual que acontece no Salão do Chocolate, em Paris. O resultado abalou os críticos do setor, que não compreendiam como Colômbia, Peru e Venezuela – países com tradição na produção de cacau gourmet – tinham sido desbancados por um produtor brasileiro. “O pessoal de fora ficou incomodado, os consultores, chocolateiros e vendedores de amêndoas de cacau acharam que tinha sido um erro”, diz Tavares. Aconteceu até um episódio envolvendo um jovem produtor baiano, que tem se destacado na produção de chocolates finos com a marca Amma. “Teve um bate-boca, o pessoal estava questionando, não entendia como o Brasil conseguia fazer amêndoas de qualidade, e o Diego Badaró respondeu: ‘Vocês dizem isso por não conhecer o Brasil, venham conhecer’”, conta Tavares. A desconfiança foi por água abaixo no ano seguinte, quando Tavares ganhou novamente o Cocoa of Excellence e se tornou o único produtor a
conquistar o prêmio por dois anos consecutivos. No entanto, o reconhecimento mais significativo daquele ano (2011) veio das palavras de seu pai. “Tenho que dar a mão à palmatória, seu cacau é realmente especial”, disse Fernandes. A propriedade de Tavares está situada no Sul da Bahia, região prestes a ser reconhecida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) como Indicação de Procedência (IP), registro que chancelará, a partir de dados históricos, a fama da localidade na produção de cacau. O sistema de plantio predominante ali é o Cabruca, em que o cacau é cultivado debaixo da Mata Atlântica. “Na minha visão, esse cacau de mata é mais adocicado, porque leva mais tempo no seu desenvolvimento, mas não há nada comprovado cientificamente”, diz o empresário. Uma das maiores vantagens do Cabruca em relação ao cacau plantado a pleno sol é a resiliência. “Sem sombra, você produz mais durante dez anos, mas se tiver seca o cacau morre e replantar é caro”, PLANT PROJECT Nº6
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diz Durval Libânio Netto Mello, presidente do Instituto Cabruca, entidade que tem por objetivo valorizar e estimular o sistema de plantio homônimo. Antes da vassoura-de-bruxa, o Brasil era o maior produtor mundial de cacau e chegou a colher 450 mil toneladas no início da década de 1980. Hoje o País é o sexto colocado, com uma produção anual de 150 mil toneladas. Segundo Mello, passa de 100 o número de agricultores que têm focado no cultivo de amêndoas premium no
Sul da Bahia. Até mesmo o Centro de Inovação do Cacau (CIC) da região tem centrado seus trabalhos no aumento da qualidade média. O objetivo é produzir o efeito João Tavares. “O que ele está fazendo não é replicável para todo mundo, a maioria não tem tempo, paciência e recurso para fazer o que ele faz. Mas se as pessoas copiarem um décimo, a gente melhora a qualidade do cacau”, diz Eduardo Bastos, diretor-executivo da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).
PARCERIAS DE OURO Produção na Fazenda Leolinda: recolocando o Sul da Bahia no mapa do cacau
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Ao optar por focar sua atenção na produção de uma amêndoa de excelência, João Tavares sabia que precisaria de clientes de primeira. “Uma amêndoa ruim só vai dar chocolate ruim. Mas é possível fazer um chocolate ruim de uma amêndoa perfeita, se a pessoa não souber processar, torrar demais”, diz o empresário, que só vende para profissionais que valorizam a sua matéria-prima, que chega a custar três vezes o valor do cacau commodity, cuja arroba gira em torno de R$ 100. Seu rol de clientes tem nomes de peso como o estreladíssimo chef francês Alain Ducasse, proprietário da Le Chocolat, a meca do chocolate na França. “Ele compra com exclusividade as amêndoas de Catongo Branco, um cacau raríssimo, que tem notas de noz”, diz Tavares. Outro nome de prestígio é o belga Pierre Marcolini, que usa a matéria-prima da fazenda Leolinda na fabricação de seus chocolates de luxo, a mesma pegada da carioca Samantha Aquim, outra cliente de Tavares. “Digo sempre que ela transforma as amêndoas de chocolate numa joia assinada por Oscar Niemeyer”, fala orgulhoso o empresário, referindo-se a um chocolate cuja forma foi desenhada pelo arquiteto. O produto é vendido em caixas numeradas e limitadas.
O poeta Manoel de Barros em sua fazenda, no Mato Grosso do Sul Vida simples e produtiva junto ao Pantanal
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Um campo para o melhor da cultura
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Um campo para o melhor da cultura
UM LUGAR PARA O POETA Tributo a Manoel de Barros, estátua repete, involuntariamente, a trajetória do escritor, que viveu longe do público, recluso em sua fazenda no Pantanal Por Ana Weiss
foto: Marlene Bergamo/Folhapress
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Manoel de Barros, em uma de suas últimas fotos: ele dizia que seu trabalho era o de “tentar encostar o Verbo na Natureza” PLANT PROJECT Nº6
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Literatura
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anoel de Barros (1916-2014) cantou a paisagem do Centro-Oeste brasileiro como nenhum outro poeta. Na sua busca quase religiosa pela beleza das coisas simples, chegou a países distantes, comovendo leitores para quem ainda não existia a tradução da palavra Pantanal. Nada mais esperado e natural, portanto, que uma homenagem da terra tão lembrada a seu filho mais lido. Por encomenda do Governo do Estado do Mato Grosso do Sul, uma escultura de 400 quilos de bronze reproduzindo a figura do poeta, com o sorriso largo e inconfundível, foi fundida para ocupar uma via pública de Campo Grande. Um tributo, com quase um ano de atraso, ao centenário do autor mato-grossense que levou os animais, as plantas e os pores do sol pantaneiros a leitores de todas as idades. A ideia original era inaugurar a estátua em outubro, quando Mato Grosso do Sul completa quatro décadas de existência. Um imbróglio burocrático, porém, travou a iniciativa. Para o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHGMS), o canteiro central da Avenida Afonso Pena, local que receberia o monumento, é um sítio histórico-militar, reservado a outro tipo de homenagem -- que não ao poeta mato-grossense considerado, quando ainda vivo, por autoridades como Antônio Houaiss e Carlos Drummond de Andrade, o maior poeta brasileiro em atividade. A via hoje ostenta um monumento em homenagem à Força Expedicionária Brasileira. Assim, o Manoel de Barros bronzeado, que custou ao governo R$ 232 mil, permanece sem destino. Existe, na dificuldade da realização desse reconhecimento público e na falta de endereço para a estátua do poeta – que aguarda literalmente sentada, em uma cadeira empoeirada de uma
