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Como ser biblicamente fiel e culturalmente relevante
Como ser biblicamente fiel e culturalmente relevante
Pregação na pós-modernidade: Como ser biblicamente fiel e culturalmente relevante
Traduzido do original em inglês: Preaching to a Post-Everything World
Copyright © 2008 Zack Eswine
Publicado originamente por Baker Books
uma divisão da Baker Publishing Group
P.O. Box 6287, Grand Rapids, MI 49516-6287 www.bakerbooks.com
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por PRO NOBIS EDITORA
Rua Professor Saldanha 110, Lagoa, Rio de Janeiro-RJ, 22.461-220
1ª edição: 2023
ISBN: 978-65-81489-39-7
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo citações breves, com indicação da fonte.
Gerência editorial
Judiclay Silva Santos
Conselho editorial
Judiclay Santos
David Bledsoe
Paulo Valle
Gilson Santos
Leandro Peixoto
Tradução: Maiza Ritomy (Prefácio ao Capítulo 4), Gabriel Lago (Capítulo 5 aos Apêndices)
Preparação de texto: Cesare Turazzi
Revisão de provas: Cinthia Turazzi
Capa: Filipe Ribeiro
Diagramação: Marcos Jundurian
Nesta obra, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA), salvo informação em contrário.
As opiniões representadas nesta obra são de inteira responsabilidade do autor e não necessariamente representam as opiniões e os posicionamentos da Pro Nobis Editora ou de sua equipe editorial.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Eswine, Zack
Pregação na pós-modernidade : como ser biblicamente fiel e culturalmente relevante / Zack Eswine; tradução Maiza Ritomy, Gabriel Lago. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Pro Nobis Editora, 2023.
Título original: Preaching to a post-everything world.
ISBN 978-65-81489-39-7
1. Cristianismo 2. Homilética 3. Pós-modernidade 4. Pregação I. Título.
23-170253
Índices para catálogo sistemático:
1. Pregação : Homilética : Cristianismo 251
Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253
CDD-251
Tel.: (21) 2527-5184
contato@pronobiseditora.com.br www.pronobiseditora.com.br
Para meu pai, que me ensina que as pessoas, a missão e o coração importam
Pregar é um deleite e um desafio. Duas partes “estou amando fazer isso” para três partes “isso é difícil demais”. Sim, ao mesmo tempo. E é assim em todas as eras. Nenhum pregador exerce seu ofício no vácuo. Somos uma bela amálgama de nossas histórias, nossas influências, nossos estudos. Pregamos e imitamos, pregamos e influenciamos, pregamos e, espera-se, crescemos no próprio processo. Um de meus incômodos enquanto professor de pregação é que, estranhamente, muitos pregadores param de estudar sobre homilética após terminarem sua formação de seminário. Até seguem estudando sobre aconselhamento, teologia, história e outros assuntos afins. Porém, é raro o pastor que, anos depois de ordenado, siga buscando crescer enquanto pregador. Isso é bem triste, ainda mais por termos enorme quantidade de material bem-feito e extremamente relevante para que continuemos avançando e nosso progresso seja evidente diante de todos (1Tm 4.15).
Ao longo da trajetória da igreja cristã, sempre foi preciso lidar com o desafio de entender o tempo, e como a mensagem eterna da Palavra de Deus se aplica a ele. Olhando para trás, podemos ver e aprender muito com nossos irmãos e sua pregação. Agostinho, Crisóstomo, Calvino, William Perkins, Jonathan Edwards e tantos outros nos ajudam a pregar melhor. Seja por analisarmos seus sermões, seja por nos debruçarmos sobre suas reflexões acerca da arte e do ofício da pregação. Mas eles não viveram em nosso tempo. Seus desafios eram diferentes dos nossos.
Vivemos num período extremamente ímpar em termos de usos e costumes. E isso nos traz obstáculos. Não é nada incomum que nós pregadores por vezes nos percebamos sem saber bem como pregar um trecho bíblico. Podemos até entender o que Paulo, Moisés, Davi ou Pedro disseram. Podemos ser hábeis na
exegese, podemos conversar com colegas ou comentaristas sobre a passagem. Entendemos bem o texto, sim. Mas como fazer com que aquela passagem obscura de 1Reis, aquele ensinamento difícil de 1Coríntios ou aquele belo e longínquo Salmo conversem com o nosso tempo? Especificamente, como trazer a velha e santa mensagem da cruz a esta era em que muitos tratam a religião como algo privativo? Em que a própria ideia de “verdade” é zombada?
Como pregar o texto antigo de forma que a pregação não seja apenas um exercício de comentário linguístico-teológico em algo do passado, mas uma aplicação viva e afiada da Palavra de Deus ao momento em que vivemos? Não queremos que nossos ouvintes escutem uma palestra sobre o que João, Ageu ou Jeremias disseram. Queremos que João, Ageu e Jeremias falem com nossos ouvintes contemporâneos sobre quem são e como vivem, e apontem para o Redentor, Jesus Cristo, enquanto fazem isso.
Creio que você, pregador, sabe como tudo isso é difícil.
