The Red Bulletin Janeiro de 2014 - BR

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AÇÃO I ESPORTE I VIAGEM I  ARTE I MÚSICA

UMA REVISTA ALÉM DO COMUM

JANEIRO DE 2014

ARTE EM SÃO PAULO POR DENTRO DO RED BULL STATION

GRAFITE CLANDESTINO UMA ENTREVISTA COM ROA

PERIGO NA ESTRADA ENTRAMOS NA CORRIDA QUE CRUZA O MÉXICO

ELA VOLTOU LINDSEY VONN


apresenta

A HistรณriA Por trรกs

Do reD Bull strAtos

A s s i tA c o m e x c l u s i v i d A d e o d o c u m e n tรก r i o e m :

rdio.com/redbullstratos

1 YEAR

ANNIVERSARY


O MUNDO DE RED BULL

36

LINDSEY VONN

Uma entrevista reveladora com a musa do esqui e atual namorada de Tiger Woods

MICHAEL MULLER (FOTO DA CAPA), MICHAEL UKAS/PICTUREDESK.COM

BEM-VINDO!

Motor, arte e beleza feminina: esta é a equação que o Red Bulletin traz a você em sua última edição do inesquecível ano de 2013. Inesquecível pelo simples fato de que este foi o ano que uma das maiores revistas masculinas de esporte e ­estilo de vida chegou ao Brasil – e veio para ficar. Neste dezembro, vamos mostrar isso mais uma vez. Fomos à fábrica dos caminhões de corrida Kamaz, os mais insanos da Terra, montados na Rússia; mergulhamos no mundo dos artistas do novo Red Bull Station, em pleno coração da ­cidade de São Paulo; entrevistamos a esquiadora Lindsey Vonn; e respiramos a gasolina que sai dos motores dos carangos velhos de Cuba, testados por David Coulthard, e dos possantes dos anos 1950 que arriscam a sorte na tradicional Corrida Panamericana, no México. Pise fundo! THE RED BULLETIN

Aloe Blacc, página 87

“Faça uma pessoa feliz com sua música e ela passará isso adiante” 3


JANEIRO DE 2014

72 KAMAZ

NESTA EDIÇÃO

Conheça as entranhas da fábrica mais casca-grossa de caminhões no mundo: a Kamaz

BULLEVARD 0 8 O MELHOR DE 2013/2014 O que você precisa saber sobre o ano que está indo e o que vem por aí...

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DESTAQUES 26 Corrida Panamericana Perigo e paixão na estrada

EM CUBA COM COULTHARD

O piloto inglês participou de um rali diferente, em plena Havana com carangos antigos

DAFT PUNK

Alguns motivos que comprovam o óbvio: por que a dupla francesa foi o grande nome musical do ano

A rainha do ski voltou

48 Prazer, ROA

Grafitar é seu destino

54 Em Cuba

David Coulthard acelerou em Havana

62 Red Bull Station

Muita arte no Centro de SP

62

72 Kamaz

O berço dos caminhões do Dakar

AÇÃO!

85 RED BULL STATION

São Paulo ganhou uma estação única, uma casa dedicada à arte e experimentação no Centro da cidade 4

MARK MCMORRIS

Descubra como um dos magos do snowboard mundial mantém a forma para encarar as competições na neve

82 83 84 85 86 87 88 90

MEU EQUIPO  Câmera para bikers BALADA Mumbai é rock! MALAS PRONTAS  Heli-ski na Rússia EM FORMA  Mark McMorris MINHA CIDADE  Melbourne MÚSICA  Aloe Blacc NA AGENDA  Verão fervendo TÚNEL DO TEMPO  Calças ao vento

THE RED BULLETIN

DENIS KLERO/RED BULL CONTENT POOL, BALAZS GARDI, DAVID BLACK/SONY, LOST ART/RED BULL CONTENT POOL, TIM ZIMMERMANN/RED BULL CONTENT POOL

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36 Lindsey Vonn


updateordie.com

Update rDie!

A segunda melhor maneira de proteger a sua cabeça.

ÂŽ


NOSSO TIME QUEM FEZ O BULLETIN NESTE MÊS THE RED BULLETIN Brasil, ISSN2308-5940 Editora e Sede Editorial Red Bull Media House GmbH Gerente Geral Wolfgang Winter Diretor Editorial Franz Renkin Editor Chefe Alexander Macheck, Robert Sperl

HEINZ TESAREK

MICHAEL MULLER Apesar de atualmente ele fazer principalmente fotos de celebri­ dades de Hollywood, em 1976, aos 16 anos de idade, tirou algu­ mas de snowboarders. Portanto, fotografar Lindsey Vonn foi quase como voltar às origens. “Tirei muitas fotos de atletas nos últi­ mos 28 anos, mas o ensaio com a Lindsey foi muito engraçado”, ele diz. “Sua personalidade é como seu estilo no ski – rápida e divertida. Foi um prazer fazer essas fotos.” O olhar de Muller sobre Lindsey está na página 36.

