Auditoria Interna - Aula 01

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AUDITORIA INTERNA

AULA 01 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AUDITORIA NO MUNDO E NO BRASIL

AULA 01 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AUDITORIA NO MUNDO E NO BRASIL.

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QUAL A FINALIDADE DE APRESENTARMOS A ORIGEM E A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AUDITORIA? Para que possamos iniciar com propriedade os nossos estudos, é importante fazermos uma breve evolução histórica da auditoria, de modo que vocês percebam a origem e a importância desta atividade, além da familiaridade com os termos técnicos que inevitavelmente serão utilizados ao longo do desenvolvimento dos tópicos desta unidade curricular. Este primeiro contato com os termos técnicos e expressões usuais de auditoria será extremamente importante para que todos se ambientem com o estudo, uma vez que sua natureza é bastante metódica, o que exige a necessidade de conhecermos os meios pelo qual ela se processa.

Assim, faremos uma exposição da evolução da auditoria no mundo e no Brasil.

Quais fatos marcantes contribuíram para o surgimento e o desenvolvimento da auditoria no mundo? O surgimento da auditoria se deu em decorrência do desenvolvimento dos negócios, que aos longos dos anos, experimentaram mudanças consideráveis, procurando acompanhar a evolução dos tempos e crescimento tecnológico. Historicamente, afirma-se que o auditor surgiu no fim do século XIII, na Inglaterra, quando o Imperador Eduardo I, dizia que se as contas, por ele examinadas, não refletissem a realidade dos fatos, seu testemunho seria motivo para punição. No século XIX, aparece o denominado perito contador, cuja função era descobrir erros e fraudes. A partir de 1900, a profissão do auditor tomou impulso por meio do desenvolvimento do Capitalismo, obrigando as empresas a aprimorar seus produtos para competir no mercado. Com isso, muitas delas precisaram captar recursos junto a terceiros. Surge, então, à auditoria como técnica utilizada para apurar a fidedignidade das demonstrações financeiras, para que terceiros interessados neste tipo de informação encontrassem a segurança necessária na tomada de decisões de seus negócios. A necessidade de confiança pelos investidores alavancou a profissão de auditor, pois com o advento da Revolução Industrial, na Inglaterra, quando a demanda de capital e a expansão das atividades originaram problemas contábeis mais complexos, iniciouse o eixo do desenvolvimento prático da auditoria. Contudo, a real necessidade da auditoria somente se manifestou a partir da institucionalização do investidor capitalista (aquele que não participava da administração), que fez surgir a necessidade de relatórios imparciais sobre a integridade de seu investimento e dos resultados econômicos do

