Edição 15 - Novembro de 2017 Wlange, Liz Spencer e Lavínia Rocha conversaram conosco sobre seus livros
Especial Negros na Literatura Nacional
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15ª EDIÇÃO Editora Chefe Carol Dias Diagramação Tati Machado
Ícones: Vectors Market, Freepik e Eleonor Wang
Redação Alex Costa Bruno Luiz Silva Clara Savelli Isabelle Reis Lyli Lua Marlon Souza Paula Tavares Patricia Silva Revisão Carol Dias Contato Carol Dias contato@publiqueirevista.com (21) 99575-2012 publiqueirevista.com
EDITORIAL
É novembro, mês da Consciência Negra. Por isso, nossa décima quinta edição é temática. Aqui, vamos celebrar autores negros que produzem literatura no nosso país. Os entrevistados dessa edição foram: Jarid Arraes, cordelista; Wlange, do Wattpad; Liz Spencer, autopublicada na Amazon; e Lavínia Rocha, que nos deu uma palavrinha. O Painel da Literatura Nacional também é especial: separamos oito livros com protagonistas negros para você devorar pelo resto do mês. Alex Costa, do Um Bookaholic, falou na “Blogs.com” sobre a dificuldade de encontrarmos protagonistas negros em livros de fantasia, onde incluir diversidade deveria ser mais simples. “Meio sol amarelo”, da Chimamanda Ngozi Adichie, foi o escolhido para ser resenhado esse mês. Na “Publiquei Seu Livro”, conversamos com o pessoal da editora Malê, que publica exclusivamente histórias de autores negros. A “Falando Nisso” também aproveita o gancho da falta de protagonistas negros na nossa literatura para apontar alguns questionamentos que todo leitor e escritor deveria se fazer. A coluna de eventos veio recheada! Além de um resumo do que aconteceu no nosso Sábado Literário, trouxemos o convite para três eventos próximos: a Semana do Livro Nacional na Baixada, o LiteraCaxias e o The Gift Day. No Top do Mês, vamos falar de Stefano Sant’anna, do livro Existe Amor no Carnaval e do lançamento Estarei ao Seu Lado. Boa leitura!
SUMÁRIO
PAINEL DA LITERATURA NACIONAL TOP DO MÊS FALANDO NISSO INSPIRAÇÃO UMA PALAVRINHA COM ACHEI NO WATTPAD AMAMOS E-BOOKS CAPA BLOGS.COM RESENHA PUBLIQUE SEU LIVRO EVENTOS
Rio de Janeiro - 15ª Edição
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PAINEL DA LITERATURA NACIONAL por Paula Tavares
O mês de novembro é marcado por ser o da consciência negra. Com um assunto tão importante e que ainda pode ser tão bem explorado nos livros, trazemos nesta edição uma seleção de nacionais em que os autores abordaram o tema por meio de seus personagens.
TOP DO MÊS por Marlon Souza
No mês do novembro, três escolhas de sucesso que mostram a pluralidade da literatura nacional
AUTOR | LIVRO | LANÇAMENTO
Stefano Sant’Anna
AUTOR
O autor do mês é jornalista, especializando-se em Produção Editorial. É cantor, produzindo seu primeiro álbum. Organizador de antologias, entusiasta das artes em geral. Seu primeiro livro solo foi “Inverno Negro”, lançado pela editora Empíreo, que foi bem recebido por leitores e críticos. Já o segundo, “Nunca Vi a Chuva”, conta a história de dois irmãos gêmeos que não se conheciam até determinado momento. Têm ganhado cada vez mais destaque por sua narrativa simples e tocante. A primeira edição do livro publicado pela Hope Editorial foi esgotada nos primeiros dias de Bienal do RJ, sendo um dos livros mais vendidos no estande. Stefano também organizou a antologia “Mundo Invertido” pela editora Wish e a cada dia vem se destacando no mercado editorial, seja com seus livros solos, com contos publicados na Amazon ou outros projetos.
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LIVRO
Existe amor no Carnaval “Existe Amor no Carnaval”, da autora Mariana Balbino foi o livro mais vendido na Bienal deste ano no estande da editora Multifoco, responsável por sua edição. O romance tem um público já definido: o jovem-adulto. Narrado com bom humor, “Existe Amor no Carnaval” contará a história de Julia Roxo, uma jovem que vai fazer intercambio em Toronto antes de entrar para a faculdade. O livro não se tornou um sucesso à toa durante a Bienal. Com uma trama descontraída, bem-humorada e cheia de referências ao mundo pop — como o LDRV, vícios por Netflix, dramas de novela mexicana, comédias de Reality Shows de gente bêbada passando vergonha e amores como Harry Potter — não poderia de deixar de ser nossa escolha para o Livro do Mês.
LANÇAMENTO
Estarei ao seu lado Com mais de meio milhão de leituras no Wattpad, “Estarei ao Seu Lado” é um romance policial protagonizado por uma mulher negra, professora universitária de literatura, que salva a vida de um desconhecido no interior do Maranhão. Após um primeiro encontro inesperado, Danielle e John engatam um romance. Depois do sucesso construído na internet e aceitação de um grupo expressivo de leitores na plataforma digital, Danielle Viega Martins assinou contrato para a publicação física com a editora Giostri. O lançamento será no dia 12 de novembro. “Estarei ao Seu Lado” é um livro empoderado. Um romance frenético, que vale a pena ser conferido.
