Maria - A Diferença entre o que a Bíblia ensina e o que os romanistas defendem

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MARIA

A diferença entre o que a Bíblia ensina e o que os romanistas defendem

JAMES R. WHITE

Rio de Janeiro, RJ

Maria: A diferença entre o que a Bíblia ensina e o que Roma defende

Traduzido do original em inglês: Mary—Another Redeemer?

Copyright © 1998 James White,

Publicado originamente por Bethany House Publishers www.bethanyhouse.com

Uma divisão do Baker Publishing Group www.bakerpublishinggroup.com

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por PRO NOBIS EDITORA, Rua Professor Saldanha 110, Lagoa, Rio de Janeiro-RJ, 22.461-220

1ª edição: 2024

ISBN: 978-65-81489-63-2

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo citações breves, com indicação da fonte.

Gerência editorial

Judiclay Silva Santos

Conselho editorial

Judiclay Santos

David Bledsoe

Paulo Valle

Gilson Santos

Leandro Peixoto

Supervisão editorial: Cesare Turazzi

Tradução: Maiza Ritomy Ide

Preparação e revisão de texto: Gabriel Lago

Capa: Luis de Paula Diagramação: Marcos Jundurian

Nesta obra, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA), salvo informação em contrário.

As opiniões representadas nesta obra são de inteira responsabilidade do autor e não necessariamente representam as opiniões e os posicionamentos da Pro Nobis Editora ou de sua equipe editorial.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

White, James R.

White, James R. Maria: a diferença entre o que a Bíblia ensina e o que Roma defende/James R. White; tradução Maiza Ritomy Ide. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Pro Nobis Editora, 2024.

Título original: Mary : another redeemer?

ISBN 978-65-81489-63-2

24-210331

Índices para catálogo sistemático:

1. Maria, Mãe de Jesus : Mariologia : Teologia cristã 232.91

Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253

Tel.: (21) 2527-5184 contato@pronobiseditora.com.br www.pronobiseditora.com.br

CDD-232.91

O Dr. James R. White oferece uma análise apologética cuidadosa e fundamentada da doutrina romana sobre Maria. Com profundidade teológica e precisão bíblica, ele examina o desenvolvimento dos dogmas marianos, permitindo que as fontes católicas falem por si mesmas. White demonstra como a elevação de Maria a corredentora contraria a centralidade de Cristo na salvação, apresentando uma crítica fundamentada e respeitosa. Sua pesquisa detalhada e imparcial é um recurso valioso para protestantes e católicos que buscam entender melhor essa controvérsia teológica e o impacto dessa devoção na fé cristã. Essencial para quem deseja aprofundar-se no verdadeiro papel de Maria segundo as Escrituras.

Guilherme Douglas Balista, jornalista e pastor batista

O Novo Testamento fala pouco sobre Maria. Apesar do silêncio, todo um sistema de crenças foi construído em torno de sua pessoa. Um erro antigo, que demandou um longo processo, através do qual a Igreja Romana articulou uma série de inovações doutrinárias, estranhas ao evangelho de Jesus Cristo e em total contradição com a Palavra de Deus. No romanismo, Maria é uma deusa que recebe culto, atende orações e opera milagres. Maria é chamada de “Porta do Céu, Arca da Aliança, Estrela Matutina, Torre de Davi, Sede da Sabedoria, Causa de nossa Alegria”. Os títulos que lhe são atribuídos causam perplexidade, pois são evidentes usurpações à glória de Cristo.

Alfonso de Ligório, um dos mais conhecidos escritores marianos, em sua obra As glórias de Maria, declara: “Nossa salvação será mais rápida, se chamarmos por Maria, do que se chamarmos por Jesus. [...] A Santa Igreja ordena um culto peculiar a Maria”. A mariolatria é uma realidade que opera como pano de fundo de todas as doutrinas heréticas forjadas em torno do nome de Maria. Romanistas negam e usam manobras semânticas para argumentar uma suposta diferença entre veneração e idolatria, mas na prática dão a Maria a glória que pertence exclusivamente ao Senhor Jesus Cristo. Que o leitor, porém, não se engane. Neste livro, o Dr. James White reconhece, sim, que Maria é uma singular serva de Deus, escolhida

para uma função especial na história da redenção como mãe do Senhor Jesus Cristo. Sua crítica, portanto, é contra o sistema romanista, este idólatra, que desvia as pessoas do Salvador, levando-as a colocar sua fé em um ídolo forjado pelo coração enganoso. O leitor tem em mãos uma excelente introdução ao marianismo, útil para instrução, apologética e evangelização.