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repartição pública de Campo Grande – um curioso paralelismo em relação à biografia do escritor. Manoel de Barros levou uma vida relativamente errática até decidir pela vida de fazendeiro, no final da década de 1950. Nascido em Cuiabá, foi criado em Corumbá, onde uma tia cuidou de sua alfabetização. Aos 12 anos, a família o enviou para o Rio de Janeiro, para terminar os estudos em um internato de padres maristas. Lá teve os primeiros contatos com os Sermões de Padre Antônio Vieira, uma influência definitiva na carreira literária que teria início quase dez anos mais tarde. Ainda no Rio, cursou a faculdade de direito, período em que se dedicou ao estudo de Camões (exercitava a escrita fazendo sonetos) e tomou gosto pela literatura modernista, devorando as obras de Raul Bopp, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade -- de quem, anos depois, se tornou amigo. Assim como a estátua que reproduz suas feições, teve o início da carreira adiada por força maior: filiado ao Partido Comunista, teve os manuscritos de seu primeiro livro, Nossa Senhora da Escuridão , apreendidos pela polícia do governo Getúlio Vargas. Retomou as atividades literárias dois anos depois, com o lançamento de Poemas Concebidos Sem Pecado, em 1937. Poemas, fruto da mocidade, já continha todos os elementos que colocariam o poeta em uma linhagem própria, sem nenhum par, da literatura pós-modernista brasileira, só comparável da feitura a Guimarães Rosa, de quem o mato-grossense também se tornou próximo. Recusando um emprego oferecido pelo pai em Mato Grosso, o poeta seguiu sem local de pouso durante quase toda as décadas de 1940 e 1950. Depois de publicar
A estátua, guardada em uma repartição, e uma imagem do Pantanal: ele preferia as paisagens às pessoas
seu segundo livro, Face Imóvel, de 1942, mudou-se para Nova York, onde estudou cinema e pintura. Levando na mala exemplares de Ezra Pound, T. S. Eliot e García Lorca, empreendeu longas viagens à América espanhola e à Europa. Seu desterro foi encerrado pelo encontro com Stella dos Santos Cruz, com quem se casou e retomou, enfim, a vida no campo que nunca deixou seus versos. Na fazenda que pertenceu a seu pai, Manoel de Barros criou os três filhos, muitas cabeças de gado e, como a escultura sorridente esperando uma praça, não parecia se importar de viver escondido dos holofotes culturais. “Era um imprestável para entrevistas”, lembra Valter Hugo Mãe, primeiro editor da obra do brasileiro em Portugal. “Eu queria um volume imponente com todos os versos. Ele insistiu: ‘Poesia tem de ser pouca’”, conta o romancista português no prefácio de O Livro Das Ignorãças, relançado pela Alfaguara no ano passado. O resultado foi um livrinho chamado O Encantador De Palavras, muito visto e procurado desde aquele final dos anos 1990. O escritor, de fato, não fazia
questão nenhuma de falar com o público. Diferentemente dos artistas reclusos de seu calibre, recusava as entrevistas com tanta simpatia e delicadezas que os jornalistas desligavam o telefone como se tivessem conseguido o que queriam. Manoel de Barros era uma criatura afável, amada por seus funcionários de fazenda da mesma maneira que seus pares na literatura.
SOBRE O POETA DAS MIUDEZAS O que outros escritores dizem de Manoel de Barros “O que Manoel de Barros cata no Pantanal só poderia haver sido catado no Pantanal.” Valter Hugo Mãe “Num momento em que somos catequizados como seres insuflados de divino mas ao mesmo tempo praticamos as maiores torpezas com nossos semelhantes, é um esplendor ver luzir de forma tão convincente e harmoniosa a certeza de que entre o caramujo e o homem há um nexo necessário que nos deveria fazer mais solidários com a vida.” Antônio Houaiss “Ele busca a gramática que fica antes da gramática, é o que chamo de ‘aquém da linguagem.’ Deve ser valorizado, em primeiro lugar, justamente por sua singularidade radical, por ser único, parecido apenas com Guimarães Rosa.” Italo Moriconi
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Literatura
O traço e a poesia de Barros, juntos: simplicidade
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“Meu imenso Manoel de Barros, vejo, com felicidade fraterníssima, que você é, como poucos criadores de pensamentos e emoções, entre nós e entre quem quer que seja”, escreveu o poeta Antônio Houaiss, a respeito do lançamento de O Livro Das Ignorãnças, em 1993. Valter Hugo Mãe diz que uma vez o escritor lhe perguntou por que, afinal, gostava tanto dele. “Respondi que ele punha passarinhos nos meus assuntos.” Eram passarinhos, sapos, moscas, que das memórias de infância de um pantaneiro, passaram a ocupar a imaginação de adultos e crianças de muitos outros lugares. Manoel de Barros não acreditava
que havia um lugar para os poetas, que seu trabalho era o de “tentar encostar com o Verbo na Natureza”. Publicando ou não, acordava todos os dias muito cedo, bebia religiosamente um Guaraná (vício, dizia, herdado do pai) e escrevia à lápis até a hora do almoço, quando assistia ao seriado mexicano Chaves (El Chavo del Ocho) tomando uísque. Brincava, no fim da vida, que os pássaros já o estavam confundindo com as árvores. Talvez a estátua sorridente dentro do escritório burocrático o divertisse mais que uma inauguração protocolar que, até o fechamento desta edição, permanecia sem previsão de acontecer.
