Jornal Voz Nativa 08

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Jornalismo Badjeco Levado a Sério! Nº 8 Informativo do Projeto Voz Nativa - Ilha Grande, Angra dos Reis / RJ - Associação Civil Alternativa Terrazul - Janeiro de 2016

Ilha Grande ontem e hoje:

plantas, hábitos, objetos e rostos que contam sua história

Edição com Mapa de Unidades de Conservação da Ilha.


Jornalismo Badjeco Levado à Sério!

EDITORIAL Iniciamos o ano de 2016 com a versão número 8 do Jornal Voz Nativa e uma sensação muito positiva de dever cumprido. Em sua primeira edição dentro do Projeto Juventude Protagonista Ilha Grande – Voz Nativa, em setembro de 2014, evidenciamos o desejo de que este fosse um jornal feito ‘pelos’ e ‘para’ os moradores, que contasse histórias de todas as praias, que fizesse parte da rotina local e que contribuísse, de alguma forma, com os temas centrais do cotidiano da Ilha. Pouco mais de um ano depois pudemos perceber que esse objetivo foi a­tingido. A cada novo jornal, mais diversidade. Mais novidades eram sendo contadas, mais praias eram apresentadas, mais histórias, lendas e contos eram revelados. Através de telefonemas, mensagens, e-mails e visitas recebemos elogios, críticas, sugestões, matérias e muitas fotos. Chegamos neste momento com a certeza de que ainda há muita Ilha Grande a ser des­coberta, mas que parte de seu passado e presente aparece­ ram aqui no Jornal, na voz e nos rostos de quem constrói essa história. Nesta edição você verá um pouco das atividades culturais e esportivas que aconteceram pela Ilha, pessoas que nasceram em outro lugar e que cons­truíram sua vida pessoal e profissional aqui. Amizades e romances que se iniciaram no mar, iniciativas pessoais e coletivas que mudaram a realidade de praias como Abraão, Araçatiba e Palmas. Histórias de personagens conhe­cidos mundialmente e problemas e soluções de infraestrutura e saneamento básico. A edição conta também com uma página central especial, que nos mostra de forma simples as Unidades de Conservação da Ilha Grande. Sabemos que aqui é um lugar lindo e que precisamos cuidar. Mas o que podemos fazer? Quais são as regras de ocupação que regem aqui? O que é proibido e permitido? E por quê? Entenda as quatro áreas de proteção ambiental da Ilha, destaque o mapa e divulgue. Para cuidar, é preciso conhecer. E é isso que pretendemos aqui. Realização:

Patrocínio:

www.alternativaterrazul.org.br

Foto: Guia Ecológico João Pontes, Praia Lopes Mendes

Associação Civil Alternativa Terrazul Conselho Diretor Presidente Pedro Ivo de Souza Batista Diretora Administrativa Ana Laíse da Silva Alves Diretor Técnico Assimo Frederico Isique Salles Projeto Voz Nativa Juventude Protagonista da Ilha Grande Coordenação Geral Marcio Ranauro Coordenação de Comunicação Marina Rotenberg Coordenação Administrativa Arnaldo Augusto Assistentes: Ana Laíse, Beatriz Luz, Guaraci Lage, Ivana Ribeiro Assistente de Campo Luísa Sobral Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social – UFRJ Coordenação Pedagógica Ivan Bursztyn Coordenação Multimídia André Paz Jornal Voz Nativa Coordenação Marcio Ranauro e Marina Rotenberg Diagramação e Arte Guaraci Lage Fotos Contribuição Guia Ecológico João Pontes Endereço Espaço Voz Nativa Alameda Meu Santo, 250 / Vila do Abraão, Ilha Grande – Angra dos Reis/RJ CEP: 23968-000 Telefones (24)­99903-5776 (WhatsApp) projetovoznativa@gmail.com Facebook: Voz Nativa Ilha Grande Site: www.voznativa.eco.br Associação Civil Alternativa Terrazul Rua Floriano Peixoto, 1440 / Centro – Fortaleza/CE - CEP: 60.025-131 www.alternativaterrazul.org.br Tiragem 5.000 Distribuição Gratuita Este jornal é uma iniciativa do Projeto Voz Nativa, sua intenção é dar visibilidade e voz aos jovens nativos da Ilha Grande. As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do Terrazul e das instituições parceiras.


Jesuína de Souza nasceu em Itaperuna e dedicou sua vida ao trabalho de professora na Ilha Grande. Realizada, ela dá um recado aos jovens: “Estude para ter um futuro no qual possa se orgulhar.”

