ProjetoPack em revista - Edição 59

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TECNOLOGIA, DESIGN, GESTÃO DE EMBALAGENS FLEXÍVEIS, RÓTULOS E IMPRESSÃO

ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO Internet das Coisas Impressão 3D Personalização em massa Nanotecnologia Biomateriais Design inclusivo E outras tendências que estão afetando o nosso mercado!

O mercado de embalagens foi bastante consolidado mundialmente em 2016. O que esperar de 2017? - Pág. 44


20 anos

Beta 8

Beta 8

Impressora flexográfica

• Set up rapidíssimo (sistema sleeve). • Estrutura do grupo impressor fechada (tipo monobloco). • Camisa porta clichê. • Camisa anilox. • Fusos de esfera pré-carregado e guias lineares que garantem altíssima precisão das unidades de impressão. • CNC para posicionamento dos cilindros do grupo impressor com acionamento por servomotor com encoder absoluto. • Sistema “Gearless” (sem engrenagem) com motor principal montado no eixo do cilindro central. • Sistema “doctor blade” com posicionamento automático e revestimento antiaderente. • Troca automática de bobinas na entrada e saída dotadas de elevador para posicionamento e descarga das bobinas. • Altíssimo controle de tensão do filme mediante controle por células de carga, eixo eletrônico, balancim e “taper tension” nas diversas unidades da impressora.

• Tela de comando de 15 pol. e sensível ao toque. • Secagem final e entre cores de altíssimo rendimento podendo se fornecido por aquecimento elétrico ou a gás. • Cilindro central e calandra dupla de saída dotadas de sistema para refrigeração do liquido refrigerante. • Central eletroeletrônica montada em container climatizado. • Lubrificação centralizada automática e pré- programada. • Botoeira moveis sem fios. • Gerenciador de produção. • Sistema de vídeo inspeção com auto registro. • Sistema de controle automático de viscosidade. • Assistência técnica remota via internet.

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/// SUMÁRIO

ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017 - 3


/// Editorial

Aislan Baer

Grande parte dos problemas do nosso país (e das nossas empresas) se resume à “falta

Editor Chefe

de cultura”. Essa suposta ausência acarretaria, dentre tantas outras implicações negativas, na

Sócio-diretor da ProjetoPack &

supressão de uma identidade nacional ou no sentido de unidade de um grupo qualquer.

Associados e editor da ProjetoPack em Revista. Atua há mais de 15

Existem incontáveis acepções para a palavra cultura. Uma das mais recorrentes e de

anos na área de embalagens

âmbito generalista foi formulada pelo antropólogo britânico Edward Burnett Tylor, um

flexíveis, rótulos e impressão,

autêntico representante do evolucionismo social: “cultura é todo aquele complexo que inclui

ministrando cursos, palestras e

o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e

consultoria por todo o hemisfério

capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.

sul. Mestre em gestão estratégica e economia empresarial pela

O hábito da leitura é uma parte importante na formação cultural. Uma pesquisa recente

USP, é diretor técnico adjunto da

intitulada “Retratos da leitura” apontou que 44% da população brasileira não lê e que 30% jamais

ABTG (Associação Brasileira de

comprou um livro. Um relatório ainda mais atual (editado no fim de dezembro do ano passado

Tecnologia Gráfica) e especialista

por uma empresa de pesquisa de mercado e estudos sobre o setor editorial, a GFK) listou os

na implantação de normas

10 livros mais vendidos no Brasil em 2016. Quatro, dos dez livros da lista foram escritos por

flexográficas pela FTA - Associação

“YouTubers” (em sua maioria, adolescentes contando as peripécias para criar um Vlog), outros

Americana de Flexografia.

dois são religiosos e o restante, romances no bom estilo “Cinquenta Tons de Cinza”. Ou seja: os 56% dos brasileiros que leram o irrisório índice de 1,7 livros ao longo do ano

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(nas palavras do próprio ministro da Cultura, Juca Ferreira, um índice “vergonhoso”) preferiram

A ProjetoPack em Revista é

(ou João Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Jorge Amado, como queira).

RezendeEvil, AuthenticGames e Kéfera Buchmann a Leo Tolstoy, Mark Twain e Charles Dickens

uma publicação especializada no mercado de conversão e

1. “Como Eu Era Antes de Você” - Jojo Moyes - 291.190 exemplares vendidos;

impressão de embalagens

2. “Ruah” - Padre Marcelo Rossi - 200.368 exemplares vendidos;

flexíveis, etiquetas e rótulos, a

3. “Depois de Você” - Jojo Moyes - 179.822 exemplares vendidos;

mais respeitável revista técnica

4. “Autenthic Games – Vivendo uma Vida Autêntica” - Marco Túlio - 116.204 exemplares

do segmento no país.

vendidos; 5. “Dois Mundos, um Herói” - RezendeEvil - 100.499 exemplares vendidos;

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6. “Philia Padre” - Marcelo Rossi - 93.999 exemplares vendidos;

nosso Mídia Kit!

7. “Muito Mais que 5inco Minutos” - Kéfera Buchmann - 91.501 exemplares vendidos; 8. “A Coroa” - Kiera Cass - 90.422 exemplares vendidos; 9. “Grey” - E.L James - 85.977 exemplares vendidos; 10. “Segredos da Bel para Meninas” - Bel & Fran - 84.795 exemplares vendidos. Ouvir boa música também é um fator preponderante na formação cultural do indivíduo. Das 10 mais tocadas nas rádios brasileiras em 2016, reinou absoluto o estilo sertanejo comercial, seguido do funk “proibidão”. A campeã nacional, com 70 mil e seiscentas execuções, “Seu Polícia” (da dupla Zé Neto & Cristiano) conta a um policial fictício, em quatro estrofes que se repetem indefinidamente, que “os vizinhos estão reclamando do som alto, mas pode mandar a multa que ela vai ser paga”. Uma típica desilusão amorosa que justificaria transgredir a lei do silêncio e dirigir alcoolizado.

+55 11 3258-7134 revista@projetopack.com

Estamos cada vez dedicando mais tempo de vida à internet e redes sociais. O que procuramos e como interagimos com as pessoas é, decerto, parte integrante desse caldo cultural. Em 2016, enquanto o mundo procurou no Google por informações sobre as eleições

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/// Editorial

americanas, as Olimpíadas, a saída da Inglaterra da União Européia (Brexit), o atentado de Orlando e o Zika Virus, os brasileiros garimparam por informações sobre o bloqueio do Whatsapp, Big Brother Brasil, MC Bin Laden e o significado da palavra “Crush”. (Informações detalhadas das buscas no Google que fizemos em 2016 podem ser obtidas no site: http://www.google.com.br/trends). Segundo o próprio Facebook, 45% da população brasileira acessa a rede social mensalmente (92 milhões de pessoas). Gastamos, em média, 50 minutos por dia no site de Mark Zuckerberg – o que significa mais de 6% do tempo útil. Se somarmos esta cifra ao tempo empregado para ler e-mails e mensagens em serviços como o Whatsapp, é possível inferir que o brasileiro médio gasta mais tempo conectado do que fazendo exercícios, comendo ou em qualquer outra forma de lazer. A informação recebemos ou compartilhamos lá, portanto, é boa parte de nosso acervo cultural em médio e longo prazos. Fotografia: Roger Soares Fotografia rogerfotografo@gmail.com Modelo: Helena Andrade

Assine a ProjetoPack em Revista

Em 2016, a página mais curtida pelos brasileiros no Facebook foi a do craque do futebol Neymar Junior. Enquanto escrevia estas linhas, as últimas postagens eram ou mensagens publicitárias (de lâmina de barbear a aplicativo para gerar emojis com a cara do jogador) a fotos pessoais do atleta. Sobre a tal “moral, leis e costumes” citados na definição de cultura, um último comentário contextualizado em uma breve cronologia:

A ProjetoPack em Revista é a única do país a trazer apenas artigos 100%

- Há duas semanas, o país escandalizou-se com um “acidente” aéreo que pôs em xeque

técnicos do setor de embalagens

o destino da Lava-Jato – o maior escândalo de corrupção da história moderna em âmbito

e informações sobre o mercado

mundial. Não faz ainda uma semana quando o “ex brasileiro mais rico do mundo”, “ex ícone do

e seus fornecedores. Ela tem

sucesso empresarial nacional”, “ex estandarte do empreendedorismo e filantropia” Eike Batista

contribuído muito para a formação e

está foragido por crime de corrupção. Há exatamente um dia, o novo prefeito com menos

aprimoramento da mão de obra de

de um mês no cargo, João Dória Junior, enfrenta pesadas críticas nas redes sociais (aquelas

diversas empresas do setor.

em que passamos mais de 6% do dia) por ter removido pichações de monumentos e obras públicas e, ocasionalmente, coberto algum grafite.

Acesse o código QR e assine agora! Pela primeira vez até onde me lembro, vejo gente se manifestando a favor da “cultura”. Pela liberdade de expressão e o direito de descaracterizar (e emporcalhar) o patrimônio público ou privado. Lamentavelmente, é este conjunto de coisas que o brasileiro tem respirado e chamado de cultura. Quando a consumimos, é pouco, quase nada, e com qualidade questionável. Quando a defendemos, invertemos os valores. E assim, emburrecemos mais a cada dia que passa. Mas tudo bem, afinal, “tá tranquilo, tá favorável”.

+55 11 3258-7134 revista@projetopack.com

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/// SUMÁRIO

EXPEDIENTE Editor Aislan Baer Diretor de conteúdo Prof.° Lorenzo Baer Gerente de marketing Douglas T. Pereira Gerente de contas Caio Demare Deise Moraes Roberto Lemes Marcelo Santos Projeto Gráfico e gestão de mídias sociais Agência Convertty Revisão dos textos Ricardo Teodoro Alves Comitê editorial Andrê Gazineu André Kenji Prof.° Antônio Cabral Prof.° Bruno Cialone Débora Higino Sodré Eudes Scarpeta Francisco dos Santos Joaquim Morais Liliana Rubio Prof.° Lincoln Seragini Marco Marcelino Nestor Pires Filho Rafael Melo Pedreira Wagner Delarovera Wilson Paduan Wilson Ramos Júnior Contratos de publicidade e assinaturas Para assinar ou adquirir edições anteriores e para participar como patrocinador da publicação, contate-nos: E-mail: revista@projetopack.com Fone: (11) 3258-7134 Não é permitida a reprodução total ou parcial de textos ou matérias publicadas sem a prévia autorização da ProjetoPack em Revista. Para análise e autorização da reprodução, contatar a publicação por e-mail em atendimento@ projetopack.com. Todos os artigos são assinados por seus autores e não refletem necessariamente a opinião desta revista.

