Nerd review 005

Page 1

A fúria do Pantera - p.12

Black Friday - p.22

Raio Negro - p.16

Uma nação sob seus pés - p.14

QUADRINHOS, FILMES, SÉRIES E TUDO SOBRE O UNIVERSO NERD

A Ascensão do Pantera p.4 Edição 005 - Fevereiro de 2018


Expediente Edição 005 - Fevereiro de 2018 -------------------------------------Editor Presto Gaudio Editor de arte

Presto Gaudio

Redação

Presto Gaudio

Diagramação

Presto Gaudio

----------------------------------------

Fale conosco: marcelo _ gaudio@yahoo.com.br Sites parceiros www.tapiocamecanica.com.br www.aracnofa.com.br

2018 - O ano da Cosciência Negra Dia 20 e novembro é o Dia da Consciência Negra no Brasil, mas não existe apenas um dia para lutar contra o preconceito, as injustiças e o racismo. Os abismos sociais que comandam nossa sociedade produzem cicatrizes dificilmente curadas e vez ou outra novamente abertas. O palco da luta é o mesmo da resistência, então qualquer avanço social vem com o alerta vermelho de um retrocesso. Tais batalhas podem ser gravadas por meio de manifestações políticas, ocupações ou mesmo luta armada, outra arma é a cultura, produtora de obras que ajudam a população a pensar sobre suas próprias ações e a necessidade de lutarem por igualdade e liberdade. Nesse início de ano duas grandes produções norte americanas envolvendo os tais super-heróis tiveram as questões raciais no seu DNA, uma estreando na televisão em janeiro e outra aportando nos cinemas em fevereiro, estou falando de Raio Negro e Pantera Negra. Dois heróis de editoras concorrentes que surgiram nos anos 60 e 70 e desempenharam um importante papel na diversificação dos personagens e na politização de suas histórias. Agora ambos chegam ao formato Live Action com ótimas propostas e produções. Aproveitando o tema, a Nerd Review deste mês resenha duas importantes fases do Panter Negra nos quadrinhos, a primeira série mensal do personagem e a mais recente, ambas tratando o mesmo tema, o retorno do rei ao seu país e os conflitos que se seguem de seu afastamento. Ao final desta edição complemento com a resenha de uma obra brasileira que expõe a luta diária do negro em nossa sociedade, Black Friday de Robson Moura. Abraços e boa leitura.

2

Fevereiro de 2018


04

A ascensĂŁo do Pantera

Raio Negro O HerĂłi da Comunidade

Os retornos do rei

10

16

Precisamos falar sobre Racismo

22

Fevereiro de 2018

3


4

Fevereiro de 2018


FILMES

A Ascensão do Pantera Dando início à temporada de filmes sobre personagens de quadrinhos nos cinemas, Pantera Negra conquista crítica e público com uma trama de ação e intriga permeado por questões raciais.

Fevereiro de 2018

5


Aposta da Marvel/Disney em diversificar e renovar seu elenco de personagens que em breve sofrerá severas baixas. Com humor pontual, que não sobressai ou encobre momentos dramáticos da trama, começamos 2018 muito bem com este filme dirigido por Ryan Cogler, diretor novato que despontou com Creed em 2015, e estrelado por um elenco de peso como Chadwik Boseman, Michael B.Jordan, Lupita Nyong’o, Martin Freeman, Forest Whitaker, Andy Serkins e muitos outros. O filme começa com um conto rápido sobre a origem do reino de Wakanda e o primeiro Pantera Negra que uniu as cinco tribos locais em torno da montanha de vibranium. Em seguida conhecemos o embate do rei T’Chaka (Atandwa Kani) e seu irmão em um apartamento nos EUA no ano de 1992, neste primeiro momento sabemos apenas que as consequências

6

Fevereiro de 2018

foram trágicas, mas essa passagem se complementa apenas na metade do filme. Ainda assim sabemos o suficiente, o irmão de T’Chaka, que estava na América como espião, se comoveu com a situação periférica e de perseguição que o negro tem no mundo fora de Wakanda, tomado pela revolta, trai seu país com objetivo de incitar uma revolução armada.


