Ao Leitor A preocupação nesta entressafra que se inicia é geral: o milho, o principal ingrediente da ração de bovinos leiteiros, subiu muito de preço. Nem a safra de verão, cuja colheita terminou recentemente, parece ter dado alívio, em vista das exportações crescentes do cereal e também da própria redução de área plantada. Por isso Mundo do Leite foi atrás de alternativas para o pecuarista. E encontramos várias, desde a polpa cítrica, passando por gramíneas com alto teor de proteína até a cana-de-açúcar corrigida, altamente energética, e também mandioca. Produtores como Edmilson Vilela _ orientados sempre por um nutricionista _ e especialistas dão as dicas de como manter o rebanho bem nutrido e produtivo no inverno. Vamos lá?
LUIZ PRADO
Entressafra e fartura de alimentos
18 Capa
Bem-estar
Em tempos de milho caro, as alternativas para compor o concentrado na estação seca.
26 Vento e água gelada na sala de ordenha
Meio ambiente
30 Prazo para entrega do CAR é dia 5 de maio
Equipamentos
34 Toda atenção na manutenção da ordenhadeira
Saúde animal
Capa: Lay-out: Edgar Pera Arte final: Edson Alves Foto: Luiz Prado
42 Tripanossoma se dissemina nos rebanhos
Colunistas
10 Gestão, Christiano Nascif 38 Qualidade, Marcos Veiga 42 Saúde Animal, José L. M. Vasconcelos 44 Sustentabilidade, Alexandre Pedroso 50 Seguindo em frente, Ismail Haddade
Seções
feito o novo censo das cooperativas de leite.
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3 Ao Leitor 8 Mercado 9 Palavra da Indústria 46 Empresas e Produtos 48 Eventos
Mundo do Leite
Entrevista Pedro Silveira O analista técnico e econômico da Organização 4 das Cooperativas Brasileiras conta como será
Legislação
Normativa permite que indústria de laticínios compense créditos do PIS/Cofins em favor de programas de qualidade de leite e capacitação
É uma publicação bimentral da DBO Editores Associados Ltda., com circulação em fevereiro, abril, junho, agosto, outubro e dezembro.
Diretores
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Demétrio Costa Redação
Arte
Editor: Edgar Pera EDITORAÇÃO
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Editora: Tatiana Souto
Tiragem desta edição: 20 mil exemplares. Tiragem e circulação auditadas Circulação e Assinaturas
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Entrevista
Pedro Silveira
A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) anunciou, em março, um importante empreendimento para o setor leiteiro nacional, que pretende obter um fiel raio X da pecuária leiteira. Com os dados em mãos, poderão ser traçadas estratégias a partir de bases sólidas. Trata-se do segundo censo das cooperativas de leite do País. O primeiro foi realizado 14 anos atrás, em 2002, e foi essencial para estimular, por exemplo, a execução do Sistema de Monitoramento do Mercado de Leite no Brasil (Simleite) e o Projeto Setorial de Exportação de Lácteos. Agora, novo mapeamento, em parceria com a Embrapa, será realizado entre mais de 300 cooperativas do setor. Quem nos detalha a história é o analista técnico e econômico do Sistema OCB, Pedro Silveira.
OCB traça novo mapa das cooperativas de leite do País tação no País ocorria por intermédio de cooperativas e que havia uma concentração do volume entre cooperativas do Sudeste, com quase 53% do total, seguidas pelo Sul, com 36%. Desde então, porém, foi notável o crescimento da produção total no Sul, que se deu em grande parte pelo fortalecimento e pela participação das cooperativas na cadeia. Além disso, uma das principais justificativas para fazer este novo levantamento se dá porque, desde o primeiro censo, o mercado de lácteos tem passado por profundas mudanças: a adoção de tecnologias, a dificuldade com mão de obra especializada e novos marcos regulatórios, que fazem crescer o desafio do cooperativismo de leite brasileiro para se manter competitivo.
Mundo do Leite – A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) vai iniciar novo censo das cooperativas de leite. O que a entidade espera encontrar entre este censo e o anterior, de 14 anos atrás? Pedro Silveira – Uma das propostas deste levantamento é justamente fazer as mesmas perguntas do primeiro censo,
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de 2002. Mas é importante ressaltar que o trabalho não consiste somente em obter os principais dados das cooperativas do setor, mas sim fazer análises dentro do ambiente em que essas cooperativas estão inseridas, como o próprio mercado. É difícil prever algum resultado. De todo modo, devemos ver alguma mudança regional da captação de leite. No censo anterior, foi identificado que 40% da cap-
A Embrapa contribuirá com o censo? A Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG), será fundamental. Com sua expertise, vai nos ajudar desde a construção dos questionários até a consolidação dos dados coletados e a análise comparativa com o cenário internacional do cooperativismo de leite. Há que se ressaltar que, assim como ocorreu na época do primei-
Não é o número de cooperativas de leite que define a concentração no setor, mas sim a participação das maiores neste mercado” ro levantamento, de posse desse diagnóstico, vamos estabelecer ações que possam ajudar no desenvolvimento do setor. A Embrapa também contribuirá. Vamos buscar , além disso, os dados do máximo de cooperativas possíveis, e para isso destaco a importância do apoio que desde o início dos trabalhos tem sido dado pelas nossas unidades estaduais, que estão em contato direto com essas cooperativas no seu dia a dia.
As cooperativas de leite se concentraram, se consolidaram no período? Quantas instituições do gênero a OCB pretende ouvir? No último levantamento, foram obtidas respostas de 288 cooperativas. Para este ano identificamos mais de 300, que trabalham com o produto em todo o País. Mas é importante ressaltar que não é o número de cooperativas que define a concentração no setor, e sim a participação das maiores neste mercado. Em 2002, as cooperativas foram estratificadas por seu volume de captação, sendo as que captavam acima de 55 mil litros/dia, que totalizavam 98 das 288 da pesquisa, eram responsáveis por quase 84% do volume e reuniam mais de 67% do total de produtores associados.
Já era concentrado desde aquela época, então... De certa forma, mas nem tanto. Quando vemos, por exemplo, o resultado da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE, de dezembro de 2015, que traz que, no 3.º trimestre daquele ano, 84% da aquisição de leite foi feita por estabelecimentos que processaram mais de 50 mil litros de leite/dia, poderíamos inferir que há a tendência natural de concentração de volu-
mes nas maiores indústrias e cooperativas. Num país com as dimensões do Brasil, porém, talvez esse movimento seja mais demorado. Exemplo disso é que, no ranking dos 13 maiores laticínios do Brasil (pesquisa da Leite Brasil), dos quais 6 trabalham somente com leite captado por cooperativas, os mesmos processaram quase 9,5 bilhões de litros, captando 7,15 bilhões de litros diretamente de produtores em 2014. Comparando com o total de 25 bilhões de litros captados pelas indústrias no mesmo período, o leite captado diretamente do produtor pelos 13 maiores laticínios representa cerca de 28% do volume total. É uma concentração, mas em níveis menores ante países concorrentes na produção. Quando avaliamos pela outra ponta da cadeia, a produtora, acredito que estamos ainda distantes para falar em concentração, pois a produção é muito difusa. Na verdade, essa grande quantidade e heterogeneidade dos produtores de leite no País faz com que a participação dos modelos societários cooperativos seja encarada como importante para a cadeia, uma vez que estes players têm a maior capacidade de coordenar todo setor produtivo.
Quais serão os principais pontos abordados no censo? Temos como objetivo principal da pesquisa conhecer a relação das cooperativas com os produtores e o mercado. Serão levantados os dados para que tenhamos um retrato fiel do setor por meio dos números de participação das cooperativas no mercado de leite, perfil de seus produtores associados, diversidade dos modelos de negócios, tipos de serviços e de assistência técnica que as cooperativas oferecem aos seus membros, além de captar
os principais problemas e o que as mesmas esperam para o futuro da atividade. O questionário certamente será muito rico de informações, e importante para que possamos posteriormente inserir esses dados no contexto “macro” do setor. É importante lembrar, ainda, que, por força de contrato, os dados são divulgados somente na sua forma agregada. Em nenhum momento haverá acesso às informações particulares das cooperativas, a não ser pelos pesquisadores, com garantia de total segurança do sigilo dos dados coletados.
Em que o censo anterior auxiliou o setor produtivo abrigado nas cooperativas? Poderia dar exemplos práticos que tenham se originado a partir do que foi constatado no censo? Já com o suporte o censo passado, os estudos de casos de sucesso e as tendências do cooperativismo e da cadeia de leite no mundo, iniciamos, em 2003, um trabalho para a construção de um plano de desenvolvimento estratégico para o setor, que culminou em um plano de ação com propostas para o fortalecimento das cooperativas de leite. Eram três os objetivos principais: aumentar a participação das cooperativas no mercado lácteo nacional, fomentar a exportação e a agregação de valor. Dentro disso, destacamos as seguintes ações efetivadas: o Sistema de Monitoramento do Mercado de Leite no Brasil (Simleite) e o Projeto Setorial de Exportação de Lácteos, executado pela OCB e Apex-Brasil. Entre 2013 e 2014 as empresas participantes do projeto aumentaram em 1,5 vez a quantidade de destinos externos de seus produtos e em quase três vezes o número de produtos exportados. Outras demandas do plano continuaram a ser trabaabr-mai/2016 Mundo do Leite
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Entrevista
Pedro Silveira
lhadas, como o fortalecimento das ações conjuntas entre as cooperativas e a capacitação de gestores por meio do Sistema Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) e o fortalecimento da indústria para agregação de valor.
A relação da cooperativa com o produtor de leite e sua contribuição na capacitação do pecuarista, sobretudo para melhorar a qualidade do leite, está no foco deste censo? Sim, conhecer o que já vem sendo executado com sucesso por cooperativas, as boas práticas e sua disseminação também são objetivos desse levantamento. É importante ressaltar, novamente, que o sistema cooperativista tem no Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo, o Sescoop, um forte apoio para a capacitação de técnicos nas cooperativas e cooperados, em seus distintos níveis e respeitando sua diversidade e as necessidades identificadas e demandadas nos levantamentos.
Como o sr. vê o atual cenário de capacitação do produtor de leite? Poderemos detectar grandes mudanças desde o último um censo? Creio que não somente o produtor de leite, mas o produtor agropecuário em geral, tem evoluído, e os números do agronegócio nacional comprovam isso. Se refletirmos sobre a quantidade e o acesso à informação que tínhamos 13 anos atrás, veremos que a informação era mais escassa. Além disso, as tecnologias se disseminam ainda mais com popularização de ferramentas como a internet. Um dado interessante vem de uma pesquisa que a própria OCB realizou, em conjunto com a Fiesp, e tinha como objetivo traçar o perfil do produtor rural que representa, com grau de confiança de 95%, o Valor Bruto da Produção Agropecuária. Buscando esse recorte que reflete o dinamismo do setor, nos surpreendemos com o nível de especialização e
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a alta escolaridade desses produtores e notamos ainda que a maioria dos entrevistados, 64% dos 645, eram associados a cooperativas.
Fala-se que a tendência da pecuária leiteira no Brasil é de uma concentração cada vez maior no setor, como ocorreu nos EUA e na Argentina. O sr. concorda?
A legislação recente, que permite descontar créditos do PIS/Cofins para capacitação de produtores, deve garantir um salto de qualidade do leite no País? Se sim, em que prazo?
A concentração por parte da indústria parece um movimento natural, para fazer frente ao setor de varejo, altamente concentrado. Nesta ponta, a vantagem do modelo cooperativo é que não somente a fusão ou aquisição são as saídas – a formação de cooperativas de segundo grau (centrais) e a intercooperação têm se mostrado eficientes para ganho de escala e facilitação para prestação de serviços, além das parcerias com outros modelos societários. Por parte do produtor, temos ouvido cada vez mais relatos sobre o aparecimento de um grande número de projetos de investimentos em sistemas de confinamento, mas, somadas, as maiores fazendas produtoras de leite ainda não representam uma grande parcela da produção nacional. O cooperativismo tem trabalhado em algumas regiões, com o fomento aos condomínios de produtores, na busca de escala. Entretanto, ainda precisamos buscar avaliar não somente quanto se produz de leite, mas com qual eficiência. Acredito que o processo se inicia pela avaliação da rentabilidade da produção, como ouvi de um produtor de Mato Grosso, o senhor Nivaldo Michetti: “O mais importante não é quantos litros de leite você produz, mas quanto você ganha por litro”.
Participamos, juntamente com outras entidades da cadeia, da construção do Programa Leite Saudável, do Ministério da Agricultura, que definiu sete eixos principais para melhorar a competitividade da cadeia de lácteos. Dentre esses eixos está a melhoria da qualidade do leite. O primeiro passo vem sendo dado por meio da construção do sistema de monitoramento da qualidade do leite nacional, que será coordenado pela Embrapa Gado de Leite, e ao mesmo tempo também a possibilidade da utilização dos créditos de PIS/Cofins quando a pessoa jurídica tiver aprovados, pelo Ministério da Agricultura, projetos de investimento para atividades destinadas a auxiliar produtores de leite no desenvolvimento da qualidade e da produtividade de sua atividade. Um passo importante foi dado para esse processo, iniciado em outubro de 2015: a aprovação, ainda que em número restrito, dos primeiros desses projetos, em março de 2016. Existe um montante considerável de recursos que o setor poderá aportar nessas iniciativas. Segundo o próprio ministério, em fevereiro eram mais de R$ 90 milhões somados. Estes recursos podem trazer os resultados almejados para a política, por isso o esforço é para que tenhamos mais projetos aprovados, em todos os Estados, para que as cooperativas possam de maneira segura realizar os investimentos e utilizar os créditos a que têm direito. Mas somente a partir da aprovação dos projetos poderemos ter essa visão do real potencial da normativa.
Na sua opinião, que cenário os produtores de leite e suas cooperativas devem enfrentar este ano? Em março estivemos reunidos com as cooperativas, na Câmara de Leite do Sistema OCB. Dentre as principais discussões, mostramos que o cenário político tem influenciado muito negativamente, pelas incertezas do ambiente. O mercado de soja e principalmente de milho, principais insumos para o concentrado energético, têm sofrido uma forte pressão de demanda, interna e externa, que tem elevado os preços
desses produtos. Isto cria uma conjuntura desfavorável para a produção de leite. Neste cenário, a evolução dos indicadores diários de leite UHT e muçarela da pesquisa realizada pelo Cepea (com apoio da OCB), estão nos maiores patamares desde 2011 para o período, demonstrando tendência para correção, por meio de aumentos, aos preços pagos aos produtores. Resta saber se esta correção será a níveis suficientes para estimular a produção, bem como se será possível algum repasse de valor em um mercado consumidor também em retração, para dar sustentação a esses preços no médio prazo.
sionador da qualidade do leite?
As exportações, assim como ocorreu nos setores de aves e bovinos de corte, podem ser um importante impul-
Somos um mercado comum, e atrativo para os produtos lácteos da Argentina e do Uruguai, especialmente
Para exportação, a qualidade e a sanidade são pré-requisitos. Para um país de dimensões continentais como o nosso, temos que buscar especialmente estratégias adequadas em relação à sanidade, o reconhecimento oficial por meio da regionalização. Um primeiro passo já foi dado com a revisão do regulamento do Programa Nacional de Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose do Ministério da Agricultura.