Entrevista feita pelos alunos do C.E.H.I Monsenhor Pinto de Carvalho, no Saco do Céu Conte sobre o lugar que você nasceu e sua família. Nasci em 1961 em Itaperuna, no Rio de Janeiro. Tenho 10 irmãos, sendo eu a oitava deles. Minha mãe teve 12 filhos, perdeu um ainda pequeno e como ela não poderia ter mais filhos, no 13º parto acabou falecendo, junto com o bebê. Meu pai, muito guerreiro, nos criou sozinho. Como foi sua vida de estudo? Na minha vida de estudos passei momentos bons e ruins. Como meu pai tinha poucas condições eu não conseguia comprar livros e material escolar, mas tinha muitos amigos com quem podia contar e que me ajudaram a continuar estudando. Eles pagavam professores de reforços para mim e disputavam para ficar do meu lado. Hoje sinto falta deles, que estão, em sua maioria, em Itaperuna. Como decidiu ser professora? Eu gostava muito de crianças e para mim a coisa mais importante para uma pessoa era o estudo, então eu queria poder contribuir para que mais pessoas pudessem se formar. Estudei no Curso de Formador de Professores e fui para a Ilha Grande. Dois anos depois ingressei na escola do Saco do Céu, onde fiquei 28 anos. Na escola fui professora, diretora e bibliotecária. Os alunos eram como meus filhos, presentes de Deus para mim. Conte como era a Monsenhor Pinto de Carvalho. A escola era pequena com duas salas para dividir entre duas ou três turmas, três banheiros, um para os professores e outros dois para alunos. Depois da 4ª série muitos alunos paravam de estudar porque não tinha barco escola. Depois de algum tempo trabalhando na escola eu e minha irmã Angela lutamos para conseguir o barco escola e o aumento do espaço escolar. Hoje a escola é de horário integral e tem importantes atividades para os alunos. Qual recado você daria para os alunos de hoje? Eu diria para os alunos de hoje valorizarem os estudos que têm, sempre estarem atentos aos conselhos dos mais velhos e dos professores, pois o estudo é tudo de mais importante em nossas vidas. Para eles, eu diria: Estude para ter um futuro no qual possa se orgulhar”. Fotos: Marina Rotenberg

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Foto: Marcio Ranauro

Espaço Araçatiba Comunidade em prol do bem comum: Moradores se unem para conserto do píer A união faz a força. Foi a partir deste pensamento que os moradores de Araçatiba se uniram, entre os meses de agosto e setembro, para recolher, junto a donos de embarcações e moradores, fundos para a reforma da estrutura e assoalho do píer em frente ao quiosque da Josi na Praia Grande de Araçatiba. A iniciativa teve o objetivo não só de diluir o custo dos materiais entre os contribuintes, mas também de incentivar um maior envolvimento de todos os moradores na conservação e no zelo do píer. O mesmo foi construído por iniciativa privada, com o tempo tornou-se de uso público e hoje facilita a vida de uma parcela considerável da comunidade. Após o término da reforma, algumas regras foram determinadas, visando ao conforto da comunidade, com acessibilidade, segurança e bem estar. A iniciativa foi uma ação coletiva de doação, mostrando que a união da comunidade é capaz de causar impactos positivos para todos. Carta de divulgação da ideia

Texto elaborado a partir da carta de divulgação, cedida por Luís, do Quiosque da Josi.

Píer antes da reforma

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Píer após a reforma

Fotos: Marcio Ranauro


Cultura para as crianças

No último dia 14 de novembro, as crianças do Abraão e redondezas puderam experimentar algo novo. O grupo circense “Trupe Flutuante” fez uma linda apresentação em frente ao Centro Cultural Constantino Cokotós (Casa de Cultura do Abraão), que teve como enredo a preservação do mar. Uma mensagem cheia de significado para as nossas crianças sobre a preservação do nosso mar e as consequências da ­degradação do meio ambiente pelo lixo e pela falta de cuidados. O evento foi organizado por nós, um grupo de mães que há algum tempo vem pensando em diferentes atividades educativas e lúdicas que podem ser feitas com as crianças da Ilha em diferentes espaços. O desejo é que o grupo cresça, com mais pessoas interessadas em fazer diferença e assim consiga organizar novos eventos que proporcionem experiências artísticas, culturais, sociais e ambientais para todas as crianças da comunidade do Abraão e também para as comunidades vizinhas. Agradecemos a todos que, da maneira que pude­ ram, participaram e ajudaram para que esse espetáculo acontecesse. E um agradecimento mais do que especial aos artistas da “Trupe Flutuante”. Esse é o primeiro de muitos que, com imprevistos e improvisos, conquistou o que mais almejávamos: maravilhosas gargalhadas, uma grande mensagem e um presente imaterial no coração de cada uma daquelas crianças ali presentes. As mães que tiverem interessadas em se juntar a nós, segue abaixo o nosso grupo no Facebook: Mães da Ilha Grande. Fotos: Marina Rotenberg

Mães da Ilha Grande

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Foto: Guia Ecológico João Pontes

Espaço Provetá Falta Saneamento Básico no Provetá Em Provetá não havia saneamento básico a alguns anos atrás e em consequência disso temos dois rios totalmente poluídos que entregam à comunidade um cenário não muito agradável, com mau cheiro e coloração escura. A população até então não podia fazer muita coisa a respeito dessa situação. Já que o esgoto não podia permanecer nas casas, tiveram como uma única opção colocar canos de PVC até as margens para os descartes de esgoto. Há pouco tempo iniciou-se uma obra de saneamento básico em Provetá com a meta de diminuir a quase 0% o nível de poluição destes rios, trazendo ainda mais beleza para este lugar que já é lindo.