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FALANDO NISSO... por Marlon Souza O primeiro livro nacional que tive contato foi Dom Casmurro, escrito por Machado de Assis. Eu tinha entre quatorze e quinze anos. Já tinha uns três anos que lia razoavelmente bem e arriscava escrever uns textos avulsos sem nenhuma pretensão de que poderia publicá-los num futuro próximo. Fazendo as contas agora, percebo que tem dez anos desde que li esse livro pela primeira vez. Mas por que estou citando uma das mais importantes obras já produzidas em nosso país? Quem sabe até no mundo, não? Decidi começar citando-o por uma questão que passou despercebida de mim na minha época de Ensino Médio e só tomei ciência pelo menos cinco anos depois de conhecer a história de Bentinho e Capitu. Não, não é o eterno dilema que perdura através dos anos, se Capitu traiu ou não Bentinho. Mas algo que é esquecido ou, como aconteceu comigo, não se é informado. Machado de Assis é Negro. Sim! E minha professora de português/literatura (naquela época, as matérias eram unificadas) do meu primeiro ano do Ensino Médio não informou a turma sobre isso. E com os anos eu percebi que não foi um simples “esquecimento” na hora da explicação sobre o autor. Mas sim, o fato de existir um branqueamento de Machado de Assis por todas as mídias. Não sei se de forma
Representatividade Negra na Literatura Nacional
consciente ou algo mais coletivo. Mas sim, existe e muitos como eu, durante seus estudos, quando são apresentados a um dos maiores autores nacionais já existentes não sabem deste detalhe fundamental. Os anos se passaram e percebi que isso não é discutido. Que o negro na literatura é quase como uma subcategoria, de uma subcategoria, de uma subcategoria. Porque quando falamos do negro na literatura, nós falamos de figuras caricatas. Falamos da empregada doméstica, do bandido favelado, da mulata gostosa que só serve como símbolo sexual, do malandro que está ali só para se aproveitar dos outros. E não de escritores negros, de personagens humanizados. Por que é tão difícil encontrar personagens negros como principais de histórias de romance? Não só hipersexualizando-os, como muitos escritores, em sua maioria branca, fazem quando retratam um personagem de cor. A mulata com curvas e rebolado único ou aquele homem viril. Porque não um livro de fantasia onde o protagonista é negro só pelo simples fato de ser? Ou uma
cientista negra buscando seu espaço? Precisamos de personagens negros mais humanizados possíveis. Não só com os dilemas impostos pela sua cor ou pelo racismo. Mas personagens plurais, assim como o negro é. Ninguém é igual a ninguém. Cada pessoa irá vivenciar sua negritude de uma forma diferente. Nem todos os personagens precisam necessariamente ser pobres, órfãos, suburbanos etc. Precisamos sim de representatividade. Precisamos escritores negros que não se limitam a sua negritude. Precisamos olhar para aqueles autores que estão nos diversos saraus existentes. Nas antologias em que pessoas negras têm a oportunidade de expressar sua arte. Nos eventos independentes e nos grandes também! Aos escritores que se sensibilizam e dividem suas histórias. Não precisamos de mais personagens caricatos, de negros só para compor uma cota, de personagens unidimensionais. Precisamos dar voz àqueles que muitas vezes não a tem. 7
INSPIRAÇÃO por Bruno Luiz Dantas
A "escrevivência" de Conceição Evaristo
“Escrever pode ser uma espécie de vingança. Não sei se vingança, talvez desafio, um modo de ferir o silêncio imposto, ou ainda, executar um gesto de teimosia esperança”.
Conceição Evaristo não é apenas um grande nome da nossa Literatura contemporânea. A mineira de 70 anos, nascida em uma favela em Belo Horizonte, é um símbolo da luta contra a discriminação racial, de gênero e classe. Como mulher negra, tem em seus escritos a marca de sua condição e ancestralidade, o que denomina “escrevivência”. O gosto pelos livros começou na infância. Conceição não tinha acesso aos livros e vivia em um entorno de pessoas não letradas. Dessa forma, a oralidade teve papel fundamental como primeiro contato com a Literatura, o que, para a escritora, fez uma enorme diferença. Quando trabalha a arte da palavra, a marca peculiar da cultura oral encontra-se presente. Ora introduz palavras de origem bantu, ora seleciona termos do português arcaico, tudo para dar colorido e musicalidade ao texto. Na adolescência, Conceição Evaristo precisou conciliar os estudos com o trabalho como empregada doméstica. Concluiu o curso normal aos 25 anos. Mudou-se para o Rio de Janeiro, foi aprovada em um concurso público para o 8
magistério. Ao mesmo tempo em que começava a lecionar, cursava Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mais tarde, Conceição cursaria o Mestrado em Literatura Brasileira na PUC-RJ e o Doutorado em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense. Ainda que aposentada da carreira docente desde os anos 90, a escritora segue em atuação na área como professora convidada em instituições de Ensino Superior. Conceição Evaristo conheceu a militância em sua juventude. Ainda em Belo Horizonte, sua história com o movimento social começou com a Juventude Operária Católica, em que se discutia apenas questões sociais. A questão étnica não estava em pauta. Quando veio para o Rio de Janeiro, passou a frequentar reuniões de alguns coletivos do movimento negro, como o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN) e Coletivo de Escritores Negros, onde participava de saraus. Conceição segue militando em movimentos de mulheres negras, mas não como uma liderança. A escritora, já considerada canônica no que tange a
arte das periferias (embora questione essa denominação), acredita que já houve muitos avanços, mas é necessário mudar bastante ainda. Ao definir a realidade da mulher negra no Brasil, Conceição Evaristo diz que é tempo de comemorar as conquistas, sem jamais esquecer que a mulher negra segue vulnerável. Ao mesmo tempo, é resiliente, forte e preparada para superar os obstáculos e mudar a realidade. A história e as obras de Conceição Evaristo carregam uma vida de superação às adversidades, uma identidade genuinamente brasileira e um ideal de igualdade e respeito. Um grito contra preconceito e injustiça, uma luta por um mundo melhor. Permita-se conhecer o trabalho dessa grande autora brasileira. E se depois de ler não gostar tanto de seus escritos, conheça seu discurso, sua força e "escrevivência". A literatura é para todos, e um mundo com as ideias de Conceição em prática é muito mais legal.
