Teologia Pastoral

Page 1


Akin e Pace nos deram uma excelente obra que demonstra por quê, no que e como o genuíno ministério pastoral é teologicamente baseado. Os autores não pretendem ser abrangentes ou exaustivos, mas construir um paradigma bíblica e teologicamente orientado para o ministério pastoral, que evite o pântano do pragmatismo. Eles fizeram um trabalho notável. Pastores e estudantes encontrarão alimento para suas almas ministeriais neste importante projeto para o pastorado.

David L. Allen, reitor da School of Preaching, professor de pregação e diretor no Southwestern Center for Expository Preaching; e professor de ministério da cátedra George W. Truett no Southwestern Baptist

Theological Seminary

Quer você já tenha pastoreado por muitos anos ou esteja dando os primeiros passos em direção ao primeiro pastorado, eu quero encorajá-lo a ler este livro. O seu ministério pastoral será medido por diversos padrões de sucesso, mas meus amigos Danny Akin e Scott Pace focalizam no único critério que importa — a Palavra de Deus e o que ela diz sobre quem o pastor deve ser e quais são as principais áreas nas quais seu ministério deve se concentrar. Construa o seu ministério na sólida teologia esboçada aqui e você não será abalado quando os inevitáveis desafios ministeriais baterem à sua porta.

Kevin Ezell, presidente da North American Mission Board

Os pastores precisam saber os seus “porquês”. Conforme os ventos de mudanças sopram contra a igreja, é imperativo manter-se ancorado na Palavra de Deus, no chamado de Deus, na igreja de Deus e na comissão de Deus. Estou bastante animado e profundamente convicto de que este livro, Teologia pastoral, responderá ao seu “porquê” e te manterá firmemente ancorado.

Ronnie Floyd, pastor na Cross Church, Springdale, AR

Este manifesto pelo ministério pastoral é, ao mesmo tempo, teologicamente orientado, espiritualmente fundamentado, biblicamente saturado, missionalmente motivado e doxologicamente dirigido. Ele trata mais do “para que” do que do “como” — e por causa disso, creio eu, será um catalizador para a renovação do povo do Senhor nos nossos dias. Altamente recomendado!

Timothy George, reitor da Beeson Divinity School, Samford University e editor do Comentário Bíblico da Reforma

Teologia pastoral cava as profundezas do texto sagrado e apresenta a visão e a prática ministerial profundamente enraizadas em princípios. Também é um tesouro de

“cuidado pastoral” — repleto de insights que enriquecerão e capacitarão a vida de cada pastor. Os pastores e líderes eclesiásticos que adotam uma fé evangélica centrada na Bíblia, qualquer que seja a tradição, precisam incluir este livro em sua biblioteca.

R. Kent Hughes , pastor emérito na College Church, Wheaton, IL; e professor da cátedra John Boyer de evangelização e cultura no Westminster Theological Seminary, Filadélfia, PA

Este livro será estimado no meu próprio ministério e passado adiante a todos do meu círculo de influência. Quando o pastor entende “quem ele é”, é maravilhoso como passa a fazer sentido “o que ele faz”.

Johnny Hunt, pastor na First Baptist Church, Woodstock, GA

A função pastoral tem sido definida e redefinida na cultura contemporânea — geralmente em detrimento daqueles que a exercem. Revisitar os pilares teológicos desse ofício revigora o sentido do que significa ser um pastor. A descoberta desses princípios atemporais ao longo desse livro capacitará os pastores — e as pessoas que os seguem — a ter expectativas mais realistas sobre as expectativas de Deus para esse elevado e santo ofício.

Jeff Iorg, presidente do Gateway Seminary

Teologia pastoral é uma obra rara. Ancorado teologicamente e focado na prática, este livro instrui e inspira. Eu acredito que ele se tornará o texto padrão para seminários, universidades e qualquer um que queira se tornar um pastor efetivo na igreja.

Anthony L. Jordan, diretor executivo da Baptist General Convention de Oklahoma

Com quarenta anos de pastorado, eu nunca vi maior necessidade de que os pastores estejam fundamentados numa compreensão divina do ministério do que numa época na qual as pessoas estão mais preocupadas com a extensão do sermão do que com sua profundidade, mais preocupadas com o humor do pastor do que com sua santidade; e quando acreditam que a igreja deva se preocupar mais com criatividade do que em comunicar a verdade. Todos os pastores, e todos aqueles que desejam se tornar um, precisam ler esse tour de force , que levará todos os ministros a se conectarem com um Deus santo e a se tornarem mais comprometidos com um ministério holístico, que é tudo que dá ao trabalho pastoral seu sentido último.

James Merritt, pastor na Cross Pointe Church, GA

O chamado pastoral é inerentemente teológico. Dado o fato de que o pastor deve ser um mestre da Palavra de Deus e do evangelho, não poderia ser de outra forma. A ideia do pastorado como um ofício não teológico é inconcebível. A perda de um modelo ministerial do pastor-teólogo afetou prejudicialmente incontáveis igrejas ao redor do mundo e enfraqueceu o cristianismo como um todo. A igreja atual necessita muito deste livro. Akin e Pace nos lembram que o trabalho pastoral é fundamentalmente e mais abrangentemente teológico. Este é o livro certo no momento certo.

R. Albert Mohler Jr. , presidente do The Southern Baptist

Theological Seminary

Eu amo pastores. Eu amo o trabalho e ministério dos pastores. E eu amo as igrejas a que eles servem. Danny Akin e Scott Pace deram uma maravilhosa contribuição para nos ajudar a entender, de uma perspectiva extensamente bíblica, quem os pastores são e o que eles foram chamados a fazer. Este livro é, agora, um componente essencial da minha biblioteca de recursos pastorais. Eu o recomendo aos líderes eclesiásticos de todo o mundo.

Thom S. Rainer, presidente e CEO da LifeWay Christian Resourses

Todo pastor que eu conheço — incluindo eu mesmo — precisa desenvolver fortes vínculos entre a verdade bíblica e as realidades cotidianas do serviço à igreja do Senhor. Enquanto estudiosos com profundas raízes nas congregações locais, Akin e Pace apresentam uma abordagem do chamado pastoral saturada na teologia bíblica e orientada ao ministério prático. Para aqueles que estão se questionando se Deus os está chamando ao ministério, aos pastores iniciantes no seu primeiro ofício pastoral ou aos pastores experientes que precisam se lembrar da beleza e seriedade de sua vocação, o Teologia pastoral oferece insights bíblicos e sábios conselhos.

