Movimento Publicação criada pelos alunos do 1º e 2º períodos do curso de Jornalismo da Universidade Fumec
A estigmatização do corpo perfeito traz busca pelo “fitness”
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Estudantes burlam as A luta pela arte do leis para entrar no corpo nu ganha curso de medicina espaço e visibilidade
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Índice Expediente Conselho de Curadores: Presidente: Prof. Antonio Carlos Diniz Murta Vice-Presidente: Profª. Silvana Lourenço Lobo Presidente do Conselho Executivo: Prof. Air Rabelo Membros: Prof. Clodoaldo Lopes Nizza Junior Prof. Daniel Jardim Pardini Prof. João Carlos de Castro Silva Prof. Pedro Arthur Victer Prof. Renaldo Sodré Prof. Sergio Arreguy Soares Conselho Executivo: Presidente: Prof. Air Rabelo Membros: Prof. Antônio Marcos Nohmi Prof. Eduardo Georges Mesquita Prof. Fernando de Melo Nogueira Prof. Marco Túlio de Freitas Reitoria: Reitor: Prof. Fernando de Melo Nogueira Vice-Reitor: Prof. Guilherme Guazzi Rodrigues FCH: Diretor-Geral Prof. Antônio Marcos Nohmi Diretor de Ensino: Prof. João Batista de Mendonça Filho Coord. do Curso de Jornalismo: Prof. Ismar Madeira Cunha Júnior Revista Movimento: Editores: Pietra Pessoa e João Eduardo Coordenação de Projeto Gráfico: Prof. Dunya Azevedo Revisão Textual e de Conteúdo: Prof. Aurélio José da Silva Técnico do Lab. de Produção Gráfica: Daniel Washington Soares Martins Ilustração da capa: Vanessa Borges
Editorial João Eduardo e Pietra Pessoa
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Ser feliz ou fazer dieta? Vitória Marques
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O ‘vale tudo’ em busca de um diploma de medicina Catherina Dias 08 A poesia do corpo nu Letícia Gontijo e Juliana Corrêa
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Além da barricada Laura França Nogueira
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Ocupa EEFFTO Maria Fernanda Barbosa e Pedro de Castro
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Pokemon GO e nossa sociedade Bruno Lara Resende
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Colecionadores de Histórias Ayllana Ferreira, Danielle Lopes e Maria Rita Pirani 20 Fotolovers: os amantes da fotografia como arte Bruno Riccelli 24 Jogamos limpo com Belo Horizonte? Ana Clara Barcelos e Lizandra Andrade
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Pampulha: Patrimônio Cultural da Humanidade? Marina Ramos e Philippe Fraga 28 O Brasil, o mundo e o 45º presidente americano Franklin Bellone Broges e Pedro 30 Revistas vexatórias: perto do fim Fernanda Vasconcelos e Pietra Pessoa
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Vagão cor-de-rosa: avanço ou retrocesso? Bruna Lima e Pollyana Gradisse
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Roxanne Ana Clara Barcelos
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ovimentar, agir, pulsar Esta publicação é o trabalho de conclusão de semestre da disciplina “Projetos Gráficos em Jornalismo”, cursada pelos alunos do primeiro e segundo períodos da Universidade FUMEC. Queremos aqui agradecer a Prof. Dúnya Azevedo e ao Prof. Aurélio José pelo apoio incondicional e pelo carinho conosco. A qualidade desta publicação e o empenho de nós alunos ressalta a qualidade de nossos professores, que sem dúvida alguma amam o que fazem, e nos inspiram a fazer o mesmo. A “Movimento” não é simplesmente uma revista. É um espaço onde jovens estudantes demonstram suas habilidades e expressam sua visão de mundo, sua coragem de mudar e de serem protagonistas. Exercendo a função de jornalistas, procuramos nestas páginas vislumbrar o amanhã tão sonhado. Lutar por uma sociedade sem preconceitos, sem guerras e com respeito é a nossa missão. Isso é movimento! Se tomarmos como base a definição da palavra no dicionário, veremos que movimento nada mais é do que a variação de espaço de um objeto no decorrer do tempo. Nisto consiste a magia do mundo e de suas coisas: o mover entre elas. Talvez isto me encantado na escolha do título desta publicação. Enquanto jornalistas, vivemos do movimento, do pulsar, do agir, do respirar. Nesta edição, você encontrará publicações que guiarão você, caro leitor, pelos mais diferentes temas. A eleição americana e o impacto na política americana, as ocupações estudantis contra medidas do governo Temer, o escândalo da venda de vagas nos cursos de medicina, a dor das famílias que passam pelas revistas vexatórias nos presídios, e outras matérias produzidas por nós alunos. Todas elas querem levar você à reflexão e a um diálogo amplo com os mais diferentes temas que circundam a sociedade. Tenha uma boa leitura!
Equipe Editorial
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Ser feliz ou fazer
dieta?
É o dilema de muitas pessoas na tentativa de ser “fitness“
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Vitória Marques
Ana Paula, 19, optou pela academia Vitória Marques As várias notícias sobre obesidade e outros males que o sedentarismo pode trazer vem alertando a população que responde a isso com uma simples expressão: “fitness“. Incluindo pessoas que se sentem insatisfeitas com seu corpo pela pressão da mídia em expor seus padrões, que também entram no jogo. É difícil encontrar alguém que esteja totalmente satisfeito com seu corpo, in-
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dependente da faixa etária. Alguns dizem que querem encorpar e outros que querem emagrecer. Para esse desejo há diversas justificativas, como saúde e o querer pertencer a esse padrão estético. Ana Paula, estudante de 19 anos, fala que “isso não me afetou, mas me motivou a querer ter um corpo um pouco diferente. Por eu ser muito magra e ter esse padrão estético de mais corpo (coxa, bunda e barriga chapada), minha motivação de ir para a academia e procurar por esse padrão, aumentou”. Ou seja, para muitas pessoas, o corpo além de ser um escudo necessário é também um “cartão de apresentação”, sua imagem é importante pois é a partir dela que as pessoas te julgam, criando então uma barreira para a aceitação em sociedade. Este julgamento foi construído pela própria sociedade, mas não é algo recente, foi algo criado, até mesmo, para criar senso crítico, e com o passar dos anos foi construído um perfil estético perfeito, e as pessoas começaram a ir em busca dele. Ana Clara, estudante de 18 anos, conta que faz dieta há muito tempo, mas sem satisfação. “Sempre me frustrei pelo meu baixo metabolismo e a falta de resultado, isso acabou me impulsionando a engordar mais. Então, há um ano e dois meses, resolvi fazer a cirurgia bariátrica. A ideia
surgiu do meu pai. Um amigo de trabalho dele havia feito a cirurgia pelo plano de saúde e hoje está muito feliz com os resultados. Com isso, acabei me espelhando nesse amigo e a minha vontade de fazer a cirurgia aumentava”. A estudante conta que o ato de as pessoas exaltarem um padrão de beleza acabram realmente a motivando a correr atrás de certos meios para emagrecer. Para ela, nunca foi magra e também nunca teve um corpo considerado “bom” (hoje em dia, sim). A jovem ainda ressalta que se sentia afetada com todos ao seu redor a mandando emagrecer e que, inclusive, seu objetivo era abandonar o estado diabético, perder peso para sair da zona de obesidade e estar contente com seu corpo, sem “sofrer” para achar roupas. “Hoje, conquistei todos os meus objetivos, mas, atualmente, tenho um objetivo novo: reduzir a flacidez nos braços e pernas com ajuda da academia”, ressalta. A doença da aparência Ninguém está imune da “doença da aparência”, o questionamento sobre o corpo sempre chega, seja num momento de fraqueza, seja numa simples consulta médica. Algumas pessoas conseguem se sentir bem com o próprio corpo e ir levando a vida de
Vitória Marques
Ana Clara, 18, que fez bariatrica uma forma mais “light”, aceitando que ninguém é perfeito. Para outras pessoas, a palavra dieta soa como um grito de terror. Alexandre, estudante de 25 anos, afirma que sempre quis ter um corpo mais magro. “Eu sempre me encarei gordo e sentia que não me encaixava nos padrões estéticos e, não só por isso, mas também por questão de bem estar e saúde. Eu não me sinto bem assim do jeito que estou agora, eu quero emagrecer, não me sinto realizado e muito menos satis-
feito. Ter o meu corpo e a minha forma é o meu objetivo”, afirma. A psicóloga Marjorie Fernandes explica que a procura por tratamentos com essas características são cada vez mais frequentes e que essa pressão exercida pela sociedade pode sim acarretar em doenças mentais. “É um modelo ideológico, que está sendo pregado há algum tempo na sociedade. Cada época é de um jeito. Há uns anos, o perfil era de mulheres extremamente magras, como a Gisele, e agora tem sido essas fisiculturistas que invadiram muito o mercado. Eles pregam esse modelo como se toda a sociedade devesse seguir esse padrão, não aceitando as diferenças que cada um tem do seu corpo e da sua imagem”, diz. A psicóloga explica que isso introduz nas pessoas , que assim, querem ter esse padrão, sem nem mesmo pensar se sua estrutura corporal consegue atingir o perfil e isso gera uma insatisfação muito grande. Fernandes afirma que as doenças mais comuns são os transtornos de imagem, distúrbios alimentares, anorexia e bulimia, pode gerar um TAG, que é o transtorno de ansiedade generalizada. Ela ainda lamenta perceber que está aumentando, cada dia mais, esse número, essa exigência da sociedade fazendo questão que as pessoas tenham o corpo perfeito, que está gerando cada
vez mais estes tipos de doença. “As relações hoje em dia estão muito superficiais, muito baseadas nesse tipo de modelo, não só em relação ao corpo, mas em relação a muitas coisas, trazendo um adoecimento”, desabafa ela. O segredo de ser fitness Se é possível ser feliz fazendo dieta? É uma resposta difícil de encontrar. Cada um de tem uma concepção para a felicidade e querem sempre mais. A garantia é que precisa de força de vontade. A solução não é dieta e, sim, a reeducação alimentar. Além da saúde, é preciso estar feliz com seu corpo. O nutricionista Filipe Marques explica que o que é realmente recomendável para quem deseja ser saudável é “primeiramente, a mudança de atitude. Entender que somos responsáveis por nossas escolhas e que elas vão refletir diretamente em nossa qualidade de vida e saúde”. Marques ressalta que a alimentação adequada, prática de atividades físicas, dormir bem, evitar álcool e cigarro, tudo isso contribui bastante para uma vida mais saudável. Quanto aos alimentos, ele exclui a necessidade de ser radical a ponto de sair “cortando” e eliminando tudo. “Tendo moderação, é possível consumir de tudo um pouco sem que haja prejuízos para a saúde. Basta ter bom senso e equilíbrio sempre”, finaliza ele.