Judiclay Santos, fundador e diretor da Pro Nobis Editora, pastor da Igreja Batista do Jardim Botânico

Para o Dr. Rick Walston, Um amigo e mentor que demonstrou grande dedicação à educação piedosa para o benefício do corpo de Cristo. Obrigado por ser paciente com o aluno mais incomum que você provavelmente já teve!

Sumário

Apresentação

Maria seria um tipo de corredentora com Cristo? Eis uma pergunta provocativa que nos leva a refletir quão longe a Igreja de Roma tem se distanciado do evangelho; não só isso, mas a Igreja Católica Romana coloca em risco o próprio monoteísmo que segue.

James R. White, autor e apologeta honesto, havendo debatido com os mais conceituados apologetas romanistas, se destaca na defesa da fé bíblica sobre a mãe de nosso Senhor Jesus Cristo ao refutar os erros da Igreja Romana, ciente do que é mais atual em termos de apologética romanista e os argumentos protestantes para rebatê-los. A fim de evitar espantalhos contra a doutrina romanista, White usa o próprio catecismo da Igreja de Roma como texto-padrão para as crenças que pretende refutar.

O autor começa o livro a partir de um incômodo pessoal ao se deparar com uma oração dirigida a Maria em um folheto. Isso perturbou White, e com razão, pois qualquer verdadeiro cristão, uma pessoa que ama a Cristo como seu único e suficiente Salvador, não só se incomodaria, mas se ofenderia com tal oração. Assim começa sua jornada, com uma preocupação genuína, não caprichosa, e cheia de amor por almas perdidas.

Após um breve testemunho pessoal em que apresenta sua motivação espiritual para a apologética, White faz uma breve apresentação do ensino bíblico sobre Maria. Óbvio dizer, a Escritura fala pouco sobre ela, e, apesar de dirigir-lhe boas palavras, não ensina que Maria foi perpetuamente virgem, não ensina que foi imaculada desde a sua concepção, tampouco que foi assunta ao céu em corpo e alma.

Em seguida, há uma apresentação histórica, embora resumida, sobre a evolução dos dogmas marianos até os dias atuais, parte em que White, baseado na Palavra de Deus, rejeita as heresias da Igreja de Roma. Agora, a seção mais aterradora e, certamente, a que mais me impactou, foi como White teve sucesso em mostrar que, apesar dos protestos romanistas contra essa afirmação, Maria é adorada, e não somente venerada, como defendem suas letras. Não há dúvida de que, após a leitura desta seção, o leitor se escandalizará e perceberá, de uma vez por todas, que o catolicismo romano é uma religião que não pode ser chamada de cristã, a não ser de modo genérico.

Atualmente, com os dogmas “evoluindo”, há vários debates sobre Maria na Igreja Católica Romana, entre eles: se teria havido encarnação e, por conseguinte, maternidade divina se Adão não tivesse pecado; se Maria também é mãe espiritual dos anjos; se Maria teve uso da razão desde sua concepção; se Maria teve ciência infusa e, se a teve, em que grau; se Maria teve a visão beatífica; se a predestinação de Maria se deu em previsão de seus méritos; se Maria padeceu de morte corporal ou foi assunta antes de morrer.

Quando pensamos que algo não pode piorar, a Igreja de Roma nos prova que estamos errados. Temas assim nos mostram que livros como este que o leitor tem em mãos são fundamentais, pois os ataques à fé dada aos santos uma vez por todas só crescem.

MARIA

Que Deus tenha misericórdia das pessoas enganadas por essa grande seita que é o catolicismo romano e que este livro seja um instrumento usado por Deus para o resgate dessas almas perdidas.

Glória somente a Cristo! Francisco Tourinho, autor de O calvinismo explicado, editor-chefe na Theóphilus Editora

Maria — Corredentora?