Felizmente, não faltam excelentes reflexões sobre como podemos seguir fiéis ao texto bíblico ao mesmo tempo em que talhamos o sermão de maneira a responder aos anseios e objeções específicos de nosso tempo. Já tem uns bons anos que considero que este livro é um dos melhores nisso. Zack Eswine é capaz de combinar muito sabiamente clareza homilética com experiência prática. Ele traz muitos exemplos e propõe caminhos que são de abrir os olhos do pregador. Dentre os livros disponíveis para nos ajudar a pregar melhor, é com alegria que vejo que agora temos em português esta preciosidade. Eswine nos ajuda de uma maneira bastante específica. Como pregar de forma que as pessoas na famosa Era Secular possam entender? Como lidar com os corações no tempo e no espaço em que Deus nos colocou para viver?
Já utilizei muitos trechos deste livro em aulas e palestras, e sempre ansiei que ele viesse a ser publicado no Brasil. E esse dia chegou! Agora em língua portuguesa e em bela edição da Pro Nobis Editora, imagino que este livro venha a ser material de referência e leitura obrigatória em cursos de homilética. Ele será útil, inclusive, para muito mais gente do que apenas para os pregadores. Creio que todo aquele que deseja pensar sobre como falar à geração em que o Senhor nos pôs para viver, e fazê-lo com clareza, terá grande proveito nesta obra.
Emilio Garofalo Neto, ago. 2023Quando o movimento de pregação centrada em Cristo começou a brotar do cultivo de homens como Geerhardus Vos, Edmund Clowney, Sidney Greidanus, John Sanderson, Willem VanGemeren, Gerard Van Groningen, Palmer Robertson e Vern Poythress, logo surgiram preocupações em relação à ênfase do movimento. Críticos alegaram que a pregação consistente da obra redentora de Deus levaria a uma fé totalmente focada na salvação pessoal. Os medos cresceram como ervas daninhas, alegando que graça demais reforçaria o egocentrismo evidenciado no atual consumismo e nominalismo do mundo evangélico.
Sem dúvida, é correto desafiar qualquer versão do cristianismo que reduza a fé a uma afirmação simplista: “Agora, sim, Jesus e eu estamos bem”. A graça certamente torna essa afirmação verdadeira, mas este não reflete a extensão da nossa fé ou os objetivos do cristão. Dado que a graça nos une a Cristo, sua justiça é nossa, bem como seu poder e seus desígnios. Agora somos seres eternos com um propósito divino — o propósito de Cristo. Ele pretende que seu reino alcance as nações e restaure a criação.
Neste livro, Zack Eswine nos lembra de que, antes de nosso chamado para pregar, fomos chamados a Cristo. Pregamos como pessoas que têm um testemunho pessoal da graça de Cristo. O Dr. Eswine demonstra formidavelmente que, por estarmos unidos a Cristo por sua graça, vamos ao encontro das prioridades do coração de Jesus. Somos redimidos para refletir nosso Salvador. Somos chamados a ser espelhos de sua glória por sua graça. Por estarmos em união com ele, devemos nos unir à grande história de redenção do evangelho, para a qual Cristo veio ao
Prefácio: Graça como cosmovisão
mundo. Isso não significa somente que a graça nos leva a refletir a santidade de Cristo, mas que também nos motiva e nos capacita a refletir sua misericórdia para com os pobres, seu cuidado com a criação, seu zelo pela justiça, seu deleite na beleza, seu amor pelo que não é amável, sua dignidade em todos os tipos de trabalho em que dons são exercidos, seu apreço pela castidade fora do casamento, sua bênção à fidelidade matrimonial, sua ternura para com “o menor de todos” e seu amor pelos perdidos que ainda não encontraram lar nele próprio.
Consequentemente, pregadores sobem ao púlpito com uma herança missionária. Eles estão livres para sempre da condenação da lei, mas também são servos voluntários da lei do amor de Cristo — presos não pela culpa ou intimidação, mas pelo desejo irresistível de promover a causa daquele que comprou a eternidade deles unicamente com seu sangue. O Dr. Eswine nos lembra de que a homilética de um pregador deve refletir o coração missionário que esta graça estabelece. A direção missionária da graça de Cristo mina noções de antítese que, às vezes, erigimos entre a pregação bíblica e o alcance ao não cristão. Com um coração sincero e uma preocupação bíblica, o Dr. Eswine ajuda a próxima geração de pregadores a se mover em direção às prioridades missionárias com os recursos bíblicos que Deus proveu.
Aqueles que se valem da graça para desculpar a licenciosidade ou justificar a autoindulgência nunca entenderam de fato a verdade de que estamos unidos ao Senhor, que está avançando seu reino em toda a terra, por seu povo e para sua igreja. A graça remove para sempre o perigo do julgamento de Cristo, mas não nos liberta dos deveres missionários que provêm do amor de Cristo por nós mesmos, por nosso próximo e pelo mundo.
