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O nascimento do Coral Pequeno Príncipe
Além de prezar pela cultura, o Hospital Pequeno Príncipe é festeiro. Todas as datas comemorativas são celebradas, como forma de levar às crianças o espírito festivo e familiar e de não deixar que o internamento faça as datas tradicionais passarem “em branco”.
Durante muito tempo, foi comum o convite a grupos corais para que se apresentassem ao público do hospital nessas ocasiões, especialmente no Natal. Um dia, porém, veio a ideia: e se o hospital tivesse seu próprio coral? A ideia virou semente, que germinou, se desenvolveu e frutificou graças ao trabalho de três mulheres: a entusiasta, a que nutre, e a que faz caminhar. A tradição natalina de convidar grupos corais para se apresentar no HPP se manteve mesmo com a fundação do coral próprio, que até 2019 foi o grande anfitrião desses encontros.
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“Se há um lugar onde a gente precisa ter alegria, ser ativa, ter a criatividade estimulada, é em um hospital. Um hospital de crianças, mais ainda. A arte e a música fazem parte disso. E a música é uma arte muito universal, porque você não precisa compreender o conteúdo das palavras, só o ritmo já é uma coisa que mexe profundamente com as pessoas. É extremamente mobilizador. E poder celebrar a vida e a passagem de fases da vida com a música é muito especial.” Ety
Forte Carneiro, diretora-executiva do Hospital Pequeno Príncipe.
A entusiasta — uma das maiores que o coral já teve — é Patrícia Bertolini Izidorio, no hospital desde 1996. Chegou à instituição como estagiária de psicologia no Setor de Voluntariado e hoje é coordenadora de projetos e do Centro de Reabilitação e Convivência Pequeno Príncipe. Patrícia conta que, quando via as apresentações dos corais convidados para os diversos eventos, pensava com seus botões: “o Pequeno Príncipe precisa ter um coral. É a cara da instituição!” Entre um suspiro e outro, Patrícia dividiu seus sonhos com Ety Cristina Forte Carneiro, diretora-executiva do hospital, e ambas perceberam que o sonho era compartilhado. Entrou em cena, então, a nutriz, pois Ety Cristina também acalentava a vontade de contar com um coral no hospital, integrando voluntários e colaboradores.
“Quantas vezes eu vejo as reações das pessoas, se emocionando com o Coral Pequeno Príncipe, e fico extremamente contente por estar participando disso. O Brasil ainda é um país em que as pessoas não têm as mesmas oportunidades, e ver um momento no qual todo mundo está desfrutando e interagindo intensamente com a arte é muito gratificante”. Ety Cristina Forte Carneiro, diretora-executiva do Hospital Pequeno Príncipe.
A escolhida foi a maestra Simone Abati. Convidada pela dupla Patrícia e Ety Cristina, Simone trouxe na bagagem a experiência de regência em diversos corais. E essa experiência vinha de berço: é que os pais da maestra se conheceram justamente em um coral. Quando o casal se fez trio, a ida aos ensaios passou a incluir também a bebê Simone. Dizer que a regência acompanhou a maestra em todos os momentos da vida não é exagero ou licença poética: seu casamento foi celebrado com a apresentação de um coral infantojuvenil, regido pela própria Simone, na frente do altar e vestida de noiva!
Mas, quem colocaria o grupo para caminhar?
A partir do sonho compartilhado e da ideia semeada, o hospital passou a acolher um projeto contínuo, viabilizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, que trazia o canto coral “para dentro de casa” na forma de ensaios e apresentações para pacientes, familiares e colaboradores da instituição. Para que a ideia efetivamente germinasse, mais uma mulher entrou em cena: a historiadora e produtora cultural Eliane da Cunha Aleixo passou a estruturar e cuidar do projeto, função que ocupou até 2017.
Com o projeto aprovado e o coral oficialmente criado, chegara o momento de encontrar coralistas. A notícia de que estava surgindo um coral dentro do Hospital Pequeno Príncipe foi divulgada entre colaboradores e voluntários e atraiu muitos interessados. A primeira reunião entre os futuros integrantes aconteceu em uma quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011, com a presença de 32 pessoas. De acordo com Patrícia — fazendo referência a um verso da música “Sá Marina”, de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar —, nesse mesmo dia a maestra Simone “já fez o povo inteiro cantar”. Desde então, ficou definido que os ensaios aconteceriam sempre às quintas-feiras.
Irmã Joana Marli Stroka, foi da Pastoral Hospitalar e integrou o Coral Pequeno Príncipe.
Registros da primeira reunião do Coral Pequeno Príncipe, em fevereiro de 2011.
De cima para baixo: informativo dirigido aos colaboradores do Complexo Pequeno Príncipe noticia o início das atividades do Coral, em fevereiro de 2011; primeira apresentação do Coral Pequeno Príncipe, na Praça do Bibinha, junto com o Coral do Lar de Meninos São Luiz; convite para a estreia do coral na Praça do Bibinha, no Hospital Pequeno Príncipe.
Com menos de três meses de ensaio, o Coral Pequeno Príncipe já fazia sua estreia. As primeiras apresentações aconteceram em 2011, em dupla com o Coral do Lar de Meninos São Luiz, também de Curitiba. No dia 6 de maio, os grupos cantaram no Memorial de Curitiba e, no dia 10, repetiram a dose na Praça do Bibinha, no hospital.
A performance com o Coral do Lar de Meninos
São Luiz colocou lado a lado instituições com pontos de contato em suas histórias. O lar também é centenário. Foi fundado como Asilo
São Luiz em junho de 1919, apenas alguns meses antes da criação do Instituto de Higiene Infantil e Escola de Puericultura — o antepassado do Hospital Pequeno Príncipe. A missão da instituição era assistir os órfãos de pais vitimados pela gripe espanhola, que assolou Curitiba à época. E, assim como no caso do hospital, os grêmios femininos ativos nos anos 1920 também foram responsáveis por nutrir o Lar de Meninos no início das suas atividades. Mais uma vez, mulheres idealizando, nutrindo e fazendo caminhar.