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O ‘vale tudo’ em busca de um diploma de medicina Para ingressar no curso, jovens estão dispostos a tudo, seja estudar por anos ou até mesmo burlar as leis
ntz
Marina Lore
Catherina Dias
U
ma nova “modalidade” de corrupção se instala entre os jovens que buscam ingressar no curso de medicina. Sem esforço, sem estudo e sem se preocupar com o resultado da lista de aprovados, a compra de vagas se torna cada vez mais frequente entre os vestibulandos, que não parecem se preocupar com as consequências ou com o crime que estão cometendo. É um vale tudo para realização do sonho, inclusive, tirar a vaga de quem estudou cometendo um crime.
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Missão cumprida “Fiz dois anos de cursinho até conseguir ingressar na faculdade de medicina, pois não me dediquei durante o Ensino Médio. Preocupava-me apenas em passar de ano. Acho injusta a venda de vaga porque há pessoas que não têm condições para comprar, o que torna a concorrência desleal. Não compraria, uma vez que eu me dediquei para passar e seria errado com os demais concorrentes. Sei do meu esforço e dedicação e que seria capaz de passar por meu mérito. É injusto com os demais, e por conta das vendas está cada vez mais difícil ingressar na faculdade de medicina”, afirma Camina Maciel, de 21 anos, estudante de medicina na Faculdade Governador Ozanam Coelho (FAGOC). “Depois do meu esforço, eu não sei bem descrever a sensação ao ver meu nome na lista dos aprovados porque foi uma mistura... Não acreditei no início, depois veio uma onda de felicidade, orgulho próprio... Sensação de missão cumprida. Já os que compram a vaga, não vão ter essa sensação. Não conquistam essa vitória”, explica Maciel. Depois do Esforço “Eu venho de uma família humilde, onde tudo sempre foi conquistado com muita luta e perseverança. Tudo começou ao ser bolsista em um colégio da minha cidade, Teófilo Otoni. Após concluir o ensino médio, ainda não possuía bagagem suficiente para ingressar em um curso de medicina. Tive que me esforçar ainda mais para conseguir
bolsa também no cursinho. Frequentei durante 2 anos, até alcançar a minha aprovação em medicina em uma instituição pública. Durante essa trajetória, cheguei a estudar durante 15 horas, ter uma média de 60 exercícios feitos por dia e uma série de redações para chegar ao meu objetivo”, explica Marina Pacheco Lorentz, 20 anos, acadêmica de medicina da UFJF – GV. “Tive contato com pessoas que não faziam o mínimo esforço, não assistiam às aulas, frequentavam festas até 4 vezes por semana, algo que não condiz com um aluno que quer disputar um curso tão concorrido. E mais impressionante era ver alguns desses serem aprovados em faculdades muito distantes, cujo nome ninguém nunca havia ouvido falar. Pior ainda foi conviver em uma sala com alguns que já haviam sido pegos por um esquema desmantelado pela Polícia Federal e, pasme, essas pessoas sem pegar em um caderno foram aprovadas no ano seguinte. É um absurdo o poder que o dinheiro tem em nossa sociedade, corrompendo um valor inestimável: a honestidade. Eu só agradeço aos meus pais por terem me ensinado a lutar pelos meus objetivos com integridade... Porque, sinceramente, que tipo de lição os pais que corroboram com o crime de compra de vaga querem ensinar? Que tipo de profissional esperam que seu filho se torne? Que tipo de consciência visam desenvolver? Sem sombra de dúvidas a resposta é: o dinheiro compra tudo e o crime sai impune.”
Uma estudante, que preferiu não ter seu nome revelado para não sofrer represálias,contou para a reportagem da revista MOVIMENTO como funciona o esquema de compra de vagas em universidades de medicina. A jovem, que será identifica nesta reportagem como Daniela, participou inicialmente do esquema, embora não tenha concluido a negociação da compra da vaga. “Por não ter dado certo apenas para mim, considero isto uma benção. Adquiri valores morais e maturidade dos quais não eram meu forte... Por fim, a policia conseguiu apreender alguns grupos e diretores de universidades, visto que possa ser um pequeno avanço para o fim das vendas de vaga. Estou estudando de verdade para concorrer honestamente como os outros cidadãos e, graças a Deus, aprendi o que são metas para se alcançar nossos objetivos.” Segundo a jovem , a forma de ingresso pelas vendas de vaga ocorrem de três formas: A primeira é a ‘’vaga
direta’’ na qual o aluno não precisa nem mesmo comparecer ao vestibular, basta pagar a quantia de aproximadamente R$ 150.000 (cento e cinquenta mil reais) e aparecerá aprovado no dia do resultado. Essa é negociada com reitores e diretores da própria faculdade, lembrando que é óbvio que eles não se expõem, mas há intermediários para realizar este processo para eles. A segunda é quando o grupo fraudador disponibiliza uma pessoa para que possa realizar a prova no lugar do candidato, forjando identidade e tudo o que precisar para se passar pela pessoa, e esta custa aproximadamente R$ 100.000 (cem mil reais). A terceira é a mais comum, pelo ponto eletrônico. O candidato recebe todas as instruções de como funciona a transmissão de respostas e como será usado o ponto, lembrando que há um grupo de professores para cada matéria que também irá realizar a prova, porém, estes saem mais cedo para organizar to-
das as matérias e transmiti-las por um rádio próprio, para que as respostas cheguem ao destino final. Esta chega a custar entre R$ 50.000 e 80.000. “O medo de ser pega é real, e está presente em todos que realizam o processo. Mas, como é um sistema que corre bastante dinheiro, geralmente, a faculdade já sabe que irá ocorrer e a polícia também. Dessa forma, os próprios grupos fraudadores já subornam dando dinheiro – em quantias consideráveis - para eles. Assim, tudo pode ocorrer tranquilamente. É tudo muito bem programado. Além disso, quando há alguma apreensão é apenas ‘’uma fachada’’ para que não desperte desconfiança entre os outros candidatos contra a universidade, sendo assim, os alunos que são apreendidos pagam uma fiança que pode chegar até R$ 25.000, pois não é um crime afiançável. Acho que o único grupo que eles não conseguiram subornar ainda é a imprensa”, brinca Daniela, ao revelar o esquema.
Passo a passo do esquema 3. ponto eletrônico: o candidato recebe todas as instruções e respostas da prova 1. vaga direta: basta pagar a quantia de aproximadamente R$ 150.000 e será aprovado.
2. o grupo fraudador disponibiliza uma pessoa para que possa realizar a prova no lugar do candidato, forjando identidade. 9
A poesia do corpo nu Quebrando tabus, a nudez vem se transformando em expressão artística Melissa Mauer
Letícia Gontijo e Juliana Corrêa Por muitos anos a realidade da nudez nos meios de comunicação trazia uma imagem deturpada. Com a aparição de uma mulher sem roupa, ainda surgem julgamentos e as pessoas são induzidas a acreditar que despir-se é um “pecado”, um excesso, um desvio. Tudo isso pela forma como a sexualização foi disseminada na cultura. Antes o corpo nu só aparecia em ensaios sensuais de revistas como a Playboy (que
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para de circular no Brasil em 2016 após 40 anos de divulgação) e em jornais onde o público alvo maior era masculino. A mulher nua era vista então como figura de desejo, vendida como aventura para os homens que pediam por um conteúdo excitante. Essa linha editorial, que indiretamente supre interesses machistas, acabou transformando a liberdade de se despir da mulher brasileira num absurdo, numa afronta. O corpo nu não andava afastado do sexo. Além disso, as mulheres começa-
ram a andar com medo pelas ruas, já que os números de abusos sexuais só aumentam e a culpa sempre é “delas” porque expõem demais ou de menos seus corpos. Então, o nu era cercado de motivos para ser escondido. Porém, de alguns anos para cá, movimentos de empoderamento feminino e artistas de todas as áreas questionam a opressão de direitos da mulher devido à sua sexualização. Problemas como a represália de mulheres que não podem amamentar em público, foram somen-
Nós somos nossas “imperfeições” e isso nos faz singulares.”
delo anônima e nua pela estrada com destino a Chapada dos Veadeiros, a intenção é mostrar como as pessoas estão despindo, irresponsáveis o meio ambiente. E mais, demonstrar o quanto é sufocante o tabu da nudez feminina e os padrões de beleza impostos pela sociedade. Na maioria das fotos a modelo está com uma máscara semelhante a que protege funcionários que trabalham com produtos tóxicos, o que deixa muito claro a asfixia que tanto pode ser gerada por opressão ao feminino quanto por vitimar a vegetação natural do cerrado. Rafa Martins, 18 anos, desenha nu artístico desde março e assume que ficou surpreso com a conotação dada pelas pessoas aos seus desenhos. Para ele, muita gente ainda distorce sua arte prestando atenção no físico de quem é desenhado e não na mensagem do desenho . Além disso, muitos acreditam que pelo fato do artista ser homem, o mesmo coloca conotação sexual em suas modelos. Porém, seu objetivo é mostrar a beleza e a individualidade corporal do ser humano. Ele acredita que despirse é uma maneira de desprender qualquer amarra ou imposição social sobre si. “Nós somos nossas ‘imperfeições’ e isso nos faz singulares. Quando abrimos nossa mente e ignoramos a censura, dizemos a nós mesmos o quanto somos fortes e seguros. O corpo não esconde nossa timidez. Os músculos se contraem quando não estamos seguros. Mas, isso também é belo e precisa ser mostrado! Nossa liberdade, artística e mental, é mais importante do que qualquer ideologia que nos imponha um padrão de comportamento.” O artista finaliza. Rafa Martins
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te um dos motivos para o início do protesto e da utilização do corpo nu como arma. As mulheres começaram a perceber que queriam a liberdade de seus corpos, e vêm sendo correspondidas por artistas que captam a nudez como forma de libertação e poesia. E o nudismo não vem sendo arma somente dos movimentos feministas: a expressão corporal vazia de vestimentas Rafa Martins está se descobrindo contra a cultura de massa como uma arma poderosa de exposição de problemas ambientais, políticos e de todos os quesitos. Despir-se vem significando mais do que mostrar o corpo nu, mas desnudar a alma que luta por algo. Aos poucos a nudez feminina se transforma em arte e libertação. Steysse Reis, decidiu fazer suas fotos de gestante nua. A espera de Graciliano, a modelista de 26 anos afirma que o momento das fotos foi onde ela se sentiu mais bela durante a gestação. A escolha do retrato nu demonstrava sua auto afirmação e a fazia se sentir mais forte diante dos tabus impostos pela sociedade. Ela também acredita que através dessas fotos, poderá ensinar ao seu filho que cada ser humano é dono do seu corpo e de sua liberdade, independente do sexo. Steysse finaliza dizendo que “através de mim meu filho verá que todos, incluindo sua própria mãe, devem ter seus direitos garantidos e mostrar-se como bem quiserem”. O projeto “O Caminho do Cerrado”, da fotógrafa brasiliense Melissa Mauer trata-se de um retrato do caminho que a humanidade está percorrendo. Através de fotografias de uma mo- Uma das ilustrações do artista Rafa Martins
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Além da barricada A polêmica, os pensamentos e o dia a dia por trás das ocupações na UFMG Mídia Ninja
Alunos se organizam em assembléias no prédio CAD 1para definir os novos aspectos das ocupações Laura França Nogueira Recentemente aprovada na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, a PEC 55/2016, antiga 241, tem sido um assunto polêmico e muito recorrente dentro e fora do ambiente escolar. Estudantes secundaristas e universitários vem, por meio de ocupações em suas escolas e faculdades, protagonizando a luta contra a PEC a fim de se fazerem ouvidos por um governo que se recusa a dar voz a este grupo. Iniciadas no ano passado em São Paulo, as ocupações em escolas pelos estudantes secundaristas e universitários ganharam força nos últimos meses frente à possibilidade da implantação da PEC55 que, se aprovada, limitará gastos primários como educação e saúde pelos próximos vinte anos.