Stephen N. Rummage, pastor na Bell Shoals Baptist Church, Brandon, FL

Sobre a pregação eficaz, John Stott disse: “O segredo essencial não é o domínio de certas técnicas, mas ser dominado por certas convicções”. Isso vale para todos os aspectos do trabalho pastoral. Se formos pastores eficazes, será porque nossos ministérios estão firmemente enraizados em certas convicções sobre quem o pastor é e o que ele faz. Danny Akin e Scott Pace sabem que isso é verdade. Em Teologia pastoral eles nos dão fundamento teológico, doutrinário e prático sobre o qual podemos construir ministérios pastorais centrados em Deus, orientados pelo evangelho e com foco nas pessoas. Meus amigos pastores, leiam livros e participem de conferências que os ajudarão com os aspectos pragmáticos do

ministério. Mas certifiquem-se de que está tudo fundamentado na teologia que esses dois teólogos-pastores defendem neste livro.

Jim Shaddix, professor da cátedra W. A. Criswell de pregação expositiva no Southeastern Baptist Theological Seminary

Este livro não é um luxo — é uma necessidade tanto para aspirantes ao pastorado como para pastores experientes que veem a obra do pastor como uma tarefa teológica. Ele casa a razão do pastorado com as implicações práticas da execução do ofício. Este livro responde, de forma clara e responsável, questões fundamentais do que o pastor é (ética) e o “e agora?” do que um pastor faz (ética do trabalho). Este tratado é mais do que um manual — ele é experiencialmente encharcado e imerso nas profundezas de princípios bíblicos e contemporâneos que já foram testados com sucesso. Ele ecoa a abordagem pastoral e obra de nosso Senhor, o Bom Pastor, pois ele continua o que “Jesus começou a fazer e ensinar” em seu ministério terreno. Esta obra é sobre pastores capazes de pregar biblicamente e pregadores capazes de pastorear teologicamente — o que Deus uniu, não separe o homem!

Robert Smith Jr., professor da cátedra de teologia Charles T. Carter na Beeson Divinity School, Samford University

Teologia pastoral é um acréscimo útil, e um chamado, ao necessário ressurgimento da integração intencional da teologia no ministério pastoral. A igreja evangélica foi inundada por um exagero de livros sobre prática do ministério pastoral e Akin e Pace escreveram um livro que convoca a uma “recalibragem” baseada em uma abordagem teológica. Embora o ‘como’ do ministério seja importante, as preocupações do ministério prático precisam estar subordinadas ao, e dependentes do “porquê” do ministério pastoral. Eu recomendo que todo pastor tire um tempo para ler este livro, reflita sobre os fundamentos teológicos e aprenda do modelo de formulação e facilitação que os autores apresentam. Então, permita que isso seja um ponto de partida para um dilúvio de teologia pastoral na igreja.

Steven Wade , professor de teologia pastoral no Southeastern Baptist Theological Seminary.

Com as exigências semanais da preparação de sermões e do pastoreio, o estudo da teologia geralmente fica para trás no tempo do pastor. O que eu gostei no Teologia pastoral é que ele ensina teologia bíblica sólida ao mesmo tempo que oferece aplicações à vida real. Reiteradas vezes, você lerá algo aqui e pensará: “Isso serve à pregação!”.

Bryant Wright, pastor na Johnson Ferry Baptist Church, Marietta, GA

TEOLOGIA PASTORAL

TEOLOGIA PASTORAL

Fundamentos teológicos do que é

e

do que faz o pastor

Daniel L. Akin & R. Scott Pace

Rio de Janeiro, RJ

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Akin, Daniel L.

Teologia pastoral : fundamentos teológicos do que é e do que faz o pastor / Daniel L. Akin & R. Scott Pace ; [tradução Vitor Grando]. – 1. ed. – Rio de Janeiro, RJ : Pro Nobis Editora, 2023.

Título original: Pastoral theology.

ISBN 978-65-81489-18-2

1. Teologia pastoral I. Pace, R. Scott II. Título.

22-112458

CDD-253

Índices para catálogo sistemático:

1. Teologia pastoral : Cristianismo 253

Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380

Teologia pastoral: Fundamentos teológicos do que é e do que faz o pastor

Traduzido do original em inglês:

Pastoral Theology: Theological Foundations for Who a Pastor Is and What He Does

Copyright © 2017 Daniel L. Akin e R. Scott Pace

Publicado originamente por B&H Publishing Group, Nashville, Tennessee

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por PRO NOBIS EDITORA

Rua Professor Saldanha 110, Lagoa, Rio de Janeiro-RJ, 22.461-220

1ª edição: 2023

Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo citações breves, com indicação da fonte. Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Nesta obra, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Atualizada, salvo informação em contrário.

Conselho Editorial

Judiclay Santos David Bledsoe Paulo Valle Gilson Santos Leandro Peixoto

Gerência Editorial Judiclay Silva Santos

Tradução: Vitor Grando

Revisão: Cinthia Turazzi e Paulo Reiss Jr. Capa: Rubner Durais

Diagramação: Marcos Jundurian

ISBN: 978-65-81489-18-2

Tel.: (21) 2527-5184 contato@pronobiseditora.com.br www.pronobiseditora.com.br

Aos pastores que trabalham fielmente entre as ovelhas, pelos preciosos rebanhos que eles pastoreiam e para a glória de nosso Supremo Pastor.

Seção I | O fundamento trinitário

2. Teologia: O pastor e o caráter de Deus .................................... 35

3. Cristologia: O pastor e o defensor de Deus .............................. 63

4. Pneumatologia: O pastor e o companheiro de Deus ................ 93

Seção II | A formulação doutrinária

5. Antropologia: O pastor e a compaixão de Deus ...................... 119

6. Eclesiologia: O pastor e a comunidade de Deus ....................... 143

7. Missiologia: O pastor e a comissão de Deus ............................. 173

Seção III | Facilitação prática

8. Ministério: O pastor e a congregação de Deus ......................... 203

9. Homilética: O pastor e a comunicação de Deus ...................... 227

10. Família: O pastor e a aliança de Deus ...................................... 257

Prefácio

Na igreja em que pastoreio, a Summit Church, costumo fazer a seguinte pergunta aos participantes de nosso programa de treinamento pastoral: “Qual é a habilidade mais essencial para o pastorado — docência ou liderança?”. É claro que precisamos de ambas as habilidades, mas um pastor é principalmente um docente que lidera, ou um líder que ensina?

Cada um de nós é dotado de diferentes dons, é claro, mas hoje eu acredito que um pastor deve se ver principalmente como um líder que ensina. Como você verá ao longo desse livro, quem um pastor é faz toda a diferença do mundo para o que um pastor faz. Os pastores certamente precisam ter aptidão para o ensino (veja 1Tm 3.2), mas antes de tudo eles são pastores (1Pe 5.1-4). Pastores lideram. Como pastores, eles precisam entender o ensino pela ótica da formação, orientação e proteção.