Mercosul é, afinal, um parceiro ou uma pedra no sapato para o setor leiteiro brasileiro?
quando os patamares de preço do mercado internacional estão baixos. A principal reclamação e foco da atuação é sobre a previsibilidade da entrada desse produto no país. A entrada de grandes volumes de uma só vez pode desestabilizar o mercado nacional, por isso o acordo privado de cotas com a Argentina. Além disso, para defesa da concorrência, devemos trabalhar dentro dos mesmos padrões de exigência de qualidade sobre os produtos produzidos aqui ou importados e rechaçar qualquer medida que caracterize dumping. Como superavitários na produção, a melhor parceria seria o bloco formar uma base para exportação. Uma discussão antiga dentro do setor, mas é importante não deixá-la de lado. n
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Mercado O leite nas pistas
Preço pago ao produtor subiu até nos meses de verão Tatiana Souto
Preços médios dos leilões de gado leiteiro¹ Praça²
Total de animais vendidos
Faturamento (em R$)
Preço médio (em R$)
MG
358
1.023.660
2.859
SP
155
768.720
4.959
GO
-
-
-
Comparação entre 2015 e 2016 2 (Até 18/3 de cada ano) 2015
2016
Média de preços (em R$)
3.303
3.494
Total de animais vendidos no País
2.716
513
(1) Período de 18/2/2016 a 18/3/2016 (2) Nas três principais praças de comercialização
Variação do preço do leite ao produtor Média nacional ponderada - em R$/litro
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Leite em alta na entressafra
Mundo do Leite abr-mai/2016
E
m um mês em que se previa alta na captação do leite – entregue em janeiro para pagamento em fevereiro –, o que ocorreu foi justamente o oposto. Assim, depois de sucessivas baixas no ano passado, o preço pago ao produtor vem subindo, em razão da oferta menor, desde novembro, e mantém a firmeza. Segundo a Scot Consultoria, o litro do leite no período considerado ficou cotado em média em R$ 0,983, aumento de 1,7%. No acumulado desde novembro de 2015, quando o mercado começou a se firmar, a valorização é de 2,5%. E em comparação a fevereiro do ano passado, o produtor está recebendo 11,1% mais pelo litro de leite. O Cepea também indica alta no preço ao produtor no período e mais: a maior queda na captação de leite nos últimos dez meses. O centro informa que o índice de captação do leite de janeiro sinalizou redução de 4,4% em relação a dezembro, considerando a “média Brasil”, formada por sete Estados. Segundo o Cepea, o Sul registra as maiores baixas na captação, principalmente por razões climáticas. Além disso, a alta dos custos de produção, principalmente do concentrado, levou produtores a adiantarem a secagem das vacas, para reduzir custos. Agora, com o início da entressafra, a
perspectiva continua sendo de alta no preço, pela diminuição sazonal da produção. A pressionar os custos de produção, porém, estará o alto preço do milho. A Scot confirma, em sua Carta Leite, que este ano será difícil para o setor lácteo. “Além da economia ruim, que deverá continuar afetando diretamente o consumo de lácteos, os preços dos insumos deverão permanecer em patamares elevados, com grande influência do dólar”, diz a consultoria. No caso do milho, o Cepea indica que na média de todas as regiões acompanhadas pelos pesquisadores, houve alta de 5,2% no mercado de balcão (preço recebido pelo produtor) entre 29 de janeiro e 29 de fevereiro. No mercado de lotes (negociação entre empresas), a alta foi de 4,3% no período. O Cepea diz, ainda, que para março (em relação ao leite entregue em fevereiro), a expectativa é de que os preços do leite ao produtor sigam em alta. Entre os profissionais de laticínios/cooperativas consultados, 94,1% (que representam expressivos 99,6% do leite amostrado) acreditam em nova alta para o próximo mês. Os outros 5,9% (que representam 0,4% do volume de leite amostrado) têm expectativas de estabilidade dos preços. Já a Scot diz que para o pagamento de março, 75% dos laticínios acreditam em alta dos preços; 18% falam em manutenção e os 7% restantes estimam queda. n
Palavra da indústria
Com quase 100 anos, vigor juvenil Companhia láctea dobrou faturamento de 2014 para 2015, para R$ 242,7 milhões, e projeta novo crescimento para este ano Tatiana Souto
A
palavra crise não existiu no dicionário da Vigor Alimentos no ano passado. A companhia, uma das principais fabricantes de produtos lácteos do País, pertencente à holding J&F (a mesma da JBS), dobrou seu lucro entre 2014 e 2015. Em balanço divulgado no dia 15 de março, a companhia apresentou faturamento de R$ 242,77 milhões, ou exatos 102,3% mais ante os R$ 120,02 milhões do ano anterior. O desempenho em relação ao quarto trimestre de 2015 – que já reflete a “temperatura” de 2016, sinalizando perspectivas para este ano – também foi bastante positivo. Entre outubro e novembro do ano passado, a Vigor teve lucro líquido consolidado de R$ 50,34 milhões, ou 26,9% mais em relação aos R$ 39,78 milhões reportados no mesmo período de 2014. Já na receita líquida consolidada, outro avanço. O indicador bateu no R$ 1,47 bilhão entre outubro e dezembro, 27,4% mais ante o mesmo período do ano anterior. Em todo o ano de 2015, a receita somou R$ 5,21 bilhões, ou 18,8% mais. A dívida líquida caiu 1,8% entre o fim de 2014 e dezembro de 2015, para R$ 767 milhões. Com isso, a ala-
“Fizemos recentemente a reformulação de todo o portfólio de produtos. Hoje possuímos o maior e melhor posicionamento competitivo em queijos especiais no Brasil”
Gilberto Xandó - CEO da Vigor vancagem da companhia, medida pela relação dívida líquida/Ebitda, recuou de 2,2 vezes ao fim de 2014 para 1,7 vez no último trimestre de 2015. Ou seja, a Vigor, com quase cem anos de fundação, demonstra saúde de sobra para enfrentar 2016 e os próximos anos, mesmo com um mercado interno com consumo retraído e o externo com preços de lácteos em queda. O volume comercializado pela companhia, que apostou em 2015 em produtos lácteos com maior valor agregado, como o iogurte Grego, foi 11,9% maior no ano passado, totalizando 921,9 mil toneladas. “Vale destacar o desempenho da categoria Lácteos, que totalizou 261,2 mil toneladas, ou 12% mais ante o ano retrasado”, destaca a empresa, no relatório de resultados. Com várias aquisições nos últimos anos, sendo as mais recentes e importantes a compra de 50% da Itambé, em 2013, e da Dan Vigor (que era dona da marca Danúbio), em 2014, o CEO da companhia, Gilberto Xandó, confirma, no relatório de resultados, que a Vigor “vive um momento
especial”. “Agregamos marcas importantes, como Itambé, Danubio, Faixa Azul, Serrabella, Jong, Leco, Amélia e Vigor Food Service e atuamos em mais de 62 mil pontos de vendas no País”, diz. A gigante Vigor dispõe, além disso, de 15 unidades fabris e 18 centros de distribuição. “Alcançamos, em 2015, a marca histórica de R$ 6 bilhões de receita bruta consolidada”, destaca. Xandó lembra, também, que a companhia estruturou o negócio de queijos, “tornando as marcas ainda mais atrativas, com novos produtos e modernização das cinco unidades de produção (São Gonçalo, Cruzeiro, Lavras, Lima Duarte e Santa Rita de Ibitipoca)”, comenta. “Fizemos recentemente a reformulação de todo o portfólio de produtos. Hoje a Vigor possui o maior e melhor posicionamento competitivo em queijos especiais no Brasil, com as marcas Faixa Azul, Serrabella, Danubio e Jong”, confirma o presidente da companhia. O executivo conclui sua exposição, dizendo que aposta, para este ano, na nova plataforma de produção, em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro. “Vamos ampliar a nossa presença nos mercados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e algumas regiões do Nordeste”. n
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Gestão Christiano Nascif
Como ganhar mais: com terra, arrendamento ou leite? Mostramos que uma propriedade leiteira bem conduzida resulta na atividade mais vantajosa das três Christiano Nascif Zootecnista, coordenador de assistência do Pdpl-RV , coordenador técnico do Projeto Educampo/Sebrae e proprietário da Labor rural. E-mail contatos@ laborrural.com, tel.
Luiz Prado
(31)3899-5251
O
objetivo deste artigo é esclarecer uma dúvida que muitos produtores têm, quando apresentamos resultados econômicos da atividade leiteira: podemos incluir a valorização ou a desvalorização da terra no resultado da atividade leiteira? A resposta é não. Para justificar, vamos propor três situações. A primeira é daquele produtor que compra a terra com o objetivo de especulação imobiliária e joga com a sua possível valorização. A segunda se refere aos produtores que possuem a terra, porém não querem desenvolver nenhuma atividade econômica produtiva para não correr risco, por falta de aptidão ou, até mesmo, por não terem tempo para conduzir e administrar o negócio rural corretamente e da forma necessária, pois é uma empresa como outras, necessita de dedicação, competência e eficiência para que dê resultados técnicos e econômicos positivos. A terceira se refere àqueles produtores que querem utilizar as suas terras para produzir leite com competência e eficiência. Para tanto, correrão riscos inerentes a qualquer empreendimento, terão que se dedicar e trabalhar muito, principalmente na gestão da sua
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Mundo do Leite abr-mai/2016
empresa rural. Administrar uma fazenda é mais desafiador do que uma empresa urbana, em razão do alto capital imobilizado e da diversidade de fatores que não são controlados pelo dono. Por exemplo, as variações climáticas, pois interferem diretamente nos resultados técnico-econômicos da atividade. É importante analisar as três situações separadamente. Não podemos misturá-las, sob pena de não sabermos, no resultado final do empreendimento, se o produtor rural ganhou dinheiro porque foi competente para produzir leite ou porque fez um bom contrato de arrendamento, ou porque teve visão e sorte com o aumento do valor da terra _ ou seja, foi um bom especulador imobiliário. Para explicar as diferenças em números, vamos utilizar resultados obtidos por 77 produtores que participaram do Projeto Educampo/Sebrae em MG, entre 2011 e 2015, com todos os indicadores deflacionados para janeiro de 2016. Esses produtores utilizam, em média, 91 hectares para a atividade, com o estoque de capital, empatado em terra, em torno de R$ 832.414,52. Este valor representa 48% do total do capital médio investido na atividade, que, em 2015, foi de R$ 1.813.817,00.
Percebam que a atividade leiteira necessita investir muito dinheiro em patrimônio e é por este fato que os seus resultados devem ser considerados no médio e longo prazos. Não se deve tomar decisões radicais nesta atividade considerando somente situações de momento. Há de se analisarem as informações de forma equilibrada, no mínimo, em médio prazo, para que as decisões sejam corretas e os planejamentos mais assertivos. Vamos simular que esse grupo de produtores tenha optado pela primeira estratégia, a especulação do valor da terra. Adquiriram as terras e não as exploraram, nem arrendaram. Simplesmente esperaram as forças de mercado entrar em
ação. Será que ganharam ou perderam? A FGV divulgou um estudo mostrando que, no Sudeste, nos últimos três anos, as terras se valorizaram, em média, 57% e, no Brasil, 62%. Portanto, no período, o investimento em terra foi no mínimo suficiente para proteger o patrimônio contra a inflação, acumulada em 20%. Com base nesses dados, podemos afirmar que aplicar o dinheiro em terra proporcionou um ganho médio real de 37% para Minas Gerais, e 42% para o Brasil, pois são as valorizações descontadas da inflação no período. Vamos aos números. Em 2011 o capital empatado em terra, pelos 77 produtores analisados, foi R$ 610.049,07. Já em 2015, R$ 832.414,52, com a mesma área. Dessa forma, podemos concluir que suas terras se valorizaram em R$ 222.365 em cinco anos, ou seja, 36,5%. Este foi o ganho real, visto que todos os indicadores desses produtores já estariam deflacionados pelo IGP-DI de janeiro de 2016, caso optassem pela primeira estratégia.
Se esses produtores escolhessem a segunda opção, arrendariam seus 94 hectares por cinco anos e, com isso, além da valorização da terra, teriam os ganhos com o arrendamento. Mas, somando essas duas fontes, qual seria o ganho? Com o arrendamento, utilizando os contratos atuais de R$ 30/ha/mês e tendo como referência os de gado de corte, em cinco anos os produtores ganhariam R$ 169.200. Vamos considerar que o valor de R$ 30/ha seria reajustado com a inflação, de modo que seria um ganho real. O arrendamento proporcionaria um ganho de R$ 169.200 e a especulação imobiliária renderia um aumento no patrimônio equivalente a R$ 222.365. Somando os dois negócios, podemos concluir que, para estes produtores, nos últimos cinco anos, os 94 hectares de terras próprias proporcionou um ganho de R$ 391.565. A terceira situação foi o que de fato ocorreu, portanto, não é simulação. Quanto estes produtores ganharam por ter optado por produzir leite nos 94 hectares nos últimos cinco anos? Este valor evidenciará se o negócio leite foi atrativo e rentável economicamente. Essa conclusão vai definir as estratégias para continuar na atividade leiteira, ou deixá-la, além de apontar algumas falhas na gestão técnico-econômica das propriedades, contribuindo assim para planejarmos os ajustes necessários e melhorar os resultados. Estes 77 produtores acumularam uma margem líquida real de R$ 391.999, já descontada a inflação dos 5 anos. Neste caso podemos separar os dois negócios: o negócio
leite e o negócio imobiliário de terra rural. Concluímos então que, para estes produtores, produzir leite em terra própria foi melhor do que deixar as terras paradas, esperando as valorizações. O resultado do negócio rural se constitui na soma da margem líquida proveniente da atividade leiteira mais a valorização patrimonial. Neste caso, consideramos somente as terras no período em que analisamos (cinco anos). O resultado do negócio rural foi de R$ 614.364 (R$ 391.999 + R$ 222.365).
Não podemos misturar os resultados. Em média, os 77 produtores ganharam R$ 391.999 em 5 anos, pois o ganho com a valorização das terras nos proporciona uma ideia de riqueza, uma vez que o patrimônio se transforma em renda somente quando vendemos. Eles melhoraram suas condições econômico-financeiras quando colocaram mais dinheiro no bolso e aumentaram o valor de seu patrimônio. Quando comparamos com o primeiro caso, somente especulação, houve um ganho econômico, mas não houve ganho financeiro, pois aumentou o valor do patrimônio em terra e não aumentou o dinheiro no bolso do produtor. O patrimônio terra foi elevado em R$ 222.365. Vamos agora comparar a terceira situação, que foi a real, com a segunda simulação, que é o arrendamento da terra. Explorar a atividade leiteira com eficiência foi superior em rentabilidade à opção de somente arrendar a terra. Quando comparamos os resultados do negócio rural, a opção por explorar a atividade leiteira supera a atividade arrendamento em R$ 222.799 em cinco anos, pois são R$ 614.364 ante R$ 391.565,10. Percebam o quanto o fator produção-terra na atividade leiteira pode definir o sucesso ou o insucesso do negócio leite. Se nas terras é onde se deposi-
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Gestão
ta a maior quantia de capital imobilizado, na atividade leiteira elas deverão ser muito bem trabalhadas, com a maior produtividade possível e com equilíbrio econômico, para que o produtor possa ter maiores ganhos.
Vejamos o caso de sucesso desses 77 produtores: em 2011, eles alcançaram 1.185,65 litros/dia, com uma produtividade média das vacas em lactação de 14,47 litros/dia; com 0,80 vacas em lactação/ hectare, conseguindo uma produtividade da terra de 4.599,00 litros/hectare/ano. Em 2016 os indicadores foram: 1.540 litros/dia; 16,14 litros/dia; 0,97 vacas em lactação/hectare e 6.151,86 litros/hectare/ano. Os indicadores técnicos melhoram e sabemos que podem evoluir mais ainda. Mas uma coisa é certa: não há mágica! Normalmente, onde a terra custa caro, não tem como ganhar dinheiro com a atividade sem aumentar a produtividade da terra usada para a pecuária. É diretamente proporcional: quanto mais aumenta a produtividade da terra em litros/hectare/ano, mais aumenta a da atividade leiteira. Para aumentar a eficiência de uso e a produtividade das terras na atividade leiteira temos duas alternativas: aumentar a produtividade das vacas em lactação (litros/vaca/dia) ou, aumentar o número de vacas em lactação por hectare (vaca/hectare). A multiplicação desses indicadores resulta na produtividade de leite por hectare. Estes indicadores, para serem melhorados, sofrem influência de todas as outras variáveis presentes na atividade leiteira, tais como reprodução, genética, produção de volumosos, estrutura de rebanho, conforto, manejo, alimentação e etc. Daí a complexidade e a importância da produtividade da terra
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para um sistema de produção de leite sustentável. Diante do exposto, vale atentar para as dicas: 1. Explorar com eficiência a terra e alcançar bons níveis de produtividade de leite por hectare é fundamental para o sucesso na atividade leiteira; 2. Avaliar os resultados do negócio leite, para saber se está eficiente ou não, deve ser de forma separada da valorização das terras. Misturar os resultados dos negócios tende a encobrir algumas ineficiências da atividade leiteira, nos impedindo de propor alternativas para corrigi-las. Quando descobrirmos as falhas, poderá ser tarde demais; 3. Saber que o negócio leite é diferente do negócio rural; 4. É importante que o produtor tenha muita clareza sobre o que é resultado econômico e o que é resultado financeiro. Quando temos muito patrimônio, mas não temos renda, liquidez, estamos bem economicamente e mal financeiramente. O produtor sofre para pagar as contas no fim do mês. Muitos produtores de leite se encontram nessa situação, necessitando gerar maior capital de giro. É como se fosse enriquecer falindo.
