Nerd review 006

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Dylan Dog - p.14

Martin Mistère - p.17

Dampyr - p.8

Corra- p.28

QUADRINHOS, FILMES, SÉRIES E TUDO SOBRE O UNIVERSO NERD

A invasão Bonelli p.4

Edição 006 - Março de 2018


Expediente Edição 006 - Março de 2018 -------------------------------------Editor Presto Gaudio Editor de arte

Presto Gaudio

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Invasão Bonelli a próxima onda A Bonelli é uma das editoras de quadrinhos mais bem sucedidas no mundo, criou personagens que perduram a mais de cinquenta anos com séries mensais de pelo menos 100 páginas. Com tramas que tiram o fôlego do leitor, além de bombardeá-lo com referências históricas e, em alguns casos, completamente psicodélica. Infelizmente aqui no Brasil seus personagens nunca conseguiram o público suficiente e poucos foram os personagens que perduraram. Além de Tex e uma ou outra série menor, apenas Zagor e Júlia passaram da centésima edição. Outros que conseguiram ter todas suas edições publicanas foram Mágico Vento e Ken Parker. Agora teremos mais uma chance para ver esse celeiro de personagens no Brasil. A Nerd Review deste mês aproveitou os recentes anúncios e lançamentos envolvendo a editora italiana para dedicar uma edição quase que exclusiva para apresentar tais personagens. Descubra ou reencontre velhos conhecidos que devem voltar às bancas ou livrarias e lojas especializadas ainda este ano, e quem sabe além. Mas para não ficar apenas com os personagens da Bonelli, apresento um dos filmes mais interessantes do ano de 2017. Uma produção que significa um tapa na cara de muita gente e que ganhou o Oscar de melhor roteiro original, além de outros prêmios. Lhes apresento Corra!!! Então agora não Corra, mas vire esta págia e boa leitura

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Invasรฃo da Bonelli

Raio Negro O Herรณi da Comunidade

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PERFIL

a Bonelli invade o brasil As revistas da Bonelli sempre estiveram nas bancas brasileiras, mas tirando um ou outro título, sua publicação foi bastante errática. Neste ano de 2018 temos a oportunidade de mais uma tentativa de disseminação destes personagens tão interessantes, será que desta vez dará certo? Eu torço para que sim.

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Por muito tempo parecia que nas bancas de jornais só existiam mangás, comics, Turmas da Mônica ou Disneys. Poucos sabiam ou se interessavam por aquela outra série que sempre esteve nas bancas, as revistas da italiana Bonelli. Editore está que já foi publicada pela mais diversa variedade de empresas brasileiras ao longo dos anos e atualmente pode ser encontrada em pelo menos três: Mythos, Salvat e a estreante 85. Pode-se dizer que tudo começou no jornal L’Audace de Lotario Vecchi, o primeiro periódico Italiano a lançar revistas em quadrinhos em meados da década de 1930. A princípio republicações de personagens americanos e ingleses até que em 1940, Giovanni Luigi Bonelli adquire a redazione Audace e revoluciona as publica-

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ções italianas. Em pouco tempo se destaca por ser a primeira a publicar mensalmente álbuns de um único personagem e, em 1948, o próprio Giovanni Bonelli cria aquele que seria o principal e mais longevo do quadrinho da Itália: Tex Willer. E a partir deste cowboy que cruza o velho oeste americano que a editora se desponta, surfa na onda do western nos cinemas, mas traz algo mais, antecipa-se ao revisionismo que chegaria a Hollywood apenas no final da década de 1960 e desde muito cedo trazia tramas com pontos de vista mais alternativos, retratando os indígenas de forma menos estereotipada. E não demorou a chegar no Brasil, pois em 1951 o cowboy começou a ser publicado pela editora Globo em uma forma bem diferente do que conhecemos atualmente, 16x7 cm, conhecido por formato talão de cheques. E deste seguiram-se vários outros sucessos, a editora mudou de nome diversas vezes até o que conhecemos atualmente se fixar no


PERFIL

para não ir para o limbo. Mágico Vento também sobreviveu tempo suficiente para ter sua série encerrada dignamente depois de 131 edições. ano de 1988. Nesse mais de meio século diversos personagens foram criados explorando diferentes gêneros narrativos do western ao suspense, da investigação noir ao terror. O Brasil sempre recebeu suas histórias, em maior ou menor grau. Várias foram as editoras que publicaram seus personagens, mas o único que realmente continuava incansavelmente e sem nunca desaparecer das bancas era o Tex. A última grande onda de lançamentos ocorreu no início dos anos 2000 quando a editora Mythos lançou várias séries além do Tex que passou a publicar em 1999, tivemos oportunidade de conhecer ou reencontrar personagens como Dylan Dog, Martin Mystère, Dampyr, Mister No, Nick Raider, Zagor, Ken Parker, Mágico Vento, Julia Kendal e outras minisséries sou edições especiais. Infelizmente a baixa venda decretou o fim de quase todas essas revistas, restando apenas Tex, Zagor e Júlia, esta última lutou bastante

Desde meados dos anos 2000 quando a maior parte das séries da Mythos já tinha sido cancelada, algumas outras editoras publicaram material da Bonelli, como a CLUQ/Tapejara com uma belíssima edição do Ken Parker, Panini com Face Oculta e mais recentemente a Lorentz com Dylan Dog, a editora 85 com Dampyr e a Salvat com a coleção histórica do Tex. Nas páginas a seguir eu gostaria de apresentar alguns dos personagens que estão retornando às bancas ou livrarias e lojas especializadas neste ano de 2018. Não falarei de Tex, Zagor, Júlia ou outros personagens, mas quem sabem em uma edição futura? Mande sua mensagem, mas antes boa leitura.