UMA PALAVRINHA COM... por Clara Savelli
A mineira que resolveu falar de feminismo e representatividade em seus livros Lavínia Rocha
escreveu seu primeiro livro aos 11 anos e hoje já tem cinco publicados. Suas histórias são voltadas ao público infanto-juvenil e ela busca retratar sempre as dificuldades e problemas desse público, acrescentando temas importantes como feminismo e representatividade. Ela está trabalhando no último volume de sua série de livros, “Entre 3 Mundos”, que ainda não tem nome. No livro, a protagonista Alisa vive em uma sociedade totalmente diferente da de hoje: o Brasil está dividido entre Norte e Sul. No Norte, vivem as pessoas comuns; no Sul, os que tem poderes mágicos. Na entrevista, vamos conhecer um pouco mais dos gostos desta jovem escritora.
Cor: Roxo Lugar no mundo: Gênero para leitura: Algum que eu ainda Romance não tenha conhecido Gênero para escrita: Cidade natal: Fantasia Belo Horizonte Personagem literário: Comida: A Nina, de Entre 3 mundos, é Vaca atolada a personagem que eu gosta- (feita pela minha mãe, de preferência) ria de ser na vida. Dia inesquecível: Autor inspiracão: Lançamento do meu Pedro Bandeira Melhor história que escreveu: primeiro livro Representatividade em Entre 3 mundos uma palavra: Melhor livro que leu: Essencial Difícil escolher! Feminismo é: Música: Necessário Dois Rios - Skank 9
ACHEI NO WATTPAD por Clara Savelli
@WLANGE Wlange tem dezenove anos, mora em Guapimirim/RJ, está no 6º período de Ciências Sociais na UFF e estuda Escrita Criativa e Teoria Literária por conta própria. Tem um irmão mais velho e duas irmãs (sendo uma gêmea!) e sempre brincou de inventar histórias com eles. Aos quatorze anos, decidiu "escrever sério". Na época ela estava um pouco triste e descobriu que escrever, além de ser divertido, era um ótimo jeito de desabafar. Além disso, gosta de ler histórias que se passam na vida real, poesias e clássicos. Livros que a façam chorar ou que a surpreendam tem lugar especial no seu coração. Wlange gosta de fotografar pássaros, geralmente no quintal de sua casa. 10
Publiquei Revista: Como foi que você descobriu o Wattpad e o que te fez começar a publicar nele? Wlange: Não lembro como conheci o Wattpad, mas provavelmente foi na busca por um site onde eu pudesse postar minhas histórias. Alguns dos meus seguidores no Ficçomos já usavam essa plataforma, então talvez eu tenha conhecido através deles. Comecei a publicar lá por causa dos seguidores que pediam para ler histórias minhas. Até o momento eu tinha alguns textos espalhados pela internet e no Wattpad eu pude reuni-los. PR: Você tem dez histórias no Wattpad, de diversos gêneros. Como é para você trabalhar com tantos gêneros literários ao mesmo tempo? É natural? De onde surge a inspiração? W: Desde que comecei a escrever até hoje, ainda estou descobrindo meus gêneros favoritos. Transitar entre gêneros variados é um jeito de eu conhecer melhor aquilo que gosto de criar e aquilo em que sou melhor ou pior. A inspiração vem de todos os lugares: leituras, experiências, sonhos, etc. Também tenho várias ideias anotadas em uma pasta no computador e costumo misturar algumas para formar uma história nova. Às vezes também escrevo a partir de temas dados. Por exemplo, escrevi “O Filho Vivo”, “A Floresta Perto da Nossa Rua” e “A Garota” para concursos temáticos.
PR: Como comentamos: 10 livros! Você consegue escrever mais de um ao mesmo tempo ou só começa um novo depois de acabar o anterior? W: Na verdade, todas as minhas histórias no Wattpad são contos, então são bem rápidos de escrever. Apesar de ter dois romances escritos, eu ainda não publiquei nenhum. Mas, de qualquer maneira, sempre termino o que estou escrevendo antes de começar um projeto novo. Não gosto nem de ler dois livros ao mesmo tempo, imagina escrever. Já cheguei a tentar, mas não deu certo.
PR: Qual é seu autor favorito — dentro e fora do Wattpad? W: Amo a Hilda Hilst. O estilo de prosa dela é emocionante e eu me identifico. Também sou apaixonada pela Clarice Lispector. Entre os autores contemporâneos, gosto muito do Raphael Montes, que já tem um estilo mais transparente e se destaca pelos enredos. Dentro do Wattpad eu leio pouquíssimo, então não tenho autores favoritos por lá, mas atualmente estou acompanhando um livro e gostando muito. O nome é “O Amor Não é Óbvio”, da Elayne Baeta.
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PR: Como você trata a representatividade negra nos seus livros e como você acha que os autores poderiam abordá -la de maneira mais eficiente? W: Nos meus contos do Wattpad, admito que não tem muita representatividade. A grande maioria dos personagens não tem descrição física. Mea culpa. A representatividade ficou mais nas capas dos livros. Já nos meus romances, o segundo é dominado por personagens negros fisicamente descritos e o que estou escrevendo agora coloca a vivência do racismo encoberto que temos muito no Brasil. Acho importante descrever fisicamente os personagens com características negras, porque a verdade é: se você não descrever, a maioria dos leitores vai imaginá-los brancos. Além disso, me incomodo com livros em que todos os personagens principais são brancos e um secundário negro só existe para incluir uma discussão sobre racismo. Isso é coisa de autor branco que quer pagar de desconstruído, mas no fundo não sabe o que está fazendo. Também sou a favor de evitar palavras potencialmente ofensivas, como "mulato", nas descrições. PR: Você estuda Ciências Sociais. De que maneira sua formação acadêmica afeta sua escrita? Além disso, no seu perfil do Wattpad, você diz que deseja fazer doutorado na Rússia. Por quê? W: O curso de Ciências Sociais me ajuda a pensar modos de agir e me comunicar 12
no mundo e acho importante pensar sobre isso se você faz um trabalho criativo. Além disso, existem áreas nas Ciências Sociais dedicadas ao estudo de linguagem, arte, literatura etc. É um campo vasto e tem muito conhecimento útil para escritores. Na graduação, é difícil focar em uma área específica, mas conhecer essas possibilidades é também abrir portas para estudos futuros. Sobre doutorado na Rússia... Pensei em fazer doutorado em Teoria Literária e me interesso pelo Formalismo Russo e por alguns teóricos russos contemporâneos. Então pensei: por que não estudar Teoria Literária russa na Rússia? Não sei se isso vai acontecer mesmo. Talvez eu mude de ideia. Mas, por enquanto, parece legal. PR: Agora, para descontrair: se você pudesse escolher um dos seus livros para ganhar uma adaptação cinematográfica, qual deles seria e quem faria o papel dos protagonistas? W: Seria legal ver “O Filho Vivo” adaptado. “O Movimento Leve” também, porque teria mais espaço para desenvolver toda a história por trás do conto. Mas não faço ideia de quem poderia interpretar os personagens. Nenhum dos meus personagens tem uma aparência concreta na minha mente, então eu provavelmente faria testes de elenco.
