Pregação Fiel

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Rio de Janeiro, RJ

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Merida, Tony

Pregação fiel : proclamando a escritura com responsabilidade, paixão e excelência / Tony Merida ; tradução Pedro Marchi, João Pedro Cavani. – 1. ed. – Rio de Janeiro, RJ : Pro Nobis Editora, 2023.

Título original: Faithful preaching : declaring scripture with responsibility, passion, and authenticity.

ISBN 978-65-81489-35-9

1. Cristianismo 2. Homilética 3. Pregação - Ensino bíblico 4. Vida cristã I. Título.

23-151620

Índices para catálogo sistemático:

1. Pregação : Homilética : Cristianismo 251

Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253

CDD-251

Pregação fiel:

Proclamando a Escritura com integridade, excelência e fervor

Traduzido do original em inglês: Faithful Preaching: Declaring Scripture with Responsibility, Passion, and Authenticity

Copyright © 2009 Tony Merida

Publicado originamente por B&H Publishing Group Nashville, Tennessee www.bhpublishinggroup.com

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por PRO NOBIS EDITORA

Rua Professor Saldanha 110, Lagoa, Rio de Janeiro-RJ, 22.461-220

1ª edição: 2023

Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo citações breves, com indicação da fonte. Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Nesta obra, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Atualizada, salvo informação em contrário.

Conselho Editorial Judiclay Santos

David Bledsoe

Paulo Valle

Gilson Santos Leandro Peixoto

Gerência Editorial Judiclay Silva Santos

Tradução: J. P. Cavani e Pedro Marchi

Preparação de texto: Pedro Marchi e Cinthia Turazzi

Revisão de provas: Cinthia Turazzi

Capa: Filipe Ribeiro

Diagramação: Marcos Jundurian

ISBN: 978-65-81489-35-9

Tel.: (21) 2527-5184 contato@pronobiseditora.com.br www.pronobiseditora.com.br

Prólogo

Para minha belíssima esposa, Kimberly: sua beleza me cativa; seu encorajamento me motiva; suas orações me fortalecem; seu amor me humilha.

Que Deus nos conceda muitos anos de fidelidade, no casamento e no ministério.

Sumário

1. Sobre pregação e pregadores ......................................................... 25

PARTE 1

Fiel ao Deus Triúno: Convicções trinitárias para a pregação expositiva

2. Pregando para a glória de Deus ..................................................... 45

3. Pregando o Cristo a partir das Escrituras inspiradas ..................... 61

4. Pregando pelo poder do Espírito ................................................... 79

PARTE 2

Fiel à Palavra de Deus: Como pastores ocupados preparam mensagens que exaltam a Cristo

5. Etapa 1: Estude o texto ................................................................. 99

6. Etapa 2: Unifique o tema redentivo .............................................. 115

7. Etapa 3: Construa um esboço........................................................

8. Etapa 4: Desenvolva os elementos funcionais .............................. 139

9. Etapa 5: Acrescente uma introdução e uma conclusão ................ 155

PARTE 3

Fiel ao chamado de Deus: Cuidando de nossa vida e de nossa doutrina

10. Exercita-te na piedade ................................................................ 169

11. Marcas de um homem de Deus ...................................................

12. Oração fiel ...................................................................................

PARTE 4

Fiel à missão de Deus: Pregando o evangelho em nossa geração

13. Pregando a Palavra ......................................................................

Pregação e contextualização .......................................................

Apêndices

Prefácio à edição brasileira

A cada nova geração, Deus mesmo se ocupa de levantar pregadores. De fato, esses homens — Paulo, o apóstolo, vai nos informar em Efésios 4.8-12 — são parte integrante das conquistas obtidas por Cristo Jesus. O Filho eterno desceu “até às regiões inferiores da terra” (Ef 4.9); ou seja, tendo deixado a glória do céu, Cristo veio habitar neste mundo “inferior” (Jo 3.13), um mundo sob os efeitos do pecado e devastado por sua maldição. Uma vez aqui, viu-se que Jesus é “cheio de graça e de verdade”, manifestando “a glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.4). E não poderia ser diferente, pois ele “é o resplendor da glória e a expressão exata” do ser de Deus (Hb 1.3).

Este “que desceu” (Ef 4.10), pelo Espírito de santidade (Rm 1.4), ungido pelo Espírito do Senhor (Lc 4.17-21), realizou a obra para a qual o próprio Pai o enviara: buscar e salvar o perdido (Lc 19.10). Assim ele o fez ao viver absolutamente sem pecado, sem revogar a lei, mas cumprindo-a toda no próprio corpo e, portanto, apto para se oferecer na cruz como sacrifício perfeito — como oferta de sacrifício vivo, santo e agradável a Deus —, tomando o lugar do pecador.

Pregado à cruz aqui nas “regiões inferiores da terra”, o Senhor encarnado estava ferido de todas as maneiras: a moral e o corpo estavam judiados, tanto pelo zelo da religião judaica sem entendimento quanto pela mão pesada da justiça acovardada dos romanos (para se dizer o mínimo!); entre ambos — religião e justiça corrompidas — jaziam as massas manipuladas, com tanto sangue nos olhos, que chegavam a sangrar. No fundo, no fundo

— o profeta Isaías vai nos revelar (Is 53.5) —, Cristo “foi ferido por causa de nossa rebeldia e esmagado por causa de nossos pecados. Sofreu o castigo para que fôssemos restaurados e recebeu açoites para que fôssemos curados”. A culpa, portanto, também foi nossa: minha e sua.

O sofrimento que padeceu o Filho de Deus foi excruciante, mas ele, informa-nos o profeta (Is 53.7), agiu com a dignidade de nobre que é: “Ele foi oprimido e humilhado, mas não disse uma só palavra. Foi levado como cordeiro para o matadouro; como ovelha muda diante dos tosquiadores, não abriu a boca”. Com efeito, lá do alto da cruz — tornando aquele tão cruel e desumano instrumento de execução no mais sublime dos púlpitos da história —, as únicas coisas que saíram dos lábios deste servo sofredor foram palavras de perdão (Lc 23.34), salvação (Lc 23.43), provisão (Jo 19.26-27), solidão (Mt 27.46), conclusão (Jo 19.28), consumação (Jo 19.30) e submissão (ou poderíamos dizer: adoração? (Lc 23.46)). Preste atenção: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”; “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.”; “Mulher, eis aí teu filho... [filho] Eis aí tua mãe.”; “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”; “Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede!”; “Está consumado!”; e por fim: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!”.

Findado o suplício, e agora morto, Cristo foi sepultado em sepulcro que, apesar de novo, nem sequer era seu próprio, mas cedido por José, um homem rico de Arimateia, membro ilustre da Corte Suprema dos judeus, o Sinédrio. Ora — meu Deus! —, quanta desonra ao rei dos reis! Mas, no terceiro dia, quando o poder do Espírito Santo o ressuscitou dos mortos, ficou demonstrado que ele é o Filho de Deus (Rm 1.4).

Quarenta dias após a ressurreição, o Rei Jesus ascendeu-se aos céus, levando “cativo o cativeiro” (Ef 4.8); o Filho ascendeu como vencedor e se assentou à direita do Pai, tendo por séquito de cativos os principados e as potestades que ele próprio expôs publicamente ao desprezo, triunfando sobre eles na cruz (Ef 1.19-22; Cl 2.15). “Quando ele subiu às alturas”, Paulo nos diz, Cristo não somente “levou cativo o cativeiro”, mas também “concedeu dons aos homens”. A obra de Cristo, portanto, comprou salvação para o pecador, conquistou vitória para o crente sobre o mundo, o diabo, a morte e o pecado, e fez algo mais: a obra de Cristo concedeu dons à igreja.

Paulo diz isto, primeiro, em Efésios 4.7-8 [atenção para os destaques]: “E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção

do dom de Cristo. Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens”. Então, em Efésios 4.9-11, o apóstolo complementa:

Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres...