Conheça os segredos da empresa brasileira de AgTech que conquistou os dólares do mesmo fundo que lucrou alto com as startups mais quentes do Vale do Silício
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STARTAGRO
As inovações para o futuro da produção
foto: Nick Dalla Photo Studio
Airbnb, Uber e… Solinftec
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A LONGA ESTRADA DA SOLINFTEC A surpreendente trajetória dos cubanos que construíram, no Interior de SP, uma companhia de tecnologia para o agro que conquistou a atenção e os dólares dos investidores de Uber e AirBNB Por Luiz Fernando Sá, de Araçatuba
Os fundadores e sócios George Calderin, Britaldo Fernandez, Leslie Gonzalez, Enrique Caballero e Genry Perez Rey (da esq. para dir.): de Cuba para o mundo, via Araçatuba 116
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STARTAGRO
fotos: Nick Dalla Photo Studio
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As inovações para o futuro da produção
qui, pouca coisa lembra a Califórnia. Estamos em um em um bairro da periferia de Araçatuba, no Noroeste do estado de São Paulo. As casas são simples, há vários terrenos ainda vazios no entorno. O Vale do Silício, no entanto, tem um posto avançado nesse pedaço do Brasil. Mais precisamente em um prédio assobradado com fachada de aço e vidro, que dá um toque mais moderno à vizinhança. Comitivas de investidores estrangeiros visitaram o endereço nos últimos anos. Um grupo peso-pesado, que já havia lucrado alto apostando em startups como Uber e Airbnb, decidiu que era um bom pouso para os seus dólares. E, assim, desde dezembro passado, colocou a dona do imóvel, a pouco conhecida Solinftec, no mapa mundi do ecossistema AgTech. Ao ingressar no casarão se descobre uma história ímpar de superação e sucesso, que certamente, tanto quanto os números, deve ter ajudado a convencer os enviados do fundo americano TPG – um colosso com US$ 45 bilhões sob sua administração – a comprar uma fatia da empresa (a participação e os valores envolvidos não foram revelados). A Solinftec desenvolve soluções digitais de monitoramento e gestão para propriedades rurais. Não é exatamente uma startup. Há pelo menos dez anos suas soluções e equipamentos monitoram lavouras de cana em várias regiões do Brasil. Está presente em nada menos que 4,5 milhões de hectares da cultura, cerca de 50% da área colhida no País. Das dez maiores empresas do setor sucroenergético, oito são suas clientes. Apenas a Raizen, maior delas, tem 3 mil computadores de bordo com a marca Solinftec em sua frota de máquinas e caminhões. “Temos mais de 20 mil equipamentos em campo. Não conheço nenhuma outra empresa do agro com esse número”, afirma Daniel Padrão, o CEO da companhia. PLANT PROJECT Nº6
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Há mais e maiores surpresas a espera de quem cruza as portas do sobrado. Passam desapercebidos entre mais de cem funcionários que circulam entre as várias salas do imóvel – não há ali o conceito aberto e divertido das empresas americanas de tecnologia – os sete sócios que, em meados da década passada, se reuniram em outra casa bem mais modesta e, praticamente sem um tostão no bolso, iniciaram o negócio. “Internamente, costumamos brincar que houve aqui em Araçatuba um programa Mais Engenheiros”, diz Padrão, numa referência ao Mais Médicos, em que o governo brasileiro
“
A abrodagem correta não tem de ser a da ciência espacial, mas a solução dos problemas reais dos produtores” Roel Collier, diretor do fundo TPG
estimulou a vinda de profissionais cubanos de saúde. Liderados pelo engenheiro de automação Britaldo Hernandez Fernandez, o grupo havia deixado posições de destaque em centros de pesquisa em Cuba. Alguns deles já frequentavam as lavouras de cana brasileiras desde 1998, través de convênios para desenvolvimento de tecnologia de automação para as usinas de açúcar e álcool. As vindas foram ficando mais frequentes até que, em 2007, vislumbraram uma oportunidade do lado de dentro das fazendas que visitavam. Os sete cubanos mo118
ravam juntos e trabalhavam na edícula de casa. Ali, começaram a desenvolver sistemas que trouxessem mais eficiência a um processo crítico do segmento: a logística da colheita e entrega da cana. “Cerca de 40% do custo logístico do setor está concentrado nesse momento”, afirma Britaldo. Em poucos meses, instalaram os primeiros equipamentos que permitiram a captura de dados na frota de máquinas do grupo CleAlco. Todos os sete sócios se mantém atuantes na companhia. Trabalham duro e em silêncio, como têm feito desde o início. Britaldo é uma espécie de porta-voz deles,
mas também evita exposição. Seu portunhol é carregado, muitas vezes difícil de compreender. Fácil, no entanto, é entender se orgulho pelo que construiu. “Tínhamos se gurança na tecnologia que estávamos criando”, conta. Os contatos feitos durante as viagens anteriores ao Brasil abriram portas. Uma das primeiras foi logo na Cosan, maior empresa do setor naquele momento. “Com um cliente como esse, se não fizer bem, morre”, dizia Britaldo. O time foi a campo e instalou para a empresa um sistema inédito de telemetria que permitia acompanhar cada movimento de
máquinas e caminhões durante a colheita. Os primeiros resultados foram animadores e a empresa parecia fadada ao sucesso. Mas a distância da família, que havia ficado em Cuba, quase pôs tudo a perder. Em 2008, Britaldo voltou ao país e ficou dois anos sem vir ao Brasil. “Foram anos perdidos”. Felizmente, as sementes lançadas anos antes ainda estavam brotando. O grupo manteve a estratégia de conquistar o mercado batendo na porta dos grandes players. Mesmo com o líder fora, a Solinftec lançou em 2009 um software que prmitia a captura de informações das máquinas sem intervenção humana, uma revolução para a época. A Cosan transformou-se em Raízen e, em 2010, após lançar sua primeira geração de computadores de bordo, a Solinftec entregou ao cliente aquela que, então, foi a maior rede de telemetria em tempo real do mundo. Os sócios acompanhavam de perto as operações. Aprendiam as necessidades dos cliente e as levavam para o laboratório de desenvolvimento, em busca de novas soluções. “Se precisasse, dirigíamos colhedoras”, lembra Britaldo. “E até hoje continuamos fazendo do mesmo jeito”. Com isso, conquistaram outros grandes nomes, como os grupos São Martinho e Tereos. Essa abordagem teve impacto decisivo na conquista de mercado, segundo os próprios investidores americanos que agora trazem seus dólares para a Solinftec. “Um dos maiores erros que as novas AgTechs têm cometido é começar