movimento social tradicional. São formas organizativas que desafiam as hierarquias de representação política; jovens que querem participar, mas com outros modelos”. Ainda segundo a cientista política, o poderio público não está preparado para dialogar com esse modelo de representação mais fluido e flexível, o que gera um impasse. “É um grande desafio incluir estes novos modelos na ordem representativa institucional”, diz. A ocupação da Universidade Federal de Minas Gerais teve início após uma assembléia ocorrida no Instituto de Ciências Biológicas (ICB), no dia 19 de outubro de 2016, com indicativo de greve estudantil e ocupação do Centro de Atividades Didáticas (CAD) 1. Ao final dessa assembléia, na qual a greve foi deliberada, os estudantes se dirigiram Rodrigo Silva* ao CAD 1 e iniciaram a
Atualmente, segundo dados fornecidos pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) no começo de novembro, são 623 escolas e universidades ocupadas em todo o país. As ocupações de 2016 representam uma forma inovadora de manifestação política apartidária e horizontalizada. Segundo a cientista política e professora da Unifesp, Esther Solano, “são grupos de jovens que estão se politizando e tomando consciência como atores políticos, mas fora do âmbito do partido e do
Mais do que paralisar as aulas, queríamos um espaço em que pudéssemos debater, nos mobilizar e programar ações fora do ambiente universitário”
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ocupação. Em seguida, mais prédios da Universidade começaram a se mobilizar a fim de instaurar suas ocupações estabelencendo suas próprias regras, programações diárias e particularidades. Impulsionados pelo movimento iniciado no CAD 1, os alunos da Faculdade de Farmácia (FaFar) convocaram uma Assembléia Geral Extraordinária (AGE) com o indicativo de greve dos alunos de farmácia e biomedicina, que tem suas aulas ministradas nesse prédio. Após mais de três horas de discussão, segundo Rodrigo Silva*, ocupante da FaFar que já estava no CAD 1 desde que a manifestação começou, a greve foi deliberada e os professores foram notificados. “Mais do que paralisar as aulas, queríamos um espaço em que pudéssemos debater, nos mobilizar e programar ações fora do ambiente universitário para atingir e conscientizar a população”, afirma ele. O estudante ainda ressalta a importância de evocar o espírito de revolta em quem realmente vai ser afetado caso a PEC seja aprovada, porque, para ele, o ambiente universitário é elitista e quem está ocupando reconhece que não será diretamente afetado. “Nós, privilegiados por estarmos usufruindo da educação públi-
ca de qualidade, sentimos o dever social tuição brasileira, que suporta a legitide lutar para voltar com esse direito para midade das manifestações em espaços a população que ainda não teve acesso a públicos. Os ocupantes ainda alegam ele”, enfatiza Rodrigo. que todas as ocupações foram precediApós o conturbado estabelecimento das por assembléias gerais, reforçando da greve estudantil, começaram a surgir o caráter horizontal do movimento. grupos contrários às ocupações, que ale- “Teoricamente os alunos não poderiam gam que as mesmas não são legítimas e entrar em greve, uma vez que não presestão cerceando o direito dos estudantes tam serviço à universidade, mas foi de assistir às aulas dentro dos prédios da possível, com apoio jurídico e por uma universidade pública. De acordo com o expansão da lei por analogia, legitimar jurista Hyago Otto, a educação é consi- a manifestação dentro dos parâmetros derada um serviço público essencial e, legais da greve”, explica Silva. como tal, não pode ter seu funcionamento interromENTENDA A PEC 55/16 pido. Para o estudante de A Proposta de Emenda à Constituição 55 proengenharia Matheus Norpõe que os gastos com despesas primárias como ton, que alega defender o educação e saúde, sejam reajustados, pelos pródireito de livre manifestaximos vinte anos, de acordo com a inflação do ção, as ocupações tiram o ano anterior, e não mais de acordo com a receidireito dos alunos de terem ta, como era desde 1988. Para os apoiadores da aulas se assim desejarem. emenda, o gasto público do país é insustentável e Em contrapartida, de a PEC seria uma medida efetiva para a contenção acordo com o advogado dos mesmos e a consequente recuperação econôManoel Gomes*, as escolas mica. Já os contrários alegam que a crise vivida e universidades ocupadas pelo Brasil não é de despesas e, sim, de receita. são maneiras de reforçar Sendo assim, a PEC seria ineficiente na melhoria e aprimorar o poder de da economia, além de ser prejudicial para os serresistência e de cidadaviços de base prestados pelo governo. nia garantidas na Consti-
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Os estudantes do CAD1 dormem em barracas, fazem cartazes e cuidam da manutenção do prédio
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As ocupações estabelecem regras a fim de manter a organização
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Mídia Ninja
Os alunos decidem os rumos da ocupação em assembleias gerais na Praça de Serviços O dia a dia na ocupação O dia na ocupação começa cedo, entre sete e oito horas da manhã, o que os estudantes chamam de alvorada. Após a alvorada, por volta das nove da manhã, ocorre a reunião entre as comissões de cada prédio e são feitos os repasses das decisões tomadas por cada uma dessas comissões e também do que está acontecendo nos demais prédios ocupados da UFMG. Em seguida, entra-se na rotina diária. Os ocupantes, designados às comissões no início do processo de ocupação, são responsáveis pela manutenção e limpeza dos prédios, segurança e alimentação de todos que ali se encontram, confecção de cartazes, organização das ações fora da universidade, integração entre os movimentos dentro do campus e programações diárias. A Faculdade de Farmácia, diferentemente de outras ocupações da UFMG, optou por manter as atividades de extensão e pesquisa dentro do prédio, o que resultou em um fluxo muito grande de pessoas dentro do prédio. Dessa forma, a segurança se tornou o maior desafio dentro da FaFar. O controle de entrada e saída é feito, normalmente,
pelas catracas nas entradas do prédio, mas como os estudantes não têm acesso ao sistema, uma comissão ficou responsável pelo registro manual de todos que entram e saem do prédio a fim de proteger o patrimônio e a integridade dos ocupantes. “Fechamos as outras entradas com barricadas e deixamos apenas a principal para facilitar o controle, mas ainda temos problemas. A segurança é nossa maior dificuldade aqui dentro”, diz Rodrigo Silva. A alimentação dos estudantes é responsabilidade de uma comissão específica e é inteiramente feita no local. Apoiadores do movimento, professores e outros alunos doam sacos de arroz, carnes, pães, manteiga, sucos e leite de acordo com a demanda dos próprios ocupantes. “Recentemente tomamos conhecimento de um grupo contra a ocupação que pretendia doar alimentos contaminados ou envenenados com laxante. Depois disso, restringimos as doações a pessoas de confiança”, conta Rodrigo. Ao longo de todo o dia a ocupação possui atividades, aulas e discussões que são divulgadas em redes sociais e abertas ao público. “A programação da ocupação é político-cultural. No âmbi-
to político acontecem debates acerca do conteúdo da PEC 55 com a presença de especialistas e também são redigidas contrapropostas para serem apresentadas como substitutivas à emenda”, afirma um ocupante que preferiu permanecer anônimo. Além disso, o ocupante explica que por defender uma população já fragilizada, existe a necessidade de trazer a cultura desse grupo para dentro do ambiente universitário através de rodas de capoeira, duelos de rap, saraus de poesia, shows e rodas de conversa”, afirma ele. Os eventos culturais reforçam que os estudantes não estão preocupados apenas com a interdição do espaço escolar, mas também com sua ressignificação, trazendo para dentro desse ambiente novas formas de discutir e aprender. “O que eu aprendi sobre civilidade, cidadania, política e mobilização social nos últimos quinze dias estando dentro da ocupação, eu não aprenderia em nenhum outro lugar do mundo”, conta o estudante. * Os nomes marcados foram substituídos por pseudônimos para não expor os entrevistados
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Ocupa EEFFTO Prédio da UFMG atraiu olhares da sociedade por conta dos constantes conflitos entre professores e alunos Pedro de Castro
Cartaz de greve na EEFFTO Maria Fernanda Barbosa e Pedro de Castro Visitamos a EEFFTO (Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional) com o intuito de perceber como os alunos que estão envolvidos na ocupação se sentem, para saber como é a dia a dia deles e, o que ocorre no interior do prédio. Quando perguntados sobre a rotina no prédio, os alunos afirmaram a existência de uma assembleia, na qual, são definidas as ações que ocorrerão no dia, como: limpeza do refeitório e salas de aula, aulões dos professores e um momento destinado à leitura de poesia.
