Revista PRANTO DA TERRA #05

Page 1

Prece para a Grande Família: HONRANDO AS NOSSAS RELAÇÕES (antiga oração Mohawk)

A nossa gratidão para a Mãe Terra que navega segura no dia e na noite e para o seu rico, raro e doce solo. Que seja assim nos nossos pensamentos. A nossa gratidão para as Plantas, para as folhas de colorido mutante e para as raízes sinuosas que permanecem quietas no vento ou na chuva ou dançam na ondulação espiralada das sementes. Que seja assim nos nossos pensamentos. Gratidão para o Ar que sustenta a suave andorinha e a silenciosa coruja ao amanhecer de um novo dia, como o sopro das canções e a brisa do claro espírito. Que seja assim nos nossos pensamentos. A nossa gratidão para os seres selvagens que são também nossos irmãos, que nos ensinam os mistérios e os caminhos da liberdade e compartilham conosco das suas vidas, com coragem e beleza. Que seja assim nos nossos pensamentos. A nossa gratidão para a água das nuvens, dos lagos, dos rios e das geleiras, cristalizada ou liquefeita, fluindo alegre através de nossos corpos as suas marés salgadas. Que seja assim nos nossos pensamentos. A nossa gratidão ao Sol que nos acorda ao amanhecer, luz que pode cegar, brilho que pulsa através dos troncos das árvores, clareia as neblinas e tremeluz nas grutas quentes onde dormem os ursos e as serpentes. Que seja assim nos nossos pensamentos. A nossa gratidão ao Grande Céu que guarda em si bilhões de estrelas e que vai além de todos os pensamentos e poderes e, no entanto, faz parte de nós. Avô Espaço, a Mente é a sua companheira. Que seja assim nos nossos pensamentos.

EDITORIAL ANCESTRALIDADE, PARA MUITOS é a simples lembrança de velhos parentes, cemitérios e fotos desbotadas de pessoas e momentos que a nós não dizem respeito. Mas para o neo-pagão, a palavra ancestralidade evoca muito do que aquilo que ele mesmo é no presente. Se nossos narizes se parecem com o de nossos pais, ou nossos olhos lembram o de um bisavô sábio e muito querido, só isso já basta para gritar: “Ei! Nós somos você!”. Não são vozes do “alémtúmulo” ou prerrogativas, expectativas ou deveres herdados; é a noção da própria identidade, forjada sobre as realizações e a vida de nossos ancestrais. Você sabe quem foram os seus antepassados? De onde vieram, o que faziam? Da história de suas vidas que (a despeito das indas e vindas, de toda privação e incerteza, das guerras em que lutaram e das quais fugiam) invariavelmente vieram a se concretizar no ser que é você. Uma árvore só se mantém firme sob qualquer tempestade se possuir raízes firmes. E antes de avós e tataravôs, nossos ancestrais foram os animais que povoaram e desbravaram o mundo, as plantas (a mente verde do planeta) que colonizaram a terra e o solo para a nossa existência. Devemos honrar a todos eles. Cada vida, cada ser que veio antes de você preparou o mundo para a sua vida. E devemos honrar a Mãe Terra, a primeira e mais antiga ancestral de todas, que em seu corpo fértil e forte um dia sentiu-se pronta e decidiu pela vida. A vida é amiga da morte. Um intenso e mágico Samhain.

Nº 5 - Ano V - Outono de 2007 E.C. - Território Tamoio

PRAnTO Da

Aerute y coletivo editorial

Não jogue em via pública! Recicle!