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Editore na Itália. Mauro Boselli e Maurizio Colombo criaram um personagem que representasse a face do horror natural e sobrenatural, de um lado diversas guerras humanas como a Segunda Guerra Mundial e a Guerra dos Bálcãs, de outros vampiros, lobisomens e toda uma serie de seres místicos.

Dampyr vampiros levados a sério

Vivemos tempos sombrios, onde Vampiros brilham no sol, são vegetarianos e só sabem chorar pelos cantos. Um pouco antes do estouro desses seres que deturparam a imagem dos sanguessugas mais conhecidos da cultura pop surgiu Dampyr. A história foi concebida inicialmente como uma minissérie que se integraria a revista Zona X publicada pela Sergio Bonelli

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Conhecemos a história de Harlan Draka, órfão de mãe e abandonado quando criança pelo pai, Harlan um pilantra que viaja de vilarejo em vilarejo bancando o Dampyr. Segundo as lendas do leste europeu, o Dampyr seria uma criatura híbrida de vampiro e humano. Dentre diversos poderes destaco a capacidade de andar no sol e o sangue tóxico para vampiros, além disso, o Dampyr pode tomar o sangue dos vampiros anciões e adquirir temporariamente os poderes daquele que foi mordido. A surpresa é descobrir que ele era realmente era um Dampyr, e assim passa a caçar vampiros e procurar seu pai. Logo na primeira edição vemos o início de uma grande amizade entre Harlan, Kurjak e Tesla. Emil Kurjak se alia ao Dampyr quando sua aldeia e seus soldados são mortos por um bando de vampiros a mando do mestre Gorka. Enquanto


QUADRINHOS que Tesla Dubcek é uma vampira recém transformada pelo bando de Gorka, mas que se rebela e se junta a Harlan em sua vingança. A relação de Tesla com Kurjak é conturbada no início, mas não demora a um provar sua confiança para o outro. Ambos os personagens se tornam grandes aliados de Harlan na sua cruzada contra os vampiros, parceria de vital importância na maior parte das edições. Outros personagens se tornam amigos e aliados do Dampyr, mas é a amizade dos três que se sobressai.

Infelizmente apenas as 12 primeiras edições foram publicadas aqui pela Editora Mythos entre setembro de 2004 e agosto de 2005. Na Itália, este mês de março de 2018 foi lançado a edição número 216. Ou seja, tem bastante coisa para ser publicada sem se preocupar em alcançar o original. Felizmente a editora 85 trouxe o personagem de volta ao Brasil publicando a continuação das revistas lançadas pela Mythos, o primeiro volume reúne as edições 13 a 16 de Dampyr e eles já prometeram mais.

A série Dampyr se diferencia das produções da editora Bonelli pela forte idéia de continuidade, completamente oposto do que vemos em Dylan Dog ou Tex. Mesmo que exista uma ou outra história solta, a regra é o entrelaçamento da trama. Outro detalhe interessante são as referencias históricas e geográficas que dão mais realidade a narrativa como o envolvimento de Kurjak com a Guerra na Bósnia na década de 1990, ou mesmo o aparecimento de pessoas reais como o piloto polonês Godwin Brumowski ou gangster Bugsy Siege. Outro diferencial na série é a passagem do tempo: em geral um ano, na realidade, corresponde a um ano (12 revistas), nos quadrinhos, pelo menos essa foi a percepção das primeiras edições. Por tudo falado acima série que não norada pelas

o que foi esta é uma podia ser igeditoras brasileiras.

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Face Oculta

da colonização

Essa é uma Hq persistente que torço para ir para frente, Face Oculta é uma minissérie italiana publicada em 14 edições, das quais tivemos duas tentativas de lançamento aqui no Brasil, ambas pela Panini. Da primeira vez em 2012, apenas as duas primeiras edições foram lançadas; em 2016 uma nova tentativa reuniu as quatro primeiras edições em apenas um volume e vendida apenas na loja da Comix; por fim, no fim de 2017 a Panini prometeu retomar a série, nos moldes da última tentativa, mas com uma venda mais ampla para outras lojas on line. Originalmente foi um lançamento da editora Sergio Bonelli em 2007 com 14 edições e contava a história, inspirada