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Cenas da sede da companhia: vários sotaques nos laboratórios, centrais de monitoramento e reuniões de desenvolvimento de produtos PLANT PROJECT Nº6
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Padrão, o presidente, Hersz, o investidor, e os sócios Lázaro Garcia e Anselmo Arce (do alto para baixo), e a sede da empresa em Araçatuba: depois de dominar lavouras de cana, empresa começa expansão para novos mercados
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com a tecnologia e só depois ir ao cliente. E então ficam surpresos com a baixa adesão aos seus produtos”, afirma Roel Collier, diretor do TPG responsável pela América do Sul. Segundo ele, a simplicidade das soluções da Solinftec pesou na decisão de investimento. “A abordagem correta não tem de ser a da ciência espacial, mas a solução de problemas reais dos produtores hoje”. É esse o modelo por trás da Solinfnet, rede de comunicação entre dispositivos que permite a transmissão de dados mesmo em regiões remotas em que não há conexão por internet, desenvolvida em 2013. Ou da Fila única de Transbordo (FUT), sistema que utilizando algoritmos e sensores, otimizou o uso de equipamentos durante a colheita de cana, gerando ganhos de eficiência de até 15% logo no início de operação, economizando combustível e evitando a paralisação das colhedoras por falta de tratores de transbordo. Os dólares vindos da América do Norte dão novo fôlego para a empresa financiar a expansão da Solinftec para novas culturas e mercados. A companhia sofreu com a crise brasileira e, particularmente, do setor sucroenergético, em 2015. “Nunca tínhamos ido um banco até então”, afirma Britaldo. Diante das dificuldades, decidiu rever alguns de seus conceitos, sobretudo o modelo comercial, antes baseado na venda dos sistemas integrados, que incluíam softwares e equipamentos proprietários. Adotou, então, o modelo SAS (software as a service). Com isso, as receitas recorrentes triplicaram. Também foi acelerada a decisão de atuar em novas verticais, como soja, milho e algodão. O crescimento voltou. “Com o novo posicionamento estratégico, em menos de um ano
o número de funcionários praticamente triplicou, de 60 para cerca de 160”, comemora Renato Hersz, investidor e membro do conselho de administração. No sobradão de Araçatuba, a área antes destinada ao lazer dos funcionários hoje serve como sala de treinamento. Nos corredores, ouve-se vários sotaques, além do portunhol. Executivos, engenheiros e cientistas de vários estados foram contratados. Em cada sala, há um novo produto em desenvolvimento. Estações meteorológicas portáteis e pluviômetros inteligentes, armadilhas de pragas conectadas em rede, soluções integradas de logística para sincronizar a velocidade da colheita às moendas das usinas de cana. “O desafio é manter o modelo de atendimento com velocidade no desenvolvimento”, afirma Hersz. Aqui, mais uma vez, a presença do TPG pode gerar frutos. Especializado em tecnologia, o fundo possui um rol de empresas que podem se tornar parceiras, gerando sinergias lucrativas. “Entramos em uma rede poderosa”, avalia. Para Collier, do TPG, o fundo pode contribuir com a identificação de talentos, no Brasil e fora dele, para incorporar ao time da
UMA DÉCADA EM CAMPO Fundação da empresa em Araçatuba/Instalação do primeiro sistema de monitoramento por telemetria em tempo real
2007
Criação de software que eliminava ação humana na determinação das ações
2009
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Solinftec, e promover a troca de conhecimento entre especialistas dos ecossistemas do Vale do Silício e do interior do Brasil. Vinte dos recém-contratados da Solinftec vão para atuar no escritório de Nova Mutum, em Mato Grosso, aberto para atender os clientes da área de grãos. Para lá foi deslocado um dos fundadores, Anselmo Del Toro Arce, e uma equipe de desenvolvimento, com engenheiros mecatrônico, eletrônico, de computação, meteorologistas e especialistas em agricultura de precisão. “Somos uma empresa de nerds, mas sem medo de campo”, afirma Daniel Padrão. A estratégia de abrir logo as grandes porteiras foi repetida na região. Três dos cinco maiores produtores de grãos do País já estão testando as soluções da companhia, que, em 12 operações diferentes, monitoram 400 mil hectares de lavouras.
Uso de sistemas de rastreamento geográfico para certificação de origem produção. Criação do Certificado Digital de Cana
2011
Lançamento da Fila única de Transbordo, sistema que, através de sensores e algoritmos, gera eficiência na distribuição de tratores e caminhões nas áreas de colheita de cana, promovendo substanciais reduções de custo na operação
2012
Na longa estrada dos cubanos radicados em Araçatuba também há placas apontando para o Exterior. Com a chegada do TPG, a empresa que se tornou um dos mais bem-sucedidos segredos da tecnologia brasileira começa a ganhar visibilidade e prospectar clientes na América Latina, Austrália e Estados Unidos. “Com os sistemas desenhados para as operações de grãos, passamos a poder oferecer uma plataforma global”, diz o presidente da empresa. As metas ambiciosas da Solinftec contrastam com a tran-
Lançamento da Solinfnet, tecnologia de rede sem fio que conecta aparelhos e permite a transmissão de dados mesmo em locais sem redes de telefonia ou internet
2013
Início da operação em outros segmentos, como grãos, algodão e citros, através de parceria de desenvolvimento com grandes produtores
2015
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quilidade da vizinhança. Britaldo e seus sócios esperam que, pelo menos para eles, a rotina de trabalho em silêncio continue, enquanto a empresa e seus executivos passam a ser mais reconhecidos, assim como o ecossistema agtech brasileiro. Visionário, ele se encanta com as possibilidades da empresa no futuro, enquanto repete, como mantra, uma frase que se ouve com frequência no sobrado de Araçatuba e que espera manter verdadeira por muitos anos: “Nunca perdemos um cliente”.
Desenvolvimento de estações meteorológicas telemétricas conectadas a pulverizadores, permitindo decisões mais precisas na aplicação de defenesivos
2016
Aporte do grupo TPG-Art. Abertura de escritório em Nova Mutum (MT), ampliando ação no segmento de grãos. Início da Internacionalização
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O QUE A SAP ESTÁ FAZENDO AQUI?