FILMES Passamos para o último enxerto de introdução do filme, no presente, acompanhamos uma missão do Pantera Negra (Chadwik Boseman) com Okoie (Danai Gurira) a general das Dora Milaje, guarda de elite do rei de Wakanda formada apenas por guerreiras, a dupla auxilia uma espiã wakandana, Nakia (Lupita Nyong’o ), resgatando um grupo de mulheres, fazendo referencia a uma passagem dramática que aconteceu na Nigéria em 2015, o episódio real conhecido como Boku Haran. Só então passamos a acompanhar o desenvolvimento da trama do filme que se passa poucas semanas após os eventos de Capitão América Guerra Civil. Wakanda precisa superar o luto por seu governante morto e T’Challa precisa passar por um ritual e provar seu valor perante seus súditos. Aqui temos uma breve passagem em homenagem à Jungle Action 7 de 1973 do Don McGregor, onde acompanhamos uma luta entre T’Challa e M’Baku (Winston Duke) na cachoeira pela coroa. Mas outras fases são referenciadas, inclusive a mais recente roteirizada por Ta-Nahesi Coates.

A história vai migrar para a tentativa de captura do Garra Sônica (Andy Serkins), agora realmente com uma prótese no lugar do braço que se transforma em uma bazuca sônica. E depois todo um arco de batalhas pelo manto do Pantera Negra e da coroa de Wakanda entre T’Challa e Killmonger (Michael B.Jordan). Se ano passado tivemos Mulher Maravilha fazendo sua parte como um importante filme levantando questões de gênero, este ano começamos com uma discussão ainda mais profunda em relação a questões raciais. E embora o tema racial neste filme tenha sido tratado de forma semelhante à mulher no filme da Dc, onde além de piadas e situações específicas, a trama acontecia como consequência do preconceito inerente em nossa sociedade. Em Pantera Negra isso é muito mais evidente, explícito inclusive nas motivações do antagonista.

Fevereiro de 2018

7


Há diversas passagens onde somos lembrados das torturas passadas pelos escravos na mão dos “colonizadores” europeus ao longo dos anos, inclusive na própria contemporaneidade. Momentos onde exposições museológicas são questionadas quanto à forma como aqueles itens foram parar naquele local; e outros onde o negro precisa estar sempre se provando merecedor de confiança e que tem capacidade para desempenhar determinada função. Não posso afirmar se é o melhor filme da Marvel até o momento, mas com certeza é um dos mais relevantes e memoráveis. Temos também questões de ética como o isolacionismo de Wakanda, uma sociedade tão harmônica e tecnologicamente avançada, mas que nunca se envolveu com os problemas do mundo exterior. E uma leve crítica às práticas imperialistas dos EUA

que acabam criando seus próprios vilões, ora dando treinamento, ora explorando e se acomodando na criação de mais e mais abismos sociais entre os cidadãos americanos. Mas se nem o tema e nem o enredo tenha convencido que o filme vale a pena assistir no cinema temos toda a direção de arte: figurino, trilha sonora, fotografia, design de produção, tudo recebeu um apreço e cuidado invejável. As tecnologias futuristas de Wakanda não são genéricas, mas sim bem específicas e com temáticas

8

Fevereiro de 2018


FILMES que remetem a povos do centro africano como Congo, Sudão, Zâmbia Nigéria e Angola. Máscaras e figurino são apenas a ponta do Iceberg, pois o design se preocupou em mostrar esses elementos inclusive na tecnologia, como o formato de máscara cerimonial da parte inferior da nave de T’Challa, ou seja, nada na tecnologia ou indumentária é genérico. Tudo elaborado depois de muita pesquisa feita pelos povos do continente africano. Gostei muito do filme por todos esses elementos comentados. O ano mais uma vez começa muito bem para o subgênero superheroico, não sei afirmar se é o melhor filme da Marvel até o momento, mas com certeza é um dos mais relevantes e memoráveis. Não apenas como mais um título da Casa das Ideias, mas como cinema de entretenimento.

Fevereiro de 2018

9


10

Fevereiro de 2018


QUADRINHOS

Os Retornos do R ei Pantera Negra acaba de ser lançado no cinema e para aproveitar esse evento a Nerd Review apresenta duas grandes fases do personagem. A primeira aconteceu no início dos anos 70, depois do T’Challa ter sido apresentado na revista do Quarteto Fantástico e ajudar os Vingadores por algumas edições, retorna para Wakanda e encontra o reino a beira da Guerra Civil. Na segunda parte da matéria, apresento o primeiro arco do premiado autor Ta-Nehisi Coates, ele assume o personagem logo após a mega saga Guerras Secretas e, de forma semelhante ao primeiro arco apresentado, precisa reposicionar o T’Challa como soberano de Wakanda. Fevereiro de 2018

