da feminilidade
Antes de pensarmos em aconselhar uma mulher, devemos entendê-la bem. Uma parte importante na compreensão das mulheres é saber quem Deus a criou para ser: sua singularidade como portadora da imagem de um Deus perfeito e santo. Devemos conhecer tanto suas características universais (o que é verdade para todas as mulheres) quanto específicas (sua situação única). Devemos ainda ter um ponto de referência adequado ao buscar entendê-la como pecadora, sofredora e santa.
Este capítulo percorre Gênesis 1 e 2, analisando os principais componentes de que cada mulher foi criada para ser. Muito será extraído de verdades universais sobre homens e mulheres. Os homens e as mulheres têm muito em comum. Contudo, as mulheres também são únicas: elas têm papéis diferentes e tendências distintas. Exploraremos essas áreas de sobreposição e distinção em nossa discussão a seguir, tecendo algumas conexões com a prática do aconselhamento.
Gênesis 1.26-31; 2.7, 20, 23-25
Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,1 conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre
1 Aqui, a palavra “homem” em hebraico denota seres humanos, não apenas pessoas do sexo masculino.
A mulher como Deus a fez: Uma teologia da feminilidade
todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra. E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento. E a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E assim se fez. Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia.
[…] Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.
[…] Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea.
[…] E disse o homem [após a criação de Eva]: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne. Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam.
A mulher como Deus A fez
Mulheres como seres criados (Gn 1.26)
Depois que Deus criou a terra e todas as outras criaturas, no sexto dia ele criou o homem e a mulher. Este é um ponto que não devemos perder: somos seres criados. Nós não criamos a nós mesmos; foi nosso Deus Criador quem intencionalmente se propôs a nos criar. Dessa realidade vêm duas verdades importantes.
Primeiro, a criação do homem e da mulher foi planejada. Foi intencional. Deus não estava respondendo a alguma falta em sua criação, mas determinou que seria bom que houvesse pessoas como ele (mais sobre isso a seguir). Não somos uma reflexão tardia para Deus, e sim planejados e feitos com propósito.
Em segundo lugar, como seres criados, somos dependentes de Deus. Ele define nosso propósito, nossos papéis e nossas funções e detém autoridade
Mulheres como nosso Criador sobre cada uma dessas coisas. Toda a Escritura aponta para a necessidade humana por Deus para tudo: alimentos, trabalho, propagação da espécie, libertação do pecado e da morte e, finalmente, recriação de volta ao que Deus havia originalmente estabelecido. O homem e toda a criação são totalmente dependentes de Deus para a continuação da vida (1Tm 6.13).
Essa realidade era verdadeira no jardim mesmo antes da queda; não é o resultado do pecado. Os primeiros cinco dias da obra de criação de Deus mostram do que os humanos precisavam para sobreviver, tudo o que veio de Deus. Mesmo no jardim, Deus providenciou alimentos, companheirismo, oportunidades para exercer domínio e a capacidade de gerar filhos e continuar o crescimento da comunidade.
O Salmo 139 é um comentário útil, que ensina uma importante lição relacionada com os humanos como seres criados: somos intimamente conectados com Deus e conhecidos por ele. Pelo próprio ato de sermos criados por ele, também somos conhecidos por ele. Ele nos teceu no ventre de nossa mãe (Sl 139.13, NAA) e nos conheceu quando estávamos sendo formados no oculto (v. 15). Ele sabe tudo sobre nós, precisamente porque nos criou.
Como conselheiras, vemos que é imperativo reconhecer que o aconselhamento não pode ser feito independentemente do Criador. Devemos reconhecer as pessoas humanas como seres dependentes, em vez de independentes e autodirigidos, para não correr o risco de acreditar que somos as únicas capazes de discernir a necessidade de mudança e capazes, por nós mesmas, de nos movermos em direção a essa mudança. Ao reconhecer nosso Criador, estabelecemos que dependemos totalmente dele para determinar nossa necessidade de mudança e de força para realizá-la. Devemos reconhecer que somos intimamente conhecidas e conectadas ao nosso Criador.
