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Motor Flex nos aviões

flex - Abasteça seu avião com etanol, gasolina ou com ambos

Por Alessandra M. David De São José dos Campos (SP)

Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) lidera pesquisa pioneira no mundo para o desenvolvimento de motor flex

Abastecer com gasolina, etanol ou qualquer mistura dos dois combustíveis? A tecnologia brasileira Flex Fuel, desenvolvida para a indústria automobilística e disponível no Brasil desde 2003, poderá, nos próximos anos, ser considerada a grande alternativa para o futuro da aviação geral no Brasil.

Esse é um projeto da Divisão de Propulsão Aeronáutica (APA) do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), unidade do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), que funciona em São José dos Campos (SP). A empresa Magneti Marelli Sistemas Automotivos, precursora do sistema flex fuel no mercado automobilístico brasileiro, participa dos trabalhos.

A pesquisa é pioneira no Brasil, e no mundo, assim como o foi a comprovação do uso eficiente do álcool como combustível para carros nos idos de 1970, por engenheiros e técnicos do Departamento de Motores do então Centro Técnico Aeroespacial (CTA/PMO), a atual APA.

Os estudos realizados no passado deram origem à aplicação prática do uso do álcool como combustível no Proálcool. Anos mais tarde, surgiu o sistema bicombustível pela Marelli. Agora, os mesmos precursores são parceiros pela busca da tecnologia que permitirá a escolha do melhor combustível para o abastecimento das pequenas aeronaves de motores a pistão, altamente afetadas pelo preço da gasolina de aviação.

“Os custos operacionais dos aviões de pequeno porte da aviação geral são altos devido ao elevado preço do combustível, chegando a se prever, em um futuro não muito distante, a inviabilização da mesma”, afirma o gerente comercial da empresa Magneti Marelli, Eduardo Campos.

No desenvolvimento do motor aeronáutico flex, sistemas rudimentares dos motores convencionais, constituídos de carburadores e magnetos de ponto fixo de ignição, deverão ser substituídos por um novo sistema eletrônico de injeção de combustível e de ignição, o Sistema de Injeção SFS Flex-Fuel aeronáutico.

O sistema flex fuel aeronáutico permitirá às aeronaves propulsadas por motor a pistão utilizar gasolina de aviação (avgas), álcool combustível (etanol) ou até mesmo qualquer mistura dos dois combustíveis. “O mais importante será o sistema de gerenciamento eletrônico do motor, que permitirá ao mesmo funcionar com mais eficiência, e dará ao usuário a possibilidade de escolher o combustível, dependendo se ele quer desempenho, economia ou autonomia”, explica o gerente do projeto e chefe da subdivisão de Motor a Pistão da APA, Paulo Ewald. “Não há privilégios de desempenho para etanol ou gasolina. O que há são características físico/químicas de dois combustíveis diferentes. Por esse motivo, existe um aumento de performance quando se utiliza etanol, e um aumento de autonomia quando se utiliza gasolina”, explica Campos. Mesmo operando com a gasolina de aviação, o motor convencional

Fotos: DCTA / FAB

No futuro, um AeroBoero 180 voará com o primeiro motor flex de aviação (foto ao lado)

com esse sistema de gerenciamento eletrônico deverá ter um desempenho superior ao original com carburador e magnetos. “Com álcool deve ter um desempenho melhor ainda, tanto que talvez tenhamos de limitar a potência máxima. Com misturas deverá ter um desempenho intermediário entre os dois combustíveis”, afirma Ewald.

O sistema flex eletrônico proporcionará maior rendimento aos motores, principalmente em altitude. Esse sistema corrigirá automaticamente a mistura ar-combustível e o ponto de ignição, de acordo com as necessidades do motor, eliminando a manete de mistura e diminuindo o trabalho do aviador. “Atualmente, o controle da mistura do combustível é realizado de maneira rudimentar pelo próprio piloto, que utiliza sua experiência para dosar a quantidade de combustível na mistura”, explica Ewald.

Vantagens - O álcool como combustível também tem a vantagem de ser mais limpo, pois não usa o chumbo tetraetila, metal pesado e altamente poluente. O novo sistema mede eletronicamente os parâmetros do motor e otimiza, automaticamente, as operações em todas as condições de voo, inclusive no ponto de máxima potência, ou seja, na decolagem (como normalmente acontece nos motores a pistão).

“Outro fator favorável ao álcool é que, nestes motores, o próprio combustível é utilizado também para refrigerá-los e, neste aspecto, o álcool é mais eficiente. Tudo isso contribui para que a diferença de consumo não ultrapasse os 25%, que é o que esperamos”, explica o gerente do projeto e chefe da subdivisão de Motor a Pistão da APA, Paulo Ewald.

O Ipanema, por exemplo, o avião agrícola a álcool da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), chega a voar cinco milhas a mais do que a versão a gasolina, em qualquer velocidade, impulsionado pela sua potência.