Não podemos esquecer de agradecer a todos que estão realizando o projeto, mas devemos apontar que nem todas as casas recebem este benefício e apenas uma pequena parte da população tem o esgoto de suas casas canalizado com o sistema de saneamento. Peço ao orgão que dê o devido atendimento básico. Sabemos que a poluição, não só dos rios, mas de tudo, traz consequências devastadoras à saúde pública, com doenças assombrosas e maléficas. Provetá está no caminho certo e este paraíso brilhará ainda mais com o término destas obras. Ficamos no aguardo.

Fotos: Guaraci Lage

* imagens meramente ilustrativas

Paulo Ricardo dos Santos Garcia, Werlison das Neves, Thiago dos Santos, alunos de Provetá

VOCÊ SABIA? O VOZ NATIVA REALIZA EM DIVERSAS COMUNIDADES DA ILHA GRANDE CURSOS SOBRE TURISMO, MEIO AMBIENTE, MÍDIAS COMUNITÁRIAS E GASTRONOMIA 6

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Foto: Marina Rotenberg

Espaço Palmas Aulas de inglês: iniciativa da comunidade para a comunidade A ideia das aulas de inglês surgiu através da necessidade de uma moradora, Joyce Torres, que precisava do segundo idioma para trabalhar. Como somos carentes de recursos ela recorreu a mim, que aprendi o idioma num intercâmbio em Auckland, Nova Zelândia. Expliquei que saber falar é diferente de saber ensinar, e eu nunca havia dado aula, ainda assim ela quis tentar, que bom, porque deu muito certo. Depois da nossa primeira aula outras pessoas também me procuraram com a mesma finalidade. Hoje são 10 alunos que fazem aula semanalmente, entre eles: 3 adultos que fazem aula particular e 7 crianças que fazem aula em turma. Com os adultos trabalho o inglês técnico de acordo com a necessidade de cada um e com as crianças como se fosse uma turma de alfabetização, usamos: músicas, livrinhos, diálogos, pequenos textos, brincadeiras e etc. Estou adorando a experiência, para mim está sendo ótimo porque estudo antes de dar as aulas e relembro coisas que já havia caído no esquecimento.

Bruna Freire, 30 anos, moradora

O VOZ NATIVA REALIZOU MAIS DE 50 CURSOS E OFICINAS, ATENDENDO CERCA DE 800 PESSOAS, EM TODA A ILHA GRANDE. 9 Jornal Voz Nativa - Ilha Grande, 2016

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Foto: Sid Pitter

Espaço Abraão “Nosso Primeiro Torneio de Xadrez” No dia 10 de outubro, nós fomos no Abraão participar do VX Torneio de Xadrez da Ilha Grande. Para ir até lá, o pai da Ketren e o avô do Alisson ajudaram com o transporte das crianças que se inscreveram: Ian, Ana Clara, Alisson, Emerson, Milena, Natan, Kétren e Artur.

Fotos: Marina Rotenberg

Quando chegamos, tia Érica estava nos aguardando no cais da barca, que é de pedra. Como chegamos cedo, deu tempo de tomarmos sorvete e açaí. Estavam deliciosos! O Torneio de Xadrez aconteceu no Centro Cultural Constantino Cokotós e foi organizado pelo tio Renato Mota, tio Fernando e Jorge. Lá, encontramos velhos amigos que já estudaram conosco no C.E.H.I: Samuel, Caio Silva, Mateus Corecha, etc. Jogamos seis partidas. Houve empates, pontuações e vencedores por WO. Todos nós ganhamos medalhas e nosso amigo Artur Maia ganhou troféu de 2º lugar na categoria dele. O tio Fernando falou que o mais importante não é ganhar, mas participar e se divertir. Nós nos divertimos e queremos ir no próximo ano! Alunos do 2° e 3° anos do C.E.H.I Monsenhor Pinto de Carvalho

Ação com a Cruz Vermelha beneficia moradores No dia 12 de novembro, a Associação de Moradores do Abraão – AMA articulou uma ação social junto a Cruz Vermelha, oferecendo diversos serviços à comunidade. No total foram 118 atendimentos de aferição de glicemia e pressão arterial, 05 atendimentos jurídicos, informações sobre Saúde Pública e cortes de cabelo realizados pelos moradores Renato e Paola. A AMA agradece o apoio, essencial para a realização da atividade. Agradecimentos à Pousada D`Pilell, Pousada Holandês, Objetiva Flex, Restaurante Sabor da Ilha, Restaurante Bier Garten, Adriano (Casa de Cultura), André (Ilha Grande Transfer), Renato e Paola (cortes de cabelo). AMA - Associação de Moradores do Abraão

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Fotos: AMA


Foto: Marcio Ranauro

1º Torneio de Futevôlei da Ilha Grande No dia 3 de novembro aconteceu o 1º Torneio de Futevôlei da Ilha Grande. O evento foi realizado na praia do Abraão e foi um sucesso em sua primeira experiência. Agradecemos a todos que contribuíram de alguma forma para que tenha acontecido. Para os próximos convidamos aos inte­ressados a nos ajudar. Um ponto que merece desta­que foi ver crianças ficando empolgadas para praticar o esporte. Inclusive iniciaram em uma quadra improvisada. Solicitamos ao Secretário de esportes do Município, que dê uma oportunidade para conversarmos e aproveitarmos o momento da motivação, criando condições e dando mais uma opção de vida saudável aos pequeninos da Ilha Grande, com a prática desse esporte. Se houver mais interessados em ajudar, favor nos procurar.

