1 minute read
Por que cantar?
O cantar é tão antigo quanto o falar. Nos primórdios da humanidade, não existia distinção entre as duas coisas. Em algumas culturas, o canto não tem fala: pode ser apenas uma vocalização que imita os sons emitidos pelos animais ou pelas divindades, sem a articulação de palavras com significados. Em outras culturas, a própria fala é cantada, como no caso do sânscrito, a língua ancestral do Nepal e da Índia.
Segundo a ciência, a música mobiliza todas as regiões cerebrais e todos os subsistemas neurais, alojando-se junto às memórias mais remotas. A música está presente nas culturas humanas desde sempre, sendo um dos elementos mais assíduos na trajetória de qualquer grupo social.
Advertisement
Não só cantar, mas o cantar junto, sempre foi um hábito essencial para a humanidade. De acordo com o neurocientista Daniel Joseph Levitin, cantar em torno da fogueira mantinha as tribos acordadas, afastava predadores e contribuía para o desenvolvimento da coordenação e da cooperação. A música ainda hoje é um vínculo que promove a coesão social dentro dos grupos.
Essa arte também exerce funções celebrativas e mágicas. Nos rituais de muitas culturas, por exemplo, ela é parte da perfomance que transforma o iniciante em iniciado. E isso não é coisa só dos tempos antigos. Até hoje, em diversas manifestações religiosas a música promove o encontro com o sagrado por meio do canto, do toque percussivo ou da melodia instrumental. É natural, portanto, que a música demarque épocas, festas e a passagem do tempo, arrebatando corações e nos acompanhando na jornada imprevisível da vida.
O cantar junto, nascido no ritual e na magia, continuado na oração e no louvor, é uma potente forma de união por meio da música. É daí que vem o canto coral.
Na Catalunha, nas Cavernas de El Cogul, encontram-se as Dançarinas de Cogul, o mais antigo conjunto de desenhos associados à música. É datado do Neolítico (10.000–4.500 a.C.), quando os povos se tornaram sedentários e desenvolveram a agricultura. Ele representa nove mulheres dançando em volta de um homem nu no que parece ser um ritual com dança e canto conjunto — ou seja, um coro.
Os instrumentos musicais são usados há milhões de anos. Os mais antigos já encontrados são flautas feitas de ossos como tíbias de aves de grande porte, marfim de mamute e fêmures de grandes animais. Acredita-se que as flautas serviam para imitar os sons dos animais e atraílos para serem caçados. No final do século XX, arqueólogos encontraram em Divje Babe, no noroeste da Eslovênia, uma flauta datada de meados do Paleolítico (60.000–50.000 a.C.).
O instrumento, feito de osso de fêmur de urso, pode ser tocado na escala de sete notas. Ele é conhecido como flauta Neandertal.