Cristo, o rei vitorioso, tem o direito de pegar os espólios conquistados — esses tesouros maravilhosos — e distribuí-los a quem e como ele mesmo desejar. De fato, é isto mesmo que ele faz: Cristo e o Pai concedem, pelo Espírito, habilidades aos irmãos da Igreja com o propósito de edificá-la e engrandecer o seu nome na Igreja diante do mundo, destacando assim a multiforme sabedoria de Deus (Ef 3.10, 21; 1Pe 4.10). Às vezes, essas habilidades são descritas como “dons espirituais” (no grego, tôn pneumatikôn (1Co 12.1)); outras vezes, até no mesmo contexto, os mesmos “dons espirituais” são chamados por Paulo de “graças espirituais” (no grego, dè charismàtôn (1Co 12.4)); o que, de fato, acaba dando na mesma: trata-se de habilidades graciosamente distribuídas pelo Espírito de Deus aos membros do Corpo para o bem e a edificação do próprio Corpo no contexto de igrejas locais (1Co 14.5, 12, 26).

Estes tesouros maravilhosos que Cristo conquistou e distribuiu à Igreja (os dons, as graças) são por Paulo chamados de “presentes” — no grego, dómata — em Efésios 4.8. Interessante: este mesmo substantivo — dómata —, que aqui se traduziu por “dons” (Ef 4.8), lá em Filipenses 4.17 se colocou como “donativo”; Paulo escreveu deste modo aos filipenses: “Não que eu procure o donativo [do grego, dómata], mas o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito”. Isto fez o saudoso Dr. W. A. Criswell concluir que os “dons” ou os “presentes” dos quais Paulo está falando em Efésios 4.8 fazem referência não a investimentos ministeriais, mas aos ministros mesmos, aos homens escolhidos, capacitados e dados pelo próprio Deus às igrejas.*

*1 Criswell foi pastor titular por cinquenta anos (de 1944 a 1994) da famosa Primeira Igreja Batista de Dallas, Texas. Informação extraída de Criswell’s Guidebook for Pastors (Broadman Press, 1980), p. 21.

Dentre os presentes ou donativos de Cristo às suas igrejas locais estão os “pastores-mestres” (Ef 4.11), os quais possuem missão bastante específica, conforme Paulo descreverá a seguir, em Efésios 4.12-13: [Cristo concedeu pastores e mestres às igrejas] com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo...

Visto que o artigo definido — no grego, toùs — somente aparece à frente do primeiro substantivo (os pastores), e não se repete à frente do segundo (mestres) —, ficando deste modo a expressão de Efésios 4.11 em português (Almeida Revista e Atualizada): “para pastores e mestres”, e não “para pastores e para mestres” —, John Stott é da opinião que sejam dois nomes ou duas qualificações para o mesmo ministério, a mesma pessoa: o pastor é pastor-mestre.** Parece, sim, correto. Afinal, todo pastor deve ser “apto para ensinar” (1Tm 3.2) e “apto para instruir” (2Tm 2.24). Será se afadigando “na palavra e no ensino” (1Tm 5.17), será prioritariamente pregando à igreja a palavra revelada de Deus na Bíblia (2Tm 4.2) que o pastor cumprirá mais fielmente o ministério que recebeu do Bom Pastor: apascentar e pastorear as ovelhas que foram compradas pelo sangue de Cristo e colocadas sob os cuidados ministeriais do pastor na igreja local (cf. Jo 21.15-17; At 20.28; 1Pe 5.2).

Assim, de que modo o pastor-mestre — presente dado por Cristo à igreja local —, sobretudo o da nova geração, deverá pregar a Palavra de Deus? É aqui que entra a obra tão importante, atual e prática que você segura em suas mãos.

A contribuição significativa deste livro está em seu propósito direcionado, principalmente, para pregadores mais jovens. De fato, quando publicado, em 2009, foi escrito por um jovem pastor (Merida tinha 32 anos). Assim, de jovem para jovens, o autor — já tão habilidoso na juventude — conseguiu com capacidade impressionante se conectar com jovens aspirantes ao ministério da pregação. Seu estilo de escrita, seu conteúdo

**2 John R. W. Stott, God’s New Society: The Message of Ephesians (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1979). Logos Bible Software.

e sua perspectiva são todos bem familiares aos mais jovens e, portanto, poderão ser por eles mais facilmente assimilados. Todavia, não se deixe enganar: falará, e falará muito, também aos pregadores mais velhos ou mais experientes.

Outra contribuição importante é a “perspectiva desde dentro” desta (a mais jovem) geração que a obra do autor oferece. Este ponto poderá, inclusive, ajudar os mais velhos e os mais experientes a compreenderem o que se está passando. Merida, por exemplo, reflete sobre as práticas modernas que estão em curso em sua geração (a nossa geração), enquanto também aborda áreas clássicas de importância e de preocupação para a pregação.

Mas lembre-se: vem de alguém de dentro da geração, vem de alguém que está realmente qualificado e preparado para falar o que fala, mas que ainda está no início do ministério (ou estava, quando escreveu).

Ora, sejamos francos. Uma coisa é um pastor mais velho ou mais experiente; uma coisa é o erudito ou o teólogo mais velho ou experiente oferecer comentários sobre as práticas mais recentes dos pregadores, das igrejas e da cultura (veja: o mais velho não só pode, como deve fazer isto), mas ler sobre essas coisas da pena de quem é de dentro a partir “da perspectiva desde dentro” desta geração traz uma perspectiva mais fresca e uma compreensão mais perspicaz — tanto ao jovem como ao velho. É exatamente isso o que faz Tony Merida, que é jovem ainda agora em 2023 (apenas 46 anos!). Sim, Merida ainda é jovem, sobretudo quando comparado com os nossos heróis ou gigantes, alguns dos quais o próprio nomeia em seu livro: John Piper, John MacArthur e John Stott (este, inclusive, já falecido).

Desde que foi lançado, este livro vem escrevendo uma longa história de treinamento de pregadores e de influência para pastores nos locais aonde chega; e tem tudo para continuar sendo assim por várias gerações. Pena que só agora chegou ao Brasil. Mas graças a Deus que chegou. Publicado pela Pro Nobis Editora, creio que fará história também não só no Brasil, mas em todo o mundo da língua portuguesa. Sendo assim, faça agora mesmo o seguinte: corra os olhos no Sumário desta obra; observe atentamente a sequência lógica e o crescendo na estruturação das partes e dos capítulos. Deleite-se. E boa leitura. Porém, não apenas leia — eu rogo a você, caro leitor! —, mas leia e estude este livro

com afinco e com afeição; dedique a este livro sua cabeça e seu coração; pratique os seus ensinamentos — sem, contudo, jamais se esquecer disto: você, pastor-mestre, ou você que aspira ou foi chamado a pregar e ensinar a Palavra de Deus nesta geração, sim, você mesmo foi comprado pelo sangue de Jesus Cristo e dado como presente, donativo, um verdadeiro tesouro, para a igreja do Deus vivo. Esmere-se, pois; exponha-se ao conteúdo deste livro e seja polido por seus ensinamentos; cresça na arte da pregação e do ensino; edifique e capacite o povo santo de Deus com a fiel pregação de sua Palavra.

Leandro B. Peixoto, pastor da Segunda Igreja Batista em Goiânia (GO), março do ano de nosso Senhor Jesus Cristo de 2023

Prólogo de Ed Stetzer

VOCÊ PROVAVELMENTE É UM PREGADOR SE não há um livro sequer que não queira acrescentar à sua coleção, especialmente se for um bom livro sobre pregação. Você provavelmente é um pregador se fica animado com o simples ato de ler sobre nosso grande Deus e sobre a suficiência de sua Palavra. Você provavelmente é um pregador se fica animado com o quão simples é conhecer e tornar conhecido o nosso maravilhoso Salvador. Você provavelmente é um pregador se aprimorar suas habilidades de comunicação e entregar mensagens biblicamente relevantes no poder do Espírito Santo lhe dá alegria.

Que privilégio e responsabilidade incríveis nós temos em proclamar as riquezas insondáveis da glória de Deus, sua eterna Palavra, a filiação de Cristo e sua obra finalizada na cruz, e a presença do Espírito de Deus. Neste livro, Tony Merida escreve com simplicidade, clareza e relevância prática a respeito do ministério eterno da pregação — e não qualquer tipo de pregação, mas a pregação que é resoluta, responsável, relevante e fidedigna. Em uma palavra, da pregação que é fiel. Esse tipo de pregação exige disciplina, foco, comprometimento e devoção.