Parabéns aos primeiros colocados: 1º Latino e Enderson 2º Denilton e Gabriel 3º César e Matoso

Alberto Marins (Latino),

Presidente da Associação de Moradores do Abraão- AMA

Fotos Priscila Fuly

Projeto Ilha Grande Jiu Jitsu - Equipe Abraão O Projeto Ilha Grande Jiu Jitsu comemora em dezembro de 2015 um ano e meio de funcionamento. Com aulas às terças e quintas-feiras, de 13h às 15h, na Casa de Cultura Constantino Cokotós, na Vila do Abraão, o projeto é totalmente gratuito e aberto à homens e mulheres de todas as idades que se interessem em praticar o esporte. A prática da Arte Marcial Jiu-Jitsu tem como principal objetivo educar e formar indivíduos com determinação, respeito e disciplina, visando ao resgate da auto-estima e à disseminação da cultura de paz nas comunidades que estão inseridas. No Abraão, jovens e adultos participam das atividades, fortalecendo o sentimento de pertencimento pelo local e os laços de respeito entre si. Agradecimentos: Professor Nelson Elias, Adriano D´Aguiar (Casa de Cultura Constatino Cokótos)Grupo Ecológico de Voô da Ilha Grande (GEVIG), Ernani Cristianes Neto, Equipe Objetiva e Pousada Caiçara. Acarí Fogassa, membro da equipe

Fotos: Acari Fogassa

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Unidades de Conservação da Ilha No Brasil, as Unidades de Conservação podem ser de dois tipos : Proteção Integral e Uso Sustentável. A Ilha Grande é protegida por 4 Unidades de Conservação, geridas pelo INEA - Instituto Estadual do Ambiente: PROTEÇÃO INTEGRAL: “O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos recursos naturais.” (SNUC, 2000) Na Ilha Grande: Parque Estadual da Ilha Grande e REBIO - Reserva Biológica da Praia do Sul

Lagoa Azul

USO SUSTENTÁVEL: “O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcelas dos seus recursos naturais.” (SNUC, 2000) Na Ilha Grande: APA - Área de Proteção Ambiental de Tamoios e RDS - Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Aventureiro

Enseada do Bananal

Entenda no mapa cada uma delas, conforme Decretos de Criação. Enseada de Sítio Forte REBIO da Praia do Sul “A Reserva Biológica da Praia do Sul foi criada com a finalidade de preservar, sob rigoroso controle do governo estadual, os ecossistemas naturais que abrigam exemplares de flora e fauna indígenas.”

RDS do Aventureiro “A Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Aventureiro é composta por uma porção terrestre e outra marinha, objetivando conciliar a preservação dos ecossistemas locais com a cultura caiçara, valorizando os modos de vida tradicio­nais, assim como as práticas em base sustentáveis desenvolvidas pela população tradicional beneficiária” 10

Lagoa Verde Enseada de Araçatiba

Vila de Provetá

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Vila do Aventureiro

Praia do Sul e do Leste Parnaioca


a Grande: saiba o que são e cuide O que é uma Unidade de Conservação - UC? “Espaço territorial e seus recursos ambientais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.” (SNUC, 2000)

a l Parque Estadual da Ilha Grande: “O PEIG tem como objetivo assegurar a preservação de recursos naturais e o incentivo a atividades turísticas.” Enseada das Estrelas Vila do Abraão Enseada das Palmas

Lopes Mendes

Vila Dois Rios

APA de Tamoios “A APA de Tamoios foi criada com o objetivo de assegurar a proteção do ambiente natural, das paisagens de grande beleza cênica e dos sistemas geo-hidrológicos da região, que abrigam espécies biológicas raras e ameaçadas de extinção, bem como comunidades caiçaras integradas naqueles ecossistemas.”

Destaquea a página. Divulgue. Cuide.

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Espaço Voz Nativa Os segredos de um bom atendimento Depois de passar pelo Abraão, Araçatiba e Praia Vermelha, o Curso de Atendimento e Hospitalidade chegou à praia de Matariz, nos dias 9 e 10 de novembro, para mostrar para os participantes que o bem receber e o cuidado com o cliente são os segredos de um bom negócio em turismo. Com cerca de 40 participantes das praias de Matariz, Bananal, Maguariquessaba, Sítio Forte e Passaterra, o curso abordou desde dicas de higiene, comportamento e como se vestir, até tipos de lide­ rança e técnicas de gestão. Para fechar o curso unindo os Fotos: Marina Rotenberg saberes adquiridos com a prática, os alunos fizeram o que se chama de laboratório: misturaram teatro, imaginação e teoria em uma encenação de situações-problema do cotidiano do turismo na Ilha. “A encenação foi parte muito importante, porque pudemos interagir com os outros colegas e com bom humor colocamos em prática o que foi aprendido no curso. Fizemos uma cena sobre problemas da Ilha e mostramos como resolveríamos, com atendimento e hospitalidade.” Diz Sabrina Braga, participante do curso.