Valorização de terra causa impacto econômico, muitas vezes percebido tarde, quando os herdeiros se desfazem do patrimônio, o que condiz com a famosa afirmação: “Fazendeiro vive pobre sentado sobre um saco de dinheiro. Quando morre, os filhos vivem como ricos”. Voltamos a afirmar que o problema da pecuária leiteira no Brasil não é por falta de investimento em imobilizados, como máquinas, benfeitorias e terras. Via de regra há muito capital empatado para pouco leite produzido. É muito patrimônio para pouca liquidez. Para melhorar a situação do produtor de leite brasileiro, um dos caminhos seria o aumento do potencial de geração de caixa e de capital de giro. Isso se consegue, principalmente, com maior volume de leite vendido mensalmente, alcançado com melhor e maior número de vacas paridas, no curral. Eficiência na atividade leiteira se percebe nos resultados financeiros, no fluxo de caixa positivo, no curto e médio prazo e é o que gera fôlego para a sobrevivência, crescimento e investimentos para o produtor de leite. Portanto, o negócio leite deve ser avaliado separadamente do negócio terra, para avaliarmos de forma distinta o desempenho da atividade leiteira nos resultados financeiro e econômico do negócio rural. E você, estimado leitor, como está a sua atividade leiteira financeira e economicamente? n
L egislação
Mais recursos para investir na qualidade Instrução Normativa 45 prevê que laticínios invistam parte dos créditos que têm a restituir do PIS/Cofins em projetos destinados ao pecuarista Welliton Moraes
M
aior competitividade interna e externa, melhoria da qualidade, da genética, da produtividade e avanços sanitários expressivos, passando pelo armazenamento e transporte adequado do leite. Estas são algumas das principais áreas que podem ser aprimoradas na pecuária leiteira do País, a partir da Instrução Normativa 45, do Ministério da Agricultura. Publicada no fim do ano passado, a IN 45 permite que laticínios lancem mão de até 50% dos créditos presumidos do PIS/Cofins em projetos – voltados principalmente ao pecuarista – que invistam na melhoria da qualidade e na produtividade do leite. No mínimo, 5% do total desses créditos podem ser revertidos. As medidas estão inseridas em um programa mais amplo, o Leite Saudável, lançado em outubro do ano passado pelo governo federal, com investimentos previstos de R$ 386,9 milhões. Embora a IN 45 ainda esteja sendo digerida pelo mercado, começou a apresentar desdobramentos mais visíveis no início deste ano.
A dimensão de sua importância é dada pelo engenheiro agrônomo e consultor Abel Fernandes, sócio da Infinite Consultores Associados, de Juiz de Fora (MG), e defensor da qualidade da
Este é o momento, talvez histórico, de jogar todas as forças do setor, que agora terá mais recursos, na melhoria da qualidade do leite, principalmente na redução de CCS e de CBT. Precisamos muito de uma matéria-prima de qualidade chegando às fábricas” Abel Fernandes Engenheiro agrônomo e consultor
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matéria-prima. “Este é o momento, talvez histórico, de jogar todas as forças do setor, que agora terá mais recursos na melhoria da qualidade do leite, principalmente na redução de CCS (contagem de células somáticas) e de CBT (contagem bacteriana total). Precisamos muito de uma matéria-prima de qualidade chegando às fábricas”, enfatiza Fernandes, para quem o Leite Saudável, discutido detalhadamente com os principais atores da cadeia produtiva, está alinhado às demandas do mercado. “O consenso sempre será difícil de alcançar, mas o processo foi amplamente discutido”. A premissa defendida por Fernandes é de que o setor leiteiro está entrando em uma nova fase, na qual o foco no aprimoramento técnico e gerencial do produtor rural, responsável direto pelos atributos da matéria-prima, acarretará em desdobramentos favoráveis para toda a cadeia produtiva. “Vai resultar em mais lucratividade, aumentando a capacidade de investimento do produtor. Já a indústria receberá matéria-prima de melhor qualidade, e disso derivam ganhos de produtividade (mais produtos processados com menos matéria-prima) por parte da indústria, o que afeta seu custo de produção. O grande beneficiário é o consumidor final, que terá acesso a produtos melhores e seguros do ponto de vista alimentar”, aposta. Por enquanto, as dúvidas mais frequentes relacionadas à IN 45 dizem respeito à elaboração do projeto por parte das indústrias de laticínios e o que pode ou não ser incluso como custo para demonstração do uso dos recursos, segundo Fernandes. Ele menciona que um dos laticínios que procuraram sua consultoria teve o projeto devolvido, por incluir os salários da equipe técnica de qualidade. “Houve entendimento de que isso não poderia ser feito”, esclarece o especialista, que também aponta a compra de equipamentos como ou-
tro ponto que requer atenção. Segundo ele, é preciso deixar clara a finalidade da aquisição, quantos equipamentos serão adquiridos, como serão utilizados, distribuídos, quais os resultados esperados e para quem ficarão os equipamentos e materiais permanentes no fim do projeto. “Acredito que as dúvidas são próprias da novidade. Com o tempo serão esclarecidas”, constata.
O consultor lembra, ainda, que as empresas optantes do regime de Lucro Presumido não poderão usufruir do benefício fiscal, o que, de acordo com a sua análise, pode se tornar um complicador competitivo, considerando que a maioria dos concorrentes terá maior poder de barganha, tanto na aquisição da matéria-prima, como nos ganhos de produtividade. “As empresas optantes do Lucro Real são o foco principal do decreto. Mas há grande diversidade de produção e de produtos, e não acredito que fabricantes de queijo, por exemplo, vão demandar mais que as produtoras de UHT”, menciona. “Como é proporcional ao leite adquirido, as empresas que captam mais serão mais beneficiadas.” A Associação Brasileira de Laticínios (Viva Lácteos) prevê que o aprimoramento do mercado interno por meio do Programa Leite Saudável e da IN 45 resultará naturalmente da ampliação das exportações de lácteos. Para o diretor executivo da associação, Marcelo Martins, além de todos os potenciais avanços da dinâmica interna do setor, o Leite Saudável deverá incrementar acentuadamente a competitividade externa dos produtos brasileiros. “Acreditamos que em um horizonte de quatro anos o Brasil passe a exportar o equivalente a 1 bilhão de litros, ou 2,3 vezes o resultado de 2015”, projeta o executivo, recordando que o País é atualmente o quarto maior produtor mundial de leite, com mais de 36 bilhões de litros em 2014, assim como apresentou um dos crescimentos mais significativos na última década (média de 4% ao ano) entre os principais países produtores. Citando dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), ele informa que o Brasil exportou no ano passado US$ 319 milhões e importou US$ 419 milhões. Ou seja, a balança comercial do leite brasileira é deficitária. A partir da melhoria da qualidade do leite brasilei-
ro, porém, a Viva Lácteos aposta no crescimento de novas fronteiras internacionais, principalmente na China e na Rússia. “O mercado russo está se consolidando, e, em 2015, o Brasil exportou 182 toneladas de manteiga e 248 toneladas de queijo”, diz. “Para 2016, temos espaço para pelo menos dobrar essa quantidade.” O executivo lembra que, este ano, com a obtenção da atualização do certificado sanitário internacional para a China pelo Ministério da Agricultura, deverão ser iniciados os embarques para o país asiático. “A China representa 9% das importações mundiais de manteiga; 3% de queijo e 21% de leite em pó”, dimensiona Martins, para quem o México também poderá ser uma importante oportunidade para 2016, dependendo do andamento das negociações tarifárias constantes no Acordo de Complementação Econômica (ACE 53).
Mão de obra. Nas fazendas, investimento em qualidade passará também por capacitação
O desempenho da indústria leiteira do Brasil no mercado internacional continua, porém, atrelado à melhoria de todos os processos internos, que passa por investimentos em tecnologia voltada à qualidade do leite e, consequentemente, da competitividade, associado à revisão e adequação de marcos regulatórios do País. “Por isso a Viva Lácteos tem interesse na efetividade do Leite Saudável”, diz Martins, lembrando dos sete pilares sobre os quais o programa se assenta: assistência técnica e gerencial, melhoramento genético, política agrícola, sanidade animal, qualidade do leite, marco regulatório e ampliação de mercados. A Viva Lácteos reúne 26 empresas líderes na produção de lácteos. Também fazem parte da asabr-mai/2016 Mundo do Leite
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L egislação sociação outras três entidades a Abiq (Associação Brasileira da Indústria de Queijo), o G100 (Associação Brasileira de Pequenas e Médias Cooperativas e Empresas de Laticínios) e a ABLV (Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida). No Ministério da Agricultura, o pressuposto é que as iniciativas contribuam para a organização mais sistemática e eficiente de toda a cadeia do leite. “Cada empresa faz o projeto que entender ser o mais adequado para sua realidade e estabelece como meta aquilo que acha factível com os recursos de que dispõe”, explica o coordenador-geral de Produção e Pecuária Integrada da Secretaria do Produtor Rural e Cooperativismo do ministério, Rodrigo Dantas. Ele deixa claro que, de acordo com a Lei 13.137/2015, que estabeleceu novas regas para retenção do PIS/Cofins, toda pessoa jurídica, inclusive cooperativas, que compram e processam leite in natura, tem direito a esse benefício fiscal. O representante assinala que a duração de cada projeto é de no máximo 36 meses. Os números de adesão e habilitação ao programa ainda são modestos. Segundo Dantas, até o fim de fevereiro haviam sido enviados 207 projetos de todo o Brasil, totalizando R$ 90 milhões em recuperação de créditos de PIS/Cofins. Após o recebimento do projeto, Dantas esclarece que o ministério tem 30 dias para analisar e pedir adequações, o que deverá ser feito em outros 30 dias, quando expira o prazo para a empresa devolver o projeto com as modificações requeridas. “A cada ano o laticínio encaminha um relatório e, ao fim, outro de encerramento”, complementa Dantas, acentuando que, a qualquer momento de sua execução ou mesmo após o encerramento, o Ministério da Agricultura poderá fiscalizar se o acordado inicialmente foi de fato cumprido. O coordenador-geral enfatiza que o Leite Saudável é essencialmente fiscal, ficando a cargo das indústrias habilitadas investir em projetos que possam incluir capacitação técnica e gerencial e apresentar os indicadores referentes às melhorias adotadas. “Esses indicadores devem ser fornecidos pela própria empresa, junto com o projeto a ser analisado. Toda alteração nos indicadores e nos prazos deverá ser comunicada”, diz. “Para acompanhamento, é necessário também
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que a empresa apresente um diagnóstico inicial da situação que ela pretende modificar”, detalha. Diversos pontos estratégicos da rede que forma a cadeia leiteira do País estão sendo acionados para desenvolver estruturas de capacitação que atendam às exigências da nova normativa. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) é um deles. De acordo com o coordenador nacional de Assistência Técnica e Gerencial, Matheus Ferreira Pinto da Silva, a entidade está treinando profissionais, como zootecnistas, agrônomos, veterinários e técnicos agrícolas para responder às novas demandas decorrentes de potenciais projetos que serão apresentados no âmbito da IN 45.
“Estamos atuando de forma sistêmica em todo o País para consolidar as informações de forma didática, alinhada à realidade local, e que permita que o interessado reconheça objetivamente a sua atual situação e como pode melhorá-la a partir deste programa”, afirma. Ele reforça que o Senar tem unidades em todos os Estados e que cada escritório da entidade, seguindo às premissas nacionais, fica responsável em transmitir e contextualizar as informações de acordo com a circunstância regional. Ainda de acordo com Silva, a melhoria da higiene na ordenha, assim como das estratégias de nutrição dos animais e no desenvolvimento genético, além dos procedimentos como vacinação e coleta de leite, entre várias outras, terão como consequência a redução significativa da incidência de doenças no rebanho – e, portanto, a melhoria da qualidade do leite. A perspectiva é de que a partir de agora haja um maior número de interessados em melhorar a qualidade, por meio do Leite Saudável. Para ele, a iniciativa do Ministério da Agricultura está em conformidade com as atuais demandas do setor e deve contribuir para a sua expansão, tanto no mercado interno quanto externo. Também ressalta que a formulação do programa – entre ela a IN 45 – foi feita de forma colaborativa, com a participação de representantes da indústria, dos produtores e do setor de pesquisa, que puderam opinar sobre quais seriam as medidas a serem desenvolvidas para tornar o setor mais eficiente, com coeficientes elevados de produção e excelência. n
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Nutrição em tempo de milho caro Preço do cereal disparou desde o início do ano, preocupando produtores em relação à alimentação das vacas na estação seca. Há alternativas que não interferem tanto assim no custo de produção. Veja quais são. Fernanda Yoneya e Tatiana Souto Na ponta do lápis. O produtor Edmilson
A
expressiva alta do preço do milho, que vem desde o início do ano, não pegou o pecuarista Edmilson Vilela no contrapé. Não que ele não use o cereal na composição da ração de seu rebanho leiteiro, instalado na Fazenda da Lagoinha, em Lagoinha, Vale do Paraíba paulista. O segredo é que o criador não usa só o milho e, portanto, o custo da ração dada às leiteiras de maior produção ficou praticamente estável diante disparada de preços do grão. Segundo o Cepea/ Esalq-USP, houve alta de 5,2% no preço do milho ao produtor, só entre 29 de janeiro e 29 de fevereiro. Entre pasto de capim elefante (napiê), cana picada no cocho e uma ração à base de milho (fubá e refinasil), polpa cítrica, farelo de algodão, além de núcleos minerais e aditivos como monensina, calcário e sulfato de amônio, Vilela consegue tirar uma excelente produção de leite por animal, base pasto. Suas 120 vacas em lactação dão 2.200 litros/dia, ou cerca de 18 litros por vaca. É bom lembrar que esses in-
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Vilela optou por fazer a ração do rebanho
gredientes são misturados e balanceados de acordo com orientações do nutricionista Harald Van Kaspel, que trabalha em parceria com Vilela, que é engenheiro agrônomo. Embora a área total do sítio seja razoável, de 84 hectares, dos quais 48 hectares destinados ao pasto e 26 hectares para o plantio de cana, o produtor prefere, em vez de destinar uma parcela para o plantio de milho, lançar mão de alguns derivados do grão, que compra de terceiros. “Parte do milho eu uso na forma de fubá (no caso de vacas de produção mais elevada), que compro de um fornecedor de Brasópolis (MG)”, descreve. “De outro fornecedor, compro sacas contendo só aquela parte amarela do milho.” A “parte amarela” à qual o criador se refere diz respeito ao grão sem aquela pontinha branca, o amido. “A saca deste produto tem 21% de proteína, quando o grão inteiro tem de 8% a 10%”, explica Vilela. Outro fator que contribui bastante para a redução de custos da ração é o fato de ela ser formulada e
na própria fazenda, orientado por um nutricionista. Garante que a economia de custos tem compensado a alta do milho
cara. “Na área que tenho, conseguiria colher no máximo 7 a 8 toneladas por hectare de milho”, diz. “Já com a cana, que também é altamente energética e é dada corrigida com ureia aos animais, consigo até 150 toneladas por hectare”, diz ele, que acabou de comprar uma máquina específica para fazer silagem de cana. Embora o milho fubá tenha subido de preço do ano passado para cá – Vilela conta que a saca de 50 quilos passou de R$ 28 pa-
ra R$ 43 agora –, com os vários ingredientes que coloca na ração e substituem a contento as propriedades do grão, ele consegue manter a proporção de R$ 0,80 de custo de ração para R$ 1,35 o litro do leite. “É bom lembrar também que, além de ter boa disponibilidade de polpa cítrica na região (o que nem todo produtor teria), compro caminhão fechado de ingredientes, o que barateia os custos.” Vilela é um bom exemplo para
Fotos: Luiz Prado
produzida no própria fazenda, em dois misturadores, um com capacidade para 500 quilos e outro para 1.000 quilos. “Consigo uma redução de custos da ordem de 25% a 30%”, garante Vilela. “A ração pronta custa mais, cerca de R$ 1,10 o quilo, quando o quilo do concentrado produzido aqui sai por R$ 0,70 a R$ 0,80”, diz. Vilela indica, ainda, que não é vantajoso para ele plantar o próprio grão. O milho, segundo ele, é uma lavoura
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Misturadores. Vilela mantém dois na propriedade para a fabricação de ração
ilustrar o que pesquisadores vêm indicando e mostrando como possível com esta alta dos custos do concentrado: diversificar os ingredientes. Principalmente na entressafra, época em que normalmente o pasto perde qualidade e o produtor tem de aumentar o consumo de alimento concentrado, ou ração, no cocho. Geralmente a ração, composta de milho e farelo de soja, representa cerca de 40% dos custos efetivos do produtor de leite. Consequentemente, o aumento do milho tem um peso significativo no bolso do pecuarista. “Em janeiro, o concentrado representou 2% do Custo Operacional Efetivo (COE) e a tendência é que essa porcentagem aumente
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nos próximos meses”, diz o engenheiro agrônomo Raphael Denys Fava, analista da Área de Leite do Cepea. Ele lembra, ainda, a tendência de aumento dos componentes dos concentrados justificada pela desvalorização do real e pela baixa oferta interna de milho. Diante deste cenário, é importante que o produtor busque alternativas para garantir uma boa nutrição do rebanho, sem, necessariamente, aumentar o custo de produção. Exatamente como fez Vilela. A dica, neste caso, é pesquisar que tipo de insumo há na região; avaliar se o custo compensa e contar sempre com assistência técnica de qualidade, que orienta o produtor a elaborar uma dieta balanceada para o rebanho nesta época do ano. Ideal é que se alie uma boa fonte proteica (concentrado) e uma boa fonte energética (volumoso). Entre as alternativas destacam-se a aveia preta, o azevém, a cana-de-açúcar e até a mandioca, que tem sido usada, com sucesso, em propriedades leiteiras de Minas Gerais, segundo o agrônomo Raphael Fava. A aveia preta, por exemplo, é uma espécie rústica, pouco exigente em fertilidade de solo, que tem se adaptado bem no Paraná, em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Tem grande capacidade de perfilhamento e sementes menores. Pode ser pastejada ou conservada como feno ou silagem ou, ainda, cortada mecanicamente para fornecimento em cochos. Os grãos não são usados na alimentação humana. Já o azevém, espécie rústica e vigorosa, é considerado naturalizado em muitas regiões do Sul. Perfilha em abundância, é produtivo e pode superar as demais espécies de inverno quando bem adubado. Para o produtor que não se planejou com antecedência para a en-
tressafra, aveia e azevém são boas opções porque podem ser plantadas agora, informa a pesquisadora Patricia Menezes Santos, da Embrapa Pecuária Sudeste. Para saber se a região é apta para essas forrageiras temperadas, ela recomenda um serviço da Embrapa que, por meio de mapas, aponta o nível de aptidão do local para o cultivo dessas forrageiras (tecnologias.cppse. embrapa.br/scafforragem). “O azevém apresenta elevado valor nutritivo, sendo uma das gramíneas mais cultivadas no Rio Grande do Sul, juntamente com a aveia preta. É utilizada para compor pastagens anuais com dezenas de espécies, oportunizando pastejo de meados do inverno à primavera, tanto para corte como para pastejo. É uma gramínea tolerante ao pisoteio e possibilita período de pastejo de até cinco meses. E é cultura mais tardia, pois o rendimento de forragem é mais elevado a partir de setembro”, afirma Fava, do Cepea. O agrônomo acrescenta que a mistura de aveia e azevém também é comum nesta época. O objetivo, ao misturar espécies anuais, explica o analista, é combinar os picos de produção de matéria seca, que ocorrem em diferentes épocas de acordo com a espécie. “A técnica tem por objetivo aumentar a produção e prolongar o período de pastejo. Uma das misturas mais utilizadas é a da aveia com o azevém, uma vez que a aveia antecipa o período de utilização da pastagem e o azevém prolonga o ciclo de pastejo. O azevém tem baixa produção nas temperaturas mais baixas e eleva a produção de forragem na primavera, conforme a temperatura vai ficando mais quente”, diz o agrônomo.
