Cartas aos meus alunos - Sobre o Pastoreio

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Rio de Janeiro, RJ

Cartas aos meus alunos: Sobre o pastoreio

Traduzido do original em inglês: Letters to my Students: Vol. 2, On Pastoring

Copyright © 2021 Jason K. Allen

Publicado originamente por B&H Academic Nashville, Tennessee

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por PRO NOBIS EDITORA, Rua Professor Saldanha 110, Lagoa, Rio de Janeiro-RJ, 22.461-220

1ª edição: 2024

ISBN: 978-65-81489-47-2

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo citações breves, com indicação da fonte.

Gerência editorial

Judiclay Silva Santos

Conselho editorial

Judiclay Santos

David Bledsoe

Paulo Valle

Gilson Santos

Leandro Peixoto

Supervisão editorial: Cesare Turazzi

Tradução: Rogério Portella

Preparação de texto: Cinthia Turazzi

Revisão de provas: Isabela Fontenelles

Capa: Luis de Paula

Diagramação: Marcos Jundurian

Nesta obra, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA), salvo informação em contrário.

As opiniões representadas nesta obra são de inteira responsabilidade do autor e não necessariamente representam as opiniões e os posicionamentos da Pro Nobis Editora ou de sua equipe editorial.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Allen, Jason K.

Cartas aos meus alunos: sobre o pastoreio: volume 2/Jason K. Allen; [tradução Rogério Portella]. – Rio de Janeiro: Pro Nobis Editora, 2024.

Título original: Letters to my students.

ISBN 978-65-81489-47-2

1. Bíblia – Guias, manuais, etc. 2. Cristianismo – Evangelismo 3. Eclesiologia 4. Pastores – Ministério 5. Vida cristã I. Título. 24-206653 CDD-253.7

Índices para catálogo sistemático: 1. Pastoral : Cristianismo 253.7

Aline Graziele Benitez – Bibliotecária – CRB-1/3129

Tel.: (21) 2527-5184 contato@pronobiseditora.com.br www.pronobiseditora.com.br

Se houver um jovem em sua igreja que sinta o chamado para o ministério pastoral, presenteie-o com este livro. Da mesma forma, presenteie um aluno do seminário que você conhece ou alguém no início do ministério pastoral. Há uma grande quantidade de ensinamentos bíblicos e conselhos práticos condensados nestas páginas. Muitos homens no ministério, como aconteceu comigo, tiveram de aprender da maneira mais difícil: ao longo de períodos de experiência e muitos erros. Meus primeiros anos no ministério teriam sido muito mais tranquilos e melhores para as pessoas que pastoreei se eu tivesse o benefício deste livro décadas atrás.

Donald S. Whitney, professor de espiritualidade bíblica e reitor associado no The Southern Baptist Theological Seminary; autor de Adoração no lar (Pro Nobis Editora)

O chamado para ser pastor não vem com percepção, conhecimento ou competência automáticos. Consequentemente, todo pastor às vezes se vê sobrecarregado, desgastado, subestimado e despreparado para a imensa quantidade de demandas de seu tempo, além do constante esgotamento espiritual. Esse é o momento exato em que alguém precisa colocar em suas mãos um exemplar de Cartas aos meus alunos, de Jason Allen. Repleto de verdades bíblicas, sabedoria prática, conforto cristão e instruções gentis em cada página, o livro é uma conversa encorajadora com um amigo de confiança que conhece o que é necessário para trilhar o caminho da obediência com alegria.

Hershael York, reitor da School of Theology, professor da Cátedra Victor e Louise Lester de pregação cristã no The Southern Baptist Theological Seminary (Louisville, Kentucky), e pastor sênior da Buck Run Baptist Church, em Frankfort, Kentucky

Sou muito grato por esta obra. Pode até se parecer com um livro, mas, na verdade, é uma oportunidade: é a oportunidade de sentar-se e aprender com um homem piedoso que dedicou a vida ao ministério de Jesus Cristo e a preparar outras pessoas para esse ministério.

Ele conhece todas as prioridades; e, ao guiar você, leitor, por elas, Jason Allen o ajudará a enxergar os prazeres e a evitar parte da dor. Você se tornará mais sábio e mais preparado depois de ouvir esse homem. Gostaria que este livro estivesse disponível 25 anos atrás.

Heath Lambert, pastor sênior da First Baptist Church em Jacksonville, Flórida

Este livro é excelente. Claro, conciso e repleto de conselhos práticos e diretos para todo pastor, ele será especialmente útil para os principiantes no ministério pastoral. Se ao menos eu tivesse este livro trinta anos atrás! Esta obra deveria ser obrigatória em todos os seminários do país.

Clint Pressley, pastor titular da Hickory Grove Baptist Church, em Charlotte, Carolina do Norte

“Pela igreja” não é apenas o lema da visão do Dr. Jason K. Allen para o Midwestern Seminary, mas também a paixão de sua vida. Não consigo pensar em uma pessoa melhor para compartilhar a sabedoria sobre pastorado que alguém totalmente envolvido com a liderança do treinamento da próxima geração de pregadores do evangelho para a igreja. Cartas aos meus alunos: Sobre o pastoreio é um grande complemento ao primeiro volume, pois o pastoreio se torna o foco central e a ênfase desse livro. O Dr. Allen vive o que ensina. Ele se preocupa profundamente com os pastores, e tenho certeza de que o livro será útil para mim como pastor e para quem se prepara para um dia ingressar nesse grande chamado. Como pastores, precisamos de mentoria. Sou grato pelo acesso a uma das melhores orientações possíveis por meio das palavras deste livro.

Dean Inserra, pastor titular da City Church, em Tallahassee, Flórida

No período em que pastorear passou a significar qualquer coisa sem ligação com o conceito bíblico do ofício, a igreja precisa de lembretes regulares da complexidade irredutível do ministério bíblico.

Por isso sou grato a Jason Allen pelo livro Cartas aos meus alunos: Sobre o pastoreio. Trata-se de uma pesquisa confiável sobre o ministério fiel e frutífero de um verdadeiro pastor e, acima de tudo, voltado para a glória de Jesus.

Jared C. Wilson, professor assistente de ministério pastoral no Spurgeon College e diretor do Pastoral Training Center, na Liberty Baptist Church

Em Cartas aos meus alunos: Sobre o pastoreio, o Dr. Jason K. Allen apresentou um tratado maravilhoso para pastores em prospecção, novos e experientes. Tendo escrito com o coração de um pastor e com base em sua experiência, o Dr. Allen ajuda os futuros alunos a entender o chamado ao ministério e a se preparar para suas implicações. Ele fornece aos novos pastores um manual de introdução ao ministério — o que todo pastor recém-ordenado precisa saber. Por fim, ele convoca os pastores experientes ao retorno ao básico. Quer você ame o povo de Deus e queira pastoreá-lo com fidelidade ou ame pastores e queira encorajá-los, você precisa ler este livro.