Mulheres como possuidoras de domínio (Gn 1.26, 28)
Tanto em Gênesis 1.26 quanto 28, Deus diz que as pessoas devem “dominar” sua criação. O primeiro exemplo vem logo depois, quando Adão tem a tarefa de nomear os animais. Contudo, é importante observar que se trata de um domínio delegado; os seres humanos não têm domínio absoluto sobre a criação de Deus. Em vez disso, somos mordomos daquilo que Deus colocou sob nós, com grandes responsabilidades.
Além disso, homens e mulheres devem ter cuidado com a criação de Deus. Como o escritor de Gênesis observa em 2.15, devemos “cultivá-la e guardá-la”. Toda a criação, desde a menor formiga até a criança mais preciosa, deve ser importante para nós. Devemos proteger e cultivar a criação de Deus para ajudá-la a funcionar como foi criada para funcionar, em vez de esbanjá-la ou fazer mau uso dela. Deve florescer como aconteceu com Adão e Eva.
Ao ter domínio, devemos tratar a criação como Deus trataria; devemos agir como seus representantes na terra. Quando exercemos poder sobre a criação, devemos refletir o caráter de Deus. Em Lucas 12, vemos uma imagem de como Deus cuida de sua criação: ele alimenta as aves do céu e veste a erva, embora sejam temporais e logo passem. Ele cuida até do menor de sua criação, das partes que podemos descartar sem preocupação. Como seus representantes, devemos cuidar de sua criação como ele cuida, trabalhando para que ela floresça. Isso vem com grande recompensa, mas também com grande responsabilidade.
Mulheres como portadoras da imagem de Deus (Gn 1.26-27)
Três vezes nesses dois versículos, a Bíblia diz que Deus criou a humanidade “à sua imagem”. Existem inúmeras interpretações do que significa “imagem de Deus”; uma definição simples indica que o homem e a mulher foram intencionalmente criados para serem como Deus e representá-lo na criação. Gênesis 1–3 indica várias maneiras pelas quais Adão e Eva possuíam a imagem de Deus:
• Eles foram delegados para ter domínio sobre a criação de Deus (1.26), começando com Adão dando nome aos animais (2.19);
• Eles foram instruídos a frutificar e se multiplicar (1.28; 4.1-2), assim como Deus aumentou sua família e comunidade ao criar um homem e uma mulher;
• Eles tinham um espírito (2.7);
• Eles tinham escolhas a fazer (2.15-17; 3.6);
• Eles foram criados em relacionamento com Deus e uns com os outros (2.18-23; 3.8);
• Eles não tinham vergonha, pois eram santos e sem pecado antes da queda (2.25);
Somente os seres humanos carregam a imagem de Deus. Somos distintos do restante da criação de Deus, feitos intencionalmente por ele para um propósito específico. Isso significa, primeiro, que estamos inescapavelmente ligados a Deus; qualquer conversa sobre uma pessoa é insuficiente se não conseguir entendê-la considerando o seu Criador. Portanto, a principal preocupação que devemos ter com nossa aconselhada é a vitalidade de seu relacionamento com Deus. Em segundo lugar, visto que cada pessoa carrega a imagem do Deus Altíssimo, toda aconselhada deve ser tratada com dignidade, honra e respeito. Independentemente da raça, idade, sexo, status ou capacidade, devemos valorizar muito cada pessoa e falar com ela levando isso em consideração (Tg 3.9). Terceiro, uma violação contra uma portadora da imagem de Deus é uma violação contra o Criador (Gn 9.6). Como conselheiras, ouviremos sobre tremendas violações contra as pessoas; lamentaremos essas ofensas, em parte porque são violações contra aquele que criou os portadores da imagem de Deus.
