Catecismo do pregador: Consolo e instrução para pastores e ministros da Palavra
Traduzido do original em inglês: The Preacher’s Catechism
Copyright © 2018 Lewis Allen
Publicado originalmente por Crossway, 1300 Crescent Street Wheaton, Illinois 60187 www.crossway.org
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por PRO NOBIS EDITORA Rua Professor Saldanha 110, Lagoa, Rio de Janeiro-RJ, 22.461-220
1ª edição: 2024
ISBN: 978-65-81489-46-5
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo citações breves, com indicação da fonte.
Gerência editorial
Judiclay Silva Santos
Conselho editorial
Judiclay Santos
David Bledsoe
Paulo Valle
Gilson Santos
Leandro Peixoto
Supervisão editorial: Cesare Turazzi
Tradução: Rogério Portella
Preparação de texto: Gabriel Lago
Revisão de provas: Cinthia Turazzi, Thalles de Araujo
Capa: Luis de Paula
Diagramação: Marcos Jundurian
Nesta obra, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA), salvo informação em contrário.
As citações de O breve catecismo de Westminster foram extraídas e/ou adaptadas da edição Kindle da Editora Cultura Cristã (São Paulo, 1995).
As citações de O catecismo de Heidelberg foram extraídas e/ou adaptadas da edição Kindle da Editora CLIRE (Recife, 2016).
As opiniões representadas nesta obra são de inteira responsabilidade do autor e não necessariamente representam as opiniões e os posicionamentos da Pro Nobis Editora ou de sua equipe editorial.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Allen, Lewis
Catecismo do pregador: consolo e instrução para pregadores e ministros da palavra/Lewis Allen; tradução Rogerio Portella. – Rio de Janeiro: Pro Nobis Editora, 2024.
Título original: The preacher’s catechism.
ISBN 978-65-81489-46-5
1. Catecismo - Estudo e ensino 2. Palavra de Deus (Teologia) 3. Pregação - Ensino bíblico 4. Protestantismo 5. Teologia I. Título.
24-215735
Índices para catálogo sistemático:
1. Pregação: Cristianismo 251 Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415
Tel.: (21) 2527-5184
contato@pronobiseditora.com.br www.pronobiseditora.com.br
CDD-251
Este livro é totalmente diferente de qualquer outro, ainda mais útil por ser dirigido ao próprio pregador, e não à arte e ao ofício da pregação. Por muito tempo nós nos concentramos no método em detrimento do ser. O precioso e profundo texto de Allen percorre um longo caminho para corrigir o equilíbrio necessário, ao mesmo tempo que combina um formato conhecido com uma nova visão. Todo pregador da Palavra de Deus se beneficiará ao dedicar tempo a este livro e permitir que as lições dele se infiltrem em sua corrente sanguínea.
Adrian Reynolds, diretor de treinamento da Fellowship of Independent Evangelical Churches (Reino Unido)
A pregação diz respeito à alma, e a alma dos pregadores piedosos jaz sob ataque contínuo do mundo, da carne e do Diabo. Na última década do meu ministério, não li nenhum recurso que tenha convencido e desafiado tanto minha alma quanto o Catecismo do pregador, de Lewis Allen. Sua aplicação criativa e detalhada das riquezas teológicas do Breve catecismo de Westminster a todas as áreas da alma e da prática do pregador continuará a alimentar e proteger meu ministério nos próximos anos. Voltarei a ele muitas outras vezes.
Andy Davis, pastor sênior da First Baptist Church (Durham, EUA)
Vivemos em uma sociedade semelhante à de Corinto, onde a pregação é considerada tolice pelos religiosos e não religiosos. Também vivemos em uma sociedade de soluções rápidas, na qual até mesmo a pregação é considerada algo que se pode fazer com certa facilidade. O engenhoso livro de Lewis Allen é um antídoto às duas perspectivas — perspicaz, realista, bíblico, claro e contemporâneo. Vou comprá-lo e usá-lo com os pregadores que treino!
David Robertson, ministro da St. Peter’s Free Church (Dundee, Escócia); editor de The Record; diretor associado do Solas Center for Public Christianity
O Catecismo do pregador é um livro que provém do coração e que reflete abertamente a própria experiência de Allen sobre os altos e baixos do ministério de pregação. Ele escreve em um estilo envolvente, revigorante e que provoca reflexão. Aqui se descobre que os pregadores são “levantadores de peso” que precisam do “evangelho da semana toda”. Este livro recompensará a leitura detida e reflexiva dos pregadores. Além disso, promoverá a alegre obediência do pregador e exporá as atividades de sua natureza carnal em toda a sua feiura. Tome uma pequena dose de cada vez e pondere sobre ela. Encontre nela indicações para o remédio contra o orgulho e o desânimo. Oro para que o Senhor use o texto a fim de derrubar os orgulhosos existentes em todos nós, exaltando, em seguida, os humildes.