Juan R. Sanchez, pastor sênior da High Pointe Baptist Church, em Austin, Texas, e autor de The Leadership Formula: Develop the Next Generation of Leaders in the Church

O Dr. Jason K. Allen ajuda a mudar o mundo ao dedicar a vida aos ministros do evangelho de Jesus Cristo. Escrevendo para os alunos, ele se entrega à próxima geração de líderes cristãos. Pela combinação de seu ministério pastoral com sua erudição pessoal, na posição de presidente de um seminário, o autor apresenta uma visão bíblica e fervorosa sobre a igreja.

Ronnie W. Floyd, presidente/CEO do Comitê Executivo da Convenção Batista do Sul e pastor emérito da Cross Church

Muitas pressões compelem os pastores em várias direções. Este livro chama-os a manter o foco: aqui está a descrição do seu trabalho na Bíblia, pastor. Não o abandone. Jason Allen combina este chamado às Escrituras com a sabedoria adquirida por meio de sua própria experiência pastoral, dando aos leitores uma visão clara da maravilhosa tarefa de pastorear.

Jonathan Leeman, diretor editorial do ministério 9Marcas e presbítero da Cheverly Baptist Church

“O chamado para ser pastor é a vocação mais elevada que o homem pode conhecer.” Esta citação do Dr. Jason K. Allen, meu amigo, dá o tom de seu novo livro, Cartas aos meus alunos: Sobre o pastoreio. Neste excelente trabalho, o Dr. Allen estimula e desafia os pastores da igreja local a abraçar de bom grado, com oração e sobriedade, as difíceis tarefas envolvidas na liderança da igreja. O texto está repleto de informações e desafios práticos e encorajadores para todo pastor. Recomendo com entusiasmo.

Steve Gaines, pastor sênior da Bellevue Baptist Church, em Memphis, Tennessee

Em Cartas aos meus alunos: Sobre o pastoreio, o Dr. Allen lança um novo olhar sobre o que significa ser pastor no século 21. Neste livro, você obterá insights sobre as alegrias e os desafios do ministério pastoral: servir e pregar, alimentar e liderar, além de guardar e guiar o rebanho que o Senhor o chamou para supervisionar. Quer seja um pastor recém-ordenado, quer esteja pastoreando há décadas, você aprenderá princípios bíblicos que se aplicam ao contexto atual do seu ministério.

Robby Gallaty, pastor sênior da Long Hollow Baptist Church e autor de Growing Up e Replicate

Dedicatória

Com muito carinho, dedico este livro ao meu pastor na juventude, Fred Wolfe. Sob a pregação do Dr. Wolfe cheguei à fé em Cristo quando era calouro na faculdade. Mesmo antes de chegar à fé em Cristo, em retrospectiva, vejo como fui abençoado por ter crescido sob seu ministério. Quando ainda garoto, ouvi pregações sobre a inerrância das Escrituras, a confirmação do senhorio de Cristo e proclamação da necessidade do novo nascimento.

Embora a fé do irmão Fred já tenha sido comprovada, permaneço em dívida com ele por suas muitas décadas de ministério fiel. O profeta Isaías nos diz: “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas” (52.7a). Como alguém a quem o Dr. Wolfe anunciou as boas-novas, seus pés permanecem formosos para mim.

Agradecimentos

Como acontece com qualquer projeto de escrita, este livro não teria sido concluído sem o sacrifício e o apoio de muitos.

Continuo profundamente em dívida com cada um deles.

Em nível pessoal, minha vida e ministério são possibilitados e enriquecidos pelas orações e encorajamento da minha família.

Deus me abençoou muito com Karen, minha mulher, e com Anne-Marie, Caroline, William, Alden e Elizabeth, meus filhos, que superaram todas as minhas esperanças e sonhos acerca do que eles seriam e significariam para mim. Eles são uma fonte constante de amor, alegria e apoio. Para minhas seis pessoas favoritas no planeta: obrigado.

Em nível institucional, meus colegas e funcionários do escritório também são uma fonte inestimável de apoio e incentivo.

Mais especialmente, sou grato a Patrick Hudson, Tyler Sykora, Dawn Philbrick e Catherine Crouse. É um prazer absoluto servir com esses homens e mulheres, pois eles realizam suas tarefas diárias com graciosidade e competência. Obrigado.

Além disso, sou grato à equipe da B&H Publishers, em especial a Devin Maddox e Taylor Combs. Obrigado, queridos amigos, por acreditarem no projeto e por trabalharem comigo para torná-lo realidade.

Por último, e além de tudo, sou grato a meu Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Como qualquer outro empreendimento ministerial, nada seria possível sem a graça, o chamado e a capacitação provenientes dele. Que este livro e tudo que faço rendam-lhe muita glória.

Sumário

Apresentação à edição em português — Judiclay Santos ................................................................ 15

do autor .............................................................. 25 Introdução: Por que admiro os pastores ......................... 31

1. Separado por Deus: O ministro e sua vocação ......... 37

2. Pregue a Palavra: O ministro e seu púlpito ............... 47

3. Prepare o sermão: O ministro e o estudo ................. 57

4. Pastoreie as ovelhas: O ministro e seu povo | Parte 1 69

5. Transite pela vida congregacional: O ministro e seu povo | Parte 2 ..................................................... 79

6. Suscite líderes em sua igreja: O ministro e sua equipe 91

7. A membresia é importante: O ministro e os membros da igreja ..................................................... 101

8. Administre as ordenanças: O ministro, a Ceia do Senhor e o batismo ................................... 113

9. Lidere o culto: O ministro e o culto solene .............. 125

10. Siga o líder: O ministro e sua liderança .................... 135

11. Alcance o mundo: O ministro e a Grande Comissão 147

12. Casamentos, funerais e ordenações: O ministro e o oficiante ............................................ 159

Conclusão: Pastor, permaneça fiel ................................... 175

Apresentação à edição em português

A Turquia é um dos países mais bonitos do mundo. Localizada entre a Europa e a Ásia, sua geografia é privilegiada. A Costa Oeste é banhada pelo Mar Egeu. O impressionante tom azul da água é uma das belezas do lugar. O azul-turquesa dá origem ao nome Turquia. A região fazia parte da província romana da Ásia menor, cuja capital política e econômica era a cidade de Éfeso — a quinta maior cidade do império.