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em eventos reais, de Ugo Pastore. Logo na primeira revista acompanhamos a juventude de Ugo, quando este se envolve em uma aventura na Etiópia junto com seu pai, um comerciante que estabelece contratos com viagens pelo mundo. Ambientado no século XIX, durante a expansão colonialista italiana na Etiópia. Porém, esta exploração não vem sem uma resistência local, e esta é carregada de elementos da mitologia islâmica como, por exemplo, o antagonista da história, conhecido por Face Oculta, é um homem considerado sagrado que veste uma máscara prateada e lidera uma legião de soldados contra os invasores. A segunda edição se passa cinco anos após a história narrada na Etiópia, agora Ugo Pastore vive em Roma como um contador e não acompanha mais o pai em suas viagens devido à traumática viagem da primeira edição. É atacado por bandidos nas ruas, mas acaba sendo salvo por um militar, o Conde Vittorio. Ugo se torna seu novo contador, mas isso é apenas o prelúdio para uma história que seria desenvolvida nos capítulos subseqüentes. O roteiro é assinado por Gianfranco Manfredi, criador de Mágico Vento. Manfredi constrói de maneira primorosa uma narrativa com personagens fictícios


QUADRINHOS marcantes ao mesmo tempo em que é embasado em uma profunda pesquisa histórica pouco conhecida pelos brasileiros. Além de utilizar os mesmos artifícios narrativos de Mágico Vento ao incluir eventos históricos na narrativa, sem que estes pareçam artificiais. A arte é rotativa, a série apresenta em cada edição artistas diferentes, entre eles: Goran Parlov, Roberto Diso, Alessandro Nespolino e Massimo Rotundo (que além de ser responsável por algumas edições, assina todas as capas da minissérie) Depois de altos e baixos na publicação dessa série (mais baixos que altos), resta torcer para que a Panini realmente assuma a responsabilidade e finalize Face Oculta no Brasil.

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diferentes mexerem no personagem. A história começa em 29 de dezembro de 1868 em Montana, Kenneth Parker e seu irmão Bill são caçadores e vendedores de pele. Certo momento os dois são surpreendidos por um grupo de ladrões e Bill acaba sendo morto. Parker então decide se vingar e caçar os bandidos. Esse é só o início da aventura do Scout que acaba por cruzar o EUA em diversas aventuras, abordando diferentes questões sociais como a luta pelas liberdades e direitos femininos, indígenas, negros.

Ken Parker o rifle comprido

Se me perguntarem qual o maior personagem de Western dos quadrinhos eu não direi Tex ou Jonah Hex, para mim sempre será Ken Parker. O personagem foi criado na Itália em 1977 por Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo baseado no papel que Robert Redford encenou em Jeremiah Johnson de 1972. Ken Parker é um dos primeiros fumetti da editora Bonelli a desenvolver uma cronologia, isso talvez ocorra por ser menor que um Tex ou Zagor, e poucos artistas

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Seu apelido, Rifle Comprido se refere à arma que sempre está carregando, um arcabuz Kentucky, utilizado na revolução americana por seu avô. Muitas vezes ele é satirizado por utilizar uma arma tão antiga, pois a arma não é de repetição como os modernos rifles Winchester da época. No entanto, Ken Parker sempre prova o contrário devido à capacidade de tiros de longa distância altamente precisos. O personagem me chamou atenção por ele não fazer o típico Cowboy dos Westerns, ele constantemente questiona suas decisões e comete erros. O mais interessante, até por manter o sentido de continuidade cronológica é que ele aprende


QUADRINHOS com seus erros. A história termina em um especial lançado em fevereiro de 1998, que foi lançado no Brasil em 2014 pela editora Cluq. O fumetto foi publicado na Itália entre junho de 1977 e maio de 1984, mas vez ou outra surge um novo especial, como mencionado aqui no site Quadrinhos em Questão. Definitivamente não é um quadrinho esquecido, ele já foi lançado no Brasil por diversas editoras dentre as quais a Tapejara e a Mythos foram as mais recentes e chegaram a publicar a obra completa do personagem.

série clássica foi republicada em formato luxo pela Cluq/Tendência/Tapejara além das edições especiais. Além disso, a editora Mythos publicou, entre setembro de 2000 e maio de 2002, 18 números referentes a uma nova série do personagem original da Ken Parker Collezione.

A primeira aparição no Brasil foi pela editora Vecchi de novembro de 1978 até agosto de 1983 lançou as primeiras 53 edições. Em janeiro de 1990 a editora Best News lançou os números 54 e 55. Em 1994 a editora Ensaio publicou um álbum especial reunindo algumas histórias já publicadas anteriormente. A retomada do personagem ocorre em 1999 com o lançamento do álbum de luxo Príncipe para Norma pela Cluq, a partir de então a