Além disso, o livro sagrado que nós fomos comissionados a ensinar tem o seu cerne na Grande Comissão (Mt 28.18-20), que é fazer discípulos de todas as nações. Cada passagem é uma passagem da Grande Comissão, o que significa que precisamos mostrar ao nosso povo não só o que cada palavra do texto sagrado significa, mas como ele impacta sua vida na missão. Até mesmo a ordem de Jesus, na Grande Comissão, de ensinarmos as pessoas a obedecer a “todas as coisas” que ele havia ordenado (v. 20) é um componente de sua mais abrangente ordem de fazermos discípulos que fazem discípulos. A sã doutrina sustenta cada esforço do ministério e missão da igreja, mas qualquer texto que não seja ensinado em relação à Grande Comissão é um texto removido de seu contexto. Se não ensinarmos devidamente, não faremos discípulos devidamente. Mas se esquecermos que o objetivo do nosso ensino é fazer discípulos que fazem discípulos, nós não serviremos devidamente ao nosso Salvador e à sua paixão.

É por isso que estou tão animado em relação a esse livro. A base teológica que Daniel Akin e Scott Pace estabelecem para o pastor está fundamentada na Grande Comissão. Essa paixão aparece em quase todas as páginas. O seminário em que esses irmãos lideram e no qual foram treinados — o Southeastern Baptist Theological Seminary, em Wake Forest, na Carolina do Norte — tem como lema: “Cada sala de aula, uma sala de aula da Grande Comissão”. Este livro serve muito bem a essa visão.

Ele une teologia com missão, sabendo que a missão sem a teologia é um pragmatismo vazio, ao passo que a teologia sem a missão é um exercício acadêmico irrelevante.

Quando eu estudei no Southeastern, aprendi que todo pastor deveria buscar ser quatro coisas — pregador, pastor, teólogo e ganhador de almas. Ser qualquer uma dessas coisas (ou mesmo duas ou três) sem ser também as outras não serve ao propósito de Deus e ao povo de Deus. O caminho para se tornar esse tipo de pessoa não é maior esforço e persistência. Não é o domínio de novas técnicas. É permitir que a beleza do evangelho nos leve além nos nossos ministérios.

Esse livro será muito útil para produzir esse tipo de pastor, homens que pastoreiam bem o povo de Deus e liberam o poder concedido à igreja para a Grande Comissão. Estou animado para vê-lo formar uma nova geração de pastores-líderes.

J. D. Greear, pastor na The Summit Church, Raleigh-Durham, NC

Agradecimentos

Em agosto de 2004, eu estava entrando no meu segundo ano do doutorado no Southeastern, quando nosso recém-empossado presidente, Dr. Akin, se dirigiu aos doutorandos e compartilhou sua visão para o programa. Seu desejo expresso era produzir pastores-teólogos que possuíssem uma paixão pela verdade combinada com um profundo amor por pessoas. Isso me tocou profundamente, visto que eu estava servindo em tempo integral no ministério pastoral. Eu havia entrado no programa com o simples desejo de me tornar o pastor mais bem preparado que eu poderia ser, mas havia me tornado um tanto inseguro em relação à compatibilidade de um treinamento acadêmico rigoroso com o chamado ministerial. Suas palavras naquele dia redefiniram completamente a minha compreensão do pastorado e alteraram a trajetória das minhas atividades acadêmicas. De muitas formas, essas palavras se tornaram a origem deste livro. Eu fiquei maravilhado, e um tanto amedrontado, quando uma hora depois me informaram que ele seria o meu orientador! Obrigado, Dr. Akin, pelo seu investimento pessoal na minha vida, tanto na academia quanto no ministério. Foi uma alegria e honra essa parceria neste projeto.

Muitas outras influências acadêmicas e ministeriais moldaram a minha compreensão da teologia pastoral. As impressões vitalícias do pastor da minha infância, Rev. Horace Jackson; a santa herança dos meus avós; e o amor e devoção de pais cristãos foram todos instrumentos da graça de Deus na minha vida, pelo que eu sou eternamente grato.

Obrigado, Dr. Bill Bennett, por me ensinar o que realmente significa andar com Jesus, por me ajudar a discernir meu chamado ao ministério e por me ensinar as inexauríveis riquezas da Palavra de Deus! A amizade,

Agradecimentos

mentoria e exemplo de homens como Alvin Reid, Allan Moseley, Stephen Rummage, Mark McClellan e Stan Norman se provaram inestimáveis ao formar um cuidadoso equilíbrio entre o coração de um pastor e a mente de um acadêmico. Também agradeço a amigos como Jamie Dew, que me encorajou a buscar um projeto de escrita que não permitisse que a obra de Deus em minha vida se reduzisse a uma coleção de ideias abstratas.

Ao Presidente David Whitlock, ao reitor Heath Thomas e ao corpo docente (especialmente meus colegas da Hobbs College of Theology and Ministry) da Universidade Batista de Oklahoma, agradeço por cultivarem um ambiente de excelência acadêmica e crescimento espiritual que tornam possíveis projetos escritos como este. É uma alegria e um privilégio servir com vocês! De muitas maneiras, este livro também é um testemunho aos estudantes e membros da igreja aos quais eu tive a honra de servir. Vocês ajudaram a formar e aperfeiçoar essas verdades no meu coração através das experiências no ministério, dos diálogos na sala de aula e de conversas pessoais. Sou grato por todos vocês!

É claro que nada disso seria possível sem a equipe incrível da B&H. Vocês são profissionais exemplares e os melhores no que cada um de vocês faz! As suas orientações e apoio pessoal não só tornaram esse projeto exponencialmente melhor; eles tornaram todo o processo prazeroso.

À minha esposa, Dana, você me abençoou com seu fiel apoio em todas as minhas iniciativas, mas especialmente nas incontáveis horas e noites que esse projeto exigiu. A minha afeição pelo Senhor se aprofunda pelo seu amor por mim, e a minha compreensão do ministério pastoral é aprimorada pelo seu dedicado serviço à nossa família. Você enriquece a minha vida em todos os sentidos. E aos nossos quatro lindos filhos, Gracelyn, Tyler, Tessa e Cassie, eu aprendi mais sobre nosso Pai celeste com vocês do que eu jamais conseguirei encarnar como pai de vocês. Que vocês cresçam para conhecê-lo como seu maior herói!

Ao meu amado Salvador e excelso Rei, Jesus Cristo, que tu recebas a honra e glória por qualquer fruto dessa obra de amor dada como oferta a ti!

