A fé cristã sob ataque: o cristão em uma cultura hostil ao Evangelho

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VODDIE BAUCHAM JR.

Rio de Janeiro, RJ


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Baucham Junior, Voddie A fé cristã sob ataque / Voddie Baucham Jr. ; tradução João Paulo Aragão. -- 1. ed. -- Rio de Janeiro : Pro Nobis Editora, 2022. Título original: The Ever-Loving Truth ISBN 978-65-81489-20-5 1. Cristianismo e cultura I. Título 22-117412

CDD-261 Índices para catálogo sistemático: 1. Cristianismo e cultura

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Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

A Fé Cristã sob Ataque

Nesta obra, as citações bíblicas foram extraídas, salvo informação em contrário, da Bíblia Almeida Revista e Atualizada.

Traduzido do original inglês: The Ever-Loving Truth

Conselho Editorial Judiclay Santos André Galvão David Bledsoe Paulo Valle Gilson Santos Leandro Peixoto

Copyright © 2004 Voddie Baucham Publicado originamente por B&H Publishing Group, Nashville, Tennessee Todos os direitos em língua portuguesa reservados por PRO NOBIS EDITORA Rua Professor Saldanha 110, Lagoa, Rio de Janeiro-RJ, 22.461-220

Gerência Editorial Judiclay Silva Santos

1ª edição: 2022 Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo citações breves, com indicação da fonte. Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Tradução: João Paulo Aragão Revisão: Gabriel Rocha Carvalho e Cinthia Turazzi Capa: The Creative Box Diagramação: Marcos Jundurian Isbn: 978-65-81489-20-5

Tel.: (21) 2527-5184 contato@pronobiseditora.com.br www.pronobiseditora.com.br


Ao amor da minha vida, Bridget: Minha mulher de Provérbios 31, a mãe e professora



Prefácio à edição em português ........................................................

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Introdução ........................................................................................

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SEÇÃO 1: ATITUDES PRÉ-CRISTÃS EM UMA CULTURA PÓS-CRISTÃ CAPÍTULO 1 Quem são esses homens iletrados? .......................................

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CAPÍTULO 2 Ideais culturais sobre a verdade ...........................................

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CAPÍTULO 3 Neutralidade não é uma opção ............................................

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CAPÍTULO 4 “Não use esse nome!” ..........................................................

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SEÇÃO 2: TRAÇANDO UMA LINHA DIVISÓRIA CAPÍTULO 5 Devemos pregar ...................................................................

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CAPÍTULO 6 Evidências que não podem ser negadas ...............................

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CAPÍTULO 7 A alegria de participar de seu sofrimento ............................

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SEÇÃO 3: O QUE DEVEMOS DIZER? CAPÍTULO 8 Por que crer na Bíblia? ........................................................

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CAPÍTULO 9 O Jesus da Bíblia ..................................................................

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CAPÍTULO 10 Não o quê, mas como ..........................................................

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CONCLUSÃO O que devemos fazer, então? .....................................................

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O pastor batista americano Voddie Baucham Jr., atual deão da Escola de Divindade na Universidade Africana Cristã em Lusaka, Zâmbia, tem, no Brasil, seu nome associado aos seus livros e palestras que tratam a respeito da família. Igualmente notáveis, no entanto, são as suas explorações no campo da apologética cristã, especialmente em oposição às ideologias da nova esquerda americana — a começar por sua obra de estreia, , livro que o leitor tem em mãos agora. Nestas páginas, Baucham nos entrega um manual sintético de guerra cultural, baseado nas Escrituras, contra as formas de pensamento anticristãs dos A obra de Baucham se divide em três seções. Na primeira, o autor disseca o cenário cultural da modernidade marcado por fragmentação os aspectos essenciais da fé evangélica, que possibilitam a formação de uma plataforma inegociável de valores e doutrinas entre as diversas expressões da Igreja, para batalharem conjuntamente “pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3). Na última seção, Baucham detalha — pela defesa da autoridade das Escrituras e pela singularidade no entanto, abraçar a revelação bíblica inerrante. leitor encontrará similaridades entre os relatos do autor e a situação vivida em nosso país desde a segunda metade do século XX. A partir desse mesmo 9


período, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, as universidades foram gradativamente cooptadas por uma concepção de mundo materialista da “New Left”,1 uma epistemologia pragmática com causas identitárias. Sob lista condenou as metanarrativas e adotou o niilismo como propaganda. Essa estirpe do marxismo que deitou raízes na América teve como principais fontes de inspiração a proposta de hegemonia cultural do revolucionário italiano Antonio Gramsci, além da teoria crítica e do politicamente correto dos professores da Escola de Frankfurt, como Herbert Marcuse, Theodor Adorno e Jürgen Habermas.2 redirecionar paulatinamente as instituições enquanto exploravam o potencial revolucionário gerado por meio do tensionamento das relações sociais. Não demorou muito para que leis, sistema judiciário, artes, ciência e mídia fossem dominadas pelo pensamento progressista. Os resultados estão aí a olhos vistos: embrutecimento cognitivo, relativismo, imoralidade intolerante, misticismo, secularismo, culto à morte e repelência à cosmovisão cristã. Para enfrentar a oposição ao cristianismo na atualidade, Baucham toma como exemplo a perseguição sofrida por Pedro e João perante o Sinédrio, àqueles discípulos do início da era cristã, a Igreja vive hoje um processo crescente de intimidação por parte das autoridades civis. A pretexto de defender o Estado laico, o secularismo deseja impor a privatização da fé cristã, silenciá-la, reduzi-la à subjetividade, além de sequestrar seus símbolos religiosos da esfera pública. Ao contrário do que muitos podem pensar, a obra de Baucham não é mais um dos apelos triunfalistas da igreja evangélica americana, a justapor política. Tampouco Baucham descamba para o transformacionismo da

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Roger Scruton,

(São Paulo: É Realizações, 2014); (São Paulo: Record, 2018).

dos autores e obras da nova esquerda europeia e americana. Cf. Roger Kimball. (São Paulo: Peixoto Neto, 2009). Para a situação brasileira, ver: Flávio Gordon, poder no Brasil (Rio de Janeiro: Record, 2017).


esquerda cristã. Em seu entendimento, do mesmo modo como os discípulos reagiram perante o Sinédrio, a forma primordial de interação e engajamento lastreada por uma vivência robusta de sua ética. Portanto, segundo Baucham, a solução para a Igreja se nega a absorver sua mensagem relevante. Baucham insiste na pregação autêntica, centrada na justiça de Cristo, que tem como fonte a verdade absoluta das Escrituras. Somente ela é capaz de trazer à sobriedade (leia-se ) homens embriagados por aquilo que Charles Taylor chama de “efeito supernova, um galopante pluralismo no plano espiritual”,3 eclodido na primeira metade do século XX, a estilhaçar a sociedade. axiomáticas, até mesmo para a pessoa que prefere ser uma “metamorfose ambulante”. Inevitavelmente, ela terá de declarar estavelmente o instável para basear sua crença. Sendo assim, se para muitos o que importa hoje em dia são as sensações e emoções em detrimento da fonte da verdade, Baucham clama que a Igreja, coluna da verdade, proclame seu fundamento exclusivista, pois é aquilo de que justamente a nossa geração mais precisa. Não se trata de uma guerra de experiências excitantes, e sim de raiz, radical. A reivindicação de Baucham, contudo, não descarta o conhecimento da visão de mundo avessa à fé cristã e o papel da experiência, do testemunho nos ensinar, caso estejamos atentos para aprender, é que, ao pregarmos o Evangelho, devemos simultaneamente apontar para o fundamento bíblico de nossa experiência e a consistência integral da cosmovisão cristã, a sua correspondência com a realidade. A partir deste contraste bem-feito, entre a visão distorcida de quem nos ouve e a nossa exegese da realidade através das lentes do Evangelho, é que temos a oportunidade de chamar o pecador ao arrependimento e oferecer-lhe o perdão em Cristo. Criado por uma mãe budista, Baucham foi poderosamente resgatado da delinquência juvenil. Ele argumenta que a melhor estratégia para

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Charles Taylor, (Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2007), p. 300. O efeito supernova é o termo que descreve uma explosão estelar capaz de liberar uma quantidade imensa de energia.

