HĂĄ 20 anos o Brasil perdia o maior piloto de todos os tempos
Race Um especial sobre a vida do maior piloto do automobilismo mundial
Edição digital 02 | ANO 3 |MAIO 2014
SUMÁRIO
CARTA DO EDITOR Essa é uma edição que eu não queria ter produzido. Seria estranho ler isso em qualquer editorial se não fosse pelo tema: os 20 anos da morte de Ayrton Senna. Seria muito melhor estamos aqui comemorando os anos de seus títulos. Mas, infelizmente, o maior piloto de todos os tempos teve uma breve carreira de apenas 10 anos na Fórmula 1. Pode parecer que 10 anos é muito tempo. Mas não diante de Senna. Até 20 anos seriam poucos para ele mostrar toda sua genialidade, presteza e habilidade ao volante. Apesar de números significativos e recordes memoráveis, como mostramos nessa edição, ainda foi pouco. Sempre se diz que Ayrton foi um dos melhores pilotos de todos os tempos da F1. Na minha opinião, ele é o melhor e não vai aparecer outro como ele. Não tive a felicidade de acompanhar seus títulos ‘ao vivo’ mas sempre fui apaixonado pela forma como ele pilotava e pesquisei muito sobre tudo de Senna. Por isso digo, não há e não terá outro igual. Uma carreira brilhante, rápida e intensa. Com vitórias mágicas, ultrapassagens de tirar o fôlego (aquela primeira volta em Donington Park em 1993 que o diga), brigas, rivalidades e um coração humano e alegre. Esse espírito controverso do brasileiro somado a sua força de vontade, garra e desejo em se superar cada vez mais foi que o cativou a todos na F1. Fora das pistas, o que arrebatou o coração de milhares de pessoas foi o orgulho que Senna carregava pelo país. Era incrível ver como o Brasil parava para assistir suas corridas, como o sentimento nostálgico faz parte de todos ainda hoje. Basta falar de Fórmula 1 que alguém cita o mito Ayrton. Nessa edição mostramos tudo isso com muitos detalhes: toda a carreira de Ayrton Senna da Silva, do kart até a Tamburello; os impressionantes números do brasileiro, como o recorde que ainda hoje é dele - o de pole-positions consecutivas; como o Brasil inteiro parou naquele domingo, fazendo o presidente da república decretar luto oficial e o enterrar com honras de chefe de estado; e todo o amor que o povo brasileiro ainda tem por ele. Essa é nossa pequena homenagem ao maior de todos os tempos. Um material para não deixar a memória de Ayrton Senna se apagar. Para que a nova geração saiba quem foi ele e o admire assim como seus pais, mães, tios e irmãos mais velhos já fazem. Porque essa história não pode ser esquecida. E não será. Boa leitura a todos!
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ESPECIAL AYRTON SENNA
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Ídolo, mas não por acaso Ayrton Senna: os recordes Ídolo eternizado Lágrimas para um ídolo
Race Revista
O MELHOR CONTEÚDO AUTOMOBILÍSTICO
Diretor Executivo Jaderson Santos Editor Chefe Mário Victor Tavares Direção de arte e diagramação José Fabiano L Oliveira Revisão Equipe F1team Redatores Gilberto Caetano Vicktor Tigre Paulo Feijó Colaborador Alexandre Arditti (Repórter Jornal do Commercio)
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ÍDOLO, MAS NÃO POR ACASO Orgulho de mostrar as cores do Brasil somado a dedicação e aos bons resultados na pista fizeram Ayrton tornar-se o maior ídolo nacional por Paulo Feijó
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ornar-se o maior ídolo nacional não é uma tarefa fácil para qualquer esportista. O reconhecimento de um país inteiro não vem do dia para a noite e não acontece apenas pelos seus resultados. Uma série de fatores influenciam na idolatria por um atleta e, quando se fala em um ídolo brasileiro e também do mundo, isso maximiza ainda mais a dificuldade para o reconhecimento. Mas essa tarefa não foi difícil para Ayrton Senna. Não apenas por ser o melhor piloto que a Fórmula 1 já viu, mas também pelo seu comportamento fora das pistas, levando sempre
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consigo o orgulho por uma nação, uma imensa humanidade e desejo por justiça. Senna tinha tudo para simplesmente “esquecer” o seu país. Além de ter tido uma pequena participação no automobilismo nacional, ele tinha fama e sucesso por todo o mundo e era ídolo por onde a F1 passava. Mas ele sempre fez questão de levar consigo a bandeira brasileira para mostrar ao mundo qual era a sua verdadeira nacionalidade, quem ele representava na principal categoria do automobilismo mundial. E foi por isso que ele se tornou, sem sombra de dúvidas, o maior ídolo do Brasil.
