Revista PRANTO DA TERRA #ZERO

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Ano I - Nº 0 - Outono de 2003 E.C.-Território Tamoio - RJ

A TEIA DA VIDA

ECOLOGIA PROFUNDA

"A mais importante característica de um organismo é a sua auto-renovação interna conhecida como saúde." (p.194)

A Ecologia Profunda foi proposta pelo filósofo norueguês Arne Naess em 1973 como uma resposta a visão dominante sobre o uso dos recursos naturais. Arne Naes se inclui na tradição de pensamento ecológicofilosófico de Henry Thoreau, proposto em Walden, e de Aldo Leopold, na sua Ética da Terra. Denominou de Ecologia Profunda por demonstrar claramente a sua distinção frente ao paradigma dominante. no Brasil, nesta mesma época, o Prof. José Lutzemberger já propunha idéias semelhantes e desencadeava o movimento ecológico brasileiro com a criação da AGAPAN (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural).

"Ética é a diferenciação da conduta social da anti-social para o bem comum.” (p.238)

PRANTO da Terra

"As obrigações não tem sentido sem consciência, e o problema que nos defrontamos é a extensão da consciência social das pessoas para com a terra.” (p.246) "A ética da terra simplesmente amplia as fronteiras da comunidade para incluir o solo, a água, as plantas e os animais, ou coletivamente: a terra. Isto parece simples: nós já não cantamos nosso amor e nossa obrigação para com a terra da liberdade e lar dos corajosos? Sim, mas quem e o que propriamente amamos? Certamente não o solo, o qual nós mandamos desordenadamente rio abaixo. Certamente não as águas, que assumimos que não tem função exceto para fazer funcionar turbinas, flutuar barcaças e limpar os esgotos. Certamente não as plantas, as quais exterminamos, comunidades inteiras, num piscar de olhos. Certamente não os animais, dos quais já extirpamos muitas das mais bonitas e maiores espécies. A ética da terra não pode, é claro, prevenir a alteração, o manejo e o uso destes 'recursos', mas afirma os seus direitos de continuarem existindo e, pelo menos em reservas, de permanecerem em seu estado natural.” (p.204) – Fragmentos do livro A Teia da Vida, de Aldo Leopold, biólogo norte-americano do séc. XIX inspirador da Deep Ecology/ Ecologia Profunda .

Editorial

“A terra não pertence ao homem; é o homem que pertence à terra”

Esta publicação é produzida pelo Coven Chuva Vernal, de São Gonçalo, RJ, e se destina a apresentar questões sobre a Arte da Antiga Religião para conhecedores e leigos na Wicca, além de chamar a atenção para as atuais condições da nossa Mãe Terra. Nosso objetivo é aproximar os praticantes pagãos (mesmo que sob forma de contato) de todas as vertentes, pensamentos e religiões, respeitando as diferenças e a vida!

Cacique Seattle Feliz encontro, feliz partida!

O quadro abaixo demonstra, pelo menos em parte, as propostas de Arne Naess e as suas diferenças frente à visão de mundo predominante.

. Visão de Mundo Ocidental

Ecologia Profunda

Domínio da Natureza

Harmonia com a Natureza

Ambiente natural como recurso para os seres Seres humanos são superiores aos demais seres vivos Crescimento econômico e material como base para o crescimento humano Crença em amplas

Toda a Natureza tem valor intrínseco Igualdade entre as diferentes espécies Objetivos materiais a serviço de objetivos maiores de auto-realização Planeta tem

reservas de recursos

recursos limitados

Progresso e soluções

Tecnologia apropriada e

baseados em alta

ciência não dominante

Consumismo

Fazendo com o necessário e reciclando

Comunidade nacional centralizada

Biorregiões e reconhecimento de tradições das minorias

NAESS, A. The Shallow And The Deep, long-range ecology movements: a summary. Inquiry 1973; 16:95: 100.