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“O dia a dia da ocupação é muito complicado, só quem tá aqui todo dia sabe, é muito tenso, a gente dorme muito pouco, a gente tem que organizar pra funcionar o dia a dia que é assim: alimentação, limpeza, essas coisas assim são bem complicadas, bem difíceis, bem pesadas e cada visita que vem eu acho que é uma força, você fala assim, nossa, bacana. Ontem, 08 de novembro, a gente recebeu uma visita de duas ex-estudantes que estudaram aqui no tempo da ditadura, elas, emocionadas, chorando, mesmo porque é uma coisa que elas queriam ter feito. E, quando você vê uma pessoa que fala assim, nossa, muito bom que vocês estão fazendo
isso, queria ter feito isso, dá mais resultado, cada um que vem aqui, a gente renova um pouco.” Thaís Dias, 25 anos, estudante de Terapia Ocupacional. “Cada prédio tem a sua programação, sua forma de se organizar, a gente criou comissões pra que isso fique de uma maneira mais facilitada com a gente, é difícil, é cansativo demais, mas nós tentamos trazer o público o máximo possível, para que a galera conheça mesmo, porque a gente monta programação o dia inteiro. Então, vários professores estão abertos a vir, a dar aulas, como é o caso do aulão, que conta com todo mundo aqui, de modo que seja todo mundo no mesmo espaço conversando sobre o
Maria Fernanda Barbosa
que está acontecendo, então, todo dia a gente coloca uma programação, a gente organiza essa programação, então, tem aula, tem oficina, tem momentos de conversa, de debates, tem os momentos de cada comissão organizar o que está acontecendo no prédio, nós costumamos dizer que: a partir do momento que nós ocupamos você se responsabiliza por tudo que está aqui dentro, e, de fato, a gente tem que cuidar desse espaço, afinal ele é nosso.” Thátilla Freire, 20 anos, estudante de Educação Física. “Todas as dúvidas, todos os problemas que acontecem, os acertos que acontecem sempre nas nossas assembleias, que às vezes acontece na média de duas vezes por dia, a gente levanta essas pautas e na assembleia, nós discutimos, os companheiros oferecem propostas de solução de senso, em cima desse diálogo, depois que todo mundo se sente esclarecido que realmente o diálogo ali sobre aquela pauta que acabou, aí sim, a gente abre uma votação, vota e o que a maioria decidir, a gente acata, independente se a minha posição não foi a que ganhou, mas, a gente tem senso, de que, o que a maioria quer, conta. Então, se a maioria se sentiu esclarecida e acha que aquilo ali é o melhor, vai acontecer, mesmo que depois a gente veja que não aconteça, a assembleia vai entrar, vai discutir, vai ver onde nós erramos, para poder acertar, sempre colocando as opiniões mais diversas e complexas que seja no mesmo patamar de poder, de ter o mesmo espaço, sejam homens ou mulheres, para que todos possam usufruir do direito à voz, do direito ao voto, de realmente ter uma democracia, sendo ela, original ou horizontal.” Marcos Buba, 26 anos, estudante de Educação Física.
Pedro de Castro
Ocupação na EEFFTO Maria Fernanda Barbosa
Escola da UFMG está ocupada desde o início de novembro
Cartaz da ocupação na EEFFTO
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Pokemon GO e nossa sociedade O que o declínio do Pokemon GO é capaz de nos dizer sobre nossa sociedade Crédito: Reprodução Internet
Bruno Lara Resende No dia 6 de Julho de 2016 o mundo entrou oficialmente em contato com o jogo que levaria o conceito de “jogos mobile” para um novo patamar. Pokemon GO foi um dos jogos mais aguardados da história, e o que foi visto nas semanas seguintes de seu lançamento realmente foi incrível. Praças públicas lotadas, restaurantes se promovendo às suas custas, uma chuva de reportagens tratando sobre o efeito do jogo no cotidiano das pessoas. O mundo abraçou Pokemon GO como nunca antes havia abraçado outro jogo, e achamos que este seria, de fato, aquele que entraria para a história. O cenário atual, pouco mais de 4 meses após o lançamento, é mui-
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to diferente. O aplicativo, que liderou o ranking dos mais baixados durante quase todo o mês de julho, e que se tornou recordista ao arrecadar 600 milhões de dólares em 90 dias, hoje amarga a 75 ª posição de aplicativos mais baixados nos Estados Unidos e a 70 ª posição no Brasil, segundo dados da App Annie. Nos perguntamos o que aconteceu com todo o hype construído em volta do jogo. Como tamanha empolgação pôde desaparecer apenas no período de alguns meses? A resposta não é muito agradável, mas diz muito mais sobre nossa sociedade do que gostaríamos. Efemeridade Vivemos em tempos que não nos permitem apreciar algo por muito
tempo. Filmes, livros, jogos, músicas, até mesmo nossas refeições possuem prazo de validade de alguns minutos. Quando algo novo é lançado, somos tão bombardeados por ele que acabamos nos enjoando e procurando outra coisa para nos distrair. Quem nunca se pegou na situação em que não suportava mais escutar a mesma música sendo tocada no rádio, ver o mesmo comercial passando na televisão, ou o mesmo assunto sendo abordado em suas redes sociais? Pokemon GO sofreu da mesma doença, ele esteve tão em evidência, que após algumas semanas o jogo já não causava a mesma emoção em seus usuários, as pessoas pararam de descer no ponto de ônibus mais longe de suas casas apenas para passar alguns minutos na pra-
Crédito : AFP
Jovens jogam Pokemon GO na cidade de Roma, Itália ça esperando encontrar um pokemon raro. Em outras palavras, o jogo caiu no limbo do imagináriopopular, e hoje luta com suas últimas forças para não ser esquecido completamente. Pode parecer triste, mas este é o caminho natural a ser percorrido pela grande maioria dos produtos a nós apresentados todos os dias. Décadas atrás, as pessoas se perguntavam se certa música, livro ou filme passaria no teste do tempo, isto é, se 10, 15, 20 anos depois a música ainda seria escutada, o filme ainda seria visto ou o livro lido. Hoje nos fazemos a mesma pergunta, a diferença é que os
anos do “teste do tempo” de antigamente se tornaram meses. Produtos de entretenimento hoje são esquecidos num piscar de olhos, e então são substituídos por outro produto que também será esquecido, e o ciclo continua viciosamente. Obviamente nem tudo está perdido, esporadicamente surgem produtos que são capazes de escapar da efemeridade usual e vencer o teste do tempo. Bons exemplos são a série de livros e filmes Harry Potter, universo que mesmo após 5 anos do lançamento de seu filme final, ainda continua no imaginário das pessoas, e que está sendo revisi-
tado com o filme Animais Fantásticos e Onde Habitam, e a série da AMC Breaking Bad, que mesmo tendo sido lançado em 2008 continua aclamada por seus fãs e sendo exemplo para séries atuais. Infelizmente tais obras são exceções da regra, um grupo que, ao que tudo indica, Pokemon GO não será capaz de entrar.
Crédito: Reprodução Internet
Logos das equipes escolhidas pelos jogadores ao iniciar o jogo
Entrevista “Estava muito animado nas primeiras semanas após o lançamento, mas com o passar do tempo o jogo me decepcionou em alguns aspectos: limitações nos modos de jogo e gameplay repetitivo foram alguns dos fatores negativos. Além da quantidade de internet e hardware necessários para jogar, meu celular simplesmente não aguentava. E o fato de o jogo ter sido lançado com mais de 1 mês de atraso aqui no Brasil em relação ao resto do mundo e muitas pessoas terem obtido acesso ilegal à ele durante este período.”, conta Gustavo Silva, fã da saga desde criança. Nos resta aguardar e observar o desempenho do jogo nos próximos meses para descobrir se ele será um marco no mundo dos jogos, ou apenas mais um produto vendido como inovador e único que cairá no esquecimento junto com tantos outros que o precederam.
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Colecionadores de Histórias Ayllana Ferreira, Danielle Lopes e Maria Rita Pirani Permita-se imaginar cenários de guerra, mundos fictícios, realidades de determinados períodos e universos paralelos. Todos esses simulacros da realidade, só que em miniatura. Alguns especialistas debatem sobre a importância das coleções: passatempo ou obsessão? Para algumas pessoas, juntar objetos e reservar itens são uma parte de seu cotidiano, ou melhor, sua vida. Quando se fala de coleções, a primeira imagem estereotipada que pode vir à mente são das crianças e seus itens de brincadeirinha. Por anos, ter um acervo foi associado a um hábito nerd ou infantil, sendo completamente discriminado e estigmatizado na sociedade. Em uma entrevista feita com quatro colecionadores de diferentes produtos, eles revelaram sobre o impacto e a importância de suas coleções em seus cotidianos, inclusive, como uma válvula de escape para “universos encantados e repletos de sonhos” e uma saída para converter uma paixão em algo inesquecível. Murillo de Oliveira tem 29 anos e, para alguns fãs de Harry Potter, uma inspiração a ser seguida. Além de possuir o
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título de Presidente do Magic Potter de São Paulo – um dos vários fã-clubes da saga, o rapaz possui uma coleção relativamente grande de itens da franquia e faz cosplays de personagens simbólicos, tais como Comensal da Morte e aluno da Sonserina. Para ele, a experiência em si é indescritível, “sinto que estou em um mundo mágico em que tudo pode acontecer”. Quando questionado do por quê de ter iniciado sua coleção, o jovem é bem direto: muito amor e paixão pela saga que se transformaram em um hobby. Ele possui sua própria loja de itens
colecionáveis e ainda afirma que, uma vez, deixou de pagar suas próprias contas pessoais para comprar um item raro. Murillo ressalta que, quando se trata de sua coleção, não existem limites, e que uma mera figurinha pode sim despertar seu interesse. Para manter a conservação de seus produtos, ele possui um rigoroso ritual de cuidados: plastificações, revisão de itens, colagens ou retoque e muita limpeza. Quando se tem um item que ama, hábitos assim são reforçados, posto que seja essencial que os produtos durem e não sejam danificados.