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empreendimento. Esta necessidade de confiança é a base da auditoria e faz sentido a partir do momento em que as pessoas que não estão na administração de uma organização têm a intenção de investir recursos naquele empreendimento. Imagine se as grandes organizações não realizassem revisões periódicas dos seus processos, a fim de detectar eventuais falhas, erros ou fraudes. A auditoria como uma técnica inicialmente contábil, e hoje desmembrada em vários segmentos, proporciona a seus usuários uma maior segurança sobre as atividades que estão sendo realizadas em uma organização. E o desenvolvimento da auditoria no Brasil, como se comportou? Não existem divulgações de pesquisas sobre os primórdios da auditoria no Brasil, sendo certo que teve origem inglesa. Autores como PEREZ JÚNIOR (1998) e ATTIE (1998) mencionam que o primeiro parecer de auditoria foi publicado em 1903. Esse parecer emitido pela Clarkson & Cross, em 9 de abril de 1903, era relativo ao exame dos livros de São Paulo Tramway, Light and Power Company, na sua matriz em Toronto, Canadá; que mencionava os recebimentos da filial de São Paulo, mas não permitiam determinar se eles mantinham escritório no Brasil ou se enviariam auditores de Toronto para aquela expressa finalidade. Afirmam os autores que, pela alteração contratual assinada em Londres, em 1911, por Sir Henry Thomas McAuliffe, Alfred Edward Maidlow e David Bell, a firma de auditoria McAuliffe Davis Bell & Co., mais tarde Arthur Andersen S/C, já mantinha um escritório no Rio de Janeiro, que tinha o objetivo de fiscalizar os demonstrativos contábeis desde 21 de outubro de 1909. Está igualmente documentado que, em 1915, a firma Price Waterhouse, tendose incorporado com a W. B. Peat & Co. e Touche, Faller & Co., na América do Sul, abriu escritório no Rio de Janeiro, transferindo Richard Wilson, então gerente em New York, para dirigi-la. Assim, os autores atribuem a origem da auditoria no Brasil à abertura de filiais e subsidiárias de firmas estrangeiras; financiamento de empresas brasileiras por meio de entidades internacionais, crescimento e diversificação das atividades econômicas das empresas brasileiras, e a evolução do mercado de capitais. De acordo com MAGALHÃES, LUNKES e MULLER (2001), a primeira empresa de auditoria a se estabelecer no Brasil foi a Mc-Auliffe Davis Bell & Co, em 1909, que depois passou a se denominar Arthur Andersen S/C. O documento que oficializou o estabelecimento da Mc-Auliffe, no Brasil, foi uma alteração de contrato, assinada em Londres, em 1911, por Henry Thomas Mc-Auliffe, Alfred Edward Maidlow e David Bell, este último na condição de sócio-residente no Brasil. A segunda empresa de auditoria foi a Price Waterhouse, incorporando a W.B. Peat & Co. e a Touche, Faller & Co. Richard

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Wilson, seu então gerente em New York, foi designado para dirigir os serviços no Rio de Janeiro. Apesar da profissão de auditor estar organizada, somente em 26 de março de 1957, quando da instalação do Instituto dos Contadores Públicos do Brasil, em São Paulo, é que obteve um conjunto de normais aplicáveis à atividade. No entanto, somente em 1968 passou a ser reconhecida pelo sistema financeiro nacional, por meio de ato do Banco Central do Brasil (Resolução nº. 88, de 30/01/68). Em 1972, paralelo às regulamentações do Banco Central do Brasil, vieram as regulamentações do Conselho Federal de Contabilidade e a formação de um órgão nacional para congregar os auditores – o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Resolução nº. 220, de 10/05/72, e circulares 178 e 179 de 11/05/72, do Banco Central do Brasil, e Resoluções CFC nº. 317 e 321/72, de 14/01/72 e 14/04/72). Essas regulamentações criaram o cadastro especial de auditores independentes nos Conselhos Regionais e aprovaram as normas e procedimentos de auditoria elaborados pelo Instituto dos Auditores Independentes do Brasil. Em 1976, com o surgimento da Lei das Sociedades por Ações (Lei nº. 6.404) e com a lei que criou a CVM (Lei nº. 6.385), é que se deu um passo firme para a consolidação da auditoria no Brasil. Após este breve histórico vocês devem estar se perguntado: o que me levaria a contratar a atividade de auditoria?

Ainda não estou convencido da importância desta atividade!

Caso vocês dispusessem de recursos para aplicar em uma organização, porém não estivessem na administração do dia-a-dia dos negócios, sentiriam-se seguros em aplicar dinheiro nesta empresa? Possivelmente, a resposta de vocês estaria centrada em “segurança mínima”, que é a condição que cada pessoa gostaria de ter quando de uma aplicação. Pois a auditoria transmite esta segurança para o investidor, considerando que esta desempenha uma função de revisora das atividades executadas pela administração. OUTRO EXEMPLO

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Imagine que vocês irão assumir a administração de um condomínio na função

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de síndico. Vocês não gostariam de ter a certeza de que as contas que estão sendo “passadas” a vocês são reais e isentas de erros ou fraudes? E inúmeras outras situações podem fazer com que a opinião de um especialista, no caso o auditor, proporcione uma maior segurança para um gestor.