EM DIREÇÃO A UMA NOVA ESPIRITUALIDADE: UM MANIFESTO PARA A MÃE TERRA O novo conhecimento sobre nosso passado, que agora está sendo recuperado, assinala uma saída para nossa alienação com relação às outras pessoas e à natureza. Em uma sociedade dominadora, mesmo o que freqüentemente é considerado como sendo espiritualidade “superior” é mesquinho e distorcido, já que o que este sistema requer é que a espiritualidade seja equiparada a uma imparcialidade que, muitas vezes, fecha os olhos e encoraja a indiferença com relação ao sofrimento humano evitável– como em muitas religiões orientais. Ou então conduz ao dualismo ocidental que muitas vezes, em nome da espiritualidade, justifica a dominação da cultura sobre a natureza, do homem sobre a mulher, da tecnologia sobre a vida e dos altos sacerdotes e outros pretensos líderes espirituais sobre as mulheres e homens “comuns”. Hoje, há muita conversa sobre uma nova espiritualidade, sobre uma evolução da consciência elevada, não apenas como um passaporte para uma vida melhor após a morte, mas como um pré - requisito para sustentar e intensificar a vida nesta Terra. Nossa religião com tradições milenares de respeito e reverência à nossa Mãe Terra – tradições nas quais nem a natureza nem a mulher eram vistas como objetos a serem explorados e dominados pelos homens – pode ser o componente-chave desta consciência mais evoluída. A nossa é uma época em que o poder letal da espada tem sido multiplicado milhões de vezes pelas bombas nucleares; em que até mesmo os nossos rios, nossos oceanos e o ar que respiramos nos avisam que o ecossistema, a nossa Grande Mãe Terra, não irá tolerar mais uma espécie que tem se voltado tão desprezivelmente contra si própria e contra toda a vida. É uma época de transformação social e tecnológica sem precedentes, na qual uma mudança de paradigma fundamental não só é possível como necessária, se quisermos evitar um holocausto nuclear e/ou ecológico. Suspensos à beira da ecocatástrofe, ganhamos coragem para olhar o mundo de outra maneira, para reverter os costumes, para transcender nossas limitações, para nos libertarmos das restrições convencionais, das visões convencionais sobre o que é conhecimento e verdade Se olharmos apenas uma parte de um quadro, vemos apenas parte da sua história. E, se contamos apenas parte de uma história, encobrimos e distorcemos a verdade. Se, do contrário, olhamos o quadro como um todo–o surgimento da humanidade neste lindo planeta; a associação sinergética da nossa espécie com a natureza; toda a extensão da cultura, da tecnologia e da espiritualidade humanas–, ganhamos não somente uma nova visão do nosso passado, como também percebemos novas possibilidades para o nosso futuro.

Percebemos que, ao invés da destruição, a ânsia humana pela criação, tanto tempo suprimida e distorcida, está novamente em ascensão, quando mulheres e homens em todas as partes do mundo estão recuperando a nossa consciência mais antiga – a consciência da unidade uns com os outros e com a Mãe Terra. Percebemos que os movimentos sociais mais importantes da nossa época – os movimentos feministas, ecológicos e pela paz e todos os movimentos modernos pela justiça social e econômica– estão profundamente enraizados em tradições muito antigas. Vemos também, que a sociedade mais pacífica e justa que estamos tentando construir agora não é um sonho impossível, e sim uma possibilidade realista, enraizada na direção original da nossa evolução cultural. Enquanto ainda há tempo, vamos cumprir nossa promessa. Vamos cumprir nossa responsabilidade conosco e com nossa Grande Mãe, este maravilhoso planeta Terra. Por nós mesmos e por amor aos nossos filhos e netos, vamos deixar de lado o que nós temos aprendido de modo errado durante os séculos terríveis em que fomos governados pela espada. Vamos ensinar aos nossos filhos e filhas que a conquista da natureza, das mulheres se de outros homens não é uma virtude heróica; que temos o conhecimento e a capacidade para sobreviver; que não precisamos seguir cegamente nosso caminho anterior, manchado de sangue, até a morte planetária. Vamos reafirmar nosso antigo compromisso, nossa ligação sagrada com a Mãe Terra, a Deusa da Natureza e da Espiritualidade. Vamos, mais uma vez, honrar o poder ”feminino” de criar e enaltecer a vida– e compreender que este poder não é só da mulher, mas também do homem. Precisamos recuperar tudo aquilo por que tanto ansiamos– a sensação perdida de assombro, o sentimento de conexão, o alegre encantamento diante da beleza e do mistério da vida em nossa Terra. Vamos devolver aos nossos corações e mentes o poder que é nosso e permitir que nossa evolução cultural retome o curso interrompido. Vamos nos religar às nossas raízes espirituais mais profundas de modo que possamos usar a tecnologia moderna não para destruir, explorar e oprimir, mas para liberar nossas capacidades humanas únicas de amar, criar, e viver novamente em associação, em vez de dominação, com nosso miraculoso planeta, a nossa Mãe Terra. -- Riane Eisler ln Todos os Nomes da Deusa, Editora Rosa dos Tempos WICCA PARA TODOS! Diferente do cristianismo, que tem sua doutrina e história praticamente toda resumida em um livro (a bíblia), a Wicca tem muitas origens, muitos autores e acima de tudo muitas versões. Esse histórico eclético tem suas vantagens e desvantagens, muito bem definidas, por aqueles que se dedicaram a prática e ao estudo da antiga religião, por isso devemos deixar essas diferenciações bem claras!