AMAMOS EBOOKS
Uma flor-de-lis virginiana Liz Spencer é uma virgi-
niana. Talvez a afirmação inicial não ofereça muitas informações sobre a jovem escritora do Rio de Janeiro, mas a própria autora, que afirma ter dificuldade para falar de si mesma, complementa a explicação, dizendo ser meio neurótica, tímida, louca e perfeccionista. Apesar de viver na Cidade Maravilhosa, o clima preferido de Liz Spencer é o frio, com barulho de chuva e roupas quentinhas. Liz Spencer, aliás, é um pseudônimo. Antes de conhecer o Wattpad, a autora utilizava o pseudônimo de "Flor". Mas ao chegar à plataforma digital canadense, descobriu que já havia uma autora de relativo sucesso com esse nome. Em um mundo cheio de tretas e loucuras, a virginiana achou prudente elaborar um novo pseudônimo. "Liz" surgiu por causa da flor de lis. Já "Spencer" foi captado quando Liz assistia um episódio da série iCarly. Um dos personagens se chamava Spencer. Ela gostou e decidiu usar. O primeiro livro que Liz leu foi "A formiga e a neve". Devia ter uns sete ou oito anos, segundo relata, mas foi seu primeiro contato com a literatura, o que coloca a obra na posição de livro que marcou sua vida. Não demorou muito
para que começasse, ainda no papel, a escrever seu primeiro conto. Era um suspense, uma história sobre tráfico de mulheres e assassinato. Ao mesmo tempo que escrevia sobre temas bem peculiares para a mente de uma criança, já versava em poemas para seus crushes. Na adolescência, começou a escrever fantasia e obras sobrenaturais. Nunca mais parou. No Wattpad, a obra de estreia foi "Aos meus pés". Era um romance clichê, com direito a bad boy e mocinha inocente. Mas Liz Spencer retirou o livro da plataforma, uma vez que acreditava que o texto precisava de revisão. Com "Broken", alcançou grande projeção na plataforma. O livro está disponível na Amazon, onde tem ótimas avaliações. Mas, se você é apaixonado pelo Wattpad, a autora segue publicando novas obras por lá. Não deixe de confirir "Sobre bad boys e flores"! A escritora de Dark Romance e New Adult conta com apoio da mãe e, quando solicitada que se defina em apenas uma palavra, escolhe "dedicação". Novamente atribui essa qualidade ao signo, já que, quando se prontifica a fazer algo, quer que o resultado seja o mais perfeito possível. Ela entende que a perfeição é
por Bruno Luiz Dantas
intangível, mas sempre a busca por causa do signo de Virgem e da forma como foi criada. Liz sofre com bloqueios literários, assim como muitos autores. A solução? Ler, ler e ler! Não cria muitos roteiros para guiar as histórias, tampouco tem manias diferentes na hora de escrever. Gosta de escutar música quando precisa escrever uma cena mais quente ou de ação, e não conclui um capítulo se o anterior não estiver concluído e revisado. E os leitores favoritos? Liz prefere os sinceros. Apesar da dor no peito quando lê críticas, aprende e cresce muito com elas.
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CAPA por Isabelle Reis
Jarid Arraes mostra que veio para o mundo pra lutar! Entre versos, prosas, e cordéis, Jarid Arraes mostra como é ser uma escritora porque quer. Não é porque foi descoberta por uma editora, ou porque alguém apostou no seu talento; começou sua carreira porque ela arriscou e decidiu seguir seu sonho. Escrever cordéis pode não ser a forma mais comum de iniciar na literatura brasileira, mas carrega uma cultura que ganhou força no Nordeste do nosso país. Na esperança de disseminar cada vez mais estes livretos, Jarid, filha e neta de cordelistas, se pôs a escrever. Pela luta contra racismo, feminismo e todos os ismos que existem para machucar as pessoas, Jarid usa suas histórias para combater. 14
Publiquei Revista: Jarid, você já comentou que começou sua carreira literária de forma independente. Quais foram suas maiores dificuldades? Jarid Arraes: Acho que as maiores dificuldades foram duas: dinheiro e divulgação. Como eu queria publicar meu livro físico, a questão da grana para a impressão foi bem complicada. Penso que isso seria um problema para qualquer pessoa que já não tenha bastante dinheiro pra colocar. Eu peguei empréstimo, o que foi bem puxado. E aí entra o outro ponto, que é a divulgação. Quando eu comecei, eu não tinha uma página no Facebook, apenas meu perfil pessoal, então eu tive que aprender, na prática e aos poucos, como divulgar meu livro de uma forma correta e que chegasse até a maior quantidade de pessoas interessadas possível. Eu tive sorte porque as pessoas que compravam faziam a indicação e em menos de um ano o livro esgotou, mas eu sei que não é assim que acontece para a maioria dos autores independentes, principalmente mulheres. Eu também não comecei do nada, já tinha leitores que me acompanhavam na minha coluna da Revista Fórum, que eu mantive até fevereiro de 2016. Olhando para esse quadro inteiro, acho até que tive poucas dificuldades se comparadas com as dificuldades de quem começa "do zero" pode enfrentar. Mas aprendi muito sobre o mercado editorial. PR: Quando você decidiu ser cordelista? Existem cordelistas na sua família? JA: Meu pai e meu avô são cordelistas e eu decidi dar continui-