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Dylan Dog –

o detetive do pesadelo

Quero apresentar agora um dos maiores fenômenos comerciais da Editora Bonelli, com direito a diversas edições especiais e filmes de gosto duvidoso, com vocês: Dylan Dog. O clima das aventuras é um terror urbano que, embora ocorra no mesmo universo dos outros personagens Bonellianos, o mistério e o misticismo é muito mais acentuado. O personagem é um detetive desacreditado pela polícia que investiga casos misteriosos, podemos fazer um paralelo com outra personalidade do mundo pop: Fox Mulder de Arquivo X. Ambos dedicam suas vidas para desvendar casos supostamente sem explicação e que muitas vezes terminam abruptamente sem algo que possa ser chamado de final feliz. Mas para quebrar um pouco da carga dramática, logo nas primeiras histórias foi inserido um parceiro inspirado em Groucho Marx que dispara piadas e observações que muitas vezes solucionam casos. Dylan Dog é uma serie criada em 1986 por Tiziano Sclavi e Claudio Villa, este último desenhou o personagem por 41 números até ser substituído por Angelo Stano que se encontra com o personagem até hoje. São mais de 370 números mensais lançados na Itália com estrondoso sucesso desde o princípio, atualmente perde em vendas apenas para Tex e Topolino. Embora exista certa continuidade, as histórias de Dylan Dog normalmente se encerram no próprio volume, fato que não ocorreu apenas em 16 números que tiveram suas histórias fechadas em duas publicações. Outra característica interessante é o número de páginas que pouco oscilou nesses anos, variando entre 94 e 96 páginas cada, apenas algumas edições especiais excediam essa margem.

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QUADRINHOS O característico branco e preto dos Fumetti italianos eram substituídos por edições coloridas em momentos chave. Como quando descobrimos a origem de Dylan na edição 100, publicado aqui no Brasil pela Mythos em PB no número de estréia. Os outros casos foram nos números 200, 250, 300; 121 no aniversário de 10 anos do personagem; 241 e 242 em decorrência do aniversário de 20 ano; ou motivos particulares e desconhecidos como no caso da edição 224 e a edição 131 onde temos apenas um quadro colorido. Além de uma série especial que já se encontra no décimo volume.

O personagem também já protagonizou diversas participações especiais em outras revistas do Universo Bonelli além de receber alguns visitantes ilustres. O primeiro crossover ocorreu com Martin Mystere em outubro de 1990, foi publicada aqui no Brasil entre 1991 e 1992 pela editora Record com o título Dylan Dog & Martin Mystère Especial - Última Parada: Pesadelo. Para além dos quadrinhos, podemos encontrar o personagem em jogos eletrônicos e jogos de tabuleiro. Ou se quiser

Além das páginas reservadas à história, na revista italiana existe uma seção, que aqui no Brasil foi copiada pela editora Mythos, onde o editor ou o autor conversava com os leitores. Essa parte se chamava inicialmente de Dylan Dog Horror Post e depois passou a ser conhecida por Dylan Dog Horror Club. Devido o sucesso do personagem, Dylan Dog possui diversas edições especiais que ocorrem com ou sem periodicidade, alguns são lançados anualmente outros semestralmente, ou apenas em ocasiões especiais. Estas edições sempre vêm com mais páginas e nos mais diferentes formatos ou cores: Speciale Dylan Dog, Almanacco della Paura, Maxi Dylan Dog, Dylan Dog Color Fest.

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arriscar mais, em adaptações cinematográficas e rádio novelas. Dentre as adaptações mais recentes temos Dylan Dog – o filme de 2010, este foi um fracasso de público e crítica por apresentar uma adaptação completamente descaracterizada, com Brandon Routh no papel do protagonista. No Brasil o personagem passou por três editoras: Record, Conrad e Mythos. A primeira ocorreu entre 1991 e 1992, foram 11 edições e mais dois especiais. Depois a Conrad lançou um box com seis edições selecionadas em 2004. Por fim com

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a Mythos tivemos uma série mensal com 40 edições lançadas entre julho de 2002 e fevereiro de 2006 e mais sete pequenas histórias em seis edições especiais dos personagens da Bonelli Editora. Em 2017 a editora Lorentz publicou três edições retratando períodos distintos do personagem. E agora a Mythos retoma o personagem com a mesma qualidade da Lorentz, mas 40 % mais caro. Foi programado quatro edições para este ano, porém o alto valor de capa não me deixa com muita esperança de continuidade.


QUADRINHOS

Martin Mystère o explorador do desconhecido

Personagem criado por Alfredo Castelli e desenhado por Giancarlo Alessandrini, foi publicado pela primeira vez pela Sergio Bonelli Editore em 1982. Martin Mystère é considerado uma evolução de Allan Quatermain. Sua primeira versão apareceu em 1978, Alfredo Castelli e Fabrizio Busticchio criaram o conceito do personagem e enviaram ao periódico semanal Super Gulp, da editora Mondadori, seria uma história seriada começando com a adaptação do romance as Minas do Rei Salomão de

Henry Rider Haggard. Nessa aventura, Quatermain pesquisaria uma misteriosa esfera da planície de Yucatan, alguns dos elementos que até hoje permeiam as histórias de Mystère já aparecem aqui: a menção do neandertal Java e a noiva do personagem principal, Beatriz. No entanto a revista foi descontinuada em 1980. Neste mesmo ano, os criadores ofereceram a série para a Sergio Bonelli Editore, que depois de uma reelaboração dos conceitos foi finalmente lançada em abril de 1982 com o nome de Martin Mystère. Março de 2018