JASMIN WOLFRAM Foi a primeira vez na história que uma jor­ nalista de cultura viu o grafite de ROA ­dentro das fábricas em que ele pintou. Ela o conheceu na ­Bélgica e aos poucos foi mar­ cando encontros que, no final, revelaram um artista simpático e reservado. O resultado dessas conversas a ­ cabou dentro do Red Bulletin depois que ela conheceu um de nossos editores em Viena. A entrevista e as fotos dessa incur­ são no mundo quase clandestino do ­grafite estão na página 48.

6

Um fotojorna­ lista premiado que já traba­ lhou em algumas guerras, Tesarek adorou tirar as fotos da fábrica da Kamaz, na região russa do ­Tartaristão, onde os melhores caminhões de corrida são feitos. “Morei em Moscou, foi bom voltar ao país”, ele diz. “Grandes estra­ das e a sensação de liberdade.” Os caminhões da Kamaz são ­vitoriosos no Rally Dakar, evento no qual Tesarek fez fotos para uma reportagem no Bulletin em 2012. O seu último trabalho pode ser visto a partir da página 72.

Editor Brasil Fernando Gueiros Diretor de Arte Erik Turek Diretor de Fotografia Fritz Schuster Editora Assistente Marion Wildmann Redator-chefe Daniel Kudernatsch Gerentes de Projeto Cassio Cortes, Paula Svetlic Apoio Editorial Ulrich Corazza, Werner Jessner, Ruth Morgan, Florian Obkircher, Arek Piatek, Andreas Rottenschlager, Stefan Wagner, Paul Wilson Colaboraram nesta edição Lisa Blazek, Georg Eckelsberger, Raffael Fritz, Sophie Haslinger, Marianne Minar, Boro Petric, Holger Potye, Martina Powell, Mara Simperler, Clemens Stachel, Manon Steiner, Lukas Wagner Editores de Arte Miles English (Diretor) Martina de Carvalho-Hutter, Silvia Druml, Kevin Goll, Carita Najewitz, Kasimir Reimann, Esther Straganz Editores de Fotografia Susie Forman (Diretora artística de fotografia) Eva Kerschbaum, Rudi Übelhör Revisão Manrico Patta Neto, Judith Mutici Impressão Clemens Ragotzky (Diretor), Karsten Lehmann, Josef Mühlbacher Gerente de Produção Michael Bergmeister Produção Wolfgang Stecher (Diretor) Walter O. Sádaba, Christian Graf-Simpson (iPad) Financeiro Siegmar Hofstetter, Simone Mihalits Marketing & Gerência de países Stefan Ebner (Diretor), Stefan Hötschl, Elisabeth Salcher, Lukas Scharmbacher, Sara Varming

DAVID COULTHARD Em Cuba para o Havana Classic Car Rally, o ex-piloto de F1 ficou impressionado com seu carro de 50 anos, um Pontiac, e os mecâni­ cos que tomam conta da máquina em um país onde as peças são raras mas o amor pelos carangos é forte. “Meus mecânicos, que são todos da F1, ficaram impressiona­ dos”, conta Coulthard. “É o outro lado da moeda, um outro tipo de inovação.” Uma coisa o deixou curioso: “Não tenho certeza se os carros têm freios...” Saiba mais na página 54.

“ Dirigir um carro em Havana dá a sensação de ter voltado no tempo” DAVID COULTHARD

Assinaturas e Distribuição Klaus Pleninger, Peter Schiffer Marketing de Criação Julia Schweikhardt, Peter Knethl Anúncios Marcio Sales, (11) 3894-0207, contato@hands.com.br. Gestão de anúncios Sabrina Schneider Coordenadoria Manuela Geßlbauer, Kristina Krizmanic, Anna Schober IT Michael Thaler Escritório Central Red Bull Media House GmbH, Oberst-Lepperdinger-Straße 11–15, A-5071 Wals bei Salzburg, FN 297115i, Landesgericht Salzburg, ATU63611700 Sede da Redação Heinrich-Collin-Straße 1, A-1140 Wien Fone +43 1 90221-28800 Fax +43 1 90221-28809 Contato redaktion@at.redbulletin.com Publicação The Red Bulletin é publicado simultaneamente na Áustria, Brasil, França, Alemanha, Suíça, Irlanda, Kuwait, México, Nova Zelândia, África do Sul, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Visite nosso site www.redbulletin.com.br

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U M A RE V ISTA

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TALENTO

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S eu . o t n e M Mo © Alice Peperell

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Seu MoMento. ALÉM DO COMUM

DOWNLOAD GRATUITO


o m e l h o r d e 2 013

SUA DOSE MENSAL DE ESPORTE E CULTURA

Sam Houser

Quem tem plano fatura Não tem foto recente do nosso Homem do Ano, então tivemos que usar este desenho Ninguém sabe muito sobre Sam Houser. Junto com seu ­irmão, Dan, ele fundou a empresa Rock­­star Games, ­genial cria­dora do Grand Theft Auto. O novo GTA V por muito pouco não atingiu a marca de dez dígitos em vendas três dias após o lançamento, em outu­ bro. É um bilhão de bons moti­ vos para seguir programando jogos na cidade de Nova York e evitando ficar famoso.