Mulheres como femininas (Gn 1.27)
Este texto em Gênesis observa alguns aspectos que distinguem o homem da mulher. Primeiro, Deus pretendia criar a distinção e o fez com base em sua perfeita sabedoria. Gênesis 1.27 diz especificamente que Deus os fez “homem e mulher”. Nossa observação da sociedade afirma essa realidade. Deus estabeleceu as diferenças nos gêneros. Foi proposital. Como Criador, Deus exerceu sua autoridade sobre a organização de sua criação para criar uma distinção entre os portadores da imagem que criou.
O texto observa que as mulheres foram criadas para serem como os homens e, ao mesmo tempo, diferentes deles. Gênesis 2.20 diz que “não se achava uma auxiliadora que fosse semelhante a ele” (NAA, grifo nosso). Ao contrário dos animais, Adão estava sozinho; não havia outros como ele. Deus então considerou (não foi a afirmação de Adão) que “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). Assim como Deus possuía um relacionamento consigo mesmo na Trindade, o homem deveria existir com outros como ele. Logo, Deus criou outra pessoa para “ser semelhante” a Adão, e, embora fossem bastante parecidos, a realidade de que Deus criou as mulheres como distintas dos homens não deve ser ignorada. Homens e mulheres têm muitos propósitos idênticos, como amar a Deus e ser portadores de sua imagem em sua criação. Eles também têm papéis e funções distintas;
A mulher como Deus a fez: Uma teologia da feminilidade
por exemplo, o papel das mulheres como auxiliadoras, que exploraremos mais adiante neste capítulo. Estas distinções devem ser enaltecidas.
Em nossa sociedade ocidental atual, ocorreram várias distorções da distinção homem-mulher. Embora homens e mulheres tenham sido criados iguais perante Deus (Gl 3.28; 1Co 12.13), seus papéis são distintos.2 Não há necessidade de competição entre homem e mulher; deve haver cooperação entre eles. E devemos manter as distinções dadas por Deus, até mesmo as distinções biológicas, porque foi o Deus sábio e cheio de autoridade quem as estabeleceu.
Mulheres como abençoadas (Gn 1.28)
Logo antes de Deus dar ao homem e à mulher seu primeiro mandamento, Gênesis 1.28 diz simplesmente: “Deus os abençoou”. O que isso significa? Só em Gênesis, a ideia de “bênção” é repetida várias vezes (por exemplo, a Noé e a Abraão). Muitas vezes, associamos bênção à ideia de prosperidade; isso é um tanto correto, mas incompleto.
Encontramos pistas no texto de Gênesis sobre o que significa ser abençoado por Deus; imediatamente após a declaração de que os abençoou, Deus ordena: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a”.
A bênção de Deus é que o homem e a mulher possam viver seus propósitos dados por Deus e florescer dentro da criação dele. Primeiro, ele ordena que sejam fecundos; não se trata apenas de reprodução biológica, mas de um mandamento para amadurecer, para dar frutos. Eles devem crescer como seres humanos em relação a Deus, uns aos outros e à sua criação, produzindo frutos em cada uma dessas áreas. Em segundo lugar, ele os ordena a “se multiplicar, encher a terra”. Embora um entendimento simples desse comando seja que ele se refere a um processo biológico (ou seja, ter filhos), a maior parte dos estudiosos afirma que também existe um significado espiritual. Em sua Grande Comissão (Mt 28.19-20), Jesus instruiu seus discípulos a se multiplicarem espiritualmente, trazendo outros à frutificação com Deus. Por último, Deus ordena que o homem e a mulher subjuguem a terra, tendo domínio sobre ela.
2 Papéis como Deus os estabeleceu nas Escrituras, não necessariamente como a cultura os define.
Mulheres
Fazendo tudo isso, os humanos serão abençoados com a plenitude do que precisam na presença de Deus e em sua criação. As mulheres participam dessa bênção, mesmo após a queda. À medida que cumprimos os propósitos de Deus para nossa vida — frutificar, multiplicar e dominar a terra —, florescemos e somos abençoadas.
