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Não aprendi dizer adeus

Neste 2022, ano em que o Coral Pequeno Príncipe inicia sua segunda década de vida, os profundos e trágicos efeitos da pandemia de covid-19, iniciada em 2020, se fazem sentir de forma intensa e, de certa maneira, como um capítulo ainda em aberto. Alguns historiadores têm sugerido que essa crise sanitária pode vir a iniciar um novo período: a entrada de fato no século XXI, marcado por crises climáticas sem precedentes, e que já estão dando suas amostras.

O coronavírus evidenciou que nem mesmo uma crise de proporções planetárias promove rupturas suficientes em direção à igualdade de direitos e de justiça social. Claro, vimos a solidariedade e a natureza aflorarem e se afirmarem diante do desastre e do caos, mas assistimos também ao negacionismo e ao egoísmo ganhando espaço. Isso já acontecera em outros momentos históricos de guerra e de peste, como durante a Revolta da Vacina, em 1904, e acontece de novo agora.

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Nesse cenário, o coral cumpre um papel aparentemente pequeno, mas que é fundamental: o de tentar levar leveza, consolo, alívio e alegria em meio ao sofrimento, coletivo e particular, a que a pandemia nos tem submetido em diferentes graus de intensidade. E isso aconteceu com a ajuda da tecnologia, já que os ensaios e espetáculos presenciais precisaram ser suspensos em março de 2020.

Para que o Coral Pequeno Príncipe conseguisse manter o vínculo, se reunir e chegar aos corações sem comprometer a segurança de coralistas e nem a do público, seus integrantes utilizaram os aplicativos de reunião online, o WhatsApp e as redes sociais. Os encontros às quintas-feiras foram mantidos, mas à distância e em modo virtual; já as apresentações passaram a ser realizadas em vídeo. Cada coralista gravava em casa sua parte em uma peça, e depois enviava o vídeo para a equipe de produção, que fazia a edição de todas as participações e publicava o resultado nas páginas do coral nas redes Instagram, Facebook e Youtube.

Isso certamente fará parte das recordações de cada um daqui a muitas décadas, até pelo desafio que representou. Cantar sozinho não foi fácil. Como explica a maestra Simone, quando as vozes estão no coral, apoiam-se umas nas outras e, juntas, se modulam. Para alguns, foi

Vozes do bem-querer estranho ouvir a própria voz: “sozinha parece que não fica tão boa”. Para outros, o desafio foi lidar com a tecnologia, gravar-se cantando e enviar arquivos. Mas ver os vídeos prontos e circulando pelas redes compensava o esforço. Os materiais tiveram muitas visualizações, curtidas e compartilhamentos, e os coralistas conquistaram fãs que nunca tinham estado em uma apresentação presencial do Coral Pequeno Príncipe.

Esses modos de driblar a distância reforçaram os laços dos coralistas e emocionaram os ouvintes, também reclusos em suas casas, nos primeiros e difíceis tempos da pandemia. As vozes voaram pelas redes e comoveram além das fronteiras da execução ao vivo de suas apresentações.

Claro, a vontade é de estar pertinho de novo, presencialmente, no hospital. Retomar o voluntariado, os ensaios e o trabalho com a voz às quintas-feiras, encontrar os amigos que viraram família, distribuir brinquedos e brincar com as crianças, fazer a festa nos corredores. Como diz a contralto Ingrassulina, carinhosamente chamada de Ingra:

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