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A publicação do personagem foi um sucesso desde sua primeira edição e hoje conta com edições mensais, bimestrais, diversos especiais e spin-offs. A série principal já passou dos 300 números e é considerada o ponto de ruptura entre a Bonelli clássica (Tex, Zagor, Mister No) e a moderna (Dylan Dog, Nick Raider, Nathan Never) que coloca todos os personagens dentro de um mesmo universo. Além de ser considerado o momento de maior liberdade criativa para os escritores, já que estes não precisavam mais se prender a períodos passados. Martin Mystère é um personagem polivalente, com objetivo de ampliar o leque

de possibilidades de histórias ele apresenta habilidades diversas. Oficialmente graduado em antropologia, seus amplos conhecimentos lhe permitem arriscar como historiador de arte, arqueólogo, escritor, produtor de televisão, especialista em objetos raros, entre outras especialidades. Martin Jacques Mystère tem a sede de sua agencia de investigações em Nova York e sua motivação em se tornar o Detetive do Impossível ocorreu após a morte inexplicável de seus pais em um acidente de avião no ano de 1965. Uma característica interessante que o diferencia da maioria dos personagens de quadrinhos (com exceção de Valentina, Crepax e Dick Tracy e Chester Gould) é de ele ter uma data de nascimento fixa, 26 junho de 1942. O professor Martin Jacques Mystère, que vive entre New York e Washington Mews, segue o mesmo continuum spaço-tempo do leitor e atualmente ele se tornou o velho tio Marty, com seu sobrinho continuando as aventuras. As aventuras de Martin não são solitárias, ele está sempre acompanhado de Java, um Homem de Neanderthal que é encontrado em uma cidade perdida da Mongólia e acaba se tornando seu melhor amigo. Diana Lombard, de início sua secretária, mas que no desenvolver da história se torna noiva e depois esposa. E os inimigos recorrentes como Serguej Orloff, um velho amigo de Martin que se torna seu principal nêmeses. Os Homens de Preto, fortemente inspira-

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QUADRINHOS do no MIB americano são uma organização secreta poderosa que tenta evitar que o mundo tenha conhecimento das antigas civilizações de Atlântida e Mu. No entanto há muito mais aliados e inimigos que surgem no decorrer da série. Além disso, por participar do mesmo universo narrativo de outros personagens bonellianos, existe uma versão robótica de Martin Mystère que vive no mesmo universo futurista de Nathan Never. Essa versão foi obra de outro vilão de Mystère, Mister Jinx que sempre buscou a imortalidade através das ciências ocultas e pactos com o demônio, acaba sendo responsável por transferir a mente do herói para uma máquina, resultando nessa variante do futuro. Outros personagens que aparecem no futuro de Never é a organização secreta dos Homens de Preto, esta pretendendo proteger a antiga tecnologia Atlante da humanidade que ainda não estaria preparada para utilizá-la.

entre 1991 e 2011 contando histórias inéditas, um prequel da série em quadrinhos e no futuro de Nathan Never. Foram três jogos eletrônicos, dois para computador e um para Nintendo DS. Um suplemento para o RPG do Dylan Dog. Quadrinhos digitais, sendo a primeira tentativa feita em 1997 com a obra feita para CD-ROM. E por fim, a versão animada feita em 2004 pelo canal francês M6, esta tem 40 episódio e conta as histórias de Martin de forma mais infantil, rejuvenescendo os personagens e desenhada em estilo animê. No Brasil as histórias de Martin Mistère foram publicas por diversas editoras: Rio Gráfica, que depois se tornou a editora Globo, entre 1986 e 1988 publicou 13 números; a editora Record lançou 18 números no formato original dos Fumetti entre 1990 e 1992; e por fim a editora Mythos lançou entre 42 edições entre 2002 e 2006. E este ano a mesma editora retoma o personagem com mais quatro revistas.

É interessante pontuar que o personagem Allan Quartermain faz uma participação especial nos números 112 e 113 publicados em julho e agosto de 1991. Nessa história conhecemos também a origem de Java. Como um personagem de sucesso era de se esperar que ele extrapolasse sua existência quadrinhística. Foram seis romances publicados

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Nathan Never Agente Especial Alfa Ambientado em um futuro distópico, mais de 150 anos a frente de nosso tempo acompanhamos as aventuras de Nathan Never, um ex-militar da Marinha Espacial. Sua origem é conturbada, mas a conhecemos aos poucos por meio dos flashbacks que nos são apresentados com o passar das edições. Seu desenvolvimento até o presente é marcado pela perda de diversos entes queridos. No entanto, a infância transcorre de forma relativamente calma e muito mais simples, seu nascimento ocorre em Gadalas, uma região afastada dos grandes centros que ainda preserva um ar bucólico. Mesmo assim Never desde criança demonstra a ambição de desbravar o espaço. Um dos pontos mais interessantes é as diversas referências à Ficção Científica, desde sua origem vemos que o personagem deve muito aos clássicos do Sci-Fi. Em sua infância vemos uma alusão ao personagem principal de Tropas Estelares de Robert A. Heinlein, 1959. Enquanto que em sua aparência e trejeitos depois de adulto, percebemos em Nathan Never a presença marcante do personagem Rick Deckard, interpretado por Harrison Ford no filme Blade Runner - o caçador de andróides. A barba por fazer e o sobre-tudo, o mau humor e o trabalho de investigador deve muito à obra de Ridley Scott (1982), que por sua vez se inspirou em um conto de 1968 de um dos pilares da Ficção Cientifica Philip K.Dick. Outro marco que vale a pena ressaltar é que Nathan Never é o primeiro fumetto

