Eisenman

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Diagram: An Original Scene of Writing Peter Eisenman

Peter Eisenman começa por argumentar que o diagrama, é tão antigo como a arquitetura, mas o verdadeiro inicio começa com o trabalho da malha dos nove-quadrados de Rudolf Wittkower, sobre as villas de Palladio, nos finais dos anos 40. Realmente Eisenman vai basear o seu trabalho no diagrama dos novequadrados desenvolvido principalmente por Colin Rowe nos ateliers de John Hedjuk, seguimento da análise desenvolvida por Wittkower. O diagrama pode ser compreendido por duas maneiras: como um instrumento explicativo de análise e como um instrumento gerador. O diagrama não é apenas uma explicação, como algo que vem depois, mas também atua como um intermediário no processo generativo do espaço e tempo reais. Acima de tudo o diagrama é um método de pensamento que explora e experimenta no espaço e no tempo, relacionando as formas e os eventos. Jacques Derrida qualifica o evento como uma singularidade irrepetível que carrega nela a invenção. É no interior do pensamento pós-estruturalista que igualmente se monta a equação entre o evento e a repetição maquínica como geradores de um processo de diferenciação. Para Gilles Deleuze o diagrama é uma emergência de um outro mundo, a possibilidade do facto, não o facto em si mesmo. O diagrama assume um novo papel, um papel caracterizado pelo generativo, como uma força geradora potenciada pelo suporte digital, por uma máquina digital, o computador, liberto de memória e condicionantes humanas, baseada parcialmente pelas teorias de Deleuze, este afirma que o diagrama é um conjunto flexível de relações entre forças, ele forma sistemas físicos instáveis que estão em perpétuo desequilíbrio. Deleuze afirma que o diagrama não é uma auditoria visual, mas um mapa, uma cartografia que coexiste com as forças sociais, é uma máquina abstrata. Robert Somol ressalta três pontos: primeiro a abordagem formalista, que caracteriza o modo de análise e produção da forma e do espaço. Segundo, a própria conceptualização do diagrama. O terceiro e último, a antecipação da relação da génese da arquitetura com o suporte digital. Somol diz que procura um caminho alternativo para lidar com a história da arquitetura, um que não se encontra na semelhança e no retorno às origens, mas um que se torna uma emergência da diferença. Para compreendermos a posição teórica de Eisenman, temos de perceber a posição de Bernard Tschumi, que se centra nos eventos transformacionais do espaço ao invés da forma, como Eisenman faz. Para Tschumi, evento e repetição compõe o processo de diferenciação apenas pela intertextualidade, a possibilidade das determinações de heteronomia de uma autonomia abstrata prévia, é a de uma autonomia conquistada, não para a arquitetura, mas para a que o sujeito, conquista pelo evento no processo da experiência do espaço. Tschumi investiga formas diagramáticas que introduzem a ordem de experiência do espaço e do tempo, em oposição à forma. Um ponto fulcral no estudo teórico diagramático de Eisenman, é a memória, este introduz as teorias de Derrida sobre a escrita e faz uma análise desta com a arquitetura. Derrida afirma que a ideia da escrita como uma abertura para a presença pura, para Derrida a escrita é a condição da memória reprimida, é também a repressão daquilo que ameaça a presença. Eisenman afirma que a anterioridade e interioridade da arquitetura podem ser vistas como a soma das repressões. Estas noções de anterioridade e interioridade são assumidas como inerentes à arquitetura, como se fosse uma memória, uma consciência latente na arquitetura. Eisenman argumenta que uma maneira para ultrapassarmos a memória, é o uso de instrumentos mnemónicos. Percebe-


se este argumento que leva à utilização do espaço virtual, como espaço sem referência ou memória, o diagrama não contém nele próprio, o processo para ultrapassar a repressão, mas permite ao autor ultrapassar e aceder à história do discurso, enquanto ultrapassa simultaneamente a sua resistência física. Como acreditam Berkel e Bos, o papel do diagrama generativo é gerar ideais e procurar inspiração em algo que ainda se encontrava num estado puramente organizacional, ao invés de iconográfico ou metafórico e que representa um forte potencial conceptual, os seus significados não são fixos e representativos, nem podem ter uma lógica linear, supõem a formulação de possibilidades no espaço e no tempo. Eisenman leva-nos para uma perspetiva do diagrama que passa por uma lógica digital, como instrumento que interpreta dados através de computadores livres de memória, onde reina o aleatório, como se tratasse de um jogo com regras, mas com possibilidades infinitas. O conceito de arquiteto como construtor de instrumentos (diagramas), que crie regras que o sistema adere para depois levar o sistema a crescer e a evoluir, criar formas generativas, calcular algoritmos que governam um sistema emergente através de computadores, é a premissa de problematização dos nossos dias. O trabalho de Marcos Novak explora as fronteiras que as tecnologias digitas possibilitam, o habitar o espaço virtual é agora um importante problema no discurso da arquitetura. A maioria do trabalho de Novak é conceptual e vai para além da compreensão da maioria das pessoas, porém, são a criação de espaços virtuais que diminuem as fronteiras entre o mundo real e o virtual. Greg Lynn leva mais além o suporte digital, a partir do conceito de “formas animadas”, definido pelo movimento e força no momento da conceção formal através de softwares 3D. Lynn concebe a forma como um mediador, no qual atuam a força e o movimento dando um outro carácter à forma, surgindo derivações através de uma sequência animada da forma: evolução. A forma torna-se num frame no espaço e no tempo. Lars Spuybroek considera no processo diagramático, a coexistência de eventos programáticos com outros mais fluidos, os eventos e os movimentos no espaço com toda a sua complexidade, são cartografados pelo diagrama, potenciando a afirmação de Spuybroek, de que “a arquitetura foi a primeira máquina a conectar o comportamento e Acão ao tempo”. Nadir Afonso diz que encontra uma beleza matemática nas suas obras de pintura, mas também afirma que não a consegue explicar, ou seja não consegue racionalizar cada gesto, apesar do resultado final lhe parecer matemático.

Referências Eisenman, Peter, (1999). Diagram Diaries. Thames & Hudson Ltd. Londres. Ferrara, Lucrécia, (2006). Tese de doutoramento: Diagramas digitais. FAU USP. São Paulo. Lacombe, Octávio, (2007). O diagrama fundamental. Lynn, G., Rocher, I, (2004). Calculus-Based Form: An Interview with Greg Lynn. In Folding with Architecture Magazine. Sepúlveda, José, (2009). Dissertação de Mestrado: Sistemas Diagramáticos. Universidade do Porto Sperling, David, (2008). XIV Convención Científica del Ingeniería y Arquitectura.


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