A carreira de Ayrton no automobilismo começou cedo. Tendo contato com o kart desde os quatro anos de idade, o garoto de São Paulo iniciou as competições aos treze. Depois de fazer sucesso em várias categorias menores, se tornou titular da Fórmula 1 em 1984, quando assinou com a Toleman. Novato na principal categoria do automobilismo mundial, o brasileiro impressionou logo na segunda corrida, terminando o GP da África do Sul na sexta posição e marcando o seu primeiro ponto na F1. Mas foi no GP de Mônaco, sexta etapa do campeonato, que Senna chocou a
todos com uma pilotagem arrojada e só não venceu a corrida porque a direção de prova resolveu encerrá-la antes do fim. No ano seguinte, Senna se transferiu para a Lotus. E foi pela escuderia britânica que o brasileiro conquistou a sua primeira vitória na Fórmula 1, no GP de Portugal, segunda etapa do campeonato de 1985. A parceria com a equipe durou três temporadas, encerrando no fim de 87, quando ele foi contratado pela McLaren. Ao chegar no time comandado por Ron Dennis, Ayrton se deparou com um dos melhores pilotos da época como companheiro de equipe, Alain Prost. A disputa interna era grande, mas ele conseguiu ser campeão logo na sua temporada de estreia no time de Woking, gerando o clima tenso nos bastidores da escuderia. No campeonato seguinte, a rivalidade entre a dupla da McLaren ficou muito maior. O ápice da briga entre os dois aconteceu no GP do Japão, MAIO 2014
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penúltima etapa daquele ano. Senna precisava vencer para superar Prost no campeonato e ser campeão, quando aconteceu a famosa “fechada” do francês para cima do brasileiro. Ayrton venceu, mas foi desclassificado por manobra irregular e Alain sagrou-se campeão. Em 90 veio o troco. A situação era semelhante entre os dois na classificação, mas eles já não eram mais companheiros de equipe, pois Prost havia ido para a Ferrari. Na primeira curva, Senna e Alain se tocaram e foram parar na caixa de areia, abandonando a prova. Desta vez, a vantagem era do brasileiro, que ficou com o título. Ayrton se tornou tricampeão mundial em 91, em sua melhor temporada pela Fórmula 1. Muito mais maduro, o brasileiro dominou o início do campeonato e, mesmo com o crescimento da Williams de Mansell, garantiu mais um título e mais uma vez em Suzuka. Foi também naquele ano que o brasileiro venceu pela primeira vez o GP do Brasil, em uma prova para lá de emocionante. Os anos seguintes da carreira de Ayrton não foram fáceis. Em 92, a McLaren não tinha forças para superar a Williams, que utilizou várias inovações tecnológicas, tornando seus carros
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praticamente imbatíveis. No fim do campeonato de 93, querendo brigar por mais um título, Senna se despediu da McLaren para ir justamente para o time de Grove. Mas a mudança acabou não sendo tão boa quanto ele esperava. Quando ele chegou na Williams, em 94, Adrian Newey tinha “errado a mão” no carro, e o bólido não estava bom como na temporada anterior - só melhorou depois e Damon Hill disputou o título com Schumacher até a última corrida. Foi naquele ano que o esporte a motor perdeu o seu melhor piloto. No GP de San Marino de 1994, a Fórmula 1 viveu o seu pior fim de semana da história. Nos treinos livres da sexta-feira, Rubens Barrichello bateu forte e, por pouco, não perdeu a vida. No dia seguinte, na no último treino livre, Roland Ratzenberger também perdeu o controle do carro, mas não teve a mesma sorte que Rubinho e acabou falecendo. No domingo, dia da corrida, Senna estava tenso. Pressionado pelos problemas da Williams e chocado com os acidentes, o brasileiro parecia não querer correr. Mas seu profissionalismo falou mais alto e ele foi para a pista, para o sua última corrida da carreira, que só durou
sete voltas. Ali, naquele 1º de maio de 1994, “Dia do Trabalhador”, não só o Brasil, mas o mundo inteiro, perdia um dos seus maiores trabalhadores e, sem sombra de dúvidas, o melhor piloto de todos os tempos.