Já a cana-de-açúcar, bastante conhecida entre os produtores, é utilizada como suplementação volumosa
(alimento rico em fibra) para o gado nos períodos em que há menor produção de pasto. “Plantar cana para a alimentação animal é mais viável para o produtor, por ser de fácil cultivo. Com altos teores de açúcar (energia) que conferem digestibilidade acima de 60%, ela, no entanto, apresenta teores baixos de proteína bruta e de alguns minerais como enxofre, fósforo, zinco e manganês. Para suprir a deficiência desses minerais, basta o produtor fornecer aos animais um sal mineral de boa qualidade e, para corrigir os baixos teores de proteína, utiliza-se a ureia”, afirma Fava. Neste caso, a recomendação, novamente, é procurar orientação técnica, já que não existe “receita de bolo” quando o assunto é nutrição animal. A mesma recomendação vale para a utilização da mandioca na alimentação.
Fava afirma que as vantagens da alternativa são o baixo custo de produção, a alta produtividade, a possibilidade de armazenamento no solo e seu alto valor nutricional. “Basicamente, arrancam-se a raiz e a rama, passando no desintegrador (sem peneira) apenas para quebrar a mandioca. Esse material é desidratado em lona ou em terreiros de cimento até a raiz atingir 5% de umidade (nesse ponto, a raiz risca igual giz) e a rama, 13% de umidade. O material tem que estar bem seco para não fermentar. Em seguida, é formulada uma ração”, resume o agrônomo, destacando que os produtores de Minas têm aprovado a mandioca como alternativa para alimentar o rebanho na época de escassez de pastagens altamente nutritivas. Segundo ele, a ração tem validade de seis meses, desde que bem elaborada e bem conservada. As chamadas “alternativas regionais” também podem ser uma opção viável e eficiente para produto-
Opções para o inverno Aveia preta
No cocho. Cana
Custo total: R$ 1.638,13/hectare
picada com máquina
Produção de massa verde: 12.000 kg/hectare Fonte: Fundação ABC (dados 2014/2015)
recém-adquirida é a aposta de Vilela para o volumoso, que também
Azevém
garante energia. Deve,
Custo total: R$ 2.018,75/hectare
porém, ser corrigida
Produção de massa verde: 16.500 kg/hectare Fonte: Fundação ABC (dados 2014/2015)
Cana-de-açúcar Formação do canavial: R$ 6.590,67/hectare Tratos cana-soca: R$ 1.338,04/hectare Produtividade média: 81,2 toneladas/hectare Fonte: revista iPecege (dados 2013/2014)
res de leite garantirem uma dieta rica e balanceada para o rebanho.
Sorgo, casca de soja, cevada, polpa cítrica, farelo de arroz e casca de arroz são alguns exemplos dessas alternativas, que, por serem “regionais”, dependem da região em que são produzidas. A primeira dica para o produtor é avaliar, portanto, se o insumo tem disponibilidade na região. Depois, entram na conta itens como fre-
te e maquinário para processamento, por exemplo. “A alta do grão de milho afeta o setor de concentrados e, nesse sentido, estamos fazendo a substituição por concentrados energéticos alternativos, como o sorgo e a polpa cítrica”, diz o engenheiro agrônomo Lúcio Antonio Oliveira Cunha, que atua como consultor e técnico do Programa Balde Cheio, da Embrapa Pecuária Sudeste, no Espírito Santo e em Minas Gerais. Segundo Cunha, o sorgo abr-mai/2016 Mundo do Leite
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Capa Sorgo e polpa cítrica têm energia e podem substituir o milho” Lúcio Cunha, consultor do Balde Cheio
e a polpa cítrica, por estarem mais baratos nas regiões em que atua, proporcionaram, aos produtores da região, praticamente neutralizar a alta do milho. “Outro fator importante: como o sorgo apresenta teor mais elevado de proteína bruta (12% ante 9% do milho), isso nos permite reduzir em parte a demanda de soja, diminuindo ainda o custo dos concentrados na dieta”, conta o técnico. “Na outra ponta, com a busca da excelência na produção e manejo das pastagens tropicais, estamos conseguindo níveis elevados de aproveitamento, assim como otimização de seu valor nutritivo, tanto que já não é incomum teores de proteína bruta acima de 16% a 18%, o que contribui para a Cana e pasto. Rendimento da cana por hectare é maior do que o do milho
A transição do pasto para o cocho deve ser gradual Neste período em que as vacas passam a se alimentar não apenas no pasto, mas também diretamente no cocho, o produtor de leite deve ficar atento para garantir uma “transição” tranquila para os animais. Para isso, o professor Patrick Schmidt, do Departamento de Zootecnia do Setor de Ciência Agrárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR), dá algumas dicas para que o rebanho estranhe o menos possível essa mudança de rotina. “A natureza do ruminante é pastejadora, todos os bovinos evoluíram por milhares de anos consumindo gramíneas em pastagens. Esse comportamento está bem impresso nos genes desses animais, até
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os dias de hoje. Quando se faz a transição de uma pastagem para o cocho, é natural o animal estranhar”, destaca. O professor diz, por exemplo, que aspectos como local, tipo de alimento (textura, cheiro, gosto), proximidade de outros animais em ambiente restrito e até a presença humana mais frequente podem provocar algum tipo de “estranhamento” nos animais neste período. “De modo geral, apenas bovinos que estavam passando fome na pastagem vão realizar consumo intenso no primeiro contato com o cocho. Contudo, seguindo algumas recomendações básicas, essa adaptação ao novo manejo pode ocorrer de forma relativa-
mente rápida, em poucos dias”, afirma Schmidt. O agrônomo Lúcio Oliveira Cunha, consultor do programa Balde Cheio, da Embrapa Pecuária Sudeste, concorda. “Toda atenção é muito importante neste período de transição, pois qualquer erro de avaliação acarreta risco de restrição na oferta diária de volumoso, que, se não for resolvido a tempo, pode comprometer o desempenho animal, justamente num período do ano em que, devido ao clima mais ameno e à ausência dos efeitos prejudiciais do estresse térmico, o potencial produtivo e reprodutivo fica mais elevado.” A seguir, algumas dicas do professor Patrick Schmidt, que coor-
Ingredients redução da demanda por concentrados proteicos, os mais caros”, afirma o consultor do Balde Cheio. Em relação aos volumosos de inverno, Cunha conta que os produtores que acompanha trabalham com uma queda da lotação animal, em média, de 10 a 12 unidades animais/hectare (UA/ha) no verão para uma lotação de 6 a 8 UA/hectare no inverno. “Com as baixas temperaturas, nos valemos das forrageiras de inverno, normalmente conservadas na forma se silagem, tais como milho, sorgo e cana-de-açúcar, para suplementar essa diferença e alcançarmos o pleno atendimento da demanda animal por volumosos, que, via de regra, participam com entre 50% e 90% do total de
dena o Centro de Pesquisas em Forragicultura, onde são desenvolvidos trabalhos de pesquisa e extensão rural, para melhorar a transição das vacas “do pasto para o cocho”: 1. Forneça pequenas quantidades diárias de ração concentrada no local onde os animais ficarão estabulados, ainda durante o período a pasto, para que eles se acostumem com o ambiente; 2. Se houver troca da pastagem por forragem conservada (silagem, pré-secado ou feno), um pouco de capim verde picado, de boa qualidade, e misturado no cocho aumenta o consumo dos animais na fase inicial; 3. Se o produtor decidir trabalhar com doses mais altas de ração concentrada, essa introdução deve ser gradual e dividida em um período mínimo de duas semanas, para que o rúmen do animal se adapte a altas dosagens de amido, lipídeos e proteínas.
matéria seca consumida por uma vaca diariamente, independentemente da estação”, explica o agrônomo. Na região, Cunha diz que os produtores costumam colocar na ponta do lápis itens como a produtividade média do rebanho e o preço do leite antes de investir em uma dieta mais cara, principalmente na época da entressafra. “Dietas baseadas em silagem de milho e suplementadas com fubá de milho e farelo de soja estão entre as mais caras, mas, se o produtor avaliar que o custo-benefício é compensador, considerando os itens que eu citei, ele investe. Entretanto, como trabalhamos numa região onde historicamente o preço pago ao produtor é mais baixo, para sermos competitivos, temos de gerir propriedades enxutas e funcionais, baseadas na produção intensiva das pastagens tropicais, via de regra irrigadas, com suplementação no período seco à base de volumosos conservados por meio de silagens, como sorgo ou cana-de-açúcar”, justifica o consultor. Segundo ele, esses sistemas são mais competitivos, pois o custo da matéria seca de pastagem é bem inferior ao das demais opções de volumosos e, por proporcionar elevado valor nutritivo, minimiza a demanda por concentrados proteicos e permite o uso de alternativas como farelo de sorgo, polpa cítrica peletizada, farelo ou caroço de algodão, entre outros, desde que a dieta final apresente o custo-benefício almejado. “Como o momento atual é justamente de preços estagnados e custos elevados, resta-nos intensificar ainda mais esse processo, que nos tem garantido margens satisfatórias, mesmo em tempo de crise.” Cunha alerta para a importância de uma dieta balanceada e nutritiva de rebanhos leiteiros. “Qualquer sistema de produção animal somente será rentável se puabr-mai/2016 Mundo do Leite
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Capa O que a gente vem fazendo cada vez mais é investir em qualidade de pasto, com alto valor nutricional” Eber Brandão, produtor de leite em Goiás
Bom rendimento. Vacas de Vilela, criadas no pasto e recebendo ração e cana picada no cocho, produzem em média 20 litros por animal/dia
der exprimir seu potencial genético. E isso somente ocorrerá se ele estiver bem nutrido todos os dias. E com as vacas não é diferente. Por isso, desde a confecção do projeto se prioriza o total atendimento das exigências nutricionais desde a bezerra recém-nascida até a vaca em pleno estágio produtivo. No tocante aos alimentos volumosos, é preciso dimensionar a área demandada por cada categoria animal, suficiente para sustentá-la todos os dias do ano, sejam as áreas a serem formadas com pastagem, sejam as que vão produzir a comida do inverno, conforme as opções de forrageiras e suas respectivas produtividades.”
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De sua experiência no contato diário com produtores, o consultor destaca que, anualmente, realiza um “exercício de planejamento” chamado “evolução de rebanho”, no qual o produto dimensiona o número de animais a ser trabalhado em cada categoria do plantel e em cada período do ano, para, em seguida, avaliar se as áreas destinadas para produção dos alimentos atendem aos números planejados ou se há necessidade de novo dimensionamento. “Para decidir as áreas destinadas à produção dos alimentos volumosos de inverno, precisa-se decidir qual forrageira será utilizada, a fim de saber qual o seu ciclo de produ-
ção e então planejar o melhor período de plantio, cuja colheita coincida ou se antecipe ao período de sua utilização. Resumindo, planejamento é muito importante, sempre.” O produtor Eber Gomes Brandão, da Estância Boas Novas, em São João da Paraúna (GO), também sentiu a alta do preço do milho e conta que foi obrigado a pesquisar alternativas para garantir a dieta do rebanho. “O preço do milho teve um aumento de 60%, em outubro de 2015 custava R$ 25 a saca, hoje custa R$ 40. Acredito que essa alta foi puxada pela falta de produto no mercado”, diz Brandão, que possui rebanho de 70 animais, sendo 30 vacas em lactação, e produção diária de leite de 650 litros. A área total da propriedade é de 25 hectares, dos quais 3 hectares são destinados ao sistema de pastejo rotacionado irrigado. “Nos últimos meses, a tonelada de farelo de soja estava em torno de R$ 1.600, mas, atualmente, os preços parecem que estão baixando, já cotei a tonelada a R$ 1.300. A casca de soja, que também usamos em nossas dietas, custa hoje R$ 550 a tonelada. Já o sorgo não estamos conseguindo nesses últimos meses, mas também é um produto que faz parte da alimentação das nossas vacas”, afirma o produtor. Ele conta que a casca de soja é boa fonte de fibra (68%) e tem a vantagem de ser encontrada em abundância na região.
“Fazemos pesquisa para localizar na região onde a agricultura vem crescendo e, com isso, temos a oportunidade de usar subprodutos. A polpa cítrica, por exemplo, seria outra opção, mas, infelizmente, não encontramos na região. Se tivermos de ir buscar a polpa, o custo fica inviável”, diz Brandão. O produtor explica que investe em uma boa adubação da área de pas-
tejo rotacionado _ ele usa grama jiggs e mombaça _ para garantir um bom valor nutricional da forragem. Dessa forma, afirma, consegue usar um concentrado de baixo nível proteico substituir um pouco do farelo de soja por casca de soja, o que ajuda no bolso.
