conferência sobre a aldeia da luz arquitecto pedro pacheco
A aldeia da Luz é talvez um dos casos mais paradoxais e ambíguos que podemos testemunhar, uma aldeia situada num território com uma cultura própria, uma cultura que se baseia na apropriação de um espaço e no tempo. Agora a grande questão: uma barragem que vai ocupar o território da aldeia, para onde e como se “transporta” uma aldeia, com toda a sua população e cultura para um novo território? Se o lugar é uma apropriação do homem no território, que no fundo o homem atribui certos atributos que vão caracterizar o lugar, a identidade e a memória são fenómenos da interacção do homem no espaço e no tempo. Será que se pode replicar estes fenómenos? Não serão estes únicos, que dependem de muitas variáveis e que tornam o lugar demasiado complexo para se poder replicar?
Foi lançado um concurso de ideias para uma nova aldeia da luz, Pedro Pacheco fica em 3ºlugar, mas mais tarde propõe-se um concurso para os equipamentos, Pedro Pacheco ganha o concurso para a zona que engloba a igreja, o cemitério e um novo museu para a aldeia. Esta zona situa-se fora da aldeia, formando um triângulo, um espaço sagrado e profano, vivendo desta dualidade. Para a igreja a intenção é nítida, replicar com processos de remoção e transporte dos materiais da antiga para a nova, visto ser uma grande referência para a população, assumiu-se um propósito de apaziguamento e uma tentativa de manter uma memória que as águas vão fazer desaparecer. Parece o último reduto, o último ícone e local sagrado que resta da antiga aldeia, acaba por ser o espaço de memória para a população. O cemitério segue as mesma premissas da igreja, apesar da introdução de novos elementos e uma nova configuração para prevenir um futuro, faz-se uma transladação dos túmulos respeitando as suas localizações, para não se perder a orientação espacial e referencial, para que seja reconhecível. O museu é um novo elemento, os objectivos para este novo espaço são novamente de apaziguamento, inserido na paisagem e na topografia do território, nota-se um “receio” em romper com as vontades da população local.
Apesar dos esforços em inserir a nova aldeia, conotando-a com as referências existentes, como enfiamentos visuais e a topografia semelhante à antiga, nada disto pode substituir o sentimento de lugar, de pertença da antiga aldeia.