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QUADRINHOS da editora Bonelli a explorar o gênero da ficção cientifica. Idealizado por Michele Medda, Antonio Serra e Bepi Vigna, sua publicação começou em 1991 no álbum Agente Speciale Alfa. E na primeira história vemos o desenvolvimento de um universo que conquistaria os fãs do gênero era desenvolvida uma interessante história sobre o livre arbítrio a partir das três leis da robótica de Asimov. O os três criadores do personagem já haviam trabalhado com outros personagens da editora antes de conseguirem lançar algo próprio. Embora não fossem a equipe principal, escreveram historias para os personagens Martin Mystere e Dylan Dog desde 1985. Embora tenha suas histórias ambientadas no futuro, pertence ao mesmo universo narrativo de Zagor, Mister No, Martin Mystere e Dylan Dog, situação já mencionada em artigos passados. A maior diferença com a maioria das outras histórias do universo Bonelli é que esta apresenta uma forte dependência da continuidade narrativa, assim como as histórias de Dampyr.

entre a Terra e Marte; e a saga de Nemo, que avança ainda mais a cronologia, nela os protagonistas são Ann Never (neta de Nathan) e Nemo (clone de Nathan) e enfrentam os tecnodroides, clara inspiração nos Borgs de Star Trek. No Brasil a editora Globo publicou as oito primeiras edições entre novembro de 1991 e junho de 1992, mais um especial de 18 páginas em novembro de 1993. A editora Mythos publicou apenas uma história curta no álbum Seleção Tex e os Aventureiros em fevereiro de 2005. E por fim em maio e junho de 2005 a editora Ediouro lançou dois números do personagem. É mais uma que a Mythos trará quatro edições neste ano dando continuidade às edições publicadas pela Globo.

A série é publicada na Itália até hoje e já atingiu mais de 320 números, lançados mensalmente desde junho de 1990. Até o momento, a história pode ser dividida em seis grandes sagas: A saga de Atlâtida, onde temos o primeiro crossover com outro personagem da editora próximo da conclusão, uma parceria com Martin Mystere; a saga Alfa; a Guerra da Terra contra a Estação Orbital, livremente inspirado no anime Gundam; a saga Espaço-temporal, que estreia uma nova estrutura narrativa à série; A Guerra dos Mundos, uma guerra

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Nick Raider Divisão de Homicídios Seguindo uma linha noir anos 90, vamos conhecer Nick Raider, um detetive do esquadrão de homicídios da cidade de Nova York. Este personagem é uma homenagem direta a outra personalidade do mundo Bonelliano, o ranger e herói Tex. Seu trabalho se resume a resolver casos mais complicados dos quais outros policiais não tem sucesso. O personagem aparece pela primeira vez em uma revista própria em junho de 1988 graças a Claudio Nizzi. Nick Raider conquistou fãs instantaneamente, o que o permitiu atravessar a década de 1990 e atingir a marca de 200 números mensais em janeiro de 2005, infelizmente ela perdeu leitores nos primeiros anos do século XXI e foi descontinuado por baixas vendas. Porém, o personagem não foi esquecido, em dezembro do ano seguinte saiu uma mini-série em quatro números. E mesmo sem uma série mensal, o detetive continuou com histórias inéditas no título anual Almanacco Del Giallo. Este quadrinho mistura as atmosferas do thriller e romance policial com o noir. Tal mistura que pode ser vista nos cinemas da década de 1970, e é bem retratada pela arte de Giampiero Casertano, o desenhista das primeiras histórias do personagem e que foram publicadas no Brasil. Seu traço é firme e aliado a uma narrativa gráfica dinâmica, desta forma consegue reunir estes elementos clássicos da

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QUADRINHOS narrativa policial e explorar os freqüentes tiroteios e emocionantes perseguições de carros dos anos 70. Acompanhamos então Nick Raider, um investigador da divisão de homicídios do esquadrão de Nova York. O personagem está sempre acompanhado de Marvin Brown, declaradamente baseado no astro de filmes policiais dos anos 80 Eddie Murphy. Além de uma vasta galeria de coadjuvantes, uns mais recorrentes que outros como seu mentor Arthur Rayan; o informante anão Alfie; ou a jornalista Violet McGraw. Uma curiosidade interessante é que Raider é descendente de italianos, seus avôs teriam chegado aos EUA em 1928, diferente da maior parte dos personagens da editora que não tem nenhuma ligação de parentesco com a Italia.

a editora Mythos trouxe Raider mais uma vez, agora em formato menor, foram publicadas 16 edições entre agosto de 2002 e fevereiro de 2004, além de alguns especiais. Infelizmente também foi descontinuado devido às baixas vendas e mais uma vez ficamos órfãos das revistas da Bonelli Comics. No entanto, este não é um dos títulos resgatados pela Mythos este ano.

