Triunfo do Cordeiro

Page 1


Rio de Janeiro, RJ Rio de Janeiro, RJ

O triunfo do Cordeiro: Exposição do livro de Apocalipse

Traduzido do original em inglês: Triumph of the Lamb: A Commentary on Revelation

Copyright © 2001 Dennis E. Johnson

Publicado originalmente por P&R Publishing P.O. Box 817

Phillipsburg, New Jersey 08865-0817 prpbooks.com

Todos os direitos em língua portuguesa reser vados por PRO NOBIS EDITORA

Rua Professor Saldanha 110, Lagoa, Rio de Janeiro-RJ, 22.461-220

1ª edição: 2024

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo citações breves, com indicação da fonte.

Gerência editorial

Judiclay Silva Santos

Conselho editorial

Judiclay Santos

David Bledsoe

Paulo Valle

Gilson Santos

Leandro Peixoto

Super visão editorial: Cesare Turazzi

Tradução: Rogério Portella

Revisão técnica: Evandro Junior Revisão de provas:

Capa: Luis de Paula

Diagramação: Marcos Jundurian

Nesta obra, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA), salvo informação em contrário.

As opiniões representadas nesta obra são de inteira responsabilidade do autor e não necessariamente representam as opiniões e os posicionamentos da Pro Nobis Editora ou de sua equipe editorial.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Johnson, Dennis E.

O triunfo do cordeiro: exposição do livro do apocalipse/Dennis E. Johnson; [tradução Rogério Portella]. – Rio de Janeiro: Pro Nobis Editora, 2024.

Título original: Triumph of the lamb

ISBN 978-65-81489-58-8

1 Apocalipse (Teologia) 2 Bíblia. N. T Apocalipse 3. Escatologia 4 Exegese bíblica 5. Teologia I. Portella, Rogério. II. Título.

24-237570

Índices para catálogo sistemático: 1. Apocalipse : Comentários 228.07

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

Tel.: (21) 2527-5184 contato@pronobiseditora.com.br www pronobiseditora.com.br

CDD-228.07

O ponto for te dest a obra é a maneira como ela pega alguns dos melhores materiais sobre a inter pret ação da literat ura apocalíptica em geral, e do Apocalipse em par ticular, e os apresent a de uma for ma palat ável e legível. Johnson sabe como escrever, e seu texto est á impregnado de uma sanidade rara: isto é, o autor est á ent re aqueles que escrevem em um nível razoavelmente popular sobre o Liv ro do Apocalipse.

Sofisticado, ma s fácil de ler, metodicamente a st uto, ma s de eminente prática, este liv ro, paciente e sensato, é um excelente guia para leitores que acham o Apocalipse intere ssante, ma s a ssust ador, e para profe ssore s que de sejam compar t ilhar seus tesouros com o público.

Dan Dor ian

O Liv ro do Apocalipse é, sem dúvida, o texto mais difícil de entender em toda a Bíblia. Ele confront a o leitor com um mundo est ranho de imagens est ranhas e simbolismo apocalíptico. Muitos coment ários buscam comunicar a s verdades cent rais do liv ro, ma s er ram por serem simplist a s demais ou excessivamente técnicos, enquanto o coment ário de Johnson sobre o Apocalipse é escrito de for ma clara e ainda a ssim academicamente competente. O autor nos lembra de que o Liv ro do Apocalipse foi concebido para revelar a s realidades do conflito do Reino que for necem o contexto final envolvendo o mundo em que v ivemos. Os conflitos históricos espelham os conflitos celestiais no mundo inv isível, e o Liv ro do Apocalipse nos for nece uma inter pret ação inspirada desses eventos. Qual, então, é o seg redo para entendê-los?

A respost a é simples : o Cordeiro t riunfou! Johnson desvela que a mensagem cent ral do Apocalipse é que Cristo, em sua humilhação e exalt ação, t riunfou sobre Sat anás e suas hostes demoníacas. O Apocalipse foi concebido para edificar e encorajar uma ig reja sitiada, pois “ a v itória per tence a Deus e ao seu Cristo”. O coment ário de Johnson é sensato, claro e inst rutivo para todos que desejam obter uma compreensão mais prof unda da mensagem cent ral do Apocalipse.

Jeff Waddington

Johnson escreve com habilidade magist ral, mas sem fazer o leitor se perder em rast ros exegéticos. O tr iunfo do Cordeiro é uma leit ura essencial sobre o Apocalipse feit a por um homem com qualific ações únic a s como pa stor bendito, est udioso do Novo Test amento e agora professor de teologia prática. Este liv ro é, por si só, um t riunfo.

Para Jane

S umá r i o

Prefácio à edição em por t uguês

Int rodução : Uma estratégia para ver .....................................................

1. Est r ut ura: Montagem d as peças do quebra-cabeça ............................ 43

2. Visão : O Filho do Homem entre suas ig rejas (1.7-20) ....................... 67

3. Car ta s : O Filho do Homem fala às suas ig rejas (2.1–3.22) .............. 81

4. Liv ro aber to : O Cordeiro é digno (4.1–5.14) .................................. 111

5. Selos : Instrumentos, fund amentação e ápice do julgamento (6.1–8.5) 129

6. Trombeta s : Ais! atuais e futuras (8.1–9.21; 11.15-19) .................. 153

7. Ent rega do liv ro : O profeta come, mede e testifica (10.1–11.14)..... 169

8. Conflito cósmico | Pt. 1: A mãe, o dragão e as bestas (12.1–13.18) 191

9. Colheit a: Celebração (14.1–15.8) ................................................. 211

10. Taça s : Os últimos ais! (16.1-21) ..................................................... 231

11. Meret riz : A luxúr ia, a violência e a destruição d a Babilônia (17.1–19.10) ................................................................................ 249

12. Conflito cósmico | Pt. 2: Os mil anos e a última batalha (19.11–20.15) .............................................................................. 273