FLAUTA DE Pã

Projeto Gaia Paganus®

ESP Encontro Social Pagão® Os ESP® são eventos mensais que promovem a UNIÃO e CONFRATERNIZAÇÃO do povo pagão. Acontecem em várias cidades do Brasil, sempre no terceiro domingo de cada mês. São realizadas palestras, rodas de discussão, um piquenique e muita conversa informal. Todas as atividades do evento são GRATUITAS! Na internet: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=6002907 http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=157221 www.gaiapaganus.kit.net

Terra “Uma montanha com um lobo em cima fica um pouco mais alta”

Edward Hoagland, Lobos Vermelhos e Ursos Negros


O LOBO mantinha os europeus longe dos bosques e das florestas. Durante a Idade Média, a devastação das florestas para o uso da madeira e abertura para campos de plantio levou os lobos para longe, tornando-os mais arredios e famintos, propensos a atacar mais vezes o ser humano. Tornouse então, o Lobo, faminto, sem caça (praticamente extinta pelo homem) e acuado, vilão do imaginário infantil, base para a formação do caráter do adulto. Criou-se aí o medo humano do Lobo, e o que o humano teme, ele destrói. Quando o Europeu chegou na América, o Lobo era o maior predador. A pele dele tornou-se então testemunho de bravura e macheza numa terra sem leis, governada pelo rifle e pelo ouro. Novamente as florestas de pinheiros e a caça do Lobo abatida pelo homem. E o Lobo, sem alternativa, viu nas criações de ovelhas e vacas do homem suas extintas manadas de búfalos. Enfim o Lobo é caçado até o desaparecimento, preso em jaulas e levados pelos circos, tendo recompensas sendo pagas por cada Lobo morto. Entre 1850 e 1900, mais de um milhão de lobos haviam sido mortos. O Lobo é parte da mitologia. Os povos nórdicos acreditavam que o Lobo Fenris devorava a Lua. E para os povos indígenas Norte Americanos o lobo era um ancestral, um aliado e não um adversário na vida e na natureza. Ele é parte essencial de uma estrutura natural, combalida e destroçada ao longo do progresso humano. O lobo não é uma fera irracional, é um animal que possui uma inteligência arguta e uma complexa estrutura social. Cuida dos seus filhotes como um progenitor dedicado e zeloso, preocupado com as gerações futuras. Caça somente o que come, divide o alimento entre todos, na medida da contribuição que cada um deu ao êxito da caçada, e não desperdiça nada. Brinca, cresce e morre sem desequilibrar o meio ambiente no qual irá viver seus descendentes. O Lobo é um arquétipo. Ele ensina sobre unidade, conexão. Traz de volta a noção de família, comunidade; traz a coragem e a ousadia para alcançar o que se quer, a confiança no companheiro. Ensina determinação e força. Ensina sabedoria e paciência. Ensina a ser criança e a lançar as patas para o céu; sem esquecer que quem te ampara é a terra. Ensina a ler o livro da natureza, a ser uno com o mundo, sem perder o que se é; sem desfazer-se do indivíduo, que não é um ser isolado e egóico, mas a parte indivisível da sociedade, consciente de sua importância e seu papel nela. As tradições Nativas Americanas têm um ditado sobre o Lobo. O Avô-Lobo sobrevive a todas as batalhas, menos na última: nessa, ele morre. O lobo ensina, sobretudo, a perseverança, a temperança e a tenacidade diante da vida. O Lobo, então, ensina a lutar até o fim, e a ser agradecido por tudo aquilo que se recebe. "The wolf has been part of the natural balance for thousands of years, in less than 100 years man through ignorance and misinformation has almost made wolves disappear forever." Para quem não gosta de Lobos: http://www.wolfcountry.net/