08 /// CAPA

8-35

36 /// ARTIGO TÉCNICO

TENDÊNCIAS DE EMBALAGEM QUE JÁ ESTÃO O MERCADO Num período tão conturbado como o atual, envolto em infindáveis escândalos de corrupção, grave crise econômica e instabilidade política interna e externa, fazer previsões de qualquer natureza é nada menos do que um “chute no escuro” (com uma bola sem guizos).

36-45 O ELEMENTO HUMANO E OS PROCESSOS DE CAPACITAÇÃO Processos de impressão gráfica são inerentemente propensos a um alto nível de complexidade. O risco é monotonicamente aumentado devido ao aumento gradual de indústrias gráficas com processos, fluxos de trabalho e tecnologias cada vez mais complexas e sofisticadas.

46-51 FUSÕES E AQUISIÇÕES - O QUE ESPERAR DE 2017? Tem havido muita discussão a respeito do recente aumento do número de fusões e aquisições no setor de tintas para Impressão. Alguns destes movimentos são, na verdade, um reflexo natural da própria consolidação do segmento gráfico e de embalagens.

52-58 REDUÇÃO DE CUSTOS COM ENERGIA ELÉTRICA As indústrias de pequeno e médio porte de transformação de plásticos sofrem com a falta de informação do seu processo produtivo, pois não possuem um sistema de gestão da produção capaz de obter informações precisas, às vezes por falta de recursos, as vezes por não considerarem o detalhamento do processo produtivo tão importante. ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017 - 7


/// ARTIGO DE CAPA

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/// ARTIGO DE CAPA Aislan Baer Editor Chefe Sócio-diretor da ProjetoPack & Associados e editor da ProjetoPack em Revista. Atua há mais de 15 anos na área de embalagens flexíveis, rótulos e impressão, ministrando cursos, palestras e consultoria por todo o hemisfério sul. Mestre em gestão estratégica e economia empresarial pela USP, é diretor técnico adjunto da ABTG (Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica) e especialista na implantação de normas flexográficas pela FTA - Associação Americana de Flexografia.

TENDÊNCIAS DE EMBALAGEM QUE JÁ ESTÃO NO MERCADO

N

um período tão conturbado como o atual, envolto em infindáveis escândalos de corrupção, grave crise econômica e instabilidade política interna e externa, fazer previsões de qualquer natureza é nada menos do que um “chute no escuro” (com uma bola sem guizos). No ano passado, é bastante provável que a maioria perdeu dinheiro ou, com um pouco de sorte, empatou. Os pouco felizardos que cresceram algo, alçaram tão louvável resultado com uma gestão exímia e, quiçá, ocupando lacunas deixadas por empresas concorrentes declinantes. Há muito que criamos um hábito de abrir a primeira edição do ano com um artigo mais voltado às

tendências que pautarão o nosso mercado. Confesso que não o fazemos somente pela demanda dos leitores, mas até mesmo para que nós, enquanto consultores, possamos exercitar nossa visão analítica e preditiva em vista do observado nos clientes no período posterior. Neste 2017 nebuloso, não vamos nos arriscar a tecer conjecturas econômicas, tampouco políticas, por razões óbvias: não somos especialistas nestes temas e mesmo os mais renomados especialistas tem passado muito longe em suas previsões. Vamos, portanto, ponderar a respeito dos segmentos que afetam diretamente a nossa vida e a dos estimados leitores que nos acompanham: embalagens flexíveis, etiquetas, rótulos e impressão em geral.

ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017 - 9


/// ARTIGO DE CAPA

“Talvez o melhor exemplo dos impactos da longevidade em uma sociedade venha do Japão” O vetor da idade Em muitas palestras, artigos e documentários em todo o mundo, o tema “envelhecimento da população” é apresentado como um importante agente de mudança nos hábitos e preferências dos consumidores. Avanços da medicina, especialmente nas áreas de genética e biotecnologia tem aportado um número cada vez maior de anos à expectativa de vida média do ser humano e, porque não dizer, com uma qualidade também crescente.

a-mortais; não morrerão de envelhecimento e causas naturais, mas ainda podem ser vítimas de acidentes fatais). O aumento da longevidade impacta a economia (principalmente, como já temos visto, o sistema previdenciário), o sistema de saúde público e privado, a força de trabalho e as relações trabalhistas, a formação de poupança e investimento nacional e tudo o que se refere ao consumo das famílias. Talvez o

Quando a bióloga molecular australiana Elizabeth Blackburn foi agraciada em 2009 com o prêmio Nobel por sua pesquisa sobre os processos para deter e retroagir o envelhecimento humano (O efeito Telômero), ficou bastante claro que o processo de envelhecimento passara a ser tratado não mais como algo natural, factual, mas sim como uma doença passível de tratamento e, em algum dia num futuro não muito longínquo, totalmente curável (a bem da verdade, estudos médicos e científicos sérios e o projeto Gilgamesh – a ciência em busca da imortalidade – já apontam que, em meados de 2050, alguns humanos já serão 10 - ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017

melhor exemplo dos impactos da longevidade em uma sociedade venha do Japão. No último censo realizado em 2015, concluiu-se que 26,7% da população japonesa consiste em idosos com 65 anos ou mais. Por sinal, espera-se que este número beire os 33% (um terço) até 2035 e 40% até 2060. A primeira coisa que o Japão está reavaliando seriamente (uma iniciativa coordenada por médicos e professores universitários da Sociedade Japonesa de Gerontologia) é a idade na qual um cidadão deve passar a ser considerado um idoso. De acordo com um relatório da NHK World, a idade de aposentadoria no Japão – 65 anos de idade – está sendo reavaliada para possíveis 75 anos, uma década mais tarde.


/// ARTIGO DE CAPA

Ainda neste ano, pudemos sentir na pele o impacto de medidas semelhantes, com a proposta de mudança na idade mínima e no tempo de contribuição para a aposentadoria no Brasil. Para que uma nação incorpore qualquer mínima mudança nesse aspecto, é preciso uma estrutura adequada (o que nós, brasileiros, infelizmente não possuímos) de emprego, nutrição e saúde, bem-estar físico, psicológico e social e, mais do que nunca, uma previdência infalível. Não só o governo e as empresas precisam estar preparados para esta realidade inexorável do aumento da expectativa de vida e do número de pessoas mais velhas e ativas economicamente. Os produtos, suas embalagens, rótulos, etiquetas e toda a comunicação impressa (e eletrônica) precisa ser ajustada para este público. Em uma edição anterior da ProjetoPack em Revista, trouxemos à tona o fato de que os textos minúsculos estampados na maioria das embalagens são um empecilho aos consumidores acima dos 60 anos de idade, período em que a fadiga visual e o envelhecimento dificultam em muito a leitura. Identidades de marca mais ousadas e recognoscíveis, gráficos e ilustrações que falem mais sobre o produto e menos texto podem, por exemplo, ajudar os consumidores mais velhos em seu processo de tomada de decisão para a compra. As embalagens também precisam ser concebidas para um manuseio facilitado. Abrir e fechar não

pode ser algo dificultoso. A Fisher-Price, por exemplo, desenvolveu novas embalagens junto à Amazon (gigante do varejo online) para alguns de seus brinquedos, a fim de evitar a “raiva” ao abrir. Quantos avôs e avós compram brinquedos para seus netos e, na hora de abrir para desfrutarem juntos, acabam frustrados com a tremenda dificuldade de desembalar? Os dispositivos de abertura fácil (easy open) são cruciais na readequação das embalagens e criam valor não só para consumidores da terceira idade, mas para todo mundo.

“Os dispositivos de abertura fácil (easy open) são cruciais na readequação das embalagens e criam valor não só para consumidores da terceira idade, mas para todo mundo.”

Muitos idosos usam a internet para buscar informações sobre os produtos que pretendem adquirir e compram-nos tanto online quanto nas lojas físicas. Mas normalmente, evitam as gigantescas lojas do grande varejo e cultivam o hábito de comprar mais vezes, em menor quantidade (mais ajustadas à demanda diária). Esta forma de consumir deu origem aos pequenos mercados de bairro, estrategicamente localizados e cujo layout já considera um público mais velho, com prateleiras mais baixas, melhor sinalização, áreas com assentos para descanso, serviço de transporte das sacolas até o estacionamento (ou entrega em casa) e um arranjo de produtos diferenciado, no qual as categorias mais consumidas pelo público idoso está meticulosamente distribuída no centro da gôndola, melhorando a ergonomia. Os próprios carrinhos do supermercado, em algumas destas pequenas lojas, já foram ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017 - 11


/// ARTIGO DE CAPA

redesenhados – dos grandes, pesados e desajeitados carrinhos de metal com rodas propensas ao travamento – para carrinhos menores, mais leves e confeccionados em plástico. A rede francesa Saint Marché é um bom exemplo de varejo que entende estas necessidades particulares. Toda esta forma de pensar configura uma nova área do comportamento do consumidor e do marketing: o chamado Mature Marketing ou “Marketing da Maturidade”. Um dos grandes dilemas desta disciplina é compreender estas diferenças, corrigir as estratégias dos donos das marcas, aperfeiçoar seus produtos e serviços sem, contudo, fazer com que os consumidores se sintam rotulados ou, de alguma forma, ultrapassados. Também já falamos, algumas edições atrás, sobre outra disciplina que tem sido amplamente utilizada pelos grandes donos de marca em todo o mundo, não só para assegurar o desenvolvimento de embalagens ajustadas às necessidades da terceira idade, mas principalmente para tornar amigável a experiência da embalagem aos consumidores com restrições físicas variadas (deficiências audiovisuais e motoras). Trata-se do Inclusive Design ou “Design Inclusivo”. David Wiggins, um pesquisador do Centro de Design da Universidade de Cambridge, em um trabalho bastante amplo sobre o design inclusivo e seus reflexos

sociais (uma das suas grandes contribuições foi o conceito de PSR – Potential Support Ratio, um índice que mede a quantidade de pessoas entre 15 a 64 anos aptas e disponíveis para prestar apoio a uma de 65 anos ou mais) , concluiu que o “normal é ser diferente”, corroborando com um estudo de 2010 (Hosking, Waller e Clarkson), cuja conclusão era a de que 79% da população possui algum tipo de restrição física, tornando o design inclusivo não mais um diferencial ou mesmo uma inovação, mas sim um imperativo. Na ocasião em que abordamos este tema pela primeira vez na ProjetoPack em Revista, citamos o exemplo da iniciativa encabeçada pela Nestlé, em parceria com o Centro de Pesquisa de Artrite da Austrália, no desenvolvimento de uma luva especial que simula as dificuldades de movimento de um paciente com artrite (neste caso,

12 - ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017

com foco na abertura e fechamento de embalagens). Esta ação desencadeou a revisão de inúmeras embalagens da Nestlé – um estudo de caso muito interessante do design inclusivo.