Bryan Chapell, presidente do Covenant Theological SeminaryTenho a alegria de ter a amizade de meus colegas do corpo docente do Covenant Theological Seminary, e ser mentoreado e fortalecido por eles. O encorajamento deste corpo de líderes é um tesouro e um meio de graça diário de Deus para mim. À luz desse projeto, sou particularmente grato a Don Guthrie por uma conversa na cozinha que ampliou o escopo deste livro. Meus colegas de seminário Bryan Chapell, Jack Collins, Robert Peterson, Jay Sklar e Bob Vasholz gentilmente leram partes desta obra. Sua sabedoria e conselhos me foram inestimáveis.
Também quero agradecer aos meus alunos da disciplina de pregação filosófica e homilética avançada, que, durante a primavera e o outono de 2006, me ajudaram a crescer enquanto eu tentava aprender a comunicar o que agora se tornou o conteúdo deste livro. Sou particularmente grato pelo feedback regular de Stephen Leung e Philip Glassmeyer, e pelas conversas com Ryan Anderson. Sou grato pelos comentários dos colegas pastores Chris Harper, Glenn Hoburg, Brent Lauder, Scott Sauls, Richard Schwartz e Andrew Vandermaas. Agradeço também a Lori Hesterburg, que organizou as primeiras versões do esboço desta obra.
alcançando um mundo pós-moderno
Sentei-me em silêncio. Olhei pela janela. Esbocei estas linhas:
Para onde está virando esta estrada em que estou? Queria saber como cheguei aqui. Cheguei a esta curva com alarde ou sonhei e agora acordo confuso?
C. S. Lewis certa vez descreveu o que chamou de “a transição da aspiração sonhadora para o fazer laborioso”. Por essa transição Lewis referia-se à “frustração ou anticlímax” que Deus permite em todo empreendimento humano. “Isso ocorre”, diz Lewis, “quando o menino que foi encantado no berçário por A Odisseia contada às crianças se empenha para realmente aprender grego. Ocorre quando os amantes se casam e começam a real tarefa de aprender a viver juntos”.1
A transição ocorre quando o sonho entra em contato com a realidade. Quando o que um pregador anseia entra em contato com o que realmente é ou ocorre, uma transição o aguarda. Surgem curvas na estrada.
Eu era filho de mãe solteira que morava num condomínio de baixa renda. Eu tinha pouco contexto bíblico. Fumei aos cinco anos enquanto brincava com crianças mais velhas. Acho que, às vezes, brincarmos juntos era como nos
1 C. S. Lewis, The Screwtape Letters: How a Senior Devil Instructs a Junior Devil in the Art of Temptation (New York: Macmillan, 1977), p. 13. [Cartas de um diabo a seu aprendiz (Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017).]
cuidarmos mutuamente. Sou enteado de duas madrastas (uma que é minha amiga e mãe) e dois padrastos (um dos quais está com nosso Senhor). Sou irmão de quatro queridas meias-irmãs (uma das quais está com nosso Senhor) e três meios-irmãos, que raramente vejo. Minha família tentou se amar, mas muitas vezes nos machucamos com diversas formas de abuso ativo, negligência passiva ou tentativas sinceras de amar que não deram muito certo.
Isso foi antes. A graça de Deus há muito resgatou minha família das profundezas. Sou cristão, pastor, professor de seminário, e tenho me feito esta pergunta: eu conseguiria agora alcançar com o evangelho aquele que um dia eu já fui? Fazer essa pergunta expõe a pessoa à curva da estrada. Superfícies de desconforto. Resignação tentadora.
Todo pregador precisa fazer essa mesma pergunta. Todo pregador é um ser humano que já foi uma criança em fase de crescimento, cujas histórias são um misto de tragédias e triunfos. Todo pregador é um ser humano que deu respostas erradas, orou incorretamente, citou a Bíblia erroneamente, sonhou acordado e desejou coisas que agora envergonham ou machucam outras pessoas. E foi ali, daquele jeito e naquele meio, que Deus foi e nos encontrou. Qualquer coisa boa que possamos ter pregado tornou-se possível por meio de um testemunho prévio da misericórdia de Deus. Sonhamos em fazer a diferença. Todavia, e se a diferença for feita lembrando de onde estaríamos sem Deus e depois ministrando a outros com base nesse conhecimento? E se pregar exigir algo mais importante do que simples homilética?
O apóstolo Paulo constantemente lembrava seus ouvintes de onde eles estiveram. Referindo-se aos sexualmente imorais, idólatras, adúlteros, homossexuais, gananciosos e beberrões, o apóstolo diz: “Alguns de vocês eram assim” (1Co 6.11, NAA). Paulo também lembra a seus ouvintes de onde ele esteve (veja, por exemplo, Atos 22.1-11; Gálatas 1.13-17; Filipenses 3.5-6). Talvez seja por isso que ele nos exorta a não fugir dos não cristãos nem a julgá-los (1Co 5.9-13).
Afinal, que esperança teria tido Saulo de Tarso para com os membros da igreja se os seguidores de Cristo apenas o houvessem julgado ou se fechado? Ele não teria passado pela curva da estrada sem a misericórdia de Cristo demonstrada por meio de Ananias, da igreja de Damasco e de Barnabé (At 9.17, 19, 27).