UMA BELA EXPANSÃO Como, com a ajuda da tecnologia SAP em sua gestão, a Belagrícola, uma das maiores redes de revendas e beneficiamento de grãos do País, pretende dobrar de tamanho em cinco anos
N O presidente João Colofatti e a unidade de sementes da empresa: “Com a SAP, teremos a tecnologia com a simplicidade do campo”
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o princípio, em 1985, era apenas uma portinha para vender adubos aos agricultores na pequena Bela Vista do Paraíso, na região de Londrina, norte do Paraná. Em pouco mais de três décadas, a Belagrícola transformou-se em uma potência, com receita de R$ 2,8 bilhões, 1,8 mil funcionários, 55 lojas, 38 unidades de recebimento e beneficiamento de grãos e uma empresa produtora de sementes se soja, trigo e feijão, que atua em três estados. “Sempre fomos ligados em tecnologia e serviços. Isso nos transformou em referência técnica e de relacionamento com os clientes”, afirma o fundador e presidente da companhia, João Colofatti, quando lhe perguntam qual o segredo de um crescimento tão rápido. Hoje comandada a partir de uma moderna sede em Londrina, a Belagrícola prepara uma
nova fase de expansão. “Queremos dobrar de tamanho em cinco anos”, diz Colofatti. “Meu desafio é fazer em quatro.” Nos últimos meses, a empresa paranaense vem preparando o terreno para a próxima era de crescimento. O passo decisivo nesse sentido foi justamente buscar no mercado as ferramentas mais modernas para otimizar e agilizar a gestão da companhia. “Até pouco tempo atrás tínhamos dois sistemas distintos, que não conversavam entre si, para gerir as duas áreas de atuação da empresa, os insumos e a originação de grãos”, explica Alberto Araújo, COO da Belagrícola. “Isso acarretava dificuldades para encontrar sinergias e demora para gerar relatórios analíticos para tomada de decisões.” A solução para esse ponto crítico nos planos de expansão da Belagrícola foi
Plant + SAP
BELAGRÍCOLA EM NÚMEROS
55 38 1,8
PONTOS DE VENDA DE INSUMOS UNIDADES DE RECEBIMENTO DE GRÃOS
MIL FUNCIONÁRIOS
R$ 2,8
BILHÕES DE FATURAMENTO
(2016)
ÁREA DE ATUAÇÃO: CENTRO E NORTE DO PARANÁ, NORTE PIONEIRO, CAMPOS GERAIS, SUL DO PARANÁ
encontrada nas plataformas da SAP, líder mundial no segmento de softwares empresariais. Reconhecida por oferecer o estado da arte em softwares de gestão para os principais setores industriais e de serviços, a multinacional alemã vem ganhando espaço também no agronegócio brasileiro, com soluções disponíveis para empresas de vários portes. “O Brasil é um dos maiores focos da SAP quando falamos de agronegócio, não apenas pela quantidade de clientes já existentes e potenciais, mas também pela representatividade do setor em relação ao PIB”, afirma Rafael Okuda, diretor para a área na SAP. “Hoje conseguimos atender as empresas em toda a cadeia do agronegócio, centralizando as informações em tempo real e oferecendo melhor planejamento, acompanhamento e execução inclusive para processos específicos do agronegócio brasileiro.” A plataforma SAP ainda está em fase de implantação na Belagrícola. Araújo já enxerga, no entanto, os benefícios que começam a surgir com a integração dos sistemas dos diferentes negócios da empresa. “A grande vantagem é a criação de uma base única e amigável para a geração de relatório no momento de cada transação”, explica. Dessa forma, será possível para a empresa conhecer melhor cada cliente, oferecer produtos e serviços mais adequados e, com isso, aumentar receita e rentabilidade dentro da base atual. Antes da era SAP, um único cliente poderia ter relação com até
três diferentes áreas da empresa, adquirindo insumos, vendendo sua produção e fazendo contratos de barter, mecanismo financeiro que permite o uso da produção como garantia e moeda para a aquisição de bens, muito comum nas transações agropecuárias. “Com a SAP, vamos levar a geração de dados para o campo, de maneira móvel, no instante em que eles acontecem”, comemora Araújo. Além da agilidade, o sistema oferece mais confiabilidade. Uma vez gerados, os dados são únicos e utilizados em todas as possíveis operações, sem interferência humana. Com isso, os processos ficam menos suscetíveis a fraudes. “Com a SAP, temos acesso às melhores práticas de governança utilizadas nas empresas, protegendo nossos dados e os dos clientes”, diz. Aplicada em recursos humanos, a solução SAP permite também o gerenciamento de desempenho em nível pessoal, permitindo a criação de novos modelos de remuneração por resultado, além de uma melhor análise de informações para a decisão de transferências, méritos e admissões. “Com a SAP, teremos tecnologia com a simplicidade do campo, que é o nosso lema”, afirma o fundador, João Colofatti. “Queremos ser referência no setor, trazer o padrão da indústria para o nosso negócio”, completa Araújo. ONDE A SAP AJUDA A EMPRESA • Integração de sistemas dos vários negócios • Criação de base única e amigável para geração de relatórios gerenciais • Maior conhecimento dos clientes • Melhor gestão de RH, com gerenciamento de desempenho em nível pessoal e possibilidade de criar modelo de remuneração por resultado • Melhor governança, com proteção de dados da empresa e dos clientes e menor risco de fraudes • Acesso a banco de práticas das melhores empresas do mercado
Use seu leitor de QR Code para ir direto ao vídeo da Série “O Que a SAP Está Fazendo Aqui?”
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INOVAÇÃO COM SOTAQUE GAÚCHO STARTAGRO leva debate AgTech para dentro da Expointer, maior feira agropecuária do Sul do País
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azia frio do lado de fora, como é comum em Esteio (cidade gaúcha vizinha a Porto Alegre) no inverno. Mas os debates foram quentes no ambiente aconchegante da Casa da RBS no parque de exposições da Expointer, no dia 30 de agosto passado. Ali, por iniciativa da plataforma STARTAGRO, os produtores e empreendedores do Rio Grande do Sul discutiram, pela primeira vez, os desafios e benefícios do uso da tecnologia no agronegócio. Organizado em parceria com o I-Uma, o evento colocou o AgTech em foco dentro da maior feira agrícola do Sul do País e debateu o que o ecossistema de inovação gaúcho tem a oferecer em termos de novas tecnologias ao agro de outras áreas do Brasil e também do mundo. O encontro contou com patrocínio da SAP, Azul Linhas Aéreas e Jacto, e teve apoio do Grupo RBS. O STARTAGRO EXPOINTER reuniu startups inovadoras, empresas de tecnologia e do agronegócio, produtores rurais, academia, investidores e especialistas do setor. Um dos assuntos debatidos foi a conexão entre academia, empresas e startups no vizinho Vale do Rio dos Sinos, onde a Unisinos mantém um Parque Tecnológico com papel importante do desenvolvimento de soluções para a agropecuária. É lá, por exemplo, que está instalado
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Com a participação de: Daniel Duarte, executivo-chefe de inovação e experiência do cliente na SAP Labs Latin America Luís Felipe Maldaner, CEO do Tecnosinos e Diretor da Unitec (Unidade de Inovação e Tecnologia da Unisinos) José Américo, presidente da I-Uma Luiz Fernando Sá, diretor Editorial da Plant Project e StartAgro
o SAP Labs, um centro de inovação da companhia alemã de tecnologia. O evento também discutiu co mo o histórico empreendedor do Rio Grande do Sul pode auxiliar na expansão do ecossistema AgTech. Além disso, o encontro con tou com uma entrevista com um dos sócios da Solinftec, a startup de tecnologia agrícola que recebeu aporte do fundo que investiu no Uber e no Airbnb, pitches de startups e um diálogo entre um produtor consagrado e um jovem empreendedor de tecnologia para o agronegócio. O consenso entre os presentes foi o de que é preciso estreitar as conexões entre as iniciativas AgTech em todo o País, estimulando o intercâmbio de ideias e experiências. Confira mais nas páginas a seguir.