No Brasil, como não poderia ser diferente o detetive Nick Raider teve uma trajetória turbulenta passando por duas editoras: Record e Mythos. A editora Record trouxe o personagem poucos anos após seu lançamento em 1991, infelizmente a série durou apenas 10 números e foi cancelada no ano seguinte. Mas merece o destaque por trazer a série na mesma ordem cronológica e no formato original das revistas italianas (12 x 17cm), um intermediário entre os formatinhos brasileiros e o formato americano. Dez anos depois,

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o herói

Mister No, ítalo -americano -brasileiro

Quem disse que a Bonelli não tem aventuras no Brasil? Com vocês as aventuras de Jerry Drake, o Mister No. Criado em junho de 1975 para uma mini-série em apenas cinco partes, devido ao grande sucesso sua revista durou 379 números na Itália, terminando apenas em dezembro de 2006. A série ainda teve uma sobrevida em edições especiais, foram mais cinco números semestrais, mas por fim acabou sendo cancelado em 2009 devido às baixas vendas. Embora já tenha terminado, ela foi muito importante para a editora começar a explorar outras temáticas além das consagradas histórias do velho-oeste. No fim de 2017 boatos davam conta da retomada do personagem na Itália e isso se confirmou neste ano de 2018 com novas aventuras programadas. Criado pelo próprio Sergio Bonelli sob o pseudônimo de Guido Nolitta, No foi o primeiro quadrinho da editora a não se passar no ambiente wester. A história transcorre entre as décadas de 1950 e 1960 com as histórias concentradas principalmente em Manaus (isso mesmo, Manaus, Brasil). Nestas histórias acompanhamos a vida de um ex-soldado americano, Jerry Drake, que se refugia na cidade em busca de paz depois de viver os horrores da Segunda Guerra Mundial. Nas primeiras edições temos Drake trabalhando na capital amazônica em uma agência de turismo como piloto. No entanto, suas habilidades de combatente são sempre requisitadas, bem como as capacidades investigativas que ele usa para desvendar diversos mistérios locais. Diversos personagens secundários acompanham a jornada de Drake, mas vale destacar a presença do alemão Otto Kruger, eles se conheceram em São Luis e acabam se tornando melhores amigos. Otto foi apelidado EsseEsse (SS) pelos brasileiros por causa de seu passado como um oficial do exército alemão nazista. Jerry, assim

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QUADRINHOS como Esse-Esse, é um homem preguiçoso e sempre freqüenta o bar do Paulo Adolfo, bebendo cachaça e flertando com as mulheres, por isso muitas vezes se envolve em problemas. Outro personagem que aparece com freqüência é a arqueóloga de Nova York Patricia Rowland. Além dos personagens recorrentes, Mister No encontra diversas personalidades da época: Ronald Reagan, John Wayne, Keith Carradine, Thomas Mitchell, Claire Trevor, o jovem Che Guevara, John Ford. E algumas liberdades anacrônicas como a aparição de Dustin Hoffman. Empolgantes crossovers com outras figuras do universo boneliano como um caso que resolveu em parceria de Martin Mistery ou a aparição de seu neto na aventura futurista de Nathan Never. Uma interessante versão do personagem apareceu na revista italiana número 172 do Pato Donald, o qual Mister No tem sua versão Disney, ela foi publicada em outubro de 1994 na Itália e acredito que não tenha sido lançada no Brasil.

Estados Unidos; e Ásia, da edição 326 até 341. Sempre bem ambientado entre os anos de 1951 e 1969, vemos apenas uma edição especial, a número 295, que se passa em Manaus no ano 2000. No Brasil tivemos várias tentativas de publicação, mas nenhuma se manteve por muito tempo. Ainda nos anos 70 a editora Noblet publicou oito edições, esta sem autorização da Sergio Bonelli Editore. Na década de 1990 foi a vez da editora Record lançar 20 números. E por fim, a editora Mythos publicou 24 números mensais e mais seis histórias na revista Seleção Tex e os Aventureiros entre agosto de 2002 e dezembro de 2005.

Embora muitas das aventuras de Mister No ocorrem no Brasil, há várias edições que se passam em outros países da América Latina, América do Norte, Europa, África e Ásia. Em especial vale ressaltar que além das aventuras esporádicas em outras paragens, Mister No se transfere temporariamente para África entre as edições 167 e 196; Nova York nos números 241 à 272, com uma viagem pelos