R. Scott Pace

Quando o Dr. Scott Pace me convidou para ser coautor de um livro sobre teologia pastoral, eu fiquei animado e honrado. Crendo que aqueles que pastoreiam o rebanho de Deus são chamados a serem pastores-teólogos-missionários-evangelistas, eu me juntei de bom grado a um antigo aluno e hoje excepcional colega de ensino numa diferente instituição evangélica.

Ao longo dos anos eu fui formado e moldado por pastores e teólogos, alguns dos quais incorporavam um papel mais do que outro, e alguns incorporavam ambos. Homens como Mark Dever, Sinclair Ferguson, John MacArthur, Stephen Olford, John Piper, James Merritt e Adrian Rogers logo me vêm à mente. Tenho uma dívida de gratidão com cada um desses fiéis pastores. Quando se trata de teólogos, a lista é rica e diversa. No topo da lista estão homens como Agostinho, Anselmo, Bernardo de Claraval, Martinho Lutero, João Calvino, Jonathan Edwards, A. H. Strong, Charles Ryrie, Millard J. Erickson, J. I. Packer e John Stott. A minha vida e o meu ministério foram profundamente enriquecidos por cada um desses homens. Eles me formaram como pastor e como teólogo.

Sou grato por liderar e ensinar numa universidade e seminário que tem um dos melhores corpos docentes e discentes do planeta. Eles me desafiam, me incentivam, me amam e me apoiam. Minha dívida com eles é inestimável e impagável. Eu sou um melhor servo do Rei Jesus por causa deles.

Devo agradecer também, dez mil vezes mais, a Deus, que me deu minha esposa e meus quatro filhos que amam a Jesus, a Bíblia, a igreja e as nações. A fidelidade deles a Cristo e o ministério que ele lhes deu me deixa muito orgulhoso. Mas mais do que isso, eles foram usados pelo nosso Pai celeste para me refinar e aprimorar por suas percepções, perguntas difíceis e críticas amorosas. O pai deles só tem a agradecer.

E não há palavras para expressar meu amor e gratidão à minha esposa, Charlotte. Desde 27 de maio de 1978, ela tem sido minha melhor amiga e incentivadora. Eu a amo e não conseguiria imaginar a vida sem ela ao meu lado.

À incrível equipe e amigos da B&H, meu muito obrigado! Vocês são os melhores!

E à minha maravilhosa equipe, Kim Humphrey, Mary Jo Haselton e Shane Shaddix: vocês são uma tremenda bênção e auxílio no meu dia a dia. Obrigado por me servirem tão bem!

Agradecimentos

Por fim, mas o mais importante, honra e louvor ao meu Rei, o Senhor Jesus Cristo, que permitiu que um indigno pecador fosse recipiente de dupla medida de graça: (1) minha salvação e (2) meu chamado ao ministério. Faço coro de coração com o Dr. Pace dizendo: que tu recebas a honra e glória por qualquer fruto dessa obra de amor dada como oferta a ti!

Introdução

Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina.

TiTo 2.1

Todo pai conhece bem a sensação de ser metralhado por um monte de “porquês”. Geralmente, isso começa quando a curiosidade de uma criança é estimulada por observações aleatórias. Isso logo se torna um ciclo perpétuo que se assemelha à “Xícara Maluca” dos parques de diversão. Eventualmente sua inquisição de “Mas por quê?” acaba resultando num impasse racional, o que deixa a criança desapontada com nossa falta de onisciência e nos deixa frustrados por nossa incapacidade de oferecermos uma resposta satisfatória a alguém de quatro anos.

O ministério pastoral tem algumas semelhanças assustadoras. Muitas vezes nos pegamos respondendo (e às vezes perguntando!) ao que parecem ser intermináveis “porquês”. Por que não crescemos e batizamos mais este ano? Por que construímos esse prédio? Por que não celebramos esse feriado nacional no culto do último domingo? Por que estamos encerrando os cultos de domingo à noite? Por que extrapolamos nosso orçamento?

Podemos estar preparados para responder a esses tipos de perguntas e outras similares sobre a saúde da igreja, programas de ministério ou a última situação que necessita da nossa atenção. Quando não temos resposta, procuramos nos desviar da pergunta, delegar a responsabilidade ou desmerecer totalmente o assunto.

Mas às vezes os questionamentos que nos fazemos são mais pessoais, mais difíceis de se evitar e muito mais profundos. São questionamentos

CAPÍTULO

Introdução

que, quando temos coragem de fazer, são confrontadores, desconfortáveis ou mesmo dolorosos. Por que nos mudamos para cá? Por que deixamos nossa outra igreja? Por que eu me sinto fracassado? Por que eu me tornei um pastor? Por que o ministério às vezes parece artificial e rotineiro?

Nossa falta de respostas para essas significativas perguntas não é facilmente descartada ou delegada. A falha em respondê-las pode levar ao desânimo pessoal, conflito familiar, demissão do trabalho, abandono do ministério, ou tudo isso junto.

Essa é a razão deste livro. Enquanto muitos livros sobre o ministério pastoral focalizam suas questões pragmáticas, raramente tratam do porquê desse ministério. Mas responder ao porquê é essencial à nossa sobrevivência e sucesso como pastores. Assim como crianças curiosas, não podemos nos satisfazer com respostas conciliatórias e superficiais. Nossas respostas a essas questões mais profundas precisam derivar de uma fonte mais confiável do que a nossa intuição ou experiência. Na vida cristã, e certamente no ministério, nossas justificativas precisam estar baseadas na verdade bíblica. Da mesma forma, nossas responsabilidades ministeriais devem ser determinadas de acordo com uma boa teologia e não de acordo com meus dons, talentos e expectativas congregacionais. Mas muitas vezes nossas vidas e ministérios carecem das raízes teológicas que provêm a estabilidade e o alimento necessários para sustentar a nós e às nossas igrejas. Quando carecemos de uma base teológica sólida para o ministério pastoral, acabamos entrando em conflito com muitas coisas desde motivos inadequados e prioridades equivocadas à volatilidade emocional e insegurança pessoal.

Em alguns casos, nossa compreensão do ministério pastoral é baseada numa teologia precária, seja em profundidade ou em substância. Mas na maior parte dos casos, ela é baseada numa teologia irrelevante, que pode até ser ortodoxa, mas totalmente desconectada da nossa filosofia e prática ministeriais. Em ambos os cenários, nossos ministérios estão fadados ao colapso como resultado de uma estrutura teológica pobre. Uma reflexão honesta pode revelar fraturas nos nossos fundamentos ministeriais. Vamos analisar como se parece um ministério desconectado da teologia.

Ministério teologicamente desconectado

O ministério que é definido e orientado por uma base teórica, tradicional ou prática é fundamentalmente um ministério desconectado de uma

teologia sólida. Quando perdemos de vista como a verdade teológica forma o fundamento da filosofia e prática ministeriais, corremos o risco de diversas armadilhas ministeriais: pragmatismo, moralismo, egotismo e cinismo.