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compartilhar o Evangelho em uma era arrogante e relativista deve ser motivada por genuína compaixão, honestidade, com perguntas e respostas sinceras, com trato pessoal humilde e, sobretudo, uma disposição para o martírio em prol do testemunho do Evangelho.

de Cristo não é “uma doutrina de língua, mas de vida” e nos convoca a uma atitude cruciforme, de cruz perpétua, como ele se refere para descrever a carreira de Cristo.4 Baucham está certo quanto ao papel exercido pelo de Jonathan Edwards, o famoso pastor americano da era colonial, e seus ensinamentos quanto aos benefícios do martírio (sem dúvida, um dos trechos mais emocionantes de sua obra). Além disso, Baucham confronta a equalização que o relativismo religioso tenta impor à Bíblia, reduzindo-a ao nível dos livros sagrados das outras religiões. A estratégia de Baucham não muda. Primeiro, ele elenca da Palavra de Deus. Em seguida, recorre às evidências, à historicidade das Escrituras, à preservação do texto ao longo das eras atestada pelo número ele indica que o cumprimento das profecias bíblicas consubstancia a origem divina da Bíblia, especialmente as que se referem à vida e obra do Senhor Jesus Cristo. Livro por livro, não há termo de comparação entre a Bíblia e qualquer outra obra da literatura universal.

o homem a conhecer a Deus, é inquebrantável (2Tm 3.16, 17; Jo 17.3).5 Baucham sabe disso e conclui seu livro com uma apresentação acurada da pessoa e obra de Cristo, de acordo com o que Bíblia fala a seu respeito.

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João Calvino, 2006), p. 158, 172.

. Vol. 3. 2. ed. (São Paulo: Cultura Cristã,

(São Paulo: Cultura Cristã), 2010.

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Assim como as Escrituras, a superioridade de Cristo em comparação de si, por sua natureza divino-humana, por seu nascimento, por sua vida perfeita e por sua obra monumental de recuperar seres irrecuperáveis do ponto de vista humano. A morte vicária de Cristo, sua ressurreição e todo Baucham deseja provar e que Chesterton tão bem resumiu: .6 Baucham realizou um excelente trabalho. A Igreja, pastores e os jovens cristãos universitários têm uma ferramenta útil para os dias difíceis de nossa peregrinação neste mundo. Como bem nos mostra Baucham, a simplicidade

contra as garras tirânicas de quem prometeu nos levar a lugar nenhum. coisas que não são para envergonhar as que são. Baucham nos fez bem ao nos lembrar que “as armas da nossa milícia não são carnais e sim poderosas se levante contra o conhecimento de Deus” (2Co 10.4,5). Wellington Costa, pastor na Igreja Presbiteriana de Bethânia (Ipatinga, MG), bacharel em Teologia pelo SPDNE, jornalista pela PUC-MG, mestrando em STM pelo CPPGAJ, tradutor, revisor, casado com Janaína Michele, pai de Mariana e João Henrique

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G. K. Chesterton, O homem eterno (São Paulo: Mundo Cristão, 2010).

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A verdade está sob ataque em nossa cultura. De fato, é raro aquele que acredita em ideias, conceitos, valores ou fatos que são verdadeiros para todas as pessoas, em todos os lugares e em todos os tempos. É muito mais provável ouvir o novo clichê: “Isso pode ser verdade para você, mas não é necessariamente verdade para mim”. Já se foram os dias em que certo e errado eram preto e branco. A moralidade de hoje é pintada em tons de cinza. As uniões do mesmo sexo são uma realidade em Vermont;7 o conceito de criação não tem permissão para dividir espaço na sala de aula com a teoria da evolução, tênue e sem suporte; registros públicos dos Dez Mandamentos estão sob ataque; o juramento à bandeira foi questionado na isso tudo terminará? Ou, melhor ainda, onde começou? Este livro é o resultado do que parece ser a busca de uma vida inteira pela resposta a essas e outras questões sobre a maneira como nossa cultura nos ensinou a pensar (ou a não pensar). Muito do que se tornou prontamente aceito no mercado de ideias não é apenas antibíblico, mas, em

semelhante ao que a igreja primitiva experimentou na Roma pré-cristã. tação “não ortodoxa”; os cristãos modernos são acusados de “deixar suas 7