Um pequeno livreto enfiado na dobra de uma cadeira, bem no cantinho, chamou minha atenção. Apenas uma parte ínfima estava para fora, quase não o vi. Intrigado, puxei-o. A capa azul e branca trazia o título Devotions in Honor of Our Mother of Perpetual Help [Devoções em honra à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro]. Analisei algumas das orações. Em uma delas, localizei as palavras “minha salvação eterna”, então recuei e comecei do início:

Ó Mãe do Perpétuo Socorro, vós sois a dispensadora de todas as graças que Deus nos concede, a nós pobres e miseráveis. Se ele vos fez tão poderosa, tão rica e tão benigna, foi para que nos assistais nas nossas misérias. Sois vós a advogada dos mais miseráveis e desamparados pecadores que a vós recorrem; socorrei-me, pois, a mim, que a vós me recomendo. Nas vossas mãos ponho o negócio da minha salvação, entrego-vos a própria alma. Aceitai-me no número dos vossos servos prediletos; acolhei-me debaixo da vossa proteção, e dou-me por satisfeito; porque, se vós me socorreis, nada temo. Não temo os meus pecados, porque vós me obtereis o perdão; não temo o demônio, pois vós sois mais poderosa que todo o inferno; não temo o meu próprio Juiz Jesus Cristo, por que uma só súplica vossa basta para reconciliá-lo. O que só temo é, por minha negligência, esquecer de vos invocar e assim perder-me.

Alcançai-me, Senhora minha, o perdão dos pecados, o amor a Jesus Cristo, a perseverança final, e a graça de recorrer sempre a vós, ó Mãe do Perpétuo Socorro.

A princípio, não pude acreditar no que acabara de ler. Então voltei às últimas linhas. Esta oração estava realmente dizendo que o peticionário não temia seus pecados, os demônios, nem Jesus? Era exatamente isso. Balancei minha cabeça em descrença.

Alguns anos depois, estava num estúdio de rádio em Boston, Massachusetts, conversando no ar com um ex-protestante que se tornara católico romano, chamado Gerry Matatics. O tema era Maria e os santos. Dois debates públicos haviam sido programados entre o Sr. Matatics e eu no Boston College durante a próxima semana.1

Naquele dia, porém, estávamos no ar atendendo ligações sobre orações a Maria e aos santos. Enquanto fazia as malas para a viagem, encontrei o livrinho azul e branco e resolvi levá-lo comigo. Então, naquele momento na rádio, levei minha mão à bolsa e o tirei. Com certeza citar esta oração levaria a uma forte reação do Sr. Matatics. Ele seguramente negaria que tal oração fosse apropriada, afirmando que aqueles que a escreveram estavam simplesmente exagerando em sua piedade. O apresentador do programa involuntariamente engasgou enquanto eu lia as linhas finais, e, ao largar o livreto, olhei para meu oponente, esperando pela reação esperada. O anfitrião, da mesma maneira, voltou-se ao Sr. Matatics. Ele ficou quieto por um momento e então falou.

“Sr. White”, ele começou, “eu realmente espero que algum dia o senhor também faça essa oração.”

1 Esses debates, sobre a justificação pela fé e a canonicidade dos apócrifos, podem ser solicitados ao Alpha and Omega Ministries, em: www.aomin.org.

MARIA

Assim me ocorreu mais uma vez quão profundamente arraigada está a devoção a Maria na crença e prática católica romana. Também percebi mais uma vez o quanto a minha experiência cristã é absolutamente distinta, com uma devoção assim a qualquer um que não seja Cristo. A oração me ofendeu e, sim, anos depois, após ler dezenas de livros sobre a doutrina e a piedade mariana, ainda me ofende. Mas agora sei por que a oração existe como existe, bem como o fundamento sobre o qual tal devoção é colocada.

Um livreto pelos correios

Minha jornada como não católico no mundo da devoção e doutrina mariana tem sido frequentemente impactada por pequenos livros. Certo dia, um desses livros chegou pelos correios de um correspondente do estado de Washington. Era intitulado Mary: Coredemptrix, Mediatrix, Advocate [Maria: Corredentora, medianeira, advogada], de Mark I. Miravalle, S.T.D., e tinha sido publicado por um grupo chamado Vox Populi Mariae Mediatrici , que significa “Voz do Povo para Maria Medianeira”. Escondidos entre a capa e a contracapa, descobri pequenos cartões-postais destacáveis endereçados a “Sua Santidade o Papa João Paulo II” em Roma, Itália. O texto do cartão me chamou a atenção:

Com amor filial, nós, os fiéis, desejamos humildemente pedir-lhe, Vigário de Cristo, que defina solenemente como dogma cristão o ensinamento constante da Igreja sobre o papel corredentor de Maria com Cristo, o Redentor da humanidade. Acreditamos que esta definição trará à luz toda a verdade sobre Maria, Filha do Pai, Mãe do Filho, Esposa do Espírito e Mãe da Igreja. Portanto, é nossa oração que o Espírito Santo o guie, Santo Padre, a definir e proclamar a Bem-Aventurada Virgem Maria como

Corredentora, Medianeira de todas as graças e Advogada do povo de Deus.