Conforme MAGALHÃES, a seqüência básica de fatos que marcaram o desenvolvimento da auditoria no mundo foram: a)

Origens da auditoria:

• Aparecimento de grandes empresas; • Necessidade de credibilidade nos registros contábeis; • Tributação do imposto de renda na Inglaterra; • Empresas formadas pelo capital de muitas pessoas; • Grandes companhias inglesas de comércio e navegação. b)

Da evolução:

• Primeiramente, em conta públicas, na Inglaterra (1314); • A prática, sistematizada ocorreu nos séculos XIX e XX. c)

Da organização da profissão:

• Surgimento de guias profissionais nos Estados Unidos; • Surgimento das associações de classes na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Holanda. d)

Do desenvolvimento no Brasil:

• Instalação de filiais e subsidiárias de companhias estrangeiras; • Financiamento de empresas brasileiras por meio de entidades internacionais; • Crescimento das empresas brasileiras; • Normas de auditoria emanadas pelo Banco Central do Brasil;

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• Surgimento de entidades de classes.

CONCEITOS, OBJETIVOS E FUNDAMENTOS DA AUDITORIA Para o estudo de uma função extremamente técnica, que é a auditoria, faz-se necessário a conceituação desta atividade, os objetivos, bem como os fundamentos que a cercam. CONCEITO DE AUDITORIA Diversos autores, nas mais variadas publicações, despendem esforços em conceituar a auditoria, sendo que selecionamos alguns conceitos para embasar as nossas discussões. Crepaldi (2004, p.23) define que “auditoria consiste no levantamento, estudo e avaliação sistemática das transações, procedimentos, operações, rotinas e das demonstrações financeiras de uma entidade”. Para Franco e Marra (2009, p.32), “a auditoria compreende o exame de documentos, livros e registros, inspeções e obtenção de informações e confirmações, internas e externas, relacionados com o controle do patrimônio, objetivando mensurar a exatidão desses registros e das demonstrações contábeis deles decorrentes”. Segundo Sá (2002, p. 24), “a auditoria é o exame de demonstrações e registros administrativos. O auditor observa a exatidão, integridade e autenticidade de tais demonstrações, registros e documentos. ” Lopes de Sá comenta que “a auditoria é uma tecnologia contábil aplicada ao sistemático exame dos registros, demonstrações e de quaisquer informes ou elementos de consideração contábil, visando apresentar opiniões, conclusões, críticas e orientações sobre situações ou fenômenos patrimoniais da riqueza aziendal, pública ou privada, quer ocorridos, quer por ocorrer ou prospectados e diagnosticados” (SÁ, 2002, p.25). Vocês podem observar, lendo atentamente a cada uma das definições, que implicitamente aos conceitos, a auditoria consiste em controlar áreas chaves nas empresas, a fim de evitar situações que propiciem fraudes e desfalques por meio de testes regulares nos controles internos específicos de cada organização. Destes conceitos, conclui-se que a auditoria se posiciona como uma técnica contábil que utiliza procedimentos específicos e peculiares, os quais aplicados no exame de registros, documentos e inspeções através da obtenção de informações e confirmações, estabelecem condições para o controle de patrimônio de uma entidade. Estas condições se efetivam por dados confrontados nos princípios fundamentais e normas de contabilidade,