Muitos pregadores de hoje reconhecem que um dos maiores desafios do ministério pastoral é “alcançar as pessoas com o evangelho no mundo de hoje”.2
Até que nos lembremos de que Deus nos atraiu para si e nos alimentou antes mesmo de sabermos onde encontrar o livro de Êxodo na Bíblia, ou antes de nomenclaturas como o arminianismo e o calvinismo sequer existirem, negaremos aos outros a mesma misericórdia de que precisamos até que aprendêssemos o que sabemos agora.
Considerando isso, a oração de muitos é que Deus levante uma geração de evangelistas expositivos; pregadores que entendam a exposição bíblica em termos missionários; pregadores cujos corações transbordem de amor por pecadores; pregadores que não descartem mais a exposição bíblica quando pensam em engajar a cultura; pregadores que não mais expõem a Bíblia com desrespeito pelas pessoas sem igreja ao seu redor.
É certo que, ao passar pela curva desta estrada, esse objetivo levanta uma questão antiga. Como alguém alcança as pessoas com o evangelho sem desfazê-lo?
Esta questão expôs cada geração de pregadores a águas turbulentas, e muitos naufragaram em sua fé na tentativa de atravessá-las. Ao longo deste livro, vamos nos lembrar de que navegar por essas águas exigirá nossa atenção a quatro cês: conteúdo, caráter, consciência e cultura.
Conteúdo refere-se à “fé” — fatos sobre Deus, pessoas, lugares e sobre si mesmo que Deus revelou em sua Palavra. Esse elemento doutrinário torna-se ainda mais importante à medida que buscamos equipar a pregação bíblica para o engajamento cultural.
Caráter nos lembra que “ensinar o que está de acordo com a sã doutrina” exige nossa atenção à maturidade relacional (Tt 2.1, NAA; ver também Tt 2.1-10). Remova o caráter do conteúdo e emergirá um conservadorismo inadequado. Remova o conteúdo do caráter e emergirá o liberalismo. Pregadores devem trazer para a cultura o conteúdo que a Bíblia apresenta com o caráter relacional que ela promove.
Consciência nos lembra que uma exposição sólida e uma contextualização criteriosa são necessárias, mas insuficientes. O funcionamento da consciência humana muitas vezes pode resistir a ambos. Nosso movimento terreno para engajar a cultura com o evangelho irá, paradoxalmente, requerer o movimento celestial do Espírito Santo. Conhecimento secular requer grande piedade.
Cultura expõe pressupostos que usamos para entender o conteúdo, o caráter e a consciência. Ela varia até mesmo dentro de um mesmo bairro. Pregadores
bíblicos são desafiados a discernir constantemente um mandamento bíblico de uma sugestão cultural. Precisamos da ajuda uns dos outros para fazê-lo bem.
O que é um “mundo pós-moderno”?
Ao longo deste livro, vamos relembrar que os componentes de uma cultura raramente são “isto ou aquilo”.3 As gerações são complexas. O mundo pós-moderno4 está saturado de múltiplos contextos e pressupostos culturais. Alguns contextos levantam questões sobre estações espaciais, clonagem humana, relacionamentos afetivos e pós-modernismo. Outros enfrentam problemas relacionados a campos de refugiados, bombardeio de igrejas, escassez de comida, mortes por AIDS ou proteção familiar contra genocídio ou escravidão infantil. Alguns pregam para pessoas que colam numa prova com mensagens de texto; outros para quem pratica feitiçaria. Há sempre alguém pregando o evangelho dentro de cada um desses contextos.
A homilética que oferecemos a uma geração deve levar em conta essa variação. Por exemplo, alguém que ensina a necessidade de usar o PowerPoint para uma pregação eficaz provavelmente subestima as múltiplas questões culturais por trás dessa afirmação. Tal pessoa presume um contexto tecnológico, com capacidade econômica para aquisição de equipamentos e utilização de energia elétrica. Mas e quanto aos contextos que carecem de recursos financeiros e eletricidade? Devemos tomar mais cuidado com nossas descrições culturais e respostas homiléticas se quisermos passar bem por aquela curva.
Jornada pessoal
Comparado a alguns, meu contato com o mundo pós-moderno é inofensivo — mas inofensivo não significa irreal. Meu contato com pessoas pós-modernas desafia meu coração, expõe minha pregação e desperta a preocupação contida neste livro. Embora os exemplos que uso para ilustrar os princípios desta obra sejam limitados pelo meu próprio contexto ocidental, estes destinam-se a ajudar qualquer pregador a se preparar para qualquer contexto cultural.
3 Philip Jenkins, The Next Christendom: The Coming of Global Christianity (New York: Oxford University Press, 2002), p. 2.
4 Tim Keller, “Post-Everythings”. Disponível em: http://www.wts.edu/publications/articles/ keller-posteverythings.html.
Para passar pela curva da estrada, o pregador de qualquer contexto cultural precisará chegar a um acordo com o seu próximo. Quando Jesus chamou seus discípulos para alcançar Samaria (At 1.8), ele os expôs a uma tarefa desafiadora porque “os judeus não se dão com os samaritanos” (Jo 4.9). Imagine o desafio que isso deve ter sido para Pedro, Tiago e João. Para seguir Jesus, eles deveriam se importar com seu próximo, os mesmos que aprenderam a odiar durante toda a sua vida.