DEDICAÇÃO À TRINDADE

“Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel.” Essas são as palavras do apóstolo Paulo em 1Coríntios 4.1-2, que ainda se aplicam

aos pregadores hoje. Em essência, Deus colocou um tesouro precioso em nossas mãos, e devemos preservá-lo e entregá-lo com grande zelo, ou seja, de modo fiel.

Nas palavras de uma canção romântica clássica, Deus está procurando por um punhado de comunicadores fiéis dispostos a viver e a pregar sua palavra com este lema: “Sou seu para sempre, fielmente”. Isso soa como algo simples a ser feito. Alguns podem ler isso e dizer “Sei, sei, sei. Entendi. Amar a Deus. Diga-me algo que eu ainda não saiba”. O problema é que muitos pregadores, normalmente os mais jovens, não têm essa disposição ao entrarem no ministério. Eles começam, a vida e o ministério ficam difíceis, e eles se afastam de Deus, do ministério, da Palavra, ou de todos esses.

Meu amigo Rick Warren sempre mencionava uma longa lista de pastores jovens que ele acreditava que Deus poderia usar de formas poderosas. Anos depois, ele checou essa lista e percebeu que ela encolheu muito, e essa tem sido minha experiência também. No entanto, não precisa ser assim.

Por isso, não subestime o fato de que a chave fundamental para pregar de modo fiel é cultivar uma devoção profunda pelo Deus Triúno. Ter um relacionamento abundante com o Pai, com o Filho e com o Espírito é o que move, desperta e sustenta o pregador para ser fiel. No fim, tudo precisa ter o objetivo de exaltar a Deus. Mas, primeiro, devemos cultivar essa devoção singular.

DEDICAÇÃO AO TEXTO

Tony estabeleceu uma estratégia simples, porém eficaz, que ajudará qualquer pregador a desenvolver e aprimorar habilidades de comunicação da Palavra de Deus. Faz sentido que a dedicação ao texto bíblico preceda a fidelidade a Deus. Para aqueles de vocês preocupados em serem relevantes, aguardem mais um pouco. Como Tony, eu acredito que a boa pregação será relevante. Mas isso flui de uma reflexão fiel da Escritura. Na cena de abertura do filme Prova de Fogo, bombeiros acabaram de voltar de um combate a um incêndio. Um deles está triste porque seu parceiro o abandonou. Isso leva a uma das falas-chave do filme. O capitão, interpretado por Kirk Cameron, diz ao bombeiro que abandonou seu parceiro: “Você nunca abandona seu parceiro, muito menos num incêndio”.

Como incêndios culturais irrompem ao nosso redor, a segunda chave para pregar fielmente é nunca abandonar o texto bíblico. A pregação bíblica eficaz está enraizada e fundamentada na Escritura, e dela flui.

Pense a respeito das qualidades e características da Palavra de Deus.

A própria Bíblia nos dá este testemunho de si: é a espada do Espírito; age naqueles que creem; é viva, ativa e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; penetra os corações das pessoas e julga seus pensamentos e atitudes; é perfeita, justa e verdadeira; é inspirada por Deus. A Bíblia é como o parceiro que nenhum de nós pode sequer pensar em abandonar. Portanto, independentemente do estilo que você escolha usar, certifique-se de que está expondo a Bíblia.

DEDICAÇÃO À ÉPOCA

Recentemente, fui o coautor de um livro intitulado Lost and Found [Perdido e encontrado]. Em nossas pesquisas para esse livro, encontramos algumas crenças comuns entre os líderes das igrejas que estão atingindo eficazmente os jovens:

• crer que a Bíblia é verdadeira,

• crer que o ensino da Bíblia pode e deve ser aplicado à vida real,

• crer que a mensagem deve falar aos descrentes,

• crer na necessidade de crescer como um seguidor de Cristo,

• crer na necessidade de crescer como um comunicador,

• crer que um comunicador eficaz é autêntico, e

• crer em ser verdadeiro para consigo mesmo, em oposição a tentar falar como se fosse outra pessoa.

Obviamente, muitos desses líderes creem que não é somente possível, mas também necessário, ser dedicado a Deus, à Bíblia e à relevância contextual — e tudo ao mesmo tempo. Eu também acredito nisso. Se parar para refletir, você verá que essas declarações são verdadeiras em relação a Jesus. Ele era um estudante da sua cultura e utilizou palavras, frases e ilustrações que deram vida à Palavra de Deus. Ele falou sobre verdades espirituais de formas que as pessoas pudessem entender.

Ser dedicado à época não significa comprometer a Palavra de Deus, mas conectar as verdades atemporais de Deus às realidades da vida comum de pessoas comuns, assim como fez Jesus. Esta não é uma tarefa fácil. Na verdade, é impossível realizá-la sem a ajuda de Deus, pois exige dedicação de tempo ao Deus Triúno, ao texto bíblico e aos tempos nos quais vivemos. É algo que exige habilidade e excelência. Além disso, é uma busca que não tem fim: sempre há espaço para nos aperfeiçoarmos.

CONCLUSÃO

Numa cultura que frequentemente rejeita a fidelidade, Tony Merida escreveu uma obra oportuna e vital sobre pregar fielmente. Eu sinceramente a recomendo como um recurso importante e útil, que deve estar presente na estante de todo pregador que deseja dedicar-se a Deus, à sua Palavra e ao ministério.

Perto do fim de O Senhor dos Anéis: A sociedade do anel, a sociedade se separa. Frodo acredita que deve destruir o anel porque não pode confiar em mais ninguém. Antes de se separarem, entretanto, Aragorn se ajoelha e declara a Frodo: “Eu teria ido com você até o fim”. E quanto a você: será fiel até o fim? Deus está em busca de uma sociedade de pregadores fiéis: daqueles que permanecerão dedicados à Trindade, ao texto bíblico e à época. Desafie a si mesmo a proclamar fielmente a Palavra, pois aquele que nos chama é fiel.

Agradecimentos

EU PRECISO AGRADECER a muitos homens fiéis que passaram adiante a herança da pregação bíblica. Agradeço ao Dr. Jim Shaddix, meu mentor e amigo, por me ensinar a diferença entre “algo bom” e “algo de Deus”. Sua pregação fiel, sua instrução em sala de aula e seu apoio em oração impactaram minha vida tremendamente. Você não somente me ensinou a respeito da suficiência da Escritura, mas também a ilustrou por meio de sua vida e ministério. Se Deus me permitir ser metade do expositor que você é, serei um homem feliz e a igreja será abençoada.

Agradeço ao Dr. Charlie Ray por me ensinar o valor e a utilização das línguas originais. Agradeço ao Dr. Stan Norman por me ensinar a importância da teologia. Agradeço ao Dr. John Piper por me ensinar e me instruir, através de seus escritos e ministério, a ser um pregador centrado em Deus. Agradeço ao Dr. Bryan Chapell por enfatizar a pregação expositiva cristocêntrica.

Agradeço a Andrew Arthur, John Blackmon e Stephen McDonald pela amizade e pela ajuda com partes deste livro.

Agradeço ao Dr. Chuck Kelley pela oportunidade de ensinar e de pregar no New Orleans Baptist Theological Seminary. Estarei sempre em débito com ele por confiar tais responsabilidades a um jovem ministro.

Agradeço aos meus amigos da Temple Baptist Church, da First Baptist Church, do New Orleans Baptist Seminary e do Southeastern Baptist Seminary, e da Imago Dei Church, pela oportunidade de ensinar e pregar.

Acima de tudo, agradeço ao meu Senhor e Salvador Jesus Cristo. Obrigado pela cruz e pelo túmulo vazio. Sem ti, não tenho esperança e nada para pregar.

Prefácio do autor

A Timóteo ordenando: “E tu, ó Timóteo, guarda o que te foi confiado” (1Tm 6.20; cf. 2Tm 1.12b-14). Ao exortar Timóteo a preservar a verdade do evangelho, Paulo utilizou um termo técnico legal que significa “guardar dinheiro ou valores depositados em cofre”. Mas Timóteo não deveria apenas guardar a verdade. Ele também deveria confiá-la a outros homens fiéis para que continuassem a manejá-la (2Tm 2.2). Para Paulo, uma missão dessas demandava a força de Deus e uma dedicação tal como a de um soldado focado, de um atleta disciplinado, e de um fazendeiro esforçado (2Tm 2.1-7). As palavras e o espírito da carta de Paulo a Timóteo ecoam por todo este livro. Como Timóteo, devemos preservar e passar adiante a verdade da Palavra de Deus à próxima geração.