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que refletem se as demonstrações contábeis estão adequadas à situação econômicofinanceira do patrimônio. Estes exames são efetuados de acordo com princípios e normas de auditoria usualmente aceitas, incluindo procedimentos que os auditores julgarem necessários, de acordo com a circunstância e com a finalidade de obter elementos de convicção para comprovar se os registros contábeis foram executados conforme com os princípios fundamentais e normas de contabilidade. E se as demonstrações contábeis refletem a situação econômico-financeira do patrimônio, os resultados do período administrativo examinado e outras situações nelas demonstradas. Tais princípios, normas e procedimentos de auditoria serão estudos no tópico seguinte. OBJETIVOS E FUNDAMENTOS DA AUDITORIA Como objetivo principal, a auditoria sempre será contratada por uma pessoa, ou grupo de pessoas, para o exame e a verificação de documentos e registros contábeis e administrativos, de forma que o auditor após essa análise possa emitir uma opinião sobre a validade desses documentos e registros, que serão de utilidade para tomada de decisões nas organizações. Portanto, a auditoria está fundamentada em “confiança” de quem contratou os serviços do auditor, para que ele através da sua especialização, relate a forma com que foram conduzidos os trabalhos executados e quais foram as suas conclusões. A contratação do trabalho de um especialista, que é o auditor, tem por finalidade atender a distintos públicos, porém podem ser classificados entre usuários externos e usuários internos. As finalidades básicas de cada tipo de usuário podem ser classificadas em: a)

Quanto ao usuário externo:

• Interesse dos acionistas; • Interesse dos financiadores; • Interesse do Estado; • Compra e fusões de empresas b)

Quanto ao usuário interno:

• Interesse dos acionistas;

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• Interesse a estratégias de investimentos relevantes em projetos; • Investigação de fraudes; • Revisão de processos.

Se a auditoria tem finalidades tão abrangentes, porque no Brasil é pouco divulgada?

De acordo com Crepaldi (2002), é notório no Brasil ouvirmos que o Governo autorizou a realização de auditoria em determinados Ministérios, cujas irregularidades são marcantes, mas em poucas situações se tem retorno destes trabalhos. Nas empresas multinacionais e nas grandes empresas, é justamente o contrário, pouco se divulgam os resultados de uma auditoria, pois seu objetivo é corrigir possíveis falhas nos controles, aplicação da lei, em que os envolvidos e os interessados possam, a cada dia, confirmar na filosofia da empresa. Nos países em que a importância da auditoria é reconhecida, há muitos anos existem comissões permanentes especialmente criadas para emitir normas de auditoria, à medida que novas circunstâncias assim exigem. A filosofia da auditoria consiste em avaliar a política de sistemas da empresa, em termos da adequação, comunicação, aceitação aplicação e controle, se é necessária na situação, se contribui para atingir os objetivos da empresa, se permite assegurar a correta utilização dos recursos da empresa, tanto de natureza financeira como fonte de informação para terceiros. A base fundamental da auditoria está ligada diretamente à contabilidade, que embora exerça o principal papel da empresa, no sentido de registrar e informar os reflexos das transações nos aspectos, econômico-financeiros, muitas vezes é manipulada, por interesses estranhos ao objetivo maior da empresa, visando as vantagens ilícitas ou aproveitamento particular com empréstimos, aprovações e operações com vantagens próprias.

Todas as vezes que uma organização, ou uma área na organização, necessita da opinião de uma pessoa alheia ao processo, mas que tenha profundo conhecimento técnico de como este se desenvolve, poderia utilizar-se dos serviços de auditores. Este seria contratado para revisar e opinar sobre os controles internos e processos utilizados pela organização, contribuindo, assim, para a melhoria continua da organização.

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Inicialmente, a auditoria se limitou à verificação dos registros contábeis, visando

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observar se eles eram exatos. A forma primária, portanto, confrontava a escrita com as provas do fato e as correspondentes relações de registro. A tendência moderna representa uma evolução relativa que, primitivamente, se atribuía à auditoria e que se limitava ao campo de simples verificação. Hoje, o conceito é dinâmico e prossegue em evolução, atribuindo-se à auditoria outras importantes funções, abrangendo todo o organismo das empresas e da sua administração. A finalidade primordial da auditoria é a confirmação da eficiência dos controles e fator de maior tranqüilidade para a administração e garantia para os investidores. A auditoria tem também a função inibidora de delitos internos, considerando que as pessoas ao saberem que existe uma verificação dos processos por auditores, sentemse inibidas de praticar um delito. Dentre as várias vantagens da contratação de auditoria, destacam-se: • Fiscaliza a eficiência dos controles internos; • Dificulta desvios de bens patrimoniais e pagamentos indevidos; • Possibilita a apuração da omissão de registros; • Contribui para a obtenção de informações com maior qualidade; • Aponta falha na organização e sugere medidas corretivas.