/// ARTIGO DE CAPA

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/// ARTIGO DE CAPA

Nova comida, nova embalagem Há muitos anos, quando comecei a dar palestras sobre o setor de embalagens flexíveis, tecnologias, tendências etc., foi algo natural passar a fazer algumas projeções. Com o passar dos anos e com mais experiência (principalmente em consultoria), estes vislumbres passaram a ser cada vez mais assertivos. Todavia, um deles foi totalmente equivocado: o de que o mercado de embalagens vai existir para sempre e crescer ad infinitum, até que não se invente um tele transporte da comida, da fazenda para o prato. Não que eu desacredite no mercado de embalagens – muito pelo contrário – o que errei foi que o tele transporte de comida já existe e está em franca expansão: a impressão 3D de alimentos,

“O principal fator que impulsiona este setor é a provável escassez de alimentos para os futuros 12 bilhões de seres humanos que estarão transitando por aqui até o fim deste século.” onde a comida se “materializa” no seu prato. O restaurante FoodInk, em Londres, Inglaterra, é precursor e um bom exemplo disso: por aproximadamente £250 por pessoa, é possível desfrutar de uma experiência gastronômica molecular 100% produzida por impressoras 3D (a propósito, os talheres, mesas e cadeiras também foram “impressos”).

sultancy ou simplesmente SMRC – para a implantação de uma impressora 3D (o projeto chama-se 3D Printing Zero G Experiment) numa nave espacial e imprimir comida no espaço para seus tripulantes com um tempo de vida em prateleira de pelo menos 15 anos, dada a duração das viagens espaciais. A primeira iguaria impressa no espaço foi uma pizza.

A Agência espacial americana NASA financiou em 2014 o projeto de uma companhia texana – a Systems and Materials Research Con-

A comida impressa tem recebido investimento e atenção em todo o planeta desde o advento da manufatura aditiva moderna, e o principal motivo não é o de alimentar astronautas, tampouco prover boas fotos ao Instagram de hypsters em um restaurante londrino. O principal fator que impulsiona este setor é a provável escassez de alimentos para os futuros 12 bilhões de seres humanos que estarão transitando por aqui até o fim deste século.

Restaurante FoodInk “imprimindo algumas de suas receitas”. 14 - ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017

O problema da falta de comida para todas as bocas (tanto as humanas quanto dos animais domésticos e selvagens) é algo que movimenta bilhões de dólares por ano em pesquisa, start-ups e ideias para diminuir ou mesmo eliminar o problema em algumas décadas. Isso permeia desde a criação de


/// ARTIGO DE CAPA

insetos em fazendas (como a Big Cricket Farm, que dedica-se à criação de insetos exclusivamente para o consumo humano, um mercado que já ultrapassa os USD 20 milhões anuais) e uma infinidade de outras comidas “alternativas”, até a incomensurável indústria do bio processamento de comida em laboratório; um bom exemplo é a fabricação de carne a partir de células musculares especiais (myosatellite cell) extraídas de animais vivos – ou como diz uma das pioneiras no tema, a Memphis Meat, “da placa Petri para o prato”. Todo esse universo de ficção científica ganha mais materialidade e relevância a cada dia que passa. Por si só, não pode mais ser ignorado ou desprezado. Mas o mais importante é que estas mudanças todas são sistêmicas e impactam mais ou menos em todas as áreas da indústria e da sociedade, incluindo a nossa. A preocupação com o que vamos comer (e se vamos de fato ter o que comer) desencadeou novos comportamentos sociais e despertou um conjunto de preocupações nos consumidores que, há menos de uma década, eram vistos com certo escárnio ou desdém pelos CEO’s das companhias. Uma destas preocupações foi a sustentabilidade, por exemplo, pois todas as empresas hoje sentem o peso desta preocupação social e gastam bilhões anuais para adequarem-se à demanda, algo bem diferente de quando todos pensavam ser mais um modismo e os consumidores preocupados, tão somente “ecochatos”.

Os consumidores começaram por buscar embalagens mais sustentáveis. Isso se traduzia, inicialmente, em embalagens um pouco mais explicativas (Storytelling) que informassem algo sobre a procedência das matérias-primas e da gestão da sua cadeia produtiva, passou rapidamente a exigir por certas “validações e acreditações” sobre o seu impacto ambiental, começou a ensejar por conceitos mais sofisticados como logística reversa e economia circular e, por fim, passa a engendrar coisas como embalagens integralmente comestíveis (full edible packaging), o auge da sustentabilidade.

Legenda: Da placa Petri ao prato

O filme produzido a base de proteínas, por exemplo, tem excelentes e versáteis propriedades de barreira e tem recebido aportes bilionários em pesquisa e desenvolvimento em diversos países. Há de tudo um pouco: linhas científicas exploratórias que preconizam o uso de mistura de algas e cálcio, alimentos (em geral frutas e oleaginosas) desidratados e estratificados em filmes com o auxílio de nano materiais ligantes (a própria ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017 - 15


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eram embalagens ativas, inteligentes e interativas, outra vertente do que se espera da embalagem do amanhã (que é hoje), redigi um editorial com algumas poucas linhas que completam bem o raciocínio até então: As funções básicas da embalagem envelheceram e não são mais suficientes para o consumidor das novas gerações e para as necessidades mais complexas da nossa sociedade atual e interconectada. Conter, proteger, transportar, identificar, e mesmo vender já são algo trivial no universo da embalagem 2.0.

Embrapa lançou um filme de embalagem a base de mamão papaya e canela alguns anos atrás, que oportunamente divulgamos na revista) e uma infinidade de outros substratos de origem animal ou vegetal.

te, este retorno às origens só está mais robusto, com consumidores levando Tupperware®, além dos sacos de papel tradicionais, distribuídos na loja. Na edição da ProjetoPack de número 45, cujo tema central

Outro negócio em atividade que diminui a relevância da embalagem chama-se Original Unverpackt (originalmente desembalado) – a primeira mercearia moderna sem embalagem – também citada em nossas páginas tão logo foi idealizada e aberta por suas co-fundadoras Sara Wolf e Milena Glimbovski, na Alemanha. O conceito “fill-your-own-container” (preencha o seu próprio recipiente) remete à época em que comprávamos tudo a granel e ensacávamos em papel comum ou encerado. Basicamen16 - ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017

As embalagens do amanhã devem fazer mais pelo produto e pelo consumidor. Devem ser ainda mais personalizadas. A Coca-Cola do José e da Maria foi só o começo. Aliás, as embalagens precisam melhorar o produto. Eliminar sabores e aromas indesejáveis, mantê-los em condições propícias ao consumo por mais tempo do que nunca, precisam esquentar ou es-


/// ARTIGO DE CAPA

ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017 - 17


/// ARTIGO DE CAPA

ger e conservar.

“As embalagens não serão mais as vendedoras do produto. Elas serão também as responsáveis diretas pelo marketing, logística, pesquisa e desenvolvimento e muito mais.”

friar o alimento sem a necessidade de forno, fogão ou geladeira. Devem informar o consumidor sobre tudo e a qualquer instante. Mas não aquela informação chata e em letrinhas miúdas no verso. Ela precisa mandar um WhatsApp no celular dele, com mensagens do tipo “Produto quase vencido! #partiucomprarmais? ” É possível que a sua embalagem vá mandar um alô para você na sua rede social, quem sabe ainda curtir uma postagem sua ou uma foto no Instagram? E esqueça as embalagens estáticas no ponto-de-compra. Elas formarão painéis inteligentes e dinâmicos, com a massificação da eletrônica impressa e orgânica, a custos cada vez mais competitivos. A foto da menina perdida no verso da caixa de leite longa vida vai virar um vídeo da família pedindo a sua ajuda. Vai virar um programa de tv interativo, com receitas culinárias e quiçá, um bate-boca entre duas marcas na prateleira do supermercado. As embalagens não serão mais as vendedoras do produto. Elas serão também as responsáveis diretas pelo marketing, logística,

pesquisa e desenvolvimento e muito mais. Nada mais justo que, num instante em que cientistas em todo o mundo passam a considerar seriamente a revisão de definições importantes sobre o que é vida, o que é humanidade, o que é ser idoso, o que é ser mortal, o que é ética (à luz da biogenética, da robótica e da inteligência artificial) e o que é comida, a embalagem e tudo que a ela concerne seja também, alvo de questionamentos profundos. Apesar das poucas menções nos livros de história, a embalagem certamente esteve presente em todas as fases evolutivas da nossa espécie. Enquanto caçadores coletores e no início da chamada revolução cognitiva (como bem relata o professor e historiador israelense Yuval Noah Harari em seu brilhante livro Sapiens – uma breve história da humanidade), os nossos antepassados precisavam conter os itens coletados aqui e acolá e transportá-los na jornada até o local da próxima coleta. Com a revolução agrícola, fixamo-nos mais à terra e passamos a cuidar da colheita. As embalagens ampliaram seu espectro funcional para prote-

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Veio a revolução científica. Com ela e a produção em massa de bens, era preciso identificar os produtos e vende-los em seguida. Desde então, em espaços cada vez mais curtos de tempo, adicionamos mais e mais complexidade. Ao ponto de que, hoje em dia, muitos consumidores querem menos. Voltamos a era do “menos é mais”.