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Coleções que unem casais Eu entendo as paranóias dele com a coleção, e ele entende as minhas. Acho que eu morreria se namorasse alguém que não compreendesse o meu amor por colecionar” Créditos da imagem: Igor Moretto
Jennifer de Lima Brito tem 24 anos e possuí cerca de 1500 mangás de estilos variados em conjunto com seu noivo. A garota do Rio Grande do Norte diz que “um dos acontecimentos mais cômicos aconteceu este ano, no estágio, quando minha professora olhou para mim e falou que jamais pensou em conhecer alguém como eu, pois acreditava que esse tipo de nerd que estuda muito, tira boas notas e ainda fica ligado em internet e quadrinhos não existia mais.” Jennifer afirma que nem todos sabem reconhecer o valor de sua coleção, e que já ouviu de algumas pessoas que estava velha demais para colecionar “livrinhos”. A mesma coleção que lhe rendeu preconceitos foi também uma das responsáveis por uni-la com o amor de sua vida. Danilo Torres e Jennifer se co-
nheceram em um RPG – jogo de interpretação de papéis, e logo se tornaram amigos. Após 5 anos de amizade, a garota finalmente descobriu que gostava do garoto, e que eles compartilhavam vários pontos em comum, inclusive, o hábito de colecionar mangás. Eles começaram um namoro à distância, tendo hoje 10 anos em que se conheceram, e cinco de relacionamento amoroso. Jeniffer diz que mesmo com quase 3.000 quilômetros de distância, o convívio entre eles dá muito certo. “Eu entendo as paranóias dele com a coleção, e ele entende as minhas. Acho que eu morreria se namorasse alguém que não compreendesse o meu amor por colecionar.” Para a garota, colecionar foi um sonho desde a adolescência e existe, sim, um laço bem forte com sua coleção.
Parte da coleçào de mangás da garota
Crédito da imagem: Jennifer de Lima Brio
Murillo de Oliveira - segundo à esquerda - e alguns conhecdos caracterizados como personagens das quarto casas de Hogwarts
Jennifer Brito
Danilo Torres e Jennifer Brito
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Crédito da fota: Maria Rita Pirani
Coleções que se tornaram um estilo de vida Quem diria que uma simples discussão familiar poderia levar alguém a começar uma coleção, mais especificamente, de filmes da Disney? Bom, foi exatamente isso que aconteceu com Maria Rita Pirani, de 22 anos. Era uma tarde comum como todas as outras, quando sua família decidiu separar DVDs a fim de definir qual filme pertencia a quem. As divisões começaram e, obviamente, alguns filmes foram mais “disputados” do que outros, inclusive, as animações da Disney. Após algumas discussões mais acaloradas sobre quem os comprou e um momento de análise, foi constatado que grande parte destes pertencia e havia sido adquirido por Maria Rita. O ocorrido foi como um momento de reflexão e exposição da verdade, em que a garota compreendeu seus sentimentos - amor - pelos DVD’s, e decidiu coleciona-los. Foi o marco inicial de sua maior coleção e um de seus maiores amores, se não o maior. Mesmo hoje, anos após o primeiro exemplar, a paixão por comprar e aumentar seu acervo faz parte de seu cotidiano, transformando-se em um estilo de vida. Tanto que quando vai a algum shopping, a primeira coisa que faz é ir até uma loja que venda DVDs, se dirigir à sessão de filmes infantis e ver se tem alguma obra não adquirida. “Posso até nunca ter visto o filme, mas se eu não o tiver ainda, vou comprá-lo” enfatiza Maria Rita. Nossa colecionadora revela sobre um dia em especial que foi ao shopping
sem dinheiro. No desespero de perder o exemplar que havia descoberto, ela chegou a esconder o filme em outra parte da loja para que ninguém o pegasse e pudesse comprar mais tarde. “Sou muito apegada a filmes” diz. Na hora dos cuidados, tal apego não seria diferente. A garota guarda todos os seus filmes em um armário que mandou fazer somente para seus DVDs, e eles ficam organizados de acordo com seus produtores, ano do lançamento e suas continuações. Mas não para por aí, o DVD dentro da capa tem de estar com o título do filme reto e alinhado com a linha de leitura, pois , de acordo com Maria, “a sensação de estética ao ver os filmes assim me deixa feliz”. Por fim, é necessário compreender
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É uma forma de entrar em um mundo mágico e isso me fascina.”
Coleções de DVD’s da Maria Rita
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Maria Rita Pirani
que tanto amor tem um motivo maior! Para a colecionadora, os filmes não são apenas desenhos ou um passa tempo, eles contém lições e histórias. A garota afirma que cada vez que assiste a um filme, principalmente de animação, percebe uma lição nova, um detalhe novo. “É como se fosse uma forma de sair um pouco desse mundo e viajar para um lugar onde relógios e candelabros falam, gênios da lâmpada e fadas são reais. Sereias se transformam em humanas e um imperador vira uma lhama após beber uma poção errada. É como entrar em um mundo mágico e isso me fascina.”
Coleções que são amostras de que nada é impossível
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É o combustível que mantém minha máquina funcionando”
Créditos das fotos: Danielle Lopes
Raul Aguiar tem 54 anos e desde a infância tem grande paixão por soldadinhos de brinquedo. Ele nasceu com má formação e, por isso, não possui parte dos membros superiores. Para melhorar suas habilidades manuais , utilizou o plastimodelismo, área do modelismo que utiliza o plástico para recriar objetos reais. A modalidade entrou em seu cotidiano e, posteriormente, tornou-se parte sua vida. Sua coleção começou no início dos anos 90, primeiramente com brinquedos da década de 50, 60 e 70. Hoje, seu acervo conta não só com os brinquedos da época, mas também com filmes, álbuns de figurinhas e os tão estimados modelos de plastimodelismo. Na década de 90, quando surgiu o interesse em começar sua coleção, Raul já havia adquirido habilidades na montagem dos modelos, e buscava sempre aprimorar o seu trabalho. Naquela época, o plastimodelismo já havia deixado de ser uma diversão, transformando-o em um profissional no assunto e um dos melhores em sua categoria. Hoje, já aposentado, ele dedica grande parte de seu tempo com a organização e manutenção de suas coleções. Para dividir as categorias, tira fotos e cataloga as peças uma a uma. O rapaz ainda diz que é necessário muito cuidado ao manusear devido à fragilidade dos itens. Seu acervo é enorme, mas ele diz que ainda faltam muitas peças para estar completo. Raul fica boa parte de seu tempo em grupos no Facebook, dividindo experiências e procurando por itens raros. As coleções vão muito além de o simples gostar. Para o nosso colecionador, elas representam um estilo de vida e a superação, sendo possível qualquer coisa quando se tem determinação. “É o combustível que mantém minha máquina funcionando” declara.
Raul Aguiar
Produção premiada criada por Raul
Raul trabalhando em um modelo
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Fotolovers: os amantes da fotografia como arte Como um grupo de jovens se juntaram para uma caminhada fotográfica para aprender mais sobre fotografia No último feriado de finados (2 de novembro), aconteceu um evento chamado “Fotolovers: A caminhada fotográfica”, onde dois jovens amantes da fotografia propuseram juntar uma galera que também ama fotografia, e fazer uma caminhada em que saíam fotografando e ensinando no parque Mangabeiras, situado na capital mineira. O objetivo era demonstrar como a fotografia foi importante no passado, ainda tem importância nos dias atuais e como fazer para capturar uma boa foto. Mas antes de continuarmos falando sobre o evento, vamos viajar no tempo, e voltar no início de tudo, quando várias pessoas se interessaram em como registrar momentos importantes em suas vidas, usando muito mais que palavras. E foi em 1826 que foi feita a primeira fotografia reconhecida, feita por Joseph Nicéphore Niépce na França ainda de forma muito simples. Para início de conversa, precisamos entender o que é a fotografia em si e como funciona seu mecanismo. Fotografia significa uma técnica de criar imagens por exposição luminosa em uma superfície fotossensível. Desde sempre esse foi o conceito primordial, no entanto mudando, é claro, a tecnologia para melhorar a qualidade da fotografia, aumentar a resolução e dando realidade as cores. Outra coisa que também despertava o interesse dos primeiros fotógrafos, era buscar a acessibilidade e facilidade do processo de fotografar, por meio de materiais mais duráveis, eficazes, de baixo custo, e proporcionando também uma diminuição no tempo de revelação das fotos.
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Foto: Arquivo pessoal
Bruno Riccelli
Fotolovers: A caminhada fotográfica ajudou a amantes da fotografia a aprenderem mais sobre ela Se teve então uma busca pela foto colorida, para assim, retratar melhor as paisagens, pessoas e objetos. E em 1861, o físico escocês James Clerk Maxwell e seu assistente Thomas Sutton, em seus estudos sobre como funciona o olho humano na percepção das cores, usou técnicas já existentes do preto e branco, e tirou três fotos de um mesmo objeto, com filtros em vermelho, verde e azul. O seu método tem influência nos dias de hoje, pois a tecnologia RGB é inspirada nesse antigo processo. Muitos paradigmas foram quebrados com a chegada da fotografia digital. Com o seu advento, foi possível ter aparelhos fotográficos cada vez menores, e com uma capacidade não imaginada antes em fazer fotos de alta qualidade. Na última década com a ajuda
da Internet o fluxo de imagens foi cada vez maior e faz parte do cotidiano das pessoas, fazendo com que elas pudessem guardar momentos de suas vidas. Desde uma simples “selfie”, a grandes ensaios e produções fotográficas. Ainda hoje há o debate se a fotografia pode ser considerada uma arte ou não. Uns argumentam que não, pelo fato delas serem fáceis de ser produzidas. Outros já pensam que é uma arte, devido ao fato dela ser a interpretação de uma realidade por parte do fotógráfo. A câmera é um meio de fazer arte. Bom, depois dessa viagem pela história da fotografia, voltemos a falar do “Fotolovers: A caminhada fotográfica”, que falei no começo, onde tive a oportunidade de conversar com dois amantes da fotografia, e saber o que para eles significa a relação entre arte e a fotografia.