Expointer
A EDUCAÇÃO E O EMPREENDEDORISMO AGTECH Os principais ecossistemas de empreendedorismo são construídos em torno de grandes universidades, que promovem o conhecimento e o compartilham com os inovadores. O exemplo mais conhecido disso é o Vale do Silício, que tem na Universidade Stanford seu centro gravitacional. Em ambientes como esse, há uma forte conexão entre a academia e as empresas, que se aproximam das universidades para buscar inovação na fonte e também recrutar talentos ou conhecer startups promissoras. Partindo desse pano de fundo, o STARTAGRO EXPOINTER dis-
APRESENTA:
PATROCÍNIO:
Baseado no painel “Da academia para o mercado – o papel da educação de qualidade no desenvolvimento de tecnologias e do
COMPANHIA AÉREA OFICIAL:
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cutiu como a presença de polos de inovação no Rio Grande do Sul pode impulsionar o movimento AgTech no estado. A região do Vale do Rio dos Sinos é um dos principais casos no País de conexão bem-sucedida entre academia e capital privado, com a universidade Unisinos trabalhando de forma conjunta com empresas de vários setores, como o de tecnologia e o de agronegócio. Só para dar um exemplo, a instituição lançou em julho deste ano, junto com a companhia alemã de tecnologia SAP, um programa de incubação de startups com o objetivo de impulsionar novos negócios e fortalecer o Brasil e a América Latina como um hub de desenvolvimento de soluções de internet das coisas. “O programa desenvolvido com a SAP trabalha com o conceito de inovação aberta. Além de fomentarmos o empreendedorismo, estamos próximos da indústria, que está em busca de inovação por meio de projetos com startups”, afirmou Luís Felipe Maldaner, CEO do Tecnosinos e diretor da Unitec (Unidade de Inovação e Tecnologia da Unisinos). Daniel Duarte, da SAP, destacou a importância do apoio aos empreendedores no momento em que tudo começa, ou seja, quando ele tem o insight de criar
REALIZAÇÃO:
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José Américo: “Quem está no mundo do agronegócio já tem um ambiente propício para explorar todo o conhecimento disponível, valendo-se para isso da tecnologia e do conhecimento de mercado. E a universidade tem condições de atender a essas demandas de negócios” Luís Felipe Maldaner: “Podemos avançar rapidamente em tecnologia para o agronegócio se trouxermos para o campo as pesquisas produzidas pelas universidades. É preciso transformar a pesquisa em produto e inovação. Por isso aqui trabalhamos sempre conectados: pesquisa, indústria e startups” Daniel Duarte: “Quando vai falar com uma pessoa mais velha, seja o pai dele, na fazenda, seja o mercado, o jovem vai com uma ideia. E o Brasil não acredita em ideias. Acredita em startups que faturam. É diferente do que acontece no Vale do Silício ou em Berlim, por exemplo, onde uma boa ideia muitas vezes convence o investidor. É comum ouvir por aí: ‘O projeto é bom, mas esse empreendedor é muito jovem. Ele vai esquecer tudo no fim de semana e vai para a praia’. Não deve ser assim. É preciso acreditar em ideias” 126
uma startup. “Quando vai falar com uma pessoa mais velha, seja o pai dele, na fazenda, seja o mercado, o jovem vai com uma ideia. E o Brasil não acredita em ideias. Acredita em startups que faturam. Mas é preciso acreditar em ideias”. O intercâmbio entre os atores da cadeia da inovação também é benéfico porque pode acelerar soluções de que o campo necessita, observou José Américo, do I-Uma, que apresentou o Agroeduc, um sistema que usa a tecnologia de ponta para levar educação aos produtores rurais. “Quem está no agro já tem um ambiente propício para explorar todo o conhecimento de mercado. E a universidade tem condições de atender a essas demandas de negócios”.
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ESPÍRITO DESBRAVADOR Baseado no painel “Do Sul para o Brasil e o mundo – o que o ecossistema gaúcho tem a oferecer ao agronegócio” O Rio Grande do Sul tem tradição empreendedora no agronegócio. São vários os exemplos de produtores que, décadas atrás, começaram a desbravar outras áreas do País, desenvolvendo a atividade em locais como o Centro-Oeste, por exemplo. No atual contexto da economia, o que o ecossistema gaúcho tem a oferecer em termos de novas tecnologias para o agro de outras regiões brasileiras e para o restante do mundo? Como romper fronteiras e prospectar novos mercados? Para Gedeão Pereira, vice-presidente da Farsul, o histórico realizador dos agricultores gaúchos está vivo nas novas startups AgTe-
Com a participação de: Gedeão Pereira, vice-presidente da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) Pedro Dusso, CEO e um dos fundadores da startup Aegro Clayton Melo (moderador)
Gedeão Pereira: “É preciso de gente com capacitação para acompanhar o desenvolvimento tecnológico do mundo – e hoje nós temos nas máquinas a mesma tecnologia embarcada que existe nos EUA. Nas feiras agrícolas hoje você vê muitos jovens dos 18 aos 30 anos. É fantástico. Significa que o agronegócio brasileiro será cada mais pujante, porque tem essa juventude interagindo com essas coisas e querendo fazer”