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A AUDITORIA INTERNA E A EXTERNA Quando uma pessoa tem a intenção de se utilizar de trabalhos de auditoria, normalmente surge a dúvida se é melhor ter auditoria interna, ou contratar auditores externos. AUDITORIA EXTERNA Normalmente, os trabalhos executados por auditores externos, que são pessoas alheias à empresa, não fazendo parte da folha de pagamento, têm por objetivo principal a emissão de parecer sobre as Demonstrações Contábeis (Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício, Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos e Notas Explicativas), opinando se estas estão de acordo com práticas contábeis.

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Esta atividade é executada mediante contrato de prestação de serviços, e os testes de auditoria se espalham por onde haja necessidade de levantar questões que auxiliam na conclusão dos trabalhos. No Brasil, atualmente, todas as empresas constituídas sobre a forma de sociedades anônimas, além daquelas reguladas por controles de fiscalização da CVM – Comissão de Valores Mobiliários, BACEN – Banco Central do Brasil e SUSEP – Superintendência de Seguros Privados, devem ser auditadas por auditores externos, também conhecidos por auditores independentes. AUDITORIA INTERNA A auditoria interna foi concebida em virtude de a auditoria externa ter por objetivo unicamente a emissão de um parecer acerca da fidedignidade das demonstrações contábeis da empresa. A tarefa de análise detalhada de políticas e procedimento interno coube a auditoria interna. A auditoria interna é uma atividade de avaliação independente dentro de uma organização para revisar as operações contábeis, financeiras e outras, dentro de uma finalidade de prestar serviço à administração. É um controle administrativo cuja função é medir e avaliar a eficiência dos outros controles. A função moderna da auditoria interna é fazer aquilo que a direção da empresa gostaria de fazer, se tivesse tempo para tanto e soubesse fazê-la. Segundo o Instituto de Auditores Internos1, a auditoria interna é uma atividade de avaliação independente e de assessoramento da administração voltada para o exame e avaliação da adequação, eficiência dos sistemas de controle, bem como da qualidade do desempenho das áreas em relação às atribuições e os planos, metas, objetivos e políticas definidos para as mesmas. A auditoria deve se assegurar de que os auditores internos possuam competência técnica e grau de instrução compatíveis com as tarefas que executarão, é de responsabilidade do Gerente de Auditoria estabelecer padrões e critérios de recrutamento e seleção, levando-se em conta: conhecimento, experiência, capacitação previa do candidato, perfil comportamental, e sempre que possível deve ser examinada a vida pregressa do candidato. O CFC, através de Resolução2, cita – “o contador, na função de auditor interno deve manter o seu nível de competência profissional atualizado das NBC, das Técnicas contábeis, especialmente na área de auditoria contábil, a legislação inerente à profissão, dos conceitos e da legislação da entidade”. A auditoria interna deve elaborar um plano anual de treinamento, baseado nas avaliações periódicas, no plano de carreiras e no rodízio de trabalho dentro do órgão. Independente do plano de treinamento preparado pela área de auditoria, os auditores 1 2

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http://www.iiabrasil.org.br/new/ http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/p1.htm

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devem ter uma atitude de contínuo aperfeiçoamento e ampliação de seus conhecimentos.