dade a essa tradição há cerca de cinco anos. Minha intenção sempre foi dar uma espécie de "cara nova" ao cordel. Abordar temas que eu nunca tinha visto nas histórias dos cordéis e atrair leitores que não tinham contato com a Literatura de Cordel. Muita gente que me lê, nunca tinha ouvido falar ou nunca tinha lido um cordel. Isso é algo que valorizo muito, porque consigo juntar dois públicos: os que conhecem cordel, mas se deparam com temas diferentes dos tradicionais, e os que não conhecem o cordel, mas se sentem atraídos pelo conteúdo das histórias. PR: “Heroínas Negras na História do Brasil” foi sua forma de exaltar o feminismo e combater o racismo. Como foi a decisão de abordar estes temas? JA: Eu cresci sem qualquer referência de mulheres negras nas quais pudesse me enxergar. Não ouvi falar de mulheres negras que marcaram nossa história. Nem na escola, nem na mídia. Então eu sabia que essa era a realidade da maioria de nós e que essas páginas tão importantes da nossa história estavam faltando. Eu pensei que eu poderia contribuir de alguma forma com minha escrita, criando cordéis que contassem, pela métrica e pela rima, as biografias dessas mulheres negras que fizeram grandes contribuições para o Brasil. Eu não esperava o sucesso gigantesco que foi essa coleção, mas com o passar do tempo senti a necessidade de transformar esses cordéis em livro, para que as pessoas tivessem à disposição um material mais duradouro, o que facilitaria também o uso em escolas. Essa é uma ale-
gria enorme que tenho, saber que consegui contribuir para que esse quadro de esquecimento seja mudado. PR: Você vem de uma trajetória autônoma e hoje tem seu livro distribuído pela Pólen. Qual é a sensação de vê-lo nas maiores livrarias do país? JA: É muito especial quando me enviam fotos dos meus livros, tanto o “Heroínas Negras Brasileiras”, quanto o “As Lendas de Dandara”, nas vitrines das livrarias ou em seleções de destaque. Fico muito feliz, porque foi algo com o qual sonhei, principalmente quando estava começando a me autopublicar. Mas também aprendi muito pela experiência, com os contatos que fui fazendo e o que fui observando do mercado editorial, e hoje já não penso que estar em uma livraria é tudo o que me importa. Qualquer cálculo rápido pode concluir que as livrarias são as que mais lucram com as obras dos autores, depois as editoras e, por último, quem escreveu o livro. O mercado editorial tem problemas sérios e eles se tornam ainda piores se quem escreve o livro é uma mulher, negra, enfim, se está fora do “padrão" e da maioria publicada, que é de homens brancos. Há estudos mostrando esses dados, um que posso citar agora é o coordenado pela Regina Dalcastagne da UnB. Então as editoras publicam mais homens brancos, as livrarias lucram muito, vendem espaços em suas vitrines e prateleiras para dar destaque a quem paga mais, as editoras não se importam em divulgar os livros 15
PR: Questões raciais sempre fizeram parte da sua caminhada como escritora? JA: Sempre fizeram parte de um jeito ou de outro. Ou porque eu sempre fiz questão de escrever personagens negros que não fossem estereótipos ridículos e reduzidos, ou porque me fecharam portas pelo simples fato de eu ser negra. Não é algo que eu posso simplesmente ignorar. Hoje estou trabalhando no meu próximo livro, que é de poesias e muito diferente do que fiz até o momento, mas ali ainda há a questão racial aparecendo em alguns poemas. Sou uma mulher negra, isso faz parte do meu lugar no mundo, das lutas que travo, das alegrias que tenho, da minha identidade, enfim. Acho importante ser bastante vocal (e literária) a respeito disso, porque pessoas negras quase não são publicadas por editoras, especialmente as maiores, e quase não são convidadas para falar em eventos literários. Então meu espaço, minhas conquistas,
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dos autores que não se enquadram nesses "padrões" ridículos e assim a roda gira. Tenho orgulho do meu trabalho porque nunca paguei para ficar em vitrines e coisas do tipo, mas é importante que as pessoas saibam como o mercado funciona.
Não é algo que eu posso simplesmente ignorar!
tudo isso é coletivo. É algo muito maior do que eu. PR: Você gosta de misturar lendas, fantasia, história e realidade? Como isso funciona nos seus livros? JA: Nos cordéis e no meu primeiro livro, o "As Lendas de Dandara", eu escrevi muita coisa nessa pegada de fantasia misturada com lendas e histórias. Gosto muito desse gênero e queria fazer algo que nunca li ou vi antes. Não tinha um livro de fantasia com protagonistas negros e orixás como deuses. Eu nem sou de religião de matriz africana, mas se eu via tantos deuses nórdicos, celtas e etc nas histórias, por que não deuses africanos? Mitologia africana? Foi uma etapa que precisei cumprir para preencher uma lacuna. Hoje quero me dedicar a outras coisas, seguir escrevendo o que eu gostaria de ter lido e me expressando o mais genuinamente possível.