11


As edições que compreendem este arco de retorno do T’Challa para Wakanda foi publicada nas edições 6 a 18 de Jungle Action entre 1973 e 1975 nos EUA. Aqui no Brasil as histórias foram lançadas originalmente na revista Superaventuras Marvel da editora Abril de forma alternada entre a edição 2 de agosto de 1982 e 24, em junho de 1984. Mais recentemente o arco inteiro foi republicado na coleção de clássicos da editora Salvat em julho de 2017 e as edições 6 e 7 em Pantera Negra: Uma Nação Sob Nossos Pés n° 2, Panini, em dezembro de 2017. A história foca no retorno de T’Challa à Wakanda e as estratégias para evitar que o pais explodisse em uma guerra civil liderada por Eric Killmonger em parceria com Venneno e Rei Cadáver. É considerada a primeira série em quadrinhos dentro das principais editoras americanas a utilizar um elenco de personagens essencialmente negro.

A Fúria

do

Pantera

Criado por Stan Lee e Jack Kirby para uma história dos aventureiros Quarteto Fantástico em 1966, com boa aceitação logo foi cooptado para os Vingadores, onde ficou por um tempo até retornar ao seu reino, e o arco A Fúria do Pantera mostra esse retorno. Nesses mais de 40 anos de personagem, o T’Challa teve poucas séries próprias e esta é uma de suas primeiras aventuras solo. A passagem do Pantera pelo mundo fora de Wakanda despertou a ira de muitos súditos, por serem extremamente xenófobos e ariscos com estrangeiros.

12

Fevereiro de 2018

Com roteiros de Don McGregor e arte e finalização se dividindo entre diversos artistas, entre eles Gil Kane e Klaus Janson. Acompa n ha mo s sequências de ação bastante inventivas para época, o início da segunda edição representa bem essa característica ágil do roteiro gráfico, nele vemos T’Challa caindo de uma cachoeira em


QUADRINHOS uma página dupla, mas que deve ser lida na vertical. O roteiro se perde de vez em quando no número de caixas de texto espalhados na revista e que muitas vezes se torna redundante e cansativo, mas é um padrão para época. Ainda assim, as sequências de ação são de tirar o fôlego o encadeamento de acontecimentos vai jogando o Pantera de vilão em vilão, de guerras abertas ou conflitos individuais até o embate final com Killmonger. Um dos elementos de maior destaque foi a forma como os personagens foram representados, a meu ver, um acerto na criação de um personagem que se tornou socialmente muito importante. Percebemos claramente a presença de duas fontes de inspiração: o Fantasma e o Tarzan, mas ao contrário desses personagens que podem ter servido como modelos, T’Challa não é um branco impondo o modo de vida “correto” para outro grupo considerado inferior, muito pelo contrário, temos aqui um líder africano defendendo seu próprio povo. Outra referência possível, pelo menos a forma como tudo se transcorre me remeteu foi ao Conan, T’challa viaja por diferentes e inspirou lugares enfrentando guerreiros, bruxos e animais selvagens como o gigante hiboreano. Fevereiro de 2018

13


sequência, na qual presenciamos a morte de centena de moradores e o início de um sentimento de revanchismo que pouco a pouco vinha aumentando. Aliada ao caos e graças à prematura morte da regente a população se revolta a ponto das antigas rusgas se amplificam e grupos separatistas ou terroristas começarem a se atacar. É esse o cenário desta fase do personagem, uma nação orgulhosa que não acredita mais na sua principal instituição, o rei T’Challa, e começa a ter novas ideias de organização política para Wakanda.

Uma

nação sob nossos pés

Neste arco lançado nos EUA logo após a saga Guerras Secretas entre junho de 2016 e maio de 2017, e aqui no Brasil em três encadernados entre agosto e dezembro de 2017, acompanhamos mais uma vez T’Challa em meio à convulsão social de Wakanda depois de ficar um tempo afastado com os Vingadores. Os roteiros são de Ta-Nehisi Coates e desenhos de Brian Stelfreeze. Aqui, acompanhamos uma nação extremamente orgulhosa tentando se reconstruir depois de uma série de eventos catastróficos, a começar pela invasão Atlante à cidade capital que matou muitos moradores. Outras invasões aconteceram na