O apóstolo Paulo foi um dos pioneiros na evangelização da região, plantando várias igrejas nas principais cidades. Paulo permaneceu por três anos na cidade de Éfeso a fim de fortalecer a igreja e treinar novos pastores para a missão.

Ao final de sua terceira viagem missionária, depois de ter pregado o evangelho por quatro províncias do Império Romano, fazendo discípulos e fortalecendo as igrejas, Paulo decidiu ir à Jerusalém. Seu desejo era chegar antes da Festa de Pentecostes. Portanto, de Filipos ele foi a Trôade e de lá embarcou em um navio que fez a sua primeira parada em Mileto, uma conhecida cidade portuária da Ásia. A 40 km de Éfeso, Paulo aproveita a oportunidade e manda chamar os presbíteros para um encontro que, embora não saibam, será uma despedida final.

O evangelista Lucas era médico. Ele também serviu como um habilidoso escritor, um verdadeiro artesão das letras. O que ele faz no capítulo 20 de Atos é uma obra de arte. Lucas pintou um dos quadros mais bonitos do Novo Testamento. Agora, permita-me convidá-lo a fazer um exercício imaginativo. Vamos fazer um sobrevoo no porto de Mileto. Do alto nós vemos o belo Mar Egeu, azul-turquesa, com um grande píer de madeira e seus muitos barcos atracados. Existe um fluxo intenso de pessoas no porto. Os marinheiros fazem carga e descarga de material, as pessoas estão em movimento. Há um guarda aplicando multa em uma carroça estacionada em lugar proibido. Do outro lado da calçada há uma senhora vendendo geleia de tâmara. O dia está lindo. É primavera e as gaivotas sobrevoam o lugar em busca de peixes para comer.

Vou dar um zoom na câmera. Olhe com atenção e você verá algum muito incomum em um porto. Quem passa e vê a cena acha estranho, pois não é uma coisa que vê todo dia. Alguns homens estão ajoelhados. Eles oram, se abraçam, choram e se beijam.

Tendo dito estas coisas, ajoelhando-se, orou com todos eles. Então, houve grande pranto entre todos, e, abraçando afetuosamente a Paulo, o beijavam, entristecidos especialmente pela palavra que ele dissera: que não mais veriam o seu rosto. E acompanharam-no até ao navio. (At 20.36-38)

Paulo e os presbíteros de Éfeso protagonizaram uma das cenas mais bonitas que se pode ver, algo que só o evangelho é capaz de produzir. Paulo treinou aqueles homens; o apóstolo foi-lhes um pastor, mestre, mentor, discipulador e amigo. Por um longo tempo eles caminharam lado a lado. Imaginem o precioso tempo deles com o apóstolo Paulo. Sentados à mesa, andando pelas ruas da cidade, orando, evangelizando, enfrentando os opositores, testemunhando as conversões, ouvindo

as histórias, celebrando a vida, fazendo planos, derramando lágrimas, compartilhando esperanças, construindo memórias... foram meses caminhando juntos, lado a lado.

Mas chegou a hora mais dura para quem ama: a despedida. Deve ter sido muito difícil ouvir Paulo dizer: vocês não verão mais o meu rosto. Eles estavam muito tristes, porque nessa vida aquela seria a última vez que estariam juntos.

O testemunho de Paulo em Atos 20 é um documento referencial do que significa ser pastor. Agostinho, Crisóstomo, Calvino, John Gill, Baxter, Spurgeon e muitos outros fizeram primorosas exposições nesta passagem.

Existe uma ordem nos eventos. Após as recomendações pastorais, eles se ajoelharam a fim de orar. Nas Escrituras, a oração de joelhos acontece em situações bem específicas e pontuais. A sequência dos verbos é importante. Eles começaram a chorar após a oração. Ficaram emocionados. Foi tão intenso que houve grande pranto. Como eu gostaria de ter ouvido essa oração. Lucas diz que foram eles que tomaram a iniciativa de abraçar e beijar o apóstolo. Por meio de um abraço afetuoso e um beijo carinhoso, aqueles homens expressaram sua profunda gratidão. Foi a forma de dizer: muito obrigado. Obrigado por me ensinar. Obrigado por me ouvir. Obrigado por orar por minha família. Obrigado por estar presente no sepultamento dos meus pais. Obrigado por pregar com fidelidade. Obrigado por ser o meu pastor. As lágrimas, o abraço e os beijos comunicavam uma mensagem: nós amamos você, Paulo. Amar a igreja implica amar os seus pastores. Demonstramos o nosso amor quando honramos aqueles a quem Deus usa para nos abençoar. Voltemos os nossos olhos para o presente. A atual igreja evangélica sofre uma crônica enfermidade chamada bipolaridade. Existem grupos que, no afã de honrar seus pastores, acabam prestando um culto à personalidade. Alguns líderes,

especialmente no espectro carismático, exigem que sejam honrados. Aquele que exige honra para si torna-se indigno dela. Por outro lado, no extremo oposto, a maioria peca por negligência quanto ao dever de honrar seus pastores. Alguns até mesmo usam a Bíblia para dar um verniz de piedade na falha moral. Algo do tipo: “só Deus é digno de honra”.

Os presbíteros de Éfeso amavam o apóstolo Paulo e o viam como um presente de Deus. Eles são um bom exemplo de como devemos honrar um pastor. Um dos maiores desafios do nosso tempo é formar uma nova geração de pastores, homens qualificados e dignos de honra.

Uma obra para auxiliar no combate a todos estes problemas

Cartas aos meus alunos: Sobre o pastoreio, de Jason K. Allen

O Dr. Jason K. Allen apresenta verdades essenciais sobre o pastorado e oferece instrutivas orientações práticas para o exercício do ministério. O autor declara sua admiração pelos pastores e explica as razões de seu apreço pelo pastoreio de almas:

Minha admiração decorre em primeiro lugar de questões mais profundas e de minhas convicções: questões referentes ao chamado, ao serviço e às qualificações e responsabilidades bíblicas.

O autor, então, começa com uma belíssima exposição sobre a vocação pastoral. Os pastores são chamados por Deus. “Ninguém entra no ministério; a pessoa se rende a ele.”

O pastor é um salvo em Cristo chamado para cuidar do rebanho do Salvador. O pastor não é um voluntário, mas alguém que foi convocado para uma missão.