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AYRTON SENNA: OS RECORDES DE UM TRICAMPEÃO
20 anos após sua morte, os números descrevem quem realmente foi Ayrton Senna da Silva nas pistas durante os seus dez anos de Fórmula 1 por Vicktor Tigre
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á duas décadas, a Fórmula 1 deixava de ser o que era. As manhãs de domingo perdiam o sentindo para os brasileiros. A mais de 200 km/h, Ayrton Senna se chocava violentamente na curva Tamburello durante o GP de San Marino de 1994. O impacto deixou um país inteiro em lágrimas e saudades do eterno tetracampeão. Ao todo, Senna correu por dez temporadas na Fórmula 1. Largou 161 vezes dos seus 162 GPs disputados. Conquistou três títulos mundiais, 41 vitórias, 80 pódios, 614 pontos, 65 pole-positions e 19 voltas rápidas e outros recordes. O mais importante - e o que ainda persiste atualmente - é o número de pole positions seguidos. Até os dias atuais, nenhum piloto conseguiu quebrar a sequências de oito poles seguidas conseguidas por Ayrton desde o GP da Espanha de 1988 até o GP dos Estados Unidos de 1989. Além disso, Senna é o segundo piloto com maior número de pole position. Ao todo, o piloto brasileiro tem 65 poles realizadas em 162 treinos classificatórios, com o aproveitamento de 40,1%. Ele só perde para Michael Schumacher, que tem 69, realizadas em 308 classificatórios. Senna ficou empatado com o lendário Alberto Ascari na quantidade de ‘hat-tricks’, que é a pole position seguida de vitória e melhor volta no final de semana. O tricampeão brasileiro só conseguiu, por sete ocasiões, ser o mais rápido nas qualificações e vencer a corrida no dia seguinte. Senna também foi o quarto no ranking dos
pilotos que realizou um ‘Grand-Chelem’ – ‘hat-tricks’ com direito a vitória de ponta a ponta. Por quatro vezes ele conseguiu realizar esse feito. Empatado com ele está Jackie Stewart, Nigel Mansell e Sebastian Vettel. Na quantidade de pódios, Ayrton Senna é o quarto piloto que mais acumulou presença neles no final de uma corrida. Ao todo, foram 80, o que rende o aproveitamento de 49,3%. O tricampeão só perdeu para Fernando Alonso, Alain Prost e Michael Schumacher. Além disso, Senna foi o último campeão com os antigos motores Turbo em 1988, com a McLaren-Honda. O brasileiro, junto com Prost, foram os únicos drivers de uma equipe a disputar quatro títulos juntos, de 1988 a 1993.
Junto com Niki Lauda, Nelson Piquet e Alain Prost, Senna foi campeão com os motores turbos e aspirados. Fora isso, as 41 vitórias de Senna lhe garantiram o terceiro posto no raking dos pilotos que mais venceram na Fórmula 1. Ele perde somente para Alain Prost e Michael Schumacher. Esses números nos ajudam a entender um pouco melhor quem foi Senna dentro das pistas. Quem conviveu com ele diz que uma das suas maiores qualidades era a de se cobrar o máximo e sempre querer se superar. O resultados estão nesses números que mostramos. Estatísticas de um dos maiores de todos os tempos, por mais que seus recordes sejam quebrados. MAIO 2014
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ÍDOLO ETERNIZADO Entenda porque ainda 20 anos depois, Ayrton Senna continua sendo adorado no Brasil por Alexandre Arditti
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bandeira brasileiro empunhada com ar heroico depois de cada vitória, desfilando pelo circuito, reverenciada mundo afora. O capacete verde, amarelo e azul, uma homenagem às cores do País. A emoção incontida no degrau mais alto do pódio a cada vez que o hino nacional brasileiro tocava. Gestos espontâneos e cheios de simbolismo que contribuíram para resgatar o orgulho de uma nação inteira, nem que fosse apenas nas manhãs de domingo. Ao longo de dez temporadas na Fórmula 1 (de 1984 até 1994), Ayrton Senna foi a tradução da imagem de um “Brasil que dá certo”. Imagem que fez com que se tornasse um ídolo perene. Aqueles eram anos complicados para o País. O orgulho andava arranhado por sucessivos problemas nos campos político, econômico e social. Nem mesmo o futebol era motivo para alegrias – o time canarinho amargava decepção atrás de decepção depois do tri em 70. Era difícil não ser tomado pelo “complexo de vira-latas” - expressão criada pelo dramaturgo