Pragmatismo

Não é incomum que a função e as responsabilidades de um pastor sejam determinadas inteiramente por uma base pragmática. Nossa abordagem ao pastorado talvez seja orientada por observações de outros pastores, expectativas congregacionais e/ou nossas próprias capacidades. Como resultado disso, o pragmatismo passa a ser a força motriz por trás da visão que o pastor tem de si mesmo e da igreja, bem como seu indicador de sucesso. O pragmatismo nos leva a avaliar o sucesso ou fracasso no ministério por número de batismos, de presença, orçamentos, construções ou outros critérios tangíveis. Embora essas coisas possam ser indicadores válidos para pastores e igrejas, somente quando são avaliados numa base teológica é que eles passam a fazer sentido. Multidões podem ser atraídas por meios seculares ou por meios espirituais. Decisões emocionais ou superficiais podem ser manipuladas ou fabricadas. Mas as premissas teológicas dessas avaliações determinam sua validade. Agora, o que é ainda mais importante, é que um pastor jamais deve usar esses fatores para avaliar seu valor ou estabelecer sua identidade. Quando o faz, ele morde a isca do pragmatismo. Quando um pastor se vê através das lentes da performance e das responsabilidades, ele se torna vulnerável à insegurança pessoal e à instabilidade emocional. Se a performance é o padrão de medida, os pastores ficarão sujeitos a constrangimentos, dúvidas e desânimo. Em vez de cultivarmos uma saudável dependência do Senhor, nós nos tornamos autoconfiantes e tentamos ser super-heróis espirituais. Antes, nos tornamos cômicos de uma forma triste e diferente. O pragmatismo também faz com que nos orientemos mais a tarefas do que a pessoas. A performance nos engana e passamos a crer erroneamente que a vontade de Deus depende da conclusão da nossa lista de tarefas. Quando isso acontece, acabamos ficando irritados quando nossos planos e cronogramas fracassam. Nós nos sentimos contínua e consistentemente sobrecarregados. Passamos a ver as pessoas como interrupções e incômodos. Infelizmente, as pessoas se tornam um fardo e um aborrecimento em vez de uma bênção.

Essa sutil mudança na nossa visão das pessoas também pode fazer com que involuntariamente acabemos prejudicando a visão da Grande Comissão para nossas igrejas (Mt 28.18-20; At 1.8). Considerar pessoas como um fardo contaminará nossas perspectivas delas em nossa sociedade e ao redor do mundo. Além disso, pode influenciar a visão dos membros da igreja acerca da comunidade global, por causa do que eles observam em nós. Como resultado, nos tornamos insensíveis com o mundo perdido ao nosso redor e deixamos de incorporar a compaixão de nosso Salvador que leva a uma paixão pelas almas (Mc 6.34).

Uma abordagem teológica pode nos ajudar a evitar a trágica falácia do pragmatismo. A teologia pastoral nos leva a avaliar nossos ministérios e a nós mesmos pelos padrões de Deus. A sã doutrina nos ajuda a manter o foco na fidelidade e a confiar nos frutos que vêm do Senhor. Ela oferece a motivação adequada para o ministério e nos liberta do carrossel da performance que nos define por padrões humanistas, nos soterra debaixo de expectativas irreais e amarga o nosso amor pelos outros.

Moralismo

Outra armadilha comum para os pastores que separam a teologia do ministério é o moralismo. Enquanto o pragmatismo estima a performance, o moralismo valoriza a conformidade como a maior virtude. Um pastor preso no moralismo começar a medir sua própria vida espiritual de acordo com uma justiça baseada em obras. Embora nenhum de nós endosse isso em princípio, muitos de nós acabamos vivendo assim na prática.

Paulo confrontou os gálatas com essa questão: “Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?” (Gl 3.3). Jesus reiteradas vezes acusou os fariseus por causa dessas mesmas medidas artificiais de maturidade espiritual. Ele desmascarou suas obras como inúteis aparências de piedade pessoal (Mt 6.1-2, 5, 16). Ele expôs seus esforços como falsas tentativas de comprar a salvação (Mt 7.21-23). Ele revelou suas motivações egoístas que se mascaravam como uma busca por Deus a fim de manipular o coração de Deus (Mt 15.8-9). Infelizmente, os pastores podem ser culpados desse mesmo deísmo moralista.

As formas contemporâneas de moralismo, ou legalismo, ficam mais óbvias quando começamos a equiparar a maturidade espiritual com atos de justiça. Nós avaliamos a nós e aos outros usando ordens e princípios

escriturísticos para medir o crescimento espiritual. Nós concluímos: se eu marcar as opções certas, Deus deve se agradar de mim e me abençoar. Paulo alertou aos colossenses que essas regras morais “têm, de fato, aparência de sabedoria”, mas na verdade “não têm valor algum” na atividade espiritual (Cl 2.23).

A pior parte é que nós usamos a regra da conformidade para avaliar o comportamento e para fazer os crentes se sentirem culpados quando fracassam em satisfazer nossas expectativas. Fundamentalmente, nós pervertemos o evangelho, ignoramos ou minimizamos as verdades teológicas da graça renovadora, diminuímos a obra do Espírito Santo e distorcemos o processo de santificação. Ao nos pautarmos no moralismo, nos desidratamos espiritualmente e perdemos nossa paixão por Cristo. Na ausência da graça em nossas próprias vidas, tornamo-nos indispostos a compartilhar sua graça com os outros. Nós nos concentramos em corrigir a cultura à distância em vez de nos envolvermos nela com o evangelho.

O legalismo também nos leva a sermos farisaicos na hora de tratar os outros. Substituímos a orientação e correção amorosas por culpa e críticas sufocantes. Nossos sermões se tornam palestras voltadas a mudanças comportamentais para levar as pessoas a agir melhor e se esforçar mais a partir de um sentimento de culpa. Isso suprime a transparência e um espírito de abertura em nosso meio. Nossas igrejas se tornam repletas de crentes exaustos e exasperados, cansados dos nossos impossíveis padrões de perfeição e da intensa pressão para que se encaixem no molde cristão.

Essas coisas têm um efeito sufocante também nas nossas vidas. Devido ao clima legalista que cultivamos, sentimos a pressão das expectativas de nossas congregações e comunidades para sermos o protótipo para os cristãos. Infelizmente, ao fazê-lo, os pastores perpetuam um falso estereótipo de cristão. Ao falharmos em satisfazer nossos próprios critérios idealistas, nos tornamos hipócritas, vivendo com uma trave em nosso olho enquanto tentamos tirar o cisco dos olhos dos outros (Mt 7.1-5).