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chs que brotam no estado. Os garotos que saem da faculdade e retornam ao campo por meio da tecnologia ajudam a colocar a inovação no radar de todo o setor, estimulando os produtores a experimentar novas soluções. “Nas feiras agrícolas hoje você vê muitos jovens com idade entre 18 e 30 anos. É fantásti co. Significa que o agronegócio bra sileiro será cada mais pujante, porque tem a juventude interagindo com essas coisas e querendo fazer.” A Aegro é um desses exemplos. Fundada em 2015, a startup desenvolveu um software de gestão do processo agrícola que auxilia da semeadura à colheita. Depois de ser incubada no Centro de Empreendimentos em
Pedro Dusso: “Existem profissionais de qualidade no agronegócio brasileiro, basta ver a quantidade de gente formada em universidades de excelência como a Esalq. O País tem um mercado ótimo para a tecnologia, algo que não aconteceu com o negócio de informática. Assim, o Brasil deixa de ser um mercado a ser explorado por alguém que desenvolveu uma solução lá fora para ser replicada aqui dentro. Como nossa agricultura precisa resolver problemas, essas soluções são desenvolvidas aqui dentro” PLANT PROJECT Nº6
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A Casa RBS na Expointer: espaço para eventos reuniu cerca de 100 pessoas para os debates da StartAgro
Informática (CEI) do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), a empresa cresceu e recebeu, há alguns meses, aporte do Fundo de Inovação Paulista, gerido pela SP Ventures. Com o recurso, a empresa expandiu operações. Hoje ela tem escritório em Piracicaba, na Usina de Inovação Monte Alegre, e já ensaia a comercialização de seus serviços para países da América Latina. Para Pedro Dusso, um dos fundadores, o que favorece startups AgTechs como a Aegro é o ambiente fértil do agronegócio brasileiro. Além de contar com universidades de ponta no setor, como a Esalq, as próprias características da agricultura tropical dificultam a entrada de concorrentes internacionais. “No caso do agro, é a primeira vez que há um mercado puxando o desenvolvimento no País. Assim, o Brasil deixa de ser um mercado a ser explorado por alguém que desenvolveu uma solução lá fora que depois é replicada aqui dentro. Como ninguém no exterior tem uma tecnologia agrícola que possa ser exportar para cá e nossa agricultura precisa resolver problemas, essas soluções são desenvolvidas no próprio País.” 128
O caso da Solinftec, AgTech brasileira que recebeu aporte dos mesmos investidores de Uber e AirBNB, foi apresentado no evento em um talk show com Renato Hersz, sócio e membro do Conselho de Administração da empresa. Para conhecer o que atraiu os americanos do fundo TPG, leia reportagem na pág. 116
O evento StartAgro Expointer abriu espaço para que duas startups gaúchas apresentassem seus pitches diante da plateia. Matheus Zeuch, CEO da Brabov, mostrou o aplicativo de gerenciamento de rebanhos
O segundo pitch ficou a cargo de Eduardo Goerl, CEO da Arpac. Incubada na Unitec, em São Leopoldo (RS), a empresa produz drones para pulverização de lavouras. O produto está em fase de testes
Expointer
GERAÇÕES DE INOVADORES Baseado no painel “Diálogo de Gerações – o que um empresário desbravador e consagrado do agronegócio tem a ensinar a um jovem empreendedor AgTech (e vice-versa)?” O agronegócio brasileiro tem histórico de inovação. Se hoje o País é uma potência mundial no setor, isso se deve a soluções inovadoras que produtores de várias gerações buscaram, abrindo caminhos para todos os participantes dessa cadeia de negócios. Agora, com o novíssimo segmento AgTech, com forte influência da tecnologia digital, uma nova fronteira se abre. Nesse contexto, o que um empresário desbravador e consagrado do agronegócio tem a ensinar a um jovem empreendedor AgTech (e vice-versa)? O STARTAGRO EXPOINTER convidou para esse bate-papo Pedro Monteiro Lopes, fundador do Grupo Pitangueira e um dos mais premiados pecuaristas do Brasil, e o jovem empreendedor Felipe Vinhas, criador da startup FRV Software. Além de uma conversa agradável, foi uma troca de visões enriquecedora. Pedro Monteiro contou um pouco de sua história, que sempre esteve ligada ao agronegócio, e da busca por levar inovação para suas propriedades ao longo dos anos. É o caso, por exemplo, do uso de técnicas modernas de inseminação e seleção de embriões, nas quais o Grupo Pitangueira se destaca. Sobre as próximas etapas do mercado, altamente influenciadas pela tecnologia digital, o pecuarista é otimista e ressalta o papel dos novos empreendedores nesse processo. “É muito importante ter os jovens buscando soluções para o agronegócio. Esse mundo novo é para vocês”, afirmou. Com 31 anos de idade, Felipe Vinhas destacou o quanto personagens como Pedro Monteiro Lopes são importantes para a sua geração. “Quando disse para meus amigos que participaria de um debate com o senhor Pedro
Com a participação de: Pedro Monteiro Lopes, pecuarista, fundador do Grupo Pitangueira Felipe Vinhas, fundador da startup FRV Software Clayton Melo (moderador)
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o pessoal nem acreditou. É uma oportunidade única poder trocar experiências com alguém como ele”, disse no painel. Nascido em Pelotas, Felipe cresceu respirando os ares do campo, por influência familiar, foi estudar tecnologia e depois aliou as duas coisas na criou, a FRV Software, onde desenvolveu um software para gerenciamento de propriedades voltadas à produção animal. Ele é formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pela Universidade Católica de Pelotas (UCPEL). “Uma coisa importante hoje em dia, comum a muitos da minha geração, é a possibilidade de aliar o conhecimento em tecnologia com a tradição rural”.