Paulo sempre amou seu próprio povo. Ele nunca escondeu isso (cf. Rm 9.3-11.32; Gl 1.13-14; Fp 3.6). Contudo, Cristo o chamou para ser um apóstolo aos gentios. Imagine as piadas das quais Pedro, Tiago, João e Paulo já não riam mais. Quando menino, eu ouvia e contava “piadas sobre poloneses”. Desde que estive na Polônia e lá conheci alguns cristãos, essas piadas perderam totalmente a graça.
Venho de campos e pequenas cidades do sul de Indiana, no meio-oeste dos Estados Unidos. Quando eu era menino, os trabalhadores latinos e as lojas hispânicas que agora povoam essas pequenas colinas e cidades eram inimagináveis. As únicas pessoas que pareciam diferentes de mim eram os refugiados do Camboja que haviam se mudado para a casinha branca que ficava na propriedade da igreja metodista. Ainda me lembro dos odores e comidas que me surpreendiam em seus cômodos sem móveis. Ensinei aos meninos o que sabia sobre beisebol; eles me ensinaram o que sabiam de futebol. Fora isso, meu único contato com diferentes raças e cores de pele era com alguns poucos garotos do outro time da liga infantil. Isso não significava que as diferenças estivessem ausentes em meu bairro ou igreja. A mesma cor de pele, na mesma rua, na mesma igreja, expõe múltiplas diferenças entre as pessoas. Contudo, quando menino, eu conhecia apenas esse tipo de diferença; o tipo que separa as pessoas numa mesma região.
Já adulto, vivendo em meu bairro no subúrbio de St. Louis, no entanto, meus vizinhos eram indianos, africanos, asiáticos, americanos brancos e latinos. Há vários anos, sirvo como consultor de uma congregação chinesa. A apenas alguns minutos de casa, preguei por meio de dois intérpretes para que os ouvintes conseguissem entender meus sermões em inglês, mandarim e cantonês. Acrescente a isso vários idiomas ouvidos no supermercado, universitários estrangeiros, ministérios de refugiados em nossa cidade e a oportunidade de pregar em outras partes do mundo, e estou muito longe dos bairros monoculturais da minha juventude.
Pastores em Bombaim, Tóquio, Londres ou Nova Iorque provavelmente estão sorrindo gentilmente para mim, pensando consigo mesmos: Se ele soubesse.
Verdade pós-moderna
Contextos multiculturais nos expõem a múltiplas visões da realidade. Outro aspecto da estrada curva emerge. Por exemplo, eu estava na fila de uma grande livraria, e, numa estante com vários livros de mostruário, havia novidades daqueles livrinhos de bolso. Aqui estão alguns dos títulos que anotei:
Pequeno buda
Kit de vudu
Ioga prática
Jesus: Ele é a sua resposta
Tarô
Cartomancia
Terapia encapsulada
Respostas fáceis para as perguntas difíceis da vida
O pequeno livro da felicidade
O sabonete para lavar seus pecados
Reinvindicações feitas perante verdades conflitantes confundem as pessoas com relação ao que é considerado moral e agradável a Deus. Esta confusão perante a Bíblia também desfaz testemunhos homogêneos do que significa seguir a Cristo. Francis Collins, líder de longa data do Projeto Genoma Humano, é um dos cientistas mais conhecidos dos EUA. Em seu livro A linguagem de Deus, Collins escreve: “O Deus da Bíblia é também o Deus do genoma”. Collins acredita na evolução e num planeta com quinze bilhões de anos. No entanto, quando lhe perguntaram se acredita no nascimento a partir de uma virgem, Collins responde inequivocamente: “Eu creio!”. Ele defende os milagres da Bíblia e a ressurreição corporal de Jesus Cristo. Collins é cristão.5
Da mesma maneira, Anne Rice, famosa autora de romances sobre vampiro e notável ateia, tornou-se uma seguidora de Jesus.6 Embora ela ainda seja socialmente liberal em questões como a homossexualidade, tornou-se uma cuidadosa e
5 Francis Collins, The Language of God: A Scientist Presents Evidence for Belief (New York: Free Press, 2006), p. 211. Em Steve Paulson, “The Believer”, Atoms & Eden: Conversations about Science and Faith, 7 ago. 2006. Disponível em: http://www.salon.com/books/int/2006/08/07/ collins/index.html.
6 Anne Rice, Christ the Lord: Out of Egypt (New York: Knopf, 2005), p. 321–350.
pregação na pós-modernidade
consciente defensora da Bíblia, particularmente da historicidade dos Evangelhos e da veracidade de suas afirmações sobre quem é Jesus.