14

Fevereiro de 2018

A situação é complicada pois de um lado temos uma parte das Dora Milage, a antiga guarda pessoal do Pantera, agindo como vigilantes pelo reino, desmontando grupos com caraterísticas despóticas, mas reunindo-os como aliados; de outro temos os rebeldes, concentrados na fronteira sul, ao lado do pobre país Niganda, que segundo lendas já teve uma terra fértil, mas se tornou desértico por causa de Wakanda. E em paralelo, acompanhamos o espírito de Churi, a irmã de T’Challa que recentemente morreu, em uma jornada para o passado de Wakanda e seus espíritos protetores que mostram a grandiosidade do país mesmo antes de qualquer tecnologia. No fim, o principal na trama de Coates é o debate sobre ética na guerra, de


QUADRINHOS de situações similares como a política. Afinal, vender a alma para ganhar certa posição pode comprometer os objetivos muito mais que encontrar uma oportunidade para implantá-los. Os três encadernados se complementam com histórias antigas:

todos os lados vemos o desejo por vencer e como isso pode incentivar alianças perigosas. T’Challa chega a convocar representantes de países ditatoriais, como Madripoor e Genosha, para perir conselhos. De outro lado, diferentes grupos de rebeldes se aliam por uma causa comum, mas que diferem completa mente em relação aos objetivos finais. E mais uma vez podemos tirar metáfora s, não apenas da guerra bélica, mas

O primeiro encadernado reúne capas variantes, esboços, uma entrevista com o ilustrador Brian Stelfreeze e a primeira aparição do personagem no universo Marvel, no longínquo ano de 1966, a Fantástic Four 52 de julho de 1966 com argumento de Stan Lee, arte de Jackie Kirby e finalização por Joe Sinnot.

No volume dois temos as Jungle Action 6 e 7, recentemente publicada pela Salvat. É o início de uma boa sequência de embates contra o Terror Negro que surgiu como um líder rebelde para tomar Wakanda no momento que T’Challa voltou ao país depois de ter passado um tempo com os vingadores. Roteiro de Don Macgregor, arte de Rich Buckler, finalizado por Klaus Janson e cores de Glynis Wein. Já o volume três tem um compilado de trechos das edições New Avengers 18, 21 e 24 do Jonathan Hickman que conta sobre os momentos finais das incursões do multiverso pré Guerras Secretas. Fevereiro de 2018

15


16

Fevereiro de 2018


SÉRIES

Raio Negro - o herói da comunidade O mundo está preparado para mais um série de super-heróis? Ou melhor, os fãs de quadrinhos aguentam mais uma novelinha da CW? E se eu disser que, embora faça parte do canal de Arrow e Flash, Raio Negro tem vida própria e consegue apresentar um desenvolvimento completamente independente e mais maduro? Pois é, ela consegue.

Fevereiro de 2018

17


A mais recente série da Warner, lançada em meados de janeiro de 2018 nos EUA e poucos dias depois ganhando alcance internacional graças ao Netflix, estou falando de Raio Negro. Assumindo um personagem praticamente desconhecido por não leitores de quadrinhos, o Raio Negro é um dos primeiros personagens negros da Dc criado por Tony Isabella e Trevor Von Eden em 1977 seguindo a onda do black exploitation. Embora tenha ganho revista própria, ele não conseguiu o mesmo sucesso do Luke Cage que foi criado aproveitando o mesmo cenário cultural em 1972 pela editora concorrente.

18

Fevereiro de 2018

Com apenas 11 edições, o personagem nunca ganhou muito destaque e tem suas participações mais importantes dentro de supergrupos como a Sociedade da Justiça, a Liga da Justiça e os Renegados. Mas por que então fazer uma série de um personagem tão desconhecido? Na realidade esse é um grande trunfo. Sem uma base grande de fãs, a série ganhou mais liberdade para explorar temas como preconceito racial e pobreza. E são esses dois elementos que torna o programa relevante em meio a tantos seriados de super-heróis. Indo além das formulas já estabelecidas, o elemento que impulsiona a série o debate sobre as questões raciais. Na história acompanhamos Jefferson Pierce (Cress Williams), um ex-herói que desistiu da vida de colante e se tornou um líder social para os negros em New Orleans como diretor de uma escola públi-


SÉRIES Mas muito além da escola, vemos Jefferson encarando os problemas em toda a cidade, seja enfrentando um traficante local que não controla seus asseclas; até ser enquadrado pela polícia simplesmente por ser negro, mesmo sendo reconhecido por todos na cidade e estar vestindo terno indo para uma formatura. As drogas também são um tema recorrente, mas não se apoia em discursos fáceis de combate ao narcotráfico, pelo contrário, o consumo aqui é claramente ligado aos problemas sociais e raciais, uma consequência que precisa ser tratada, não a causa em si na qual pode ser massacrada através da violência.