Doze meses de heróis

Uma dúzia de grandes performances

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28 DE JANEIRO

Tiger Woods Sua vitória em San Diego deu início à escalada de volta à primeira posição.

3 DE FEVEREIRO Gregor Schlierenzauer Saltou para a 47ª vitória no mundial de ski.

13 DE MARÇO

21 DE ABRIL

Papa Francisco Ex-engenheiro químico argentino se tornou líder da Igreja Católica.

Marc Márquez Ganhou o American Grand Prix com 20 anos: o mais jovem vencedor do MotoGP.

25 DE MAIO Bayern Munique Liga dos Campeões teve seu vencedor.

1° DE JUNHO

Tino Sehgal O melhor artista da Bienal de Veneza fez as pessoas dançarem e cantarem.

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Top 3 EQUIPAMENTOS DO ANO

Tirando o chapéu

Ídolo pra sempre Três pessoas que mandam bem e ainda inspiram outros esportistas

MISFIT SHINE Mostrador de atividades. O que faz: Conta o movimento, sono e tempo. Conectado a um smartphone, você sincroniza as infos.

ADRIANO DE SOUZA HONRA MICK FANNING “O Mick é um cara que eu considero um ídolo. Me espelho em seu estilo e sua garra. Tenho que agradecer por surfar ao lado dele hoje em dia, que é sem dúvida um mestre do esporte.”

ALLUMSKI.COM, JASON CHILDS/RBCP, FABIO PIVA/RBCP, GUILBER HIDAKA/RBCP, CORBIS (3), MARCELO MARAGNI/RBCP, GETTY IMAGES (3), PICTUREDESK.COM (2), REUTERS (3), JÖRG MITTER/RBCP SAM SPRATT, SASCHA BIERL

misfitwearables.com

Perdedores que amamos

Em 2013, ela não ganhou como a mais bonita Denise Garrido foi vencedora de um importante concurso de beleza. Por pouco tempo. Em 25 de maio, ela chegou a ser coroada Miss Universo Canadá, mas o ­título foi tirado dela dois dias depois: ­houve algum erro de digitação. A vencedora na verdade foi Riza Santos, e Garrido ­havia ficado com o quarto lugar. Mas ela ainda assim levou numa boa. Hoje, Garrido é mais popular no Canadá do que todas as outras misses juntas.

22 DE JULHO

15 DE AGOSTO

DRAGONFLY O drone residencial. O que faz: Fica de olho na sua casa e espiona tam­ bém. Pesa menos que uma moeda e é menor do que um pedaço de chiclete.

PEDRO BARROS HONRA CHRISTIAN HOSOI Entrar para a elite de um esporte traz boas surpresas. Hoje, Pedro Barros já teve a oportunidade de dividir­ o pódio com um de seus grandes ídolos, Christian Hosoi: “Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. É tipo um sonho para mim.”

TechJect.com

NEYMAR JR. HONRA KOBE BRYANT

STICK ’N’ FIND Radar para coisas. O que faz: Encontra o que você perdeu, trans­ formando seu smart­ phone em um radar através de selos.

“O Kobe é um fenômeno, sou muito fã desse cara”, disse Neymar Jr., depois do jogo Brasil x Itália na Copa das Confederações, ao conhecer Kobe Bryant.

StickNFind.com

25 DE SETEMBRO

15 DE OUTUBRO

Team Oracle USA Chegou a ter des­ vantagem de 1-8, mas virou e venceu a America’s Cup por 9-8! George Deixando para lá as bobagens dos canais de notícias, é o bebê de Kate e Will!

THE RED BULLETIN

Olinguito Bem-vindo: um ­mamífero até então desconhecido é des­ coberto nos Andes.

Felix Baumgartner Mostrou vídeos em primeira pessoa do salto Red Bull Stratos.

24 DE NOVEMBRO Sebastian Vettel A temporada de F1 terminou com o alemão vencendo o campeonato pelo quarto ano seguido.

10 DE DEZEMBRO

Peter Higgs Provou a existência da Partícula de Deus e levou o Prêmio Nobel.

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BULLEVARD m e l hor de

2 013

os r t e 5m

Você passaria por aqui a 160 km/h?

Voo do ano

No limite JEB CORLISS (2)

“É a coisa mais maluca que já fiz”, diz o “wingsuit flyer” Jeb Corliss, sobre seu experimento Flying Dagger. O ousado atleta americano realizou em setembro um salto de um helicóptero passando por uma ­f enda do Monte Jianglang, no leste da China. Em seu ponto mais estreito, a abertura tem ­m enos de 5 metros de largura. Até as aves que voam no local ficam com claustrofobia.

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BULLEVARD

106 milhões

m e l hor de

2 013

de espectadores americanos assistiram, no dia 28 de fevereiro de 1983, ao último episódio de M*A*S*H. Desde então nunca mais uma série de TV chegou perto de bater esse recorde.