Mulheres como multiplicadoras (Gn 1.28)
Muitas vezes, há confusão ou mal-entendido em torno da ideia das mulheres como multiplicadoras. Existe uma realidade biológica de que devemos multiplicar para sustentar a humanidade, mas o conceito de multiplicação significa muito mais do que isso. As mulheres (ao lado dos homens), biologicamente, geram filhos e podem se multiplicar fisicamente. Uma mulher contribui muito para a multiplicação da humanidade: é uma tarefa e tanto gerar e criar filhos.
Todavia, vemos uma mudança importante acontecer nas Escrituras do Antigo para o Novo Testamento que expõe essa ideia de multiplicação. No Antigo Testamento, o conceito de “família” era essencialmente biológico ou cultural (ou seja, pertencer a Israel e, portanto, a Deus). Contudo, no Novo Testamento, termos como “irmão”, “irmã”, “pai” e “mãe” representam principalmente a família espiritual de alguém. Depois de Cristo, o foco passa a ser a família de Deus, e não a família do homem. Isso não quer dizer que a família biológica não seja mais importante — existem inúmeros mandamentos indicando que devemos cuidar da própria família —, mas a imagem da igreja primitiva, particularmente em Atos e nos ensinamentos de Paulo, nos dá uma ideia diferente de multiplicação. Combine isso com o comando em Mateus 28.19 para “ir e fazer discípulos”, e nossa ideia de multiplicação é expandida.
Embora a responsabilidade de se multiplicar certamente recaia sobre homens e mulheres, na prática isso parece um pouco diferente para as mulheres. Por exemplo, mulheres e homens têm diferentes papéis como mãe e pai. Contudo, os papéis também parecem distintos dentro da igreja. As mulheres certamente podem ministrar e compartilhar o evangelho com os homens, mas há instruções claras de que as mulheres devem, no mínimo, ministrar a outras mulheres (Tt 2.3-5). Sua conexão por gênero, que inclui seus papéis e lutas comuns, é relevante.
como
Mulheres como uma criação muito boa (Gn 1.31)
Em Gênesis 1.31, somos informados de que “Deus viu tudo quanto fizera [incluindo a mulher], e eis que era muito bom”. A criação de Deus, naquele momento, era perfeita e completa. Tudo foi como deveria ser; tudo, inclusive a mulher, estava em paz com Deus e vivendo de maneira alinhada com seus propósitos. Não havia pecado.
Este versículo contrasta levemente com os versículos paralelos anteriores (vv. 4, 12, 21 e 25), nos quais Deus declarou que o que havia criado era “bom”. Aqui, ele usa o termo “muito bom”. A criação do homem e da mulher foi além do restante de sua criação, pois o homem e a mulher carregavam sua imagem. Eles refletiam seu Criador de uma maneira única.
A criação foi boa porque o Criador era bom. Deus criou, de maneira perfeita, o que desejava criar de modo a refletir sua própria bondade.
Ao final desses seis dias, ao criar o homem e a mulher, tudo estava impecável. Como Deus, era sem erro. A mulher, com o restante do que Deus havia feito, era linda, funcionava perfeitamente, tinha propósito e potencial. Era como deveria ser: muito boa.
Mulheres como seres físicos e não físicos (Gn 2.7)
Gênesis 2 conta mais sobre Adão e Eva e como eles foram criados: “Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7).
Neste momento, Deus forma fisicamente o corpo de Adão a partir de uma substância física (a terra) e sopra vida (espírito) em seu corpo formado. O termo hebraico usado aqui para soprar, ruach, é a mesma palavra usada para espírito em outros lugares em Gênesis (como Gn 1.2). Em outras palavras, uma vez que Deus formou o corpo de Adão, ele “injetou espírito”, vida, nele. Adão tinha vida que era tanto corpo (físico) quanto alma/espírito (não físico), e Eva foi feita para ser como Adão.
Há abundante ensinamento bíblico demonstrando essa dualidade,3 e as implicações são significativas. Como mulheres, e especialmente como conselheiras, devemos reconhecer a dupla natureza das mulheres ao nosso redor. Cada mulher tem um corpo físico que impacta sua realidade: ela está
3 Salmo 139.13-15; Eclesiastes 11.5; 12.7; Mateus 10.28; 1Coríntios 9.27; 2Coríntios 4.16.
Mulheres fisicamente amarrada, talvez com limitações físicas, e seu corpo pode ser usado como um instrumento de justiça ou injustiça (Rm 6.12-13).