Fotografia: uma ferramenta para contar histórias “Fotografar é uma forma de contar histórias e contar histórias é se posicionar diante do mundo.” Foi assim que Felipe Varanda, professor do Voz Nativa, descreveu a arte da fotografia. Para ele, a combinação entre técnica, re­pertório e escolha do objeto fotografado é o que constitui um bom fotógrafo. Durante seus cursos no Abraão e no Provetá ao longo do mês de novembro, tudo isso foi trabalhado a partir da história da fotografia, referências artísticas, técnica e exercícios práticos. Nas aulas no Abraão, para um público adulto envolvido com a fotografia de forma profissional, a prática foi voltada para o registro de elementos do turismo, como alimentação, meios de hospedagem e passeios. Já em Provetá, onde os alunos eram, em sua maioria, crianças e adolescentes, os exercícios mesclaram técnica com criativade. Nas duas Vilas o curso destacou o poder da fotografia de narrar uma história. “Acho que a primeira aula impulsionou todo mundo pois apresentou o trabalho de Sebastião Salgado, que fotografa a realidade do mundo. Quando você sente o impacto de uma fotografia, você descobre beleza na arte e isso é muito motivador para quem está começando.” Destacou Carlos Saens, participante do curso no Abraão. Fotos: alunos dos cursos

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Capacitação de estagiários junto a Turisangra A Fundação de Turismo de Angra dos Reis (Turisangra) realizou, em parceria com o Voz Nativa, nos dias 31 de outubro e 7 de novembro um processo de capacitação com um grupo de 18 estagiários na Vila do Abrão, Ilha Grande. Com o objetivo de qualificar o primeiro atendimento ao turista no Centro de Informações Turísticas da Praia do Anil (CIT), na Estação Santa Luzia e na Estação Abraão, o curso abordou temas ligados ao meio ambiente, turismo e a sustentabilidade da Ilha Grande. Fotos: Marina Rotenberg

Os estagiários foram divididos em dois grupos, que participaram de atividades em dois turnos. No período da manhã foi abordado o tema da gestão ambiental, com foco nas áreas protegidas e nas características culturais das vilas da Ilha Grande. Também foi abordada a importância da preservação ambiental e dos processos participativos de áreas protegidas no Brasil, exemplificado com as Unidades de Conservação da Ilha: Reserva Biológica da Praia do Sul; Parque Estadual da Ilha Grande; Reserva de Desenvolvimento Para o presidente da TurisAngra, Klauber Valente, Sustentável do Aventureiro e APA de Tamoios. a parceria iniciada com o Voz Nativa pode ir muito além da capacitação dos estagiários. Ele lembra que o Durante a tarde, o foco foi a importância do Turismo projeto está realizando diversas ações de formação e de Base Comunitária (TBC) para as comunidades lo- resgate da autoestima e valorização dos jovens da Ilha cais, onde os jovens puderam conhecer as dife­renças Grande. Sendo a Ilha um destino turístico relevante entre o turismo de massa e o TBC. Ao final foi reali- para a cidade, as ações conjuntas podem ser ampliazado um debate com as duas temáticas e as caracterís- das. ticas da Ilha Grande. “A capacitação dos nossos estagiários foi muito “Nesses dois dias de atividades trabalhamos com os positiva e contribuiu com a formação profissional e estagiários que fazem, em geral, o primeiro serviço de cidadã de cada jovem. Eles gostaram da experiência informações aos turistas. É importante que todos e nosso objetivo é que todos estejam cada vez mais tenham amplo conhecimento das questões ambientais preparados para atender aos turistas. O projeto Voz da Ilha Grande, principalmente no que diz respeito às Nativa, que já há algum tempo realiza um trabalho regras de acesso às quatro unidades de conservação. importante na Ilha Grande, pode contribuir muito Com os temas que abordamos durante o curso todos com a qualificação do turismo de toda a ilha. passam a ter mais propriedade quando forem prestar Vamos buscar mais ações assim, para fixarmos na informações turísticas, sendo disseminadores de ori- nossa equipe e nas empresas que trabalham com o tuentações que servirão para preservarmos cada vez rismo na Ilha Grande a importância do turismo susmais os nossos bens naturais e culturais” — disse tentável em Angra dos Reis” — disse Klauber Valente. Marcio Ranauro, coordenador do Voz Nativa. Júlio Cézar Vieira,

Assessor de comunicação da TurisAngra

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Cães e Gatos na Ilha Grande: Conscientização e amor podem fazer diferença Cães e Gatos na Ilha Grande: Conscientização e amor podem fazer diferença Associação de Moradores de Abraão

Abandono e maus tratos fazem parte de um lado triste da realidade sofrida por muitos animais aqui na Ilha Grande. Nem é preciso procurar muito, a cada esquina, restaurante e até mesmo nas praias, podemos ver a quantidade de cachorros (e gatos, mais escondidos, é claro) nas ruas. Observando atentamente muitos têm donos, porém a grande maioria são filhos de crias indesejadas as quais foram jogadas fora à própria sorte, e talvez sorte não seja a palavra adequada, afinal passar fome, frio, agressões e envenenamento de longe pode ser considerado bom.