13. Noiva: Nova Jerusalém, esposa do Cordeiro (21.1–22.21) ................ 305

Conclusão : O que este livro deve gerar em nós? ....................................... 335

Apêndice A: Um panorama conciso do Livro do Apocalipse .................... 349

Apêndice B: Escolas de interpretação..................................................... 353

Referência s bibliog ráfica s .................................................................... 367

Índice de referência s bíblica s .............................................................. 375

Índice de escritos antigos .................................................................... 395

A b r e vi aç õ e s

BAGD Bauer, Arndt, Gingrich, and Danker, A Greek -English Lexicon

BDB Brown, Driver, and Briggs, A Hebrew -English L exicon

ExpT Expositor y Times

HNTC Har per ’ s New Test ament Comment ar y

ICC Inter national Critical Comment ar y

JE T S Journal of the Evangelical T heological Societ y

JSNT Journal for the Study of the New Testament

LCL L oeb Cla ssical Librar y

L S Liddell and Scot t, A Greek -English L exicon

LN L ouw and Nida, Greek -English L exicon

LXX Septuaginta

NASB New American Standard Bible (edição at ualizada em 1995)

NCB New Cent ur y Bible

NICNT New Inter national Comment ar y on the New Test ament

NIGTC New Inter national Greek Test ament Comment ar y

NI V New Inter national Version

NovT Novum Testamentum

NRSV New Rev ised St andard Version

NT S New Testament Studies

P47

T BST T he Bible Speak s Today

W BC Word Biblical Comment ar y

W TJ Westminster T heological Journal

Ag r a d e c im e n t o s

Meus a g r adecimen tos ao c ons elho de c u r ado re s do We st min st e r T heological Seminar y, na Califór nia, pela licença de est udo no outono de 1997, durante a qual comecei a escrever este projeto, e pela opor t unidade de minist rar nosso curso Epístola s Gerais e Apocalipse, de 1982 a 1997. Também sou grato aos excelentes alunos que, no início de minha minist ração do curso, “ começaram a me impor t unar”, como t ambém Moses St uar t foi impor t unado, mais de 150 anos antes, por excelentes alunos para ajudá-los a compreender o Liv ro do Apocalipse e a t ra zer sua div ina mensagem às ig reja s de Cr isto. Sua s pergunta s e nossos diálogos me ensinaram muito sobre esse int rigante e prático liv ro do Novo Test amento.

Sou sempre grato a Deus pela nossa congregação, a New Life Presbyterian Church (PCA), em Escondido (Califór nia), uma verdadeira família para a nossa família, embora os nossos filhos tão jovens quando nos mudamos para cá em 1981 sejam adultos, ca sados e, estejam espalhados por lugares dist antes. Sinto-me honrado e g rato por t rabalhar ao lado de presbíteros que o Senhor deu à New Life homens sábios que agem com g raça por nossa equipe comprometida e por nossos membros (de muit a s maneira s). Como congregação e família, temos passado por águas profundas nos últimos tempos. Isso não deveria ser sur presa, tendo em v ist a o realismo do Apocalipse sobre a s lut a s da ig reja na ter ra. Cont udo, apesar de t udo isso, est amos vendolantes dos membros de nossa ig reja ao meu ensino sobre o Apocalipse na Escola de Discipulado e ao nosso culto not ur no me mantiveram motivado, e sua s orações me mantiveram à tona.

A g radeço t ambém a out ra s par tes do cor po de Cristo que me pediram para ensinar sobre o Apocalipse em conferência s bíblica s nos últimos anos : Rock y Mount ain Communit y Church (OPC), Billings , Mont ana; Fir st Presbyterian Church (PCA), Kosciusko, Mississippi; e o Presbitério do Nor te da Califór nia da Or t hodox Pre sbyter ian Church. Obr igado t ambém ao Refor med T heological Seminar y (Orlando) e ao New Geneva T heological Seminar y pelo conv ite para minist rar seu curso copat rocinado, Hebrews to Revelation [Hebreus a Apocalipse], em Colorado Springs durante t rês fins de semana no outono de 1999.

Agradeço a Barbara Lerch, editora de aquisições da P&R, pela paciência, oração e pelo incentivo contínuo, apesar dos pra zos perdidos ; e à equipe editorial da P&R por tor nar este liv ro melhor.

Quero expressar minha g ratidão especial a duas pessoas que tiveram um papel especial no processo de escrit a e refinamento. Meu colega e amigo dr.

quando o S eminár io de We st minster, na Califór nia, me conv idou para ing ressar no Depar t amento de Teologia Prática. Steve acrescentou ao curso seu conhecimento de g rego ant igo, seu interesse especial sobre pesquisa s acerca da História social e religiosa da Ásia Menor g reco-romana e suas sábias e piedosas habilidades exegéticas. Ele gentilmente usou o texto datilografado, e ainda não completo do curso, e leu cada capít ulo com cuidado, formulando que stõe s, suger indo melhor ia s e t ra zendo à minha atenção infor maçõe s úteis que eu não teria conhecido de out ra for ma. Quando você v ir o nome dele na s not a s de rodapé, junte - se em g ratidão a Deus por esse bom ir mão e ser vo fiel da Palav ra de Cristo.

Minha melhor amiga no mundo, e minha editora mais gentil e melhor, é Jane, que celebrou comigo t rint a anos de ca samento em junho de 2000. Ela leu todos os capít ulos para maior dar mais clareza e aper feiçoar a g ramát ica, e cont inuou a me est imular a respeito de como um liv ro como este poderia ajudar a ig reja. Embora os meses desde o es vaziamento do nosso ninho tenham sido cheios de desafios inesperados para a nossa ig reja e para a nossa família, ag radeço a Deus pela t ranquilidade e pra zer de est ar em ca sa com essa mulher adorável, amorosa e sábia. Deus nos ag raciou com filhos adultos que amam Jesus e o serem onde ele os colocou: Eric e Susanne (Oregon, Tex a s ou qualquer out ro lugar), Christina e Julien (Califór nia), Peter e Mandi (Geórgia) e L aurie e Daniel (F lórida). Nós nos encont ramos

em um momento especial e muito intenso : est amos todos sob o mesmo teto de novo! Ma s t ambém é um prazer especial quando a calma recupera nossa ca sa e somos só nós dois.