Cristãos e não cristãos não têm certeza de como responder a esses dois recentes e fervorosos seguidores de Jesus. Categorias rigorosamente organizadas e estreitas implodem. Nesse ambiente, a instrução e a conversão a Cristo voltam a ser um processo que leva tempo. Passar um tempo com as pessoas às vezes parece ser como morar em uma casa inacabada. Cansamos de lavar a louça na banheira enquanto esperamos que a pia seja consertada. Ansiamos por comodidade, rotina e previsibilidade. Contudo, passar um tempo com elas desafia nossas noções de perfeição. Vivemos com o inacabado e somos obrigados a nos lembrar de nós mesmos. As pessoas precisam da mesma quantidade de tempo que já tivemos; necessitam de um ambiente no qual possam não entender as respostas, ou interpretá-las mal, e encontrar espaço para aprender o que é certo.
Keller nos lembra: “Em uma cultura cristianizada e menos secular, pode-se pular etapas e esperar pressupostos [...] e rapidamente apresentar-se como cristão ou evangélico [...] mas são necessários muitos outros estágios prévios quando o diálogo acontece com pessoas do mundo”.7 Muitos de nós estão sendo forçados a lembrar que alguém pode ser inconsistente na doutrina (como muitos em nosso meio), errar em algumas coisas (como todos nós) e, ainda assim, seguir verdadeiramente a Jesus, um passo de cada vez. A santificação é um processo.
Contextos culturais repletos de reivindicações pela verdade concorrentes promovem variados graus de instrução bíblica. A ausência de conhecimento bíblico afeta a maneira como as pessoas ouvem nossos sermões. Por exemplo, pregando a partir do livro de Atos para um grupo de jovens no meio-oeste dos Estados Unidos, observei, em linguagem mais simplificada, que “Estêvão foi morto com pedras”. Surgiram murmúrios e sorrisos; cabeças se viraram e olhos se encontraram. Eu me perguntei o que seriam aqueles rumores de comoção. Então me dei conta: quando disse “Estêvão foi morto com pedras”, os jovens ouviram a palavra pedra considerando seus contextos culturais — a sensação de euforia que uma pessoa que usa drogas experimenta. Falei pelo texto bíblico que Estêvão foi apedrejado até a morte, mas o que eles entenderam foi que Estêvão teve uma overdose e morreu. Reivindicações de verdade conflitantes, juntamente com uma erosão no conhecimento bíblico, criam uma curva na estrada de um pregador.
Convém notar o modo como alguém conhece algo. Pregadores devem perceber e aprender que, para que as pessoas conheçam a verdade, elas não precisam apenas de fundamentação. Devemos encaixar nossa apologética na capacidade de empreender formas de conhecimento racionais, ressonantes e relacionais.
É necessário fundamentação porque ruptura de conhecimento bíblico, juntamente com a suspeita de metanarrativas, expõe os pregadores a dois tipos de dúvida por parte dos ouvintes de um sermão. A dúvida prática refere-se à presença de ceticismo quanto ao significado ou comprovação do que diz o texto bíblico.
A dúvida filosófica refere-se à presença de ceticismo em relação à ideia de que um “significado” exista de fato. Porém, a fundamentação por si só é insuficiente. Deparamo-nos com a realidade de que a fundamentação em si não é suficiente hoje em dia quando falamos com as pessoas. Por exemplo, estou atualmente em diálogo com dois queridos homens. Ambos foram criados na igreja e agora duvidam da Bíblia. Tradicionalmente, alguém ofereceria evidências da historicidade, veracidade e credibilidade da Bíblia. Demonstraríamos o cumprimento das profecias, as evidências dos manuscritos, coerência interna e a maneira como a Bíblia descreve com precisão a realidade em que vivemos. Esses queridos amigos não adotam essa abordagem tradicional. Ambos admitem que estou correto no que digo e que o sistema bíblico é coerente. Contudo, eles questionam: “Antes de mais nada, quem disse que o sistema em si está certo?”.
Além disso, a coerência de um sistema não o atesta como inspirado por Deus. Muitas pessoas encontram maneiras de dar sentido à vida que realmente funcionam, mas que no final são fraudulentas. Portanto, a ressonância bíblica diante da realidade não é prova de que aquilo que a Bíblia afirma é verdadeiro. Nas palavras dum amigo meu: Suponha que confirmamos que Lucas escreveu tudo o que lhe é atribuído, e que suas cartas têm informações que correspondem a outra documentação arqueológica e histórica, o que nos faz chamá-la de “confiável” (como carta histórica). Isso melhora a situação? Isso nos leva além de uma ideia conspiratória da igreja (que é uma preocupação válida, considerando seu passado sujo). Isso nos leva a fazer mais que chamar o projeto canônico de fraude, mas não nos compele a acreditar que a mensagem implícita provém da boca de Deus.
A fundamentação por si só não é suficiente para esses amigos. Eles também precisam ver a ressonância entre o mundo bíblico e o nosso. Para fazê-lo, os pregadores devem aprender a desenterrar as doutrinas, bem como as descrições da vida “debaixo do céu”, oferecidas pelo texto bíblico. Além disso, o conhecimento da verdade vem na forma de um contato relacional ao longo do tempo. Provérbios 13.20 nos lembra de que “quem anda com os sábios será sábio”. Aqueles que nos cercam precisam da oportunidade de viver conosco e observar nosso jeito de viver para aprenderem quem é Jesus e como suas palavras transformam.