As séries de TV do ano

Melhor do que Hollywood Você acha que na TV só passam novelas que são um lixo e reality shows que são pura pornografia? Preste atenção: dá para achar muita coisa boa para assistir

Breaking Bad AMC

Modern Family ABC

House of Cards Netflix Francis Underwood, um político, inicia sua jornada de vingança no labirinto da política em Washington D.C.

Do que se trata?

Carrie Mathison, agente da CIA e esquizofrênica, apaixona-se por suposto terrorista.

Walter White, professor de química com câncer terminal prepara a melhor metanfetamina.

Três famílias, todas ­interligadas, ninguém é poupado. A boa e ­velha sitcom familiar em versão confusa e engraçada.

O que nos cativa?

O bom é ruim. O louco é esperto.

Nada será bom novamente. Nunca

mais.

Borgen DR

Broadchurch ITV

Birgitte Nyborg, uma política, chega ao poder pelas razões certas, mas se mantém nele pelas erradas.

Alec Hardy e Ellie Miller, detetives cri­ minalistas, procuram o assassino de uma criança em uma cidadezinha na Inglaterra.

Sim, vamos Nós odiamos o Underwood. admitir: No fundo. é a Sofia Vergara!

Na TV, os típicos duelos Carreira x Família são sempre vencidos pela família.

Tensão: 10/10. Intrigas: 10/10. Tempo para ir ao banheiro: 0.

Phil Dunphy confere a dose ­máxima de charme ao tipinho “cara de papai”.

Zoe Barnes consegue desenrolar muita coisa, com exceção dos fios nos quais ela mesma se enrosca.

Katrine Fønsmark se reinventa a cada nova temporada.

Olly Stevens quer ­alcançar uma grande carreira como jorna­ lista. Mas ele alcança

Os episódios mais bacanas são aqueles em que Phil e Luke fazem algo juntos.

O modo como o personagem de Claire se desenvolve é emocionante.

Kasper e Katrine não Só posso te dizer: conseguem confiar Olivia Colman um no outro, este é mereceu o Bafta. o problema.

O jovem vizinho negro típico das comédias da ABC.

Um único perso­ nagem que não seja um pau no c*.

Um remake americano.

Opa! Já fizeram.

Um clipe com os erros de gravação ao final de cada capítulo.

Underwood se torna presidente. (Seus

Birgitte Nyborg vira defensora da TV na Europa. Séries de

Os habitantes lincham os detetives cheiradores. Em

Na Dinamarca é diferente.

Verdadeiro herói Jesse Pinkman perde tudo e todos.

Saul Berenson, o chefe de Carrie, que, ao contrário dela, sempre mantém a calma.

Mas nunca perde a nossa simpatia.

Frases para O legal é que, depen- Yo! do seu lado, (parecer dendo a série pode ser conum) tra ou a favor da CIA. Bitch! conhecedor Um final feliz. O que falta? Um psiquiatra para Carrie. Ou para nós.

(Teria sido) Berenson se revela um um bom chefe terrorista. final

Walter e Jesse fogem Phil e Claire se para a Europa e abrem separam e começa em Paris um restauuma nova série: rante de comidas Modern Family

moleculares.

Está por vir

Sua próxima série favorita 12

Warfare.

adversários morrem em acidentes de carro.)

Mas permanece sempre cool. um coração.

uma grande qualidade ganham a Europa. fogueira.

True Detective

Woody Harrelson e Matthew McConaughey vão (muito) fundo como policiais investigando um caso de 17 anos. Estreia dia 12/1 na HBO dos EUA.

THE RED BULLETIN

INTERTOPICS, SONY PICTURES TELEVISION, RTL NITRO, MELINDA SUE GORDON/SONY PICTURES TELEVISION/NETFLIX, MIKE KOLLÖFFEL, ITV, HOME BOX OFFICE (3)

Homeland Showtime


Daft Punk

No topo das paradas Por que estes dois franceses são o grande retorno de 2013?

1

MATTHIAS CLAMER

Porque os reis da música eletrônica fizeram um disco nada eletrônico. Com guitarras de pegada funk, ­bateria orgânica, com groove e balanço, somados à temática disco revival. Esse projeto é um dedo do meio na cara dos hipsters xiitas da música eletrônica.

2

Porque eles apostaram em Pharrell Williams como cantor. “Get Lucky” é a segunda música mais famosa do ano, atrás apenas de “Blurred Lines”, cantada por Robin ­Thicke junto com... Pharell Williams. O cara é simplesmente o melhor cantor do ano.

3

Porque a dupla ­domina a arte da brincadeira com a ­imagem. Desde 1998 eles não tiram f­ otos desmascarados. Usam muito bem o truque do mistério e criaram até uma famosa ­marca de capacetes, hoje ­avaliada em US$ 60 milhões.

4

Porque o vinil ­deles está voando. Na Amazon, as vendas de discos de vinil aumentaram 100 por cento em 2013, graças ao Random Access Memories. Nunca nenhum ­vinil alcançou tamanho número de vendas em toda a história do comércio online.