PR: Olhando para a Jarid, lá de 2012, você vê uma evolução como escritora? JA: Com certeza vejo essa evolução. Meu primeiro livro foi a primeira vez que escrevi uma prosa longa. Em agosto desse ano eu terminei um livro de contos e estava muito leve, livre e satisfeita em escrever prosa. Mudei muito meu modo de contar histórias, mas percebo que a poesia está sempre presente. Minha formação literária é toda baseada na poesia, cresci lendo poesia aos montes, então essa é uma influência muito marcante em tudo que escrevo. Com meu livro de poemas acho que isso vai ficar mais claro, esse amadurecimento. Estou bem empolgada e ansiosa para compartilhar com quem me acompanha. PR: Conta um pouco do Clube da Escrita Para Mulheres que você criou em 2015. JA: Criei o Clube da Escrita Para Mulheres alguns meses depois de lançar meu livro independen-
te, porque sentia falta de conversar com outras mulheres sobre as dificuldades do mercado editorial, procurar alternativas e formas de romper o machismo e o racismo no meio, e também queria juntar um grupo de escritoras (ou de mulheres que queriam começar a escrever) pra que a gente escrevesse juntas, trocando dicas, apoiando, opinando sobre o que a outra está escrevendo e fazer isso tudo de forma coletiva, com acolhimento, criando possibilidades e novos caminhos. O Clube sempre foi um sucesso, sempre teve muita gente nova chegando e muita gente que foi no primeiro encontro e continua indo até hoje. PR: Como foi a sensação de ter um musical inspirado em “Heroínas Negras Brasileiras”? JA: Foi uma emoção tão grande! Nunca que eu ia imaginar que a Thalma de Freitas, essa mulher maravilhosa, faria algo assim. Foi emocionante, sabe? Ver a força e o espelho que essas heroínas são para nós. É lindo. E eu fico ainda mais feliz porque há outro grupo, esse do Rio de Janeiro, também trabalhando no show do livro. Nessas horas a gente vê como a arte pode ser incrível, plural, diversa e como toca as pessoas profundamente. Sou imensamente grata. PR: Quais dicas você dá para quem quer começar a escrever cordéis? JA: Minha primeira e mais importante dica é que leia muitos cordéis. Se familiarize bastante com a linguagem, o ritmo, a métrica e a melodia que o cordel tem. Quanto mais você se torna
íntimo do cordel, mais fácil vai ser para escrever. Comigo foi totalmente assim, já que cresci lendo os cordéis do meu avô e do meu pai. Mas isso vale para qualquer estilo literário: a familiaridade e a prática são o segredo. Não é dom, não é algo que poucos conseguem. Todo mundo consegue porque escrever é exercício, trabalho, esforço, frustração, estudo. PR: Deixe um recadinho para os leitores da revista. JA: Procurem ler livros que fogem do mais do mesmo. Livros de autores independentes, com histórias que vão além do cenário europeu ou das grandes capitais. Façam o exercício de diversificar suas leituras. Não leiam somente o que as gran-
des editoras publicam, não comprem somente nas grandes livrarias. Com isso vocês ajudam a construção de uma lógica diferente, melhor, mais plural. Tem muita coisa incrível por aí que não consegue o mesmo espaço dos livros que estão nas vitrines e nas seleções de mais vendidos (muitos ali pagam para estar naquele lugar, viu?). Os leitores têm um papel fundamental nisso tudo. E se vocês também escrevem, façam sempre o exercício de refletir sobre seus personagens, sobre estereótipos, clichês racistas e machistas, porque sua obrigação como quem cria é ser criativo. Se você repete o que já tem sido feito há séculos, onde está sua criatividade? 17
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Representatividade nos livros de fantasia por Alex Costa
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astelos, dragões, batalhas épicas e um mundo completamente diferente do nosso: esses são os elementos mais comuns de uma fantasia. Um gênero que costuma ser conhecido por nos apresentar novos mundos, novas raças, novas possibilidades. Heróis, com sua armadura, saem empunhando uma espada para deter o vilão que vem assolando o povo; histórias com muitos plot-twists que te chocam e te fazem querer entrar na história ainda mais; quebra-cabeças a serem resolvidos, problemas a serem solucionados, enigmas a serem desvendados. Além de um mundo bem construído e uma trama envolvente, é necessário que estas histórias tenham um personagem principal, já que ele é quem vai nos conduzir por esse novo universo. Nós, leitores, vamos de mãos dadas a ele e, de pouco em pouco, entendendo suas motivações e as regras desse novo mundo. Muitas das histórias de fantasia que lemos hoje em dia se passam na época medieval, com seus protagonistas de pele clara, que vivem sacudindo a cabeça para tirar a mecha 18
de cabelo que caiu por sobre os olhos claros. Protagonistas esses que defendem a civilização pobre e indefesa, formada majoritariamente por homens negros que trabalham como pedreiros e mulheres negras que, ou são escravas, ou são donas de casa. Quantas vezes esses papéis já foram invertidos? Muitos autores usam a frase “ah, mas é numa Europa da Idade Média, a vida lá era assim mesmo” para justificar a ausência de protagonistas negros empoderados, nesse tipo de história. Não digo que a ausência desse tipo de protagonista indica racismo da parte do autor, mas que isso é, sim, o racismo que a sociedade impõe e nós não percebemos. Estamos falando de um gênero que nos permite criar criaturas, civilizações e mundos completos; é tão difícil assim usar um negro para protagonizar uma história de fantasia épica? “Só jogar um personagem lá e tá tudo certo”. Hm, receio que não. Não estamos falando de preenchimento de cota, mas de fazer com que pessoas leiam e se sintam representadas, sintam que também pode desbravar o mundo e que
são, sim, capazes de enfrentar um dragão gigante — ou seu maior medo, depende do ponto de vista. Metáforas são outras grandes vantagens das fantasias. Existem diversas formas diferentes — e boas — de representar um grupo e a mais comum (e fácil) é, além de colocar um personagem desse tipo, dar importância a ele, fazer com que ele desempenhe um papel dentro da trama. É bom quando nós, enquanto leitores, sentimos que podemos fazer parte daquele universo, que somos, sim, capazes de desbravar novas possibilidades. Dos livros que li, poucos são os que apresentam um protagonista negro; O Despertar da Fênix (Marlon Souza, 2017) e O Feiticeiro de Terramar (Ursula K Le Guin, 1968) são exemplos de livros com esse tipo de representatividade. Normalmente, precisamos parabenizar os autores por incluírem minorias — não é o caso dos negros, vale lembrar — em seus livros, quando isso era para ser o comum. É tão utópico assim escrever livros onde racismo não existe? Onde as mulheres não são objetificadas? De pouco em pouco, personagens negros relevantes vão ganhando seu espaço no mercado editorial e na sociedade como um todo. De pouco em pouco, a normalidade. Um passo de cada vez.