O consumo 25% maior do etanol em relação ao da gasolina de aviação ocorre quando o motor está em sua potência máxima (na decolagem) e acaba sendo compensado pela diferença de preço entre os dois combustíveis.

“Mesmo tendo o etanol menor poder calorífico do que a gasolina de aviação”, explica o engenheiro do DCTA, “os motores a etanol têm potência maior quando o utilizam. O maior peso do etanol, cerca de 10% em relação à avgas, compensa-se pelo aumento de potência obtida em voo”.

No entanto, “o quanto o etanol consumirá a mais do que a avgas e, consequentemente, o quanto reduzirá a autonomia da aeronave, irá depender de comprovação, a ser obtida nos ensaios em voo”, explica o especialista. Estes ensaios serão realizados pelos pilotos do Grupo Especial de Ensaios em Voo (GEEV), em São José dos Campos.

O sistema flex será implantado em um motor de fabricação americana, o Lycoming 0-360 A1D, com potência de 180 HP e, os ensaios em voo, realizados em uma aeronave AeroBoero 180, rebocador de planadores pertencente ao Clube de Voo a Vela CTA (CVV-CTA). A previsão é que os testes sejam iniciados neste ano.

Fotos: DCTA / FAB

Integrantes do DCTA após o segundo voo da aeronave movida a alcool em outubro de 2005

Situação atual - Aprovado em dezembro de 2006, o projeto do motor aeronáutico flex recebeu um investimento de R$ 581 mil da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), por meio do IAE, e, a Magneti Marelli investiu cerca de R$ 3 milhões na adequação da nova tecnologia.

O gerente da Magneti Marelli explica que a empresa atua no desenvolvimento e na aplicação do sistema de injeção flex-fuel para os motores, ficando responsável pela certificação do sistema, etapa que exigirá a participação de uma empresa do setor aeronáutico.

Os ensaios do motor na configuração original (carburador e magnetos) já foram realizados para o levantamento dos parâmetros originais. A computação desses dados está pronta, assim como a geração dos mapas para a sua central eletrônica.

A primeira versão do sistema, tanto de hardware, quanto de software, já está concluída e montada no motor. O projeto está atualmente na fase de desenvolvimento de calibração da centralina (ou FADEC na linguagem aeronáutica), em dinamômetro, e o projeto dos componentes também está pronto.

FAB foi pioneira na pesquisa de motores a álcool

ODepartamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) foi o pioneiro no desenvolvimento da tecnologia de motores a álcool para aviões. Desenvolvido a partir da década de 60, nas instalações do então Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), o EMB-200 Ipanema voou pela primeira vez em 30 de julho de 1970, atuando como um importante instrumento de aumento de produtividade agrícola.

O avião passou a ser produzido em série pela Neiva Indústria Aeronáutica, subsidiária da Embraer, que investiu R$2,2 milhões para a adaptação da aeronave à tecnologia do álcool combustível. O avião é vendido desde 2005 e o único do mundo homologado para álcool em sua categoria.

O motor do Ipanema, um Lycoming IO-540, equipa um outro avião da Neiva, o T-25 (seriam idênticos, não fosse a tampa traseira e a bomba de combustível). Também conhecido como Universal, o avião utilizado para treinamento de cadetes da Academia da Força Aérea Brasileira (AFA) é o primeiro avião militar a utilizar o etanol como combustível.

A conversão dos motores a pistão do T-25 iniciou nos anos 80, voando com sucesso em 1985. O projeto parou em 1987, por falta de recursos – naquela época, o país enfrentava baixa nos estoques de combustíveis e crise de abastecimento no país. As pesquisas foram retomadas em 2004 e, um ano depois, um novo T-25 realizava outro voo com sucesso.

Paulo Ewald, que também foi gerente nesta segunda fase do Projeto Motor Aeronáutico a Álcool no DCTA, lembra que a homologação do T-25, na época, não chegou a ocorrer, “embora tenhamos rodado mais de 500 horas em bancada de testes e cumprido todas as exigências para a certificação na época”, lamenta.

Para os pesquisadores, o sistema flex é a única solução para a aviação geral no Brasil, podendo levantá-la novamente, assim como a fabricação de pequenas aeronaves no país. O álcool é apenas vantagem para motores a pistão, de até 360 HP, destinadas aos aeroclubes e à agricultura. Em turbinas (aviões de grande porte), o consumo é excessivo, chegando à faixa de 60 a 70% a mais que o querosene da aviação.

A Força Aérea Brasileira (FAB) tem interesse em aplicar a nova tecnologia em sua frota de T-25, cuja fabricação foi encerrada em 1979. Em uma segunda fase, a Aeronáutica e a Magneti Marelli pretendem desenvolver o flex também para esses aviões, adaptando a tecnologia para essas aeronaves de seis cilindros. A tecnologia do novo motor poderá ser exportada para outros países.