Uma compreensão moralista da verdade produz essas dinâmicas que caracterizam os relacionamentos entre muitos pastores e suas congregações. Mas a teologia pastoral nos ajuda a desarmar as minas do legalismo. Ela protege a nós e aos nossos membros das explosões paralisantes e estilhaços perfurantes do moralismo. A verdade teológica nos lembra que não somos definidos por tudo o que podemos fazer por Jesus, mas por tudo que Jesus fez por nós.

Egotismo

Por vezes pastores evitam uma profunda compreensão teológica de suas vidas e ministério, porque eles acreditam falsamente que a verdade doutrinária necessariamente leva ao orgulho. Embora a teologia, assim como qualquer área de estudo, possa resultar em conhecimento que ensoberbece, uma falta de compreensão pode acabar inflando o ego do mesmo jeito.

A Escritura proíbe que recém-convertidos ocupem o ofício pastoral, porque quem carece de um forte fundamento doutrinário facilmente pode se ensoberbecer no engano (1Tm 3.6). Paulo enfatizou essa relação entre uma teologia deficiente e o orgulho quando advertiu seu jovem pupilo pastoral Timóteo sobre os falsos mestres. Ele advertiu: “Se alguém ensina falsas doutrinas e não concorda com a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino que é segundo a piedade, é orgulhoso e nada entende” (1Tm 6.3-4). Em outras palavras, Paulo disse que aqueles que não têm formação em teologia ou têm uma formação defeituosa são propensos ao, ou culpados de, egotismo.

Os pastores podem cair na mesma armadilha de minimizar a importância da verdade doutrinária e cair no engano. O orgulho espiritual pode tomar a forma de um elitismo espiritual e favoritismo pessoal (Tg 2.1-7).

São duas cepas do mesmo vírus que infecta nossos corações e ministérios. Mas a vacina espiritual é a verdade teológica que se traduz em humildade e produz uma submissão reverente ao Senhor e um tratamento gracioso aos outros (Fp 2.1-5).

Um pastor que falha em crescer no seu conhecimento e entendimento de Deus provavelmente incorrerá na mais grave forma de idolatria: a autoadoração. Nossos corações geralmente estão cegos para essa realidade, mas quando definimos o ministério pastoral pelo nosso papel e nossas responsabilidades nos deixamos seduzir pela bajulação do egotismo e ficamos hipnotizados por um ministério autocentrado que busca nossa própria glória em vez da de Deus (Jo 5.44).

Quando isso ocorre, logo surgem algumas consequências práticas no ministério de um pastor. Por exemplo, a pregação se torna uma performance mais focalizada em deixar uma boa impressão do que causar algum impacto. Nós começamos a pregar por elogios pessoais e não por compromissos pessoais (Jo 7.18). Jesus confrontou os líderes espirituais de sua geração

por causa desse mesmo erro, acusando-os de amar mais a aprovação do que a Deus (Jo 12.43). Paulo defendeu o seu ministério traçando essa mesma distinção clara ao afirmar: “Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo” (Gl 1.10).

O egotismo também enfraquece a liderança pastoral. O engano se manifesta na forma que é o próprio pastor quem administra os obreiros do ministério. Um pastor orgulhoso se torna dominador e autocrático, acreditando que seu caminho é o melhor caminho. Ele recusa a parceria de seus colegas presbíteros. Ele não se dispõe a delegar, porque não confia que alguém fará o trabalho como ele faria, então microgerência. Além disso, pastores autocentrados se sentem ameaçados pelo sucesso de outros integrantes do corpo ministerial. Consequentemente, eles sufocam o ministério das pessoas, em vez de capacitá-las.

Pastores que padecem de egotismo também trocam a promoção das boas-novas por autopromoção e oportunidades de expandir seus próprios interesses. A ambição egoísta se torna a motivação fundamental na medida que eles buscam reconhecimento nas suas comunidades ou nas suas denominações/convenções, assim como os escribas que Jesus repreendeu (Mc 12.38-40). Fundamentalmente, o engano no coração do pastor contamina a atmosfera e destrói a unidade espiritual de sua igreja. Mas nós podemos dispensar o mortal aerossol de egotismo que permeia muitas igrejas ao permitirmos que a verdade teológica humilhe nossos corações e honre ao nosso Salvador.

Cinismo

Uma das armadilhas mais sutis (mas potencialmente a mais perigosa) de uma vida e ministério desconectados da teologia é o fermento venenoso do cinismo. Quando uma teologia e doutrina sólidas não são os fatores determinantes do ministério pastoral, os pastores acabam se tornando cínicos e perdem as esperanças. As pessoas, circunstâncias, relacionamentos e o ministério acabam se tornando decepcionantes. Por exemplo, nossa perspectiva pastoral pode se tornar confusa na medida em que estamos constantemente desanimados com os conflitos dos membros de nossas igrejas. Suas falhas de juízo e recaídas em hábitos pecaminosos podem

Introdução

acabar com nosso otimismo. Quando nós investimos em pessoas e não percebemos seu crescimento espiritual, ficamos desanimados.

Outras faíscas também podem incendiar nosso cinismo. A hesitação ou resistência de uma congregação em aderir à visão do pastor pode transformar sonhos em desapontamento. Por vezes, nossos apoiadores mais leais traem nossa confiança e sabotam nossa liderança. Um erro sincero da nossa parte pode ser usado contra nós ou contra nossa família. O ministério pode rapidamente se transformar em sinônimo de miséria.

Como resultado, acabamos vivendo e servindo com amargura e ressentimento. Passamos a ver tudo e todos pelas lentes de um cético. Nós passamos a desdenhar dos membros de nossa igreja, adotamos uma postura defensiva e um espírito desanimado. Nós nos isolamos e nos sentimos pessoalmente ameaçados por questões honestas. Eventualmente, nos sentimos presos e nos convencemos de que as coisas serão sempre as mesmas. Apresentamos uma carta de demissão e fugimos pela primeira porta que se abre, atribuindo até mesmo ao Senhor a nossa saída.

Quando essas coisas acontecem, nossas vidas tragicamente começam a se assemelhar à casa despreparada, que colapsou por causa de um fundamento frágil (Mt 7.24-27). Ainda que não cheguemos a negar claramente ou desconsiderar a verdade bíblica, o princípio continua verdadeiro. Quando não construímos devidamente nossas vidas e ministério na verdade doutrinária enraizada no evangelho, sofreremos a devastação que Jesus descreveu. A verdade teológica da Escritura é o único fundamento confiável e estável do qual o ministério deve ser derivado. A teologia pastoral provê a armadura para proteger nossos corações da trágica, mas comum, doença do cinismo. Esses quatro potenciais perigos ministeriais não são uma lista exaustiva. Antes, eles são sintomáticos e emblemáticos dos perigos do ministério teologicamente imparcial. Sua prevalência e as consequências que eles deixam para trás revelam as implicações que resultam de uma abordagem teologicamente incompleta do pastorado. Portanto, precisamos considerar um modelo alternativo que evite e supere essas armadilhas.