O produtor também está investindo no cultivo de milho, incentivado pelos preços elevados do cereal. Atualmente, ele planta uma área de 4,6 hectares de milho para silagem. “Nossa meta era colher 60 toneladas por hectare. Conseguimos 50 toneladas por hectare. O investimento no milho para silagem foi também pelo fato de o cereal dar um volumoso de boa qualidade nutricional, desde que
seja feito com bastante cuidado. O investimento é alto, por isso tem que ser bem feito desde o plantio até o processo de armazenagem.” Brandão calcula que a nutrição do rebanho representa, atualmente, 50% de seu custo total de produção, daí o impacto da alta do milho no orçamento da propriedade. “O que a gente vem fazendo cada dia mais é investir em pastagem de qualidade, com bom valor nutricional, porque, quando aumento a oferta de forragem, consigo diminuir a quantidade de concentrado fornecido para as vacas. Essa é uma maneira para tentar driblar a alta do milho”, afirma o produtor, que faz questão de lembrar da importância da assistência técnica. A Estância Boas Novas faz parte do
programa Goiás Mais Leite, que utiliza a mesma metodologia do Balde Cheio da Embrapa e é difundido pelo Sistema Faeg-Senar (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás-Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). “Estamos conseguindo alcançar os resultados desejados e driblar as dificuldades neste momento de crise por qual passa a atividade. É nessas horas que se vê a grande importância da assistência técnica que nos orienta a seguir pelo melhor caminho para que nosso negócio continue trazendo bons resultados”, diz Brandão, se referindo ao engenheiro agrônomo Carlos Eduardo Freitas Carvalho e ao técnico agrícola Leandro Batista de Moraes Costa, dupla que o orienta na propriedade. n
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Bem-estar
Alívio para o calor. Aspersores instalados na sala de espera reduzem estresse do rebanho
Ventilador com banho frio, a receita da maior produção Especialistas e pecuaristas garantem que baixar a temperatura corporal das vacas na sala de ordenha melhora a produtividade Niza Souza
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a Fazenda Capetinga, em São João Batista do Glória (MG), meia hora antes de entrar na sala de ordenha as vacas fazem uma parada estratégica para se refrescar num barracão, construído especialmente para recebê-las na pré-ordenha. No local, equipado com ventilação potente (ventos de 5 metros/segundo), elas recebem, a cada 3 minutos, banhos frios de 60 segundos. Mais confortáveis com o corpo resfriado, seguem para o curral de espera, também ventilado e com sistema de aspersão, cuidados que mantêm a temperatura corporal dos animais até o momento da ordenha. O investimento no conforto animal para redução do estresse térmico é recente na fazenda mineira, conta o produtor Marcelo Maldonado Cassoli, que há 16 anos decidiu deixar a profissão de
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veterinário e se dedicar à atividade leiteira. “Sempre soube da importância do conforto para as vacas leiteiras, mas foi só em 2009, quando estive em Israel, que conheci algumas técnicas funcionando bem e com estudos bem avançados”, recorda. Há diversos trabalhos de pesquisa realizados nos Estados Unidos e em Israel mostrando que o ambiente mais delicado para uma vaca leiteira na fazenda é justamente na sala de espera da ordenha, ratifica o consultor de Bovinos Leiteiros da Cargill Nutrição Animal, Alexandre Mendonça Pedroso. Segundo ele, ao promover o resfriamento dos animais nesse ambiente – associando banho e vento –, é possível aumentar a produção de leite em até 10%, bem como melhorar o desempenho reprodutivo. “No Brasil, temos vários exemplos de fazendas que passaram a adotar essa prática com resultados excelentes. É importante salientar que isso vale in-
O efeito é sempre associativo, trânsito e resfriamento na sala de ordenha produzem muito mais benefícios” Alexandre Pedroso Consultor de Bovinos Leiteiros da Cargill Nutrição Animal
clusive para vacas mestiças, com sangue zebuíno, que, apesar de serem mais tolerantes ao calor, se beneficiam igualmente do resfriamento”, complementa Pedroso. De volta ao Brasil e com muitas informações, Cassoli conta que decidiu começar a investir no conforto do rebanho. Foi aos poucos. Em 2010, adotou o sistema free stall: construiu um galpão coberto, com cama de areia e tirou os animais em lactação do ambiente aberto. “Antes não usava praticamente nenhum recurso. Tinha apenas piquetes com sombra e água”, compara. Atualmente, o rebanho da Fazenda Capetinga é formado por 200 animais mistura de Jersey e Holandês, com média de 90 vacas em lactação e produção de 2.700 litros de leite/dia. Já no ano seguinte, instalou o sistema de aspersão na linha de cocho para resfriar os animais. “Foi o primeiro investimento, ainda que pequeno, para reduzir o estresse térmico antes da ordenha e já comecei a observar os efeitos positivos”, ressalta. Na sequência, instalou ventilação no free-stall. “Além de melhorar a produtividade, as vacas mudaram o comportamento, ficaram mais tranquilas, passando mais tempo deitadas e ruminando”, diz o produtor, explicando que quando estão com calor os animais passam mais tempo em pé e bebendo água.
do isso colabora para aumentar o estresse térmico e reflete negativamente na produtividade e na saúde das vacas. Por isso a importância de baixar a temperatura corporal do animal”, pondera o produtor. O especialista Alexandre Pedroso explica que o conforto é um conceito muito amplo, mas que basicamente se resume a permitir ao animal exprimir o que se considera seu “comportamento normal”, sem restrições. Isso significa proporcionar alimento em quantidade e qualidade suficientes para atender a suas exigências, permitir que ele descanse confortavelmente pelo máximo tempo possível (no caso de vacas leiteiras, o objetivo é que descansem pelo menos 12 horas ao dia) e que estejam sujeitos ao mínimo possível de estresse ambiental. E quanto mais itens de conforto a fazenda oferecer para as vacas melhor será o seu desempenho. “O efeito é sempre associativo, trânsito e resfriamento na sala de ordenha produzem muito mais benefícios”, frisa Pedroso. Os resultados, confirma Cassoli, são imediatos. Além da mudança positiva de comportamento dos animais, o produtor comemora o incremento na produtividade e na qualida-
Banho. Água gelada é melhor ainda do que fria para garantir temperatura agradável às vacas
Os investimentos efetivos nas técnicas de conforto na pré-ordenha começaram em 2013, quando Cassoli construiu o curral de espera, onde as vacas aguardavam para a retirada do leite em um ambiente climatizado. No ano seguinte, o produtor fez um novo barracão e instalou a ventilação potente e o sistema para banho frio. E foi além: a vaca recebe ventilação até no fosso, durante a ordenha. “A vaca de alta produtividade tem o metabolismo acelerado, o que aumenta a temperatura corporal. E o clima aqui no Brasil também é quente. Tuabr-mai/2016 Mundo do Leite
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Bem-estar O animal só produzirá de acordo com o seu potencial genético se ele estiver bem nutrido, saudável e confortável no ambiente” Teresa Cristina Alves Pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste
de do leite. Segundo ele, do início dos investimentos, em 2010, até agora a média de produção de leite por animal/dia aumentou em torno de 20%. Metade disso, somente com a adoção do conforto na pré-ordenha. Sobre o valor dos investimentos, ele garante que compensa, tanto que este ano vai começar a investir no conforto dos animais no pré-parto, com objetivo de reduzir o índice de retenção de placenta, doenças metabólicas e vacas secas. “Quando você tira o estresse térmico do animal consegue melhorar tudo, a produção, a saúde e a qualidade do leite, além de reduzir o descarte de animais. No primeiro mês de adoção das técnicas já é possível sentir a melhora no rebanho. Tudo isso tem de entrar na conta.” Mas ele aconselha a quem está pensando em investir: “Se eu fosse começar agora, começaria com as técnicas na pré-ordenha e deixaria o free-stall por último”. Na avaliação de Pedroso, o conceito de conforto animal, inclusive as técnicas na pré-ordenha, pode ser aplicado em qualquer fazenda, independentemente do tamanho. “Não há nada que afete mais a produtividade animal do que a falta de conforto. Via de regra, investimentos em melhorar o conforto das vacas se pagam com muita rapidez. A questão é avaliar o custo-benefício”, garante o especialista.
Pedroso também reafirma a importância de o produtor garantir conforto animal, especialmente na pecuária leiteira. “No Brasil, principalmente no verão, o mais importante é livrar as vacas do estresse calórico, o que passa pelo resfriamento e pela disponibilidade de água fresca e abundante para beber. Outras coisas também são importantes, como proporcionar a elas local limpo, seco e confortável para deitar, espaço suficiente para se alimentar à vontade e dietas adequadamente balanceadas para atender aos seus requerimentos nutricionais”, enumera. A pesquisadora Teresa Cristina Alves, da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos-SP), reforça que
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o conforto faz parte do conceito de bem-estar animal que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde Animal, é quando ele está seguro, saudável, confortável, bem nutrido, livre para expressar comportamentos naturais e sem sofrer estados mentais negativos, como dor, frustração e estresse. De maneira geral, explica Teresa, um animal em estado de conforto é aquele que tem à sua disposição abundância de alimentos e água de qualidade, ar fresco, uma superfície de descanso macia, limpa e bases sólidas para caminhar. A observação do comportamento é importante para saber se a vaca está confortável. “O animal só produzirá de acordo com o seu potencial genético se ele estiver bem nutrido, saudável e confortável no ambiente”, observa a pesquisadora. Nesse sentido, a temperatura do ambiente influencia fortemente, pois afeta os mecanismos de transferência de calor e, assim, a regulação do balanço térmico entre o animal e o meio. Ambientes estabelecidos como confortáveis ou estressantes, ressalta a pesquisadora, podem sofrer variações em função da região e dos tipos/raças de animais utilizados na propriedade. “Vacas mestiças Holandês-Zebu (as girolandas, por exemplo) são mais resistentes às intempéries climáticas que as de puro-sangue Holandês”, exemplifica. Teresa também cita algumas pesquisas que comprovam incremento significativo na produção de leite quando as vacas têm acesso a mais conforto térmico. Uma delas, destaca, avaliando vacas Holandesas em sala de espera climatizada, com sistema de nebulização, na qual a temperatura do ar era 2,53 graus centígrados mais baixa comparada à do ambiente externo, observou incremento na produção de 7,28%. E esse efeito foi mais acentuado na ordenha da tarde, quando o aumento foi de aproximadamente 11%. “O maior benefício do resfriamento de instalações ocorre no período da tarde, pois nesse período as condições climáticas superam a faixa da termoneutralidade dos
animais”, complementa. Outros pesquisadores, diz Teresa, avaliaram vacas em sala de espera com três sistemas diferentes: sombra, sombra e ventilação e sombra, ventilação e aspersão. E observaram uma diferença de 2,33 quilos de leite animal/dia (11,33 %) entre sombra, ventilação e aspersão e sombra. Em outra pesquisa, observou-se aumento no teor de gordura no leite dos animais que esperavam na sombra com ventilação e aspersão. Outro ponto importante, destaca a pesquisadora da Embrapa, é que nas pesquisas citadas os animais tinham no mínimo sombra na sala de espera. “Se estes resultados fossem comparados com animais ao sol, possivelmente o incremento na produção de leite seria maior”, acredita. “É imprescindível que o sombreamento e o resfriamento de instalações de vacas leiteiras ocupem importante papel na pecuária, de modo a potencializar a genética produtiva dos animais envolvido nos diversos sistemas de produção.” Publicação da Universidade Estadual do Norte do Paraná sobre efeitos do estresse térmico na produção leiteira aponta que o resfriamento evaporativo de ambientes para gado de leite tem se expandido rapidamente em locais afetados pelo estresse térmico. A técnica é simples, prática e possui uma boa relação custo/benefício. Conforme o estudo, a sala de espera de ordenha é um ponto de elevação de temperatura, devido ao tempo e à aglomeração que as vacas sofrem. Isso confirma a recomendação que nesse local, além de possuir sombra, sejam instalados ventiladores e aspersores.
Os estudos confirmaram que o sistema de resfriamento, nebulização e aspersão associados à ventilação forçada, na sala de espera da ordenha, reduziram significativamente a temperatura máxima do abrigo em relação à temperatura do ambiente externo em quase 2 graus centígrados. Especialista em bioclimatologia animal e professora da Unesp (câmpus Tupã), a zootecnista Priscilla Ayleen Bustos Mac Lean destaca que os estudos comprovam um acréscimo de até 14% na produção leiteira quando comparados ambientes climatizados e não climatizados. E não só os aspectos produtivos que podem ter alterações, mas também os aspectos reprodutivos dos animais. Se a temperatura está aumentando, o que ocorre na maioria das vezes em nosso País, o animal tende a iniciar uma séria de reações e mudanças de comportamentos para manter a
Relaxadas. Vacas precisam de espaço e local adequado para ruminar
sua temperatura corporal média, no caso dos bovinos, 38,5 graus. Para manter essa temperatura, explica Priscilla, o animal inicia processos fisiológicos de dissipação de calor, como ofegar, aumento da circulação periférica corporal, sombra para receber menor quantidade de radiação direta e aumenta a superfície de contato com o ambiente para facilitar a perda de calor. “Por isso, pesquisas mostram que sombra, banho frio e ventilação são alternativas para auxiliar nesta perda de calor em excesso. Para realizar todas estas reações o animal gasta energia. Se ele não tiver que gastar essa energia de forma desnecessária, vai transformá-la em produção de leite ou carne”, diz, destacando uma pesquisa que mostra acréscimo de 4,4% na produção de leite em vacas Girolando que receberam 30 minutos de um sistema de resfriamento na sala de espera da ordenha. Priscilla compartilha da opinião de Alexandre Pedroso sobre a indicação da adoção das técnicas de redução de estresse térmico na pré-ordenha para qualquer tipo de propriedade e tamanho de produtor. Ela acrescenta que há diversas alternativas, que variam de custos mais baixos a custos mais elevados. Tudo depende da necessidade e disposição do produtor. Quanto mais tecnologia utilizada, o custo é mais elevado. Porém, ela pondera: “O produtor tem que estar atento e conhecer a fisiologia do animal, pois nem sempre a opção mais onerosa é a mais indicada para seu tipo de problema. Não adianta queremos instalar uma ordenha robótica em uma fazenda se o produtor ainda não faz o controle diário de produção de leite, temos que ir por partes, cada caso é um caso.” n abr-mai/2016 Mundo do Leite
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Meio ambiente
Cadastro Ambiental Rural: data final é 5 de maio Fotos: Luiz Prado
Ainda se discute se prazo será ou não prorrogado novamente. Orientação é que proprietário rural preencha o CAR e não deixa para última hora
Pasto e floresta. Pecuarista deve discriminar, no CAR, suas áreas de reserva legal
Cristina Olivette
A
data final para que proprietários de imóveis rurais preencham o Cadastro Ambiental Rural (CAR) é 5 de maio. Após uma primeira prorrogação deste prazo, no ano passado, a perspectiva é de que ele não será novamente estendido, como vem reivindicando o setor produtivo. Segundo o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e responsável pela gestão do CAR, até o fechamento desta edição, em 23 de março, não havia nenhuma orientação técnica ou política que indicasse que o produtor teria mais um ano, pelo menos, para preencher o CAR, que é obrigatório. “A ideia é
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manter o 5 de maio”, confirma o diretor de Fomento e Inclusão do SFB, Carlos Eduardo Sturm. “Recomendamos que o produtor faça o cadastramento o quanto antes para não enfrentar o sistema congestionado nos últimos dias.” Conforme o SFB, até 29 de fevereiro de 2016 – data da mais recente atualização –, estavam cadastrados 2,4 milhões de imóveis rurais que, juntos, somam 269 milhões de hectares, o equivalente a 67,6% do total de áreas passíveis de cadastro. Em termos de número de propriedades, conforme Censo Agropecuário de 2006 do IBGE, que serve como base para a aplicação do CAR, o Brasil tem 5,6 milhões de imóveis rurais. Falta, portanto, cadastrar 3,2 milhões de propriedades, ou 57% do total de propriedades.