Sgt Johnson Barros / FAB

Incentivo à pesquisa para o progresso do país

Uma pessoa que sai de casa, entra em seu o carro a álcool e dirige-se para uma seção eleitoral para votar, sem perceber, utiliza dois produtos desenvolvidos com a participação ativa da Força Aérea Brasileira, por meio dos pesquisadores e engenheiros, militares e civis, que trabalham no Departamento de Ciência de Tecnologia Aeroespacial (DCTA).

Com seus diversos institutos, o DCTA realiza estudos na área de ciência e tecnologia e contribui para o desenvolvimento do país, em diversas áreas, como aeronáutica e espaço. As pesquisas vão de foguetes de sondagem ao avião movido a álcool, passando por dados climatológicos, blindagem, ensaios aerotermodinâmicos em túnel de vento, experimentos com laser, softwares e eletrônica, entre outros.

Um exemplo da importância desse trabalho são as urnas eletrônicas. Em 1995, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) montou um grupo de estudo com representantes do governo para modernizar o processo eleitoral. A definição das especificações do produto, como detalhes do hardware e do software, ficou a cargo do DCTA. Em 1996, as urnas foram utilizadas em 57 municípios. Desde 2000, todos os brasileiros podem votar por meio desse equipamento, que agilizou a contagem de votos e aumentou a segurança do processo eleitoral.

Nos Anos 70, o DCTA foi chamado a colaborar no Programa Nacional do Álcool (Proálcool), por possuir, na época, o melhor laboratório de motores e um dos maiores especialista na área, o professor Urbano Ernesto Stumpf. Em 1975, rodou o primeiro veículo a álcool. Dez anos mais tarde, 95% dos automóveis novos vendidos no Brasil tinham motor a álcool

Hoje, a unidade está envolvida em importantes projetos como o desenvolvimento de motores para foguetes (foto acima), movidos a combustível líquido, além de satélites e famílias de veículos lançadores, entre outros. ( Ten Alessandro Silva).

a força da solidariedade no haiti

por tenente-jornalista luiz claudio ferreira de porto príncipe (haiti)

as letras são minúsculas tanto diante da catástrofe como dos gestos humanitários mais profundos. antes do terremoto, o índice de desenvolvimento humano do país era um dos mais baixos do mundo (154º lugar). depois de uma das maiores catástrofes da história contemporânea, instituições e pessoas mostram o poder da ajuda ao próximo. nas próximas páginas, estão histórias de povos que o brasil socorre por meio de seus militares. a força aérea brasileira (fab) mobilizou seus aviões de transporte para estabelecer uma ponte-aérea brasil-haiti de ajuda humanitária e mandou a porto príncipe o seu hospital de campanha (hcamp), com médicos e enfermeiros. objetivo: salvar!

Sgt Johnson Barros / FAB

a força da solidariedade no haiti

Sd Sérgio Kremer / FAB

o cenário de horror fez com que ruas ficassem irreconhecíveis com montanhas de ferros retorcidos, pedras e cheiro de cadáver. ficou impossível distinguir casas, lojas ou prédios

tudo ficou sem cor nesse lugar. tudo ficou pequeno. até as letras, minúsculas diante da realidade. não há como esquecer. não há como reportar como se fosse uma história normal. não houve como fechar os olhos. e aí, a diferença. pelas ruas, abdomens abertos, pedaços de gente, misturados ao lixo. gente em pedaços comendo do lixo. montanhas de pedras, ferros retorcidos. “tudo acabou”, diziam com a mesma boca, sem comida, uma fila de gente com os olhos baixos em cité soleil, bairro humilde na região central de porto príncipe, capital do haiti, à espera da distribuição de alimentos. gente que come sabe que não há palavras

a fab na operação haiti (*)

1.476 toneladas de carga foram levadas ao haiti 2.718 passageiros foram transportados 16.011 atendimentos no hospital de campanha

(*) de 13 de janeiro a 25 de março

Sd Sérgio Kremer / FAB

o suficiente. na capital, gente não reconhece paz. angústia elimina os espaços ínfimos que separam, nesse lugar, a morte da vida. ínfimo, mas não cabe no vão de um parágrafo. com o efeito de uma guerra. com o efeito de um bombardeio silencioso. na verdade, “só” 11 eternos segundos de horror. o terremoto continua muito depois do chão tremer. histórias multiplicam-se por milhões. a tragédia fica ali, lá, aqui, do outro lado, vizinha, em cada miligrama de terra concreta e acabada. tragédia no coração de milhões de pessoas, na lembrança de mais de 200 mil mortos. mais de um milhão de desabrigados. um sem-número

