conferência “facto e ficção em arquitectura” susana oliveira
Quando assisti a esta conferência e ouvi a Susana Oliveira, imediatamente a minha memória viajou para a conferência “Once upon a place”, na qual a Susana foi uma das organizadoras. Lembro-me que a grande questão que ficou a pairar no ar, como uma interrogação à espera de ser respondida: Qual a fronteira entre a ficção e a realidade em arquitectura? A distinção entre estas duas é difusa, quantas vezes no discurso de arquitectos aparecem afirmações, em que determinado objecto de arquitectura fora influenciado por um filme ou por um livro de ficção. Por vezes ficamos sem saber se a ficção influencia a realidade ou o contrário, ou que dependem uma da outra, que se confundem e se imiscuem, como uma teia na história. Será que as representações afectam a realidade? A forma segue a ficção? É a ficção, um escape? Quantas interrogações e questões problematizam a nossa percepção e maneira de encarar a dualidade ficção-realidade. Quando olhamos para trás no tempo para a obra do autor Julio Verne e vemos a ficção a transformar-se em realidade, isto leva-nos a pensar que o nosso imaginário pode ser ficção mas também realidade, pode ser uma questão de espaço e tempo. A ambiguidade entre a familiaridade e a não-familiaridade nas “casas assombradas”, representa esse paradigma da ficção e realidade em arquitectura, que uma casa abandonada assume uma representação não familiar, com todas as suas formas alterados pelo tempo, espaços vazios e portadas a cair, nos remetem para a ficção, para um tempo que não o nosso, e é isso que a torna “assombrada”. Mesmo nas cidades todos mitos que são criados, derivam de manifestações próprias de espaços na cidade que nos são não-familiares, como becos escuros ou fábricas abandonadas, estes representam o intemporal, o invisível, o intangível, todas as noções não-familiares, e a sensação torna-se ficcional.