O setor que representa os produtores rurais, entretanto, mostra preocupação quando ao prazo final e ao número de propriedades que ainda devem constar na base de dados do CAR. Para o coordenador de Sustentabilidade da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Nelson Ananias, os números do MMA demonstram sobretudo que as médias e grandes propriedades já fizeram o cadastramento e as pequenas estão ficando para trás. “Vale lembrar que, em propriedades com até 4 módulos fiscais (o tamanho do módulo varia conforme a região do Brasil), a responsabilidade pelo cadastramento é do governo estadual. Por isso, orientamos que esses proprietários façam uma declaração simples, dizendo que sua propriedade tem menos de 4 módulos e, com base no que determina o Código Florestal, está solicitando a captação das coordenadas da proprie-
dade e o apoio técnico para efetuar o CAR”, diz. Ananias afirma que, desde o fim de 2015, a CNA está alertando o governo federal e o Legislativo para que prorroguem novamente o prazo. “Caso contrário, o impacto será grande sobre os pequenos proprietários.” Ananias ressalta que a função do CAR é fazer o diagnóstico da situação da cobertura vegetal das propriedades rurais brasileiras. “Tendo apenas 67% da área total cadastrada, é evidente que a ação ainda não cumpriu sua função.” O coordenador da CNA afirma que até mesmo para propriedades com mais de 4 módulos fiscais há dificuldade de acesso à rede para entrar no programa e preenchê-lo. “Temos grande carência de acesso à internet na zona rural do Brasil, além da dificuldade técnica para preencher a declaração porque, apesar de parecer fácil, nem todos os produtores rurais sabem o que é área de proteção am-
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Meio ambiente biental (APP), reserva legal, área consolidada ou área de uso restrito.” Ele afirma que tal fato pode resultar em declaração errada, que vai modificar a configuração do diagnóstico, podendo interferir nas políticas que virão depois. Sturm, do SFB, diz que não há limite de retificações no cadastro. “O que não for informação obrigatória no preenchimento inicial do CAR poderá ser respondido depois. Ele só ficará impedido de realizar a retificação no momento em que o órgão de meio ambiente do Estado começar a análise de seu cadastro. A partir daí, o Estado indicará as pendências encontradas.” Ananias, da CNA, lembra que 5 de maio também é o prazo limite para o produtor aderir ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) em seu Estado. “Mas como o produtor vai aderir se muitos Estados ainda nem têm legislação pronta sobre o tema?”, questiona Ananias. “Este é outro motivo que nos leva a solicitar a prorrogação do prazo.” De todo modo, enquanto o prazo não é adiado, a CNA recomenda ao proprietário rural preencher o cadastro até a data-limite. “Preencher o CAR é obrigatório por lei e necessário para garantir o cumprimento do Código Florestal”, diz.
O consultor jurídico André Marchesin, da Agrocen (empresa especializada em serviços ambientais), lembra que a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, está atuando junto ao governo para prorrogar o prazo. “Já o Ministério do Meio Ambiente quer aumentar o número de inscrições antes do prazo final, em 5 de maio. Se houver prorrogação, e não podemos descartar essa possibilidade, as inscrições que faltam serão feitas nos 45 minutos do segundo tempo.” O advogado acrescenta que o Projeto de Lei 287/2015, de autoria do senador Romero Jucá (PMDB/RR), propõe que o prazo de inscrição no CAR seja estendido para 2018. “O PL ainda está tramitando no Senado e depende de análise de comissões para depois passar por discussão tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados. Acho pouco provável que tudo isso ocorra em menos de dois meses. Mas não podemos descartar a possibilidade de emissão de uma Medida Provisória adiando o CAR para 2018.”
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E completa: “Como boa parte da pendência depende do governo, se a prorrogação sair será por meio de MP, mesmo porque o Ministério do Meio Ambiente não pode mais estender o prazo, já que o Código Florestal prevê uma única prorrogação, o que já ocorreu no ano passado.”
O consultor da Agrocen acrescenta que o projeto de lei que tramita no Senado só altera o artigo do Código Florestal que trata do prazo de inscrição no CAR. “Mas tem outra questão muito sensível para o produtor rural: a do crédito rural. O Código Florestal determina que quem não estiver inscrito no CAR até maio de 2017 não poderá obter crédito nas instituições financeiras. O PL não altera este artigo.” Marchesin ressalta, no entanto, que o cenário mais seguro para o produtor é que ele faça a inscrição no CAR independentemente dessa discussão de prorrogação e que depois realize as retificações necessárias. “Mesmo que não se sinta seguro com todas as informações do imóvel, deve fazer a inscrição e aguardar o órgão ambiental analisá-la. Ou, ainda, aguardar que haja um regramento mais claro do órgão ambiental estadual ou do executivo estadual sobre alguma questão pendente. Dessa forma, não perderá os benefícios do novo Código Florestal, como por exemplo, usar a APP para compor a área de reserva legal do imóvel.” n
E quipamentos
O estabelecimento de uma rotina auxilia no bem-estar animal e previne perdas de tempo, de qualidade e de produtividade do leite
Mangueira curta do vácuo furada. A entrada de ar no sistema prejudica o funcionamento do equipamento e pode causar a queda do conjunto
Faça da manutenção preventiva da ordenhadeira uma rotina Roberto Nunes Filho
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odo tipo de equipamento tem sua vida útil definida. Com os sistemas de ordenha isso não é diferente. Consequentemente, o natural desgaste de peças e componentes faz da manutenção um dos principais protagonistas da rotina de uma fazenda. A grande questão, porém, é que, se este trabalho de conservação não for realizado de forma preventiva, inevitavelmente terá que ser feito de maneira corretiva, o que sempre dispensa mais tempo e dinheiro. Ou seja, é melhor cuidar de algo antes que se torne urgente. A falta de manutenção preventiva dos apetrechos utilizados para a ordenha em si afeta diretamente a qualidade do leite e o bem-estar dos animais. Um equipamento com peças gastas ou mal reguladas não proporciona boa ordenhabilidade, podendo causar danos a todo sistema mamário das vacas e prejuízos à qualidade do leite, como alterações na contagem de células somáticas (CCS) e na contagem bacteriana total (CBT). “A saúde dos tetos pode ser prejudicada por fatores como vácuo acima do recomendado, pulsação desregulada com tempos de massagens pequenos e, principalmente, teteiras vencidas, que não executam uma boa massagem e podem cau-
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sar lesões”, explica o gerente de Suporte Técnico da GEA, Sergio Bettin. De acordo com o especialista, muitos são os sinais que indicam que o equipamento não está funcionando da maneira devida. A lista de anormalidades inclui mudanças no tempo de ordenha, queda ou deslizamento dos conjuntos de ordenha, agitação dos animais, variação na qualidade e subida de leite para as tubulações. “Além disso, pulsadores parados, nível de vácuo fora das recomendações e ruído de rolamentos gastos também são indicativos de que algo não está bem”, pontua Bettin. Todo equipamento de ordenha deve passar por manutenção, cuja programação segue um intervalo fixo de tempo ou um limite de horas de utilização – o que vier primeiro. O Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite (CBQL), por exemplo, orienta que a manutenção dos equipamentos deve ser realizada a cada seis meses. Este prazo, no entanto, varia de acordo com o fabricante da ordenhadeira e deve ser rigorosamente seguido. Dependendo da empresa fornecedora e do tipo de peça, o intervalo de tempo pode variar entre seis meses e quatro anos. Já o tempo de utilização em horas também é relativo, podendo variar entre 1.500 até 8.000 horas. Ou seja, não há uma regra fixa.
Teteiras. Equipamento sempre em boas condições de uso
Tudo depende do fabricante. A relação dos componentes que devem passar por revisão é grande e precisa estar sempre no radar do produtor. Mas, no caso das ordenhas mecânicas, que predominam nas propriedades brasileiras, os principais itens que devem constar no check-list de manutenção são: pulsadores, tubulações e mangueiras de vácuo, válvulas e bombas de vácuo, bombas de leite, teteiras, coletores e mangueiras de leite, membranas e vedações. “Estes são os principais componentes para manutenção periódica dos sistemas de ordenha automatizados e balde ao pé. Contudo, também é necessário realizar verificações diárias de alguns itens que podem comprometer a vida útil dos equipamentos”,
As falhas por trás da manutenção O principal erro relacionado à manutenção preventiva é enxergar este assunto como um custo extra e, muitas vezes desnecessário. Para Eliete, é importante que se fortaleça a conscientização de que um equipamento bem regulado e funcionando adequadamente traz retornos em produtividade, qualidade do leite e bem-estar dos animais. “Outro ponto importante que devemos lembrar é que cada tipo de rebanho exige regulagens específicas de nível de vácuo, pulsação, formatos de teteiras, entre outras adequações. Por isso, o produtor deve sempre buscar orientação profissional para determinar quais são as regulagens e os materiais mais adequados à sua realidade”. Os especialistas também afirmam que outras falhas sérias são o uso de teteiras vencidas, a não utilização de peças genuínas, o funcionamento de componentes além do seu limite útil e a execução de remendos ou reparos caseiros
Conjunto de vácuo: equipamento deve ser de fácil acesso para a manutenção
alerta a coordenadora de Pós-Venda da Agromac, Eliete Zaparoli Pinheiro. “Diariamente, é importante que sejam checados os níveis de vácuo marcado no vacuômetro e de óleo da bomba de vácuo, bem como a existência de furos em mangueiras e a limpeza do equipamento”, orienta a especialista. Para Eliete, além de seguir as orientações dos fabricantes, o produtor também deve recorrer às normas nacionais e internacionais que estabelecem diretrizes para a instalação e manutenção dos sistemas de ordenha. Estas normas são as NBR 14763, 14764 e 14765 e ISO 3918, 5707 e 6690.
Com relação ao custo da manutenção preventiva, este varia de acordo com a escala de produção e o dimensionamento do equipamento. Mas, de forma geral, ele pode chegar R$ 0,03 por litro de leite, segundo Bettin, da GEA. O valor está em linha com o apontado pelo pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Armando da Costa Carvalho, que afirma que este custo varia de R$ 0,02 e R$0,04 por litro de leite. Convertendo este desembolso por litro em participação do custo na receita da fazenda, Eliete destaca que o investimento não ultrapassa 1% do faturamento anual da fazenda. Já o gerente de Soluções da DeLaval, André Neiva Liboeiro, avalia que o custo da manutenção preventiva ao produtor fica entre 3% e 6% da receita, dependendo do tipo de equipamento. Por se tratar de uma verdadeira engrenagem composta por diversas peças que devem trabalhar sincronicamente, a ordenhadeira, de uma forma geral, necessita de cuidados regulares para o seu pleno funcionamento. Mas, de acordo com os espe-
“Custo da manutenção preventiva ao produtor fica entre 3% e 6%” André Liboeiro Gerente de Soluções da DeLaval
“Verificação diária dos níveis de vácuo da teteira é muito importante” Eliete Pinheiro Coordenadora de Pós-Venda da Agromac
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E quipamentos Tudo começa pelo projeto A rotina de manutenção das ordenhadeiras também sofre influência das condições estruturais da fazenda. Ou seja, ela começa na definição da própria sala de ordenha. Em geral, um projeto deve ser, antes de tudo, bem elaborado e dimensionado, respeitando as medidas necessárias e permitindo fácil acesso dos técnicos aos equipamentos. “Lugares altos e apertados dificultam a manutenção. O espaço também deve conter iluminação e ventilação adequadas e ser protegido da chuva e do sol, pois isso influencia na conservação de partes que esquentam, como as bombas de vácuo”, ressalta Bettin, da GEA. Para Lissandro Mioso, da Sulinox, o projeto da sala de ordenha também deve contemplar questões de segurança. “Um exemplo é o emprego de energia elétrica de boa qualidade, com cabeamento dentro dos padrões estabelecidos pelos órgãos reguladores”, recomenda o especialista. “Outras providências técnicas, como possuir bombas de vácuo em sistema de revezamento, também ajudam a evitar problemas com a ordenha.”
Sobre a instalação da bomba de vácuo, Liboeiro destaca que a recomendação é que ela fique sobre uma base de cimento em área aberta (em torno de 1 metro de raio), suficiente para que o técnico consiga operar sem restrições de espaço. “E as polias da bomba de vácuo devem estar sempre protegidas, para evitar acidentes”, complementa. Na visão de Carvalho, da Embrapa Gado de Leite, uma boa forma de planejar a sala de ordenha e a consequente configuração do sistema de ordenha é olhar para o rebanho. “Para isso, é preciso levar em consideração o tipo de manejo das vacas em lactação (bezerro ao pé ou não); a quantidade de fêmeas em lactação (considerando o rebanho estabilizado) e se a criação é a pasto ou em confinamento. Tudo isso tem efeito no projeto” alerta o pesquisador. “Importante também pensar na logística de entrada e saída dos animais da sala de ordenha. A presença de curvas, degraus e rampas aumenta o tempo da ordenha e, consequentemente, o desgaste do equipamento. Por isso que o projeto da sala impacta na rotina de manutenção”, conclui.
Bem desenhado. Projeto da sala de ordenha deve também facilitar o manuseio e limpeza dos equipamentos
cialistas, alguns componentes merecem cuidado redobrado por causa do impacto que eles podem causar. “Todo equipamento demanda uma atenção especial, porém vale sempre ressaltar a importância da troca das teteiras dentro do prazo correto. Afinal, dentro de todo o sistema, este é o único ponto em que o equipamento entra em contato direto com o animal”, observa Eliete Pinheiro, da Agromac. “O atraso na troca das teteiras, apesar de muitos produtores encararem como economia, traz prejuízos, causando queda na produção por animal, aumento do risco de contaminação por bactérias, perda de eficiência da ordenha, aumento da ocorrência de deslizamento e queda dos conjuntos, entre outros fato-
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res que influenciam diretamente na produção.” Em complemento a este princípio, Liboeiro, da DeLaval, destaca que as peças de borracha, após vencer o seu prazo de validade, podem se romper e provocar vazamentos – em alguns casos imperceptíveis. “Estes vazamentos fazem com que o nível de vácuo flutue, prejudicando a velocidade com o que o leite é removido da vaca. Assim, ao aumentar o tempo de ordenha de um animal, aumenta-se o risco de lesões de pele nos tetos dos animais. Estes mesmos vazamentos prejudicam a qualidade da limpeza dos sistemas de limpeza automáticos, aumentando a contagem bacteriana total (CBT).
Outras peças críticas que merecem atenção especial são aquelas que, ao quebrarem, comprometem o funcionamento do sistema. Para o supervisor de Projetos Especiais da Sulinox, Lissandro Stefanello Mioso, exemplos desses itens são os pulsadores (cuja função é pulsar e massagear os tetos para extração do leite), a bomba de vácuo (que gera a força para a extração do leite) e o regulador de vácuo. “Este último, por ter a missão de manter a pressão dentro dos padrões suportados pelo animal
para uma extração de leite estável, deve estar sempre em pleno funcionamento. Qualquer falha neste componente alterará os níveis de vácuo no sistema, afetando a saúde animal”, esclarece Mioso. Além destes itens, Liboeiro também chama a atenção para a boa conservação das correias, rolamentos e retentores da bomba de vácuo, vedações e selos da bomba de transferência de leite, vedações e membranas dos pulsadores e as válvulas de extração dos coletores de leite. “Para máquinas que possuem alta utilização, é recomendável a compra de uma bomba de transferência de leite e uma bomba de vácuo reserva”, ressalta.
Nenhum tipo de manutenção preventiva da ordenhadeira deve causar impacto na rotina da fazenda, devendo sempre ser programada, estrategicamente, para ser realizada nos intervalos entre as ordenhas. “Contudo, há fazendas onde o tempo de intervalo entre as ordenhas é muito curto, o que dificulta bastante o trabalho de manutenção. Nestes casos, é recomendado que as fazendas mantenham um estoque de peças de reposição e a realização dos serviços seja fracionada de acordo com o tempo disponível”, sugere a coordenadora da Agromac. Já nos casos de manutenções corretivas ou emergenciais, o cenário é outro. “Este tipo de intervenção afeta diretamente a rotina da ordenha, afinal, o equipamento fica inoperante, aguardando a chegada do técnico especializado”, lembra Bettin. “Este
impacto será mensurado de acordo com o tipo de manutenção necessária, chegando a casos em que até mesmo alguma ordenha do dia deixe de ser realizada.” Outras situações, no entanto, demandam que o trabalho de suporte seja realizado durante a própria ordenha, conforme lembra Mioso, da Sulinox. “Aferições e medições do sistema de ordenha, como pulsação, nível de vácuo durante a ordenha e fluxo de leite, são realizadas durante a extração de leite.” Quanto à mão de obra envolvida na manutenção, alguns procedimentos diários e semanais podem ser realizados pelos próprios funcionários das fazendas, tais como limpeza geral da bomba de vácuo, das contenções, tubulações e conjuntos de ordenha, manutenção do nível de óleo do equipamento, troca das mangueiras e teteiras, entre outros procedimentos mais simples. “Não é recomendado, no entanto, que os funcionários realizem manutenções nos itens mais complexos, que exijam ferramentas apropriadas e regulagens específicas para que funcionem corretamente, como no caso de pulsadores e peças internas das bombas de leite e de vácuo”, alerta Eliete, da Agromac. A especialista ainda orienta que, antes de fazer qualquer tipo de manutenção em ordenhadeiras, é necessário verificar se a corrente elétrica está desligada. “Também é importante o uso de roupas e equipamentos de segurança, além de possuir as ferramentas corretas para cada tipo de serviço”, recomenda.