No campo das atribuições, o Dr. Allen destaca que a pregação é a mais importante função pastoral. O primeiro e o principal dever de um pastor é alimentar o rebanho através

da diligente Palavra de Deus. A maior necessidade da igreja contemporânea é o resgate da supremacia da pregação, tendo em vista que a pregação da Palavra é o principal meio de graça. É através da pregação que os incrédulos são salvos e a fé dos crentes, fortalecida. “Todo cristão precisa da ingestão constante das Escrituras. E o pastor fiel, que maneja bem a Palavra todas as semanas, é digno de grande honra.”

Os pastores cuidam do rebanho de Deus. Esse é outro motivo da admiração do autor pelo ministério pastoral. Sim, o trabalho pastoral é essencialmente cuidar do rebanho. Os pastores cuidam pregando, orando, liderando e cumprindo muitas outras responsabilidades ministeriais. O pastor, pela natureza do seu trabalho, carrega muitos fardos. Por vezes, cuida dos outros enquanto ele mesmo está ferido. Não é uma tarefa fácil, mas ele a cumpre por obediência ao Senhor, que lhe concede a graça necessária. Como bem disse Agostinho:

Pregar, repreender, corrigir, edificar, cuidar de almas é um grande fardo, grande trabalho, grande luta. Quem não evitaria esse trabalho? Mas o evangelho me constrange.

Cremos que este livro será uma fonte de instrução e encorajamento aos pastores e líderes. Seja Deus gracioso e abençoe os seus servos fiéis.

Judiclay Santos, pastor da Igreja Batista do Jardim Botânico (RJ), fundador e diretor da Pro Nobis Editora

Prelúdio

Enquanto escrevo este prefácio, no início de 2021, vejo que os pastores enfrentam mais pressão e transitam por entre mais desafios que em qualquer outro momento. As crises relacionadas à pandemia não só afetaram as congregações e os pastores em sentido emocional, físico e financeiro, mas também os tornaram divisivos. Pastores são criticados por tratarem de política em demasia, ou de modo insuficiente. Recebem críticas por lidarem com questões raciais com muita frequência e por não tratarem delas o suficiente. E a lista continua.

Por isso creio que o livro do Dr. Allen não poderia ter sido mais oportuno. Em momentos de crise e questionamento, muitas vezes somos tentados a trabalhar mais, fazer as coisas de modo mais rápido e nos isolarmos. Quando isso ocorre, o estresse do ministério começa a pesar mais. Recorrer a um livro como este ajuda a recalibrar o pensamento e recordar as razões pelas quais você atendeu inicialmente ao chamado para pastorear. Ele também fornece um guia passo a passo para quando você sente que se segura para não cair e só precisa de algum apoio enquanto se recupera e se orienta.

É claro que nenhum livro pode, ou deve, substituir a Palavra de Deus em nossa vida. Faça das Escrituras e de suas conversas diárias com Deus a tábua de salvação que o mantém

ancorado espiritual e ministerialmente. Eis a única fonte onde você pode buscar a verdadeira restauração da alma. Em tempos assim, é tentador recorrer a outros lugares em busca de alívio, mas só a Palavra de Deus e suas palavras específicas podem fornecer a você o necessário para pastorear a congregação e levar a verdade a ela.

Como pastor, jamais se esqueça de que você a vive cada dia em um campo de batalha espiritual. A igreja sempre estará sob fogo e você sempre será um alvo. Satanás quer distraí-lo, desestimulá-lo e derrotá-lo. Se acordar todos os dias com o objetivo de ter um ministério pacífico e livre de conflitos, você logo ficará desanimado. Prepare-se, proteja-se com sua armadura espiritual e não finja que a guerra espiritual não ocorre à sua volta.

Ao praticar essa disciplina, proteja também seu casamento e sua família. A única coisa pior que não ter tempo, atenção e foco suficientes para a igreja e o ministério é exagerar nesses aspectos e deixar que eles dominem tudo, incluindo seu casamento e vida familiar. Sou grato pelos mentores que me encorajaram a fazer do casamento e da família as prioridades no início dos meus anos de pastoreio. O pastorado sempre exigirá mais do que você pode dar, e as demandas serão altas e constantes. Até que ocorra uma crise, as necessidades de sua esposa e família não serão tão evidentes. Concentre-se nelas agora. Dê a elas o tempo que precisam e merecem. Você também foi chamado para elas. Lembre-se sempre de que você tem o melhor emprego do mundo. Com todos os desafios que ele acarreta, não há nada no mundo como ser pastor. É um chamado e privilégio maravilhoso liderar o povo de Deus e proclamar sua Palavra. Espero que você faça deste texto um livro ao qual recorra com frequência. Ele está repleto de sabedoria, experiências e grandes ideias. E espero que você nunca deixe de exaltar a Palavra de

Deus e permita que ela brilhe neste mundo que nunca esteve mais necessitado dela.

Dr. Kevin Ezell, presidente da North American Mission Board

Prefácio do autor

Bons livros são como bons amigos. Ambos trazem consigo palavras de instrução e conselho. Eles são companheiros na jornada da vida, fornecendo informações e encorajamento ao longo do caminho.

Para o ministro cristão, essa verdade é dupla. Ser ministro é ser leitor. Leem-se livros para conhecer a Bíblia e amadurecer como quem a ensina. E, da mesma forma que um amigo, Deus muitas vezes nos apresenta um livro na hora certa. Isso é exatamente o que Deus fez por mim.

Nos meus primeiros dias de ministério, enquanto ainda processava o chamado divino e procurava saber as implicações da vida ministerial, um amigo me presenteou com Lições aos meus alunos, de Charles Spurgeon. O príncipe dos pregadores entrou na minha vida na hora certa. O livro se mostrou não apenas útil, mas também transformador. Aprendi que Lições aos meus alunos e o homem que o escreveu haviam preparado e inspirado gerações de ministros como eu. Fui fisgado.

Quem foi Charles Spurgeon?

Nas palavras de Carl F. H. Henry, Charles Spurgeon foi “um dos imortais do cristianismo evangélico”.1 Henry definiu

1 Carl F. H. Henry, citado em: Lewis Drummond, Spurgeon: Prince of Preachers, 3. ed. (Grand Rapids: Kregal, 1992), p. 11.

Spurgeon assim por causa da amplitude do ministério dele e da repercussão contínua após sua morte.

Spurgeon foi um fenômeno. Ele pregou na maior igreja do mundo protestante situada em Londres, a cidade mais poderosa do mundo. Ainda assim, seu ministério chegou mais longe, percorrendo os extensos tentáculos do Império Britânico.