Embalagens-robôs e embalagens virtuais Ao dar um passeio sobre a edição especial de 2014 da revista, inteiramente dedicada às embalagens ativas, inteligentes e interativas, percebi que a maioria dos recursos outrora descritos como “novas tecnologias” – realidade aumentada, código QR, Etiquetas de Radiofrequência (RFID), Indicadores de Tempo e Temperatura (TTI’s), Indicadores de Frescor dos Alimentos, Indicadores de Ativida-


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de Microbiológica e tantos outros – já foram incorporados ao cotidiano e, quando não são massivamente empregados na indústria, é somente por conta do estágio atual de maturidade, onde os custos são elevados por conta da escala ainda reduzida. Todavia, as tecnologias existem e estão consolidadas (enquanto algumas serão meros trampolins disruptivos). No que tange às tecnologias ligadas à interatividade e ao cruzamento das mídias, o consumidor espera encontrar embalagens mais conectadas. E, de fato, aquilo que iniciou com uma iniciativa tímida do marketing em criar uma persona virtual para o produto (páginas nas diversas redes sociais, vídeos e animações despojadas no YouTube e Vimeo, memes e outros virais, games, campanhas promocionais que estimulam o consumidor a interagir com as embalagens etc.) ganhou uma dimensão bastante heterogênea e relevante, uma verdadeira “ampliação do produto”, para usar um pouco o jargão do marketing.

pessoal e rica de informações do consumidor do que o interior apertado da geladeira ou a própria lata de lixo: a embalagem ingressa na identidade digital de quem a consumiu, acessando suas preferências, convicções políticas e religiosas, humor, sexualidade, monitora amigos com gostos parecidos ou não, amigos dos amigos, as suas “infidelidades para com a marca ou produto” e assim por diante. Num episódio fantástico de Black Mirror intitulado “The Waldo Moment” (no Netflix, onde uma realidade distópica assusta os telespectadores com os medonhos efeitos colaterais que a tecnologia nos trouxe e ainda nos trará), um ator que personifica uma mascote virtual – um urso azul chamado Waldo – ganha tanta força e audiência que transcende a internet e passa a afetar a esfera política e as eleições, ao declarar guerra a um candidato, superando inclusive seu criador e animador. É de se pensar que, muito em

Mas em sua maioria, estas ações só funcionam se vencerem o cutter (a dessensibilização dos consumidores por conta da quantidade de mensagens e apelos publicitários cotidianos) e realmente levarem o consumidor do produto à ação: pegar um smartphone e fotografar um código QR na embalagem, por exemplo. Só então a roda gira e a embalagem torna-se digital. Minutos depois, a embalagem vazia pode ir à lata de lixo, mas continua viva, ao invadir uma área mais 20 - ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017

breve, marcas e produtos podem ter seus momentos Waldo – e o principal portador da mensagem será a sua embalagem. Este parágrafo pode parecer um desvio do assunto, mas foi proposital. Para fazer um consumidor agir, a embalagem será cada vez mais ativa. Ela não pode somente confiar que o consumidor esteja no ponto de compra, focado, concentrado e, após ignorar todos os demais vizinhos de gôndola e estímulos do ambiente, a coloque no carrinho, pague e saia do supermercado. Quando chegar em casa, também não pode contar com a sorte de que este consumidor vá entrar no site do produto, ler um código QR ou curtir sua página no Facebook. A embalagem precisará agir, à revelia do consumidor. Ela precisa acessar seu celular sozinha, dizer “me compre”, informar a geladeira que é preciso repor seu estoque, acessar suas redes sociais e tudo o mais. Muito disso será feito da mesma forma que se


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“Existe um Cavalo de Tróia mais invasivo e discreto do que as embalagens que o dono do castelo traz consigo diária e voluntariamente após ir ao supermercado e espalha por todos os aposentos?” dá poder a um Google ou a um Facebook – autorizando “políticas de privacidade” ou coisa parecida. Imaginemos a casa do consumidor como uma fortaleza a ser invadida, com muitas defesas e também pontos fracos. A todo instante, hordas de mensagens publicitárias de empresas querendo vender coisas tentam adentrá-la. Ao invés de aríetes ou escadas de madeira, forçam passagem com spam, cookies, malas diretas impressas e folhetos nas caixas de correio ou embaixo da sua porta. No lugar de catapultas e trebuchets, anúncios ininterruptos na programação de rádio, TV, tablet, smartphone, videogame, computador, no navegador, site de busca, redes sociais, mensagens SMS, ligações inoportunas na manhã de domingo e carro de som estacionado e urrando jingles e melodias de gosto duvidoso. A cada invasão sofrida, as defesas vão sendo reforçadas e as vulnerabilidades, mitigadas, ao mesmo tempo em que as estratégias de ataque vão se tornando mais mirabolantes e sutis. A força bruta dá lugar à inteligência. Ao invés de 22 - ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017

trombar o portão da frente com um aríete, sob uma forte saraivada de flechas, pedras e água escaldante, os invasores preferem mandar de presente, um belo Cavalo de Tróia. Anúncios tediosos que não sobrevivem ao zapear do controle remoto transformam-se ardilosamente em product placement (posicionamento de produto) e, nem o serviço de streaming de vídeo, supostamente uma safe house, um local seguro da tirania publicitária, esfrega na sua cara dezenas de produtos minuciosamente colocados no pano de fundo das suas séries preferidas. Existe um Cavalo de Tróia mais invasivo e discreto do que as embalagens que o dono do castelo traz consigo diária e voluntariamente após ir ao supermercado e espalha por todos os aposentos – da geladeira, despensa, armários, necessaire, bolsa, mochila e lancheira das crianças até o porta-luvas do carro? Certamente que não. Esse é o ponto. A embalagem vai, num futuro não muito distante, explorar melhor a oportunidade. A embalagem também vai ser, em muitos dos casos, chefe da fábrica. A IoT (Internet of Things) ou Internet das Coisas avança irrefreável e velozmente, amparada por bilhões e bilhões de dólares em pesquisas e subsídios de governos com economias industriais ainda fortes (Alemanha, Japão, Coréia, EUA, China, França etc.) e temerosas pela falta de mão-de-obra qualificada e suficientemente motivada para dedicar uma vida toda no chão-de-fábrica. A inteligência


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artificial e o aprendizado avançado das máquinas corroboram para que não só objetos (tais como os veículos autônomos que devem ocupar as ruas, os céus, as superfícies das águas e as suas profundezas, superando em número e destreza os seus pares guiados por humanos em pouco mais de uma década) ganhem vida própria, mas linhas de produção e até mesmo fábricas inteiras. Uma das vedetes na Interpack deste ano (uma das maiores feiras de tecnologia de embalagem do mundo) serão as integrações de IoT às linhas de envase e empacotamento. Um efeito colateral digno de menção é que, quanto mais inteligente, ativa e interativa se tornar uma embalagem, mais vulnerável às práticas de hacking ela estará. Os perigos reais de uma embalagem hackeada ainda não são claros, mas em breve o serão e isso deve afetar não só um consumidor desavisado (que poderia ter, por exemplo, sua geladeira controlada por uma caixa de suco), mas ter impactos terríveis numa linha autônoma de envase (incidentes como soda cáustica em caixa de achocolatados podem não ser mais um acidente, mas fruto de um “cyber ataque”). Como preservar o segredo da fórmula da Coca-Cola, se dosadores automáticos interconectados e geridos por softwares e sensores pode ser acessado remotamente e informar com precisão absoluta quais elementos e em que quantidades foram misturados em um recipiente?

Outro argumento importante deste tópico diz respeito à embalagem virtual, quase etérea. O protagonista da adaptação para o cinema dos quadrinhos “V, for Vendetta” (Alan Moore) já dizia que “Atrás dessa máscara, há uma ideia. E ideias são a prova de balas”. Talvez por isso, a mesma máscara tornou-se símbolo do maior movimento de ciberativismo do planeta – Anonymous.

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Uma embalagem que transcende o mundo analógico e passa a habitar o mundo digital também vira um conceito, nada menos do que a ideia original e arquetípica, a sua gênese imaterial. Pense num consumidor sentado à frente do seu computador, conectado à internet e preparando-se para as compras da semana no site da sua rede varejista favorita. Não há toque, cheiro ou mesmo contato visual, a não ser a avaliação “fria” de algumas imagens do produto em perspectiva ou não, tratadas com software para eliminar o fundo das fotos e realçar os contornos. É possível fazer algum julgamento preciso acerca da proteção, barreira, facilidade de abertura e fechamento, usabilidade, ergonomia, contraste ou apelo visual respeito aos vizinhos de gôndola? Muito provavelmente, nada ou muito pouco. A embalagem virtual passa a ser menos importante, no mo-

mento da decisão da compra, que os próprios mecanismos envolvidos na indução ao clique do mouse (layout do site amigável, navegação convergente, segurança transacional, fotografia, sistema de indicações etc.) e na retenção do cliente neste ambiente, potencializando as oportunidades de compra. Um belo dia, deixamos de comprar produtos a granel. Se olhássemos sobre o prisma da psicologia evolutiva, dos nossos ancestrais caçadores-coletores herdamos uma preocupação imemorial pelo cheiro, tamanho, forma, ruído e imagem – principalmente as cores – de todo alimento que levamos à boca. A aproximadamente 100 mil anos, frutas, sementes, raízes, plantas e animais. Hoje, pillow pouches, stand-up pouches, caixas, potes plásticos, latas etc.; a cada novo salto evolutivo, certas faculdades atrofiaram com a cada vez menor dificuldade na busca por alimento.

A jornada por uma iguaria no sopé da montanha de ontem foi substituída por uma troca de mensagens no aplicativo IFood ou uma ida à loja de conveniência da esquina. Deixamos de nos preocupar tanto com o cheiro (pelo contrário, a maioria das embalagens bloqueia aromas internos e externos), com o peso, informado criteriosamente nas embalagens, a forma e o ruído (quem pode saber o sentimento de prazer vitorioso tinham nossos ancestrais ao conseguir abrir um coco usando uma pedra como ferramenta?) e, em partes, com a imagem. As embalagens que antigamente exibiam janelas para visualizar o produto foram gradualmente sendo trocadas por painéis impressos com imagens mais exuberantes que os produtos reais. Mas ainda há produto e trabalho adicional em abri-lo, consumir e jogar fora. Sequer conseguimos eliminar o “inconveniente” de ir ao mercado e fazer nossas compras. Embora no Japão e em outros países da Ásia, proliferam as chamadas gôndolas virtuais em estações de metrô e ônibus – onde consumidores podem selecionar em telas sensíveis ao toque, imagens eletrônicas dos produtos de sua preferência, realizar a compra pelo celular e recebe-la na próxima estação ou na porta da sua residência. Todos estes esforços para atribuir ainda mais comodidade ao consumidor podem ser disruptivos. A fronteira final pode ser mais próxima da experiência londrina do FoodInk. Os donos da marca comercializando impressoras de

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alimentos e bebidas Nestlé, máquinas dosadoras de cosméticos e sanitizantes Unilever ou impressoras 3D de medicamentos Roché. Sem contar as máquinas híbridas que posteriormente se tornarão multimarca, genéricas. É possível que cheguemos ao desinteresse total de ir às compras no mundo físico mais rapidamente do que o varejo vá se reinventar em algo mais lúdico, divertido e estimulante.