Os atuais objetivos da Auditoria Interna, na sua essência estão direcionados para:

a) Examinar a integridade e fidedignidade das informações financeiras e operacionais e comunicar essas informações; b) Examinar sistemas estabelecidos, visando certificar a observância das políticas, planos, leis que possam impactar sobre as operações e verificar se a organização caminha em conformidade as diretrizes traçadas; c) Examinar os meios usados para proteção de ativos da companhia, e quando necessário, verificar sua existência física; d) Certificar-se de que os recursos da companhia são utilizados de forma eficiente e econômica; e) Examinar operações e programas e certificar-se de que os resultados são compatíveis com os planos, e se estas operações, planos e programas foram executados em consonância com os planejados, f) Comunicar o resultado do trabalho de auditoria e certificar que foram tomadas as providências necessárias a respeito de suas descobertas. A finalidade da revisão do controle interno por parte do trabalho do auditor, é a de determinar sua qualidade, adequação e desempenho, a forma de como é monitorado pela alta administração e sua economicidade em relação aos custos dos controles e atividades controladas e, finalmente, formar uma base para determinar a extensão de seus próprios testes, natureza e oportunidades de sua realização. Os auditores internos devem examinar os meios usados para proteger o ativo contra diversos tipos de danos, como os que decorrem de roubo, incêndio, atividade ilícita e exposição dos bens às intempéries. Ao verificarem a existência do ativo, devem empregar procedimentos adequados para esse fim. A importância da auditoria interna reside na articulação de movimentos que sua implantação redunda, ou seja, em seus efeitos e impactos, não é sua função exclusiva apontar falhas e informar ao alto escalão, esta visão simplista dos serviços de auditoria é o maior óbice impeditivo à conquista da eficácia. Sinalizar falhas são importantes na medida em que alertam para a necessidade de mudança. Entretanto, a análise das mesmas falhas e o encaminhamento de soluções são os fatores que realmente dão utilidade a ação de buscar a informação. Auditor interno não é um policial, mas um profissional que pretende responder as expectativas da Administração sobre os maiores riscos da empresa, observando, aconselhando e esclarecendo os responsáveis envolvidos, persuadindo-os a implantar as ações corretivas necessárias. Além disso, é uma função de apoio a gestão baseada num processo sistemático, utilizando técnicas de Auditoria apropriadas.

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A auditoria interna é uma atividade profissional e seu propósito é fazer julgamento. Logo, ela necessita do maior grau de imparcialidade, integridade e objetividade os quais se atrofiam na ausência de independência prática. Devido às limitações inerentes à auditoria, existe risco inevitável de que distorções relevantes, resultantes de fraude e em menor grau de erro possam deixar de serem detectadas. Embora a existência de sistema contábil e de controle interno eficaz reduza a probabilidade de distorção, sempre irá existir algum risco de controles internos não funcionarem como o planejado. Além disso, qualquer sistema contábil pode ser ineficaz contra fraude que envolva conluio entre empregados ou cometidas pela administração. Certos níveis de administração podem estar em condição de burlar controles que previnam fraudes cometidas por outros empregados.

Seria necessária a contratação dos serviços de um auditor externo, se a empresa necessitasse da opinião deste sobre as demonstrações financeiras. Esta contratação é obrigatória se a empresa é uma sociedade anônima de capital aberto e possuí ações negociadas em bolsas de valores. Estes profissionais não teriam qualquer vínculo de emprego com a organização, sendo contratados esporadicamente. No caso da necessidade de revisão dos controles internos e avaliação contínua da eficiência e eficácia dos processos o mais recomendável é a utilização dos serviços de auditores internos, que seriam contratados para este fim, e passariam a fazer parte do quadro de funcionários da organização.

As principais diferenças entre o auditor interno e o externo são: INTERNO

EXTERNO

Não tem vínculo empregatício com a empresa auditada; Menor grau de independência; Maior grau de independência; Executa auditoria contábil e operacional; Executa auditoria contábil; Menor volume de testes, já que o auditor Normalmente aplica maior volume de tesexterno está interessado em erros que tes devido ao fato de estar mais presente individualmente ou cumulativamente posna organização; sam alterar as informações das demonstrações contábeis; Tem por objetivo principal a busca da Tem por objetivo principal a emissão de eficácia nos processos internos, através da parecer ou opinião sobre as demonstrarevisão contínua das atividades das áreas ções contábeis. operacionais da empresa. É empregado da empresa auditada;

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AUDITORIA INTERNA: QUAL A SUA POSTURA

EM UM AMBIENTE GLOBALIZADO E

COMPETITIVO?