Spurgeon incorporou tudo que é certo sobre o ministério bíblico e tudo que a igreja atual deve recuperar no século 21: fidelidade bíblica, fervor evangelístico, ministério abnegado, poder no púlpito, consciência social e defesa da fé.

Como pregador, Spurgeon pastoreou a igreja londrina chamada Metropolitan Tabernacle [Tabernáculo Metropolitano], onde ministrou por quase quarenta anos à congregação de cerca de 6 mil membros. Spurgeon é comumente classificado com George Whitefield como um dos dois maiores pregadores da língua inglesa. Em 1858, ele pregou para uma multidão de 23.654 pessoas no Crystal Palace [Palácio de Cristal] da cidade, e já no final de seu ministério havia pregado para mais de 10 milhões de pessoas sem o auxílio da tecnologia moderna.

Como autor, a produção de Spurgeon era incessante. Ao morrer, sua publicação compreendia cerca de 150 títulos. Seus sermões, editados semanalmente e distribuídos em todo o mundo, venderam mais de 56 milhões de cópias durante sua vida. Na época de Spurgeon, eles foram traduzidos para mais de quarenta idiomas e totalizam hoje 62 pesados volumes. Além disso, ele escreveu para várias revistas e diários, incluindo-se a revista Sword and Trowel [Espada e a espátula].

O Spurgeon humanitário usou seu poder contra os grandes males sociais da época. Ele fundou dois orfanatos e um ministério para ajudar mulheres vulneráveis ou que viviam em promiscuidade. Foi um fervoroso abolicionista, fundou um seminário para estudiosos de teologia e iniciou um ministério de distribuição de

literatura para pastores carentes. Spurgeon promoveu o fornecimento de roupas e de refeições para necessitados — membros ou não do Metropolitan Tabernacle. Aos cinquenta anos havia iniciado nada menos que 66 ministérios sociais, todos projetados para atender necessidades físicas e espirituais.

Como apologeta, Spurgeon defendeu com ardor suas convicções batistas, evangélicas e reformadas. Ele atacou o hipercalvinismo e o arminianismo, o campbellismo2 e o darwinismo. De modo mais destacado, Spurgeon defendeu a pessoa e obra de Cristo e a ampla inspiração e infalibilidade das Escrituras. Os esforços apologéticos de Spurgeon foram testemunhados com mais nitidez por conta da “Downgrade Controversy” [“Controvérsia do Declínio”], quando ele desafiou a Baptist Union [União Batista] por algumas questões teológicas e, por fim, se retirou dela.3

Como evangelista, Spurgeon pregou o evangelho sem cessar e ganhou pecadores para Cristo de forma constante. Ele permanece um modelo insuperável de apego firme à soberania divina e à responsabilidade humana no evangelismo. Na verdade, é difícil encontrar qualquer sermão pregado por Spurgeon que não termine com a apresentação da cruz. Ao final de seu ministério, Spurgeon havia batizado quase 15 mil pessoas.

2 Designação dada ao movimento dos seguidores de Alexander e Thomas Campbell (1788-1866), um grupo restauracionista que culminou na criação das Churches of Christ (Igrejas de Cristo, no Brasil). O movimento se destacou na época pela posição contrária ao uso de instrumentos musicais nos serviços religiosos, pois não encontrara exemplos deles nas páginas do Novo Testamento. [N.T.]

3 A controvérsia ocorreu pelo fato de Spurgeon denunciar publicamente que alguns membros da União Batista não consentiam com a infalibilidade das Escrituras, a necessidade da expiação realizada por Cristo (e sua natureza substitutiva), a existência ou a eternidade do inferno, e ainda promoviam o universalismo. [N.T.]

O ministério de Spurgeon ainda está envolto em uma certa mística. Isso ocorre, em parte, por ter sido ele um gênio. Mas isso também se deveu à sua incansável ética de trabalho ministerial, que levou David Livingstone a perguntar a Spurgeon: “Como você consegue fazer o trabalho de dois homens em um único dia?”. Este, referindo-se ao Espírito Santo, respondeu: “Você se esqueceu de que somos dois”.

Lições aos meus alunos

O cerne do legado de Spurgeon consiste em sua obra clássica Lições aos meus alunos. O livro se desenvolveu de forma orgânica, procedente do fluxo natural das interações de Spurgeon com os alunos do seu colégio de pastores às sextas-feiras.

Como esses homens haviam passado a semana em estudos rigorosos, Spurgeon classificou os encontros às sextas-feiras como mais informais. Ele tratava de aspectos práticos da pregação e do ministério pastoral. Com o tempo, os conselhos de Spurgeon nessas aulas foram registrados e compilados em forma de livro. Assim, as Lições aos meus alunos estão repletas de conselhos bíblicos e práticos para os ministros. Spurgeon versa sobre tudo: desde o chamado ao ministério até o chamado aos membros da igreja. Ele vai e volta do teológico para o prático, das convicções às preferências, do secular para o espiritual. Ao proceder assim, Spurgeon concedeu aos alunos um texto que abrange quase toda a gama de questões relacionadas à pregação e ao ministério pastoral. Lições aos meus alunos provou ser uma obra atemporal, benéfica principalmente a todo ministro que a lê.

Cartas aos meus alunos

Assim, este volume — e toda a série — foi escrito segundo a venerável tradição de Lições aos meus alunos, de Spurgeon. Sei o quanto ele me ajudou e quero ajudar você da mesma forma.

Sou curioso por natureza; quando fui ordenado ministro, tornei-me ainda mais inquiridor. Felizmente, tive alguns mentores que responderam às minhas perguntas e me indicaram outras pessoas que poderiam respondê-las.

Agora me encontro do outro lado dessas perguntas e conversas. Como presidente de seminário, dou aulas sobre pregação, ministério pastoral e liderança. Quase todos os dias converso com pastores e alunos sobre esses tópicos.

Encontram-se aqui as minhas melhores respostas. Ao longo dos anos, mantive minha correspondência, algumas sob a forma de cartas literais, outras mediante e-mails, palestras em sala de aula, conversas telefônicas ou sermões e apresentações em conferências. Essas respostas provieram de minhas aulas e outras ainda migraram do meu site, onde costumo escrever sobre pregação e ministério pastoral.

Na função de presidente de seminário, dedico minha vida a preparar os chamados por Deus para um ministério mais fiel e eficaz. Embora a preparação seja essencial, ela não termina quando a pessoa passa pela graduação. Crescer no ministério é uma busca da vida toda, e o mesmo ocorre com o crescimento como pregador. Este livro, agora em suas mãos, destina-se a ajudá-lo a atingir esses objetivos.