A embalagem colaborativa O rockstar Jon Bon Jovi garante que ninguém passa fome, se morar próximo a Red Bank, New Jersey. O JBJ Soul Kitchen (Cozinha da Alma de Jon Bom Jovi) é um restaurante criado pelo astro, cujo menu não tem valor monetário. Para comer, você tem basicamente duas opções: você pode fazer uma doação aberta, de “acordo com o que seu coração mandar” ou ser um

“São as moedas do tempo, atenção e empatia, talvez os bens mais escassos do mundo moderno de hoje.” trabalhador voluntário no referido restaurante. Uma hora cozinhando, lavando pratos, limpando as mesas ou servindo os clientes dá direito a uma refeição para até três comensais. No ano passado, a JBJ Soul Kitchen serviu 11.500 refeições e atingiu a sua meta 50/50. Metade das pessoas pagou pelo prato com dinheiro e a outra, com o suor do seu trabalho. Parafraseando o título do livro de Malcolm Gladwell, chegamos a um Tipping Point (Ponto de Inflexão Sociológico), onde os diversos modelos econômicos revelaram-se falhos de desagregadores, em um

certo sentido. O Estado forte, o capitalismo selvagem, o nacionalismo exasperado, o populismo leviano, o monetarismo e o consumismo despropositados – todos levaram crise e sofrimento a alguém, em algum instante da história. De forma quase natural, novos modelos de interação economica começaram a surgir, de forma descentralizada e desorganizada. A economia colaborativa foi um destes modelos e, de alguma forma, empoderou os consumidores em todo o mundo. Pessoas comuns que se aperceberam de que há moedas tão ou ainda mais importantes do que o “vil metal” ou o dinheiro de plástico (ou mesmo o dinheiro binário, como as BitCoins). São as moedas do tempo atenção e empatia, talvez os bens mais escassos do mundo moderno de hoje. Quando alguém decide doar seu tempo em um projeto, em troca do tempo de outrem, da sua atenção ou mesmo empatia, toda a base econômica colapsa. O Homo Economicus é descaracterizado e dá lugar a outro ser desconsoante (algo mais próximo do Homo Social), disposto a escambar coisas subjetivas em troca de mais subjetividade – e não de bens materiais por outros, como um “salário” por um quilo de sal.

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A economia colaborativa desencadeia construtos sociais muito mais complexos do que um restaurante onde se come em troca de descascar batatas. A Wikipedia – o maior registro de conhecimento humano da história, com mais de 40 milhões de artigos, escrita em mais de 250 línguas, quase 5 milhões e meio de verbetes e redigida voluntariamente por milhares de pessoas há mais de 15 anos – é um ótimo exemplo do poder da colaboração. O compartilhamento de arquivos pela internet e entre computadores (em protocolos de rede P2P) remodelou toda a indústria fonográfica, o cinema, os games e a mídia impressa. Com um pouco da ajuda Maquiavélica de corporações, o espírito colaborativo dos consumidores, somado ao seu desejo de

ser notado e sentir-se especial, pôde ser manipulado e deu origem a produtos como por exemplo o aplicativo Waze. Motoristas colaborativos, com um pouco de gamification (estratégia de interação entre pessoas e empresas com base em incentivos que estimulem o engajamento do público com as marcas de forma lúdica*) dedicam boa parte do seu tempo a prover informações valiosas do trânsito a companhias que comercializam estes dados de formas variadas e lucrativas. Nada nem ninguém consegue escapar do espírito colaborativo. Especialmente as empresas inteligentes, que veem na colaboração uma forma de economizar dinheiro e aumentar seus lucros. A inovação aberta é a apoteose da colaboração. Em um dia, uma empresa pode dispor de meia dúzia de bons cientistas e pesquisadores imbuídos de criar valor idealizando no-

vos produtos ou aperfeiçoando os existentes. No outro, pode ter uma rede integrada, multicultural, multigeográfica e multidisciplinar de cientistas e pesquisadores trabalhando em um ou mais projetos ou dilemas da empresa, em troca de dinheiro, reconhecimento, superação pessoal, dignidade e status perante os demais colegas – algo que, ao menos em parte, nos faz lembrar o restaurante do primeiro parágrafo. Os donos das marcas perceberam que é possível levar uma parcela desta incumbência de gerar novas ideias ou problemas não aos cientistas do mundo, mas aos cidadãos comuns. Quanto mais cérebros conectados, mais perto de uma ideia multimilionária a empresa estará. Posto em prática, uma marca de cerveja famosa cria uma campanha no YouTube para que os consumidores idealizem e produzam o vídeo publicitário a ser exibido na final da SuperBowl ou ainda, uma famosa marca de batatas e snacks faz campanha nas redes sociais em busca de novos sabores eletrizantes e paga royalties para o campeão mais votado por um período de um ano. Grandes empresas FMCG (bens de giro rápido) como P&G e Unilever possuem já a sua própria plataforma de inovação aberta de embalagem, recebendo ideias e projetos diários, de todas as partes do mundo, vindas de profissionais autônomos, designers, pesquisadores, cientistas, fabricantes de embalagens e insumos, professores e alunos de

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“...há um muro impenetrável de distrações ao ouvinte e uma sobreposição de gerações tão diferentes entre si que, não só os filhos não entendem os pais, mas os filhos não entendem mais uns aos outros...”

cursos e universidades de cursos correlatos. Coincidência?

Últimas palavras Vivemos um tempo que sempre almejamos em prosa e verso. O momento presente. Sempre fomos críticos, enquanto seres humanos, que é preciso não nos prender ao passado (e seus terríveis paradigmas), tampouco ansiar pelo futuro, incerto e angustiante. O que importa mesmo é o presente e nosso pedido foi, enfim, atendido. Não podemos nos prender mais ao passado. Não temos mais tempo para estuda-lo e nem fontes

fidedignas para tal. Não podemos mais fazer planos para o futuro ou ponderar a seu respeito, dado o ritmo frenético das mudanças. Não conseguimos falar mais com ninguém a respeito deste e outros temas profundos e existenciais. Aos poucos que ainda conseguem se comunicar, há um muro impenetrável de distrações ao ouvinte e uma sobreposição de gerações tão diferentes entre si que, não só os filhos não entendem os pais, mas os filhos não entendem mais uns aos outros. Um ano de idade pode significar um abismo geracional intransponível.

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O mesmo muro impenetrável de distração que afeta a nossa comunicação com o ouvinte, impede-nos de silenciar a mente para refletir, dar foco, concentrar-se em qualquer coisa, por mais que um breve e efêmero instante. Resta-nos, portanto e somente, o presente. Num cenário de presente inquebrantável, é hercúlea a tarefa de fazer previsões de qualquer natureza. Nestas horas, me ajuda evocar algum momento da infância e ir voltando a si. Lembro-me adolescente, ouvindo Legião Urbana e Guns n’ Roses em meu walkman amarelo da Sony (à prova d’água), fechado no meu quarto. Na sala, minha mãe colocava a agulha da vitrola cuidadosamente posicionada sobre um disco de vinil do Johnny Rivers ou The Carpenters. Noutro aposento, meu pai ouvia um antigo rádio de pilha com capa de couro marrom, sintonizando com uma longa antena retrátil uma estação de música clássica. Demorei um pouco para, em meados dos anos 90, migrar para o meu primeiro Diskman. Olhava uma coleção de caixas de sapato cheias de fitas cassete meticulosamente gravadas e editadas para que os comerciais da rádio fossem suprimidos (odiava, aliás, as rádios que enfiavam a propa-


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ganda no meio da música) e pensava na fadiga e no dinheiro de recomprar a coleção naquela nova mídia, bem mais cara e frágil. Mais um ano voou e passou a ser uma diversão garimpar com os amigos os sebos do bairro ou lojas especializadas na Galeria do Rock (London Calling e afins) em busca dos títulos mais raros para dar aquela “encorpada no acervo”. Posso estar enganado, mas uma das minhas duas irmãs – a mais nova delas – conheceu a música diretamente no Diskman, sem passar pelo toca-fitas. Um dia tudo mudou. Os CD’s podiam ser gravados, regravados e surgiam os primeiros tocadores MP3. Me lembro do dia em que, fascinado, fui apresentado a um programa de compartilhamento de músicas (LimeWire, se não me engano). Che-

guei a ter mais de cinco mil músicas salvas no computador (outro aparelho que surgiria um pouco antes e foi ficando), que foram cuidadosamente transportadas ao primeiro Ipod que comprei, já na faculdade, e a uma dezena de pendrives e memórias SD. Hoje, aos 37 anos, não tenho mais fitas cassete em casa. Nem ouço mais CD’s. Tenho uma assinatura de streaming da Google Play (seleciono as músicas que quero ouvir, as organizo em playlists mas não baixo mais em nenhum dispositivo, as deixo flutuando na “nuvem”). Meu filho Lorenzo, de dois anos de idade, desde sempre pegou no sono embalado com playlists personalizadas no Google Play, tocadas em looping no meu smartphone ou no da minha esposa. Uma das minhas irmãs ficou no Spo-

tify, a outra no Ipod, meu pai no rádio e no computador e minha mãe, no computador dela (sim, cada um tem o seu). No meu rol de amigos que garimpavam os sebos, há um ou outro que ainda busca o vinil ou a fita cassete, mas é algo bastante raro. Daqui a 20 ou 30 anos, é bem possível que meu filho ouça música fazendo download da nuvem diretamente para implantes neurais ou subcutâneos. Os botões de avanço, retrocesso e play podem ser tatuagens na pele ou piscadelas para os seus óculos de realidade aumentada. Na minha primeira infância, sequer pude imaginar uma embalagem de suco, refrigerante, vinho ou cerveja confeccionada em um material diferente do vidro. Não