Por: Prof. MSc Cláudio Marcelo Rodrigues Cordeiro³ Muito se tem falado sobre o atual momento pelo qual passa a função do Auditor Interno nas organizações no Brasil. É questionada a sua real necessidade nas empresas, como uma atividade que realmente “agregue valor” ao negócio, consequentemente trazendo rentabilidade e segurança sobre as operações aos acionistas. É prudente destacar a falsa interpretação do termo “agregar valor”, pois muitos empresários têm em mente que a palavra “valor” está intrinsecamente ligada ao termo “financeiro”, o que não é adequado, considerando que para entendermos o seu real significado devemos extrapolar o “senso comum”. Agregar valor é um somatório de interesses internos e externos, que possibilitam um ganho, não necessariamente o monetário, que se bem aplicados corroboram para a gestão da empresa como um todo. Todas as vezes que estamos realizando auditorias preventivas, buscando corrigir eventuais distorções, propondo novos processos, melhorando a performance interna, o resultado poderá levar a um valor agregado, pois se não houvesse o monitoramento da auditoria interna sobre as transações, não-conformidades dos processos, poderiam levar a empresa a distorções operacionais significativas. Outro ponto fundamental para a boa gestão dos trabalhos de auditoria interna é a desmistificação entre os funcionários das empresas em que existe uma divisão de auditoria interna. Sobre a atuação e participação do Auditor, é preciso ficar transparente que este profissional está ali para auxiliá-lo a desempenhar as suas tarefas dentro da filosofia da organização e não como um dificultador que está presente apenas para apontar erros, uma vez que ambos são parceiros em busca de um resultado comum. Dentro deste aspecto, o perfil atual do Auditor Interno, e mesmo externo, não pode ser o mesmo de há dez ou vinte anos, em que era visto como uma pessoa metódica, desagradável, distanciada dos problemas futuros, apenas vivendo de trabalhos em cima de dados passados. Atualmente, também o perfil do empresário que dispõe de um quadro de Auditores Internos deve ser outro, possibilitando a este profissional uma plena autonomia, apesar de ser um funcionário da organização com vínculo empregatício, confiando-lhe informações em primeira mão, não sendo necessário “apurar” determinados fatos após a sua ocorrência. Se a postura da empresa for tradicional, não antecipando certas informações ao Auditor Interno, cabe a ele a transformação deste quadro, mostrando a sua disponibilidade em discutir as consequências futuras que determinada atitude pode vir a trazer à organização. Um dos fatores que contribui para que o processo de transformação seja moroso é que não existem grandes debates que contribuam significativamente no sentido de adequar o perfil necessário do Auditor Interno para o que o mercado competitivo e globalizado necessita. O caso é que vem sendo exigida uma série de conhe-