de gestos solidários. o imensurável é cor forte desta história. refaz, para idílio dos sobreviventes, a frase que “tudo acabou”. nenhum auxílio se torna apenas simbólico. “obrigado, brasileiros”, diziam alguns minutos depois os haitianos na fila da distribuição de comida. de fato, as letras ficam pequenas diante de uma criança que constata que a vida continua com arroz, feijão, bolacha, água e alguns outros itens nas mãos. além de comida, na boca, a força da solidariedade provoca sorriso. militares brasileiros estão entre os protagonistas desta história. 12 de janeiro de 2010. naquele dia, rudolf, gente de pouco mais de 1 ano de idade, brincava com pequenas pedras como se fossem carrinhos. no espaço restrito de terra na frente da casa de um único cômodo, em carrefour, zona oeste de porto príncipe, as pedras ganhavam força. moviam-se sem que as tocasse. pulavam. o menino se assustou. levantou cambaleante. buscou a mãe. gritou. o que era aquilo? era o pesadelo ainda inexplicado. o choro já era desesperado. cinco horas da tarde na capital do haiti. ele corria para baixo de casa. tijolos começavam a cair como se fossem atacados por alguém. pedaços do teto já estavam no chão. bloqueavam a passagem da mãe, maria santelais, de 28 anos, que gritava o nome do menino e engolia a nuvem de poeira em que se transformava a casa dela. tudo ainda tremia. as frutas que ela venderia na rua já estavam esmagadas. no cenário catastrófico, o berro incrédulo e inocente de rudolf era um alívio. significava a vida. uma pedra do tamanho dele não o deixava levantar. sobre o braço direito. a mãe arrastava a pedra enquanto chorava. apenas um pedaço de pele e músculo sustentava o braço ao resto do corpo. a roupa branca do menino foi pintada de vermelho. a cabeça e as costas também machucadas. duas horas depois, médicos militares brasileiros amputariam o braço do menino.

Sd Sérgio Kremer / FAB

Sd Sérgio Kremer / FAB rudolf perdeu parte do braço e não entendia o que havia ocorrido. devido aos procedimentos que recebeu, teve alta do hospital uma semana depois do terremoto

Sd Silva Lopes / FAB

na fila para alimentos, uma das faces mais terríveis da tragédia: o grande número de crianças sozinhas

o drama e a esperança das crianças no haiti

enxerga-se os cenários de maior evidência da catástrofe no rosto das crianças, que silenciam ou sorriem ao sabor de gestos de atenção que recebem. nas filas para receber alimentos, alargam alegria indescritível. a desesperança também é um outro terremoto. em cité soleil, bairro de porto príncipe, aerovisão observou que a maioria das crianças nas ruas estão sozinhas. na fila para receber alimentos, também sozinhas. algumas explicavam aos militares em poucas palavras que ficaram sem pai, sem mãe, sem irmãos, sem ninguém da família, encostadas para dormir no resto que sobrou dos escombros de vida. marie, de 12 anos, perdeu os pais no terremoto e precisa cuidar de duas irmãs menores. idelai, de 14, morador de cité militaire, passava por um drama semelhante. vivia com uma vizinha no acampamento que virou a casa dela.

“são milhares e em toda a cidade, inclusive nos bairros mais abastados”, afirmou roseana kipman, embaixatriz brasileira no haiti. o país não divulgou nem possui estimativas de quantas crianças ficaram sem pais nem quantas morreram na catástrofe. os índices conhecidos do haiti antes do terremoto já estavam entre os piores do mundo. no haiti, o índice de mortalidade infantil relativo ao ano passado, de 60 a cada 1.000 nascidos. o índice de desenvolvimento humano é de 0,532, apenas o 154 lugar, segundo a onu. (lcf)

sd sérgio kremer / fab

fariam vários curativos. ele ficaria mais uma semana no hospital de campanha da aeronáutica e iria se transformar em uma das histórias emocionantes e inesquecíveis para os brasileiros. rudolph foi com a mãe para o interior do país. moraria

a habilidade com os idiomas créole, francês e português colocou o intérprete joseph lucner, que atua na base brasileira na capital do haiti, no caminho da médica sanitarista e fundadora da pastoral da criança, zilda arns. “ela era uma mulher muito especial. vi o amor com que ela falava das crianças. tive a felicidade de poder acompanhar a ela e irmãs católicas nas palestras que elas participaram. a doutora zilda arns estava muito feliz o tempo inteiro”, relembra o intérprete. lucner acompanhou zilda arns até a escola da igreja coração sagrado, no bairro de turgeau, zona oeste de porto príncipe, onde participou de evento. “a palestra havia se encerrado e estávamos conversando com familiares. família, aliás, transformou-se em palavra de dor. complexa porque não há com quem se converse nas ruas de porto príncipe e que não tenha perdido alguém. todos perderam algo. “nada será como antes”, disseram. além da dor irreparável de perder alguém, tem outra dor. a de viver em perda. continuar em um lugar sem água, sem luz, sem esgoto, sem comunicação. sol quente, poeira permanente e odor de carne morta. dormir na rua como tentativa. dormir na pós-visão de como isso torna-se aspiração do dia. na visão das ruas, demora-se a fechar os olhos. pesadelo com face de criança, de adulto, de idoso. gente que retorna a cada segundo àqueles instantes que acabaram com quase tudo. retornam também aquilo que colore este caminho. ao que mexe e muda. mas não é terremoto. esta catástrofe do haiti demonstra que somente a solidariedade pode abalar o tremor. inclusive o do coração das pessoas. no tempo indefinido de reconstrução do país, as pessoas se erguem.