A dança como drama ritual A dança e o canto, como parte essencial das cerimônias religiosas de caça, são universais até mesmo hoje. Os Yakuts da Sibéria, por exemplo, e muitas tribos indígenas americanas e esquimós, sempre dançam antes da caçada. A dança/ritmo é o primeiro passo rumo ao êxtase o “sair de si mesmo”. Quando a dança é para o aumento da comida, os dançarinos frequentemente imitam os movimentos dos animais, ou o crescimento das plantas que eles estão tentando influenciar... o Dançarino Mascarado no Fourneau du Diable, Dordogne, é representado tocando um instrumento musical. Isto pode indicar um ritual similar ao dos primitivos Semang, na selva malaia, que atualmente representam a caçada do gorila por meio da canção-peça. Ela é realizada parte como entretenimento, mas principalmente como uma influência mágica sobre o gorila na futura caçada. A performance vai desde a procura pelo gorila até sua morte, por zarabatana. Um ponto interessante, entretanto, é a inclusão dos sentimentos do gorila e das reações de sua família, a sua morte na canção. Raymond Buckland, Witchcraft from the Inside, 1971.

LIVRO DAS SOMBRAS O “Picatrix” Foi a partir do século XI que começaram a proliferar os formulários de alquimia e de ciência infernal, nessa época fulgurante a que ridiculamente foi dada a medíocre denominação de Idade Média. Em 1256 uma reunião de escritos antigos mágicos traduzidos do árabe, o Picatrix nome do seu autor , se transformou na Bíblia de todos os feiticeiros. Segundo um iniciado moderno, Gehem, o Picatrix é o trabalho mais completo que existe sobre magia negra, mas as traduções que dele possuímos estão truncadas, pois paira uma maldição sobre aqueles que resolvem comentá-lo. A sua magia é baseada numa combinação astral dos planetas e dos grupos de astros fixos, gerando forças infinitamente poderosas. (...) Eis aqui alguns segredos pouco conhecidos desse temível Picatrix que os nossos cientistas, evidentemente, não seriam capazes de tomar a sério: (...) Para destruir um inimigo: Fazei duas imagens, uma à hora do Sol, Leão ascendente e a Lua caindo do ângulo do ascendente, e outra na hora de Marte sob o Carneiro ascendente, Marte e a Lua caindo, e fazendo essa imagem à semelhança de um a homem que bate noutro; depois enterrai à hora de Marte quando a primeira face do Carneiro subir. Feito isso, podereis comandar os vossos inimigos e martirizá-los de todas as maneiras. (...) Fórmula que outrora permitia obter uma “luz que brilha como prata, numa casa”:

Oração funerária wicanna Por Sironna Moonvoice Pois sou o Primeiro, e cheguei para acompanhar a sua última hora. Sou e sempre fui. O Deus dos Chifres, o companheiro da Grande Mãe, seu filho, seu marido, seu pai. Já fui a Caça e o Caçador. Conheço a dor da morte e a doçura da vitória. Acompanho o seu sangue, desde que se tornaram homens e desceram das árvores. Eu estive nas cavernas da sua aurora. Quando, aterrorizados e sozinhos, clamaram por algo maior, fui eu que os atendi.

É necessário pegar um lagarto preto ou verde, cortar-lhe a cauda, secá-la, e então aí se encontra um líquido semelhante à prata viva. Embebei nesse líquido uma mecha que se coloca num candeeiro de vidro ou de ferro. Se acendermos o candeeiro, em breve a casa adquirirá um aspecto prateado e tudo o que houver no interior brilhará como prata. Por fim, eis aqui uma receita admirável para os homens que pretendiam passar pelo fogo sem se ferirem, ou que então querem transportar fogo ou ferro em brasa na mão: Suco de malva dupla, clara de ovo, sementes de salsa e cal. Misturai. Preparai com clara de ovo misturada com seiva de pinheiro. Com essa composição, untai o vosso corpo ou vossa mão e deixai secar. Repeti a unção e então podereis enfrentar a prova do fogo sem perigo. Essa química antiga, em que o fogo representa sempre um papel primordial, preparava o aparecimento da alquimia (...).

Por todo este tempo, eu andei lado a lado com todos vocês. Por isso, aqui estou. Na sua última hora, acompanhando-o em sua jornada final, para a Terra do Primeiro e Único Verão.

Robert Charroux, Histoire inconnue des hommes depuis cent mille ans


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.