Garry J. Williams, diretor da Pastor’s Academy no London Seminary; autor de His Love Endures Forever, e Silent Witnesses
Estes devocionais repletos de afeição e prática também poderiam ser intitulados Consolos e confortos para o pregador. Allen adentra a mente do pastor e o conduz em direção ao Senhor Jesus Cristo, de modo a acalmar e fortalecer a alma de muitos pregadores cansados. Joel R. Beeke, presidente e professor de teologia sistemática e homilética do Puritan Reformed Theological Seminary; pastor da Heritage Reformed Congregation (Grand Rapids, EUA)
A fraqueza de grande parte da pregação contemporânea decorre principalmente não da falta de técnica exegética ou habilidade na apresentação, mas da preparação espiritual inadequada e dos motivos falhos do pregador. O novo livro de Lewis Allen desafiará os pregadores a se certificarem de que proclamam a Palavra com o desejo de ver Deus fielmente anunciado e glorificado por ele ser quem é, pelo amor a seu povo. O ensino central do Breve catecismo de Westminster é aplicado com clareza e discernimento em 43 breves capítulos pensados especificamente para pregadores. Qualquer pregador que ler este livro será humilhado, estimulado, desafiado e preparado para a gloriosa tarefa de pregar, bem como encorajado a ter uma profunda confiança no poder da Palavra e na suficiência de Deus nessa obra. O formato foi projetado para a leitura individual dos pregadores, talvez como uma meditação diária, mas também seria ideal para o uso em grupos de pregação, fraternidades de ministros ou membros de equipes pastorais desejosos de melhorar a qualidade da pregação.
John Stevens , diretor nacional da The Fellowship of Independent Evangelical Churches
Pregadores costumam se esforçar muito para catequizar outras pessoas, mas raras vezes pensam em ser catequizados. Este é um excelente recurso para nos ajudar a fazer exatamente isso, e eu o recomendo com entusiasmo. É exatamente o tipo de livro que usarei com minha equipe de pregação.
Robin Weekes, ministro da Emmanuel Church (Wimbledon, Reino Unido)
Nossa era sente fixação por técnicas. No entanto, o sermão elaborado com beleza, que exalta o pregador em lugar de Cristo, é, na verdade, o sermão mais feio de todos. Ao fazer uma adaptação da sabedoria do Breve catecismo de Westminster, o Catecismo do pregador nos leva de volta ao que de fato importa. Mas não se engane: o resultado é profundamente prático. Pode-se ler esta obra como um manual ou mergulhar em qualquer página para obter uma nova visão ou inspiração. Por todo o caminho, serão encontradas muitas informações, vários desafios e estímulos para a sua pregação.
Tim Chester, pastor da Grace Church Boroughbridge (North Yorkshire, Reino Unido); membro do corpo docente de Crosslands Training (Newcastle upon Tyne, Reino Unido)
Sumário
Prefácio à edição em português
1. Pregação acima de tudo
2. Alegrar-se em Deus Como
6. Todos os nossos dias
7. Confiante nisto
8. Chamado para pregar
Por que cremos que Deus nos chamou para pregar? .......................... 59
9. Para Deus, para as pessoas
Por que Deus nos chama para pregar? ............................................ 63
10. Nem um centímetro
O que mais Deus ordenou? ........................................................... 67
Segunda parte | Jesus para pregadores
11. Pecado
Como o primeiro pregador pecou? .................................................. 73
12. Fraqueza
Qual é a boa notícia para os pregadores que passam por lutas? ........ 77
13. Conhecendo Jesus Jesus ama os pregadores? .................................................................... 81
14. Por causa de seu nome
Certamente nós, pregadores, não precisamos sofrer, não é? ............... 85
15. Recompensado
De onde vem nossa recompensa? .................................................... 89
16. Este fundamento sólido
Mas nós somos salvos? .................................................................. 93
17. Amor generoso
Como podemos saber se realmente somos salvos? ............................. 97
18. Santidade
Como nós, pregadores, podemos crescer? .......................................... 101
19. Fim da jornada
Vamos parar de pregar algum dia? ................................................. 105
Terceira parte | Amor pela Palavra
20. A graça da lei
Nós, pregadores, também devemos obedecer à lei? ............................ 111
21. Obediência
Quais coisas todo pregador deve saber e fazer? ................................. 115