Fotos: arquivo

das campanhas de esterilização (castração) de cães e gatos na Vila do Abraão. Neste ano a equipe do Dr. Márcio Ferrazzoli esteve presente no Abraão realizando 51 cirurgias, em julho, e 54 cirurgias em agosto, além de 22 em Palmas em agosto e mais 49 no Abraão em novembro. Além das esterilizações foram realizadas também cirurgia de Piometra, tosas e consultas com doações de medicamentos. Os procedimentos foram oferecidos à comunidade de graça, sendo a única exigência feita, através de um termo de responsabilidade, a de cuidar do pós operatório do animal castrado. Não é fácil organizar tudo isso, envolve custos financeiros altos, conseguimos cobrir parte deles com doações de moradores, turistas e pousadas, que ofe­ receram a hospedagem para equipe como cortesia. Também uma rifa foi passada através da iniciativa da AMA - Associação de Moradores do Abraão - onde empresários ofereceram seus “produtos” como brinde e o valor arrecadado foi repassado para ajudar nos gastos da campanha. Mas o principal é que tem muito amor envolvido, conseguir uma equipe que se desloca de São Paulo para, voluntariamente, durante 4 dias, se dedicar à cuidar dos nossos animais, definitivamente isso não tem preço.

Só para se ter uma ideia, nos últimos 3 anos e meio, 326 animais, entre cães e gatos, foram abandonados na porta do pet shop do Nick, no Abraão, e 60% deles foram adotados por turistas, isso sem contar os que frequentemente são deixados na porta da casa do Edson (cachorreiro também do Abraão), como tantos outros que são deixados nas portas dos “amantes” de O problema não é meu, não é seu, é nosso. Todos nós animais e ainda os que já tivemos conhecimento de somos responsáveis pelo meio em que vivemos, mudar serem jogados ao mar ou abandonados na mata sem pequenos hábitos contribui para o desenvolvimento chance de sobrevivência. saudável da nossa comunidade, podemos começar descartando o lixo no horário correto de cada rua, nos Não é preciso se esforçar para perceber o resultado responsabilizando pelo nosso animal de estimação, disso: brigas de cães atrás de cadelas no cio, praias respeitando o próximo. Enfim, pequenas atitudes, sujas de cocô, sacos de lixo rasgados (lembrando que grandes gestos! A todos que de alguma maneira o descarte do lixo no horário correto e de maneira contribuíram para a realização desse trabalho, Dom adequada ajudaria muito a evitar) e turistas e mora- Mário, Las Sorrentinas, Pousada Lonier, Pousada Codores incomodados. Em contrapartida a todo caos e libri, Barraca do Nelson, Elite Dive Center, Agência incômodo causado pelo ser irracional abandonado, LIG, Agência Mariana, Restaurante Marola, Pousada seres humanos resolveram colocar a mão na massa Tapera das Palmas, muito obrigada. e, através de iniciativa da OSIG - Organização para a Sustentabilidade da Ilha Grande, vêm sendo realizaLuana Ventura, Associação de Moradores do Abraão

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I Feira de Maricultura da Ilha apresenta possibilidades de trabalho para o morador No dia 11 de Novembro, aconteceu, na praia do Bananal, a I Feira de Maricultura da Ilha Grande, realizada pela empresa Ecopipe em parceria com a AMBIG – Associação de Maricultores da Baía da Ilha Grande. O evento teve como objetivo principal apresentar para moradores, interessados no tema e crianças da ilha a atividade de maricultura como mais uma alternativa de geração de trabalho e renda.

“O turismo hoje emprega grande parte da população da Ilha Grande, mas, muitas vezes por aspectos da personalidade ou interesse, as pessoas não trabalham nesta área, indo para o continente em busca de outras oportunidades. Então, a maricultura se apresenta como uma opção de fonte constante de renda, mantendo o jovem em contato com a natureza, vivendo no lugar onde nasceu e perto de sua família.” Explica Carlos Kazuo, presidente da AMBIG. Na parte de manhã o evento foi composto por palestras educativas sobre a maricultura e o panorama regional da atividade, com detalhamento dos projetos e das principais espécies criadas. Já a tarde, aconteceram as visitações interativas ao laboratório de produção de peixes marinhos e à criação de peixes e cultivo de vieiras. “Queríamos divulgar o tema de forma contundente, tirando dúvidas e desfazendo mitos, além de mostrar para os pequenos o que são as fazendas marinhas. Recebemos escolas do Rio e São Paulo, mas nunca tínhamos levado as crianças daqui para conhecer. Essa foi uma oportunidade muito importante.” Completou Kazuo.

Trabalhos apresentados pelos alunos após a visita à Feira

E.M. de Sítio Forte Fotos: Diretores das E.M.