Nosso primeiro amante, é Victor Hugo, que já fotografa há três anos, e que junto de seu amigo Victor Capuano tiveram a ideia de fazer essa caminhada fotográfica, para fazer uma troca de conhecimentos entre fotógrafos, sejam eles amadores ou profissionais na área. Ele desde pequeno teve gosto pela fotografia, e teve a oportunidade de aperfeiçoar sua prática através de convites de amigos para fotografar festas de aniversários, casamentos e eventos da igreja. “A fotografia para mim é a maneira que tenho de mostrar as coisas, parar o tempo, e fazer com as pessoas se reúnam para ver as fotos. Então, a fotografia, além de ser uma arte, é a maneira de fazer o tempo parar para você.” Perguntei a ele também sobre se a fotografia pode ser considerada uma arte, como a pintura, a escultura por exemplo. “Quando a gente pega uma câmera para fotografar, não é simplesmente apertar
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um botão e fotografar, a gente fotografa com toda a carga de cultura que a gente tem, todos os livros e filmes que gente já leu e viu, influenciam na nossa composição e visão das coisas”, acrescentou. Nosso segundo amante da fotografia, é Ricardo Lira, participante do evento. Ele declarou que depois de acompanhar trabalhos de amigos que também são da área, e de gostar bastante de cinema, fez com ele se interessasse mais pela fotografia. Ele preza por uma boa foto e para ele a fotografia é indispensável. Ressaltou que as pessoas não devem confundir fotografia com imagem, pois a fotografia demanda um pensamento mais profundo e artístico do que uma foto qualquer de rede social. “A cultura no Brasil é pouco valorizada, e a fotografia faz parte dessa cultura. Ela retrata além de pessoas, ela conta a história com fotos da cidade em diferentes épocas.”
A troca de informações entre os fotógrafos é importante, e sobre isso ele comentou que a internet pode ajudar nisso, como por exemplo, pelo “Instagram”, que ajuda no respaldo de pessoas de fora, que são mais experientes na área. A fotografia contribui positivamente em várias coisas, como um instrumento de uso de na medicina, no jornalismo (fotojornalismo) e na ciência, para o desenvolvimento de diversos estudos. Ao longo dos anos, muitos cientistas pesquisaram sobre fotografia, com o objetivo de melhorá-la e aperfeiçoá-la. Então não podemos atribuir a apenas uma pessoa a criação ou o desenvolvimento da fotografia, o resultado que colhemos hoje é uma soma de várias técnicas descobertas por algumas pessoas. Como por exemplo: Joseph Nicéphore Niépce, Louis Jacques Mandé Daguerre, William Fox Talbot, Hércules Florence, Boris Kossoy e George Eastman.
A fotografia para mim é a maneira que tenho de mostrar as coisas, parar o tempo, e fazer com as pessoas se reúnam para ver as fotos. Então, a fotografia, além de ser uma arte, é a maneira de fazer o tempo parar para você.”
Fotos: Arquivo pessoal
Os dois amigos foram os criadores do evento
Victor Hugo
Os particiantes contavam sobre suas esperiências na fotografia e tiravam suas dúvidas
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Jogamos limpo com Belo Horizonte? As campanhas de makerting durante as eleições beneficiam os candidatos mas, por outro lado, são os cidadãos que arcam com os prejuízos
Na época das eleições se ve uma corrida de marketing para se eleger candidatados. São usadas as mais diferentes formas para atiçar a curiosidade do eleitor, porém, às vezes são usadas práticas desonestas. Um exemplo dessa situação teve como vítima Adilson Antônio Ferreira. Ele teve uma de suas contas, enviadas pelo correio, rasgadas por um panfleteiro. Sua filha Ayllana, estudante de jornalismo da Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC), conta o que aconteceu. “Eu disse ao meu pai que meu cartão do banco não estava passando. Então, preocupado e sem saber o que tinha acontecido, ele entrou em contato com a empresa pedindo justificativa. A empresa alegou que o boleto não havia sido pago, mas nenhum boleto havia chegado. Ele estava na porta de seu escritório, conversando com um vizinho, quando viu uma moça enfiando a mão dentro da caixa de correio (o escritório fica ao lado de sua casa)”. Segundo a estudante, ele a observou e presenciou o inesperado: “ela pegou tudo que estava lá dentro, sem selecionar nada e rasgou em pedaços. Pouco tempo depois que ela saiu, meu pai viu um de nossos boletos rasgados no chão”, descreve Ayallana. Segundo ela, a moça admitiu que o candidato para qual trabalhava mandou que rasgasse os santinhos dos concorrentes. Este desserviço chegou a causar lhe outro transtorno, conta Ayllana Ferrei-
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Fernanda Vasconcelos
Ana Clara Barcelos e Lizandra Andrade
Rua próxima à FUMEC suja com santinhos ra. “Um dia fui pagar meu almoço e o cartão simplesmente não passou. Entrei em desespero. Por sorte, consegui juntar algumas moedas que tinha.” Outros casos Isso pode ser surpresa para alguns, mas é apenas uma das vezes que campanhas políticas atrapalharam a vida cotidiana dos cidadãos. A poluição (visual, ambiental e sonora) aumenta bastante, visto que estas formas de propagandas prejudicam a paisagem urbana e atrapalham a vida cotidiana se não feitas com cuidado e de forma correta.
Além da sujeira que cobre as ruas, já tradicional, você também está sujeito a acidentes. Isto mesmo. Basta dar uma busca no Youtube usando a frase “pessoas escorregando em santinhos” para se deparar com inúmeros vídeos relatando tombos em vários locais do país. Isso aconteceu com a empresária Helina de Barcelos, que não quebrou nada, mas ficou com dores por dias. “Nas eleições de 2014, para presidente, fui até a minha zona eleitoral e votei normalmente. Ao sair, levei um tombo feio ao escorregar numa enxurrada de santinhos. Um vendedor em frente me ajudou a
Declaraçäo oficial O Tribunal Regional Eleitoral de Minas de Gerais (TRE-MG) lançou, em 2010, uma campanha institucional com o objetivo de incentivar os partidos a fazerem campanhas limpas em todos os aspectos. “A campanha Sujeira Não é Legal não tem o objetivo de punir e, sim, de conscientizar candidatos, partidos e o eleitor em geral sobre a importância de que seja realizada uma campanha eleitoral limpa, em sentido amplo. Infelizmente, em alguns locais, ainda houve candidatos que, no dia da eleição, não atenderam ao apelo e espalharam material de campanha nas ruas e locais de votação” – afirma o Coordenador de Comunicação Social, Rogério Tavares. Questionado sobre possíveis punições a esses municípios que não aderiram à campanha, a resposta foi clara. “Eles estão inclusive passíveis de responderem processo por isso, mas, nesse caso, a Justiça Eleitoral só age se provocada, pois o juiz que julga não pode ser ele próprio o denunciante”, completou. No dia das votações deste ano para o primeiro turno, algumas zonas eleitorais de algumas cidades estavam poluídas, como Belo Horizonte e Contagem. Já em outras como Sete Lagoas, Diamantina e Teófilo Otoni não estavam poluídas. A forma de conscientização da campanha é ampla e abrange vários veículos de comunicação. “O TRE vem fazendo a sua parte, ao desenvolver essa campanha, que tem peças veiculadas em emissoras de TV e rádio e também no Facebook e no Twitter, entre outras estratégias [...], mas, infelizmente, não temos como garantir a sensibilização em todos os municípios de Minas, há perfis muito diferenciados.” Quanto a futuras eleições, Tavares demonstra-se confiante. “Neste ano, foi nítido que em boa parte dos muni-
Lizandra Andrade
levantar – fiquei um mês com dores nas costas e no pé esquerdo. Comentei com algumas pessoas e fiquei abismada com a quantidade de vídeos na internet relativos a situação. Algumas pessoas até me falaram para entrar na Justiça pedindo indenização”. Ela preferiu não entrar com medidas judiciais.
A poluição também atinge Contagem cípios a campanha estava mais civilizada durante o período que antecedeu a eleição, inclusive com menos agressões ao meio ambiente. Ainda não temos o planejamento da campanha para as eleições 2018, mas temos a expectativa de que possamos avançar mais nessa sensibilização”, finalizou. Junto das campanhas de conscientização, a internet talvez seja a solução
para o problema da poluição causada por campanhas políticas. Nela é possível, tal como na televisão, campanhas limpas e que não prejudicam o ambiente, além de abrir portas para novas formas criativas de propaganda que não são possíveis em outros meios. A internet foi utilizada nas eleições de 2016 em BH por alguns candidatos, mas ainda não foi explorada totalmente nesse meio.
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Pampulha: Patrimônio Cultural da Humanidade? Após receber o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, Pampulha ainda enfrenta problemas Crédito: Carlos Alberto / Imprensa-MG
O Conjunto arquitetônico da Lagoa da Pampulha é cercado de belezas e encantam os olhares dos turistas. Marina Ramos e Philippe Fraga O Conjunto arquitetônico da Lagoa da Pampulha foi projetado por Oscar Niemeyer entre os anos de 1942 e 1944, sobre o desejo do, até então, prefeito, Juscelino Kubitschek, que pretendia construir um cassino, uma igreja, uma casa de baile e um clube. De acordo com boatos de pessoas que moram na região, até mesmo um hotel estava nos planos e há ,inclusive, indícios de que as obras foram iniciadas, mas nunca finalizadas. O que poucas pessoas sabem, é que a lagoa foi artificialmente construída com o represamento de um ribeirão que cortava a região na época e que ele fazia parte da Bacia do Rio das Velhas, que, por sua vez, integra a do Rio São Francisco. A lagoa é o ponto turístico mais famoso e mais visitado de Belo Horizonte e recebe milhares
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de pessoas todos os anos para visitação. No dia 17 de julho de 2016, em uma cerimônia realizada em Istambul na Turquia, a Lagoa da Pampulha recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em uma decisão que foi tomada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), se juntando a outros 20 tombados pela própria organização no Brasil. Um título muito comemorado pelos belorizontinos e, principalmente, pelos moradores do bairro. Opiniões sobre o Conjunto Arquitetônico Alexandre é funcionário da lagoa há cinco anos e trabalha dando suporte em atividades físicas por meio de uma assessoria de corrida e, segundo ele, não houve mudanças no número de visitantes na lagoa, e sim, em algumas
reformas. “Eu venho à trabalho e quando estou de folga, dificilmente venho à lagoa por ser meu local de trabalho. Foram feitas algumas mudanças nos monumentos da lagoa, mas em minha opinião, para nós que somos funcionários, fica difícil notar se há aumento de visitantes com o título, mais sei que turistas permanecem visitando a gente do mesmo jeito que era antes”, afirma. Já o aluno Maike Barbosa, que treina com os assessores e vai à lagoa quase que diariamente, afirmou que com este título recebido pela Lagoa, à prefeitura deveria ter no mínimo dado um aumento no efetivo policial, para garantir a segurança dos turistas e das pessoas que correm e treinam na orla da lagoa principalmente à noite, pois aumentou a visibilidade do patrimônio. “Não notei diferença alguma. Para mim não ficou mais seguro.
Crédito: Márcia Guimaràes
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Lagoa da Pampulha ainda enfrenta muitos problemas com a poluição e a febre maculosa.