22. A escolha do amor
O que o primeiro mandamento nos ensina? .................................... 119
23. Direitos de imagem?
O que o segundo mandamento nos ensina? ..................................... 123
24. Nossa honra ou a dele?
O que o terceiro mandamento nos ensina? ...................................... 127
25. Pare!
O que o quarto mandamento nos ensina?.......................................... 131
26. Respeito
O que o quinto mandamento nos ensina? ....................................... 135
27. Servos com coração de servo
O que o sexto mandamento nos ensina? ......................................... 139
28. Atração fiel
O que o sétimo mandamento nos ensina? ....................................... 143
29. Dar
O que o oitavo mandamento nos ensina? ....................................... 149
30. Fiéis à sua Palavra
O que o nono mandamento nos ensina? ......................................... 153
31. Resistir
O que o décimo mandamento nos ensina? ...................................... 157
32. O coração da lei
Qual é o resumo dos Dez Mandamentos para pregadores?................ 161
Quarta parte | Pregando com convicção
33. Ministério confiante
Por que devemos acreditar em nossa pregação? ................................ 167
34. Na cruz
O que acontece quando nós, pregadores, realmente cremos em Jesus? 171
35. A coragem de nossas convicções
Como podemos valorizar a pregação quando sentimos que mais ninguém lhe dá valor? ..................................................... 175
36. Ministrando sacramentos
Deixaremos os sacramentos pregarem? ............................................ 179
37. Leve-os à água
Por que celebramos o batismo? ....................................................... 183
38. À Ceia
Por que compartilhamos o púlpito com a Ceia do Senhor? ............... 187
39. Procure primeiro
O que é a oração? ........................................................................ 191
40. Orando (para a glória do Senhor)
Queremos Deus e seu reino acima de tudo quando chega o domingo? ................................................................................... 195
41. Problemas de confiança
Voltamos para casa no domingo orando para que a vontade de Deus seja feita? ......................................................... 199
42. Hora da confissão
Qual é o pior pecado que podemos cometer em um sermão? ............. 203
43. Tudo pelo Rei
Vamos orar em alegre submissão a Deus? ....................................... 207
Prefácio à edição em português
Em 1740, o jovem evangelista John Cennick, discípulo de George Whitefield, entrou em um pequeno vilarejo no condado de Wiltshire, a convite de algumas famílias que tinham ouvido sua poderosa mensagem pregada na região. Como de costume, Cennick e sua equipe de discípulos chegaram a Kington Langley montados a cavalo, ao som de trombetas, cânticos de salmos e louvores. Em seguida, juntou-se ali um grupo de moradores curiosos para ouvir o que este jovem tinha a lhes falar. A mensagem cristocêntrica, cheia de vida e poder do Espírito Santo, era sempre encerrada com o apelo ao arrependimento e à fé somente em Cristo Jesus. O resultado? Um grupo quis matá-lo, tentando afogar o jovem evangelista numa lagoa, e os que foram convertidos pela ação do Espírito em seus corações, juntamente com o grupo de crentes que moravam ali, formaram uma “United Congregation”, uma congregação unida de crentes reformados de diversas origens, “unidos pela confissão dos preceitos do Breve catecismo de Westminster”, sendo a primeira igreja estabelecida naquele lugar desde a era medieval. Assim, 284 anos depois, o trabalho deste evangelista permanece através da Union Chapel, igreja que tenho a honra de pastorear sob um projeto de revitalização.
Nesta mesma região da Inglaterra, John Cennick plantou igrejas, mesmo antes de sua ordenação, com o auxílio de George Whitefield, que vinha celebrar batismos e a Ceia do Senhor para essas congregações. Estima-se que, em seus dezoito anos de ministério de pregação, John Cennick foi responsável (ou esteve diretamente envolvido) pela plantação de cinquenta igrejas. Ele partiu para as moradas celestiais em 1755, aos 36 anos, deixando um legado inestimável da importância da centralidade de Cristo na pregação.