Por essas razões, a apologética encontrará um papel crescente em nosso meio, embora nossas abordagens apologéticas venham a exigir expressão diversificada e o cuidado de escutar.
Permitir que as pessoas vivam conosco e observem nosso modo de viver forja outro aspecto da curva no caminho. Por exemplo, um amigo meu, pastor querido e fiel, tirou sua vida de forma trágica. Ele era meu amigo. Minha família e eu nos mudamos temporariamente para a igreja dele e por seis meses servi como pastor interino. Pregar semanalmente para um povo abalado por perguntas e cheio de todo tipo de emoções me constrangeu bastante. Alguns queriam que eu nunca mais mencionasse o nome de nosso amigo. Eles se sentiram traídos e sua raiva resistiu à restrição imposta pela etiqueta social. Outros queriam que eu nunca parasse de mencionar o passado. A dor deles era intensa e sua perda, profunda. Outros expuseram seus desejos de imitar a escolha equivocada deste meu amigo.8 Todos nós precisávamos da Palavra de Deus para penetrar nas profundezas de nossas feridas.
Ao longo do processo de recuperação desta tragédia, houve um processo positivo de solidificação. Os visitantes continuaram chegando. Visões variadas para o futuro da igreja surgiram. O planejamento estratégico estava na mente coletiva. Questões de estilo de adoração e correções quanto a exatidão foram discutidas e desafiadas. As exigências cotidianas da vida da igreja prosseguiam. Todos nós precisávamos da Palavra de Deus para iluminar nosso caminho.
Em meio a essas realidades, algo notável aconteceu. Pessoas não cristãs começaram a nos visitar, e nós começamos a visitá-los. Aí veio a pergunta:
8 Para um sermão notável acerca do suicídio, veja Bryan Chapell, Funeral for Petros Roukas. Disponível em: http://www.covenantseminary.edu/resource/Chapell_RoukasMemorial.mp3.
“Pastor, eu tenho um amigo que é travesti. Ele se veste de mulher e fez cirurgias que lhe dão uma aparência de mulher. Pastor, ele quer buscar a Deus. Posso trazê-lo à igreja na próxima semana?”.
“Claro que pode!”, eu respondi. “Sabemos que esse pecado é óbvio. Mas para onde mais deve ir uma pessoa que deseja encontrar a Deus?” Eu estava nervoso e revigorado ao mesmo tempo. Minhas perguntas eram inúmeras por estas razões pessoais:
• O que acontece quando uma pessoa cujo gênero foi alterado cirurgicamente se volta para Jesus como seu Senhor e Salvador?
• Como um sermão prepara as pessoas para a pergunta, mas nem tanto para a resposta?
• Que papel os sermões têm para uma vasta variedade de pessoas com experiências, pensamentos, emoções e crenças tão profundas e diversas?
• Como um sermão ajuda alguém a passar pelo luto?
• Como um sermão lida com o trágico e inexplicável?
Minhas perguntas surgem também por causa do meu chamado. Sendo eu um professor de pregadores, como posso me unir a outras pessoas para ajudar a próxima geração a trilhar o mundo pós-moderno?
O desafio desses questionamentos desperta a necessidade do pregador de depender ativamente de Deus. Esta dependência nos obriga a enfrentar aquele que talvez seja nosso maior desafio na hora de ficar em pé na curva. Pregadores que desejam passar pela curva de um mundo pós-moderno precisam aprender novamente a orar, jejuar, encontrar sossego diante de Deus, o prazer de sua companhia e a provisão de seu poder. “Pensar que devemos abandonar a conversa com ele para lidar com o mundo é um erro.”9 Precisamos ouvir novamente o que Deus nos diz por meio de Isaías: “Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranquilidade e na confiança, a vossa força” (Is 30.15).
Buscar a quietude do poder de Deus significa que precisaremos reconhecer nossos limites e fragilidades. Pregadores devem reconhecer que não têm todas as
9 Irmão Lawrence, The Practice of the Presence of God (New Kensington, PA: Whitaker House, 1982), p. 12. [A prática da presença de Deus.]
pregação na pós-modernidade respostas, e que algumas coisas só podemos resolver com oração e jejum (Mc 9.29), mesmo que isso signifique não parecermos tão poderosos ou bem-sucedidos. Particularmente no Ocidente, os pregadores terão que escolher uma medida de sucesso e eficiência que vai contra a cultura dominante. Esta curva na estrada precisa ser enfrentada, e escolher fazer isso nos custará algo. Pregadores são tentados a escolher outras estratégias mais confortáveis e menos humilhantes para lidar com a vida. A pressão daqueles que desejam estilos de vida menos dependentes nos desafiará. Henry Nouwen descreve as razões pelas quais enfrentar nossos limites e dores pode parecer nada desejável:
1. Normalmente, vemos essas dificuldades como um obstáculo para o que pensamos que deveríamos ser — saudáveis, apresentáveis, livres de desconforto.