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O mundo estava calado quando eles nos colonizaram
RESENHA
Como os eventos mais extraordinários e, a princípio, tão fora da nossa rotina diária, na verdade estão na base de quem somos. Uma das coisas mais importantes de se entender ao ler um livro como este é que leituras como “Meio sol amarelo” sempre vão além das questões narrativas que podem afastar ou atrair leitores. Elas nos trazem dados de realidade que nos assustam e emocionam por nos unirem na ficção através de uma experiência humana que é comum a todos nós, independentemente de uma identificação pessoal com eventos ocorridos há várias décadas em um lugar que parece tão distante e estrangeiro a nós. E este é um dos principais dados que tornam os clássicos literários clássicos. A maestria da narrativa de Chimamanda Ngozi Adichie está, principalmente, em colocar seus personagens, que são extremamente complexos tanto em seus desejos quanto motivações, no meio do “evento histórico” que é o palco central do livro, trazendo uma visão particular e única sobre o mesmo. É a partir da experiência de Ugwu, Olanna e Richard que apreendemos a crueldade da guerra. É a preocupação de Olanna sobre uma possível traição do marido em meio a uma precarização cada vez maior da vida humana em meio a fome, a doença e a violência que nos joga em meio ao conflito. Assim como o ciúme de Richard sobre a relação de Kainene e Madu o torna mais fervoroso em seu sentimento nacionalista em relação a República de Biafra, ape-
sar de ser branco e inglês, em um momento da narrativa em que este tipo de sentimento é fundamental para a compreensão do que virá a seguir. Tudo isso traz a universalidade das questões humanas para o centro da narrativa sem que haja a perda da individualidade de cada personagem ou leitor. Porém, algumas das questões levantadas pela autora no livro, intencionalmente ou não, dizem a respeito às experiências particulares de minorias historicamente oprimidas em todo o mundo. Como mulher, negra e nigeriana, não seria possível para Chimamanda não entrar em determinados assuntos. Uma das questões mais imperativas desta narrativa é empoderamento feminino tanto nos momentos de paz quando nos de guerra, onde fica claro que mesmo marginalizada, a população feminina possui o poder para fazer a diferença. O mesmo vale para as questões raciais e políticas. Por mais que existam dados particulares à Nigéria dos anos 60 na narrativa, as discussões presentes no livro são relevantes até hoje,
por Patrícia Silva em um contexto mundial onde boa parte do mundo foi colonizada por nações europeias e as populações locais foram massacradas, escravizadas, vendidas e oprimidas pelas mesmas. Além disso, existe uma questão de classe que perpassa os personagens, mesmo em seus piores momentos, e que é muito presente na nossa vida cotidiana. A casa cheia de livros de Odenigbo e suas reuniões particulares com intelectuais possuem uma familiaridade a qualquer membro da classe média ao mesmo tempo em que seu discurso revolucionário contra o branco opressor possa parecer alienígena a quem não conhece a fundo as questões raciais. E isso se mostra também em pequenos detalhes, como a falta que faz a Ugwu, originalmente vindo de uma aldeia para ser empregado, coisas como livros e papel higiénico ou na relutância de Olanna em deixar Baby brincar livremente com as outras crianças refugiadas em um contexto onde não se imaginaria que isso seria importante. O que também é demonstrado na reprodução de discursos estereotipados que saem da boca de personagens brancos e negros. Isso tudo, no entanto, nos indica a importância de, no papel de leitores, escritores e seres humanos em geral, ir atrás das mais diversas experiências humanas para que possamos entende-las. Pois na diferença sempre há a semelhança e a literatura possui esse poder de demonstrar isso, seja ela clássica ou não. 19
PUBLIQUE SEU LIVRO por Isabelle Reis
Conheça quem aposta nos autores negros: Só o ato de um escritor negro publicar, já é um modo de resistência. A falta de oportunidade traz novas ideias e empreendedores. Foi o caso da Editora Malê, que depois de perceber a parcela ínfima dos autores afro-brasileiros contemporâneos que foram publicados, decidiu se lançar no mercado e abraçar a causa. Na edição de agosto da Publiquei falamos sobre uma editora que havia distribuído livros de graça pela Festa Literária de Paraty em julho deste ano e os títulos foram publicados pela Editora Malê, que em frente à sua casa na FLIP, montou uma mesa e colocou seus livros para quem quisesse pegar. Uma ideia para as pessoas começarem a ler este tipo de literatura. Publiquei Revista: Como surgiu a ideia de fazer uma editora para a representação da literatura negra? Editora Malê: A partir de uma pesquisa em que identifiquei a pequena presença de livros de autores negros contemporâneos em bibliotecas e livrarias e ao identificar os motivos destes autores não estarem tão presentes em todas as esferas do mercado editorial.
editor estou sempre pesquisando, alguns escritores indicam outros escritores e outros fazem contato direto com a editora e apresentam seus trabalhos. A Malê é uma editora pequena, então é claro que não conseguimos atender a grande demanda de autores querendo ser publicados. Os textos podem ser encaminhados para o e-mail originais@editoramale.com.br. Temos um cuidado muito grande na construção do nosso caPR: Esta é uma editora nova tálogo, o que leva o processo de no mercado, que começou em seleção de originais ser bastan2016. O que faz os novos es- te lento. critores procurarem por vocês? EM: O perfil editorial bem defi- PR: A literatura negra de renido, que faz com que autores sistência é o principal tema da negros vejam a Malê como uma editora? possível porta de entrada para EM: Nosso perfil editorial é vola publicação de seus primeiros tado para a publicação de autolivros. res negros, mas não necessariamente de uma literatura negra. PR: Como funciona a triagem Se pensarmos no conceito de de novos originais na Malê? literatura negra, nem todos os EM: De diversas formas. Como escritores negros escrevem 20
uma literatura negra, no entanto, apenas o fato de escreverem e de publicarem, em um país tão desigual racialmente, já é um ato de resistência. PR: Vocês dão suporte para os novos escritores? EM: Temos um prêmio voltado para novos escritores, Prêmio Malê de Literatura, que consiste na publicação de um livro com dez textos vencedores, e realizamos oficinas de escrita criativa para jovens autores. PR: Deixe um recado para os leitores da Publiquei. EM: Um bom escritor é antes de tudo um bom leitor, então o recado que eu deixo é para que os leitores ampliem seus interesses e busquem ler obras escritas por mulheres, por negros e por indígenas, é algo que vai colaborar bastante na percepção de mundo do futuro escritor.