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pernambucano Nelson Rodrigues para tratar do sentimento de inferioridade em que os brasileiros se colocavam - voluntariamente, em face do restante do mundo. “Senna personificava a imagem de um Brasil vencedor, campeão... e isso mexia positivamente com a autoestima das pessoas”, explica Túlio Velho Barreto, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco. Mexia e mexe. Até hoje, os fãs do tricampeão não deixam que a imagem do ídolo, dono de 41 vitórias e três títulos mundiais na Fórmula 1, se apague com o tempo. Assim, Senna se renova e sobrevive mesmo depois de 20 anos do fatídico acidente que sofreu na sétima volta do GP de San Marino, no circuito de Ímola, na Itália, quando liderava a corrida. “Há casos na história em que o ídolo morre e o mito nasce. O de Ayrton Senna é exatamente um deles”, afirma Antônio Roberto Rocha, psicólogo esportivo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A dimensão do mito em que Senna se transformou pode ser mensurada na rede social Facebook, onde existem mais de 20 páginas
dedicadas ao ex-piloto. A mais acessada delas, “Ayrton Senna sempre”, conta com quase 3,2 milhões de seguidores, que compartilham vídeos e matérias sobre o tricampeão, além do saudosismo dos anos em que o Brasil acordava cedo nas manhãs de domingo para acelerar com aquele franzino, que tinha sede de vitória e que enchia uma nação inteira de orgulho. Como comparação, a fanpage de Felipe Massa – único brasileiro em atividade na F1 nesta temporada – conta com menos de 31 mil seguidores. Foi justamente dessa vontade de mexer com o orgulho dos brasileiros que nasceu o gesto de Senna de empunhar a bandeira após cada vitória na F-1. O primeiro ato foi em 22 de junho de 1986, após cruzar na frente com a Lotus preta e dourada no GP dos Estados Unidos, no circuito de rua de Detroit. O piloto paulista estava “engasgado” com as brincadeiras dos mecânicos e engenheiros franceses de sua escuderia, que comemoravam o fato de a França ter eliminado o Brasil da Copa do Mundo do México, no dia anterior, na disputa por pênaltis
das quartas de final – os times haviam empatado por 1x1 no tempo normal e na prorrogação. “Antes de largar, imaginei como o País devia estar triste com a eliminação da seleção na Copa. Decidi então, caso vencesse, fazer uma homenagem aos brasileiros. Seria uma forma de mostrar ao mundo a força do Brasil e o orgulho que cada um de nós carrega dessa bandeira”, explicou Senna, durante a coletiva de imprensa após a corrida em Detroit. “Também aproveitei para dar um ‘cala a boca’ nos mecânicos e engenheiros da Lotus, que não paravam de fazer piadinhas com a nossa derrota. Respondi para eles na pista, vencendo”, completou, com um sorriso de canto de boca, denunciando a satisfação em honrar a nação com a sua principal arma: a competência.
MARCA REGISTRADA Desde Detroit, o gesto se repetiu após cada uma das outras 37 vitórias que conquistou posteriormente na F1. “Era mágico ver Senna comemorando a vitória com a bandeira do Brasil. Enchia de orgulho cada brasileiro. Não importava se fosse rico ou pobre, homem ou mulher, todos se sentiam honrados. As manhãs de domingo nunca mais foram as mesmas”, relembra o pernambucano Clayton Pinteiro, presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA). “O Brasil não tinha muitos motivos para se alegrar naquela época. Senna nos dava a oportunidade de viver momentos felizes”, completa Beto Monteiro, piloto pernambucano da Fórmula Truck. Já o capacete em verde, amarelo e azul nasceu do regulamento do Campeonato Mundial de Kart de 1978, que obrigava os pilotos a entrarem na pista com a peça pintada nas cores de seus países. A criação para Senna foi do designer Sid Mosca, que faleceu em 2011, aos 74 anos, em decorrência de um câncer na bexiga. O paulista se identificou tanto com a pintura que a manteve para o restante da carreira. “Era mais um símbolo de sua brasilidade e isso alimentava o carinho do povo por ele”, reconhece o psicólogo Antônio Roberto Rocha. Carinho que pôde ser sentido em toda a sua plenitude após as vitórias nos GPs do Brasil de 1991 e 1993, pela McLaren. Senna, a bandeira brasileira, o capacete nas cores do País, a massa de torcedores eufórica que invadiu a pista para comemorar ao lado do ídolo nacional. Festas inesquecíveis, que dão uma dimensão da importância do ex-piloto para toda uma nação. MAIO 2014
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história começa com um choro que comoveu e rodou o mundo. As lágrimas que escorreram do rosto de Alain Prost lavou a rivalidade que mantinha com o brasileiro há dez anos. As lágrimas seguintes escorreram com outro teor. Talvez pela lembrança do ocorrido antes do fatídico acidente. Senna entrava pela última vez no cockpit de sua Williams, quando cruzou com o francês. Bateu em suas costas e disparou: “Prost, você faz falta”. Mais tarde, cercado pelos repórteres, o ex-adversário chorava copiosamente e não conseguia retribuir, com palavras, o que sentia por Senna.