Em minha experiência como missionário na Europa, tenho visto o impacto do ministério de pregação, desde exemplos do avanço do Reino de Deus pela evangelização de perdidos e plantação de igrejas como resultado do agir do Senhor na pregação fiel, até o declínio e morte de denominações refletindo a incredulidade e apostasia de pregadores. É uma realidade no contexto europeu que a má pregação está diretamente associada à ascensão do liberalismo teológico nas principais denominações europeias. Formados em seminários, aqueles que foram ensinados a duvidar da veracidade e autoridade das Escrituras avançaram para os púlpitos, injetando nas congregações o vírus fatal da apostasia e da morte. A origem deste câncer se deu na formação de pregadores, mas avançou no corpo pela pregação infiel. Na Europa, vivemos o cenário de um desastre eclesiológico, em que gerações que cresceram sem nenhuma formação cristã não sabem nem sequer o básico das histórias bíblicas (como, por exemplo, quem foram Davi e Golias).
Como este cenário pode ser evitado ou revertido?
Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?
E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas. Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus. (Rm 10.14-17)
Deus fará sua obra pela pregação fiel centrada nas Escrituras e na exaltação de Cristo. A pregação do evangelho é o meio pelo qual Deus chama os seus eleitos ao arrependimento. Deus não só elegeu os seus, como também predestinou o meio pelo qual eles serão salvos. As ovelhas de Cristo não serão chamadas ao seu aprisco eterno da forma que o mundo espera; elas não serão salvas pelas suas boas obras e méritos. O pecador é resgatado quando o Supremo Pastor fala ao seu coração, dando-lhe vida, transformando-o da morte espiritual para uma nova criação. Pregar é expor as Escrituras de modo que deixamos Cristo falar por sua Palavra. Não precisamos de artimanhas ou estratégias mirabolantes para convencer o pecador. O trabalho do pregador é comunicar a mensagem das Escrituras fielmente, confiante de que o Espírito Santo transformará o coração dos que o ouvem.
Neste livro, Lewis Allen apresenta a importância do trabalho preparatório do pregador antes de subir no púlpito — de que maneira devemos examinar
os nossos corações e intenções com a mensagem que pretendemos pregar. Somos bombardeados diariamente com milhares de anúncios e informações; estes podem ser, em muitos casos, distrações ao trabalho pastoral e à pregação fiel. Disciplina é indispensável para manter o foco no que é essencial. Por isso, o Catecismo do pregador é um recurso valioso para manter a sua disciplina como pregador, buscando somente a glória de Cristo na pregação. Composto por quarenta e três perguntas e respostas, esta é uma obra voltada a pastores e pregadores que, através de um formato de catecismo, busca fornecer orientação, reflexão e encorajamento àqueles dedicados à pregação do evangelho. A estrutura do livro é baseada em perguntas e respostas, um método clássico de ensino que visa aprofundar o entendimento e a reflexão sobre as principais responsabilidades do pregador.
A pregação é a natureza do chamado pastoral. Nesta obra, Lewis explora as questões do propósito da pregação, a motivação do pregador e a dependência de Deus, enfatizando a importância de um chamado genuíno e a necessidade de pregadores refletirem constantemente sobre seu compromisso com a proclamação fiel do evangelho. Allen também foca na vida espiritual e emocional do pregador. Ele discute temas como a integridade pessoal, a luta contra o pecado, a manutenção de uma vida de oração e a busca por humildade. O objetivo é lembrar aos pregadores que a eficácia de sua pregação está profundamente ligada à fidelidade às Escrituras e à dependência pessoal em Deus.
O livro também apresenta a reflexão teológica com a aplicação prática.
Seguindo o padrão dos catecismos históricos da fé cristã, esta abordagem visa moldar o caráter dos pregadores e aprofundar seu compromisso com a verdade bíblica. Um dos objetivos principais do livro é encorajar e exortar pastores.
Você, pregador, verá que não está sozinho nesta luta e que pode encontrar força e renovação na Palavra de Deus diante das adversidades do ministério.
O Catecismo do pregador é projetado para ser um recurso contínuo a pastores e pregadores. Não é um livro para ser lido apenas uma vez, mas para ser revisitado regularmente ao longo da vida ministerial. Cada pergunta e resposta proporciona uma oportunidade de reflexão contínua e crescimento espiritual.
A minha oração e esperança é que Deus use este livro para edificar sua vida e abençoar seu ministério.
Jônatas M. Bragatto
Prefácio original
Se você é um pastor que lê o Catecismo do pregador intrigado com o título, sua primeira reação pode ser: “Os pregadores precisam ser catequizados? Pensei que isso fosse para crianças de antigamente!”. Mas essa reação pode logo se transformar em: “Que ótima ideia! Por que não pensei nisso?”, já que nestas páginas você encontrará não apenas instruções, mas também uma espécie de companheiro de viagem ao longo da peregrinação no decorrer do ministério — alguém que, como uma criança, continuará fazendo perguntas fundamentais, e que, como um amigo sábio, apontará para você as respostas bíblicas, e assim o estimulará a refletir sobre o significado de ser um pregador do evangelho.