Prefácio à edição em português

O tr iunfo do Cordeiro , escr ito por Dennis Johnson, explora de for ma exegética e devocional o Liv ro do Apocalipse, dest acando- se por sua abordagem idealist a e amilenist a. Este coment ário não apena s lança luz sobre a s complexidades do Apocalipse, ma s t ambém est abelece conexões ent re este liv ro frequentemente mal compreendido e o rest ante da s Escr it ura s, especialmente o Antigo Test amento.

Quanto à organização e ao enfoque da obra, O tr iunfo do Cordeiro segue minuciosamente o texto bíblico, abordando versículo por versículo, o que facilit a uma boa compreensão do Apocalipse. Após uma int rodução e v isão geral inicial, Johnson guia o leitor at ravés dos capít ulos do Apocalipse explic ando c ada versículo em prof undidade. O liv ro é div idido em c apít ulos cor respondentes às seções do liv ro bíblico, permitindo uma leit ura sequencial ou consult a específica a t rechos relevantes.

A perspectiva adot ada por Johnson é idealist a ao inter pret ar a s v isões descritas no Apocalipse como simbólicas de eventos e ideias que ecoam ent re o primeiro e segundo advento de Cristo. Ele usa a analogia de “pontos de v ist a da câmera” para explicar como a s perspectiva s não lineares presentes no Apocalipse revelam a mesma realidade sob ângulos diversos. Embora essa abordagem possa parecer est ranha para alguns leitores, Johnson defende que ela faz mais sentido dent ro do contexto histórico e literário do Apocalipse.

Relação com o Antigo Test amento

Um dos a spectos positivos da análise de Johnson é sua capacidade de conect ar o Apocalipse com o Antigo Test amento. Ele ev idencia que muita s

da s imagens e símbolos presentes têm sua s origens nos liv ros proféticos do Antigo Test amento, como Isaía s, Ezequiel, Daniel e Z acaria s. Essa ligação não apena s enriquece a inter pret ação, ma s t ambém demonst ra a unidade e continuidade da s Escrit ura s Sag rada s. Por t anto, Johnson dest aca que, para compreender cor ret amente o Apoc alipse, é cr ucial inter pret á-lo à luz do Antigo Testamento. Ele argumenta que os primeiros leitores de João estavam intimamente familiarizados com essa s imagens e, a ssim, inter pret ariam a s v isões do apóstolo dent ro desse contexto.

No ent anto, ainda que Johnson cor ret amente enfatize a unidade da Escrit ura, ele compreende que uma igreja majoritariamente gentílica herdou os tít ulos e as promessas dos judeus, sendo, agora, um tipo de “novo” Israel. Tal noção supersessionista, infelizmente ainda popular em muitos círculos protestantes, é desafiada pela própria ênfase cor reta de Johnson na unidade da Escrit ura e das alianças firmadas com Abraão, Israel, Davi, com seu clíma x na nova aliança em Jesus assim como na ligação do Antigo Testamento com o Apocalipse. Ou seja, essa obra nos desafia a realizarmos mais est udos na profecia de João, em diálogo com a percepção de Paulo de que há um único povo de Deus, o Israel étnico, no qual os gentios são enxertados por causa da eleição graciosa. Os israelitas foram endurecidos pela severidade div ina por um tempo, em favor da inclusão graciosa dos gentios na aliança mas haverá grande salvação f ut ura para Israel, antes da v inda v itoriosa e final do Messias.

Metodologia e abordagens inter pret ativa s

Johnson analisa distintas abordagens interpretativas do Apocalipse: histórica, preterista, fut urista e idealista. Ele destaca os pontos positivos e negativos de cada abordagem, oferecendo aos leitores uma compreensão equilibrada das diversas perspectivas. No final do liv ro, o autor oferece uma boa análise das interpretações de Apocalipse 20.1-6, abordando o pós -milenismo, o pré-milenismo e o amilenismo. Ele destaca a importância de os cristãos compreenderem e respeitarem diferentes perspectivas, mesmo que ele próprio prefira a visão idealista, enfatizando que todas são ortodoxas e não devem ser causa de divisões ent re os cristãos. É f undamental o leitor dedicar atenção aos primeiros capítulos da obra para compreender a perspectiva de Johnson. Eles estabelecem as bases metodológicas e interpretativas que embasam todo o comentário.

Uma da s característica s que mais podem ser dest acada s em O tr iunfo do Cordeiro é a clareza e a acessibilidade da escrit a do autor. Seu coment ário

não é excessivamente extenso ou técnico como a s obra s acadêmica s de G. K. Beale, Simon K istemaker ou Grant Osbor ne, nem superficial a ponto de deixar lacuna s significativa s. Johnson se expressa de for ma que t anto leigos quanto est udiosos sérios da Escrit ura possam compreender e se beneficiar de sua s inter pret ações. Ele ev it a o uso excessivo de jargões técnicos e explica ter mos e conceitos teológicos complexos com simplicidade e objetiv idade. Além disso, Johnson incor pora diversas ilust rações e aplicações práticas em seu texto, tor nando-o relevante para os leitores contemporâneos. Ele aborda questões relacionada s à g ramática e à t radução, comparando como diferentes t raduções da Bíblia lidam com os textos do Apocalipse e identificando aquela s que se encaixam melhor em deter minados t rechos. Essa abordagem minuciosa au xilia os leitores a navegarem com maior segurança pela s complexidades do texto bíblico.