“zilda arns estava muito feliz”, diz intérprete

tranquilos. eram cerca de 220 pessoas. doutora zilda estava a uns 10 metros de mim quando tudo veio abaixo. não vi mais nada. me machuquei bastante. lembro das pessoas socorrendo e fiquei muito triste quando soube do falecimento dela”.

sd sérgio kremer / fab pastoral da criança

zilda arns, que faleceu no dia do terremoto, foi acompanhada por lucner (à esquerda)

o intérprete ratifica que o contato com a fundadora da pastoral da criança ficará marcado em sua vida. “ela disse que a educação e a força de vontade são capazes de salvar vidas. achei incrível”, explicou. (lcf)

alexandre começou a se levantar pelos olhos. internado no hospital de campanha da aeronáutica, a mãe, sonia pierre, já se despedia da criança de um ano de idade e pouco mais quatro quilos de pele, ossos e lágrimas sem som. havia mais de uma semana que dormiam na rua, sem destino, sem palavras, desde que o terremoto terminou por demolir a esperança fatigada de quem sobrevive em barraco de pedra e pau, sem trabalho. a morte era a obviedade dura que sonia teria que conviver. os médicos brasileiros, no entanto, não aceitaram que a forte pneumonia derrotasse a criança e tudo o que aos olhos leigos se traveste de real. em uma incrível operação de guerra, várias mãos trabalhavam naquele corpinho fraco. a nutrição pela boca, depois pelo nariz, sempre também pela veia, não pareciam ser o bastante. sonia deitou-se na maca ao lado. não tinham nem como acompanhar aquilo. dormiu com uma lágrima espirrada. os médicos da força, de olhos arregalados não tinham nem como secar a água que teimava em cair dos olhos de quem já viu tanto. “a gente vai conseguir”, murmurava o capitão marcos farias. “dá para salvar”, indicava pra si mesma a capitão marly castro. com anestesista, clínicos e enfermeiros ao lado, os pediatras olhavam fixo para o menino. a desidratação desapareceu com as veias da criança. na sequência, conseguiram por via nasogástrica, do nariz direto para o estômago. a criança reclamou. a euforia era contida pela ciência de que não se deve comemorar antes do tempo. o menino abriu os olhos. a mãe também.

Fotos: Sd Sérgio Kremer / FAB

à noite, as pessoas dormem no meio da rua em barracas improvisadas. Os acampamentos somavam mais de 500 em toda a cidade de Porto Príncipe sem qualquer acesso a serviços

a 10 quilômetros de lá, andrés ergueu-se quando recebeu uma colher e se viu diante do inacreditável. recebeu também um copo. na água, viu refletido o que não imaginava. que era possível alimentar-se. que passou a residir no acampamento montado na praça de marte, em frente ao palácio nacional. ele era uma das cerca de cinco mil pessoas que se avolumavam em pequenas tendas feitas de lençóis antigos. antigo morador de cite militaire, na zona central de porto príncipe, havia cinco dias, se alimentava apenas com pedaços de pão divididos e goles d´água. justo ele, que vendia água em pequenos sacos plásticos no centro da cidade para diminuir o calor de sempre na capital do haiti. sem matéria-prima, também ficou sem trabalho. a água que recebeu foi guardada no canto da barraca improvisada. a hora de beber tem que ser o melhor momento do dia. escondia de si mesmo para não beber no único gole. ele não sabia qual era a água do banho, que chegava aos pingos pela solidariedade que jorrava dos vizinhos de barraca. a solidariedade entre os haitianos na hora da desgraça é marca detectável nesta história em porto príncipe. no entanto, quem sofre reconhecia que o banho de solidariedade chegava pelos ares, no barulho frequente dos aviões que chegavam na pista. aviões de diversas bandeiras, de todos os continentes, militares e civis misturados em idiomas com as mesmas intenções. a ajuda ao povo haitiano fez com que o aeroporto de porto príncipe espelhasse o significado da solidariedade mundial a um lugar em que desespero ainda reside

em cada metro quadrado. naquelas primeiras semanas de operação, eram raros os segundos em que não se ouvia o som dos motores de aviões e helicópteros. a parcela de ajuda brasileira, a bordo de aviões da fab, pousa naquele aeroporto desde o momento em que a poeira do terremoto não havia descido. os meses passaram. outras catástrofes pelo mundo. não são mais os mesmos holofotes, e os aviões continuam a descer. as tripulações brasileiras passaram a obedecer a uma rotina freqüente de voos entre porto príncipe e rio de janeiro, cidade

