REVISTA ENERGIA 94

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vida

Boa

Por João Baptista Andrade Diretor da Mentor Marketing e AMA Brasil

Comida e Pandemia 2, a Missão Não. Desta vez não foi a Editora quem me pediu para voltar ao tema. Fui eu mesmo.

A

té pensei se não seria melhor, para amenizar o clima lúgubre que a doença traz para a sociedade, falar de coisas mais alegres e positivas. Mas o assunto da coluna é comida e ela (comida) foi, sim, afetada pelo advento da Covid 19. Em outra coluna eu comentei sobre as dificuldades que encontrei para cozinhar por conta do isolamento social. Hoje quero falar sobre um outro aspecto culinário trazido pela pandemia: Evolução. Não. Eu não pretendo explicar a teoria da Seleção Natural de Charles Darwin. Entretanto, quero destacar um elemento específico dela: a importância do isolamento geográfico. Quando animais de uma mesma espécie ficam separados por um acidente geográfico intransponível qualquer (cordilheiras, mares, ilhas, etc.), ao longo do tempo as mutações genéticas aleatórias que acontecerão vão produzir duas espécies de animais distintas daquela primeira espécie, uma de cada lado do ponto intransponível entre as duas. Na cozinha da pandemia, o mesmo processo se verificou. Mais de um ano se passou e aqui estamos nós, trancados, separados, confusos com o noticiário descabido e, em muitos casos, temerosos. Este tempo funcionou, em termos práticos, para produzir novos (e melhores) hábitos culinários. Aqui em casa, não sei bem o porquê, entramos numa fase afrancesada. Comidas com molhos, muitas escoltas, preparações mais elaboradas (afinal, temos tempo...) porções discretas, vinhos e assim por diante. Uma outra vertente, oposta em sabor, também assumiu uma importância relativa elevada: cozinha oriental. Caldos leves, vegetais cozidos/fritos, peixes no vapor. Eu conversei com alguns amigos, cozinheiros diletantes como eu, e o fenômeno parece ser geral entre todos nós. Os tempos de pandemia estão funcionando para aperfeiçoar receitas

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e/ou inovar nas preparações. E isso é muito bom porque abre novos horizontes gastronômicos em termos de sutileza e combinações. Um cardápio semanal/quinzenal típico de pandemia aqui em casa traz o sempre clássico rosbife (que agora eu uso champagne para deglacear e acrescento uma porção extra de manteiga; fica incrível), codornas na panela (que além da tradicional cama de bacon, agora também são marinadas como se fossem cortes de coelho à Primavera), arroz de pimenta com bastante gengibre, ou um wok repleto de legumes suculentos e uns nacos de carne com molho de soja. Acho que o leitor percebeu o meu ponto de vista. Não é que eu e meus amigos estejamos cozinhando mais do que o de costume, embora isso também seja verdadeiro. Nós estamos cozinhando melhor. Estamos desenvolvendo novas competências técnicas em termos culinários. Não. Não foi algo pensado, algo que planejamos fazer. Apenas aconteceu. Agora é comum receber uma mensagem de WhatsApp (tempos modernos) pedindo endereços de fornecedores, comparando espécies de pescados e frutos de mar. Isso sem falar no mais que evidente aumento na habilidade de lidar com as coisas: mais eficácia, menos sujeira e bagunça, ambientes organizados, etc. Enquanto o isolamento geográfico descrito por Darwin provoca a especiação (processo de formação de novas espécies mediante a seleção natural), o isolamento social imposto pela pandemia está promovendo a especialização na cozinha. Um processo evolutivo evidente. Junte a essa combinação o sorriso do ser amado do outro lado da mesa, sirva um vinho e mande o mundo às favas. Por falar em favas, está aí uma outra boa ideia... Já pensou em um feijão guandu? Salivei.  Até a próxima.


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