Introdução: Por que admiro os pastores

Theodore Roosevelt, o vigésimo sexto presidente dos Estados Unidos, foi uma das maiores autoridades eleitas da história da nação. Ele também foi um dos maiores líderes que o mundo já conheceu. Um tsunami de energia, Roosevelt jamais reconheceu algum obstáculo intransponível nem temeu embate algum. Ele abalou a nação, inventou a presidência moderna e deixou um legado que transformou o país.

Em outras palavras, há um motivo para seu rosto ter sido esculpido no Monte Rushmore — com Washington, Jefferson e Lincoln.

Roosevelt, ao refletir sobre o fardo da liderança e a disposição de arriscar tudo e tentar grandes coisas, observou de forma célebre:

Não é o crítico que conta; nem o homem que aponta como o homem forte tropeça, ou onde o autor das ações poderia tê-las feito melhor. O crédito pertence ao homem que está de fato na arena, cujo rosto está sujo de poeira, suor e sangue; que se esforça com valentia; que erra, que fica aquém repetidas vezes, pois não há esforço sem erro e falha; mas ele realmente se esforça para fazer; conhece grandes entusiasmos, grandes devoções; desgasta-se por

Introdução: Por que admiro os pastores

uma causa digna; na melhor das hipóteses, ele conhece no final o triunfo de uma grande conquista e, na pior hipótese, caso fracasse, pelo menos falha quando ousou com grandeza, de modo que seu lugar nunca será com as almas frias e tímidas que não conhecem a vitória nem a derrota.4

Toda vez que leio esta citação de Roosevelt, minha mente se volta para o pastorado e para o excelente trabalho que os homens de Deus realizam. O ofício do pastorado é elevado, o trabalho é nobre, e os homens que o empreendem com fidelidade são dignos da nossa admiração. A menos que eles me deem motivos para pensar o contrário, eles têm a minha. Em nossa era de notícias constantes, excessos nas mídias sociais e o interesse voyeurista do mundo por pastores que falharam em sentido moral, é fácil esquecer tudo que eles fazem pela igreja. Claro, todos nós já ouvimos falar de um pastor que não agiu de maneira admirável, mas esse é a exceção, não a norma.

O fato de ter passado mais de duas décadas servindo a igrejas locais também demonstra minha admiração. Eu permaneci na brecha pastoral. Tenho vivido nas trincheiras do ministério da igreja local. Sei como é fazer sermões, enterrar irmãos queridos, lidar com membros difíceis, confrontar pessoas em pecado e liderar uma congregação em dificuldades. Suportei os pontos baixos, gostei dos altos. Apesar de tudo, jamais perdi o encanto do chamado divino ao ministério.

Além disso, agora interajo todos os dias com pastores como presidente de um seminário. Muitos estão na linha de frente do ministério, preparando-se para a primeira igreja e

4 Theodore Roosevelt; Brian M. Thomsen, The Man in the Arena: The Selected Writings of Theodore Roosevelt: A Reader (New York: Forge, 2003), p. 5.

ansiosos por isso. Com a mesma frequência, porém, interajo com homens de Deus bem-sucedidos. Ouço suas histórias. Sinto suas lutas. Vivi a vida deles e andei pelos mesmos lugares que eles. Quer você seja principiante ou experiente no ministério, meu coração está com você.

No entanto, minha experiência como pastor e minhas interações diárias com os pastores não são as principais razões pelas quais admiro esses homens de Deus. Minha admiração decorre em primeiro lugar de questões mais profundas e de minhas convicções: questões referentes ao chamado, ao serviço e às qualificações e responsabilidades bíblicas. Para começar, considere apenas algumas dessas razões comigo.

Primeira, pastores são chamados por Deus. Cristo deu à igreja, em nossa época, “evangelistas [...] pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.11b,12). Ninguém entra no ministério; a pessoa se rende a ele. Os pastores foram separados por Deus, chamados pelo Espírito e submeteram a vida a ele. É preciso ser obediente não apenas para entrar no ministério, mas para permanecer nele. Assim, admiro os pastores pela entrega de sua vida a Deus.

Segunda, pastores ministram a Palavra. A única responsabilidade irredutível do pastor é alimentar as ovelhas com a Palavra de Deus. Paulo estipula que o pastor seja “apto para ensinar” e encarregou Timóteo de aplicar-se “à leitura, à exortação, ao ensino” e a “pregar a Palavra” (1Tm 3.2; 4.13; 2Tm 4.2).

O pastor que cumpre fielmente esta responsabilidade faz mais que alimentar a igreja com a Palavra; ele dá a Palavra de alimento a cada crente. Todo cristão precisa da ingestão constante da Palavra de Deus. E o pastor fiel, que maneja bem a Palavra todas as semanas, é digno de grande louvor.

Por que admiro os pastores

Terceira, pa stores são mantidos em um nível mais alto de capacidade de prestação de contas. Essa responsabilidade começa pelas qualificações do cargo, descritas em 1Timóteo 3.1-7 e Tito 1.6-9. Mas também se estende a outras passagens, e inclui: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo”, e: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas” (Tg 3.1; Hb 13.17). Esse fato é ainda mais assustador quando você percebe que os pastores enfrentam tentações mais intensas. Satanás alveja aqueles cuja queda causará mais danos à igreja e mais manchará a glória de Deus. Admiro os pastores por se colocarem neste cenário. Quarta, pastores cuidam do rebanho de Deus. Os pastores pregam, lideram e cumprem uma série de outras responsabilidades ministeriais, mas também carregam os fardos de seu povo.

Quando precisamos de oração, conselho ou apoio, os pastores se colocam na brecha por nós. Paulo falou de sua afeição e cuidado paternal para com os cristãos de Tessalônica, e Pedro exortou os presbíteros a pastorear o rebanho com zelo, sem exercer domínio sobre ele. Eis o coração do pastor que ama sua congregação. Esta não é uma tarefa fácil. Os membros da igreja podem ser intratáveis, teimosos e até mesmo rebeldes. Assim, o pastor que serve ao rebanho é digno da nossa admiração.

Para concluir

Você admira os pastores? Eu com certeza sim. Se você está exercendo o ministério pastoral, ou procura ingressar nele, saiba que eu o admiro. Na verdade, quase todos os pastores que conheço conquistam minha confiança e respeito e merecem minhas orações e apoio.