sd sérgio kremer / fab

sd sérgio kremer / fab

sd silva lopes / fab

fotos: sd sérgio kremer /fab

o maior significado da esperança: a nova vida em meio à tragédia

daniela veio ao mundo, no dia seguinte ao terremoto, com quase três quilos. a bebê haitiana ganhou o nome numa homenagem feita pelos pais, manuscha moras e ricardo dumont, à tenente-médica do exército que a atendeu e fez o parto na base brasileira em porto príncipe. “agradecemos muito os militares brasileiros que operaram esse milagre, que faz agora a alegria de nossa vida. foi graças a eles que elas estão vivas hoje”, disse o pai, emocionado. a família ficou na enfermaria da base por uma semana e voltou para casa que teve parte da estrutura rachada após os terremotos em porto príncipe. “acho que foi o dia mais emocionante de minha vida. nunca vivi nada parecido a isso”, afirmou a tenente daniela gil. no mesmo dia, lulu, filha de venezia antonie, havia nascido também no mesmo lugar. a bebê foi apelidada assim e deve receber esse nome em homenagem a sargento lucimar, também do exército, assim que forem para a casa de familiares. a residência onde morava foi totalmente destruída. no dia seguinte, os militares de saúde das forças armadas depararam-se com outra grande notícia. mimouse jean baptiste, de 43 anos, foi retirada viva por bombeiros do rio de janeiro dos escombros. “sem dúvida, é algo que as pessoas chamam de milagre. foi muito difícil. por isso, que devemos sempre acreditar em sobreviventes”, considerou o tenente-coronel loureiro. o detalhe que seria revelado alguns dias depois é que com o resgate dela não foi salva apenas uma pessoa. mimouse estava grávida e se emocionava mesmo antes de começar a falar. os bombeiros que a socorreram estavam anteriormente atuando para salvar pessoas dos deslizamentos em angra dos reis (rj), no início de 2010. chegaram em uma aeronave kc-137 da fab. depois da montagem do hospital de campanha da aeronáutica, outras crianças vieram ao mundo em meio ao desespero daqueles dias. no dia 22 de janeiro a pediatra da FAB, capitão marly castro, auxiliou no primeiro parto. o bebê nasceu de parto normal, com 3,5 quilos e bom estado de saúde. como forma de homenagear a pediatra a criança recebeu o nome de marly, fato que emocionou a médica. “nos toca bastante quando isso acontece ainda mais em um cenário tão difícil como esse”. a mãe, genati batiste, de 28

de onde saíam a maioria absoluta das aeronaves. cada um dos pilotos que decolava e pousava tentava resumir o estado d´alma. “é uma missão muito emocionante”, diziam uníssonos sob a música que ecoava dos quatro motores do c-130 hércules. o avião brasileiro passou a fazer parte do cenário daquele lugar. com o compartimento de carga sempre lotado de comida, remédios, colchões e tantos outros gêneros básicos, que somente são valorizados quando não se tem, começaram a ser descarregados rotineiramente para serem distribuídos pela onu e por militares brasileiros do exército e da marinha. sacolas e caixas com a bandeira do brasil combinavam com as expressões de alívio dos haitianos ao receber o material. cada pedaço desses de solidariedade tem um valor que não há como

o maior significado da esperança: a nova vida em meio à tragédia

daniela nasceu logo depois do terremoto. foi a primeira de várias crianças que emocionaram os profissionais de saúde e deram novo significado de vida para os pais

anos, chegou à unidade de saúde brasileira já com fortes dores e foi encaminhada imediatamente para o parto. apesar de todas as dificuldades, traumas e desolação “a chegada de marly trouxe uma luz nova em nossa vida” disse a mãe. depois de dois dias, mais um bebê nasceu no hospital de campanha brasileiro no haiti. desta vez, foi zacharias, com mais de três quilos e bom estado de saúde. a obstetra, tenente daniela gil, optou por uma cirurgia cesareana, já que a mãe chegou à unidade com sangramentos. mareflor henry teve alta três dias após o parto. ela já reside na casa da irmã, vânia henry, no bairro de jaquet toto, já que terremoto destruiu a casa onde viveria com o bebê. zacharias é a notícia que fez a família sorrir novamente. um mês depois, durante visita ao hcamp, o presidente da república, luiz inácio lula da silva, emocionou-se ao saber do nascimento de crislove. amor no nome e esperança de sobra.

mensurar. só se reconstrói quando se ergue. “depois de comer, posso pensar”, disse a dona-de-casa, andréa learaunt. “devemos agradecer a todo o apoio dos brasileiros por aqui. apesar de tudo, o povo haitiano respira esperança por ajuda de povos irmãos, como os brasileiros. são sempre boas notícias aquelas que vêm da pista de pouso”, disse o presidente do haiti, rené preval.

a força da solidariedade no haiti teve muito a ver com a pele fardada e com a certeza do que poderia ser feito. profissionais entraram sob escombros para tentar encontrar sobreviventes, mesmo com a possibilidade da terra tremer. profissionais não dormiram para organizar entregas de alimentos. revezaram-se em aeronaves para que fosse possível voar ao máximo e fazer com que horas transformam-se em mi-

