Suárez, a mitologia da “Transiçom” e os movimentos do regime 3
Podemos, think tank espanhol 4
Leninismo e libertaçom nacional 5-6
A independência da Catalunha 7
Maurício Castro
Xose Lombao
Miguel Ramos Cuba
Extraterrestres 8
Anjo Torres Cortiço
Iago Barros
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Ano XIX | Nº 73 Terceira jeira | Julho, agosto e setembro de 2014
Quadro galego de luita e pólo patriótico rupturista
EDITORIAL O
s resultados eleitorais das europeias de maio constatárom a dimensom da crise de legitimidade do regime espanhol emanado da Constituiçom de 1978. A perda da maioria eleitoral dos dous partidos do bipartidarismo bicéfalo provocou enorme preocupaçom entre os poderes fáticos, que vírom em risco o modelo vigorante nas últimas quatro décadas. Como saltárom as alarmes a bloco oligárquico, optou por implementar umha das opçons que há anos reservava, com o intuito de perpetuar o capitalismo espanhol: mudar o desgastado chefe de Estado nomeado diretamente por Franco. Contrariamente aos desejos de Juan Carlos, que se negou voluntariamente a abdicar, as empresas do Ibex 35 e o Clube Bilderberg optárom por cessá-lo fulminantemente como melhor forma de cortar momentaneamente a hemorragia da perda de mais de 5 milhons de votos polo PP e o PSOE. Sendo umha decisom com certos riscos, os resultados até o momento fôrom satisfatórios para o regime. O debate republicano ocupou durante semanas a atençom pública como nunca tinha acontecido, mesmo superando a etapa da transiçom, mas em negum momento se configurou um movimento de massas que na rua pugesse em perigo a débil estabilidade do Estado espanhol. Para que o sistema caia, nom chega que se corcoma internamente por um conjunto de crises parciais que concatenadas adotam a forma de multicrise estrutural. O sistema por ele só nom vai ruir. Há que tombá-lo, mas isto só é possível combinando a existência de forças organizadas dispostas a fazê-lo e massas na rua a luitar com decisom por idêntico objetivo. De momento, as organizaçons revolucionárias ainda nom atingimos a dimensom imprescindível para contribuir para a queda do sistema e o grau de consciência social, em constante desenvolvimento face posiçons antagónicas com os falsos consensos impostos polo pós-franquismo, ainda está muito afastada do mínimo pata-
mar que permita transitar da desafetaçom com a casta cleptocrática para posiçons rupturistas. Nom podemos desconsiderar que o debate “monarquia versus república”, que acompanhou a abdicaçom do caçador de elefantes e a proclamaçom do seu filho, foi promovido por umha das organizaçons do regime. PCE/IU jogou um rol determinante no lifting do franquismo e na imposiçom dos acordos que permitírom transitar da ditadura franquista para a atual monarquia constitucional. Em nengum momento, os de Cayo Lara nem AGE, –a sua sucursal autóctone–, pretendêrom a queda da monarquia. O reformismo espanhol só buscou estruturar e alargar a sua base social, abrir contradiçons no PSOE, e ressituar-se eleitoral e institucionalmente num sistema que nom pretende transformar.
Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista Galega hegemonia do paradigma estatal nas redes sociais alimentam a espanholizaçom da luita. As chaves madrilenas som cada vez mais fortes e mais difíceis de combater pola perda de vitalidade do nacionalismo e pola incapacidade da esquerda independentista de incidir e alargar o seu espaço sociopolítico.
do capitalismo espanhol optou por fomentar, através do seu potente aparelho mediático, umha substituiçom ordenada do espaço que parcialmente até o momento vinha ocupando o PSOE, mediante a promoçom dumha figura carismática com um discurso suge-
Crise política do regime promove novo rosto eleitoral
A
aceleraçom da crise do PSOE é umha das principais conseqüências do 25 de maio. O principal partido do regime, essencial para garantir a sua estabilidade evitando a sua descomposiçom, perdeu a legitimidade social e mais de dous milhons e meios de votos, e basicamente as possibilidades de umha recomposiçom a meio prazo. E o ascenso de IU foi freado de raiz polo fenómeno Podemos. O partido dirigido a partir da torre de marfim dumha universidade madrilena e liderado por um telepredicador alterou o mapa político institucional espanhol, mas também galego. Umha das expressons da crise de um regime é a deceçom que gera entre setores sociais que até o momento vinham apoiando o sistema enquanto beneficiários. A grave crise económica nom só afeta com intensidade a classe operária e as camadas populares, também golpeia setores intermédios que estám a experimentar um progressivo processo de proletarizaçom. A deceçom abrolha e, após um período de confusom e perplexidade, exprimida no abstencionismo ou difusamente canalizada polo 15M, adota forma política. Consciente de que nas situaçons excecionais é necessário tomar decisons com certas doses de risco, parte
rente e aparentemente rupturista, mas perfeitamente integrável na lógica sistémica, que cumpra a funçom de anestesiante social e evite o deslocamento do desassossego para posiçons rupturistas.
Unidade patriótica face avanço da esquerda espanholista na Galiza
O
utra das conseqüências das eleiçons europeias é o avanço do espanholismo de esquerda no nosso país. As causas nom se podem achar na conjuntura imediata. Devemos entender o preocupante fenómeno em curso como resultado da açom combinada de factores objetivos e subjetivos com fundamentos históricos. A traumática entrada forçada da Galiza na CEE –antecendente da atual UE– provocou a desfeita do mundo rural e um golpe demolidor
ao marinheiro, destruindo boa parte das bases materiais e sociais da etnicidade galega e, portanto, do projeto nacional, facilitando assim a acelaraçom do pocesso de assimilaçom que o imperialismo espanhol leva séculos a tentar impor. As erráticas políticas ensaiadas de forma contraditória polo nacionalismo galego desde a década dos noventa do século passado, agudizadas com um prolongado período de convulsom após o continuísta governo bipartido que cristaliza na cisom do BNG de 2012, contribuírom para a sua perda de credibilidade e identificaçom com posiçons sistémicas entre os novos setores sociais emergentes, que hoje som ativos na luita política e social contra o regime, especialmente entre a juventude. A assimilaçom que o ensino e os meios de comunicaçom fomentam, a
A curta perspetiva do período trasncorrido já permite caraterizar de traiçom o abandono do quadro nacional de luita e a renuncia à auto-organizaçom nacional de parte do corpo organizado das forças patrióticas que entregárom em bandeja de prata a direçom política do movimento de massas ao espanholismo. Após ter perdido, na segunda metade da década dos setenta do século XX, a hegemonia na orientaçom das luitas sociais, o PCE, agora da mao do beirismo, como água de maio, recuperou a capacidade de incidir na luita sociopolítica galega. E, seguindo a sua pior tradiçom chauvinista, converte-se num agente ativo na destruiçom do projeto nacional à medida que vai influindo nos conflitos sociais, transladando chaves foráneas e empoleirando-se no poder institucional. A única forma de fazermos frente a este preocupante fenónemo é erradicar da prática e da lógica sociopolítica do conjunto do movimento soberanista galego os complexos e timoratismos inoculados durante décadas em boa parte da sua militáncia. É preciso dar passos firmes e claros na unidade de açom do conjunto das forças polí-