Felipe Vinhas: “Uma coisa importante hoje em dia, comum a muitos da minha geração, é a possibilidade de aliar o conhecimento em tecnologia com a tradição rural” Pedro Monteiro Lopes: “É muito importante ter os jovens buscando soluções para o agronegócio. Esse mundo novo é para vocês” PLANT PROJECT Nº6
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Plant + HSM + CBN
O VALE DO SILÍCIO E A COMIDA Como a tecnologia de ponta pode mudar a maneira como nos alimentamos e produzimos Por Luis Augusto Lobão Mendes*
Estive recentemente em uma missão ao Vale do Silício. O foco eram as Food Techs, empresas que estão trazendo tecnologia de ponta para o processo de produção de alimentos. A constatação mais assustadoramente fantástica que tive nessa viagem, e talvez o aprendizado mais significativo, foi a certeza de que tudo o que pode ser imaginado, neste momento da história da raça humana, poderá ser criado. O advento das novas tecnologias e principalmente o poder de disruptura que elas podem causar nos setores, quando combinadas, é talvez a grande revolução neste momento. Entramos neste século com um relacionamento novo com a comida. Os mercados de alimentos orgânicos crescem, baixo consumo de gorduras e outros ingredientes complementam o valor dos suplementos nutricionais. Estes novos hábitos alimentares, estão aumentando, juntamente com lanches “saudáveis” embalados. As marcas da loja mais baratas ganham popularidade e se tornam mais sofisticadas na sequência da recessão global. As opções gastronômicas estão disponíveis em fast food, refeições informais e ofertas de refeições rápidas. Na visita a empresas absolutamente inovadores, pode-se constatar al gumas fortes tendências para o futuro da comida. Vamos a elas:
A ÉTICA DA SUSTENTABILIDADE: Da impressão digital de carne à GeoCertificação, a rastreabilidade é a chave. O alimento é uma experiência de comunidade, uma expressão de ética e um caminho para a saúde individual, social e ambiental. Não é somente uma impressão, já conseguimos a assistir a movimentos relevantes neste sentido. A Nestlé USA adquiriu a Sweet Earth, um fabricante de alimentos à base de plantas, sediada na Califórnia. O portfólio da Sweet Earth possui mais de 50 produtos, para todas as refeições, diversificando as ofertas da Nestlé. Maior empresa de alimentos do mundo, a Nestlé não divulgou o preço de compra. A Sweet Earth continuará a ser gerida por seus fundadores e permanecerá independente com o apoio da Nestlé. Quem poderia imaginar um hambúrguer para carnívoros feito de fibra vegetal? Se eu tivesse apenas conversado com as pessoas que criaram esse hambúrguer e visto o laboratório onde foi feito, eu não estaria convencido de que realmente teria gosto e textura de carne. Provar este hambúrguer foi simplesmente
SEMENTE NA CIDADE O maior negócio do Brasil tem cases de excelência, tecnologia e muito a compartilhar com os outros setores da economia. Foi a partir dessa constatação que PLANT PROJECT uniu-se à HSM, maior de plataforma de educação executiva da Amércia Latina, e à rádio CBN para lançar o projeto Futuro Fértil, uma grande jornada de conteúdo que vai levar o agronegócio para o centro dos principais debates sobre gestão no País. Uma amostra do que vem pela 130
frente pôde ser conferida no lançamento do projeto, que aconteceu no dia 5 de setembro, em São Paulo. O cenário foi um moderno espaço da rede WeWork. Nomes relevantes do setor, o CEO da John Deere, Paulo Herrmann, e o pecuarista Victor Campanelli, maior confinador de São Paulo, e Rafael Okuda, diretor para Agronegócio da SAP Brasil, participaram de uma discussão em torno dos grandes desafios da agropecuária nacional, juntamente com Luís Lo-
fantástico. O hambúrguer da Impossible Foods (comidas impossíveis) é feito de ingredientes simples e naturais, como o trigo, o óleo e fibras de coco e as batatas. Eles usam 0% de carne, o Hambúrguer Impossível usa uma fração dos recursos naturais da Terra. Em comparação com o gado, afirma usar 95% menos terra, 74% menos água e gerar 87% menos emissões de gases de efeito estufa. E é 100% livre de hormônios, antibióticos e ingredientes artificiais. É feito inteiramente de plantas, mas também para pessoas que amam carne. Pode criar um novo paradigma na nossa alimentação. EXPERIÊNCIA DIGITAL: O futuro é digital para todos os setores. Consumidores estão totalmente empoderados pelas novas tecnologias. Seu processo de consumo mudou, ele começa com busca, ordenação, revisão e pesquisa para consumir, principalmente quanto a questão
de se alimentar. Os aplicativos desmistificam rótulos e mantêm as coisas transparentes. Grande parte dos consumidores de utilizam o aplicativo Pinterest interagem com conteúdos relacionados com alimentos; 21% dizem ter feito compras subsequentes. Nós gostamos de comida on-line quase mais do que em nossos pratos: pesquisa sugere que a publicação excessiva e a visualização de imagens de alimentos em sites de redes sociais, como o Instagram, podem diminuir a nossa satisfação de alimentos reais ao comer. A comida é, e será cada vez mais uma experiência digital plena. A RENOVAÇÃO DA CONVENIÊNCIA: Comer com conveniência e rápido não significa mais comer uma comida sem qualidade e ruim. Caminhões móveis e postos de gasolina podem atender questões de qualidade gourmet. Não tem que custar uma fortuna. Comida excelente pode vir de qualquer
lugar. Os compromissos de fast food para consistência e conveniência deverão incluir a sustentabilidade, a responsabilidade e os ingredientes de origem local. A ASCENSÃO DOS ALIMENTOS ARTESANAIS: O comércio eletrônico se expande através de mercearias como Greenling, Good Eggs, Organisticas, Fresh Direct e Mile High Organics. A Food Hub redefine a oferta de grandes compradores, como escolas e hospitais. O pedido é on-line. As grandes redes também, como a Tesco no Reino Unido, realizam lojas “clicar e coletar” para complementar a abordagem de varejo convencional.
SAÚDE E ALIMENTOS FUNCIONAIS: Consumidores começam a pensar cada vez mais sobre a saúde e como se alimentar, pensavam sobre ingredientes e passam a se preocupar com a segurança alimentar. Pensar Lobão, da HSM, em alimentos em termos o pecuarista de ingredientes constituintes, Campanelli, valor nutricional, Okuda, da SAP, suplementos dietéticos, Herrmann, fortificações e efeitos da John Deere, alérgicos ou medicinais leva a e Sá, da Plant: uma busca contínua de saúde, debate fértil fornecendo super-alimentos de alto impacto. *Professor e diretor da HSM
bão, diretor da HSM, Luiz Fernando Sá, diretor da Plant, e o âncora Roberto Nonato, da CBN. O encontro, que teve na plateia cerca de 50 convidados, entre produtores e executivos, foi gravado e transformado em um podcast, incluído entre os conteúdos do projeto Futuro Fértil na plataforma HSM Experience. Nos próximos meses, reportagens, vídeos e entrevistas tratando do agronegócio serão agregadas à jornada, trazendo importantes insights sobre gestão para os profissionais que desejam conhecer mais sobre a economia rural. O encontro da cidade com o campo será ainda mais produtivo durante o HSM Expo, maior evento de gestão da América Latina, que acontece entre os dias 6 e 8 de novembro em São Paulo. Lá, pela
primeira vez, o agronegócio terá um espaço inteiramente dedicado ao tema, o lounge Futuro Fértil, que abrigará palestras, debates e networking com grandes nomes da área. “A sociedade urbana, que hoje representa 86% da população brasileira, precisa ser bem informada para que possa tomar as decisões adequadas e se posicionar em temas de sustentabilidade e rastreabilidade. Hoje o agronegócio está bem avançado nisso”, afirmou Herrmann. “Por isso essa iniciativa de HSM, CBN e Plant é extremamente importante”. Okuda, da SAP, patrocinadora do projeto, reforça: “Essa parceria permite levarmos ainda mais a mensagem da tecnologia em um momento em que o Brasil e o mundo precisam de um agronegócio mais produtivo”. PLANT PROJECT Nº6
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