Compor um catecismo não é tarefa fácil (experimente; você achará muito mais difícil do que imagina). Por onde começar: Deus, as Escrituras, Cristo ou a condição da humanidade? E como responder a uma pergunta de modo a conduzir com lógica à seguinte? Pelo fato de os grandes catecismos expressarem tão bem a lógica bíblica e teológica, um de seus efeitos notáveis é ensinar os catecúmenos a pensar. Isso explica, em parte, por que as comunidades cristãs que os usam costumam ser as sementeiras de homens e mulheres que fizeram contribuições notáveis em muitos aspectos da vida. Menciono isso porque, em nosso mundo contemporâneo, onde sofremos com a sobrecarga de informações, há uma tremenda necessidade de nós — sim, pastores incluídos (e talvez de modo especial) — aprendermos a parar e pensar, e sermos capazes de pensar nas coisas de acordo com os princípios bíblicos mais básicos. Espero que O catecismo do pregador, de Lewis Allen, seja um estímulo nessa direção e uma ajuda real para todos nós que pregamos.
O texto faz as perguntas que deveríamos ter feito a nós mesmos — se ao menos tivéssemos pensado nisso!
Lewis Allen pode ser menos conhecido pelos leitores na América do Norte que no Reino Unido. Após seus estudos em clássicos e teologia na Universidade de Cambridge, ele serviu por doze anos na Gunnersbury Baptist Church, no oeste de Londres. Em 2010, ele e sua esposa, Sarah, reconheceram o chamado para uma área muito diferente de ministério e se tornaram plantadores de igrejas em Huddersfield, Yorkshire. Ao longo dos anos, ele esteve fortemente envolvido com a liderança de várias gospel partnerships [parcerias evangélicas],1 como ficaram conhecidas, em especial na Inglaterra. Assim, ele traz uma ampla e variada experiência com o ministério pastoral e vários ministros, um intelecto aguçado e um entusiasmo contagiante para estas páginas. Acima de tudo, ele lhes traz o desejo de ajudar outras pessoas como ele próprio foi ajudado por muitos — mediante conversas pessoais com pregadores de hoje e a leitura de pregadores do passado.
O Catecismo do pregador não é apenas um livro para ser lido rapidamente, de uma só vez — ainda que isso valha a pena. Ele é preferivelmente um livro para a vida toda no ministério, ao qual o pregador pode sempre recorrer a fim de ser revigorado, fortalecido, desafiado, instruído, corrigido e encorajado a prosseguir e a procurar fazer melhor para o Senhor. Com certeza existem poucas palavras mais desafiadoras ao pregador que as de Paulo a Timóteo: “Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto” (1Tm 4.15). O Catecismo do pregador deve nos ajudar a fazer exatamente isso.
Há alguns anos, assisti a um documentário da BBC sobre uma ilustre microbióloga homenageada pela rainha por seus serviços à ciência médica. Ela havia dedicado sua pesquisa ao estudo da mutação de um vírus específico. Como resultado de seu trabalho, o governo do Reino Unido deu permissão para que procedimentos experimentais com uma injeção fossem realizados em pessoas que, devido a condições inoperáveis, contavam apenas com algumas semanas de vida. Os resultados foram notáveis — em alguns
1 Trata-se de uma rede crescente de parcerias entre igrejas que creem na Bíblia em todo o Reino Unido, buscando alcançar o país com as boas novas transformadoras de Jesus Cristo. Essas gospel partnerships ajudam as igrejas, estabelecem parcerias e oferecem recursos diversos. [N.T.]
casos, beiravam o miraculoso. Ela também era uma amiga de longa data e membro da congregação a que servi. Ao parabenizá-la pelo documentário, disse o quanto deve ser gratificante ter dedicado a carreira a algo que gerou tanto bem. Ela respondeu de uma forma que falava muito sobre suas prioridades: “O que eu faço não é tão importante assim. Mas o que o senhor faz, isso é muito importante”.
“Pregar é mais importante que contribuir com o prolongamento da vida para a ciência médica?” Meu amigo ficou pensando a respeito. Eu também. Você também deveria fazê-lo. Espero e oro que O catecismo do pregador sustente, revigore e, se necessário, recupere essa visão.
B. Ferguson