No entanto, cada mulher com a qual nos deparamos também tem uma alma/espírito. Isso define muito de quem ela é; as Escrituras nos dizem que sua alma/espírito dirige o que ela faz: seu coração, sua mente, suas emoções, seus pensamentos e suas escolhas. Como conselheiras, é vital entendermos esses aspectos não físicos de quem ela é.
Além disso, sabemos que o coração e o corpo estão intrinsecamente conectados: um afeta o outro. Por exemplo, uma doença física ou limitação de desenvolvimento tem o potencial de impactar (embora não causar) as escolhas que são feitas. Ao mesmo tempo, lutas internas, como a ansiedade, podem ter manifestações físicas como a dor ou a taquicardia. Além disso, nossos comportamentos (físicos) vêm do que está em nosso coração (não físico).4
As mulheres de quem cuidamos são seres holísticos, e devemos tratá-las como tais. Não devemos negligenciar seu corpo nem sua alma. Ao considerar muitas das lutas discutidas mais adiante neste livro, veremos que o cuidado com as mulheres deve ser de natureza holística, abordando o pecado e seus efeitos na pessoa como um todo, não apenas em uma parte dela.
Mulheres como auxiliadoras (Gn 2.18-23)
Gênesis 2 nos dá uma imagem de Deus criando a mulher depois do homem, e em particular as suas razões para fazê-lo. Gênesis 2.20 nos diz: “O homem deu nome a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selvagens; mas para o homem não se achava uma auxiliadora que fosse semelhante a ele” (NAA). Posteriormente, Deus faz Adão adormecer, pega uma de suas costelas e forma Eva para ser aquela auxiliadora. Ela foi criada, em grande parte, para desempenhar um papel ao lado do marido.
Em muitos aspectos, Eva foi criada para ser como Adão (portadora da imagem de Deus, relacional, tendo domínio, etc.), mas foi criada de maneira diferente e para cumprir um papel distinto. Adão foi ordenado a trabalhar a terra e cuidar dela (Gn 2.15). Contudo, no versículo 18, Deus
4 Lucas 6.45.
diz: “Farei para ele uma auxiliadora que seja semelhante a ele” (NAA). Esta nova criação, Eva, era semelhante a Adão, no sentido de que era como ele, mas Deus diz que ela é a auxiliadora. Ela deve acompanhá-lo e ajudá-lo a cumprir a ordem que Deus lhe deu. Esta é uma nuance sutil, talvez, mas significativa. Ser uma auxiliadora é uma parte importante de quem as mulheres foram criadas para ser, mas não tudo. Além disso, tornar-se uma auxiliadora nos ensina algo muito importante: devemos ser tanto ouvintes quanto praticantes. Não ouvimos a Palavra de Deus simplesmente e não fazemos nada; fomos criados para responder em obediência, para fazer o que ele nos instruiu a fazer.
Mulheres no contexto dos relacionamentos (Gn 2.23-24)
Como portadores da imagem de Deus, também fomos criados para nos relacionarmos. Fomos criados em um relacionamento vertical com Deus, mas também existimos em um relacionamento horizontal com outras pessoas. Os relacionamentos de uma mulher, tanto no casamento quanto com outras pessoas, devem espelhar o relacionamento que sempre existiu entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Se ela é uma mulher cristã, seu relacionamento matrimonial também deve espelhar Cristo e a igreja (Ef 5.30-32); sua família deve ser uma figura de sua própria adoção na família de Deus (Ef 1.3-6).
Ao criar o homem e a mulher, Deus viu que, assim como ele existia em um relacionamento horizontal consigo mesmo, as pessoas também deveriam existir. Portanto, Deus criou Eva para formar uma comunidade entre os portadores da imagem dele.