EVENTOS por Carol Dias
Eventos de hoje, de ontem e de amanhã Depois do Sábado Literário, a Publiquei marcará presença em mais três eventos até dezembro Durante o evento, também falamos de alguns dos projetos da Publiquei: um deles, o Folia Literária, que é o evento de Carnaval que estamos preparando; o lançamento de “Dança Perigosa”, primeiro da Isabelle Reis, nossa redatora, e do nosso selo editorial; e também da nossa primeira antologia, que temporariamente está sendo chamada de “O Baile de Máscaras”. Fique atento às nossas redes sociais para não perder as novidades desses e outros projetos da Publiquei. O primeiro evento totalmente organizado pela Publiquei saiu! No dia 28 de outubro, na Barra da Tijuca, o Sábado Literário reuniu leitores e autores para um super bate-papo. Era a comemoração do primeiro aniversário da revista, então tivemos muita conversa, sorteio de livro e até bolo! O evento contou com quatro mesas de debate: “O Meu País Wattpad”, mediada pela Clara Savelli, contou com a experiência da Thaís A. Araújo e Clara Alves na plataforma; “Literatura e Redes Sociais”, que tinha a presença das au-
toras Giulia Paim, Dresa Guerra e Naty Rangel, falou sobre a importância que tais redes tem no trabalho de divulgação da nova literatura nacional e foi mediada pelo Bruno Silva Dantas; “Mundo das Fanfics” tinha Eloá Gaspar, Carol Caputo e Alexia Road como convidadas e Carol Dias como mediadora, para conversar sobre esse assunto que tem crescido cada dia mais nas redes de discussões; para fechar o evento, a “Publique Seu Livro” conversou com Catia Mourão (Ler Editorial), Katerine Grinaldi (Sinna) e Pietra Von Bretch (PvB Editorial) sobre o mercado para as editoras pequenas.
Giulia Paim, no debate sobre Literatura e Redes Sociais
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A Semana do Livro Nacional finalmente chegou à Baixada Fluminense
Se você é do Rio de Janeiro já sabe, mas se você não é, a gente explica. Existe um movimento recente que está tentando trazer a literatura para as áreas mais periféricas da nossa cidade. Enquanto todos os eventos literários se concentravam nas regiões da Zona Sul, Centro e Barra da Tijuca, os leitores da Zona Norte, Oeste e Baixada Fluminense precisavam se deslocar bastante para ver seus autores favoritos. Nesse sábado, a Publiquei vai participar de um evento que reforça esse movimento. A Semana do Livro Nacional, organizada pela União Literária, vai falar trazer autores do Rio e de fora para Nova Iguaçu. É a primeira vez que a SNL acontece na Baixada. Serão seis mesas de bate-papo: Publicação, Lançamentos, Redes Sociais, Plataformas Digitais, Eventos Literários e Baixada da Literatura. Uma delas é de responsabilidade da Publiquei: eu, Carol Dias, fui convidada para mediar a conversa entre Luciane Rangel, Eloá Gaspar, Thaís A. Araújo, Marlon Souza, Lu Ain-Zaila e Ana Carolina Dias sobre Eventos Literários. O evento acontece no próximo dia 18, sábado, às 13h, na Casa de Cultura de Nova Iguaçu.
LiteraCaxias chega sua quinta edição
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O primeiro evento que eu fui na Baixada Fluminense foi a primeira edição do LiteraCaxias. Antes disso, não tinha nem ouvido falar sobre eventos na região. Desde então, ele é para mim a prova viva de que as regiões periféricas da cidade têm sim leitores — muitos, se você duvida, o evento do Facebook já conta com mais de 190 confirmações e 440 interessados. O próximo vai acontecer na Biblioteca Municipal Governador Leonel de Moura Brizola, no dia 3 de dezembro, às 12h30min. Ao final desta matéria, você confere com exclusividade a programação oficial do evento.
A The Gift Box preparou produtos especiais da série Elementos para a vinda da autora ao Brasil. Visite o site para conferir:
thegiftboxbr.com
Autora internacional e premiação de Melhores do Ano no The Gift Day
A Publiquei já cobriu o The Gift Day por duas vezes: em dezembro do ano passado, na edição de Natal, e em junho deste ano, na edição de Dia dos Namorados. Dessa vez, a The Gift Box vai trazer a autora internacional Brittainy C. Cherry, da série Elementos, para duas edições do evento: em São Paulo, no dia 9, e no Rio de Janeiro, no dia 10. “A autora está mega feliz em nos visitar e vamos fazer desse evento uma festa com alegria e muito amor. Estamos preparando algumas surpresas para os leitores no dia”, comenta Beatriz Soares, organizadora do evento. Duas das surpresas ficam por conta dos modelos Franggy Yanez e Stuart Reardon, que foram capa do primeiro e último livro da série. Para o evento do Rio, será feita também a entrega do prêmio Melhores do Ano. É o terceiro ano consecutivo que a Beatriz promove a premiação, que coroa os favoritos dos leitores por voto popular. O prazo para escolher os vencedores já terminou, mas você pode ver quem concorreu na página da The Gift Box no Facebook. Lá, você também confere todas as informações para os eventos do fim do ano, com a presença da Brittainy.
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