Fotos: Sd Sérgio Kremer / FAB

na fila para receber alimentos, haitianos agradeciam com “merci” aos brasileiros

nutos. para quem passa fome, isso faz a diferença. frases como “pronto para decolar” vinham carregadas de força e emoção. obedecer a procedimentos. Na seriedade e serenidade dessa gente fardada brasileira, ninguém poderá esquecer quando paravam para lembrar, quando paravam para sentir, quando paravam para sentir saudades. mas tinha e tem tanto o que fazer, que não era possível parar por muito tempo. cada segundo de trabalho é uma homenagem às perdas e aos sobreviventes. cada vez que o c-130 com sua robustez brasileira avançava pelos 2500 metros da pista de porto príncipe, vinham lágrimas nos olhos. era o brasil que estava ali. em solidariedade. em força.

vocabulário da dor e esperança. lições de tradução

fotos:sd sérgio kremer /fab

militar da marinha segura no colo criança durante entrega de alimento em comunidade

a poeira subia. já desceu. ainda mouin pas manger por toda parte. a frase é uma dor sonora. quem chegou depois do terremoto no haiti aprendeu, a duras penas, o verbo e o pas que negativa a expressão. “eu não tenho o que comer”. dor dos homens e mulheres da solidariedade que desembarcam em todo o país, dos militares que atuam no transporte, na distribuição de alimentos, em patrulhas de segurança, em socorro de feridos. naqueles dias depois do terremoto, as aulas de creole em porto príncipe iam do amargo ao doce em questão de metros, da lágrima ao sorriso, em questão de ruas, do preto e branco ao colorido, em questão de segundos. sak vidpa kampe, conhecido ditado que para o português poderia ser traduzido como “saco vazio não fica de pé” é esboçado mais literalmente do que como uma simples forma de expressão. numa derivação mais exata: “mon grangou”, “estou com fome”. nessa aula gratuita de dor e emoção, os brasileiros também têm aprendido uma frase que entrecorta a ca-

lição 1: ajudar; lição 2: salvar; lição 3: sensibilizar.

tástrofe e a compaixão. em sorrisos, com água e comida nas mãos dizem “nous c est zami”. é fácil entender: “nós somos amigos”. os militares brasileiros chegavam sempre com alimentos e também os distribuíam em toda a capital. nas ruas, acampamentos fazem de porto príncipe uma cidade com mais de 600 mil sem “caye la”, a casa. ao encontrar brasileiros nas ruas, haitianos já acostumaram-se a chamá-los de bonbagay, “gente boa”. reconhecem a ajuda e agradecem em merci sorridente. uma boa lição de tradução está também no hospital de campanha. pessoas fraturadas pelo terremoto são submetidas a cirurgias. procuram o médico. “c est yon docté”. na unidade de saúde, inclusive, as frases em português e creole de intérpretes voluntários no hospital de campanha da aeronáutica colaboram, desde a implantação da unidade, para que pacientes possam contar sua dor e os profissionais de saúde sejam capazes de realizar os cuidados médicos. a maioria dos pacientes que procuram o hospital da fab não falam outra língua a não ser o creole. elas chegam no setor de triagem do hospital, a 200 metros da base brasileira general bacelar, em porto príncipe, no haiti. lá a equipe de enfermagem conta com um tradutor chamado alan desir, de 24 anos. ele explica que o hospital atende em diversas áreas e que é preciso pegar uma ficha. desir aprendeu a falar português por admirar o brasil. “lia livros e assistia a filmes no centro cultural. amo o brasil. me apresentei como voluntário porque sei que posso ajudar muita gente, muitos haitianos que precisam de ajuda”, diz. na emergência, sanon gens, de 24 anos, é outro apaixonado pela terra dos “craques do futebol”. quis aprender português para saber mais do futebol. “mas estou usando mesmo para ajudar meus irmãos haitianos. nunca imaginei que falar português seria tão importante. os médicos são muito carinhosos. já vi pessoas chorando. perguntei o que era e me diziam: felicidade por ser atendido”. a sargento crislaine valim, auxiliar de enfermagem, virou amiga do tradutor. “eles nos ajudam muito. que bom que podemos contar com eles”, diz. na pediatria, cadet fredlin, de 21, se comunica com as mães e as pequenas vítimas do terremoto devastador com carinho e atenção. “é uma grande alegria poder ajudar nesse trabalho que os brasileiros realizam. fico feliz em ajudar em algo”. enquanto falava, o pequeno enri lassayet, de pouco mais de um ano, que teve ferimentos na cabeça e no braço, pedia atenção. o intérprete ficou em silêncio. todos ficaram em silêncio. o sorriso da criança foi intraduzível.

tradutores faziam a ponte entre os profissionais de saúde e os pacientes

No Chile, relato sob

Aeronaves de transporte da Força Aérea levaram socorro, Hospital de Campanha da Marinha e resgataram mais de 100 brasileiros; Helicópteros apoiaram a distribuição de comida em área mais atingida pela tragédia

Por Tenente-Jornalista Humberto Leite De Concepción (Chile)

Escrevo enquanto a terra treme. As vidraças do aeroporto de Concepción fazem barulho bem ao lado do meu colchão e o sismo é tão longo que ainda me resta tempo para pensar: escada de incêndio ou passarela de embarque de aeronaves?! Se o teto começar a cair, onde terei mais chances de pelo menos contar essa história?!