Ministério teologicamente orientado

O ministério teologicamente orientado busca recalibrar o coração do pastor e reorientar sua abordagem ministerial. Mas precisamos deixar claro que um ministério teologicamente orientado não é apenas um ministério

que afirma uma doutrina ortodoxa. Ele não se orgulha de converter pessoas a um sistema teológico ou de doutriná-las com conhecimento factual. Também não é uma abordagem do ministério feita de uma torre de marfim, alheia à realidade de vidas desestruturadas, de pessoas feridas e aos esforços intensos da liderança que serve.

Antes, uma abordagem teologicamente orientada permite que a verdade teológica, aliada ao evangelho, instrua nosso entendimento e permeie nosso serviço. Ela fornece um paradigma para avaliar nosso chamado como pastores. O ministério teologicamente orientado refina nossa arraigada perspectiva do ofício pastoral, esclarece as complexidades das responsabilidades pastorais, expõe as raízes da frustração pastoral e renova nossa paixão pelo ministério pastoral.

Essa filosofia ministerial, uma abordagem teológica ao pastorado, é o que constitui a teologia pastoral. A teologia pastoral estabelece uma estrutura teológica para o ministério, uma estrutura biblicamente derivada, historicamente instruída, doutrinariamente sólida, missionalmente envolvida, filosoficamente ponderada e contextualmente relevante.

As Escrituras consistentemente reforçam a teologia como o fator determinante para a vida e o ministério. A estrutura literária de diversas cartas neotestamentárias demonstra essa realidade. Por exemplo, os primeiros onze capítulos de Romanos fornecem a base teológica para a instrução prática nos cinco capítulos finais. Da mesma forma, os primeiros quatro capítulos de Gálatas servem como base doutrinária da obediência funcional prescrita nos dois capítulos finais. Efésios (seis capítulos) e Colossenses (quatro capítulos) são ambas construídas simetricamente, contendo na primeira parte o conteúdo teológico que facilita os ensinamentos práticos da segunda metade das epístolas.

Embora as epístolas pastorais de Paulo não sejam estruturadas nesse mesmo formato preceito/prática desses outros exemplos, talvez elas ofereçam o modelo mais útil e relevante. A instrução do apóstolo aos seus jovens representantes incorpora plenamente a doutrina teológica, o serviço ministerial e a prática comportamental.

Nessas epístolas, Paulo reiteradamente usa a frase sã doutrina como a base de sua orientação pastoral. Todos os oito usos desse termo no Novo Testamento ocorrem nas cartas de Paulo a Timóteo e Tito. Literalmente, essa frase significa “ensino saudável”, e Paulo faz uso dela de diversas

Introdução

maneiras. Em Tito, Paulo enfatizou a necessidade da sã doutrina para o tríplice propósito de defesa espiritual contra o falso ensino (1.11-16), o desenvolvimento espiritual dos crentes (2.1-15) e demonstração espiritual aos perdidos (3.1-11). Há um belo e saudável equilíbrio na teologia pastoral incorporada na instrução de Paulo.

Mais especificamente, Paulo estabeleceu como responsabilidade principal do pastor a capacidade de instruir na “sã doutrina” (1.9). Ele a identificou como o conteúdo fundamental e o padrão de avaliação de todo o ensino do jovem pastor. Ele encarregou Tito de ensinar “o que está de acordo com a sã doutrina” (2.1) e, então, descreveu a correspondente instrução e comportamento prático. Ao fazê-lo, o apóstolo estabeleceu uma relação de dependência entre verdade e prática, fé e função. Paulo nos instrui que a crença determina o comportamento (embora o comportamento certamente possa influenciar a crença). É por isso que ele descreve a santidade prática como o adorno da doutrina de Deus ou como o devido crédito ao ensino de Deus (2.10). Em outras palavras, o ensino doutrinário é fundamental para a alma. Como resultado, ele incentivou aqueles que verdadeiramente creem em Deus para que “sejam solícitos na prática de boas obras” (3.8). A relação correspondente entre crença e prática também é observada da perspectiva negativa. A falsa doutrina, ou crença equivocada, leva a um comportamento ímpio. Paulo advertiu a Tito que os falsos mestres são aqueles que “contradizem” a sã doutrina (1.9), que “afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos o negam” (1.16). Em sua primeira carta a Timóteo, Paulo apresentou uma lista de comportamentos pecaminosos de acordo com essa relação crença/comportamento, resumindo os pecados adicionais como tudo aquilo que se opõe à sã doutrina (1Tm 1.9-10). Ele também advertiu Timóteo de que chegaria o tempo em que as pessoas não suportariam a sã doutrina, mas ajuntariam mestres que endossassem seus desejos pecaminosos (2Tm 4.3).

A relação causativa entre a verdade teológica e o comportamento prático nos ajuda a reconhecer a necessidade de que a teologia seja o fundamento do ministério pastoral. Quando nossos vagões ministeriais se desvinculam da locomotiva da verdade teológica, perdemos a confiança na orientação divina ou em seu poder sustentador nos nossos ministérios. Portanto, a verdade teológica precisa ser o fator principal na definição e determinação de nossa abordagem ao ministério pastoral.

Construindo uma estrutura teológica

A Escritura estabelece um claro e convincente precedente para um ministério teologicamente orientado e, assim, nos ajuda a traçar o nosso caminho. Para determinarmos uma teologia pastoral, precisamos identificar e explorar os fundamentos teológicos do que é e do que faz um pastor. Mas como podemos construir uma compreensão teológica do ministério pastoral? Usando categorias teológicas tradicionais, junto a doutrinas históricas e ministeriais, nós examinaremos a natureza do ministério pastoral e reformaremos nossa compreensão da função, requisitos e responsabilidades do pastor. Nós vamos reunir a estrutura em três seções, uma construída em cima da outra de modo a formar uma organização sistemática que defina o ofício pastoral e determine suas correspondentes responsabilidades à luz da verdade teológica.

Parte 1: O fundamento trinitário

A convicção ortodoxa de um Deus Trino, existente em três pessoas, é fundamental a qualquer iniciativa teológica evangélica. A Escritura defende a natureza una do ser de Deus (Dt 6.4) enquanto também afirma a essência igualmente divina e a pessoalidade distinta do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19). Cada membro da Trindade é idêntico em substância, distinto em sua pessoalidade e intencional em sua função. Essa compreensão ontológica e econômica da Trindade serve como base do ministério pastoral ao demonstrar, através da natureza fundamental de Deus, como a função se deriva da essência.