5

Porque eles trouxeram velhos heróis de volta ao campo de batalha. Giorgio ­Moroder tinha se aposentado há 20 anos, Nile Rodgers apenas ­sacudia festas da terceira idade. Ambos estão agora prestes a terminar um material novo. Graças ao Daft.

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BULLEVARD m e l hor de

2 013

IAN HYLANDS/RED BULL CONTENT POOL

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Louco do ano

Olha, mãe! Sem as mãos!

Este é o Oakley Icon Sender no Parque Nacional de Zion, em Utah, EUA, onde o Red Bull Rampage ­s epara os homens dos meninos nas bicicletas. James Doerfling, do ­C anadá, conhecido como “Redneck”, ­p ulou de sua bike bem na hora em que ela se espatifou no abismo, dando à sua queda hor­ rível um toque de elegância. O ciclista americano ­C ameron Zink, ou “Camshaft”, deu um backflip den­ tro do canyon. E Kyle “Teddy” Strait – este cara da foto – não usou suas mãos. O movimento é chamado de perfect ­s uicide no-hander (suicídio perfeito sem as mãos) e deu a ele o título da competição.


BULLEVARD m e l hor de

2 013

“Ok, óculos.” FRASE DO ANO. Você fala assim com os óculos computadorizados do Google. E o Google Glass já sabe dizer: “Olhe para a esquerda para encontrar o que você está procurando”. Talvez no futuro.

Jogos do Ano

Os games que nos deixam instigados O que nós jogamos nos tablets e consoles, mais as pérolas e extras que você ainda não conhece

Beat Sneak Bandit

De longe o melhor jogo de iPad do ano: um mix de Dance Dance Revolution e Donkey Kong. Você precisa atravessar telas de relógios em perfeita sincronia com a música do jogo. Muito simples e ao mesmo ­tempo desafiador. Se você jogar no ônibus, vai dançar no banco.

➜ Dica de conhecedor Os criadores

PewDiePie

O cara tá bombando O maior programa do YouTube é um game show Felix Kjellberg, também conhecido como PewDiePie, joga no com­ putador e mais de 13 milhões de pessoas assistem. Seu canal no ­YouTube é o mais popular no mundo desde agosto de 2013. Sueco, 24 anos, faz vídeos no Let’s Play e se filma. Se você se pergunta por que milhões de pessoas assistem, você pode oficialmente se con­ siderar velho – se você estivesse por dentro, perguntaria: por que o PewDiePie é o mais popular nisso enquanto existem milhares de ou­ tros fazendo exatamente a mesma coisa? Pode ser porque ele gosta mais de jogos de horror e leva seus sustos enquanto joga. Ou talvez seja seu estilo hiperativo: ele fala, grita, ri, faz rimas, canta e faz ­beatbox em velocidade frenética. Um herói da geração TDAH, talvez, mas ele claramente gosta do que faz, e seus assinantes, os Bro Army, também gostam. www.youtube.com/user/PewDiePie

também fizeram o Year Walk, uma assustadora e pouco convencional aventura para iPad.

The Last of Us

O indicador de game-que-parecefilme entrou duas vezes na fórmula deste jogo de aventura empolgante e original. Tem personagens e quebra-cabeças zumbis, brigas e coisas para colecionar e tem também uma constante sensação de se estar envolvido em algo mais rico e profundo que isso.

➜ Dica de conhecedor Na difi­­cul­

dade Hard, você pode pausar o jogo, mudar para o Easy, estocar munições e depois voltar ao Hard.

Grand Theft Auto V

Claro, claro – e Cidadão Kane é um filme legal e os Beatles ­tocaram boas músicas. A surpresa está em perceber, enquanto o tempo passa, o quão criativo, épico e irresistível é este game em com­ paração aos seus anteriores. Três personagens principais bem diferentes entre si garantem ­meses de diversão.

“EU SOU RICO E INFELIZ. BEM, EU SOU BEM O TIPO DESTA CIDADE, DE VERDADE.” Assim se apresenta Michael Townley (também conhecido como Michael De Santa), do Grand Theft Auto V. Ele é só um cara normal, como eu e você

➜ Dica de conhecedor Olhe para

o mapa na estação de bonde do alto do Monte Chiliad e uma conspiração alienígena aparece para que você resolva. (E visite os fóruns online.)

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THE RED BULLETIN


Milagre do ano

Ficar na chuva sem se molhar

GETTY IMAGES

Em uma fila de centenas de metros, muitas pessoas se acumulam na frente do Museu de Arte Moderna de Nova York para experimentar a chuva. O coletivo de arte rAndom International apresenta sua instalação numa sala escura de 100 m 2 onde chove o tempo todo. Porém, uma mágica acontece: quem entra seco não sai molhado. Para onde quer que você vá, a chuva desvia de você.

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Banksy

A ARTE DE COMPRAR BEM

Leituras essenciais de 2013

Nove livros que você precisa ler …mas, provavelmente, não vai. Por isso a gente resumiu cada um deles. Assim você pode conversar e dar palpites mesmo sem ter lido!