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Mágico Vento

Magia

e xamanismo

Para finalizar as resenhas das revistas Bonelli, não completamente, pois ainda falta falar de Tex, Zagor, Júlia, entre muitos outros, mas focando nas séries retomadas pelas editoras brasileiras. Com vocês uma das únicas séries já publicadas completas aqui no Brasil, que agora recebeu um tratamento de luxo pela mesma editora: com vocês a edição remasterizada, colorida e que reúne duas edições em apenas uma, estou falando de Mágico Vento de Gianfranco Manfredi. Uma característica padrão das histórias da Bonelli é o desapego cronológico, no geral cada edição funciona de forma independente com uma ou outra edição fornecendo elementos mais perenes. Poucas séries possuem uma carga cronológica maior como Dampyr, Ken Parker ou Mágico Vento. Dessa forma, a primeira edição desses personagens funciona como histórias de origem que podem receber acréscimos e retcons futuros, mas em geral, os elementos fundamentais são sempre apresentados logo de cara. O primeiro volume nos conta a origem do personagem e suas primeiras aventuras. Descobrimos que o Mágico Vento é praticamente a criação de um velho xamã Sioux que ao resgatar um homem branco de um acidente de trem, o leva para sua aldeia e molda-o com intenção de treiná-lo nas artes místicas da medicina e premonição. Em seguida, viajamos para três anos no futuro para conhecer um jornalista que

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QUADRINHOS resolve investigar um acidente ferroviário envolto em mistério e as consequências para a linha que foi desativada. Problemas envolvendo especulação imobiliária e enriquecimento ilícito motivam o jornalista a seguir em frente mesmo à revelia do chefe. Trata-se de uma série grande, foram 131 edições, que agora, lançadas de duas em duas, devem chegar a pelo menos 65 números. Infelizmente foi decidido por colocar um alto valor de capa, e isso vai dificultar bastante aos colecionadores completarem sua coleção. Foi previsto duas edições para este ano, ou seja, chegaremos apenas ao número 6 de 131, a perspectiva dessa série chegar ao fim? Não nessa geração.

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w

Você não tem

O filme de terror social dirigido por Jordan Peele e estrelado por Daniel Kaluuya sur muitos supremacistas norte americanos e racistas em geral inicia o ano de 2018 coleci Original. Uma produção de gênero que tem muto a falar sobre a nossa sociedade e nin

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FILMES

m como fugir!!!

preendeu público e crítica no inicio de 2017. Um tema incomodo, um tapa na cara de ionando prêmios e encerra a temporada sendo coroado com o Oscar de melhor Roteiro nguém mais tem como fugir dele.

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Ninguém se assume preconceituoso até que se encontre em uma situação que esse preconceito venha à tona. E em uma sociedade individualista e conservadora como a nossa é comum que isso exista em todas as esferas sociais, no entanto ser comum não quer dizer aceitável e é dever de cada um lutar diariamente contra essas ideias de superioridade e inferioridade em relação à outra etnia, gênero, estrato social. No entanto, às vezes estamos tão imersos nesse universo que não percebemos o quanto algumas palavras “inocentes” podem incomodar outras pessoas. Corra é um filme que escancara esse triste cenário e joga na cara do espectador vários preconceitos de origem étnicas que assistimos no dia-a-dia.

Com elementos surrelalistas, Jordan Peele expressa o preconceito racial de nossa sociedade, sem que muitos dos racistas percebam.

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O início do filme eu me incomodei por achar todas as relações apresentadas um tanto óbvias de mais, não sabia se era proposital ou estava influenciado por um trailer que havia contado muito sobre a trama. Logo percebi que se tratava de uma estratégia do diretor (Jordan Peele )de não tentar esconder aquilo que pretendia discutir, principalmente o preconceito racial... Tudo parece meio forçado, as relações, os acontecimentos, as situações que o Chris (Daniel Kaluuya) se envolve esse estranhamento é sentido não apenas pelo espectador, como também pelo personagem. O filme começa com Chris e Rose (Allison Williams) conversando sobre o primeiro fim de semana do casal com os pais da garota. A conversa se desenvolve sem rodeios para o fato de Chris ser negro e Rose branca e de uma família rica. A garota acalma o namorado falando como sua família não é preconceituosa, “até acham que o Obama foi um bom


FILMES presidente”. Sabe aquele “mas” que sempre acompanha a frase de certas pessoas que não querem ser identificadas como preconceituosas? Pois é, é só a primeira de uma série que comprova não ser simplesmente fruto de um roteiro mal escrito. Com cerca de 30 min de filme, tudo muda, o realismo dá lugar a elementos bizarros proporcionado por uma sessão de hipnotismo feita pela mãe da namorada do protagonista. Depois de uma cena surreal, envolvendo memórias de infância e se Chris se afogando no nada absoluto, amanhece como se nada tivesse acontecido e o resto da família começa a chegar para uma suposta festa anual que Rose tinha esquecido que seria aquele fim de semana. Temos então aquele show de frases associando a etnia de Chris como bons esportistas naturais, ou destacando o desempenho sexual, colocando-o no centro das atenções.

E a partir daqui deixo para o leitor apreciar o filme e elaborar as próprias teorias. É um filme intenso, mas simples em sua narrativa. Um terror social que provoca a sociedade sem se apoiar em grafismos fáceis nem apenas apontando o dedo a preconceitos já esperados. O filme na realidade subverte esses preconceitos até torná-los inveja, o querer ter aquelas características físicas consideradas superiores. Não deixa de tratar o negro como uma coisa a ser possuída, uma analogia clara à escravidão, mas entra num subtexto ainda mais complexo ao transformar o senhor branco em alguém que gostaria de se tornar além de possuir.

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