“Aferições e medições devem ser realizadas durante a ordenha” Lissandro Mioso Supervisor na Sulinox
“Teteiras vencidas prejudicam saúde dos quartos mamários” Sergio Bettin Gerente na GEA
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Qualidade Marcos Veiga
Ordenha eficiente, vaca saudável e bom leite
Fotos: Luiz Prado
Procedimentos adequados no momento de retirar o leite dos animais só trazem vantagens ao plantel
A
Marcos Veiga Professor Associado da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, campus de Pirassununga, SP.
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produção de leite de qualidade depende basicamente das condições de higiene durante a ordenha, da eficiência do resfriamento e de um programa de controle de mastite. Durante a retirada do leite, as etapas que têm maior relação com o risco de novos casos de mastite são a limpeza dos tetos e do úbere; o manejo das vacas e a condição geral de funcionamento dos equipamentos. Assim, o objetivo de uma rotina de ordenha eficiente é produzir leite de qualidade e reduzir o risco de mastite, assim como o
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tempo de ordenha, o que leva ao aumento da lucratividade da fazenda. Um bom manejo depende dos procedimentos e do tipo e da configuração da sala de ordenha e dos equipamentos. A rotina nada mais é do que a forma como os trabalhadores se movimentam pela sala, o que pode ser feito de duas formas: 1) Territorial, ou seja, o mesmo ordenhador é responsável por um conjunto de vacas e executa todos os procedimentos nesses animais; 2) Sequencial, que é quando um ordenhador realiza somente um determinado procedimento, por exemplo, pré-dipping e teste da caneca, e o outro completa a rotina com a secagem dos tetos e a colocação do conjunto de teteiras. Uma rotina completa inclui: retirada dos primeiros jatos de leite, pré-dipping, secagem dos tetos, colocação do equipamento nos tetos e pós-dipping. Os principais objetivos dos procedimentos pré-ordenha são a descontaminação dos tetos, a detecção de vacas com mastite e o estímulo para descida do leite. A meta de uma rotina eficiente é ter tetos limpos, secos e bem estimulados. Deve-se considerar que o manejo se inicia quando as vacas são trazidas para a sala de ordenha, o que deve ser feito de forma calma, para evitar stress. Os animais devem ser conduzidos sem atropelos e agressões, para evitar que a vaca defeque mais e haja deslizamento de teteiras, o que reduz a eficiência da ordenha e a qualidade da matéria-prima. Para reduzir a transmissão de mastite contagiosa, recomenda-se que as vacas infectadas sejam as últimas a serem ordenhadas e que os funcionários usem luvas. Ideal é fazer um manejo pré-ordenha completo, para melhorar a eficiência do procedimento (tempo e produção de leite). Veja a seguir:
matéria orgânica, que fica aderidos aos tetos e são altamente contaminados por patógenos oportunistas. Para reduzir essa contaminação, a medida mais recomendada é o uso de desinfetantes de comprovada eficácia, que devem ficar em contato com os tetos por cerca de 30 segundos, antes da secagem com papel-toalha.
a) Retirada dos primeiros jatos: este procedimento é recomendado para identificar vacas com mastite clínica, por meio da observação de alterações do leite. Quando casos clínicos são detectados precocemente, aumenta-se a chance de cura, além de evitar que o leite com alta CCS seja despejado no tanque. Além disso, a retirada desses primeiros jatos estimula a descida do leite. Uma estimulação por cerca de 10 a 20 segundos é suficiente para liberar a ocitocina, hormônio responsável pela expulsão do leite. Tal prática permite também uma ordenha rápida e completa. Considera-se que a concentração máxima de ocitocina no sangue do animal seja atingida de 60 a 120 segundos após a estimulação dos tetos, o que indica que, em média, deve-se colocar as teteiras para início da ordenha aos 90 segundos depois.
b) Pré-dipping: Nada mais é do que a desinfecção dos tetos pela imersão em solução desinfetante. Quanto piores forem as condições de higiene dos tetos na ordenha, maior é a contagem bacteriana do leite e o risco de novos casos de mastite. Esta etapa auxilia na remoção de esterco e da
c) Secagem dos tetos: esta etapa é fundamental para a redução de contaminações. O objetivo é remover fisicamente a sujeira aderida ao teto e retirar resíduos de desinfetante. Deve-se ter especial cuidado para a secagem da extremidade (ponta) dos tetos, pois esta é a região mais vulnerável para o risco de mastite. Na grande maioria dos rebanhos, o uso de toalhas de papel descartáveis é a opção mais fácil e simples de ser adotada na rotina de ordenha.
Considera-se que a concentração máxima de ocitocina no sangue do animal seja atingida de 60 a 120 segundos após a estimulação dos tetos, o que indica que, em média, deve-se colocar as teteiras para início da ordenha 90 segundos depois”
d) Colocação de teteiras em tempo adequado: o tempo de preparação dos tetos antes da ordenha inclui as etapas de detecção de mastite clínica, pré-dipping, ação do desinfetante e secagem dos tetos. Após a estimulação, recomenda-se que a colocação das ordenhadeiras seja feita após 90 segundos, como já mencionado. Durante a colocação das teteiras, deve-se dar especial atenção ao correto alinhamento do conjunto, evitando-se que haja a torção das mangueiras curtas do leite, o que pode dificultar o fluxo. Quando o conjunto de ordenha não está bem alinhado, pode haver redução do fluxo em um quarto mamário, o que aumenta o risco de lesão e deslizamento de teteiras. Além disso, na colocação do equipamento, deve-se reduzir a entrada de ar, para evitar risco de mastite. abr-mai/2016 Mundo do Leite
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Qualidade e) Retirada do conjunto de ordenha: após o fluxo final de leite, as ordenhadeiras devem ser imediatamente retiradas, manualmente ou pelo extrator automático de teteiras. Quando as teteiras não são retiradas neste ponto, há sobreordenha (ordenha sem fluxo de leite), o que leva ao aparecimento de hiperqueratose (lesões na extremidade dos tetos). Não é recomendado fazer massagem no úbere ou pressão manual sobre o conjunto de ordenhadeiras para retirar o leite do fim da ordenha, pois ambos os procedimentos aumentam o risco deslizamento de teteiras e de hiperqueratose. Uma recomendação prática para saber se a vaca foi completamente ordenhada é fazer um repasse manual (ordenha manual) dos tetos para quantificar o leite residual. Uma vaca bem ordenhada deve ter menos de 100 mililitros/ quarto de leite residual, quando for feita uma amostragem pós-ordenha. Quando o volume de leite residual for maior do que 100 ml, é indicativo de deficiência no funcionamento do equipamento ou nos procedimentos de preparação antes da ordenha (tetos pouco estimulados e descida deficiente do leite).
f) Procedimentos pós-ordenha: Após a retirada do conjunto de teteiras, recomenda-se desinfetar os tetos, na fase conhecida como pós-dipping. Esta é uma das principais medidas de controle da mastite contagiosa, pois previne a transmissão de patógenos de vacas doentes para sadias. Os micro-organismos contagiosos têm a capacidade de permanecer na pele dos tetos após a ordenha, o que facilita a invasão do canal e a mastite. O pós-dipping deve ser aplicado em toda a superfície do teto,
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após a retirada das teteiras, preferencialmente pelo uso de um aplicador descartável. Além do pós-dipping, estimular as vacas a permanecer em pé após a ordenha pelo fornecimento de alimento fresco é uma prática de manejo recomendada em rebanhos leiteiros. Este manejo aumenta a probabilidade de que o canal do teto esteja fechado no momento em que as vacas finalmente se deitarem, entre as ordenhas. O canal do teto é uma barreira física contra a invasão de bactérias e seu completo fechamento reduz o risco de doenças. Estudos recentes indicaram que manter as vacas de pé por cerca de uma hora após a ordenha auxilia na prevenção da mastite ambiental.
g) Treinamento de ordenhadores: A eficiência da rotina de ordenha depende da interação de três elementos-chave: as vacas, o equipamento/sala de ordenha e o ordenhador. Sendo assim, fornecer boas condições de conforto, adequada condição e segurança de trabalho e treinamento para os ordenhadores é essencial para obter bons resultados de desempenho da rotina de ordenha. Os rebanhos nos quais os ordenhadores são bem treinados e valorizados pelo seu trabalho têm maior chance de sucesso no controle de mastite e na melhoria da qualidade do leite. Para tanto, recomenda-se que seja feito um protocolo escrito e de fácil entendimento sobre os procedimentos da rotina de ordenha, para que os ordenhadores sejam bem informados sobre o que se espera em termos de tarefas. Além do procedimento escrito, um bom treinamento sobre a importância e porquês da realização dos procedimentos é essencial para um bom desempenho dos ordenhadores. n
Saúde Animal José Luiz Moraes Vasconcelos
Periparto, momento crítico da vaca leiteira A depender do manejo adotado, pode-se obter um animal de alta produção
Parição: boas condições antes, durante e depois
D José Luiz Moraes Vasconcelos Médico veterinário formado pela UFMG e professor assistente doutor na Unesp de Botucatu (SP). Co-autora
Alice Poggi Brandão Mestranda e aluna do professor José L. M. Vasconcelos pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu
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enomina-se periparto o período que se concentra próximo ao parto, tanto antes como depois. Numa definição mais detalhista, temos o conceito de período de transição, que são as três semanas anteriores e posteriores à parição. Muito se conversa, estuda e especula sobre este período. O ponto em que todos concordam é que é um momento crítico para a vaca leiteira e influencia não somente a lactação como pode ter consequências para toda a vida produtiva do animal. Mas por que é um período tão desafiador? O que faz com que a vaca fique tão vulnerável? Para responder a estas e outras questões, precisamos levar em consideração vários fatores. O primeiro destes fatores e um dos que têm maior impacto sobre o sucesso do periparto é o Balanço Energético Negativo (BEN), isto é, condição na qual a vaca não obtém energia suficiente para suprir a produção de leite e, portanto, lança mão de suas reservas corpóreas – principalmente a gordura corporal – para manter a produção. O balanço energético negativo é inevitável na vaca leiteira periparturiente. Independentemente da qualidade da dieta ou de quão bem manejado seja o rebanho, as matrizes passarão por uma situação de balanço energético negativo no fim da gestação e principalmente no início da lactação.
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Esse fenômeno é o que garante que as vacas consigam atingir o pico de lactação e produção máxima nas primeiras semanas após o parto. E então o produtor poderá me perguntar: “Mas onde está o problema nisso? Qual a desvantagem em estimular minhas vacas a atingirem a máxima produção?” Ele está correto, mas nada é tão simples. A vaca leiteira moderna foi tão geneticamente selecionada para produzir cada vez mais leite que os mecanismos endócrinos, hormonais e neurológicos que controlam a intensidade do balanço energético negativo ficaram muito sensíveis e a linha que separa uma vaca saudável em máxima atividade produtiva e um animal com diversos problemas é tênue. Encontrar o ponto de equilíbrio tornou-se um grande desafio na pecuária leiteira. E como encontrar este equilíbrio? Para nós, tudo começa no pré-parto, momento em que temos a chance de preparar nossas vacas para um bom parto, um melhor pós-parto e possivelmente uma lactação tranquila e produtiva. Essa preparação pode basear-se em um parâmetro simples, porém eficiente: o escore de condição corporal, que consiste em dar uma “nota” para quão magra ou gorda está uma vaca. Ou seja, um número que nos dará uma ideia da quantidade de gordura presente no corpo do animal. Numa escala de 1 a 5 para gado leiteiro, esse escore é obtido pela observação de uma pessoa treinada e apesar de ser bastante subjetivo não deve variar mais do 0,25 ponto entre dois observadores. Com este dado podemos trabalhar controlando o balanço energético negativo, pois estudos apontam que, ao contrário do que foi dito por muito tempo, o ideal não é a vaca parir com um escore elevado, ou seja, “gordinha”, mas sim moderado. Vacas com alto escore, maior do que 3,5, têm risco maior de desenvolver distúrbios metabólicos no pós-parto. Isso ocorre por-
que, quando o balanço energético negativo se inicia, já no fim do pré-parto, esses animais têm bastante reserva corpórea e começam a utilizá-la, de forma que os produtos provenientes do metabolismo da gordura (ácidos graxos, triglicérides e corpos cetônicos) começam a se acumular no fígado e na corrente sanguínea.
Este acúmulo, além de gerar distúrbios, como a cetose e a síndrome do fígado gorduroso, também sinaliza ao sistema nervoso que há muita energia disponível e o apetite do animal é desestimulado, o que 1 2 faz com que a vaca reduza ainda mais sua ingestão de matéria seca e desta forma acabe perdendo peso de maneira exagerada. Animais com escore moderado terão menos gordura para ser utilizada pelo organismo e, portanto, se recuperarão mais rápido do balanço energético negativo, já que enfrentarão uma menor redução no consumo de alimento. Estudo realizado em 2007 pelo professor inglês dr. Garnsworthy apontou que o escore corporal ideal para uma vaca na parição está entre 2,5 e 3, o que muitas pessoas pode-
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riam considerar um animal magro. É importante lembrar que o escore da vaca ao entrar no pré-parto dependerá muito da sua condição no momento da secagem. A perda de peso durante o pré-parto é altamente contraindicada – a vaca deve 4 5 entrar no lote de pré-parto já com o seu escore corporal adequado. Isso nos faz mais uma vez pensar que, apesar de classificarmos secagem e pré-parto como momentos distintos, tudo está interligado. Uma vaca que esteja muito gorda no momento da secagem provavelmente será um problema durante o periparto. O monitoramento do ECC deve ser constante dentro da fazenda e mais intenso próximo à parição, mas importante em todos os momentos. Na próxima edição continuaresmos a abordar o assunto. n
Medição. Escore de condição corporal ideal para parição situa-se próximo do 3
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Sustentabilidade Alexandre M. Pedroso
Compactação bem feita, o segredo da silagem litativas e quantitativas. Um deles é a compactação. Como diz Bernardes, um importante objetivo ao produzir silagem é fazer com que o material que fica na região periférica do silo (bordas) seja igual ou similar àquele depositado no meio do silo, de modo que haja poucas alterações nutritivas. É preciso produzir uma única silagem, em toda a pilha. Isso tem tudo a ver com a compactação na hora de encher o silo.
Bem feita. A pilha de silagem deve ser homogênea, tanto no centro quanto no
Se esse processo não for bem conduzido,
topo e nas bordas
U
Alexandre M. Pedroso Consultor de Bovinos Leiteiros da Cargill Nutrição Animal
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m dos principais desafio dos nutricionistas de bovinos leiteiros é a variabilidade possível na composição dos alimentos, e como isso afeta a formulação das dietas. Para quem trabalha com alimentação animal, é imprescindível analisar rotineiramente os alimentos que se utilizam nas fazendas, especialmente os volumosos, para que se possa conseguir elevada eficiência alimentar, o que por sua vez é fundamental para que a fazenda seja lucrativa. Quanto melhor for a eficiência de conversão de nutrientes em produto animal, no caso leite, melhor vai ser o desempenho das vacas, e menos elementos poluentes serão lançados no ambiente. Agora que caminhamos para o inverno, estação que coincide com o período seco em grande parte de nosso país, a imensa maioria dos sistemas produtores de leite baseados em pastagens precisa lançar mão do uso de volumosos conservados. E muitas vezes o produtor e o técnico que o assiste contam com a alta qualidade desses alimentos, mas nem sempre isso é fato. O professor Thiago Bernardes, da Universidade Federal de Lavras (Ufla), costuma dizer que um silo pode conter duas silagens. Eu concordo com ele, mas me arrisco a dizer que podem ser até mais de duas. O grande problema é que muitas vezes os produtores não se dão conta do que está dentro do silo. Durante a ensilagem há vários processos que, se forem mal conduzidos, podem levar a perdas qua-
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certamente haverá variações na composição do alimento. Se o material não tiver composição uniforme, fica complicado oferecer às vacas uma dieta constante. Além disso, problemas de fermentações indesejáveis causadas pela entrada de oxigênio dentro da massa resultam em deterioração da silagem, o que vai acarretar em redução no consumo, com possibilidade até de intoxicações pela ingestão de micotoxinas. Um problema muito comum relacionado à má compactação, e que infelizmente se observa em um grande número de fazendas, é a deterioração do material na região periférica do silo, representada pelo topo e laterais superiores. Quando a compactação não é bem feita, a densidade da massa ensilada nessa região é menor do que no interior do silo, de forma que a entrada de oxigênio é maior. Isso faz com que a região periférica apresente composição diferente do que se observa no meio do silo, com grande crescimento de fungos e produção de compostos que causam deterioração do alimento. Não é difícil imaginar que essa silagem deteriorada tem composição diferente da que se formou no interior da pilha, onde via de regra o material é bem compactado e não entra oxigênio. Essa silagem que fica no topo e nas bordas pode ficar com aparência bem comprometida, e naturalmente será descartada. Mas, se o processo de fermentação aeróbia não for tão intenso, é possível que as alterações visuais não sejam tão evidentes, de forma que esse material possa ser oferecido às vacas. E aí é que mora o perigo, pois mesmo sem que haja uma
grande diferença na aparência, pode haver diferenças significativas em composição, o afeta negativamente a formulação das dietas. Para evitar problemas de compactação, algumas medidas devem ser observadas: 1. A compactação é um processo crítico. Muitas fazendas negligenciam essa tarefa, que deve ser realizada utilizando-se máquinas/tratores pesados, que devem permanecer compactando por um longo período de tempo, mesmo após o silo ter sido abastecido. Em silos do tipo superfície, a compactação deve ser feita nos sentidos longitudinal e transversal; 2. Em silos trincheira, deve-se evitar ultrapassar a altura das paredes. Ao ultrapassá-las, a massa que está acima da parede invariavelmente terá menor densidade e maior contato com o oxigênio, o que ocasionará os problemas já destacados.