Mais uma vez me vi surpreso. “Esposa do Espírito”?

“Corredentora, medianeira de todas as graças e advogada do povo de Deus”? A um protestante, a terminologia soa como língua estrangeira. Frases como “Esposa do Espírito” são tão estranhas, que dificilmente se saberá por onde começar a reagir a isso. Naquela época, eu não estava consciente da profundidade e da amplitude do movimento que buscava que o Papa definisse estas doutrinas como ensinamentos cristãos infalíveis. No entanto, de acordo com afirmações recentes do grupo,2 em junho de 1997, 4,5 milhões de petições de 155 países tinham sido assinadas e entregues ao Papa. A iniciativa também obteve o apoio de mais de 500 bispos, incluindo 42 cardeais.

O movimento foi tão grande, que os principais meios de comunicação começaram a notá-lo. Artigos de capa e reportagens nas principais revistas de notícias apresentaram o movimento ao público em geral, embora muitas vezes com informações pouco precisas assumindo um papel central. A edição de 25 de agosto de 1997 da Newsweek publicou uma reportagem de Kenneth Woodward sobre Mark Miravalle e o movimento ocorrido na Franciscan University of Steubenville. A edição de maio de 1997 da Inside the Vatican escreveu:

Embora não confirmado oficialmente, acumulam-se evidências de que o Papa João Paulo II pode exercer o carisma da Infalibilidade Papal […] a fim de declarar o Terceiro Dogma Mariano.

2 Citado de “Response to a Statement of an International Theological Commission of the Pontifical International Marian Academy”. Disponível em: http://www.ewtn.com/voxpopuli/RESPONSE.html.

MARIA

Os sites começaram a divulgar a história, com resultados previsíveis. Fiéis e apoiadores entre os católicos romanos ficaram entusiasmados, enquanto fundamentalistas começaram a falar da elevação de Maria à “divindade”, resultando na mudança da Trindade para “Quadrindade”. Apenas uma coisa é certa sobre a cobertura que a controvérsia recebeu: poucas, pouquíssimas pessoas têm a mais vaga ideia de quais são as verdadeiras questões em jogo, e isso inclui a maioria dos católicos romanos. A polêmica é muito importante, mas não pelos motivos que a maioria acredita. A grande quantidade de mal-entendidos em ambos os lados do muro vem do fato de que o que Roma ensina sobre Maria é, em geral, frequentemente mal interpretado pelos protestantes e mal comunicado pelos católicos romanos. Na verdade, muitos fiéis entre os católicos romanos nutrem conceitos errados sobre os dogmas de Roma, o que só aumenta a confusão.

Crença mariana popular

Há alguns anos, só se falava disso em Phoenix. Uma mulher estava andando pela Rua Dezesseis quando, de repente, a viu: a Virgem Maria no galho de uma iúca à beira da estrada. Logo as pessoas estavam se aglomerando no local para ver a Mariada-iúca. As vigílias começaram. Multidões circulavam, olhando para a iúca. Então, certa noite, alguém apareceu e cortou a “planta divina”. Maria-da-iúca ficou no passado. Todo mundo já ouviu histórias de pessoas que viram Maria nos lugares mais improváveis — em tortilhas, rochas, paredes, formações de areia, o que você puder imaginar. Noticiários analisam como comunidades inteiras podem olhar para o sol e jurar que ele está dançando, e que isso é um sinal de que Maria está próxima. Outros tiram fotos Polaroid e insistem ver Maria nelas, mas especialistas dizem que o que eles estão mostrando

é a impressão interna da capa do filme. Todo mundo já ouviu falar das multidões em Lourdes, Fatima ou Medjugorje, mas poucos estão familiarizados com os milhares que se reuniram em Conyers, na Geórgia, na esperança de ver Maria (a qual, dizem, tem feito revelações lá) ou pelo menos o cheiro de rosas, outro sinal claro de que Maria apareceu.