Em 2015, depois da publicação original deste livro em inglês, a Suprema Corte dos EUA legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todos os cinquenta estados. [N.T.]

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mentes na porta da igreja” ou “cometer suicídio intelectual” por crerem na Bíblia. Pedro e João foram proibidos de falar ou ensinar em nome de Jesus; os cristãos americanos modernos enfrentam a mesma prescrição. As semelhanças são impressionantes. Infelizmente, porém, as semelhanças tendem a cessar quando chegamos conformar com a nossa. Eles reconheceram a soberania de Deus no meio de sua perseguição; questionamos a soberania de Deus na nossa. Eles consideraram um privilégio sofrer pela causa de Cristo; fomos condicionados a deixa muito a desejar. Tive uma conversa com um amigo pastor há pouco tempo. Ele me perguntou sobre o assunto do livro que soube que eu estava escrevendo. Quando eu contei, ele respondeu: “Tenho algo para você”. Ele começou a me contar sobre um interessante estudo bíblico de domingo à noite que ele conduziu algumas semanas antes. Ele estava ensinando em 1Coríntios e chegou ao capítulo 5. Os jovens, como era de costume, estavam sentados em grupo na frente. Ele estava especialmente atento à localização deles, pois sabia que a discussão do texto sobre o homem envolvido em um caso ilícito com sua madrasta os intrigaria. Para a surpresa do pastor, não foi a ideia do caso ilícito que intrigou o grupo, mas a ideia de que Paulo teve a audácia de sugerir à igreja de Corinto que o retirassem de seu meio. Essa foi a parte do texto que a audiência considerou mais perturbadora. Muitos dos presentes — tanto jovens quanto velhos — não conseguiam acreditar que Paulo disse: “já sentenciei o autor de tal infâmia”. O pastor, ao perceber o desconforto na sala, quis

membros mais velhos, um líder da igreja, declarou: “Não me importo com o que a Bíblia diz; não devemos julgar outras pessoas!”.

até mesmo para a passagem tão erroneamente citada e mal compreendida de Mateus 7 e abordou o equívoco. Nada deu resultado. Ninguém estava ninguém estava disposto a concordar com as ações de Paulo. 16


Estive numa situação semelhante depois de pregar uma mensagem correndo em minha direção. Ela não tinha problemas com a parte do texto que ensinava que Jesus estava preparando um lugar na casa de seu Pai para aqueles que o seguem. Ela tinha, porém, em suas palavras, “um sério problema com a ideia de que Jesus é o único caminho”. Ela falou em um tom simpático, mas condescendente, como se estivesse me alertando sobre o que devia ser um lapso monumental de minha parte. No entanto, sua simpatia e condescendência rapidamente se transformaram em indignação e exatamente da maneira como disse. Ela disse que não conseguia entender como eu, entre todas as pessoas, “poderia ser tão tacanho”. A chave para entender essas e outras situações semelhantes é entender pensamento das pessoas. Muitos em nossa cultura foram condicionados

as religiões são iguais” e aquela pergunta frequentemente expressa: “Quem levaram a considerar aqueles que têm fortes convicções religiosas como tendo “deixado suas mentes na entrada”. e esse Deus se revelou. Portanto, se temos acesso a essa revelação, temos acesso à verdade — que é absoluta e verdadeira para todas as pessoas, em todos os lugares, em todos os tempos. Isso não dá àqueles que conhecem esse Deus a licença para serem arrogantes, rudes ou desagradáveis. Pelo contrário, os obriga a falar a verdade em amor.

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