Muitos dos grandes pregadores expositivos estão envelhecendo. Homens como John Piper, John MacArthur, Alistair Begg e John Stott exemplificaram a fidelidade bíblica na pregação. Mas, em breve, eles, ao lado de outros pastores fiéis, passarão o bastão definitivamente à geração seguinte. O que se dirá sobre a próxima geração de pregadores?

Neste livro, me preocupo principalmente com aqueles que ingressaram, ou se preparam para ingressar, no ministério da Palavra. Importo-me especialmente com a geração mais nova de pregadores, pressionada pelo cristianismo performático, centrada no homem e superficial. Espero que este livro liberte você enquanto pregador para que fique à vontade com seu próprio jeito de pregar, e que esclareça seu papel enquanto pastor e ministro

da Palavra. Esse papel, como eu o vejo, é ser fiel, e não famoso ou chamativo. Portanto, espero instruir e inspirar você em direção a um maior grau de fidelidade a Deus, à sua Palavra, e ao chamado e à missão dados por ele. Meu plano é oferecer um panorama introdutório dos fundamentos teológicos, práticos, espirituais, históricos e missiológicos da pregação e dos pregadores. Em minhas aulas de pregação, tenho sempre de levar muitos livros quando quero falar de exegese e preparação do sermão, de vitalidade espiritual e história, de teologia e contextualização. Portanto, uma introdução geral sobre pregação expositiva parece ser necessária.

Meu estilo dinâmico, num vaivém, da livraria à cafeteria, da quadra de basquete à sala de aula. Tentei escrever este livro de modo que mesmo pregadores jovens sem nenhum treinamento pudessem entendê-lo e desfrutá-lo, mas que ainda pudesse ser utilizado em cursos introdutórios no seminário. Espero, entretanto, que pastores experientes se beneficiem dele também.

Certamente não me considero um expert ou uma autoridade nesse campo. Tenho muito a aprender como um jovem pastor e professor. No entanto, selecionei alguns conceitos valiosos sobre pregação a partir de meus estudos e da minha experiência em pregar em vários contextos. As ideias ensinadas aqui são princípios que tento incorporar no presente, em meu ministério semanal de pregação.

Espero que esta obra abençoe você de alguma forma. Eu amo a pregação e os pregadores. Minha oração é por uma nova geração de pregadores que “pregue a Palavra” fielmente para o bem da igreja, para a salvação das nações e para a glória de Cristo, até que o ouçamos dizer: “Muito bem, servo bom e fiel”.

Sobre pregação e pregadores

Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. (1Timóteo 4.13)

O verdadeiro sucesso é a fidelidade, não a popularidade. E a fidelidade no púlpito exige diligência no estudo. [...] Aqueles que são preguiçosos em seus estudos, indisciplinados na preparação e descuidados na proclamação um dia serão envergonhados. Mas não os servos fiéis. Como Paulo, eles, um dia, estarão, com confiança jubilosa, diante de seu Mestre gracioso.1

— John MacArthur

A

MAIORIA

DAS

PESSOAS QUE ME VEEM na rua não acredita que sou pastor ou professor de seminário. Talvez isso tenha a ver com a minha idade, com a cabeça raspada, com a barbicha e com o físico robusto (certo, forcei um pouquinho a barra). Num voo recente, um gentil senhor da Califórnia achou que eu fosse dono de um estúdio de tatuagem ou de uma loja da Harley Davidson! Quando eu disse a ele que era um prolixo pregador da Palavra, sua expressão mudou drasticamente. Com um sorriso

1 John MacArthur Jr., “Rightly Dividing the Word of Truth: A Study Method for Faithful Preaching”, em Preach the Word, ed. L. Ryken e T. A. Wilson (Wheaton, Crossway Books, 2007), p. 78.

constrangido, ele disse que nunca conheceu um pregador que fosse como eu. Ele, obviamente, tinha algumas ideias pré-concebidas de como um pregador deveria ser. Como esse meu amigo, outras pessoas têm conceitos equivocados a respeito de pregadores e da pregação porque muitas delas formam suas ideias a partir de outras fontes, e não da Escritura.

A pergunta fundamental deste livro não tem nada a ver com a aparência do pregador, mas diz respeito à sua responsabilidade. O que um pregador deveria ser e fazer? É ele quem começa a conversa? Seria ele uma espécie de terapeuta? Um comediante? Um sábio num palco? Um dono de empresa? Por falar nisso, o que é pregação? Essas perguntas gerais sobre pregação, ao lado de outras específicas relacionadas com a pregação expositiva, serão abordadas neste capítulo introdutório.

PERGUNTAS BÁSICAS SOBRE PREGAÇÃO

O que é um pregador?

Antes de discutir sobre pregadores bíblicos, é importante notar que o próprio Deus foi o “primeiro pregador”. Ele falou e a criação veio à existência por sua palavra poderosa. Sua palavra alcançou seus propósitos, pois Deus viu que tudo era bom. Desde o começo da Bíblia, vemos que a pregação é atemporal e tem sua origem no céu. Do começo ao fim das Escrituras, a pregação se dá de várias formas, através de pregadores extraordinários.

Os pregadores do período bíblico eram caracterizados por dois fatores primários: (1) o chamado e (2) a mensagem. Com respeito ao chamado, Deus separou profetas, apóstolos e pregadores para a singular tarefa de proclamar sua Palavra publicamente. Deus, por outro lado, não enviou os falsos profetas; consequentemente, eles não proclamavam a Palavra de Deus. Em Jeremias 23, Deus repreendeu os falsos profetas, dizendo: “Não mandei esses profetas; todavia, eles foram correndo; não lhes falei a eles; contudo, profetizaram” (Jr 23.21). Com certeza, essa é uma das razões pelas quais o chamado especial dos verdadeiros profetas é incluído no Antigo Testamento. O chamado de Deus era importante. Ele mostrava ao povo a diferença entre os dois tipos de profeta. Os falsos profetas não recebiam visões como as de Isaías, ou experimentavam chamados como o do jovem Jeremias, ou de Samuel. Da mesma forma, Paulo costumava descrever seu chamado apostólico a fim

de se desassociar dos falsos profetas daqueles dias (Gl 1.16-17). C. Hassell Bullock, estudioso do Antigo Testamento, comentou: “Não podemos ignorar o fato básico de que os profetas achavam sua legitimidade e credenciais válidas, antes de tudo, no chamado de Yahweh”.2

Além disso, a mensagem divina dos profetas os separava dos falsos mestres. Deus ordenou a Moisés que proclamasse a sua lei (Êx 20.22).

Conforme o profeta Samuel crescia, “o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra” (1Sm 3.19). Esdras se levantou e leu “o livro da lei” depois que o povo de Deus se reuniu após o exílio (Ne 8.1). O Santo comissionou Isaías para o propósito de proclamar sua mensagem a um povo duro de coração (Is 6.9-13). Deus colocou suas palavras na boca de Jeremias para que fossem proclamadas (Jr 1.7-9).

Deus ordenou a Ezequiel que dissesse: “Assim diz o Senhor Deus” (Ez 2.4).

Os verdadeiros profetas pregavam tão somente a Palavra de Deus e a mensagem deles se provava verdadeira com o tempo (Dt 18.21-22).3

Do mesmo modo, os verdadeiros pregadores do Novo Testamento continuaram o padrão dos profetas do Antigo Testamento proclamando a verdade divina, conforme ordenado pelo Senhor. Deus designou João Batista para preparar o caminho do Senhor “pregando no deserto” (Mt 3.1).