Não notei diferença alguma. Para mim não ficou mais seguro. Um ponto positivo foi que os monumentos foram iluminados, mas não houve mudança alguma, nem mesmo no aumento de turistas”
Um ponto positivo foi que os monumentos foram iluminados, mas não houve mudança alguma, nem mesmo no aumento de turistas”, opina. Leonardo que é também um dos professores, afirmou também que a febre maculosa (causada em detrito das capivaras ainda permanecerem na lagoa), também afastam turistas e que até hoje a situação não foi solucionada. “O número de visitantes aumentou após a obra que foi feita em 2012 e não após o título. A febre maculosa afasta muitas pessoas daqui e é outro problema que a prefeitura deve selecionar, pois ela e perigosa e muitos turistas que visitam aqui muitas vezes nem sabe da existência dessa doença e podem contrair
Maike Barbosa
se nossos governantes não tomarem providências. Não só eles, mas os moradores do entorno da lagoa”, enfatiza. Dona Gilda fez somente elogios e disse que a lagoa é linda e que o título é mais que merecido. “Moro em Contagem, mais adoro vim na lagoa. É muito prazeroso poder vim aqui e trazer meus netos, é uma terapia. Antes do nascimento dos meus filhos, vinha com o meu marido na casa do Baile e já passamos muitos momentos felizes aqui. Esse título recebido pela lagoa é um título mais do que justo pela beleza desse lugar além da traqnuilidade que sinto por vir aqui e com certeza continuarei vindo por muitos e muitos anos”, elogia a moradora.
Cuidados com nosso patrimônio Fato é que por mais que agora a lagoa tenha um título mundialmente reconhecido, precisa de cuidados por parte da prefeitura e, principalmente, investimento em segurança além de alguns projetos culturais para poder atrair visitantes cada vez mais e sempre poder mostrar a cultura e a beleza de BH, para as pessoas que tenham vontade de conhecer esse povo tão receptivo e apaixonante que é o povo mineiro. Cabe aos governantes do país terem uma atenção especial na lagoa, até mesmo pelo título recebido internacionalmente conhecido. A vontade é que as pessoas cuidem bem desse lindo patrimônio do povo mineiro.
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O Brasil, o mundo e o 45º presidente americano Como o mundo reagiu ao resultado da eleição presidencial, e como o Brasil poderá ser afetado. Franklin Bellone Broges e Pedro Faria Na dia 9 de novembro, uma quarta-feira, o candidato representante do partido republicano Donald Trump se tornou o 45º presidente dos Estados Unidos após vencer, por meio da soma de votos, a representante do partido democrata Hillary Clinton, após uma campanha que acabou
sendo marcada pela extrema agressividade com que ambos os candidatos se tratavam. Donald trump, e seu vice-presidente Mike Pence, terão a árdua tarefa de recuperar a confiança do povo norte-americano, que vem sofrendo com os problemas existentes dentro do seu governo e os diversos escândalos enfrentados pela população norte-americana nos últìmos anos e recentes mandatos presidenciais. Reproduçâo: Internet
Como o Brasil poderá ser afetado Apesar da declaração dada pelo representante Michel Temer, como o Brasil poderá ser afetado por está mudança? Em uma entrevista exclusiva com o economista e professor de economia da Universidade FUMEC, Eduardo Amat Silva, quando questionado sobre o efeito que isso pode causar na economia do Brasil e em suas relações com os Estados Unidos à curto, médio e longo prazo, pelo ponto de vista de especialista, o mesmo afirmou que “é preciso considerar que discurso como candidato é uma coisa. Sua efetivação no cargo é outra”. O economista toma a liberdade e dá a sua opinião pessoal. “Particularmen-
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te, não acredito em grandes mudanças, dado os diversos interesses econômicos e políticos envolvidos. Mudanças ocorrerão não na proporção anteriormente indicada, estas serão pontuais”, opina. Porém, Silva explica que “é preciso que se determine qual será a equipe econômica do novo presidente. Isto servirá como um norte para se vislumbrar o que poderá acontecer. Para ele, até o momento tudo é muita especulação em função do discurso para a campanha. Daí as incertezas geradas no mercado. Após a divulgação dos resultados vários lideres mundiais se mostraram otimistas quanto ao novo presidente
norte-americano. Segundo Eduardo Amat Silva, “trata de uma política de boa vizinhança, uma maneira de amenizar possíveis ameaças comerciais, em função do que foi proposto pelo novo presidente. Como disse, os interesses envolvidos são gigantescos. Mesmo que o novo presidente queira fazer o que bem entende, de certa forma, ele é cerceado”. O professor de economia ressalta que imagina que alguns acordos comerciais poderão ser revistos. “Daí, tem-se como resultado a política de boa vizinhança e uma instabilidade nos mercados”, finaliza ele.
A reação dos líderes mundiais Reproduçâo: Internet
"Eu gostaria de parabenizar Donald Trump por ter sido eleito o próximo presidente dos Estados Unidos, após uma campanha árdua. A Grã-Bretanha e os Estados Unidos tem um relacionamento especial e duradouro baseado nos valores de liberdade, democracia e empreendimento. Nós somos e iremos permanecer, parceiros fortes e próximos no comércio, segurança e defesa. Estou ansiosa para trabalhar com o presidente eleito Donald Trump, com base nestes laços para garantir a segurança e prosperidade de nossas nações nos proximos anos."
Theresa May, a primeira-ministra do Reino Unido, se manisfestou por meio das redes sociais, em sua pagina oficial no Facebook.
Michael Klimentyev / Sputnik
ASCOM/VPR/Fotos Públicas
Michel Temer, atual presidente interino da República do Brasil, nesta quarta-feira, dia 9 de novembro, em uma entrevista exclusiva para a rádio Itatiaia na cidade de Belo Horizonte, demonstrou a sua opinião sobre o resultado: "A relação do Brasil e Estados Unidos, assim como nos demais paises é uma relação institucional, ou seja, de estado para estado. E nós temos uma tradição democrática, tanto os Estados Unidos como o
O atual presidente da Rússia, Vladimir Putin, se manifestou por meio de um telegrama, e se mostrou otimista com o resultado e esperançoso para que as duas potências possam ter um dialógo construtivo para criar uma situação confortavel, tendo em perspectiva o futuro das duas potencias mundiais. Putin espera que, com a eleiçao de Trump, Estados Unidos e Russia possam reatar suas alianças.
Brasil e, evidentemente, quando alguém assume o poder, seja aqui no Brasil e especialmente nos Estados Unidos onde as intituições são fortíssimas, é claro que o novo presidente que assume terá que levar em conta todas as aspirações de todo o povo norte-americano. Eu tenho certeza que lá as coisas irão muito bem, a nossa relação é uma relação institucional e eu estou mandando comprimentar o presidente pela eleição e eu tenho certeza que não muda nada na relação Brasil e Estados Unidos."
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Revistas vexatórias: perto do fim O processo de substituição da revista íntima para o meio eletrônico causa satisfação nos visitantes Beto Magalhaes/EM/D.A Press
Fila de visitantes para entrar no presísio Antônio Dutra Ladeira Fernanda Vasconcelos e Pietra Pessoa Como se já não bastasse a vergonha de ter um familiar dentro do presídio, os parentes ainda têm que ser submetidos à tirar a roupa e fazer procedimentos, considerados como vexatórios, que acabam sendo necessários para evitar a entrada de drogas, celulares, entre outros. Mas essa revista está bem perto de acabar. O dispositivo chamado body scan é uma espécie de raio-x que emite uma imagem completa da pessoa, podendo, portanto, detectar quaisquer objetos, incluindo metais e drogas, que estejam dentro da roupa dos visitantes. Esta forma mecânica de vistoria já foi aprovada em alguns estados e, segundo a
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Câmara dos Deputados, o projeto de lei (PL 5682/2016) de Minas Gerais, que sugere a alteração da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, “para tornar obrigatória a instalação de equipamentos eletrônicos, não invasivos, de varredura corporal e proíbe a realização de revista intima para a entrada de pessoas nos estabelecimentos penais”, está em regime de tramitação. Mesmo não tendo sido aprovado ainda, algumas das principais cadeias da região metropolitana, como a Penitenciária Nelson Hungria e a Penitenciária Dutra Ladeira, adotaram, diante de ordens governamentais, o uso deste aparelho. Em entrevista com o advogado criminalista, ex-presidente da OAB e professor aposentado de processo pe-
nal da faculdade de direito da UFMG, Dr. Marcelo Leonardo, quando perguntado sobre o motivo de ainda não ter adequado o body scan em todos os presídios, ele afirma que “existe uma questão política, relacionada ao econômico”. O criminalista ainda conta que as pessoas nunca optam em beneficiar os presídios. “Quando você faz uma proposta para implantar escola, hospital ou um presídio, as pessoas nunca vão escolher o presídio. Assim também para aparelhos. Entre investir o dinheiro público em equipamentos para hospitais, escolas ou cadeias, os políticos não escolhem a cadeia, porque não vão ter votos. Por isso, para ser aprovado, é preciso que alguém se sensibilize para te apoiar nessa ideia”, explica.
Procedimento O visitante deve entrar em uma sala com dois agentes (sendo do mesmo sexo) para os revistar
Após a entrada, é necessário tirar toda a sua roupa, sacudir a blusa, mostrar os bolsos das calças e sacudí-la, mostrar o sutiã (só é permitido um que não contenha bojo) e esticar em direção à luz, a calcinha (ou cueca).
Depois disto, o indivíduo deve agachar, em frente aos agentes, três vezes de frente e três fezes de costas, para que caia qualquer objeto que possa ter inserido em seu corpo.
Posteriormente a esses movimentos, deve-se colocar as mãos na parede, tirar e mostrar o chinelo (dobrando-o), além de levantar os pés e abrir os dedos.
Crédito: Caetano Costa
Logo após, a pessoa deve abrir a boca, colocando a língua para fora e passando-a entre os dentes. Também deve ficar de costas e passar a mão nos cabelos.
