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O ÍNDIGENA EM CENA: A REPRESENTATIVIDADE DOS POVOS INDÍGENAS EM CONTEXTOS DE PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS

O ÍNDIGENA EM CENA: A REPRESENTATIVIDADE DOS POVOS INDÍGENAS EM CONTEXTOS DE PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS

Victor Matheus Assunção de Souza 1 Evanderson Camilo Noronha 2 Raimundo Oscar de Sousa Júnior 3

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INTRODUÇÃO

Observando o atual cenário audiovisual brasileiro, mormente os de maior visibilidade, como as grandes produções cinematográficas e as telenovelas “globais”, analisamos que seus diretores e produtores não inserem, em um contexto realista, nas suas produções as relações de classe e étnico-raciais ocorridas no país ao longo do tempo. Tais profissionais baseiam-se em trabalhos com o viés norte-americano de criação de mídia visual, o que invisibiliza minorias políticas, como negros e indígenas, e coloca em visibilidade o antigo (e ao mesmo tempo “atual”): o galã branco, loiro e de olhos azuis como os filmes estadunidenses (Kaercher e Tonini, 2011). Projetos como o “Vídeo nas aldeias”, fundado por Vicent Carelli em 1986, visam afirmar, por meio do audiovisual brasileiro, a identidade e a voz de diversos povos indígenas e fazer com que os mesmos sejam totalmente independentes em todos os aspectos, principalmente na luta pelos seus direitos. O processo de independência visual desses povos é essencial para que o Brasil, como país

1 Licenciatura em Informática Educacional da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA. E-mail: matheus.victor928@gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq. br/4081700900722059. 2 Bacharelado em Direito da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA. E-mail: evandersonnoronha@gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq. br/9596699703478145. 3 Bacharelado em Geofísica da Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA. E-mail: oscarfilho26@hotmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5355013713549584.

institucionalmente democrático, consiga consolidar as milhares de vozes existentes no seu amplo território. Além disso, para essas mesmas comunidades, é de extrema importância para que eles possam expor suas necessidades e frustrações com o atual governo que gerem seus direitos concedidos e garantidos por lei.

OBJETIVOS

Desta feita, abordar principalmente a autoafirmação cultural desses povos, estimulá-los expor de maneira mais contundente suas raízes, porém, não só isso, mas também fazer com que denunciem os abusos sofridos por eles em suas comunidades, como a extração sub-reptícia de madeira, o uso fraudulento de áreas de conservação florestal e a pesca ilegal. Fazer da câmera e das ferramentas de divulgação, como o próprio YouTube, uma “arma”. É de extrema importância fortalecer a militância indígena brasileira para a preservação histórica desses povos e, claro, para incluí-los no processo de democratização ainda em desenvolvimento no país e em grande parte do mundo. É necessário desvincular dessas comunidades a ideia de que eles, atualmente, são dependentes do governo para sua luta e deixá-los livres para lutar pelos seus diretos quanto seres humanos no atual momento social que vivemos.

METODOLOGIA

Observando o atual momento da região Oeste do estado do Pará quanto à produção intelectual de conteúdo, conseguimos ver com clareza o seu potencial, porém, o que existe até o momento não é o suficiente para expor a região no mapa. Tendo isso em vista, entende-se uma enorme urgência por parte governamental que expanda os campis da atual universidade federal da região, a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), para que esta última possa atender o maior número possível de

indígenas e ribeirinhos que enfrentam várias dificuldades em adentrar no ensino superior por conta da locomoção para a cidade de Santarém, Pará, onde se localiza a sede da UFOPA. As estruturas existentes na região, como o Centro Experimental Floresta Ativa (CEFA), poderiam serem utilizadas em proveito da universidade. Localizado na Reserva Extrativista (RESEX) Tapajós-Arapiuns, o CEFA detém de um bom aparato para atender as comunidades da região, como mostram as figuras 1a e 1b, logo abaixo, além de ficar mais perto para quem mora na referida unidade de conservação e não tem condições para deslocar-se para algum centro urbano próximo.

a

b

Figura 1: a) Bacia de evapotranspiração: tanque impermeabilizado, preenchido com diferentes camadas de substrato e plantado com espécies vegetais de folhas largas; b) Viveiro de plantas. Fonte: do autor.