O Liv ro do Apoc alipse, segundo Johnson, não é simplesmente uma coleção de enigmas e mistérios, mas, acima de t udo, uma fonte de esperança. Ele defende que a mensagem principal do Apocalipse é oferecer confor to e esperança ao povo de Deus, t anto nos tempos antigos quanto at ualmente. O liv ro bíblico revela que Deus escut a nossa s orações e que o momento est á próximo em que o mal será complet amente der rot ado, quando não haverá mais pranto nem aflição, e os fiéis terão a segurança de que, apesar da s adversidades at uais, Deus os salvará por meio de Jesus Cristo.

Essa interpretação é crucial para compreender a finalidade do Apocalipse. Johnson salient a que muit as inter pret ações contemporâneas, especialmente aquela s que sit uam a maior par te do conteúdo apocalíptico em um f ut uro distante, privam os primeiros leitores do consolo oferecido por este liv ro. Pelo cont rário, uma abordagem que reconhece a relevância do Apocalipse para toda s a s gerações cristãs reforça sua mensagem de esperança e t riunfo final.

Conclusão e implicações

No desfecho de O tr iunfo do Cordeiro, Johnson reflete sobre o significado do Apocalipse para os cristãos da at ualidade. Ele ressalt a que o Apocalipse vai além de ser apena s uma sucessão de v isões a decifrar; t rat a- se t ambém de um conv ite à fé, ao ar rependimento e à perseverança. O autor lembra aos leitores que, mesmo enfrent ando desafios, Deus est á no comando e a v itória final é a ssegurada por meio de Cristo.

Johnson também discute o uso de simbolismo v isionário no Apocalipse, comparando-o às parábola s de Jesus. A ssim como a s parábola s, a s v isões no Apocalipse têm o propósito de desper t ar os crentes à realidade do reino de Deus e ao chamado à fidelidade, ao mesmo tempo em que ser vem como um sinal de julgamento para aqueles que rejeit am a mensagem.

Impacto e impor tância

O tr iunfo do Cordeiro será de ajuda significativa t anto para est udiosos quanto para leigos. Sua abordagem equilibrada e f undament ada oferece uma perspectiva valiosa em cont raposição às inter pretações mais populares e sensacionalistas do Apocalipse, como aquelas promov idas pela série Deixados para trás. Johnson desafia os leitores a reverem sua s premissa s e explorarem o Apocalipse com mente aber t a e coração receptivo à mensagem div ina da v itória final do Senhor Jesus Cristo revelada a toda s a s gerações.

E st a obra t ambém é uma fer rament a v aliosa em e st udos pe s soais , momentos devocionais e g rupos de est udo bíblico, dev ido à sua organização, a qual facilita a localização de t rechos bíblicos específicos e proporciona uma v isão abrangente e coerente do Apocalipse ao ser lido sequencialmente.

Na verdade, e ste liv ro é par t icular mente relevante para aquele s que buscam uma compreensão mais prof unda do Apocalipse e desejam entender c omo ele se en c ai x a no c on tex to mais a mplo d a s E sc r i t u r a s . Johnso n demonst ra que o Apocalipse não é uma peça isolada, ma s par te integ rante da nar rativa bíblica sobre a soberania div ina, a obra redentora de Cristo e a esperança final dos crentes.

Em resumo, O triunfo do Cordeiro é uma leit ura indispensável para quem se interessa pelo est udo do Apocalipse. Com sua abordagem exegética, prof unda conexão com o Antigo Test amento e ênfa se na relevância prática para os crentes at uais, est a obra oferece uma perspectiva edificante sobre um dos liv ros mais desafiadores da Escrit ura. Como Johnson dest aca, o Apocalipse é essencialmente um liv ro de esperança, destinado a confor tar e encorajar os seguidores do Senhor Jesus Cristo em todas as épocas. Por t anto, recomendo com aleg ria este liv ro a todos que buscam se aprof undar no conhecimento da s Escrit ura s e for t alecer sua fé na soberania e na s promessa s de Deus.

Frank lin Fer reira, DDiv, reitor e professor de teologia sistemática, história da ig reja e leit ura orante no Seminário Mar tin Bucer, São José dos Campos (SP)

I

n t r o du ç ão

Uma estratégia para ver

Lut ando com o Apocalipse

Em 1845, Mose s St uar t v iu seu liv ro C omment ar y on the Apoc alypse

publicado. No prefácio ele relatou que, logo após sua nomeação para lecionar no Andover T heologic al Seminar y, em 1809, seus alunos “ começaram a impor t uná-lo” para minist rar sobre o Liv ro do Apocalipse.

Comecei a est udá-lo, com o projeto de lhes atender ao pedido. Cont udo, logo me v i completamente limitado ao seguir o caminho da inter pretação regular aplicada aos out ros liv ros da s Escrit ura s. [...] A ssim, afir mei com franqueza a meus alunos desconhecer algo a respeito do liv ro que pudesse beneficiá-los ; por t anto, não lhes poderia minist rar nenhuma palest ra. Depois de um exame ainda mais aprof undado, tomei a resolução de não tent ar fazer a exegese do Apocalipse até ter t ranscor rido uma década, pois ela deveria ser dedicada, na medida em que minha s out ra s f unções per mitissem, ao est udo dos profet a s hebreus. Mantive minha resolução. Passado o período, comecei, com muita cautela, a dizer algumas coisas, em sala de aula, respeitando o liv ro em questão. [...] Com o passar do tempo, comecei a ler o liv ro todo. Já fiz isso vária s vezes ; e o presente t rabalho é o result ado desses t rabalhos repetidos e prolongados com frequência.1

1 Moses St uar t, A Commentar y on the Apocalypse (L ondon: Wiley and Put nam, 1845), 2

É provável que pouca s pessoa s hoje tenham a mesma paciência metódica e cautelosa de St uar t, ma s, sem dúv ida, muitos se identificam com sua experiência inicial a respeito do Liv ro do Apocalipse : “limit ado” e “desconhecendo algo a respeito do liv ro que pudesse beneficiar” a nós mesmos ou a out ra s pessoa s. Sua reminiscência ilust ra bem alguns dos desafios que esse feroz liv ro do Novo Test amento apresent a a seus leitores.