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Enquanto há essa discussão entre os políticos sobre ter ou não revistas íntimas, os familiares é que sofrem com uma humilhação que pode ser evitada. Uma vítima, que visita sua mãe há 3 anos, desabafa: “Já é horrível ver a sua mãe longe de você, saber que a sociedade te julga e ir vê-la em um lugar onde jamais desejaria que ela estivesse. Agora imagina o quão pior é ter que chegar, tirar toda sua roupa, fazer agachamentos, mostrar sua boca, pés, enfim... tudo. É muito humilhante. Uma revista realmente vexatória. É assim que eu a defino”. Para entrar em um presídio, é necessário um tipo de vestimenta adequada (calça jeans, blusa lisa e chinelo), assim como regras de alimentos (variam de cada presídio) e deve haver uma revista para prevenir a entrada de objetos ilícitos. Lucia Pereira Lima, de 78 anos, visita sua filha no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto (Piep) e detalha como é a revista que é submetida a passar. “Primeira coisa que a gente faz é entrar em uma salinha separada com duas agentes. Então somos obrigadas a tirar toda a roupa, mostrar o sutiã e espichá-lo pra ver se não tem nada nas alças, nem debaixo do suporte. Precisamos mostrar o cós das calças, apertar a bainha e tirar os bolsos para fora”, explica ela. Pereira continua, contando que “também temos que espichar o forro
da calcinha. Logo após, temos que fazer o movimento de agachar três vezes de frente e três vezes de costas. Passar a mão no cabelo, atrás da orelha, abrir a boca e passar a língua entre os dentes para ver se não tem nada. Além de tirar a sandália, mostrar a sola dos pés, abrindo entre os dedos e pegar a sandália, que é o chinelo havaiana, a dobrando para ver que não tem nada”. Este tipo de vistoria íntima não difere de acordo com o sexo e é considerada apta para todos, a partir de 12
Gisele Oliveira, de 27 anos, que visita seu irmão na penitenciária Dutra Ladeira, há 6 meses, conta que a revista é feita pelo body scan e completa o pensamento de Rodrigues ao dizer: “me sinto muito melhor passando por esse procedimento”. Mas não foi sempre assim. Oliveira já visitava seu irmão antes de sua transferência para a Dutra e não possuía o raio-x. Por isso, a irmã sabe muito bem como é a sensação de ter que se despir e admiti ter se sentido muito aliviada ao saber que não iria mais ter que passar por aquele constrangimento. Mesmo com esse constrangimento, todas as vítimas entrevistadas concordam que sem esta outra forma de revista (body scan), a íntima, por Vitor Douglas Correa Rodrigues pior que possa ser se torna necessária, afinal exisanos de idade. Isso quer dizer que até tem pessoas que tentam, e às vezes até mesmo crianças são submetidas a pas- conseguem, entrar com coisas ilícitas. sar por um procedimento considerado, “Ninguém carrega estrela na testa. Ou pelas vítimas entrevistadas, vexatório. seja, os policiais não conseguem só de Vitor Douglas Correa Rodrigues, de 30 olhar para alguém saber ela é ou não anos, é marido de uma presidiária e se honesta, se está ou não entrando com mostra insatisfeito com essa situação celular, drogas, entre outros. A revista toda, principalmente, porque existe íntima é errada pelo fato de que existe tecnologia. “Eu acho que pelo ano que outra oportunidade que só não é conós estamos vivendo, 2016, a moder- locada em prática porque o governo nidade favorece para não ocorrer isso. pensa primeiro no dinheiro, mas se não Tinha que evoluir, tinha que ter mo- houvesse o meio eletrônico, infelizmendernidade. Então eu acho que a melhor te, isso teria que permanecer (pensanforma que teria é o scanner”, afirma. do na segurança interna do presídio)”.
“
Tinha que evoluir, tinha que ter modernidade. Então eu acho que a melhor forma que teria é o scanner”.
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Ilustração: Caetano Costa
Vagão cor-de-rosa: avanço ou retrocesso? Bruna Lima e Pollyana Gradisse
Assédios B.M.L.M, 19 anos, sofreu assédio enquanto utilizava o metrô da capital mineira. Ao entrar no transporte, ela começou a ser encarada por um homem que fazia cada vez mais gestos obsce-
Machismo presente nos detalhes Além disso, para movimentos feministas, o problema da proposta da lei inicia-se pelo nome “vagão cor-de-
rosa”. Pois a cultura machista e sexista considera a cor como exclusiva do sexo feminino. Outra grande adversidade é o funcionamento do transporte público, que será apenas em horários de pico, como se a mulher fosse violentada somente nesses horários. Segundo a psicóloga Danielle Rezende, o assédio sexual e moral podem influenciar de maneira profunda a vida da vítima. “Cada caso é um caso. Algumas mulheres podem ser bastante afetadas e desenvolver algum trauma psicológico relacionado ao tipo de ambiente onde foi ocorrida a violência”. Rezende ainda explica que devido a isso a vida da vítima possa ser afetada, mas afirma haver casos em que a mulher pode conseguir lidar melhor com a situação. “Não podemos generalizar”, enfatiza. Ainda segundo a profissional, o tratamento adequado nestes casos seria a psicoterapia. Ela auxilia a vitima a elaborar este trauma ao longo do processo terapêutico com ajuda profissional de um psicólogo. Até a finalização da reportagem, a equipe não obteve retorno do vereador Léo Burguês sobre as questões que envolvem a aprovação lei. A CBTU informou que ainda está analisando a proposta de retirada dos vagões.
Foto: Mônica Imbuzeiro
Vivemos numa sociedade em que a cultura do machismo e estupro está impregnada no cotidiano. Na mídia, o corpo feminino é hipersexualizado sendo representado como um objeto nos comerciais publicitários, principalmente em produtos como a cerveja. Neste caso, a mulher é exibida usando um biquíni em seu corpo sarado, o considerado “corpo padrão”, além de ser taxada como um brinde que vem junto à bebida. Assim, com seu grande poder influenciador, a mídia introduz e reforça tais conceitos à população, fazendo com que as pessoas vejam atitudes e pensamentos machistas com normalidade. Por esse motivo sempre lemos nos jornais, nas redes sociais e até mesmo nos noticiários de TV, depoimentos de mulheres que sofreram assédio sexual e moral em transportes públicos como o metrô. Por esse motivo, em vários lugares do mundo como Japão, México e Dubai foi implantado o vagão cor-de-rosa. O vagão é de uso exclusivo das mulheres em horário de pico. Aqui no Brasil, na cidade de São Paulo, o projeto de lei foi vetado pelo governador Geraldo Alckimin. Porém, no Rio de Janeiro, o “vagão rosa” foi implantado há sete anos e, no Distrito Federal, há dois anos. Em outubro deste ano, foi aprovado um projeto de lei em Belo Horizonte, de autoria do vereador Léo Burguês, começando a funcionar no dia 21 de novembro. Mas a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) tem tentado impedir que os vagões sejam implantados.
nos. Constrangida, a estudante se retirou do vagão. De acordo com a Constituição Federal de 1988, todos possuem o direito de ir e vir. Portanto, as mulheres não serão obrigadas a utilizarem o vagão exclusivo. “Achei abusivo. Só de estar culpando a mulher, mesmo que indiretamente, pois só de enxergar essa lei como uma solução já é um absurdo. Excluir as mulheres em um vagão não vai fazer o homem deixar de abusar. Essa solução é superficial e machista. Até porque os abusos não acontecem apenas em metrôs”, afirma B.M.L.M. Por outro lado, V.B., 19 anos, que também já sofreu assédio no metrô de Belo Horizonte, acredita que os vagões cor-derosa podem ajudar a diminuir esse constrangimento para as mulheres. “Acho que se desde cedo fosse ensinado para o homem que ele deve respeitar uma mulher, não precisaria disso, mas, como isso não acontece, acho que o vagão é uma ideia justa, principalmente, nos horários de pico em que há mais possibilidade de haver assédios”, opina a estudante.
O vagão feminino no Rio de Janeiro
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Roxanne Uma crônica Ana Clara Barcelos O convívio é um ultimato. Nós, como espécie e sociedade, estamos fadados a conviver com as outras pessoas, partilhar pedaços da nossa existência com elas. Podemos tentar nos separar, nos afastar, mas, nunca vamos conseguir nos separar totalmente dos outros. Pondo assim no papel (no caso, numa tela), em linhas curtas e grossas, parece ser quase uma sentença: você vai precisar fazer isso, ponto. É mesmo ruim assim? Acredito que não, sabe? Pelo menos para mim, é impossível viver se afastando dos outros, construindo uma barreira que mais cedo ou mais tarde vai se desfazer. É certo que, quando você se abre para as pessoas, elas podem te machucar e, em contra partida, você também pode fazer isso com elas. É uma faca de dois gumes com a qual andamos armados todos os dias, todos os momentos. Uma frase mal pensada e uma palavra mal usada podem acabar em brigas, um momento de raiva tem o poder de terminar uma relação. Incrível, fascinante. É aí que entra a sacada: Se você se controla demais, as coisas não fluem. Se você não tiver autocontrole as coisas acabam errado. O que fazer? Bem, no momento em que você nasceu, você se inscreveu num curso que não tem fim. As provas são sempre surpresa. Certo, você pode se trancar no seu quarto e se desligar do mundo exterior, seriam as férias nessa minha metáfora. A cada erro você se constrói mais um pouco,
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encaixa mais uma peça. É um processo lento, cansativo, estressante, a sina de ser um animal sociável. Acho que é essa a beleza de ser gente. É poder mudar as pessoas e ser mudado, construir histórias, crescer como pessoal. O poder que temos sobre os outros é incrível. Por exemplo, você deve se lembrar de algo que te disseram na escola e que ficou com você até hoje. Te marcou e talvez tenha mudado o seu jeito de agir de alguma forma. Talvez a pessoa nem se lembre que te disse isso, mas você não vai esquecer tão cedo. Eu me lembro de coisas idiotas, como: “esse tipo de brincadeira não se faz com os outros” ou “você é idiota.” Tentei me lembrar de mais exemplos, mas não consegui pensar em nada mais marcante, algo que você coloca em alguma postagem motivacional. Bem, voltando ao assunto, não podemos esquecer que isso não se aplica a somente palavras. Qualquer ação que você faça pode marcar alguém pelo resto da vida. Não quero dizer que é pra todo mundo se auto-disciplinar a todo momento e pensar atentamente antes de falar algo, para nunca magoar ninguém. Só que… É importante ter noção de que somos agentes da mudança a todo momento. Um pouco de compaixão e de empatia nunca fez mal a ninguém. Afinal, ninguém está realmente sozinho, de um jeito ou de outro. Ah, porque esse título? É uma música que me lembra de alguém que já foi muito especial pra mim. Viu... Tudo nos remete ao outro! Então...