Como esse aspecto relacional direciona nosso aconselhamento? Primeiro, fomos criados para expressar amor em nossos relacionamentos verticais e horizontais. Acima de tudo, devemos amar a Deus, mas também devemos amar nosso próximo (Mt 22.35-40) — os dois maiores mandamentos. Como portadores da imagem do Senhor, não apenas fomos criados para existir em relacionamento, mas devemos refletir nosso Criador em nossos relacionamentos. Em segundo lugar, devemos entender a importância dos relacionamentos que nossas aconselhadas têm com outras pessoas. Ninguém vive isolado em uma ilha; os relacionamentos de nossas aconselhadas têm um impacto real sobre elas. Devemos buscar entender o contexto relacional da aconselhada, tanto com Deus quanto com outras pessoas
Mulheres (casamento, família, comunidade, etc.). Em terceiro lugar, devemos prestar atenção ao nosso relacionamento com nossas aconselhadas dentro da sala de aconselhamento. A maneira como nos relacionamos com elas e elas se relacionam conosco são dinâmicas vitais no processo de aconselhamento.
Mulheres sem pecado nem vergonha (Gn 2.25)
Gênesis 2.25 nos diz algo de extrema importância acerca da criação de homens e mulheres por Deus: “Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam”. Adão e Eva foram criados perfeitos, completos e em paz com o restante da criação de Deus. Embora a capacidade para o pecado estivesse presente e logo fosse percebida, o pecado ainda não havia entrado no mundo. Não havia embaraço, vergonha e medo. Tudo era como deveria ser.
Essa perfeição durou pouco. Adão e Eva não permaneceram sem pecado por muito tempo. Quando sua desobediência os levou a perceber que estavam nus, eles fugiram de Deus e se cobriram (Gn 3.7-8). O relacionamento deles com Deus mudou para sempre, em detrimento deles. (O Capítulo 2 explorará o pecado com maior profundidade.)
No entanto, também sabemos que um dia a restauração chegará. Ele fará novas todas as coisas (Ap 21.5). Ansiamos pelo dia em que essa restauração chegará. Por enquanto, nós e nossas aconselhadas vivemos sob a realidade do pecado e da vergonha. Deparamo-nos com as consequências reais do pecado enquanto esperamos a redenção, daí a nossa necessidade de conselho da Palavra de Deus, assim como Adão e Eva precisaram e receberam conselhos de Deus.
Mulheres como indivíduos
Gênesis 1 e 2 nos dão uma imagem de Deus criando apenas um homem e uma mulher. Outro aspecto fundamental da feminilidade deve ser considerado: ela é única. Não há duas mulheres iguais, assim como Adão e Eva não eram iguais. Embora todas as mulheres compartilhem as características listadas previamente, existe além disso uma grande diversidade. Toda mulher tem sua própria família e relacionamentos, suas próprias realidades culturais e suas próprias experiências de vida. Ela é única.
Como conselheiras de mulheres, devemos reconhecer a singularidade de cada aconselhada. Devemos amar, ouvir, aprender e trabalhar ao seu
A mulher como Deus a fez: Uma teologia da feminilidade
lado (mais sobre isso no Capítulo 5), em vez de liderar com base apenas em sua luta. Assim como Jesus procurou conhecer e responder a cada pessoa com a qual se deparou, devemos reconhecer as necessidades exclusivas de cada mulher que chega até nós. Ela é singular, e devemos tratá-la como tal. Enquanto conselheiras, aconselhamos pessoas: mulheres feitas exclusivamente à imagem de Deus, criadas para ter domínio sobre a criação de Deus, feitas de corpo e alma, e com múltiplos papéis (auxiliadora, multiplicadora e no contexto de relacionamentos). Cada um destes é importante para o aconselhamento, e não devemos considerar uma mulher apenas por seus problemas ou lutas. Devemos primeiro considerá-la como ela foi criada para ser. Somente quando entendermos quem ela é, poderemos entender corretamente sua luta e o que a Palavra de Deus diz sobre esses conflitos.