Da mesma forma, Jesus começou seu ministério pregando (Mt 4.17). Não se pode menosprezar o fato de que nosso Senhor era um pregador. Em Atos, o apóstolo Pedro pregou o primeiro sermão cristão expondo e aplicando o Antigo Testamento. Paulo pregou seu primeiro sermão registrado expondo a história do Antigo Testamento (At 13.17-41). Timóteo foi exortado a dedicar-se “à leitura, à exortação, e ao ensino” (1Tm 4.13). Paulo enviou Tito a Creta e o comissionou a falar “o que convém à sã doutrina” (Tt 2.1). Pedro ordenou àqueles que têm o dom da fala que declarassem “os oráculos de Deus” (1Pe 4.11).

2 C. H. Bullock, An Introduction to the Old Testament Prophetic Books (Chicago: Moody, 2007), p. 20.

3 É claro, os profetas são diferentes dos atuais pregadores no sentido de que faziam predições futuras. Não obstante, eram pregadores. Bullock disse: “Embora possa ser dito precisamente que os profetas eram, basicamente, pregadores — isto é, eles falavam ao próprio tempo e situações, interpretando eventos em curso da história à luz da vontade de Deus para Israel — o elemento preditivo era uma parte distintiva da mensagem deles”. Ibid., p. 16.

Além disso, as metáforas para os mensageiros de Deus no Novo Testamento ilustram a responsabilidade do pregador diante da Palavra. Deus chama o mensageiro de “semeador” (ho speirōn), que semeia a semente da Palavra; de “mordomo” (oikonomos), a quem são confiados os mistérios de Deus; de “arauto” (kēryx), que proclama as boas-novas de Deus; de “embaixador” (presbus), que representa a Deus; de “pastor” (poimēn), que alimenta e protege o rebanho de Deus; e um “obreiro” (ergatēs), que maneja bem a verdade de Deus. Com respeito a essas imagens, John Stott declarou: “É impressionante que, em todas essas metáforas do Novo Testamento, o pregador é um servo sob a autoridade de outra pessoa e proclamador da palavra de outra pessoa”.4 Jovem pregador, não se esqueça e nem abra mão de sua responsabilidade. Continue semeando, sendo um mordomo, proclamando, representando, alimentando e manejando bem a Palavra de Deus. Se Deus o chamou para pregar, então você já tem a instrução: “prega a Palavra” (2Tm 4.2).

Alistair Begg descreveu o papel do pregador de uma maneira vívida. Ele disse que, quando criança, parte da estrutura de sua igreja exigia que o pastor subisse alguns degraus antes de chegar num púlpito de formato cônico, localizado bem acima das pessoas. Antes de subir, cerca de três minutos antes do início do sermão, o oficial da paróquia (o bedel) subia primeiro, carregando uma Bíblia grande. O bedel abria a Bíblia no texto do dia, e então descia. O pastor, então, subia ao púlpito. Depois disso, o bedel subia mais uma vez para fechar a porta. Esse processo ilustrava algo muito importante: longe das Escrituras, o pregador não tem nada a dizer. Entretanto, se as tem diante de si, ele não descerá até que tenha pregado o texto.5 O papel do pregador, em outras palavras, é proclamar a Palavra, e o povo deve se submeter à autoridade das Escrituras.

O que é pregação?

Por via de regra, pregação quer dizer proclamar publicamente a Palavra de Deus. É claro, a pregação inclui muitos outros elementos particulares

4 John Stott, Between Two Worlds (Grand Rapids: Eerdmans, 1982), p. 137. Veja Mt 13.1-23; 1Co 4.1; 2Tm 4.2; 2Co 5.20; 1Pe 5.2; 2Tm 2.15.

5 Alistair Begg, Preaching for God’s Glory (Wheaton: Crossway, 1999), p. 9. [Pregando para a glória de Deus (São José dos Campos: Fiel, 2018).]

como a personalidade do pregador, sua paixão pelo que faz, a organização do material e o ministério do Espírito Santo. No mundo da homilética, isto é, “a ciência e a arte da pregação”, muitos mestres nos dão algumas definições mais descritivas, chamando nossa atenção para nuances específicas.

Philips Brooks deu uma definição famosa, ao dizer: “Pregação é trazer a verdade por meio da personalidade”.6 Brooks nos ajuda a ver que não é possível dissociar a personalidade do pregador da pregação, e é por essa razão que não devemos tentar copiar o estilo de pregação de outros. Devemos proclamar a Palavra com excelência e sinceridade. É claro, alguns aspectos da nossa personalidade precisam da purificação do Espírito Santo. Não podemos supor que “ser nós mesmos” quer dizer que temos liberdade plena para pregar de qualquer maneira, sem levar em conta os limites morais. Entretanto, Deus nos fez com traços únicos e nos agraciou com dons espirituais singulares, e, por esse motivo, não devemos ver a pregação como se ela se limitasse a um estilo em particular.

Outros mestres destacam mais o conteúdo em sua definição. V. L. Stanfield disse: “Pregação é dar voz à Bíblia”.7 Karl Barth declarou: “Pregação deve ser a exposição da Sagrada Escritura. Não tenho que falar sobre a Escritura, mas a partir dela. Não tenho que dizer algo, mas, meramente, repetir algo”.8 Stanfield e Barth nos lembram de que a pregação é diferente de um “sermão”, de uma “conversa” ou de um “discurso”. Na verdade, é possível entregar um sermão ou ter uma conversa a partir de qualquer assunto. O que faz da pregação única é seu conteúdo divino.

A paixão é necessária na pregação do texto sagrado. O grande expositor D. Martyn Lloyd-Jones certa vez afirmou: “Pregação é teologia vinda de um homem ardendo em chamas”.9 John Piper, pregador contemporâneo,

6 P. Brooks, Lectures on Preaching (New York: E. P. Dalton; reimpr., Grand Rapids: Baker, 1969), p. 5.

7 J. A. Broadus, On the Preparation and Delivery of Sermons, 4. ed., rev. Vernon L. Stanfield (San Francisco: Harper and Row, 1979), p. 19. [Sobre a preparação e entrega de sermões (São Paulo: Hagnos, 2009).]

8 Karl Barth, Homiletics, trad. Geoffrey W. Bromiley e Donald E. Daniels (Louisville: Westminster/John Knox Press, 1991), p. 49. [Proclamação do evangelho: homilética (São Paulo: Fonte Editorial, 2020).]

9 D. Martyn Lloyd-Jones, Preaching and Preachers (Grand Rapids: Zondervan, 1971), p. 97. [Pregação e pregadores (São José dos Campos: Fiel, 2019).]

chamou a pregação verdadeira de “exultação expositiva”.10 Ambos esses pastores-teólogos nos lembram da necessidade da profundidade teológica e do fervor no púlpito. Ainda que a paixão seja expressa de formas diferentes pelos pregadores — tais como volume da voz, gestos, lágrimas, sinceridade ou ritmo —, ela não deixa de ser um elemento crítico na pregação. A paixão genuína é contagiosa e convincente. Você terá muita dificuldade se quiser encontrar qualquer pregação na Bíblia que não contenha expressões de zelo e fervor.

Jerry Vines e Jim Shaddix definem a pregação assim: “[Pregação é] a comunicação oral de uma verdade bíblica pelo Espírito Santo, por meio de uma personalidade humana, para uma audiência, com o intento de despertar uma resposta positiva”.11 Vines e Shaddix acrescentam à personalidade o ministério do Espírito e uma resposta positiva. Certamente, devemos enfatizar a obra do Espírito na pregação cristã. E é apenas pelo Espírito que respostas positivas podem ocorrer. Pregadores devem esperar que Deus opere quando a Palavra dele é proclamada de modo fiel.

Eu acrescentaria a esse breve levantamento de definições que a pregação verdadeira é trinitária. Cada pessoa da Divindade está presente e ativa no momento da pregação. A pregação cristã deve servir à glória do Pai, por meio do Filho e pelo poder do Espírito. Nossa pregação, portanto, deve ser centrada em Deus, exaltar a Cristo e ser inflamada pelo Espírito. Creio que esse é o caso porque a pregação é um ato de adoração; e, se autêntica, a adoração sempre é um reconhecimento do único Deus em três pessoas (Ef 1.3-14). A pregação fiel, assim como a adoração fiel, é motivada por uma paixão por exaltar o Deus Triúno.