Cada capítulo nesta primeira seção (capítulos 2–4) focaliza um diferente membro da Trindade e as implicações de cada um na formação do ofício pastoral. No capítulo 2, a santidade de Deus Pai é analisada como o fator determinante para as qualificações e o chamado de um pastor. O capítulo 3 considera a natureza encarnacional do ministério de Jesus, sua pessoa e sua obra como pedagógicos e essenciais para um pastor. O capítulo 4 analisa como o Espírito equipa e capacita o pastor a cumprir seu papel e também examina os paralelos entre a obra do Espírito e as responsabilidades do pastor, incluindo seu papel como “consolador” (Jo 14.16), “testemunha” de Cristo (Jo 15.26), e “guia” a toda a verdade (Jo 16.13). A verdade teológica central do Deus Trino estabelece um fundamento trinitário na primeira seção e serve como a gênese da nossa teologia pastoral.

Parte 2: A formulação doutrinária

A segunda unidade consiste em três capítulos dedicados a doutrinas bíblicas que são fundamentais ao ministério pastoral de um modo diferente. Por exemplo, o ministério pastoral não pode ser definido à parte da natureza da humanidade e do povo espiritual de Deus, a igreja, a quem o pastor serve. A identidade e o ministério de um pastor são inerentemente dependentes das doutrinas da humanidade e da igreja. Portanto, os capítulos 5 e 6 avaliam como a antropologia e a eclesiologia instruem a natureza do ofício pastoral como liderança ordenada por Deus no contexto de sua comunidade pactual. A missão da igreja também é determinante na definição do ministério pastoral. A ordem de Cristo, na Grande Comissão, para a igreja fazer discípulos (Mt 28.18-20) busca satisfazer sua vontade para “que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2.4; cf. 2Pe 3.9). O propósito missional da igreja corresponde ao objetivo de Jesus em seu primeiro advento de “buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10). A missão de Cristo e o resultante mandato para a igreja ajudam a satisfazer o desejo fundamental de Deus de buscar “verdadeiros adoradores” que o adorarão “em Espírito e em verdade” (Jo 4.23). Portanto, a identidade e função de um pastor também precisam ser determinadas com esse objetivo em mente, e, sendo assim, avaliaremos no capítulo 7 o ministério pastoral à luz de uma perspectiva missiológica. Essa segunda seção combina as perspectivas antropológicas, eclesiológicas e missiológicas para ajudar a estabelecer uma formulação doutrinária para nossa teologia pastoral.

Parte 3: Apoio prático

A seção final consiste em três responsabilidades específicas que as Escrituras prescrevem como aspectos do chamado do pastor: ministério para a igreja, ministério da Palavra e ministério para sua família. Mas essas tarefas críticas não podem ser entendidas apenas como deveres pastorais, pois do contrário estaríamos definindo pragmaticamente o pastorado. Em vez disso, precisamos examinar os alicerces teológicos das responsabilidades ministeriais, homiléticas e familiares do pastor.

As Escrituras descrevem Cristo como o Supremo Pastor e os pastores como subpastores que precisam liderar pe lo exemplo (1Pe 5.2-4).

Jesus descreveu seu próprio ministério como o ministério de um pastor e estabeleceu um modelo de liderança orientado ao serviço (Jo 10.11-16).

O capítulo 8 considera como o estilo e as habilidades de liderança de um pastor derivam do exemplo de serviço de Cristo, exemplificado na sua subordinação voluntária e funcional ao Pai.

O capítulo 9 demonstra como as doutrinas da revelação e da acomodação servem como o ímpeto para a tarefa de proclamação do pastor. Além de estabelecer o mandato de pregação do pastor, o capítulo explica como sua mensagem e método de pregação também emanam da autorrevelação de Deus e de seu desejo de ser conhecido.

O capítulo 10 explora o conceito de aliança como visto ao longo da história da redenção. O foco específico será colocado na natureza da aliança matrimonial (Gn 2) como reflexo da aliança pactual de Deus com seu povo, personificada na relação de Cristo com sua igreja (Ef 5).

As implicações para o pastor se relacionam às suas próprias relações familiares, que correspondem diretamente à sua capacidade e responsabilidade de gerenciar a casa de Deus (1Tm 3).

Essa seção final enfatiza como a teologia deveria instruir e permear três das principais responsabilidades de um pastor e demonstra a natureza teológica e necessidade prática da teologia pastoral. Os três capítulos, em cada uma das três seções, mantêm um formato consistente. Cada capítulo identifica a premissa teológica de uma doutrina estabelecida, examina os preceitos bíblicos subjacentes, e desenvolve os princípios pastorais relacionados que formarão nossa teologia pastoral e nossa filosofia de ministério.

Teológico, não teórico

Ao construir nossa estrutura teológica, definiremos a natureza do ofício pastoral, incluindo suas funções e responsabilidades, de acordo com as categorias teológicas e doutrinárias tradicionais. Em resumo, determinaremos os fundamentos teológicos de quem um pastor é e do que ele faz. Esperamos estabelecer uma teologia pastoral bíblica e sistemática que explique e explore a correlação entre a doutrina evangélica e a prática pastoral e que possa servir como um modelo para posteriores discussões nessa área.

A natureza dessa empreitada também serve como modelo para o que estamos tentando realizar — a integração entre teologia e ministério. Nosso objetivo não é apresentar um livro teológico ingênuo ou

Introdução

negligente em relação às experiências cotidianas dos pastores. Também não pretende ser uma teologia sistemática a partir de uma perspectiva pastoral. Antes, este livro busca definir e avaliar o ministério pastoral de uma perspectiva bíblica e teológica. Nós esperamos que esta obra forneça um rico panorama da doutrina cristã fundamental para os pastores, mas esse não é nosso principal objetivo. Nosso objetivo é estabelecer uma teologia do ministério pastoral que: equipará a igreja para a obra do ministério, edificará o corpo de Cristo, promoverá um conhecimento unificado e maturidade em Cristo (Ef 4.11-16); e equipará pastores com os mais variados níveis de experiência a confirmar seu chamado e cumprir seu ministério (2Tm 4.5).

A nossa esperança é que ao identificarmos as correlações entre a teologia e a prática, aspirantes ao pastorado estarão melhor preparados para discernir e buscar seu chamado, pastores mais jovens edificarão sobre a verdade ministerial e não sobre tendências ministeriais, e pastores experientes reanimarão sua paixão por Cristo e sua igreja. Também oramos para que pastores desanimados encontrem esperança, pastores em crescimento tenham cautela para evitar as armadilhas pragmáticas, e pastores fiéis tenham sua devoção assegurada.

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.