E.M.da Longa

E.M. de Araçatiba

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Foto: Sid Pitter

Espaço Dois Rios História e Cultura na Vila Dois Rios No dia 12 de novembro, Dois Rios ganhou duas novas unidades do Ecomuseu Ilha Grande, que fica na área do antigo conjunto penitenciário da Vila, desativado em 1994. O Ecomuseu é de responsabilidade da UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro – e visa à preservação do meio ambiente, da história e da vida sociocultural da Ilha Grande.

Parque Botânico > História da Ilha através de espécies vegetais O Parque Botânico se insere no contexto de Preservação da Memória e do Ambiente da Ilha Grande e é um espaço científico-cultural que valoriza e expõe de forma igualitária os recursos naturais e humanísticos, em experiência pioneira na região. O Parque é um local para informações da flora, na perspectiva de que para conservar de forma eficiente é necessário conhecer. Fotos: Marina Roteberg e Marcio Ranauro

O projeto paisagístico do Parque estabelece canteiros temáticos com espécies nativas, onde será possível identificar plantas utilizadas pelo homem em diferentes períodos de ocupação da Ilha Grande, incluindo o registro dos primeiros habitantes (povo dos sambaquis), dos caiçaras, do período colonial-imperial e do período carcerário, além de plantas de interesse conservacionis­ta como as de uso econômico e/ou medicinal e plantas com algum grau de ameaça de extinção. A Casa de Produção de Mudas do Parque Botânico, instalada no local onde funcionou a lavanderia do Instituto Penal Cândido Mendes e inaugurada no dia 12 de novembro é o espaço que se destina à produção de plantas para cultivo no Parque. Como marco inicial do Parque, nesta mesma data, foi realizado o plantio coletivo das primeiras mudas, com a participação de todos os presentes no evento. No canteiro principal foi instalada uma muda de Schizolobium parahyba (Vell.) S.F. Blake, planta da família Leguminosae que é conhecida pelos nomes populares: guapuruvu, guaburuvu, bacurubu, ficheira entre outros. A espécie era utilizada para fabricação de canoas e é muito importante na história do povo da Ilha Grande. A produção de mudas será o principal objetivo do Parque nos seus primeiros meses de atividade e, por esse motivo, as visitações serão realizadas somente uma vez a cada mês. Será possível visitar o Parque e acompanhar os processos tecnológicos de produção de mudas sempre na segunda quintafeira de cada mês. Cátia Callado,

Coordenadora do Parque Botânico

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Foto: Guia Ecológico João Pontes, Praia Brava


Museu do meio ambiente > Cultura, preservação e inovação O Museu do Meio Ambiente tem o objetivo de resgatar a tradição e a memória cultural da Ilha, através da apresentação da preservação e valorização da cultura local. O Museu foi aberto dia 12 de novembro com a exposição “Certos Modos de ser Caiçara”, que reúne saberes, fazeres, crenças, valores, ambiente de trabalho, lazer e outros aspectos das comunidades localizadas no litoral sul fluminense. “O Museu do Meio Ambiente pretende ser uma grande contribuição da universidade para o resgate da tradição e da memória cultural da ilha como um todo”, afirma Ricardo Lima, diretor do Departamento Cultural da UERJ e responsável pelo Museu. Fotos: Marcio Ranauro

Seu Cantuária é morador de Dois Rios desde 1975. Figura conhecida na Vila, desempenhou diversas funções na Unidade Penitenciária e hoje trabalha fazendo comida caseira para turistas e visitantes. Com alegria, conta o que significa para ele a inauguração do Parque Botânico. “Sinceramente é uma alegria muito grande ver sendo criado esse parque, porque até pouco tempo eu só via ruínas. Passei muitos anos da minha vida vivendo aqui sendo lavanderia, alfaiataria, oficinas. Hoje onde está sendo plantado esse Guapuruvu era o lixão, cavavam um buraco e enterravam o lixo aqui e hoje vemos sendo plantadas mudas. Eu lembro como se fosse ontem do tempo que trabalhei aqui e na minha imagem eu vejo tudo como era antes. Eu fazia segurança externa, trabalhei com turmas de presos, tirando preso para trabalhar, fui rastreador, buscando preso na mata, fui chefe de disciplina na penitenciária e, no final, chefe de segurança. Fui muito feliz na Ilha Grande e sou feliz até hoje. Depois da desativação eu continuei trabalhando na Polícia Militar, depois trabalhei no Batalhão Florestal, depois me reformei. Esse é um dia muito importante, para tirar esse lugar do abandono. Eu gostava muito do que eu fazia e, de repente, com a desativação, passei a ver um montão de entulho. O presídio deveria estar em pé para as pessoas poderem ver o que é uma cadeia, as frases que os presos escreviam, a história desse lugar. Mas já que foi desativado, que bom que agora deram outra utilidade e contarão a história daqui através das plantas.” Foto: Marcio Ranauro

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MADAME SATÃ MADAME SATÃ Seu nome de batismo era João Francisco dos Santos, e ele nasceu em Pernambuco, junto com o século, ou seja, em princípios do ano de 1900. Veio para o Rio bem novo, tendo morado na favela do Caju, perto do Cais do Porto. Já começou a treinar capoeira, tendo demonstrado excelente disposição para a luta, muito popular entre os chamados malandros da época. Afirmava não gostar de armas de fogo, embora seu primeiro crime e consequente condenação ocorressem em função de um tiro de revólver em um policial que, segundo ‘Satã’, o perseguia sem razão. Teve mais outros 28 processos criminais, sendo 2 por homicídio. Cumpriu 27 anos e 8 meses de pena nos presídios da Ilha Grande, sendo libertado aos 65 anos de idade, de acordo com a prática penal.