ca com alunos de classe social baixa. No entanto, a cidade vive em uma crescente tensão social entre o grupo criminoso conhecido por Os 100 e a população mais pobre que sofre com a violência, tráfico, chantagem e sob constante ameaça. As filhas do protagonista são sequestradas e Jefferson se vê obrigado a vestir o uniforme mais uma vez, sempre influenciado por seu amigo/inventor/ajudante Peter Gambi (James Remar). Indo além das formulas já estabelecidas, o elemento que impulsiona a série o debate sobre as questões raciais. Jefferson Pierce é um dos principais lideres da comunidade, são suas decisões e escolhas que definem o futuro dos alunos e influenciam todos os moradores da comunidade negra. Essa figura de poder também é ilusória, pois tudo que faz em favor dos seus pares, incomoda. São frequentes os embates contra o conselho da escola, formado por vários brancos de classe média que nada tem a ver com o dia-a-dia da escola.

Fevereiro de 2018

19


A atuação não desperta grandes emoções, no geral ela cumpre o papel, indo do caricato, quando preciso, até o mais comum. Infelizmente o ator mais fraco no elenco é o protagonista interpretado por Cress Williams, no geral ele se sai muito melhor como diretor de escola do que como um super-herói fantasiado é o Falar dos outros personagens. Embora tenhamos programas voltados para públicos diferentes, outra série que ainda mantém um pano de fundo melhor do que simplesmente encarar o vilão da semana é Supergirl que além de se apresentar como uma refugiada de Kripton, discute questões de gênero como empoderamento feminino e sexualidade.

20

Fevereiro de 2018

Enfim, Raio Negro tem tudo para se destacar entre os programas baseados em histórias em quadrinhos pelo seu discurso étnico e para manter seu tom narrativo mais sério precisa ser independente de um universo com arqueiros e velocistas. A princípio havia são anunciado que suas histórias se passariam em um mundo à parte, mas vários indícios comerciais apontam o contrário, espero que, se for para inseri-lo em algum universo, que o coloque no mesmo mundo da Supergirl para manter certa coerência. Pois se no universo da Garota de Aço os super-heróis já existem a muito tempo, foi estabelecido que no mundo do Arrow não existia podres até o acelerador de partículas implorar no início de Flash. Torcemos pela coerência.



Precisamos falar sobre racismo Nós brasileiros conhecemos o termo Black Friday somente a pouco tempo e o relacionamos à grande queima de estoque na última sexta de novembro (ok, aqui não funciona muito assim). Esse dia de alegria consumista não tem raízes tão felizes, a prática se originou nos EUA pré Guerra Civil e estava relacionado à venda de escravos q u e antecedia o Dia de Ação de Graças. Com o mesmo tom pesado, Robson Moura nos conta histórias nada felizes em Black Friday.

22

Fevereiro de 2018


QUADRINHOS

Black Friday foi um projeto do Robson Moura de publicar uma tira em seu blog toda sexta feira, sempre discutindo ou refletindo sobre a condição do negro no Brasil e no mundo. Vítimas diárias de preconceito, Robson inicia sua revista com o desenho de um escravo negro preso à um instrumento de tortura, na página seguinte esse instrumento aparece quebrado. Uma metáfora de que não podemos nos calar perante os absurdos diários que vão desde o “não sou racista, mas...” ou “ não posso ser racista, tenho até...” Nada de bom vem dessas frases que servem apenas como um frágil escudo para àquele que as fala.

apresentando uma colorização mais difusa nas primeiras páginas, sugerindo que os originais foram feitos em aquarela, perceptível mesmo com a publicação em preto e branco. E, em um segundo momento, com traços mais variados, no qual utiliza também no preenchimento um jogo de sombras, e ainda explora alto contraste e retículas. A revista é um grito por liberdade e igualdade, mas é clara ao mostrar que essa liberdade e igualdade é uma luta diária que ainda precisa ser conquistada.

Nas páginas são retratadas situações do cotidiano, preconceitos velados ou escancarados que a sociedade demonstra ter herdado de um passado escravocrata que ainda não passou. Além disso, podemos apreciar o belo traço do Robson que brinca com os tons de cinza,

Fevereiro de 2018

23


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.