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/// ARTIGO DE CAPA

“Em algum momento, as flexíveis ficaram de pé sozinhas exatamente como as caixas de cereais, ganharam sistemas de abertura como zíperes, fitilhos, adesivos e válvulas dosadoras com tampas ou selos vedantes” consigo precisar quando, mas um belo dia tudo virou plástico. Até o frasco de azeite extra virgem. As embalagens plásticas flexíveis de arroz, feijão, açúcar, leite e todo o resto eram moles e acondicionadas no armário de fórmica da cozinha empilhadas, abertas com tesoura e fechadas com pregadores de roupa. Em algum momento, as flexíveis ficaram de pé sozinhas exatamente como as caixas de cereais,

ganharam sistemas de abertura como zíperes, fitilhos, adesivos e válvulas dosadoras com tampas ou selos vedantes. O armário da minha casa, comparado à lembrança do armário da minha mãe, quase não tem vasilhames com produtos a granel. Também não me lembro de embalagens perolizadas, metalizadas, matte, holográficas ou super coloridas. Era tudo muito monocromático, com pouco brilho, impresso em plástico transparente, celofane ou papel. Hoje, trabalhando como profissional de embalagem, vejo todos os anos na última década, materiais (sintéticos ou biomateriais) de embalagem que sequer ouvira falar no ano anterior. O presente-futuro me parece um replay do que aconteceu na minha casa, enquanto garoto, convivendo ao lado dos meus pais e irmãs. Estarei ouvindo música em alguma

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evolução de streaming, enquanto me dou ao trabalho de fechar um pacote de embalagem de biscoito resselável e mantenedor de crocância. Minha esposa (bem mais avançada que eu nas novas tecnologias, admito) estará incomodada com a geladeira smart, que não recebeu a mensagem do pote de sorvete para que diminuísse a temperatura do freezer e deixou o mesmo derreter. No quarto, ouvindo sabe-se lá Deus que porcaria, estará meu filho. É hora do almoço mas respeitamos a sua privacidade: ele está imprimindo um hambúrguer na MacPrinter e tirando uma Coca “vita” do RefriMixer 2.0 (receita de fã baixada na rede social da vez). Desde que ele inale depois as vitaminas AirCentrum no borrifador do seu quarto, vamos deixar ele numa boa, afinal não somos pais tão carrascos assim. Viva a modernidade. No fim do dia, nos esbarramos ele e eu no corredor de acesso a cozinha, um cômodo que ele raramente frequenta. Ele me flagra com um saca-rolhas na mão, procurando uma garrafa de vinho. “- O que é isso aí na tua mão, pai?” “- Um saca-rolhas. Para abrir a tampa dessa garrafa aqui.” “- Nossa, que (completar com a gíria do momento para descrever velho e antiquado) ”. Como diria o finado Zygmunt Bauman: “Vivemos tempos líquidos, nada é para durar. Esses tempos líquidos são o que convencionamos chamar de presente.


/// ARTIGO DE CAPA

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/// ARTIGO TÉCNICO

O ELEMENTO HUMANO E OS PROCESSOS DE CAPACITAÇÃO

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/// ARTIGO TÉCNICO Andrê Gazineu Engenheiro de produção pela PUCRS com pós em gestão da produção e qualidade na IMED, mestrando em ciências matemáticas na UPF. Passagem pela Ipiranga Produtos de Petróleo, é atualmente engenheiro de produção na Plastimarau e ministra engenharia de produção na CESURG andre.gazineu@acad.pucrs.br

P

rocessos de impressão gráfica são inerentemente propensos a um alto nível de complexidade. O risco é monotonicamente aumentado devido ao aumento gradual de indústrias gráficas com processos, fluxos de trabalho e tecnologias cada vez mais complexas e sofisticadas. Um impressor destreinado pode incorrer na interrupção da linha de

produção, causar danos aos equipamentos, elevar o índice de perdas e expor a si e aos companheiros de trabalho a acidentes ou até mesmo a fatalidades. Uma série de revisões de literatura aponta como principal fonte de acidentes o manuseio incorreto de máquinas e equipamentos e o desconhecimento do processo produtivo, por parte dos operadores.

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/// ARTIGO TÉCNICO

Portanto, a questão da falha na formação e desenvolvimento profissional é questão de primeira ordem. A indústria convertedora deve pautar-se na racionalização do trabalho (método que visa simplificar as atividades fabris, porém isola o elemento principal: o trabalhador) e, complementarmente, nos processos ligados à formação intensiva de sua mão-de-obra.

“Mais do que saber o que fazer, os indivíduos desejam oportunidades de utilizar seu conhecimento, talentos e competências, para sentirem-se importantes e envolvidos na construção do futuro da empresa em que atuam.”

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A formação profissional e o desenvolvimento de habilidades dos funcionários são uma condição para o bom funcionamento das organizações. Uma pergunta: por que mesmo com tantos estudos científicos apontando os efeitos de uma força de trabalho qualificada no desempenho organizacional, ainda há resistência por parte das indústrias (fundamentalmente em pequenas e médias empresas)? O aumento gradual na complexidade dos sistemas de manufatura, no caso deste artigo, relacionados ao mercado de conversão, alterou sobremaneira a rotina dos trabalhadores e a de seus contratantes. Especificamente, antes da era da tecnologia, os operadores in-

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dustriais intervieram manualmente no processo. Consequentemente, os operadores eram necessários para, fisicamente, fazer ajustes na linha com base em empirismo. À medida que os sistemas se tornaram mais automatizados e a intervenção humana fora atenuada, o trabalho destes operadores foi revolucionado, passando de manipulação e controle diretos para atividades envolvendo a supervisão e centradas na tomada de decisão.

Para um único operador, parte da complexidade reside no diagnóstico de situações de falha, que requerem uma abordagem específica para a resolução de problemas, isto é, uma abordagem analítica que não é necessária durante as operações triviais ou rotineiras.

Treinar a força de trabalho é visto por muitas organizações como uma estratégia para aumentar a competitividade. No entanto, alguns questionam o valor dos retornos de investimento que podemos esperar dessas iniciativas­ www.portal.abtd.com.br. Mais do que saber o que fazer, os indivíduos desejam oportunidades de utilizar seu conhecimento, talentos e competências, para sentirem-se importantes e envolvidos na construção do futuro da empresa em que atuam. O velho “sinhozinho” Taylor já propusera no início do século pas-


/// ARTIGO TÉCNICO

sado a necessidade de as empresas contratarem operadores eficientes, afirmando que a procura pelos profissionais competentes excedia em muito a sua oferta. No mundo de Taylor, operador “eficiente” implicaria no domínio das habilidades necessárias para a prática de uma tarefa específica e não-sistêmica. Na decorrente ampliação da complexidade organizacional, apenas técnicas específicas não garantem mais nem a eficiência, tampouco a empregabilidade dos trabalhadores. Vamos tomar como palco da nossa reflexão (ao menos neste artigo) acerca das atitudes e estratégias inerentes à potencialização dos recursos humanos, o mercado da flexografia, caracterizado por ser dinâmico, apresentar tecnicidade elevada, rotinas sofisticadas

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/// ARTIGO TÉCNICO

“Este fato evidencia a necessidade de as organizações investirem mais em programas de T&D para suprir a grande lacuna existente entre o nível de conhecimento operacional e as possibilidades de aprendizagem e otimização legítimas do processo industrial.”

de Treinamento e Desenvolvimento), verificou-se que o percentual de investimento anual médio em empresas brasileiras sobre a folha de pagamento é de 11%. Este valor é considerado alto, quando confrontado com o investimento das empresas norte americanas (3,96%). Cabe ressaltar que há um erro sistemático nesta intepretação: o faturamento das organizações brasileiras é baixo, logo, o índice acaba por parecer alto. Conforme estudos da ABTD, não houve variação de 2015 para 2016.

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e intrinsecamente emaranhadas, bem como ser um segmento industrial que padece, a olhos vistos, de mão-de-obra qualificada.

Quanto se gasta hoje com treinamento de pessoas em flexografia, afinal? E quanto deveria ser gasto?

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A aplicação de capital em Treinamento e Desenvolvimento (T&D) é convenientemente confrontada com a folha de pagamento sem encargos sociais de uma organização. Conforme pesquisa realizada pela ABTD (Associação Brasileira

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A mesma pesquisa indica que, em 2016, o investimento médio das organizações do Brasil em treinamento foi de míseros 0,46% sobre o faturamento bruto anual das companhias. Observa-se que quanto maior o faturamento da empresa, menor é a verba proporcional destinada a ações de T&D, visto que o ganho em escala dilui este valor de investimento; respeitando uma proporcionalidade. No Brasil, fora do mercado flexográfico, a média de investimento anual em T&D por colaborador é de R$ 624,00. No âmbito da flexografia, o investimento médio é R$ 937,50 (www.sinplast.org.br/indicadores/).


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w w. x o p r e s s2017 . c o m -. b41 r X -w Ed. 59f-l eJan/Fev


/// ARTIGO TÉCNICO

Este número demonstra modesta preocupação de algumas empresas em qualificar seu quadro funcional em momentos de crise no mercado, com o objetivo de ter uma equipe mais competitiva para o ganho de performance. Ainda assim, a média brasileira de investimentos no desenvolvimento dos profissionais se mantém abaixo da média norte-americana, que é de R$ 4.178,00 por colaborador. Para a composição deste indicador, divide-se o orçamento anual de T&D pelo número de colaboradores da empresa. Nos setores de impressão e conversão, o investimento é três vezes maior em organizações de pequeno e médio porte do que em empresas de grande porte. Logo, quanto maior o número de colaboradores da empresa, menor é o investimento individual em T&D por colaborador.