Além disso, insisto que a pregação fiel é trinitária porque deve salvar pecadores e santificar os crentes, e todas as pessoas da Divindade trabalham para nossa salvação e santificação. O Pai administrou nossa salvação (Ef 1.4) para o propósito da santidade; o Filho realizou a nossa salvação (1.7-11), tornando a santificação possível; e o Espírito aplicou nossa salvação (1.1314), agindo em nossos corações para que pudéssemos ver o Filho e sermos transformados em sua semelhança (2Co 4.6; 3.18).

10 John Piper, The Supremacy of God in Preaching, ed. rev. (Grand Rapids: Baker, 2004), p. 11. [Supremacia de Deus na pregação (São Paulo: Shedd, 2003).]

11 J. Vines e J. Shaddix, Power in the Pulpit (Chicago: Moody, 1999), p. 27.

Uma razão final para focar atenção à Trindade na pregação é o fato de que cada membro da Divindade tem um papel em nos dar a Palavra. O Pai escolheu revelar a si mesmo graciosamente, por meio de sua Palavra e em seu Filho (Jo 1.14). O Espírito operou para inspirar a Palavra de Deus por meio de autores humanos (2Pe 1.20-21). E as Escrituras inspiradas pelo Espírito falam, principalmente, de Jesus (Lc 24.27). Portanto, o expositor responsável é grato pela Palavra, crê no poder da Palavra e busca exaltar a Cristo proclamando a Palavra.

Portanto, proponho, de forma simples, que a pregação fiel é a declaração responsável, apaixonada e autêntica das Escrituras, que exalta a Cristo, pelo poder do Espírito, para a glória do Deus Triúno. Em minha opinião, a abordagem que melhor cumpre o desejo de manejar a Palavra de forma responsável, de uma maneira centrada em Deus, é a pregação expositiva. John Stott chegou ao ponto de dizer que “toda pregação cristã verdadeira é pregação expositiva”.12

O que é pregação expositiva?

Existem muitas definições de pregação expositiva. O entendimento geral é que esse tipo de pregação é conduzido pelo texto da Escritura.

A Bíblia está no centro do palco. A confusão ocorre quando tentamos responder as perguntas a seguir a respeito desse assunto:

1. A pregação expositiva tem a ver com a forma do sermão?

2. A pregação expositiva tem a ver com o processo de preparar o sermão?

3. A pregação expositiva tem a ver com o conteúdo do sermão?

4. A pregação expositiva tem a ver com o estilo do sermão?

5. A pregação expositiva inclui uma combinação de alguns desses elementos?

Pregação expositiva enquanto uma forma de sermão significa pregar “versículo por versículo” ao invés de pregar “versículo com versículo”. Com essa classificação, apenas sermões que se movem através de uma passagem em particular são considerados expositivos. A pregação versículo

12 Stott, Between Two Worlds, p. 125.

com versículo é conhecida como “pregação temática”, na qual o pregador escolhe alguns versículos a fim de apoiar sua ideia.

Pregação expositiva enquanto um processo significa que a exposição lida com um estudo aprofundado do texto a fim de comunicar a mensagem pretendida pelo autor original. O processo (como discutiremos mais adiante, na Parte 2) inclui olhar para certas características no texto como autoria, data, contexto, palavras, estrutura da frase e outros aspectos. O expositor quer descobrir o significado de uma passagem, que foi encoberto pelo tempo, pela cultura, pela linguagem e pelas nossas pressuposições.

Pregação expositiva enquanto “conteúdo da mensagem” significa que a essência do sermão é bíblica — apesar de sua forma ou do estilo. Com essa ideia, a pregação expositiva é simplesmente uma pregação centrada na Palavra. Pode-se escolher usar vários textos num sermão, mas esses textos devem ser interpretados em seu próprio contexto. Os versículos devem ser tratados de uma maneira que não ofenda o autor a quem Deus escolheu para escrevê-los.

Pregação expositiva enquanto um estilo de sermão significa que há uma forma específica de entregar um sermão expositivo. Normalmente, quando alguém define a pregação expositiva dessa maneira, ela tem um pregador particular em mente. É triste o fato de que aqueles que reagem negativamente à exposição estão, na verdade, reagindo a estilos pobres de entrega por parte de pregadores em particular. Essas críticas frequentemente afirmam que pregadores expositivos só dão aos ouvintes informações contextuais maçantes cobertas de gramática grega e outros excertos irrelevantes de comentários.

A opção mais fácil de ser rejeitada é a de pregação expositiva enquanto um estilo. Temos muitos exemplos contemporâneos de pregadores fiéis ao texto e que ao mesmo tempo mantêm a própria personalidade. Ninguém gosta de exposições enfadonhas que não incluem aplicação para a vida real, e ninguém gosta de exposições “copia e cola”, ou seja, daquelas que tentam imitar outro pregador.

A maior parte dos proponentes da pregação expositiva enfatiza a necessidade de o pregador explicar e aplicar um texto, ou textos, entendendo-o em seu contexto. Eles enfatizam a necessidade de estudo exegético e de conteúdo bíblico. Considere os exemplos a seguir.

• John Broadus: “Um discurso expositivo pode ser definido como aquele que é ocupado quase completamente, ou pelo menos em grande medida, pela exposição da Escritura”.13

• John Stott: “Ela [pregação expositiva] se refere ao conteúdo do sermão (verdade bíblica) e não ao estilo (um comentário versículo a versículo). Expor a Escritura é extrair do texto seu conteúdo e colocá-lo em evidência”.14

• Haddon Robinson: “Pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico, derivado e transmitido através do estudo histórico, gramatical e literário de uma passagem em seu contexto, a qual o Espírito Santo aplica primeiro à personalidade e à experiência do pregador, e então, através do pregador, aplica aos ouvintes”.15

• Sidney Greidanus: “Pregação expositiva é ‘pregação centrada na Bíblia’. Isto é, manejar o texto de tal forma que seu significado real e essencial, como existiu na mente do autor bíblico e como existe à luz do contexto geral da Escritura, é esclarecido e aplicado às necessidades atuais dos ouvintes”.16

• John MacArthur: “Pregação expositiva envolve apresentar uma passagem total e exatamente como Deus a planejou”.17

• Bryan Chapell: “[Pregação expositiva] visa apresentar e aplicar as verdades de uma passagem bíblica específica”.18

• Vines e Shaddix: “[Um sermão expositivo é] um discurso que expõe uma passagem da Escritura, organizado ao redor de um

13 J. Broadus, On the Preparation and Delivery of Sermons, nova e rev. Ed. Jesse Witherspoon (New York: Harper and Row, 1944), p. 144.

14 Stott, Between Two Worlds, p. 125-126.

15 Haddon Robinson, Biblical Preaching, 2. ed. (Grand Rapids: Baker, 2001), p. 21. [Pregação bíblica (São Paulo: Shedd, 2018).]

16 S. Greidanus, The Modern Preacher and the Ancient Text (Grand Rapids: Eerdmans, 1988), p. 11.

17 John MacArthur Jr., The Master’s Seminary Faculty, Rediscovering Expository Preaching (Dallas: Word, 1982), p. 23-24.

18 Bryan Chapell, Christ-Centered Preaching, 2. ed. (Grand Rapids: Baker, 2005), p. 30. [Pregação cristocêntrica: um guia prático e teológico para a pregação expositiva (São Paulo, Cultura Cristã, 2022).]

tema central e das divisões principais que compreendem o texto, e, então, aplica decisivamente sua mensagem aos ouvintes”.19

• D. A. Carson: “Na melhor das hipóteses, a pregação expositiva é uma pregação que, por mais dependente que seja de seu conteúdo, com o(s) texto(s) na palma da mão, chama a atenção para conexões canônicas internas (conexões dentro das Escrituras), as quais, inexoravelmente, se movem para Jesus Cristo”.20

A forma do sermão é o aspecto mais comumente discutido da pregação expositiva. Acaso somente sermões que prosseguem versículo por versículo, percorrendo as passagens, devem ser considerados expositivos? Somente sermões que avançam por livros inteiros devem ser considerados expositivos?

Seria possível pregar sermões expositivos se valendo de mais de um texto, contanto que esses textos não sejam retirados de seus contextos originais?