Trajeto feito por caixao do piloto da Assembleia Legislativa para o cemiterio do morumbi povo lotou as ruas para dar o último adeus a senna
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AYRTON SENNA | 20 anos sem o ídolo É algo redundante falar sobre a extensão da tragédia naquele 1 de maio de 1994. Porém, as lembranças só remetem ao muro de proteção manchado com as cores da Williams, o local onde o FW16 se misturou com o sangue do maior de todos os pilotos. O capacete rachado no lado direito. No caminho para o hospital, o tricampeão seguia em coma, entubado e recebendo cerca de 40 litros de sangue. Algo que remente a 80% de todo o líquido que circula pelo corpo. Com todo esse cenário negativo, chegava a hora de dar adeus ao exímio piloto. E, no mesmo instante, surgia uma lenda no mundo automobilístico. No Brasil, a notícia da morte de Senna chegou às 13h40, quando um boletim médico do Hospital Maggiore de Bolonha, divulgava a morte cerebral do piloto brasileiro. Naquele instante, dezenas, milhares de conterrâneos desfaleceram. A comoção da morte de Senna foi um golpe duro para um país que sempre sentiu a necessidade de se ancorar em um ídolo. Naquele mesmo domingo, as ruas de São Paulo ficaram desertas, como em outras partes do país. As homenagens seguiam por todos os lados. Nos estádios de futebol também não foi diferente. Torcedores improvisavam faixas, cartazes e gritavam o nome do piloto. Foi decretado luto oficial de três dias e ponto facultativo no dia 5. Dia que seria enterrado, com honras de chefe de estado, o corpo de Ayrton “Brasileiro” da Silva. Na ocasião, o presidente da república – Itamar Franco – cancelou todos os compromissos oficiais de sua agenda política e se dedicou, exclusivamente, na tarefa de trazer o corpo do Ayrton de volta ao Brasil. Mais tarde, o presidente, através de um comunicado oficial externou todo o sentimento do povo brasileiro. “O Brasil está de luto. Vários cidadãos, colhidos nas ruas por repórteres horas depois do acidente, expressaram com clareza a dor de todos os brasileiros: foi como se tivéssemos perdido alguém da família. Nesta hora em que todos nós perdemos um ídolo e eles perdem o filho”, dizia a nota. Uma referência para a ex-piloto da Fórmula Indy, Bia Figueiredo, a morte de Ayrton Senna foi um dia trágico pra toda sua família. “Quando o Senna faleceu, eu tinha acabado de começar - fiz 20 anos de carreira recentemente. Eu comecei por causa dele. Ele era um grande ídolo para mim. A morte dele foi muito trágica, acho que foi a primeira vez que eu chorei quando eu era criança”, relembrou. Mesmo no auge de toda apreensão, o jor-
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nalista Roberto Cabrini foi quem trouxe para o Brasil a notícia sobre a morte do piloto. Na época, o repórter cobria o GP de Ímola e relembrou os momentos angustiantes que o cercavam no hospital de Bolonha. “Foram vários boletins, cada um com o estado de saúde mais grave do que o outro. E eu convencido de que ele tinha morrido porque, no primeiro boletim, os médicos disseram que estavam fazendo de tudo para salvá-lo, mas, no segundo, deram uma entrevista coletiva enorme. A essa altura, outros repórteres já
tinham chegado. E o médico que está fazendo de tudo para salvar alguém não fica dando entrevista coletiva, fica ao lado do paciente para salvá-lo. Então, eu vi que era apenas uma questão de tempo para ser anunciada a morte”, rememorou. O trágico fim do maior ídolo brasileiro deixou um legado, uma herança preciosa que vale a pena ser propagada, cultivada. Senna trazia consigo uma grande determinação, um exemplo de superação, buscava constantemente a perfeição e o orgulho que trazia em ser brasileiro.