O Apocalipse parece resistente e indiferente ao “caminho da interpretação

regular aplicada aos out ros liv ros das Escrit uras ” . Não é uma nar rativa histórica como 1Samuel, nem uma epístola como Romanos, nem uma coleção de leis (Levítico), cânticos (Salmos) ou aforismos sábios (Provérbios). No entanto, ele menciona ocor rência s histórica s, começa como uma epístola dirigida a sete ig reja s, preocupa- se muito com a fidelidade à aliança (o tema cent ral da lei bíblica), e é pont uado por cânticos de louvor e v itória, além de demandar

de que o Apocalipse fala uma língua est rangeira quando comparado com o rest ante da Bíblia é verdadeira apena s em par te. O estilo de comunicação do Apocalipse tem afinidades não só com porções significativa s da literat ura profética do Antigo Test amento, como St uar t sugere, ma s t ambém com os métodos de ensino de Jesus nos Evangelhos (na s seções apocalíptica s, como

O liv ro é, como o tít ulo grego indica, apocalíptico não no sentido moderno de “cat a st rófico”, ma s no sentido antigo de “descobrimento, revelação” de algo at ravés de uma maneira vív ida e v isual: a s realidades e força s inv isíveis que impulsionam e, por t anto, explicam o curso dos acontecimentos históricos obser váveis. A maioria dos leitores at uais do Novo Test amento não se sente à vontade com a literat ura apocalíptica antiga; portanto, nossa sensação de est ranheza acerc a do Apoc alipse pode nos fa zer sent ir encur ralados e fr ust rados, pois o liv ro não t ransmite sua mensagem sob a for ma com que est amos habit uados uma for ma acessível a est ratégia s de leit ura já test ada s e comprovada s em out ros lugares.

Todav ia, uma maneira de superar o impa sse é prest ar muit a atenção aos precursores bíblicos do Apocalipse, “ os profet a s hebreus”. Como St uar t reconheceu, a s v isões de Ezequiel, Daniel, Z acaria s e out ros for neceram não só o campo fér t il do qual a s imagens do Apocalipse foram colhida s, ma s t ambém o gênero isto é, a comunidade ou o conjunto de literat ura cujos membros estão relacionados ent re si quanto ao estilo e, por t anto, acerca da s

expect ativas evocadas nos leitores.2 Podemos nos marav ilhar com o autocont role de St uar t. Uma década parece muito tempo para adiar o est udo direto do Apocalipse, com o objetivo de mergulhar o coração e a mente em seus antecedentes canônicos. No ent anto, esse est udo dos profet a s, bem como de out ros textos precedentes do Antigo e do Novo Test amento, compensará muit a s veze s o nos so e sforço, pois , como Richard Bauck ham dis se com acer to : o Apocalipse é “ o ápice da profecia” oca sionando a consumação do cumprimento da t radição profética de Israel.3

O ensino repetitivo de St uar t sobre o Liv ro do Apocalipse, circulando com cautela pelo liv ro durante anos seguidos de ensino no seminário, aponta para um dos desafios do liv ro e a maneira de enfrent á-lo. O desafio pode ser for mulado de modo simples : não se pode entender nenhuma pa ssagem indiv idual do Apocalipse a menos que se entenda a tot alidade do liv ro, ma s não se pode entender a tot alidade do liv ro a menos que se entendam sua s pa ssagens indiv iduais.

Em cer to sentido, este é o enigma proposto por qualquer texto extenso. Toda passagem individual deve ser entendida no contexto, e um dos contextos mais relevantes para qualquer fra se ou parág rafo é o documento inteiro que se encont ra. O documento fornece sinais valiosos sobre o seu cenário na v ida: o est ágio da conversa ent re o escritor e o público em que surge deter minada pa ssagem, o conhecimento prév io e a s questões ou crises at uais. Também nos ajuda na orient ação acerca do gênero, ou do tipo de literat ura com é preciso lidar, e à for ma como e ste t ipo de literat ura ut ili za a linguagem.

É mais metafórico ou literal, mais direto ou indireto, mais formal ou informal, organizado de maneira temática ou cronológica? A compreensão do gênero nos ajuda a escolher a est ratégia de leit ura adequada ao texto desse t ipo.

É claro que a atenção especial às pa ssagens indiv iduais que compõem um documento pode expandir ou rever nossa impressão tot al sobre seu gênero, uma vez que cada pa ssagem apresent a a própria cont ribuição como par te do contexto da s demais no documento. É necessária a noção geral de como a tot alidade do liv ro t ransmite sua mensagem para poder compreender seus

2 Tremper L ongman III, Literar y Approaches to Biblical Inter pret at ion, Foundat ions of Contemporar y Inter pret ation (Grand R apids : Academic Book s, Zonder van, 1987),

3 Richard Bauck ham, T he Climax of Prophec y : Studies on the Book of Revelation (Edinburgh: T & T Clark, 1993).

componentes específicos, ma s o est udo dos componentes deve enriquecer, expandir e t alvez cor rigir o quadro geral com o qual começamos. Embora a imagem do círculo ou da espiral hermenêutica normalmente se refira à t roca ent re o hor izonte, ou a cosmov isão, do intér prete moder no e o do texto bíblico,4 uma dimensão do processo circular ou em espiral de inter pret ação é a for ma como uma compreensão crescente do documento como um todo (temas, gênero, est r ut ura, cenário de v ida etc.) ilumina a nossa compreensão da s sua s pa ssagens indiv iduais e v ice - versa.