Esse espírito motivou meu livro, e espero que você o detecte ao lê-lo. Pastores e futuros pastores, estou ao lado de vocês.

Acredito em vocês. Eu os admiro. Esse livro objetiva encorajá-los em seu trabalho ministerial e fortalecer suas mãos enquanto o realizam. Que Deus os abençoe na obra.

Separado por Deus: O ministro e sua vocação

O chamado para ser pastor é a vocação mais elevada que o homem pode conhecer. Essa visão elevada do ministério do evangelho levou Charles Spurgeon a refletir: “De fato, se Deus o chamou para ser seu servo, não se rebaixe a ponto de se tornar um rei entre os homens”. Se você está lendo este livro, provavelmente já sentiu o chamado. Na verdade, você provavelmente concorda com a elevada avaliação de Spurgeon sobre o ministério pastoral.

O trabalho do ministério pastoral é realmente grandioso — portanto, você deve empreendê-lo com um profundo senso de oportunidade espiritual e serviço cristão. Sem dúvida, esta é uma das razões pelas quais você está lendo este livro: o desejo de estar mais bem preparado para um ministério fiel e frutífero. Neste capítulo, e no início deste livro, quero apresentar para você um breve contexto do chamado ao ministério pastoral e, em particular, do seu chamado ao ministério.5 Quais são os principais indicadores do chamado de Deus e como eles se

5 Escrevi mais extensamente sobre o tópico no livro Discerning Your Call to Ministry: How to Know for Sure and What to Do about It (Chicago: Moody, 2016), e nele trato esses assuntos de modo mais completo.

relacionam com sua vida pessoal e ministério? Isso é importante não só quando você entra no ministério, mas também serve como uma forma de prestação de contas e orientação contínuas ao longo dele. Como ponto de partida, primeiro esclareceremos equívocos comuns sobre o chamado pastoral.

O chamado: Um conceito incompreendido

Entre as igrejas evangélicas, o chamado ao pastorado é muitas vezes mal compreendido. Alguns o consideram uma decisão totalmente pessoal e individual. Se alguém acredita ter sido chamado ao ministério, está resolvido. O que dá à igreja, ou a qualquer outro corpo deliberativo, o direito de questionar o que Deus me chamou para fazer? O argumento continua: se uma pessoa se identifica com o chamado ao pastorado, isso é evidência suficiente.

Outros consideram o chamado divino uma experiência inteiramente mística e subjetiva. Acreditam que avaliar o chamado de alguém ao ministério em termos objetivos não é espiritual. Essas pessoas ignoram as expectativas bíblicas para o ministério, como 1Timóteo 3.1-7 e Tito 1.6-9. Supõem que Deus é grande e dinâmico demais para limitar-se à sua Palavra escrita. Se alguém pensa que o Espírito o conduz ao pastorado, a suposição não precisa ser apoiada por expectativas bíblicas ou congregacionais.

Além disso, outros tratam o chamado pastoral em termos humanos e empresariais. Esses indivíduos consideram o diploma do seminário, ou alguma outra credencial ministerial, uma qualificação suficiente para o ofício. Do mesmo modo que advogados, médicos e outros profissionais são marcados pelo treinamento formal, os ministros também devem ser. Obtenha um diploma ou uma licença para o ministério e, em seguida, procure a posição religiosa certa. É simples assim.

Outros ainda interpretam o chamado ao ministério como uma experiência única, e as qualificações bíblicas para ele o único limiar a ser transposto. Creem ser o chamado uma realidade do passado. Talvez no início do ministério alguém precisasse da confirmação da igreja e da adequação às qualificações bíblicas encontradas em textos como 1Timóteo 3.1-7, mas agora esse é um assunto resolvido. Além disso, continua o argumento, Deus o conduz ao ministério como um chamado de vida, mas é indiferente onde e como a pessoa serve ao longo da vida. Em outras palavras, você é livre para se mover e manobrar por entre as fileiras ministeriais como desejar, não como Deus guia.

Por fim, muitos evangélicos consideram o chamado pastoral algo que não se busca, mas algo a que alguém se entrega com relutância. Na verdade, a expressão comum “render-se ao ministério” sugere isso. Sim, Deus inicia o chamado, não o homem. Além disso, em certo sentido, o ofício espiritual consiste em Deus buscar o homem e não vice-versa. Mas o apóstolo Paulo deixa claro que “se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja” (1Tm 3.1, ênfase adicionada). Observe as palavras aspirar e almejar. Não é apenas apropriado, mas necessário, que quem ingressa no ministério deseje a obra do ministério!

Clareza em meio à confusão

Quando estudante universitário em luta com o chamado pastoral, eu me sentia confuso. Tudo parecia imperceptivelmente místico e misterioso para mim. Pensei ter sentido o chamado de Deus ao ministério, mas não tinha certeza exata do que deveria procurar. Desejava servir no ministério pastoral, mas considerava o desejo inapropriado, talvez um sinal de orgulho ou ambição doentia.

Na bondosa providência de Deus, um amigo me indicou 1Timóteo 3.1-7 e Lições aos meus alunos, de Charles Spurgeon. Ler o livro de Spurgeon, em especial a seção sobre o chamado ao ministério, e meditar sobre 1Timóteo 3.1-7 foram de grande ajuda, dando-me um lampejo de clareza e certeza.

As palavras de Paulo a Timóteo (e de modo similar a Tito, em Tt 1.6-9) deram forma ao meu chamado na época — e ainda o fazem. Leia e reflita com cuidado sobre a passagem.

Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja. É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo. Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo. (1Tm 3.1-7)

Além disso, a obra de Spurgeon intitulada Lições aos meus alunos é atemporal acerca do ministério. Na verdade, eu me vali de forma deliberada de seu clássico no título desta série de livros, Cartas aos meus alunos, como tributo pessoal a ele, pois Spurgeon foi amplamente aclamado como o “príncipe dos pregadores”. Ele ajuda a desvendar os sinais do chamado ao ministério, em especial o primeiro sinal como “o desejo intenso e envolvente em relação à obra”.6 Para mim, esse ponto foi esclarecedor e até mesmo libertador e convincente em relação à minha vida

6 Charles Spurgeon, Lectures to My Students (Grand Rapids: Zondervan, 1979), p. 26. [Lições aos meus alunos: Homilética e teologia pastoral (PES, 2014), 3 vols.]

e ao meu chamado. Aprendi que Deus colocou esse desejo no meu coração. Essa certeza me impulsionou, lançando-me ao estágio seguinte de reflexão e deliberação.