Penso logo que minha família está em um piso seguro, lá no Brasil, e, tentando aliviar o medo, lembro a cada estalo do solo que há gente que perdeu muito mais. Eu só perco o sono. Todas as noites.

A tragédia que antes era apenas notícia no jornal passou a ser muito real logo na primeira tentativa de dormir. Um terremoto de 6,3 graus na escala Ritcher foi nosso toque de alvorada no primeiro dia de operações da FAB no Chile. Para entender o que isso representa, basta lembrar que a tragédia que nos trouxe para cá foi causada por um tremor de 8,8 graus (em 27 de fevereiro).

Vim para o Chile a bordo de um dos dois helicópteros H-60 Blackhawk do Esquadrão Harpia, a principal unidade de busca e resgate da região Norte do Brasil. Dividi espaço com companheiros de farda que deveriam ser tema de mil páginas da Aerovisão. São homens que parecem estar prontos para quase tudo, capazes de chamar de “tranquilo” um voo bastante peculiar e deixar muito claro e simples o significado da palavra “guerreiros”.

Eles são o que o Chile mais precisava. Se atravessar a Cordilheira dos Andes de helicóptero era a forma mais prática de trazer ajuda até aqui, com certeza a situação não seria muito simples. Depois de 24 horas de voo de translado, vimos de perto os estragos provocados pelos tsunamis desencadeados pelo terremoto. O oceano, chamado aqui de “pacífico”, fez com vilas inteiras virassem escombros, como em filmes de tragédia.

Um barco estava no quintal de uma casa. Comunidades inteiras sobrevivendo em barracas sobre colinas. Um povo que espera não por uma reconstrução, mas pelo fim do medo. Cidades de ruas vazias e histórias de sobrevivência.

Aqui, a Força Aérea Brasileira recebeu uma importante missão: transportar carga de Concepción, onde todos os dias chegam doações de várias partes do mundo, até as comunidades mais afetadas e isoladas. Mas operar em um país estrangeiro é um desafio que vai das diferenças da língua até os procedimentos do aeródromo, além do clima completamente diferente da Amazônia. Os guerreiros de selva vieram ao Chile enfrentar terremotos a 10°C.

São nessas horas que as operações conjuntas e os laços de amizade com os países amigos se mostram valiosos. Como também há um Blackhawk da Fuerza Aérea de Chile aqui, o contato das tripulações traz aprendizado. Aviadores chilenos acompanham voos brasileiros e auxiliam, por exemplo, na adaptação para voar em terreno montanhoso, completamente diferente da topografia brasileira ao qual estão acostumados.

Paro de escrever. O chão treme

Pouso em áreas devastadas. Helicóptero H60-L da FAB atuou em comunidades atingidas pelo terremoto e por tsunamis

No Chile, relato sob tremores

Fotos: Sd Silva Lopes / FAB

A FAB NO CHILE

Missões realizadas:

- Resgate de brasileiros - Transporte do Hospital de Campanha da Marinha - Distribuição de alimentos e transporte de equipes médicas/socorro

“A presença brasileira aumentou em 40% a capacidade de transporte.”

Aeronaves envolvidas

C-130 Hércules VC-2 (Embraer 190) H-60 BlackHawk

mais uma vez. Menos intenso, mas constante. Permanece como se estivéssemos todos em um grande ônibus parado no sinal. Dez segundos. Vinte. Trinta. Nós, as cadeiras, os colchões, o teto, o horizonte. Tudo balança.

O rádio fala a medição do tremor da noite. São só réplicas, explicam. Aos poucos, vamos nos acostumando àquilo que não chega a nos desequilibrar. Nunca na minha vida imaginei que iria encarar com naturalidade qualquer coisa na escala Ritcher – a graduação usada para medir a intensidade de terremotos e que, desde sua criação na década de 50, registrou apenas três tremores acima de nove (um deles, no Chile, o maior da história).

Mas, pensando bem, nunca imaginei muitas das coisas que estou vendo por esses dias. Vejo como a natureza pode ser violenta, e os homens, bons. Vejo o sofrimento que vem em uma língua que não compreendo tão bem, mas que traz uma palavra forte de agradecimento: “Gracias” (obrigado).

É o que conseguem dizer quando o helicóptero toca o solo e traz uma carga que significa esperança. Uma só palavra que resume coragem, determinação, solidariedade, humanidade. Mas não agradeça a mim, senhora, agradeça ao Brasil. Nossa bandeira estava ali para mostrar que do outro lado do continente podemos não garantir que a terra pare de tremer. Estaremos sempre prontos para ajudá-la, assim como aos brasileiros, sempre que necessário.

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