Este princípio paradoxal e circular de inter pret ação é cr ucial e ainda mais difícil de aplicar quando se chega ao Liv ro do Apocalipse. É cr ucial porque a nat ureza simbólic a do gênero apoc alípt ico-profét ico ao qual o Apocalipse per tence é suscetível a voos subjetivos de imaginação na interpret ação. Inúmera s conexões inovadora s foram t raçada s ent re a s imagens do Apocalipse e os referentes propostos na história. Como se pode separar quais deles são intencionados por Deus e quais são fruto de nossa imaginação hiperativa? Muitos est udantes da profecia bíblica adot am como princípio de f uncionamento a preferência pelo sent ido literal onde pos sível. Ele s acreditam que esse princípio for nece uma forma objetiva de testar a validade da inter pret ação, ancorando- a na ter ra fir me do texto, em vez de deixá-la flut uar com liberdade, levada pela brisa. Ainda que seja problemático aplicar a máxima literal sempre que possível à literat ura profét ica, como se verá, sua inadequação não significa que o Apocalipse seja maleável, podendo ser manipulado da for ma escolhida. O processo de separar a s impressões do significado do texto é complexo e desafiador, ma s não impossível. A verificação dos voos exegéticos fantasiosos consiste em prestar atenção à interação ent re a s pa ssagens específica s e seu contexto.

No Apocalipse, é difícil manter o mov imento rít mico do contexto ao texto, e v ice- versa, por dua s razões. O modo de falar apocalíptico- v isionário do Apoc alipse é e st ranho à for ma de pensar de muitos leitore s at uais ,

4 Anthony C . T hiselton, T he Two Hor izons: New Testament Hermeneutics and Philosophical De scr ipt ion w ith Special Reference to Heideg ger, Bultmann, Gad amer, and Wittgenst ein

T he Hermeneut ical Spiral: A Comprehensive Introduct ion to Biblical Inter pretat ion (Downers Espiral hermenêutica: Uma nova abord agem à interpretação bíblica (São Paulo : Edições Vida Nova, 2009).]

de modo que a mente exper iment a fadiga com rapidez, como a ex austão desconcer t ante sentida quando a s pessoa s se veem cercada s por indivíduos se comunicando em uma língua cujo aprendizado começou há pouco. Com intenso esforço se consegue capt ar uma palav ra, uma fra se, às vezes uma fra se inteira, ou uma vaga ideia do a ssunto. Ma s se perde mais do que se compreende, e o esforço necessário para romper o véu da est ranheza e ouv ir os padrões que dão sentido nos cansa.

É improvável que alguém que seja cristão por qualquer período de tempo veja o Apoc alipse como uma t ábula ra sa, sem opinião sobre os a ssuntos relativos à for ma e ao significado do liv ro. Mediante o ensino, a pregação ou a leit ura, você provavelmente foi exposto a uma, ou mais, da s t rês pers -

das quat ro v isões relativas à relação ent re as v isões de Apocalipse e a respeito dos eventos aos quais elas se referem. É uma vantagem começar a ler com um padrão em mente, ma s se o paradigma estiver tão prof undamente enraizado na mente que não possa ser cor rigido pelo que se encont rar em pa ssagens específica s, a est r ut ura poderá obscurecer, em vez de iluminar, a mensagem.

Por essa razão, afa stei-me da prática comum em coment ários sobre o Apocalipse, que normalmente colocam na int rodução um levantamento das

e da s linha s preterist a, historicist a, idealist a e f ut urist a do liv ro. Em vez de colocar essa discussão na frente, tent ando os leitores a escolher um lado de sde o início, mov i- a para o final como um apêndice. Os leitore s que precisam saber a qual campo per tenço antes do est udo conjunto do texto podem recor rer de imediato ao apêndice ma s eu o estimulo a não fazer a ssim. Não se deve primeiro tent ar chegar à compreensão da mensagem do Apoc alipse, de modo tão indut ivo quanto possível a par t ir de pa ssagens específica s e do seu contexto mais amplo, e depois pergunt ar qual rót ulo melhor se adapt a ao que se v iu e ouv iu?

Sigamos então a s pegada s de Moses St uar t, pa ssando e repa ssando por ent re o Apocalipse com paciência, à espera de que cada passagem revele novas beleza s, bem como nova s conexões ent re a s verdades descober t a s antes, por meio de sua s imagens exuberantes. Para começar a exploração, cont udo, é preciso obter a noção geral do ter reno à frente. Este capít ulo propõe sete princípios, derivados de modo indutivo, sobre o que o Apocalipse diz sobre si mesmo e nos most ra a seu respeito. Os princípios, tomados em conjunto,

Introdução

for necem uma est ratégia para obser var o que Deus pretende t razer diante dos olhos do nosso coração. Apresent a- se uma breve justificativa de cada princípio a fim de most rar como ele est á enraizado no texto. À medida que o t rabalho segue at ravés do Apoc alipse, seção por seção, eu o conv ido a avaliar se os princípios são chaves que ser vem para abrir o baú do tesouro do Novo Test amento e acessar sua s riqueza s.

Pr incípios para a leit ura do Apocalipse

O Apocalipse foi d ado para revelar

do Apocalipse, não devemos nos deixar intimidar pela est ranheza de sua s v isões ou pela s cont rovérsia s que fer v ilham, como gafanhotos, à sua volt a. Nosso ponto de par t ida deve ser a confiança de que Deus não concedeu este liv ro para conf undir, ater rorizar ou div idir seu povo, ma s para nos dar luz, para nos revelar a s força s inv isíveis e os seg redos de seu plano invencível que dão sentido aos eventos e mov imentos v isíveis. v iv idos por sua ig reja no mundo. O propósito de Deus para o Apocalipse é revelado ao longo do prólogo (1.1-3):

Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus ser vos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, env iando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu ser vo João, o qual atestou a palav ra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a t udo o que v iu. Bem- avent urados aqueles que leem e aqueles que ouvem a s palav ra s da profecia e guardam a s coisa s nela escrita s, pois o tempo est á próximo.