A mesma editora tão intensamente envolvida no atual movimento para promover a definição de Maria como corredentora — Queenship Publishing Company of Santa Barbara — também publica uma série de livros intitulada I Am Your Jesus of Mercy [Sou seu Jesus de misericórdia]. Esses livros são uma coleção de palavras de Maria ditadas a Gianna TaloneSullivan, normalmente durante o rosário de quinta-feira à noite, na igreja paroquial Saint Maria Goretti, Scottsdale, Arizona. Psicógrafos semelhantes estão produzindo um vasto corpo de escritos, todos afirmando serem mensagens de Maria.

Para a maioria de nós, histórias como esta nos parecem representativas de simples excessos de devoção, ou ilusão em massa, ou histeria, ou algo assim. Mas há razões pelas quais esse tipo de coisa acontece. O que faz com que Maria esteja nos pensamentos de uma mulher a ponto de ela pensar vê-la numa iúca ao andar na rua? Por que uma paroquiana de uma igreja em Scottsdale acreditaria estar recebendo notícias de Maria? Há uma razão pela qual Maria assumiu um papel tão proeminente na vida cotidiana dos católicos romanos.

Uma questão importante

A devoção e o ensino marianos estão tão distantes da maioria dos protestantes, que estes consideram toda a questão como uma mera superstição católica romana, uma das indicações mais claras de como os “católicos acreditam em todo tipo de coisas não encontradas na Bíblia”. Até mesmo os convertidos

ao catolicismo romano admitem que os ensinamentos relativos a Maria são os últimos obstáculos a superar — obstáculos estes que precisam ser sobrepujados antes de abraçar a autoridade final da Igreja infalível. Karl Keating, presidente da Catholic Answers, uma organização apologética católica romana, escreve sobre a ideia de que Maria coopera não apenas na morte expiatória de Cristo, mas na distribuição das graças que dela fluem:

Na prática, este tipo de doutrina é uma das últimas a serem aceitas por alguém que se aproxima da Igreja, especialmente por quem vem do fundamentalismo; a doutrina é, por fim, aceita com base na autoridade da Igreja, não com base em referências bíblicas claras. Os fundamentalistas, sempre em busca de uma citação bíblica, não veem razão para aceitar a crença em Maria como Medianeira de todas as graças, mas podem, caso se esforcem, chegar à conclusão de que, pelo menos, não há nada nessa doutrina que contradiga o papel de Cristo como o único Mediador. Seu papel como Mediador não foi diminuído pelo fato de Maria ter sido autorizada a ajudá-lo.3

É de vital importância atentar para a afirmação de Keating de que a doutrina que considera Maria medianeira (o feminino de mediador) não compromete, por si só, a singularidade do papel de Jesus como o único Mediador. O catolicismo romano afirma, repetidamente, que nada do que ele ensina sobre Maria, de qualquer forma ou formato, prejudica, contradiz ou de algum modo prejudica a obra ou posição única de Cristo. Nenhuma discussão sobre a atual controvérsia, ou qualquer outra doutrina ensinada por Roma a respeito de Maria, pode ser honesta e franca sem admitir, desde o início, que Roma diz que ela não está, de modo algum,

3 Karl Keating, Catholicism and Fundamentalism: The Attack on “Romanism” by “Bible Christians” (San Francisco: Ignatius Press, 1988), p. 279.

comprometendo a singularidade de Cristo ou a sua adoração adequada. Esta afirmação é repetida inúmeras vezes em todos os documentos católicos romanos, oficiais e não oficiais, que apresentam os seus pontos de vista sobre Maria. A questão, então, ao considerar qualquer um dos muitos ensinamentos que Roma promulgou sobre Maria, não é se Roma afirma estar diminuindo a adoração legítima de Cristo (o que seria totalmente falso), mas se esses ensinamentos comprometem a singularidade de Cristo, apesar das alegações de Roma em contrário. Isto é, quando Roma diz: “Esta doutrina de maneira alguma interfere nos privilégios únicos e na adoração de Cristo”, será essa afirmação, por si só, verdadeira? O fato de a singularidade de Cristo estar sendo negada e comprometida deveria ser uma questão muito importante para todos os cristãos.