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Este é o ponto

Esta é a lição

Kate Atkinson Life After Life

Ursula Todd morreu pela primeira vez ao nascer, depois se afogou e mais tarde ainda foi vencida pela gripe espanhola. Nem tudo é tão ruim quanto parece: ela sempre ressuscita.

Eu não consigo me lembrar! O que não significa

Joël Dicker La Vérité sur l’Affaire Harry Québert

Professor mais velho assassina jovem aluna. Ou não? O escritor Marcus ­Goldman quer saber a verdade – e acaba virando personagem de seu próprio romance policial.

Nada é mais perigoso do que a palavra

Mohsin Hamid How to Get Filthy Rich in Rising Asia

Um garoto do gueto consegue virar um grande empresário corrupto. Então ele escreve uns conselhos de autoajuda sobre isso (tudo ficção). Talvez ajudem e com certeza colocam lenha na fogueira...

Dinheiro fede! Mas é um fedor que nos encanta. Afe!

Joe Hill NOS4A2

Da primeira vez ela escapou. O vampiro-guardião das crianças busca vingança sangrenta pela morte de uma menina.

Não entre em lugar nenhum, em hipótese alguma, sobretudo em carros, principalmente de estranhos.

Jesús Carrasco Intemperie

Perseguidor em sombria terra de nin­ guém está atrás de menino sem nome. Um pastor finalmente oferece escon­ derijo para o menino. Ele compartilha um segredo com o jovem.

É sobre o sofrimento, é sobre a morte. É sobre uma batalha. Perde-se no fim.

Robert Galbraith The Cuckoo’s Calling

Modelo famosa despenca da varanda e morre. Veterano de guerra sequelado procura assassino. A autora de Harry Potter, JK Rowling (sob pseudônimo) cria um depressivo anti-herói.

Todos os homens – mesmo os ricos e bemsucedidos – merecem uma segunda chance.

Clemens Meyer Im Stein

O Muro de Berlim foi derrubado. Uns procuram amor; outros, dinheiro. O cafetão Arnie Kraushaar procura os dois e nos leva a um passeio pelas casinhas da luz vermelha da Alemanha.

Nós podemos aprender muito com as prostitutas, muito mais do que ­apenas aprender a retirar manchas de esperma da roupa de cama, da forma correta.

Nathaniel Rich Odds Against Tomorrow

Mitchel Zukor começa a trabalhar numa agência de seguros, na qual ele calcula probabilidades de catástrofes. De repente, Manhattan afunda. Quando ninguém esperava por isso.

Apenas não tenha medo!

Chimamanda Ngozi Adichie Americanah

Ifemelu terminou um curso na Nigéria, mudou-se para os EUA e virou blogueira. Tudo é lindo, tudo é possível. Só há uma coisa que ela não consegue: ­esquecer seu amor da juventude, Obinze.

Love. Love. Love.

que não passei por isso, seja lá o que isso signifique.

Você compraria uma obra de arte por US$ 60? Os nova-iorquinos não Banksy, o gênio da street art, tentou vender suas obras, ­originais, a US$ 60 no Central Park. Ninguém quis, com exceção de três pessoas que estavam passando. Uma inclusive pechinchou – e agora é um homem mais rico. Os apreciadores de arte, por outro lado, devem estar se mordendo.

“eu”.

O que posso fazer para mudar minha vida?

DIETMAR KAINRATH

O nome disso é: vida!

Kainrath

DIÁLOGO DAS LATINHAS

GETTY IMAGES

Esconder-se, fugir, fazer-se de desenten­ dido, torcer – nada mais adianta.

THE RED BULLETIN


12 de setembro de 2013 (18,8 bi de km) A NASA anuncia oficialmente que a Voyager 1 entrou no espaço inter­ estelar, onde o campo magnético do Sol não é mais ativo.

BULLEVARD best of

2 013 25 de agosto de 2012 (18,2 bi de km) A Voyager 1 cruza a Heliopausa, o segundo limite do Sistema Solar.

Voyager 1

A mais longa despedida A humanidade dá adeus à sonda espacial. Ela saiu do Sistema Solar

16 de dezembro de 2004 (14,2 bi de km) Entra no choque de terminação, o primeiro limite do nosso Sistema Solar.

17 de fevereiro de 1998 (10,4 bi de km) Supera o recorde da sonda Pioneer 10 como o mais remoto artefato humano.

Pergunte à NASA!

Sempre que uma per­g un­t a sobre a Voyager 1 aparece, a NASA pacientemente responde. Então, nós bancamos os enxeridos

Se a Voyager 1 topar com um novo planeta, ele então será propriedade de quem? Da NASA? Dos EUA? Normalmente planetas não são propriedades de ninguém. 14 de fevereiro de 1990 (distância do sol: 6 bi de km) Manda sua última foto, uma imagem famosa na qual a Terra é um pequeno pontinho azul.