Fotos: acervo na internet

Tinha uma filha adotiva chamada Ivonete, além de afirmar ser pai de mais 7 filhos. Solto, continuou morando no Abraão por medida de segurança. Teve amizade com muitos artistas que vinham ao Abraão procurá-lo. Norma Benguell, por exemplo, acompanhou Satã durante todo o episódio de sua doença, junto com Ziraldo. Satã foi internado no Hospital do INAMPS, em Ipanema, onde faleceu no dia 2 de abril de 1976, às 17 horas e 30 minutos. Era muito respeitado entre os presos da Ilha, mesmo os mais violentos e mais conhecidos. Ao contrário do que se imagina e até do que alguns desinformados dizem, ‘Satã’ no tempo em que viveu no Abraão nunca teve rompantes de violência ou valentia, nunca bateu em ninguém e viveu uma vida de trabalho, sob as vistas das autoridades policiais da época, que eram muito atentas quanto ao que ocorria na comunidade.

Renato Buys,

Morador do Abraão

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Foto: Guia Ecológico João Pontes, caxadaço

Dicionário Badjeco de Termos e Manias

Espaço Badjeco Amizade de pescador: quando o santo bate tudo dá certo no mar Se um não tivesse se casado com a irmã do outro o destino iria arrumar nova forma de unir os dois. Zélio e Germano são amigos há cerca de 40 anos e, juntos tanto na família quanto na pesca, acreditam que a amizade boa traz sorte no mar.

Espia: Na pescaria, nome dado ao indivíduo responsável por observar o mar e indicar aos demais a localização exata do cardume Consertar: Limpar o peixe, retirando escamas e víceras Ardentia: Fosforescência provocada na água do mar por microorganismos e que pode ser vista em noita muito escura Termos colhidos da exposição “Certos modos de ser Caiçara” no Museu do Meio Ambiente da UERJ

Zélio nasceu na Parnaioca, no ano de 1941, irmão de mais quatro homens e duas mulheres – uma delas chamada Marina, nome que vem do mar. Germano é do Abraão, nascido em 1952. Nunca se mudou da Ilha, mas durante sua vida passou algum tempo em Angra e no Rio para trabalhar. Zélio e Marina não deixaram a Ilha por nada e, morando na Parnaioca, sempre visitaram o Abraão para reencontrar amigos e familiares.

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Foi nessas idas e vindas dos irmãos que a paquera de Germano e Marina começou, mas foi só quando a família do lado sul da Ilha se mudou para o Abraão que o flerte virou casamento e a amizade dos dois rapazes firmou de verdade. Foram 40 anos pescando juntos de canoa. Germano na proa e Zélio na poupa, era só escurecer e os dois saiam para o mar, cada um com suas responsabilidades. Germano hoje não pesca mais, trabalha junto com a esposa Marina entregando pela vila os pães que ela produz artesanalmente. Já Zélio não larga o mar por nada, é da pesca que tira seu ganha-pão e sua energia para viver. A forte ligação, segundo eles, é coisa rara. “Quando o santo bate, não tem como dar errado no mar. A gente pesca com o coração e nossos corações são iguais, então mesmo com as aventuras tudo sempre deu certo.” Fotos: Guaraci Lage

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Jornalismo Badjeco Levado a Sério!

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AUDREI NÓBREGA

MORADORA DO ABRAÃO

MORADORA DO ABRAÃO

O Projeto Voz Nativa veio para o que diz o nome: dar voz ao nativo da Ilha, através de seus cursos e caravanas também promove a união entre os moradores de praias mais distantes e incentiva os jovens à busca do conhecimento de suas origens e das tradições da sua comunidade.

Apoio:

Parceiros:

Colégio Estadual Brigadeiro Nóbrega

Realização:

www.alternativaterrazul.org.br

O Voz Nativa veio para estimular a nossa juventude. Veio despertar o lado crítico, curioso e empreendedor de cada um. Deu tão certo que atingiu várias faixas etárias, aumentando a demanda de interesses cada vez mais. Como vivemos em um local turístico e de difícil acesso pra sairmos para nos especializarmos, a vinda das oficinas nos favorece nessa especialização tão desejada. A aceitação do projeto aqui na Ilha Grande foi unânime.

Colégio Estadual Pedro Soares

João Pontes

Guia Ecológico

Patrocínio: Projeto Juventude Protagonista Ilha Grande

Foto: Guia Ecológico João Pontes, Caxadaço

Parque Estadual da

Ilha Grande


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