O objetivo da compactação é diminuir a porosidade da massa, tornando-a mais densa. A recomendação atual é que a densidade de uma silagem de milho ou sorgo bem feita deve ficar em torno de 700 quilos por metro cúbico (kg/m3). Os fatores que afetam a densidade em silos horizontais tipo trincheira e de superfície são o teor de matéria seca da forragem, o tamanho de partículas do material que entra no silo, a altura das camadas distribuídas no silo durante o abastecimento, o peso do veículo utilizado na compactação, e o tempo de compactação. Silagem mal compactada será de qualidade inferior e apresentará composição desuniforme, o que dificulta muito
a constância na composição da dieta das vacas, fator que afeta bastante a eficiência alimentar e o desempenho dos animais. Um dos principais problemas da entrada de ar é o que chamamos de “caramelização”, que é um processo de polimerização química dos açúcares solúveis e da hemicelulose com alguns aminoácidos presentes no material ensilado, quando a temperatura da silagem se eleva acima dos 40 graus. E o que causa essa elevação na temperatura é justamente a presença de oxigênio, que favorece a fermentação aeróbica. Do ponto de vista nutricional, o grande problema é que esses polímeros tornam os nutrientes indisponíveis para os animais, de forma que toda silagem caramelizada tem pior valor nutritivo. Outros fatores que podem favorecer a caramelização são teor de matéria seca elevado, o que dificulta a compactação, demora no enchimento do silo e proporciona má vedação. Quando o silo é fechado, é imprescindível garantir que a entrada de ar na massa ensilada seja mínima. De nada adianta fazer uma compactação excelente se o silo for mal vedado, pois a entrada de ar pode causar os mesmos danos pela presença do oxigênio. Para uma vedação bem feita, procure utilizar lonas que possuam barreira à entrada de ar. Além disso, vede as laterais, revestindo as paredes dos silos trincheira com lona, e cobrindo-os com materiais pesados, como sacos de areia ou brita. O objetivo é evitar a entrada de ar na massa ensilada, para um alimento de qualidade superior. n
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EMPRESAS E PRODUTOS YES
Parceria com Aqua Capital garantirá investimentos de R$ 70 milhões em três anos A Yes, companhia de aditivos nutricionais para alimentação animal, acaba de firmar sociedade com o Aqua Capital – fundo de participações em empresas (private equity) que atua nos setores de agronegócio, alimentos e logística no Brasil e Cone Sul. Com a parceria, a Yes pretende investir em três anos R$ 70 milhões em sua operação, cujo foco é, segundo a empresa informou, em nota, a produção de itens para melhorar o desempenho e a sanidade de animais voltados a diversos tipos de criação – caso de adsorventes de micotoxinas, prebióticos e
complexos organominerais. “Com o aporte de recursos do Aqua, vamos inaugurar até o fim de 2017 duas fábricas no interior de São Paulo, nas cidades de Lucélia e Bora, e ampliar nosso portfólio com novos tipos de prebióticos”, explica Victor Abou Nehmi Filho, CEO da Yes e sócio da companhia. “Com isso, a Yes se tornará a única empresa em todo o mundo a ter quatro diferentes prebióticos em produção para alimentação animal”, acrescenta Gabriel Jorge Neto, sócio e diretor diretor técnico-comercial da empresa. Informações em yes.ind.br.
ABS Pecplan
Central de inseminação recebe auditores do grupo Genus, dos EUA
Parceria. Ron Zeihen e James Meronek e o diretor Fernando Vilela
A central da ABS Pecplan, de inseminação artificial de bovinos, em Uberaba (MG), recebeu em março a visita de dois americanos
responsáveis pela segurança global dos produtos e processos com a assinatura do Grupo Genus, proprietário da ABS. A intenção foi realizar uma auditoria prévia para adoção de regras ainda mais rígidas de biossegurança na unidade brasileira. Durante quatro dias, Ron Zeihen e James Meronek analisaram todos os procedimentos realizados para garantir que todos os colaboradores tenham um ambiente seguro e sem riscos dentro da central. Eles também avaliaram as condições de bem-estar animal (manejo, instalações e alimentação) e, ao fim da visita, a equipe foi elogiada. “Para criar um ambiente de trabalho seguro para todos os funcionários Genus ABS, é preciso um esforço da equipe. E a cooperação da equipe ABS Pecplan é excelente”, disse Ron Zeihen, conforme nota da ABS. Informações, www. abspecplan.com.br.
Zoetis
Novo controle estratégico de verminoses, em parceria com UFMS A Zoetis, empresa do setor de saúde animal, em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), lançou em março o controle estratégico de verminoses 5-8-11 Zoetis. O programa, conforme a empresa, tem como objetivo melhorar o controle dos parasitos internos, aliando produtividade, facilidade de manejo e bem-estar animal. O método
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preconiza a vermifugação do rebanho nos meses de maio, agosto e novembro, daí o “5-8-11”. “O objetivo é preventivo, a fim de proteger o rebanho e manter a população de vermes em nível compatível com a produção animal”, diz a empresa, em nota, acrescentando que, além do controle de verminoses, o programa permite aliar produtividade, facilidade de manejo e
bem-estar animal. “Um dos diferenciais do controle estratégico 5-8-11 foi o fato de ser uma pesquisa aplicada, ou seja, um projeto com fins práticos movido pela necessidade do conhecimento para aplicação imediata de resultados”, afirma Fernando Borges, professor de Doenças Parasitárias da UFMS e responsável pela pesquisa. Informações, tel. 0800 011 19 19.
Fabiani Saúde Animal
Empresa de nutrição centraliza operações na zona sul de São Paulo agilidade e qualidade”, diz a presidente da empresa, Creuza Rezende Fabiani, em nota. O laboratório de Santo Amaro tem capacidade produtiva de 12 milhões de unidades/ano e fabrica produtos como Proverme, Vitagold, Ferrodex e Tormicina, entre outros. Informações no site www. fabianisaudeanimal.com.br
Após diversos estudos, realizados ao longo de 2015 e concluídos no início de 2016, a Fabiani Saúde Animal optou por instalar todos os departamentos em um único lugar, na fábrica de Santo Amaro, bairro da zona sul de São Paulo. “É uma alteração estratégica, que vai contribuir diretamente para que todos os processos ganhem
Tudo num lugar só. Fabiani concentra operações
Plurinox
Tanque pasteuriza, resfria e aquece colostro Projeto da Plurinox, em parceria com a Heatcraft do Brasil, acaba de lançar o Colopastermilk (foto), tanque de colostro que realiza as três etapas do processo de produção – pasteuriza, resfria e aquece, por meio de um único equipamento. A capacidade é de 120 litros e conta, diz a Plurinox, com facilidade de limpeza, de manuseio e baixo consumo de energia e de ruído. Conforme o supervisor de Marketing da Plurinox, Giovar Garcia, “após oito meses, chegamos a este projeto pioneiro na produção de colostro da mais alta qualidade”, diz. Outras tecnologias disponíveis no mercado se utilizam de dois equipamentos, um para pasteurizar e aquecer o colostro, e outro para resfriar. Informações em www.plurinox.com.br.
Embrapa Pecuária Sudeste
Forrageira guandu contribui para recuperar pastagens A Embrapa apresentou, durante o evento Dinapec, em Campo Grande (MS), a forrageira guandu BRS mandarim para recuperação de pastagens degradadas. Pesquisas têm demonstrado resultados positivos da integração do guandu BRS mandarim
com braquiária para recuperação de áreas degradadas. Segundo a pesquisadora Patrícia Anchão, em experimentos realizados na Embrapa Pecuária Sudeste, verificou-se aumento no desempenho individual dos animais e na lotação por hectare. O ganho
de peso médio por animal foi 51% maior. O guandu é uma tecnologia de baixo custo, fácil manejo e apresenta alto potencial para adubação verde. Picada e colocada no cocho, é consumida normalmente. Informações em www.embrapa.br/pecuaria-sudeste.
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eventos Tecnoshow Comigo A Tecnoshow Comigo ocorrerá em Rio Verde (GO), com promoção da cooperativa Comigo. O evento, que será realizado entre 11 e 15 de abril, trará tecnologias voltadas à agricultura e pecuária – a região é grande produtora de grãos e também de aves e suínos, além de pecuária leiteira e de corte. Além disso, haverá mostras dinâmicas de equipamentos e também palestras sobre o cenário do agronegócio atual e eventos técnicos. Uma das palestras voltadas à pecuária leiteira será Manejo e eficiência na ordenha, a ser relizada no dia 13 de abril, às 9 horas. Informações com a programação completa e inscrições em www.tecnoshowcomigo.com.br
Agrishow
Expofrísia A Expofrísia, tradicional mostra leiteira no Sul do Brasil, vai ser realizada este ano de 27 a 29 de abril, em Carambeí, no Paraná. A ExpoFrísia reúne, segundo os organizadores, o que há de mais moderno e inovador na produção leiteira e em grãos. São aproximadamente 15 mil pessoas que visitam o evento para acompanhar palestras técnicas, julgamentos e o Clube de Bezerras. A feira é organizada pela Frísia Cooperativa Agroindustrial. O forte da mostra é o rebanho Holandês, pois cerca de 80% dos
Raça. Rebanho Holandês é maioria na mostra
cooperados optam por esta raça, seguida da Jersey, com 5%. Informações em www.frisia.coop.br
Tecnoleite A TecnoleiteComplem 2016 será realizada em Morrinhos (GO) entre os dias 17 e 20 de maio. A feira será realizada num ambiente de crise política e econômica, o que aumenta o desafio de fomentar o setor leiteiro. Assim, os organizadores privilegiarão a aplicação de tecnologia para garantir uma gestão eficiente, focando em novas políticas comerciais e principalmente apresentando alternativas para a diversificação das atividade. Assim, a feira, segundo os organizadores, espera contribuir diretamente para isso. Informações e inscrições em www.tecnoleitecomplem.com.br
Simpósio do Leite Entre 8 e 9 de junho, em Erechim (RS), realiza-se o Simpósio do Leite – Fórum Nacional de Lácteos, com promoção da Associação dos Médicos Veterinários do Alto Uruguai. O simpósio tem como objetivo reunir produtores, técnicos, estudantes e setores liga-
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dos à produção e ao mercado do leite, conferindo, no evento, momentos de ensinamentos técnico/científicos, bem como um fórum de discussão e trocas de informação. A programação completa está no site www.simposiodoleite.com.br
A Agrishow, tradicional feira de demonstração de máquinas agrícolas e tecnologia, está marcada para os dias 25 a 29 de abril, em Ribeirão Preto, SP, no Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste. Além da demonstração ao vivo de máquinas agrícolas – inclusive as voltadas à pecuária leiteira –, a Agrishow deste ano terá tecnologias aplicadas na armazenagem, em fertilizantes, irrigação, centros de pesquisa e universidades, máquinas e implementos agrícolas, entre outros. Na edição do ano passado do evento, R$ 1,9 bilhão foram movimentados em negócios, recuo de 30% ante o ano anterior, quando a mostra faturou R$ 2,7 bilhões. O público, entretanto, se manteve na média dos últimos anos, em 160 mil pessoas. O público-alvo são agricultores, agrônomos, associações, comerciantes, empresários, estudantes, funcionários Públicos, industriais, pecuaristas, produtores rurais, profissionais liberais e setor agroindustrial. Para mais informações sobre a mostra, acesse o site www.agrishow.com.br ou tel. (11) 3598-7810.
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Seguindo em Frente Ismail Ramalho Haddade*
A dança da chuva ainda será a única solução?
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oucos já conviveram com períodos de estiagem como o recentemente ocorrido em algumas regiões do País. O fato traz preocupação, pois a escassez de água limita o potencial produtivo dos alimentos. Sobre a escassez de água, são comuns questionamentos: o que tem sido feito de concreto para resolvê-la? Há algo a ser feito? Só resta rezar para chover? Segundo a Unesco, o Brasil detém 12% da água do mundo, sendo 82% destinados à agropecuária. Apesar disso, sua distribuição não é uniforme, o que faz com que muitas regiões importantes na produção agropecuária convivam com pouca água em algumas épocas do ano. Isso destaca a necessidade de mais informações a respeito das práticas que garantam a sustentabilidade, a distribuição e a eficiência no uso da água, pois, com a cultura da abundância e da gratuidade dos recursos hídricos, há verdadeira falta de compromisso a respeito da preservação e do seu uso racional. Variadas são as alternativas para garantir a oferta de água em quantidade e qualidade. Uma das principais talvez seja a conscientização a respeito do desperdício. Neste item, ressalta-se que “aquilo que não se mede fica difícil de ser controlado”. Assim, pouco se pode afirmar a respeito da eficiência de um recurso caso não se tenha notícia da quantidade utilizada para a produção ou consumo. Um importante conceito, divulgado pelo pesquisador Júlio Cézar P. Palhares, da Embrapa Pecuária Sudeste, é o da “pegada hídrica”, que é uma medida que contabiliza tanto a água destinada à produção de alimentos, como aquela consumida para a dessedentação dos animais e nos serviços. Todos esses usos são quantificados em relação à unidade de produto gerado na propriedade, no caso, o litro de leite. A partir daí, cria-se uma consciência a respeito do impacto que a produção agropecuária provoca no constante fornecimento de água em quantidade e qualidade, sendo o ponto de partida para atitudes que melhorem a eficiência de seu uso.
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Outra questão importante trata do uso da água de rrigação. Nos últimos 30 anos, a produção de alimentos no mundo aumentou em mais de 18 vezes em relação à expansão de área plantada. Este número destaca a evolução no uso da tecnologia, com destaque para a irrigação. Além disso, ressalta-se a elevada quantidade de água demandada nos sistemas irrigados (para repor a evapotranspiração diária em 1 hectare de pastagem são necessários em média 50.000 litros/dia). Apesar disso, dentre a maioria dos sistemas irrigados, pouca atenção se dá à sua eficiência. Muitas irrigações são instaladas sem projeto, ou, mesmo quando bem instaladas, não se cuida do manejo da água e da quantidade necessária.
Uma última questão aqui comentada será a respeito da necessidade de trabalhos técnicos que abordem o desenvolvimento da propriedade como um todo, incluindo em seu planejamento as iniciativas ligadas à melhoria da disponibilidade da água. Assim, merecem destaque iniciativas como a identificação e preservação das áreas de nascentes, a manutenção e a recomposição de coberturas vegetais mais densas nos topos dos morros, áreas de recarga hídrica, a revegetação natural e o impedimento de acesso dos animais em áreas próximas aos cursos de água, a construção de estruturas para o armazenamento da água da chuva, bem como estudos sobre a disponibilidade de água de subsolo e informações para que se permita o seu uso sustentável. Por fim, o maior desafio é a conscientização a respeito do problema e a necessidade de um pensamento coletivo em prol do menor desperdício e da melhoria dos sistemas de produção e de armazenamento da água. Ou então, continuaremos tendo como único recurso fazer a dança da chuva. n *Engenheiro agrônomo, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, câmpus de Santa Teresa
adáblios
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