5 de setembro de 1977 A sonda espacial Voyager 1 sai do Cabo Canaveral, EUA, a bordo de um foguete Titan IIIE-Centaur. TERRA

NASA/JPL-CALTECH

SOL

VOYAGER 1

Vamos supor que existam aliens e que eles encontrem a Voyager 1, ela então ­pertenceria a eles? A Voyager 1 será para ­sempre uma missão da NASA. Nós não antecipamos nenhuma mudança na propriedade da sonda. Mesmo que seja no futuro. Jane Platt e Jia-Rui C. Cook Laboratório da NASA

12 de novembro de 1980 (1,4 bi de km) Outras 18 mil fotos após um sobrevoo de Saturno, então o percurso é alterado pela última vez, em direção aos limites do Sistema Solar.

5 de março de 1979 (distância da Terra: 788 mi de km) Ponto mais próximo de Júpiter, com registro de 18 mil fotos que mostram tempestades atmosféricas, vulcões ativos na lua de Júpiter Io e dois novos satélites naturais.

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BULLEVARD m e l hor de

2 013

Segredo do ano

Ela foi pintada de forma idêntica – como os testes geométricos mostraram –, mas aparenta ser consi­ deravelmente mais jovem e, de acordo com pesquisa­ dores, foi feita dez anos antes. Mas terá sido a assim conhecida Mona Lisa de Isleworth (esquerda) , desco­ berta em 2012 após 40 anos escondida em um banco suíço, pintada por Leonardo da Vinci? Será que ela pode ter sido a original, fazendo assim da famosa Gioconda (direita) simplesmente uma cópia poste­ rior? Livros escritos pelo proprietário americano, Henry F. Pulitzer, e do autor alemão Josef Nyáry ­a legam ter a resposta, mas a comunidade artística permanece dividida quanto à sua autenticidade. 20

THE MONA LISA FOUNDATION (2)

Foi Leonardo que pintou?



BULLEVARD m e l hor de

Erros & Acertos

2 014

RELÓGIOS NA CORRIDA DO TEMPO Os relógios de pulso já evoluíram muito. Mas poucas evoluções ganharam popularidade

Hora O smartwatch faz o que todo bom relógio faz: mostra as horas. Com precisão e por extenso; em inglês, se você preferir

Celular SMS, e-mail, ­Facebook. Tudo no seu relógio, via tecnologia Bluetooth. Mas ainda é neces­ sário ter celular 1977: RELÓGIO-CALCULADORA HP Hoje uma peça de colecionador – na época um malsucedido papa-bateria

Chave Assim como no smartphone, no smartwatch você também pode usar aplicativos. Tem um que até abre a porta do seu carro

Música Armazena e toca playlists – ­também durante as corridas: você pode correr sem medo de que algo caia no chão e quebre

2000: CÂMERA DE PULSO CASIO Relógio de pulso com câmera digital? Parece legal, mas ninguém quis...

Coisa do futuro

Relógio esperto

Depois de duas décadas de abandono, ele volta aos nossos pulsos. Na forma de smartwatch, é claro Em 2014, o mundo da ficção científica finalmente fará parte da nossa realidade. Mas o que faz de fato um smartwatch – além do que o velho relógio de pulso digital já fazia? Para resumir, é basicamente tudo aquilo que um celular faz. Com uma diferença: você não precisa colocar e tirar do bolso. A corrida pelo melhor modelo já começou. A Samsung e a Apple terão um pequeno e perigoso novo concorrente: chama-se Pebble, o relógio que vem da internet – e o projeto já atingiu a marca de 70 mil colaboradores, cujos investimentos já ultrapassam US$ 10 milhões. www.kickstarter.com

2014: RELÓGIO SEM PONTEIROS O Ressence Type 3 mostra as horas com faixas de luz... por € 23 mil

Como vamos andar no futuro 22

Hyperloop O foguete para passageiros, do inventor e bilionário Elon Musk. Promete ser muito rápido e bem barato

Jetpack A mochila a jato da Nova Zelândia. Chega em 2014. Voa até 30 minutos de distância a 74 km/h

Carro autônomo A Mercedes batizou de “Intelligent Drive”, pois não precisa de motorista. O projeto tem de ser amadurecido

THE RED BULLETIN

SASCHA BIERL

Boas ideias


De olho em 2014

As novas cabeças As estrelas que sairão da sombra de seus ídolos no ano que vem

MESUT ÖZIL SERÁ O NOVO ZINÉDINE ZIDANE

IJAD MADISCH SERÁ O NOVO MARK ZUCKERBERG

SKY FERREIRA SERÁ A NOVA RIHANNA

O Real Madrid o dispensou e ele foi para o Arsenal. Na nova casa levou os “Gunners” à ponta da Premier League no melhor estilo mineirinho.

Fundou o ResearchGate, o Facebook dos investigadores, que marcou 3 milhões de membros em 2013. Agora quer mudar o mundo com sua rede.

Parece tão boa quanto a Rihanna e canta (“Night Time, My Time”) tão bem quanto Rihanna. A diferença é que ela é do futuro.

GARETH BALE NÃO SERÁ O NOVO CRISTIANO RONALDO Em vez de € 100 milhões, custou “só” € 91 milhões. ­Pouco menos que CR7, que ainda é o jogador mais caro da história.