O movimento atual para definir Maria como corredentora, medianeira e advogada do povo de Deus é apenas a pedra angular de uma teologia que evoluiu e cresceu por quase 1.800 anos. Simplesmente não é possível compreender com precisão o debate atual sem saber como é que chegamos a considerar tais ideias. Isto significa que devemos começar olhando para o que Roma ensinou no passado e como tudo isto constitui a base da atual controvérsia.

Por que deveríamos reservar um tempo para entender esse tópico com precisão? Como protestante, você pode se perguntar por que deveria investir tempo e esforço para compreender um dogma cristão proposto que não irá, de modo algum, impactá-lo, uma vez que você não aceita a autoridade da Igreja Romana. Para aqueles que têm familiares na comunhão romana, a relevância torna-se muito mais clara.

Novamente, para todo aquele preocupado com a verdade, por que este assunto é tão importante?

MARIA

Na atualidade, há muitas vozes fortes na Igreja Católica que apelam para o “diálogo ecumênico” e a cooperação. O atual Pontífice,4 ele próprio um forte defensor da devoção e do ensino mariano, é ao mesmo tempo uma figura pública tremendamente popular, que suscita emoções muito positivas mesmo nas congregações protestantes. Em nosso contexto moderno — no qual a verdade não é absoluta, mas definida por cada pessoa como ela achar melhor —, a ideia de que aquilo que Roma ensina como dogma (ou seja, algo que é definidor e em que se deve acreditar) é excessivamente importante pode parecer um pouco antiquado. Contudo, para aquele que crê na Bíblia e procura viver de modo a honrar a Deus, as questões dogmáticas não podem ser tão facilmente descartadas. O catolicismo romano diz que estas doutrinas não são apenas provavelmente verdadeiras: elas são verdadeiras, sem sombra de dúvida. Além disso, estes ensinamentos, e a atualmente esperada definição de Maria como corredentora, são considerados parte integrante da revelação de Deus. Isto é, Roma afirma que estes ensinamentos fazem parte da fé cristã, e, se não abraçarmos tais doutrinas, não teremos a plenitude da fé cristã. Aqueles que desejam seguir a Cristo de todo o coração e viver à luz da verdade têm motivos suficientes para examinar e ver se, de fato, essas doutrinas são verdadeiras. Finalmente, para quem deseja examinar as reivindicações de Roma relativas à insuficiência da Bíblia e à necessidade de haver um Magistério (autoridade de ensino) infalível, as doutrinas marianas são o caso de teste por excelência. Isto é, tais são as doutrinas que Roma declarou verdadeiras com base em sua “Sagrada Tradição”. No entanto, quando examinamos estes ensinamentos, invariavelmente descobrimos que a maior

4 À época da edição original deste livro (1998), João Paulo II. [N.E.]

parte dos cristãos mais primitivos não acreditavam neles, e que além disso eles estão ausentes do texto das Escrituras. Assim, descobrimos que, embora Roma possa alegar que está agindo de acordo com uma tradição antiga, a realidade é que ela é sua própria autoridade final, mesmo quando se trata de determinar, com alegada infalibilidade, os próprios limites da verdade cristã.5

É nossa intenção permitir que Roma defina suas próprias crenças. Ou seja, os documentos da Igreja e os escritores católicos romanos fornecerão a principal apresentação em defesa das doutrinas relativas a Maria. Acredito firmemente que é importante permitir que Roma fale por si mesma, especialmente em relação às doutrinas marianas. Algumas das crenças são tão estranhas aos protestantes, que, se eu simplesmente relatasse essas crenças, alguns pensariam que estou deturpando o sistema romano. Portanto, optei por citar extensivamente fontes católicas romanas e permitir que as palavras falem por si.

Precisamos começar definindo as doutrinas relativas à Virgem Maria que lançaram as bases para a atual controvérsia. Primeiro, vamos parar um momento para analisar as Escrituras em busca da verdade sobre quem Maria foi e é, antes de entrarmos na história da Igreja e em como essas crenças se desenvolveram.

5 Para uma discussão sobre a questão da suficiência das Escrituras, o conceito de “tradição”, veja os capítulos 5 a 8 de James White, Controvérsia católica: Uma análise bíblica das doutrinas do catolicismo romano (Rio de Janeiro: Pro Nobis, 2024), bem como as passagens relevantes em Sola Scriptura: the Protestant Position on the Bible (Morgan, PA: Soli Deo Gloria Publishers, 1995).

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