cimentos diversificados para o bom desempenho deste profissional. O profissional ligado a esta área, além de conhecer profundamente sobre contabilidade, deve estar voltado para outras áreas, tendo um adequado domínio de técnicas de administração, qualidade total, marketing, organizações e métodos, planejamento estratégico, informática, relações humanas, fluência verbal e escrita, dentre outras. Além dos conhecimentos acima destacados, o Auditor deve ser um componente ativo da engrenagem de gestão interna, fazendo com que suas observações coletadas nos trabalhos de campo, sejam úteis, e porque não dizer essenciais, na busca de um adequado gerenciamento de recursos. A vasta abrangência de atuação que a auditoria interna propicia, deve levar o profissional desta área a ter uma visão sistêmica dos vários segmentos da organização, de modo que suas contribuições sejam oportunas na correção de eventuais problemas internos, como na tomada de decisões estratégicas por parte da alta administração. A sua opinião e visão crítica dos processos deve estar alicerçada em evidências que propiciem aos administradores a correta valoração das técnicas empregadas na gestão do negócio, em que a aceitação de mudanças de rumos por parte da administração poderá depender da forma de expressão oral e escrita do trabalho desenvolvido pelo Auditor. A auditoria interna deve estar voltada para o moderno conceito de “auditoria integral”, em que cada vez mais se deve conhecer profundamente o objeto principal da organização para a qual trabalha, sem perder a visão dos concorrentes, atuando como um consultor de negócios. Dentro desta filosofia, o Auditor Interno deve desempenhar sua atividade com visão holística e proativa, se antecipando aos fatos, de modo que a sua opinião seja de fundamental importância nos rumos das organizações. A “auditoria integral” pressupõe um envolvimento total do Auditor com o objeto auditado, propiciando um aprofundamento nas metodologias internas de gestão e não somente a preocupação do cumprimento adequado por parte dos funcionários da empresa, das rotinas e procedimentos internos da organização. Ao mesmo passo, o Auditor Interno deverá estar atento à novas tendências no mercado em que sua empresa atua, procurando participar de forma significativa no desenvolvimento de estratégias de atuação em um ambiente competitivo, com atitudes “visionárias”, buscando novos resultados para a organização. O que deve ficar cristalino para os Auditores Internos é que a sua participação na gestão operacional das organizações deve ir muito além de uma “fiscalização” sobre os processos, atuando em sintonia com o que o mercado solicita, com metas e estratégias bem definidas, que é fundamental para a sobrevivência empresarial. Diante de tudo o que foi resumidamente apresentado, acredito de forma convicta na importância da auditoria interna nas organizações, adequada a sua postura, uma nova realidade em um ambiente globalizado, contribuindo de forma significativa para a gestão eficaz dos negócios.

3 Auditor e professor de auditoria, perícia contábil nas Faculdades Santa Cruz/Inove, no curso de graduação e de pós-graduação. Professor de graduação de Contabilidade Internacional do UnicenP – Centro Universitário Positivo. Mestre em Administração e Gestão Financeira pela Universidade de Extremadura da Espanha e-mail: claudiom@santacruz.br

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CONCLUSÃO: Embora haja o questionamento da função do auditor interno nas organizações, a sua atividade é muito importante na gestão eficaz dos recursos, tanto financeiros, como humanos e materiais. Sua postura nas organizações deve ser de um “agente visionário”, com atitudes e idéias voltadas a alavancar resultados, e não somente exercer atividades de controles internos. O profissional desta área deve estar permanentemente atualizado, através de estudos contínuos, adequando-se e adaptando-se às novas exigências do mercado em um mundo cada vez mais globalizado e competitivo.

Com base no texto acima, identifique qual deve ser o perfil moderno do auditor interno nas organizações, relacionando quais são os atributos básicos para que uma pessoa possa exercer tal atividade em uma entidade.

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ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Auditoria: Um curso moderno e completo. 5ª edição. São Paulo: Atlas, 1996. ATTIE, Willian. Auditoria interna. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 1986. ATTIE, Willian. Auditoria conceitos aplicações. São Paulo: Atlas, 1995. CONSELHO FEDERAL CONTABILIDADE. Auditoria Interna CORDEIRO, Cláudio Marcelo Rodrigues. “Auditoria Interna: Qual é a sua postura em um ambiente globalizado e competitivo?”. Artigo técnico publicado na Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná - nº 122 - página 17. Curitiba: 1998 CREPALDI, Silvio Aparecido. Auditoria Contábil Teoria e Prática. 1999. FRANCO, Hilário e MARRA, Ernesto. Auditoria Contábil, 4ª Edição. São Paulo: Atlas, 2001. MAGALHÃES, Antônio de Deus, et all. Auditoria das Organizações, 1ª edição. São Paulo: Atlas, 2001 SÁ, Antônio Lopes de. Curso de auditoria. 10ª edição. São Paulo: Atlas, 2002.

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