Outro fator intuído é a derrocada no absenteísmo dos programas de desenvolvimento formais de treinamento. Este indicador é importante, visto que indica a conscientização dos colaboradores quanto à relevância da ação. Em 2016, conforme pesquisa realizada pela ABTD, o índice foi de 12%, evidenciando uma melhora de 9% em relação ao ano anterior. O que mais este indicador nos conta? Nos conta que 12% de todo o investimento em T&D está sendo desperdiçado e que existe bom potencial de evolução. Dados os fatores estruturais de um mercado que demanda cada vez mais tecnologia, como imprimir com ainda mais qualidade, com processos estáveis, previsíveis e que beneficiem toda a cadeia produtiva? A resposta é simples: capacitando os operadores para que possam fazer uso pleno e adequado da tecnologia em suas atividades.

Este fato evidencia a necessidade de as organizações investirem mais em programas de T&D para suprir a grande lacuna existente entre o nível de conhecimento operacional e as possibilidades de aprendizagem e otimização legítimas do processo industrial.

Tipos, abordagens e métricas dos treinamentos A distribuição dos treinamentos segue a seguinte lógica na indústria: treinamento obrigatório (44%), técnico (38%) e comportamental (18%). A maioria dos treinamentos recebidos pelos operadores continua sendo de reação (76%), ou seja, o “avaliado avalia” o quanto aplicável foi o treinamento. Em seguida por avaliação de aprendizado (28%), onde há aplicação de testes (escritos, práticos ou mistos) ao aluno. A avaliação de aplicabilidade (13%) indica o quanto o aluno pôs em prática o aprendizado. Já a avaliação de resultados (6%) necessita de um bom sistema de indicadores que faça a ponte dos objetivos estratégicos e operacionais e, por fim, o ROI (Return On Investment) – Retorno Sobre o Investimento (3%), a divisão do ganho financeiro obtido pós intervenção da aplicabilidade do conhecimento adquirido no treinamento. Estes percentuais devem ser interpretados como intersecção dos conjuntos, ou seja, 24% das empresas não possuem avaliação de treinamento. Relativo aos treinamentos técnicos, 70% são relacionados à re-

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um termo exclusivo de treinamento e por possuir raízes financeiras, tem o poder de caracterizar o próprio sentido de ser do negócio e o retorno direto das ações do T&D para a empresa. Aqui, o conceito básico mais constatado em constructos teóricos é retratado de maneira fiel: a maioria dos diretores não se preocupa com detalhes de um projeto de T&D e sim com o ganho obtido com este treinamento (ROI).

Perfil das empresas de ­flexografia pesquisadas para este artigo

“Um fator que demanda o volume de treinamento por profissional é o constante avanço tecnológico, e a sua também constante evolução” gulagem de máquina, seguidos de 18% em tecnologia das próprias máquinas (em sua maioria concedidos pelos fabricantes dos equipamentos) e 5% foca-se em manutenção corretiva, limpeza e conservação. No entanto, treinamentos conceituais sobre o processo ou resolução de problemas representam apenas 7% do total. O leitor percebeu que boa parte da dificuldade reside na avaliação dos treinamentos? Há uma formula bastante simples para a avaliação de treinamentos: • Justificar a existência do departamento de T&D, evidenciando quantitativamente como ele contribui com os objetivos da

organização e como afeta o ROI (ou a medida de lucro empregada na organização); • Possuir regras simples para tomar a decisão de quando descontinuar um programa de treinamento; • Obter o feedback de como aplicar a melhoria continua nos próximos programas. A verificação do ROI não deve ser realizada exclusivamente em projetos de treinamento estratégicos, mas igualmente nos níveis tático e operacional, visto que o fator em questão é o quão relevante a mensuração de viabilidade o será. A aplicação do ROI, obviamente, não é

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A pesquisa contou com empresas do ramo flexográfico, com capital de origem nacional, com número de colaboradores entre 200 e 350 funcionários situadas no Rio Grande do Sul. Ainda, há classificação em dois grupos: o primeiro grupo é marcado pela utilização de alta tecnologia, impressão em vários substratos e investimentos em T&D. O segundo grupo consiste em usuários de máquinas velhas e sucateadas e pouco investimento em T&D. Acesse os dados e gráficos da referida pesquisa na continuação deste artigo em nosso blog no link https://goo.gl/ZKMsEh ou acessando com seu smartphone ou tablet o código QR abaixo.


/// ARTIGO TÉCNICO

Tendências e conclusões Mediante um cenário competitivo como o setor de embalagens, as organizações ainda não perceberam a necessidade de capacitar seus colaboradores por competências. Constata-se com o presente estudo que o investimento por colaborador em T&D, médio, no Brasil é de R$ 624,00 enquanto no âmbito da flexografia o investimento médio gira em torno de R$ 937,50. Ainda, percebe-se aumento de volume de treinamentos realizados, de investimentos e qualificação de quadro funcional em empresas de alta

tecnologia no mercado flexografia. Este fato corrobora com a interrupção do ganho de amadurecimento e importância ao desenvolvimento de indivíduos nas organizações, especialmente em um ano desafiador em que as organizações buscam reinvenção e efetividade. Um fator que demanda o volume de treinamento por profissional é o constante avanço tecnológico, e a sua também constante evolução. A modelagem matemática indica que o percentual de absenteísmo e horas de T&D por colaborador influenciam diretamente na rentabilidade por colaborador. Além disso, cons-

tata-se que, para decidir quando continuar ou descontinuar programas de treinamento, um percentual pequeno de empresas utiliza o Retorno Sobre o Investimento, dependendo da viabilidade da mensuração (quando possuem uma base sólida de indicadores). Estamos em uma fase onde há grande estima pela concepção de um departamento de Recursos Humanos Estratégico e, neste cenário, nada mais importante que métodos quantitativos para seu monitoramento e tomada de ação. Ainda, fora demonstrado estatisticamente que as horas de T&D possuem impacto significativo na rentabilidade por ­colaborador.

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/// FUSÕES E AQUISIÇÕES

FUSÕES E AQUISIÇÕES O mercado de embalagens foi bastante consolidado mundialmente em 2016. O que esperar de 2017?

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/// FUSÕES E AQUISIÇÕES

T

em havido muita discussão a respeito do recente aumento do número de fusões e aquisições no setor de tintas para Impressão. Alguns destes movimentos são, na verdade, um reflexo natural da própria consolidação do segmento gráfico e de embalagens. Até o ano passado ou um pouco mais, o setor de impressão editorial foi o maior alvo dos esforços de consolidação, com as multinacionais R.R. Donnelley e Quad/Graphics adquirindo competidores importantes. Não houve movimento significativo em 2016 – as transações ocorreram eminentemente no segmento de embalagens.

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/// FUSÕES E AQUISIÇÕES

“O maior movimento da indústria gráfica em 2016 foi, na verdade, uma separação. A tradicional R.R. Donnelley & Sons foi fracionada em três partes.” A maior aquisição do ano de 2016 foi a conclusão do processo de aquisição da Rexam Plc pela Ball Corporation por aproximadamente USD 6,1 bilhões em caixa e ações, formando a maior fabricante de latas do mundo. Combinadas, a Ball passa a operar 75 fábricas de latas e joint ventures, bem como dezenas de unidades administrativas na América Central e do Norte, Europa e Rússia, América do Sul, Ásia e Oriente Médio; um time de mais de 18.700 colaboradores distribuídos em cinco continentes e vendas líquidas proforma na ordem de USD 11 bilhões. Outro movimento notório no campo das etiquetas RFID foi a aquisição da Checkpoint Systems pela CCL Industries. A empresa, com vendas de aproximadamente USD 820 milhões em 2015, foi integrada ao portfólio da CCL, reforçando estrategicamente a posição da companhia nos setores de vestuário e etiquetas inteligentes. “Há muitos anos temos admirado a Checkpoint por sua posição única e liderança global no fornecimento de soluções de alta tecnologia em etiquetas para o varejo e a indústria têxtil”, disse Geoffrey T. Martin, presidente e CEO da CCL Industries, ao anunciar a

compra. “Nós estamos muito satisfeitos em acolher seu experiente time na CCL, onde eles vão continuar focando neste importante e emergente setor da indústria que é de tecnologia para etiquetas inteligentes”, conclui. Noutro movimento chave à indústria de rótulos, três dos maiores convertedores independentes do mundo – Rako Group e X-Label (sediadas na Alemanha) e Baumgarten (Brasil) entraram em acordo de fusão. A nova companhia surge faturando USD 500 milhões, com 30 fábricas, mais de 3 mil empregados e uma produção anual que supera os 60 bilhões de rótulos. Na linha das matérias-primas, duas transações gigantes chamaram a atenção em 2016. A primeira delas foi a aquisição da AEP Industries Inc., fabricante de filmes plásticos para embalagens pela norte-americana Berry Plastics Group. A AEP possui 14 fábricas distribuídas em território americano e canadense, aproximadamente 2600 empregados e faturou, nos últimos 12 meses, mais de USD 1,1 bilhão em vendas. A outra aquisição que “saltou aos olhos” foi a compra da divisão de polpa celulósica da Weyerhaeuser – o que incluiu cinco moinhos,

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sendo três nos Estados Unidos, um no Canadá e um na Polônia e duas fábricas de conversão – pela International Paper, por um valor ao redor de USD 2,2 bilhões. A divisão de polpa da Weyerhaeuser emprega atualmente mais de 1900 profissionais. Além das empresas do setor realizando investimentos estratégicos, os fundos de investimento também têm aumentado sensivelmente as incursões ao setor de embalagens e impressão. A Advent International adquiriu o controle acionário da Fort Dearborn, o terceiro maior fornecedor de prime label da América do Norte, do fundo KRG Capital Partners. A CVC Capital Partners adicionou a ÅR Packaging, uma convertedora de embalagens europeia com aproximadamente USD 600 milhões em vendas no ano de 2015, da Ahlstrom Capital e Accent Equity. O maior movimento da indústria gráfica em 2016 foi, na verdade, uma separação. A tradicional R.R. Donnelley & Sons foi fracionada em três partes. A parte que herda o negócio de impressão passa a ser um negócio global de USD 7 bilhões, com mais de 42 mil empregados distribuídos em gráficas em 28 países. Muitas das aquisições são regionais por natureza, movimentos estratégicos das grandes companhias para expandir sua presença em mercados emergentes ou com melhores margens. A seguir, vamos percorrer algumas das transações mais importantes de 2016 por região:


/// FUSÕES E AQUISIÇÕES

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/// FUSÕES E AQUISIÇÕES

América do Norte: • A maior transação foi a junção das operações da WestRock e do Grupo Gondi no México. A nova empresa passa a congregar as três fábricas de embalagens de papelão da WestRock no país com as dez fábricas do Grupo Gondi. A companhia soma 6800 empregados e lidera, absoluta, o mercado mexicano de papelão ondulado; • Também em 2016, o Grupo Gondi adquiriu o negócio de embalagens cartonadas da Constantia Flexibles no México – a Aluprint Plegadizos, com aproximadamente 600 colaboradores; • Em outa jogada, a WestRock adquriu a Cenveo Packaging, uma divisão da Cenveo Inc., com receita anual de vendas ao redor de USD 190 milhões. A Cenveo Packaging é uma gráfica de embalagens cartondas e displays laminados e impressos, com sete plantas na América do Norte;

América do Sul: • A Packaging Corporation of America (PCA) adquiriu a TimBar Corporation, produtora de embalagens de papelão ondulado que, em 2015, faturou USD 324 milhões. A PCA também comprou a Columbus Container, uma fabricante de embalagens de papelão ondulado de porte pequeno; • A Sonoco adquiriu a Plastic ­Packaging Inc., uma convertedora de embalagens flexíveis com receita anual de vendas na ordem de USD 42 milhões; • A Multi Packaging Solutions adquiriu a texana i3 Plastic Cards, uma gráfica especializada na produção de cartões plásticos promocionais e personalizados em impressão digital.

