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Quantos acontecimentos cabem em uma década?
A percepção do correr do tempo é relativa. O tempo passa devagar quando nosso vizinho coloca uma música de que não gostamos em sua potente caixinha de som, ou passa num piscar de olhos quando o show tão esperado do nosso cantor preferido, com ingressos comprados um ano antes, acaba rapidinho. Dos 10 aos 20 anos de idade as transformações são muitas; já dos 20 para os 30, nem tanto. Nos tempos em que vivemos, cabe muita mudança no espaço de uma década!
Em 2011, ano em que o Coral Pequeno Príncipe começou seus ensaios, o aplicativo de mensagens WhatsApp estava dando seus primeiros passos; fazer chamadas de vídeo na palma da mão, a qualquer hora, ainda parecia cena de desenho da futurista família Jetsons dos anos 1970. Ninguém imaginaria que, apenas 10 anos depois, algumas das entrevistas feitas para este livro, em fins de 2021, aconteceriam por vídeo-chamada do “zapzap” (apelido que o WhatsApp ganhou no Brasil).
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Naquela época, os celulares ainda não contavam nossos passos e tampouco os app (os aplicativos) nos mandavam tomar água. As redes sociais ainda eram vistas quase como brinquedo; só os apocalípticos vociferavam que em uma década elas seriam um vício para a maioria da população da Terra, e que as fake news — as notícias falsas espalhadas deliberadamente para influenciar eleições, e cujo termo foi popularizado no pleito norte-americano de 2016 — teriam poder de direcionar os rumos de muitas nações.
Em 2011, o mundo teve uma miss universo negra e o Brasil teve sua primeira presidenta mulher. Dentre as pautas que marcaram o período, a participação das mulheres na política e os feminismos negros tiveram avanços irreversíveis, transformando padrões de comportamento e beleza. Houve também uma mudança no perfil da população brasileira. Empretecemos na última década, pois mais brasileiros se reconhecem como negros, e também envelhecemos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde 2014 há no país mais idosos de 60 anos do que crianças de até
9 anos, devido a reduções sensíveis nas taxas de natalidade e ao aumento da expectativa de vida.
Parte dessas transformações está espelhada no Coral Pequeno Príncipe. Treze dos seus atuais 22 coralistas têm mais de 60 anos. São pessoas ativas e empenhadas em transformar a si mesmas e o entorno com uma vitalidade que acaba chamando a atenção dos mais jovens. O multi-instrumentista Mauro Abati Filho, que tem 36 anos e é preparador vocal do grupo, conta que se surpreende com a disposição dos coralistas mais maduros. Lembra que, mesmo tendo o papel de ensinar, pela troca de experiências é ele quem mais aprende.