Cada palav ra em de st aque enfat i za que o propósito de Deus para o Apocalipse não é conf undir seus ser vos ou obscurecer nossa percepção de seus caminhos no mundo, e sim o cont rário.

“Apocalipse” represent a a palav ra g rega apok alypsis. Por isso, alguma s versões e est udiosos se referem ao liv ro como o “Apocalipse” [no original em inglês, o autor faz comparação ent re a palav ra comumente usada neste idioma para nomear o liv ro, Revelation [Revelação], e um ter mo raramente usado : Apocalypse]; o substantivo é cognato do verbo (apokalyptō) que se refere à remoção de um véu ou de out ra cober t ura para revelar o que jaz por t rás

O propósito dest a revelação é “most rar aos seus ser vos a s coisa s que em breve devem acontecer”. O verbo mostrar (deiknymi) implica que a mensagem do liv ro foi comunicada a João em for ma v isível, como a expressão “quanto a t udo o que v iu” deixa explícito. Também pode haver uma conot ação v isual para o verbo g rego represent ado por “notificar” (sēmainō), relacionado de maneira remota à palav ra grega para “sinal” (sēmeion, 5 Pode- se capt ar o jogo de palav ra s g rego ao ver ter o verbo “notificar”, most rando seu parentesco com “sinal”. O liv ro revela sua mensagem ao imprimir imagens vív ida s, às vezes sur preendentes, na imaginação.

A bem- avent urança pronunciada sobre quem lê e “aqueles que ouvem” e guardam as palav ras proféticas proporciona um estímulo especial para t rat ar o liv ro com a expect ativa de que Deus pretende tor nar sua mensagem clara para quem a procura. A bênção prevê a sit uação comum na ig reja primitiva, quando a s cópia s dos escritos do Novo Test amento eram muito rara s e o nível de alfabetização era baixo em alguma s regiões e cla sses. A cena é de um leitor em pé na cong regação, lendo o Apocalipse em voz alt a do início ao fim, enquanto os out ros cristãos (“aqueles que ouvem”) experimentavam suas palav ra s apena s pela audição. A promessa de bênção que abre o Apocalipse pode sur preender a mente voltada para o texto, inundada, como estamos, de Bíblias impressas, concordâncias, comentários e softwares de pesquisa bíblica. Como alguém poderia entender o Apocalipse bem o suficiente para manter sua s palav ra s e receber a bênção prometida sem folhear a s página s, verificar referências cruzadas, consultar concordâncias e comentários? Cont udo, Deus promete sua bênção às pessoa s que experiment am o Liv ro do Apocalipse mediante a audição e que levam sua mensagem a sério. Isto significa que os cristãos isolados, que v iv iam espalhados pela s cidades do oeste da Ásia Menor (at ual Turquia) no primeiro século, que não hav iam lido o Apocalipse com os próprios olhos, poderiam, no ent anto, compreender o cer ne da sua

5 Um elemento v isual parece est ar presente nos out ros t rês usos dest a palav ra g rega na literat ura joanina: “Isto dizia, significando de que gênero de mor te est ava para mor rer” significando o modo por que hav ia e levado aonde não queria ir] para significar com que gênero de mor te Pedro hav ia T he Book of Revelation, NIGTC (Grand

sēmainō dest aca a forma simbólica da v isão do rei da g rande est át ua e da pedra.

mensagem com clareza suficiente para lhe responder como Deus desejava e receber dele o confor to, o encorajamento e a cor reção que Deus lhes queria conceder a fim de serem abençoados (no rico sentido bíblico de bênção) por meio dest a palav ra, deste meio de g raça.6

O Apocalipse é um livro para ser visualizado

João caracteriza a mensagem da qual ele dá testemunho como “ a palav ra de Deus e o te stemunho de Je sus Cr isto”, acre scent ando a impor t ante sujeito) que é fácil passar despercebido. Mas esta declaração inicial, que iguala o testemunho de João acerca da palav ra de Deus e de Jesus Cristo com o que ele v iu, most ra que não se deve ignorá-la. Indica o gênero do liv ro e é, por t anto, um guia à est ratégia de leit ura que devemos utilizar se quiser mos perceber sua mensagem. 7 O modelo v isível e v isionár io da mensagem é enfatizado de novo na comissão profética concedida a João pela voz de “um semelhante a filho de homem”: “O que vês escreve em liv ro e manda às sete ig reja s ” (1.11). A revelação chega até nós, como chegou às sete ig reja s, por escrito, ma s é a literat ura que pint a para nós a s cena s v ist a s por João.8

O Apocalipse é um liv ro de símbolos em mov imento. Na v isão profética, João contemplou o verdadeiro caráter de eventos, indivíduos, força s e

6 Eles obtiveram vantagens no entendimento dela não disponíveis a nós. Eles conheciam, por v iverem em suas cidades e em suas ig rejas, mais informações sobre a cult ura e o contexto ao qual o Apocalipse se dirigia do que nossos est udos mais rigorosos podem descobrir à distância de quase dois milênios.

7 L eitores com imaginação v isivelmente desafiada farão bem em considerar as poderosas ilust rações em Jay E. Adams ; Michael W. Car roll, Visions of the Revelation ( Virginia Beach: Donning, 1991). Car roll, um presbítero da Presbyterian Church in America, é f undador da Inter nat ional A s sociat ion of A st ronomic al Ar t ist s e at uou como consultor ar tístico do Reuben H. F leet Space T heat re and Science Center em San Diego, Califór nia. Suas pint uras dramatizam v iv idamente as v isões, ao mesmo tempo em que most ram respeito ao que João não nos diz e à desaprovação em toda a Bíblia de ret rat ar o ser de Deus (T he Donning Co./Publishers, 184 Business Park Dr., Ste. 106, Virginia Beach, VA 23462).