• A canadense Transcontinental Inc. continua a aumentar sua participação no mercado de embalagens flexíveis. Em 2016, ela realizou duas aquisições: a Flexstar Packaging Inc. e a Robbie Manufacturing, ambas nos EUA; • A Graphic Packaging adquiriu a Walter G. Anderson, uma convertedora de embalagens cartonadas com duas plantas (uma em Minnesota e outra, em Iowa) e a Metro Packaging & Imaging, Inc., Wayne, New Jersey; 50 - ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017

• A mais importante transação na região foi a aquisição do grupo Alusa pela Amcor. A Alusa, um dos maiores convertedores de embalagens flexíveis da América do Sul, faturou em 2015 algo em torno de USD 375 milhões. A Amcor passa a deter a Alusa (Chile) e todas as suas subsidiárias: Peruplast (Peru), Aluflex (Argentina) e Flexa (Colombia). O valor da compra – USD 435 milhões – representa 8,5 vezes PBITDA (Profit Before Interest. Tax, Depreciation and Amortization).


/// FUSÕES E AQUISIÇÕES

Europa:

Ásia-Pacifico:

• A CCL foi às compras este ano na Europa, começando pela aquisição, por USD 27 milhões, da Woelco AG, em Stuttgart, Alemanha. A Woelco, com operações nos EUA e China, faturou USD 31 milhões em 2015 e produz, exclusivamente, soluções de etiquetas industriais para o mercado automotivo;

• A International Paper vendeu seu negócio de papelão ondulado na Ásia, o que incluiu 18 fábricas e aproximadamente 3 mil funcionários ao fundo de investimentos chinês Xiamen Bridge Hexing Equity Investment Partnership Enterprise;

• Na Irlanda, a CCL adquiriu as empresas Label Art e Label Art Digital, especializadas em etiquetas autoadesivas (somadas, as empresas auferiram receita de USD 17 milhões em 2015) e a Labelone, em Belfast, Irlanda do Norte (com receita anual de USD 10,7 milhões), uma convertedora de rótulos centrada no mercado cosmético; • A Multi Packaging Solutions adquiriu a convertedora de rótulos e etiquetas autoadesivas AJS Labels, no Reino Unido.

• No norte da china, a Amcor adquiriu por USD 28 milhões a Hebei Qite Packing Co. Ltd., uma convertedora de embalagens flexíveis alimentícias que faturou, em 2015, ao redor de USD 36 milhões. A Amcor também comprou a BPI China (outro convertedor de embalagens flexíveis impressas da região) por USD 13 milhões; • A Graphic Packaging adquiriu a Colorpak, uma gráfica de embalagens cartonadas líder nos mercados australiano e neozelandês, por USD 60 milhões;

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/// ARTIGO TÉCNICO

TECNOLOGIA DE PROCESSOS NA REDUÇÃO DE CUSTOS COM ENERGIA ELÉTRICA, AUMENTO DA PRODUTIVIDADE E INOVAÇÃO

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/// ARTIGO TÉCNICO Fabiano Lúcio de Oliveira e equipe (Wesley Pacheco Calixto, Márcio R. da Cunha Reis e Carlos L. Borges da Silva)

Administrador de Empresas, Coach em Gestão da Produção e Desenvolvimento pessoal, Mestrando em Tecnologia de Processos Sustentáveis pelo IFG - Instituto Federal de Goiás, 25 anos de experiência em indústrias, passando por vários departamentos, onde acumulou considerável experiência, realizou diversos trabalhos e treinamentos com foco no ganho de produtividade. profissionaldegestaoindustrial@gmail.com

A

s indústrias de pequeno e médio porte de transformação de plásticos sofrem com a falta de informação do seu processo produtivo, pois não possuem um sistema de gestão da produção capaz de obter informações precisas, às vezes por falta de recursos, as vezes por não considerarem o detalhamento do processo produtivo tão importante. Mesmo a despeito de que algumas empresas possuem boa margem de ganho financeiro, ainda assim

não percebem que poderiam ganhar mais ou mesmo sequer estão dispostas a este trabalho de mensuração e analise, que compreende o monitoramento de paradas das maquinas, analise das referidas falhas ou decréscimos no seu desempenho e as devidas ações corretivas e preventivas. Mais do que um ganho financeiro incremental, monitorar a performance da produção é, na atual conjuntura econômica, um meio de garantir a sua sobrevivência no mercado.

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/// ARTIGO TÉCNICO

Quando as indústrias monitoram, o fazem por amostragem (muitas das vezes insuficiente), com baixo nível de confiabilidade (é um processo de coleta muito centrado no próprio operador do equipamento, que tem como prioridade dar vazão às suas metas de produção e, em geral, não recebe a qualificação necessária para coletar dados no processo) e de forma não integrada. Por integração, entende-se que os dados monitorados estão disponíveis e em tempo real aos gestores da empresa para uma rápida tomada de decisão. Dos vários itens que se deve controlar está a energia elétrica de uma indústria. Os custos da energia no Brasil são muito elevados, quando comparados aos países desenvolvidos (muita informação comparativa pode ser encontrada nos estudos publicados acerca do chamado

“Custo Brasil”) e, especialmente a atividade de transformação de plásticos tem uma demanda e uma representatividade de custos da energia bastante significativa. No IFG – Instituto Federal de Goiás, o autor deste artigo que vos escreve desenvolveu uma ferramenta de software que intenta auxiliar o gestor de produção a monitorar com maior eficiência tanto o consumo de energia elétrica e as perdas correlacionadas às suas oscilações, quanto as próprias máquinas industriais, como extrusoras por exemplo. Cada equipamento da linha produtiva receberia um hardware que, ao comunicar-se com uma central por sinal Wi-Fi, rádio ou cabeamento de dados, reuniria todo o conjunto de informações acerca do status de funcionamento (ligada, desligada, parada

Figura 1: planilha do GEPE

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ou produzindo, velocidade e consumo energético) e as organizaria em planilhas e dashboards personalizáveis de acordo com as necessidades dos seus usuários. Abaixo, alguns exemplos de relatórios e informações compiláveis ao gestor: Planilha do GEPE (figura 1), onde é possível realizar análises como: • Paradas por motivos: analisar a significância de cada parada e discutir junto à equipe as possíveis intervenções e melhorias para sanar as interrupções da linha; • Disponibilidade do equipamento: total de horas disponíveis e tempos desperdiçados por motivos diversos, justificando a ineficiência e permitindo a tomada de ações pelo gestor.


/// ARTIGO TÉCNICO

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Planilha de eficiência por máquina ou equipamento (figura 2), onde é possível investigar: • A Eficiência: Produção padrão estabelecida pelo fabricante x Produção Realizada, mostrando a linha de tendência aos gestores visualmente, facilitando a compreensão e possibilitando as ações necessárias. Planilha de gestão de energia (figura 3), onde é possível avaliar: • Oscilações da energia elétrica fornecida pela rede da concessionária, de forma individual, o que permitiria ao gestor detectar variações de energia elétrica e evitar a queima do equi-

pamento por sobrecarga ou a redução da vida útil de componentes eletrônicos e eletroeletrônicos. É possível fixar limites como oscilação esporádica de mais ou menos dez por cento aos inversores, controladores de temperatura, motores e outras partes, auxiliando inclusive nos processos de manutenção preditiva; A inovação reside no fato de que, diferentemente dos sistemas convencionais (que monitoram a energia de entrada da fábrica ou fazem medições pontuais na linha), este sistema faz uma avaliação em tempo real do consumo de energia elétrica por máquina. Essa mudança que a priori, parece simples, traz

Figura 2: planilha de eficiência por máquina ou equipamento

Figura 3: planilha de gestão de energia, onde é possível avaliar: 56 - ProjetoPack em Revista - Ano X - Ed. 59 - Jan/Fev 2017

uma série de vantagens ao empresário – principalmente no setor termoplástico – a saber: a) Confiabilidade na medição: ao medir o consumo energético na entrada da linha ou fábrica, o erro é maior; a energia percorre um trajeto tortuoso de cabos, quadros de distribuição, disjuntores e emendas que, antes de chegar aos equipamentos, teve a sua tensão alterada (reduzida) b) Melhor critério na alocação de custos: em alguns produtos, principalmente na extrusão, a representatividade da energia elétrica é algo significativo. Nos sistemas tradicionais, o custo total da energia consumida é rateado por setor, linha ou máquina produtiva, ocasionando distorções consideráveis no custeio dos produtos. c) Redução de custos com manutenção e reparos: o monitoramento permanente e individual de energia permite ao gestor identificar preventivamente problemas nos equipamentos, tornando o programa de manutenção produtiva total mais eficaz e diminuindo sensivelmente as despesas com reparos (aumentando os índices de confiabilidade e disponibilidade da fábrica). Nada disso teria aplicabilidade se não fosse um sistema acessível em termos financeiros, às micro e pequenas empresas – o perfil mais crítico em termos de estrutura de pessoas e recursos para controlar esta variável industrial, algo que acreditamos ter cumprido a contento.


/// ARTIGO TÉCNICO

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