Além da estrutura oferecida pelo CEFA para a criação de outros campis da UFOPA mais acessíveis para comunidades da área do Tapajós, incluem-se neste processo também o uso do barco ABARÉ, atualmente, utilizado apenas para uso de atendimento médico nas localidades da área citada. As viagens que o ABARÉ realiza pelas comunidades poderiam serem aproveitadas para, em paralelo aos atendimentos médicos, a realização de oficinas de incentivo ao ingresso dos jovens no ensino superior e oferta de minicursos de iniciação ao uso da

câmera e das ferramentas de social mídia existentes atualmente, como o Facebook e YouTube. A grande mídia, mesmo apresentando vários movimentos socias para o grande público, ainda exclui com produções indigenistas e/ou feitas por indígenas, isso consequentemente acaba deixando essa questão extremamente aberta para diretores, de origem comumente norte-americana, trabalharem como querem culturas, costumes e questões religiosas de povos que nem mesmo tem voz na sociedade “moderna”. O filme “Martírio” (2016), dirigido por Vicente Carelli, mostra como povos indígenas originários tentam manter-se, resistir à invasão dos seus territórios e se tornarem visíveis na grande mídia, que constantemente os representam como os verdadeiros invasores, quando na verdade estão tentando reconquistar algo (suas terras) que os pertence. Carelli busca conscientizar sobre o quão complexa é a questão indígena no Brasil não só em “Martírio”, mas também em outros documentários, como “Corumbiara” (2014), onde ele tenta construir uma linha do tempo para entender o massacre ocorrido com o povo por conta de terras e, em partes, por meio do ponto de vista dos índios que sobreviveram. Ainda continuando no cenário brasileiro de produções audiovisuais, mesmo com o trabalho massivo de Carelli, a grande mídia continua retratando o indígena em formas estereotipadas usadas a anos por ela, como representado na figura 2 e 3 abaixo:

Figura 2 - Desenho Betty Boop, “Ritmo na reserve”, 1939 (esquerda). Desenho do PicaPau, “História pra índios”, 1972 (direita).

Figura 3 - Os atores Cláudio Heinrich, (UgaUga, Brasil, 2000/2001) e Cléo Pires (Araguaia 2010/2011), respectivamente, nos papéis dos índios Tatuapú e Estela Karuê. Fonte: TV GLOBO.

Como visto em “Corumbiara” (2014), a divulgação e o compartilhamento de produções indígenas e feita por indígenas é de extrema importância, tanto para concretizar o processo democrático em formação brasileiro quanto para introduzir essas vozes no meio social e torná-las comuns em debates sobre a questão das terras e do agronegócio nacional e internacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os assuntos abordados por este artigo ainda se mantêm sem uma conclusão por conta de ser o início de uma pesquisa, porém, podemos afirmar que investir e dar apoio às causas que estimulem a produção audiovisual indígena é deveras importante para a preservação da cultura brasileira, prova disso são os avanços que o projeto “Vídeo nas aldeias” tem desde a sua criação. Obrigatoriamente, com a expansão desse tipo de projetos pelo Brasil não temos só a representatividade de indígenas, mas também de negros, pessoas da comunidade LGBTI+ e afins, dando voz a minorias há muito excluídas da sociedade atual.

Palavra-chave: Indígena, audiovisual, mídias, influência, independência.

REFERÊNCIAS

KAERCHER, N.A., TONINI, I.M., org. Elaboração de conteúdo: MEINERZ, C.B. et al. Curso de aperfeiçoamento Produção de Material Didático para Diversidade, Porto Alegre: Evangraf/UFRGS, 68-82p., 2011.

CARELLI, V., CORREA, M., MONTE, N. Vídeos nas aldeias se apresenta. Olinda, (2003).

MARTÍRIO, Vincent Carelli, Vídeo nas aldeias Brasil, 2016, 1 DVD.

CORUMBIARA, Vincent Carelli, Vídeo nas aldeias Brasil,

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