2. Nossa ocupação incessante... torna-se uma maneira de escapar do fato de que alguns dias precisam ser enfrentados... Nossas vidas sobrecarregadas servem apenas para nos impedir de enfrentar a inevitável dificuldade que todos nós, em algum momento, precisamos enfrentar.
3. A voz do mal também busca nos tentar a exibir uma fachada de invencível. Palavras como vulnerabilidade, desapego, rendição, choro, luto e pesar não aparecem no dicionário do diabo.
4. Enfrentar as nossas perdas significa também evitar a tentação de ver a vida como um exercício de satisfação das nossas necessidades.
5. Também gostamos de vitórias fáceis: crescimento sem crise, cura sem dores, ressurreição sem cruz.10
Um mundo pós-moderno requer um remédio que todo pregador tem. A curva da estrada nos provocará com a pergunta: Estamos dispostos a nos render à humilhante doçura daquilo que o poder de Deus exige?
Como ler este livro
O estilo de escrita deste livro é corretamente descrito pelas palavras de Eugene Peterson. Tento usar “uma linguagem que vem ora da biblioteca, ora de uma conversa durante um café”. O material “por um lado é derivado de questões
10 Henri Nouwen, Turn My Mourning into Dancing: Finding Hope in Hard Times (Nashville: Thomas Nelson, 2001), p. 8–9.
levantadas em uma palestra”11 e de outro de pensamentos que vieram enquanto eu escrevia poemas à beira de um lago ou lia histórias de ninar para crianças.
Na primeira parte deste livro, reorientaremos o sermão bíblico para um mundo pós-moderno. Realidade e redenção são nossos guias primários. Ferramentas homiléticas como o CR (contexto da realidade) e ecos da criação juntam-se e expandem ferramentas familiares como o “foco na condição caída” (FCC), de Bryan Chapell. Exploraremos um procedimento para pregar narrativas e consideraremos como o amor ao próximo comunica o papel de nossa narrativa na pregação bíblica. Também serão oferecidas implicações para a introdução, a aplicação e a conclusão de um sermão.
Na segunda parte, consideraremos que Deus já providenciou aquilo de que precisamos para trilhar um mundo pós-moderno. Abordamos modelos bíblicos para a prática do sermão orientado pelo profeta, pelo sacerdote e pelo sábio. As condições de pregação que Deus usa na Bíblia ampliam nossa capacidade de lidar com as diversas conjunturas culturais de um contexto pós-moderno. Exploraremos as implicações de explicações e ilustrações do sermão.
Na terceira parte, começamos o processo de envolvimento e contextualização culturais deixando que o sábio, o sacerdote e o profeta nos orientem. Disponibilizei categorias para ajudar pregadores a trilhar culturas orais e visuais, bem como guias para lidar com as passagens de guerra da Bíblia e a doutrina do inferno. A idolatria no coração humano conspira com o mal e expõe os limites da contextualização, e esta não será suficiente. Precisaremos do Espírito de Deus para passar por mais esta curva da estrada.
Estudamos como pregar não apenas por nós mesmos. Estudamos como pregar pelo bem da pregação. A pregação é uma espécie de bastão que recebemos de Deus para entregar à próxima geração. Qual será o tipo de pregação que passaremos a ela? Uma citação antiga toma meu coração e aguça minha visão a esse respeito, e torço para que inspire você também.
Oh! Quisera Deus que de dentro do próprio púlpito pudesse surgir algum homem de poder, comissionado uma vez mais não apenas para ser ele mesmo
11 Eugene Peterson, Christ Plays in Ten Thousand Places: A Conversation in Spiritual Theology (Grand Rapids: Eerdmans, 2005), p. xii.
poderoso na proclamação da verdade — pois existem muitos assim e, quando morrem, seu poder se vai como uma onda no mar —, mas para evitar que a Instituição caia, para torná-la poderosa também. Ah! Que do alto possa haver um novo e rico derramamento do zelo divino sobre todos os que pregam a Palavra; que esta nobre ferramenta do cristianismo possa novamente retomar seu caráter e sua eficácia; pois então haverá retidão e alegria sobre este mundo, as regiões selvagens e solitárias se alegrarão, e o deserto se regozijará e florescerá tal qual uma rosa.12
A Bíblia é o púlpito de Deus, e o papel do pregador é proclamar o evangelho de Jesus Cristo no poder do Espírito Santo. A Palavra é uma pregação trinitária.
O pregador deve ser fiel às Escrituras, além de sábio e habilidoso na aplicação da verdade. Expor o texto bíblico com fidelidade e clareza é um desafio que tem por objetivo alcançar as pessoas no mundo pós-moderno.
Reconhecendo os mais diversos contextos culturais em que o evangelho há de ser pregado, o autor oferece aos ministros conselhos práticos para pregar a Palavra de Deus, que é supracultural e atemporal. Pastores, líderes da igreja e seminaristas farão bom proveito desta obra.
Zack Eswine (PhD, Regent University) foi professor de homilética e diretor de doutorado em ministério no Covenant Theological Seminary (St. Louis, Missouri, EUA). Ele é pastor da Riverside Church, em Webster Groves, além de autor de A depressão de Spurgeon e O pastor imperfeito (Fiel).
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