Alguns chegaram a até mesmo dizer que um sermão só é expositivo quando baseado numa passagem que abarque mais que alguns poucos versículos. Considere as definições a seguir:

• F. B. Meyer: “Somos capazes de definir a pregação expositiva como o tratamento consecutivo de algum livro ou porção extensa da Escritura [sic]”.21

• Andrew Blackwood: “Pregação expositiva quer dizer que a luz para qualquer sermão vem principalmente de uma passagem da Bíblia maior que dois ou três versículos consecutivos”.22

• Harold Bryson: “[Pregação expositiva] envolve a arte de pregar uma série de sermões, consecutiva ou seletivamente, a partir de um livro da Bíblia”.23

Pessoalmente, sustento a ideia de que a forma da mensagem é secundária em relação ao processo de estudo e ao conteúdo do sermão. A pregação

19 Vines e Shaddix, Power in the Pulpit, p. 29.

20 D. A. Carson, “The Primacy of Expository Preaching”, Bethlehem Conference for Pastors, 1995, fita cassete.

21 F. B. Meyer, Expository Preaching (London: Hodder & Stoughten, 1910; reimpr., Eugene: Wipf and Stock, 2001), p. 25.

22 A. W. Blackwood, Expository Preaching Today (Grand Rapids: Baker, 1975), p. 13.

23 H. T. Bryson, Expository Preaching (Nashville: Broadman & Holman, 1995), p. 39.

expositiva, ou pregação centrada na Palavra, pode ser feita de várias formas, sem desonrar o texto. Eu creio que uma pessoa pode pregar um sermão “topicositivo”, ou seja, um sermão temático sobre uma doutrina que exige uma abordagem versículo por versículo em vários textos. Entretanto, isso ainda carrega o comprometimento expositivo de buscar a intenção desses vários autores. Eu também creio que o pregador pode escolher vários temas ao longo de um livro, como as declarações “Eu Sou” de João. Outro meio de fazer pregar expositivamente seria fazer um sermão sobre as visões gerais de um livro, no qual o pregador tenta cobrir os temas mais abrangentes de um livro da Bíblia num único sermão. Outra opção seria o pregador fazer uma série de sermões sobre um tema em particular constituída de textos individuais que se relacionam com determinado tema — conquanto esses textos sejam tratados fielmente. Em resumo, a pregação expositiva pode ser chamada de pregação centrada na Palavra, conduzida pela Palavra ou saturada da Palavra. Mais precisamente, pregação expositiva é o processo exegético e conduzido pelo Espírito de explicar e aplicar o significado de um texto ou textos com o propósito de transformar pessoas à imagem de Cristo.

Mesmo que eu creia haver alguma liberdade na forma do sermão, penso que a melhor forma de fazer discípulos saudáveis crescerem é expondo versículo a versículo através de livros da Bíblia. Embora possa haver momentos em que um pastor considere outra abordagem útil para instruir seu povo, creio que essas ocasiões devem ser esporádicas, e não regulares. Com o tempo, acredito que o pastor perceberá os benefícios maravilhosos da exposição sistemática quando bem-feita.

Meu mentor, Jim Shaddix, costumava se valer da analogia de uma piscina para explicar a natureza saturada pela Palavra da pregação expositiva. Ele dizia que os pregadores geralmente usam a Bíblia em uma de três formas. Uma delas é usar a Palavra como uma prancha de mergulho. Nesse método, o pregador lê o texto, mas nunca mais volta para ele. Outra postura é usar a Palavra como casa aquela casa de praia, voltando ocasionalmente ao texto. Pregadores expositivos, entretanto, usam a palavra como a piscina. Eles convidam os ouvintes a mergulhar no texto bíblico.24

24 Jim Shaddix é meu mentor, amigo e antigo pastor e professor. Recomendo altamente seus dois livros, que apoiam muito deste: The Passion-Driven Sermon (Nashville: Broadman & Holman, 2003) e Vines e Shaddix, Power in the Pulpit.

Num nível mais básico, pregação expositiva é pregar de tal forma que os leitores estejam encharcados pela Palavra de Deus após o sermão. Suas bíblias permanecem abertas, conforme o pregador continua a explicar e a aplicar o significado de um texto ou mais textos. É claro, há alguns sermões que não estão nem próximos da piscina! Eles não têm texto. Nesse caso, os ouvintes devem ir para outro lugar em busca de água.

PERGUNTAS BÁSICAS SOBRE PREGAÇÃO EXPOSITIVA

Frequentemente, três perguntas surgem quando discorro sobre pregação expositiva. Os benefícios da exposição, os perigos da exposição e as alternativas à exposição são sempre temas de preocupação e discussão. Tanto os defensores como os críticos desse método de pregação devem levá-la a sério.

Quais são os benefícios da pregação expositiva?

Pregação expositiva é um método fundamentado em determinadas crenças teológicas, tais como o papel do pregador segundo a Escritura, a natureza da Escritura e a obra do Espírito. Portanto, muitos dos benefícios da pregação expositiva são difíceis de mensurar. Entretanto, nove benefícios prático-teológicos são dignos de nota.

O primeiro benefício é que a pregação expositiva chama a atenção para a doutrina bíblica. Se o propósito é pregar em todo o conselho de Deus, toda sorte de doutrina será pregada. Isso impede o pregador de lidar somente com seus assuntos favoritos, além de proporcionar aos ouvintes estabilidade teológica.

O segundo benefício é que a exposição, se bem-feita, é boa tanto para crentes como para não crentes. Se alguém prega a Escritura tendo em mente sua história redentiva que culmina em Jesus, o evangelho estará naturalmente presente em cada sermão. O descrente será confrontado com sua necessidade de arrependimento e com a esperança que há em Cristo. Por outro lado, a exposição fará com que os crentes, aqueles que fazem parte da igreja, cresçam e os lembrará de que eles não servem a fim de obter graça, mas por graça e pela graça. Por esse motivo, sou um grande entusiasta e, assim espero, um praticante da exposição cheia do evangelho.

O terceiro benefício da pregação expositiva é que ela dá autoridade à mensagem. Pregadores que querem se destacar, ou encher os sermões

com histórias incontáveis, perdem a autoridade. A autoridade do sermão não está nas sugestões, histórias ou observações do pregador. A autoridade vem da Palavra de Deus.

O quarto benefício é que a pregação expositiva magnifica a Escritura. Os pregadores podem declarar que creem na suficiência da Palavra de Deus, mas se eles não convidarem o povo a mergulhar no texto, então, na prática, negam essa crença. Suas crenças a respeito da Bíblia serão vistas pela congregação pela forma como você a utiliza. É assim que você magnifica a natureza da Escritura com algo mais do que clichês.

O quinto benefício é que a pregação expositiva é centrada em Deus, e não no homem. Partindo da Palavra de Deus e não de uma ideia popular ou necessidade percebida, o pregador exporá a natureza e a verdade do Deus Triúno ao povo — que é sua maior necessidade.

O sexto benefício da pregação expositiva é que ela provê abundância de material para a pregação. Movendo-se pela Escritura, você evitará o reducionismo, isto é, escolher apenas os tópicos que pareçam importantes (dinheiro, sexo e poder). A Bíblia colocará a sua disposição mais material para pregação do que você jamais imaginou. Uma abordagem holística produzirá cristãos holísticos.

O sétimo benefício é que a pregação expositiva faz com que a pessoa que prega a Palavra cresça. Essa é a parte mais agradável de se comprometer com a exposição. Estudando o texto semana após semana, você se desenvolverá como um discípulo e continuará a saciar sua alma de alimento espiritual.

O oitavo benefício desse método de pregação é que ele assegura o mais alto nível de conhecimento bíblico para a congregação. Ao expor regularmente a Palavra de Deus, você instruirá um grupo de pessoas que conhece as Escrituras. Além disso, você não apenas os lembrará de quem eles são em Cristo e de como glorificar a Deus, mas também os capacitará a pensar biblicamente. Outros tipos de pregação podem até colocar um esparadrapo nas necessidades emocionais das pessoas, mas não transformará a visão de mundo delas, a menos que entendam a mente do Espírito Santo na Palavra. A pregação expositiva é um recurso fundamental para que as pessoas sejam transformadas pela renovação de sua mente (Rm 12.2).