8 William Hendrik sen, More T han Conquerors: An Interpretation of the Book of Revelation Mais que vencedores : Os mistér ios do Apocalipse desvend ados com profundid ade e fidelid ade (São Paulo : Cult ura Cr istã, 2021, 3. ed )]: “Todo o liv ro consiste em cenas mut áveis, imagens em mov imento, símbolos ativos. […] É, por assim dizer, um ‘filme sonoro’” ( g rifos no original).

tendência s, cuja aparência é ba st ante diferente no plano obser vável, físico e sociocult ural. Um dos tema s principais do liv ro é que a s coisa s não são o que parecem. A ig reja de Esmir na parece pobre, ma s é rica, e sofre oposição

tem reput ação de v iver, ma s est á mor t a (3.1). L aodiceia se considera rica e autossuficiente, ma s se encont ra desamparada e nua (3.17). A best a parece invencível, capaz de conquist ar os santos ao mat á-los (11.7; 13.7); a fidelidade deles até a mor te, no ent anto, comprova a v itória sobre o dragão que deu poder à best a (12.11). No plano da história humana, a s cong regações aparentemente fracas, indefesas, caçadas, pobres e der rotadas dos ser vos fiéis de Jesus provam ser os verdadeiros vencedores que par ticipam do t riunfo do L eão que venceu como um Cordeiro mor to. A s aparentes força s invencíveis que cont rolam a história o complexo milit ar-político-religioso-econômico que consiste em Roma e em seus sucessores menos brilhantes é um sistema lançado com a s semente s da autode st r uição, que já sent ia os pr imeiros açoites da ira do Cordeiro. No plano da história v isível a s coisa s não são o que parecem, por isso os símbolos do Apocalipse fazem a s coisa s parecerem como são. Sua s imagens sur preendentes e paradoxais revelam a verdadeira identidade da ig reja, dos seus inimigos e do seu Campeão. O paradoxo é f undament al para o simbolismo. Não só a s coisa s não são o que parecem ser na história, ma s t ambém nor malmente sua verdadeira identidade, ret rat ada na s v isões, consiste no oposto da sua aparência no mundo.

A identificação explícit a de cer tos símbolos tor na clara a disparidade ent re a aparência superficial e a apresent ação v isionária. A s sete est rela s que João vê na mão do Filho do Homem “são os sete anjos da s sete ig reja s”, e os candeeiros ent re os quais o Filho do Homem anda “são a s sete ig reja s”

e pedra s preciosa s “é a g rande cidade que domina sobre os reis da ter ra” (17.18), e a s sete c abeça s da best a sobre a qual ela est á sent ada “são sete montes [...] t ambém sete reis” (17.9,10). O linho fino e limpo com o qual é feito o vestido da noiva do Cordeiro “são os atos de justiça dos santos” (19.8). O dragão- ser pente é “ o diabo, Sat anás” (20.2). No mundo f ísico, a ig reja de L aodiceia parece uma reunião de pessoa s, não um c andeeiro. A g rande cidade parece um conjunto de edifícios, r ua s, habit antes e instit uições sociais e comerciais, e não uma mulher dissolut a, vestida de for ma espalhafatosa. Ma s os símbolos nos most ram algo sobre a ig reja, a g rande

cidade, a noiva e o inimigo, ao revelar o que não aparece a olho nu. Eles most ram a verdadeira identidade dos indivíduos e das instit uições com uma v ivacidade que não poderia ser igualada pela descrição apena s conceit ual. A força do simbolismo é a v ivacidade, pois muit a s vezes uma imagem vale mais que mil palav ra s.

No ent anto, o desafio do simbolismo é a ambiguidade. Toda s a s for ma s de met áfora, analogia e símile impõem ao leitor a exigência de discer nir o ponto preciso de comparação ent re duas coisas diferentes em muitos aspectos, ma s semelhantes em pelo menos um. Por isso Jesus exor t a quem ouve sua s 13.9). Como a parábola do semeador desafia seus ouv intes a reconhecer em que sentido o ag ricultor que espalha sementes se a ssemelha e ilust ra a v inda do reino de Deus, t ambém os símbolos do Apocalipse exigem olhos que vejam, ouv idos que ouçam e o coração que compreenda o que liga a dois símbolos significativos, a best a e a prostit ut a, o Apocalipse insiste na necessidade de sabedoria para enxergar o que os símbolos dizem sobre a s

O desafio de est abelecer a ligação cor ret a ent re o símbolo e seu referente é complicado não só pela s just aposições paradoxais do simbolismo do Apocalipse, ma s t ambém pela aplicação de símbolos múltiplos e aparentemente incompatíveis ao mesmo referente. João ouve a promessa de que o L eão t riunfante da t ribo de Judá tem autoridade para abrir o liv ro seladocito incont ável de toda s a s nações, t ribos, povos e língua s (7.4-14; 14.1-5).

A ambiguidade int rínseca ao simbolismo ajuda a explicar a diversidade de inter pret ações apresent ada s ao longo da reflexão da ig reja sobre o Liv ro do Apocalipse. Os est udantes da s Escrit ura s divergem quanto à extensão do simbolismo no liv ro, aos critérios pelos quais a s conexões ent re os símbolos e seus referentes devem ser t raçada s e à identificação dos referentes para os quais símbolos específicos apont am. Alguns sent iram que, ao inter pret ar toda s a s profecia s bíblic a s , no Ant igo Te st amento ou no Apoc alipse, a objetiv idade do processo inter pret ativo e a historicidade dos atos div inos poderiam ser salvaguardadas mediante a assunção de que o discurso profético

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.