A gravidade do chamado ao ministério

À medida que continuei a procurar o serviço ministerial, senti cada vez mais a gravidade do chamado. Fazer isso não me dissuadiu; ao contrário, despertou-me para a majestade do ministério. Encontrei-me em consonância com Charles Bridges, que escreveu sobre sua gravidade uns 200 anos atrás. Considere as palavras dele comigo:

Quem — homem ou anjo — “é suficiente” para desvendar “a sabedoria de Deus em mistério”: para falar o que em toda a sua extensão é “indizível” e dar a conhecer o que “excede todo o entendimento” a fim de suportar o terrível peso do cuidado com as almas? Quem conta com habilidade e força proporcionais? Quem dispõe da mente e do temperamento para dirigir e sustentar uma obra tão vasta? Se nosso Grande Mestre não tivesse respondido em pessoa a essas perguntas terríveis com sua promessa: “Minha graça te basta”; e se a experiência da fé não houvesse provado de forma demonstrável que “a nossa suficiência vem de Deus”; quem, com uma apreensão iluminada, poderia entrar em um serviço tão terrível; ou, se inserido, continuar nele?7

A fim de encontrar nosso equilíbrio aqui, devemos revisar as palavras do apóstolo Paulo aos cristãos de Éfeso. Ele escreveu em Efésios 4.11-15:

E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e

7 Charles Bridges, The Christian Ministry (Edinburgh: Banner of Truth, 1958), p. 4-5.

mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.

No contexto, Paulo nos revela como Deus edifica sua igreja e como pastores e mestres são essenciais para seu plano. Além disso, Paulo demonstra como Cristo prepara a igreja e como ela é central ao propósito eterno e ao plano redentor de Deus.

Observe o que Paulo diz no versículo 11. Ele começa desvendando ofícios específicos que Cristo estabeleceu para a igreja. Os dois primeiros, apóstolos e profetas, há muito são entendidos como ofícios do primeiro século, concedidos até que a igreja fosse estabelecida e o cânon das Escrituras fechado. Mas no versículo 11, vemos que Cristo concedeu à igreja líderes hoje e para sempre sob a forma de evangelistas, pastores e mestres. Esses líderes receberam seu papel e função por ninguém menos que o próprio Cristo.

Se o chamado de Cristo não for importante o suficiente por si só, Paulo prossegue com a declaração de que o Senhor concedeu à sua igreja esses líderes “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (v. 12). Isso resulta em uma igreja espiritualmente saudável, teologicamente robusta e unida para a missão. Que tarefa, que chamado e que serviço cristão nós temos!

Chamado: Uma lista de verificação a considerar

Tudo isso nos lembra que devemos ter certeza das qualificações ordenadas por Deus para o ministério e de que ele nos separou para esse serviço. Nesse sentido, considere comigo sete perguntas indicadoras de que Deus o chamou ao pastorado:

1.  Seu caráter corresponde às expectativas de Deus? Os textos de 1Timóteo 3.1-7 e Tito 1.6-9 são fundamentais aqui. Considere e reflita com cuidado sobre essas passagens. Além disso, convide outras pessoas a avaliar sua vida de acordo com essas linhas e lembre-se de que essas qualificações não são um limite único a ser ultrapassado, mas uma expectativa contínua para o ministro.

2. Você deseja a obra do ministério? Como vimos, ansiar pela obra do ministério não é apenas apropriado; é essencial. Esse anseio interior servirá como um ímã, puxando-o para frente ao longo de várias temporadas e provações ministeriais. Se o ministério é uma das muitas oportunidades diante de si, cada uma parecendo igualmente atraente, isso é um sinal de que você pode não ter sido chamado. Como o apóstolo Paulo deixa claro, você deve desejar a obra do ministério.

3. Você tem o dom de ensinar a Palavra? Ao revisar 1Timóteo 3, você notará que a única diferença real entre o ofício do diácono e o ofício do presbítero é a capacidade de ensinar. Claro, existem vários níveis de cumprimento. Dons, treinamento, experiência e uma série de outros fatores determinarão o quão forte você é como pregador e/ou mestre, mas o pastor deve contar com a habilidade básica de ministrar a Palavra divina ao povo de Deus.

4.  Você observa hoje frutos em suas atividades ministeriais? Com isso, quero dizer: já viu Deus abençoar alguns de seus esforços no ministério até agora? As pessoas parecem se beneficiar com seu ensino e pregação? Você tem sido capaz de levar alguém a Cristo? Eis apenas algumas perguntas

que você pode usar para avaliar o fruto do seu trabalho. Caso não tenha observado nenhum fruto até agora, isso não significa necessariamente que você deva desistir. Em vez disso, dirija-se a seu pastor e busque mais oportunidades, e ore com fervor para Deus abençoar seus esforços.

5. Você é apaixonado pelo evangelho e pela Grande Comissão? A paixão pelo evangelho é um bom sinal de que o Senhor está chamando você para o ministério. Como veremos nas páginas seguintes, quando Paulo refletiu sobre o evangelho em Romanos 10, ele enfatizou que as pessoas não podem ouvir a mensagem do evangelho sem que um mensageiro a transmita a elas. Se a ideia de pessoas que chegam à fé em Cristo não o comove, isso não é um bom sinal.

6. A igreja confirma o seu chamado? Em última análise, todas as questões anteriores devem ser julgadas pela igreja local.

A Bíblia indica que ela é responsável por convocar os chamados. De modo mais específico, a igreja local é responsável por quem chama para ministrar à congregação. Ela sabe se um indivíduo em seu meio é adequado ao ministério. Olhe para ela em busca de afirmação.

7. Por fim, você está disposto a se render? Como escrevi antes, a ideia de se render ao ministério é muitas vezes mal compreendida, e eu já a entendi errado. Contudo, quem ministra fielmente deve ser submisso ao chamado divino quando e onde ele ocorrer. Não apenas quando ingressa no ministério, mas durante todo o ministério. Ao longo do tempo, Deus o chamará para tarefas específicas e para ministrar a pessoas específicas, algumas mais desejáveis que outras. Você o seguirá aonde quer que ele o leve?

Para concluir É correto começar um livro sobre o ministério pastoral com o esclarecimento do chamado divino e a celebração dele. Mesmo ao digitar estas palavras, sinto-me muito feliz pela bondosa providência de Deus em minha vida ao me separar

para o serviço ministerial e fortalecer-me para esse serviço ao longo dos anos. Confio que você também sente o mesmo. Voltemos agora a atenção para a obra do ministério pastoral.

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