Finalmente, o método expositivo de pregação ensina ao povo como estudar a Bíblia por conta própria. O velho ditado é verdadeiro: “Dê um

peixe ao homem e você o alimentará por um dia; ensine-o a pescar e você o alimentará pela vida toda”. Ao avançar sistematicamente por passagens e livros da Bíblia, você ensinará o povo como interagir com o texto. Eles entenderão a importância de contexto, palavras e gêneros bíblicos. Depois de pregar expositivamente em vários lugares, descobri que o povo é capaz de prever meu próximo ponto, e entender como cheguei nele. A pregação expositiva produzirá pregadores expositivos e alunos expositivos.

Portanto, os benefícios dessa abordagem são vários. Nenhum outro método de pregação parece prover essas vantagens. Por qual razão desejaríamos pregar de outro modo?

Quais são os perigos da pregação expositiva?

Mesmo sendo defensor da pregação expositiva, devo pontuar que há alguns perigos a serem evitados, e um deles é a aridez. A Palavra deve passar por nós antes de passar por meio de nós. Se formos áridos, isso provavelmente significa que não deixamos a Palavra operar em nossos próprios corações primeiro. Outro perigo relacionado com isso é a irrelevância. O alvo da exposição não é a informação, mas a transformação pessoal. O pregador deve mostrar como o texto tem implicações para a vida dos ouvintes.

O pregador também deve se atentar para a monotonia. Ele deve trabalhar duro para apresentar a Palavra com vigor. Começar o sermão da mesma forma, ou usar os mesmos tipos de ilustração se torna previsível e frustrante para o ouvinte. A criatividade e a franqueza não devem ser desprezadas, especialmente quando são parte da personalidade do pregador.

Além disso, os pregadores devem ficar atentos ao excesso de detalhes. Algumas vezes, a parte mais difícil de preparar sermões expositivos é decidir o que deixar de fora. A boa pregação expositiva tem um tema dominante. O pregador pega esse tema e o apoia, a fim de inserir a verdade na mente dos ouvintes. É importante que a simplicidade e a clareza não sejam esquecidas, especialmente se você começar a pregar expositivamente numa igreja que não está acostumada com isso.

Orgulho intelectual é como um tubarão branco, e deve ser evitado. Ele vem de duas formas. Uma delas é quando o pregador tenta impressionar a audiência com seu conhecimento das conjunturas históricas e das línguas bíblicas. Nosso papel não é impressionar o povo, mas apresentar-lhe a

Palavra com clareza. O orgulho também aparece, rastejando como uma cobra, quando o pregador prega dogmaticamente num texto difícil insistindo que sua interpretação é a única correta. Minha filosofia é apresentar todas as visões de texto e então declarar a minha própria visão, dando razões para apoiá-la. Equilibrar autoridade e humildade costuma ser difícil para pregadores que não conseguem distinguir entre doutrinas de nível primário, secundário e terciário. Ao dar opções, você ajudará o povo a desenvolver uma mente cristã e a aprender a estudar por conta própria. Você também terá mais credibilidade para com seus ouvintes ao praticar a exegese humilde.

O último tubarão é muito perigoso. Devemos evitar sermões sem Cristo. Não é raro os expositores perderem de vista a floresta da Bíblia (a redenção de Deus em Jesus) e se deterem apenas nas árvores (uma passagem em particular). De acordo com alguns planos hermenêuticos, pode-se pregar no livro de Neemias versículo por versículo sem nunca mencionar Jesus — e o sermão seria classificado como expositivo! O que está errado nesse método? Ele perdeu o contexto maior de toda a Bíblia.

Todo expositor deveria tentar identificar onde a passagem selecionada está localizada na história da redenção. É antes da cruz ou depois dela?

Não estou propondo que devemos tentar “encontrar Jesus sob cada pedra”, mas realmente quero defender que, apesar de alguma descontinuidade, a Bíblia é, como um todo, um livro cristão. Na verdade, Jesus disse aos discípulos que o Antigo Testamento apontava para ele (Lc 24.25-27,44-47).

Nenhum rabino judeu deveria se sentir bem diante de nossa pregação em textos do Antigo Testamento. Os expositores devem trabalhar duro para encontrar as conexões redentivas no texto, e fazer uma aplicação delas que seja repleta de graça.

Quais são as abordagens alternativas à pregação expositiva?

Pregadores contemporâneos têm muitas alternativas à pregação expositiva. A pregação narrativa é frequentemente a opção mais escolhida. Certamente, a pregação narrativa pode ser feita expositivamente, isto é, pregar textos narrativos sem forçar uma retórica desnecessária. Os pregadores podem expor textos narrativos simplesmente seguindo as partes naturais da história (ou seja, personagem, enredo, conflito, resolução).

Entretanto, muitas vezes aqueles que recorrem à pregação narrativa não pretendem pregar um texto narrativo simplesmente seguindo o fluxo natural da história. Eles encorajam os pregadores a contar histórias interessantes e dar exemplos morais a serem seguidos. O problema com esse tipo de pregação é que ela, algumas vezes, serve mais para fascinar do que para transformar. Segurar a atenção dos ouvintes não significa que todos necessariamente serão transformados. Também é menos provável que incite uma fome pela Palavra de Deus, uma vez que o sermão é, primariamente, uma história.

Nos últimos anos, muitos pastores também abraçaram o método da pregação temática focada nas necessidades das pessoas. Pastores que usam esse método frequentemente fazem, antes de tudo, pesquisas a fim de conhecer as necessidades do dos ouvintes, e então pregam mensagens que lidam com essas questões. Esses sermões são extremamente práticos. Os pontos do sermão, entretanto, se parecem mais com sugestões. Algumas vezes, imagino se um mórmon, um psicólogo do momento ou qualquer outra pessoa seria impactada por esses sermões. Dicas práticas para a vida diária podem não ser explicitamente cristãs. Não é o que as pessoas estão recebendo que me preocupa, e sim o que elas não estão recebendo, a saber, toda a Escritura, a revelação de Deus.

Recentemente, o método dialogal de pregação tem se tornado popular entre os líderes de igrejas emergentes. Por diálogo, eu não quero dizer que as pessoas interagem com você durante o sermão. Os defensores desse método creem que deveríamos deixar todos participarem do sermão, dando a cada um a chance para se levantar e falar — sem praticamente nenhum limite. Normalmente, essa abordagem surge de uma rejeição da verdade e da autoridade bíblicas.

Enquanto o diálogo é necessário e importante em alguns contextos (como grupos pequenos), ele fracassa como método de pregação. Além disso, ele dá fala a pessoas desenganadas. O que você faria se alguém se levantasse e lesse a revista das Testemunhas de Jeová? Na prática, esse método também não é compatível com crescimento exponencial. Como você dialoga com duas mil pessoas presentes? Teologicamente, também parece haver uma falha em entender como o corpo de Cristo funciona. Aqueles que têm o dom do ensino e da pregação é que deveriam pregar.

Essa ideia do diálogo parece sugerir que a igreja só ocorre aos domingos. Pessoas com dons espirituais podem encontrar seus contextos de serviço em outros lugares, como orfanatos, no campo missionário e na administração.

RESUMO

A pregação fiel é a proclamação responsável, apaixonada e autêntica das Escrituras, que exalta a Cristo, pelo poder do Espírito, para a glória do Deus Triúno. A pregação expositiva é a melhor abordagem para a explicação e a aplicação precisas da Palavra de Deus, e para manter o foco nela durante a pregação. Ela também oferece benefícios espirituais maravilhosos para o pregador e para a congregação. Para sermos expositores fiéis hoje, devemos evitar os problemas mais comuns associados à pregação expositiva como a monotonia, a irrelevância e as mensagens sem Cristo. Os pregadores fiéis conduzirão o povo através do texto bíblico com paixão, autenticidade e excelência, conduzindo-os a Cristo.

ESTUDO DE 1-2TIMÓTEO

1. Com base no texto bíblico, o que sabemos a respeito da pessoa de Timóteo? Como você se identifica com ele?

2. Por que a expressão “Epístolas Pastorais” é um título adequado para 1 e 2Timóteo e Tito?

3. O que Paulo quer dizer quando diz: “Guarda o bom depósito” (2Tm 1.14)? Como essa frase se aplica à pregação expositiva?

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