A origem do culto ao feminino, possivelmente, teve sua origem no Paleolítico, quando o fato das mulheres reproduzirem era praticamente um ato divino,pois não se conhecia a participação do homem no ato da reprodução, o que se esclarece o fato das mulheres desenvolverem a agricultura (devido à sua fertilidade natural) e cuidar das tarefas ligadas a “logística” e organização das tribos coletoras e caçadoras onde o homem realiza o papel de caçador, guerreiro, protetor, além de uma liderança (não da forma machista que conhecemos, afinal, o Deus é uma gargalhada na floresta). Quando o descobriu sua participação no ato do “nascimento”, as divindades passaram a se reconhecer enquanto “dúbias” (masculino e feminino, dependendo da cultura, apresentadas juntas ou separadas), esse foi o primeiro passo para que se futuramente fosse observado uma ascensão masculina devido à importância da guerra nessas sociedades, por isso esse Deus homem! Muitos pesquisadores defendem que a idéia de uma Deusa sempre persistiu, mesmo que às escuras e subjugada por uma figura masculina. Na cultura celta as mulheres uma grande importância e um grande valor (muitos defendem que a Wicca de uma pratica religiosa celta) tanto organizativo quanto religioso. Podemos também citar que antiga religião, também foi amplamente praticada, pelo campesinato europeu, herdeiros de uma mescla cultura entre hábitos cristãos e pagãos, ao contrário da Igreja da Idade Média, o camponês estava satisfeito com o “Pai céu” e a “Mãe terra”. A Europa e os EUA foram o berço do que hoje conhecemos como Wicca, e mesmo bebendo de um passado extremamente rico, nós wiccanos somos muito diferentes, tanto na prática quanto no comportamento, além do espaço totalmente "urbanóide" e neurótico que ocupamos. E para piorar a situação, estamos no Brasil, uma cultura bélica cristã, com as estações do ano pouco definidas (onde esta o inverno carioca!) e onde certos elementos rituais tipicamente europeus não são facilmente encontrados ou são caros demais. O estouro esotérico da década de 90 foi na ótima propaganda, mas uma péssima influência, pois a maioria dos praticantes da antiga religião está na classe média; diferente do campesinato que jogava leite e mel para agradecer a Deusa e depois trabalhava arduamente em seu ventre para retirar seu sustento, hoje nossos praticantes compram em lojas esotéricas, cajados, varinhas, incensos, óleos, etc. gastando uma fortuna em “quinquilharias”! A deusa é a mãe terra, nossos índios já entendiam isso há muitos anos, cada cultura festeja a sua maneira, pois a mãe é uma só, nunca poderemos esquecer a contribuição européia e americana quanto à história e as produções filosóficas sobre nossa religião, mas a Wicca no Brasil “tem que ser” (sem ser autoritário) brasileira, carioca, paulista, nordestina, sulista, etc. se a Deusa é a terra, seus filhos pobres são a

maioria esmagadora! Salve a Grande Mãe Terra e o incomparável Senhor dos Bosques, mas muitos de seus filhos nunca viram um carvalho de perto!

Pé-de-Planta


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