MOKA*

REUTERS, GETTY IMAGES (5), RESEARCH GATE, LAIF

DIETMAR KAINRATH

O que é um herói?

*Museum of Kainrath’s Art THE RED BULLETIN


BULLEVARD m elhor de

2 014

Se for viajar pelo mundo

Faça isso

Para onde você pode ir em 2014 – caso ainda não tenha planejado nada melhor

P R I M AV E R A

São Francisco (EUA) Coma o último ensopado de peixe No Pier 39, em São Francisco, antes que o próximo desastre nuclear de Fukushima transforme todos os animais marí­timos em monstros mutantes e radioativos.

3 25 DE JUNHO

Manaus (Brasil) Escute Verdi em vez de vuvuzelas No meio da Floresta Amazônica, onde será construído um estádio de futebol muito louco. O lugar já tem tradição: o Teatro Amazonas (1884) também foi uma construção louquíssima.

15 DE AGOSTO

Panamá Pegue o melhor atalho do mundo

9

E, no caminho entre o Atlântico e o Pacífico, comemore o aniversário de 100 anos do Canal do Panamá, terminado em 1914.

7

Ou uma coisa ou outra

Rio ou Riga

Futebol-arte ou simplesmente arte. Para onde você quer viajar em 2014? A gente te conta.

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1

a) Richard Wagner b) Vágner Love

2

a) Balotelli b) Baryshnikov

3

a) Garancˇa b) Guzan

4

a) Marcos Rojo b) Mark Rothko

5

a) Misimovic´ b) Nimzowitsch

6

a) Gidon Kremer b) Júlio César

Rio. Se você marcou três ou mais itens

entre os seguintes: 1b e 6b (Brasil), 2a (Itália), 3b (EUA), 4a (Argentina), 5a (Bósnia e Herze­ govina); todos são jogadores de futebol dos times de seus países, que se qualificaram para a Copa de 2014.

Riga. Viaje para a capital cultural da

Europa em 2014, se você marcou três ou mais itens entre os seguintes: 11a (compo­ sitor), 2b (dançarina de balé), 3a (cantora), 4b (pintor), 5b (campeão de xadrez), 6a (compositor).

1 30 DE JANEIRO

Aconcágua (Argentina) Escale cegamente uma montanha de 6 962 metros Junto com Neelue Memon, a alpinista cega da Nova Zelândia que já escalou as montanhas mais altas dos sete continentes. O Aconcágua é o início do tour de sete dias.

3:3? Empatou? Viaje para os dois lugares!

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Dicas O que ajuda a combater o jetlag?

18 DE SETEMBRO

Escócia Beba uísque e seja testemunha

1. Nunca dormir depois de aterrissar. 2. Sempre voar na direção oeste. 3. Sempre reservar passagens para voos noturnos. 4. Comer pouco e beber muita água.

7 A 23 DE FEVEREIRO

Sóchi (Rússia) Pule no mar das montanhas

Do referendo sobre a independên­ cia da Escócia, que acontecerá­ nessa data. De preferência, com uma dose de Ardbeg, da Ilha de Islay, na mão. Ou, para os que não gostam de uísques trufados, com uma dose do Bladnoch – doce, com gosto de frutas, original das Terras Baixas. Saúde, Sean Connery!

Nos Jogos de Inverno mais quen­ tes de todos os tempos. Além das montanhas e das ­ondas do Mar Negro, você encontrará ­também, é claro, algumas das ­famosas palmeiras que apare­ cem no brasão de Sóchi.

4 DE MAIO

10

Hayana (Índia) Corra apostando corrida com um carro 6

8

Junto com o mundo inteiro na Wings for Live World Run. Corra o quanto puder.

2

12

5

1º DE JUNHO

Trieste (Itália) Ande de bicicleta sobre as águas

2 DE NOVEMBRO

China Voe sobre milhões de cabeças

Ou voe. Com o Giro d’Italia, que começa em 9 de maio em Belfast e segue pela Irlanda até a Itália.

Na final do Red Bull Air Race, em uma megaló­ pole (o lugar exato ainda não foi definido).

28 DE JUNHO

Sarajevo (Bósnia) Faça festa, não faça guerra No lugar onde a Primeira Guerra começou, 100 anos atrás. Próximo ao Bagdad Café, no meio da cidade velha.

11 31 DE DEZEMBRO

Gisborne (Nova Zelândia) Seja o primeiríssimo a surfar na virada do ano

19 DE OUTUBRO

Marte Simplesmente olhe o céu Quando o cometa C2013 A1 aterrissar em Marte a 56 km/h. A melhor visualização, contudo, ainda é no Southern African Large Telescope em Sutherland.

29 DE ABRIL

Antártida Assista ao eclipse solar Num lugar onde metade do ano o sol não brilha. Pontualmente às 6h04min.

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Na cidade mais ao leste do mundo. Quem não conseguir esperar ­tanto tempo pode visitar Wainui e Makorori (dois dos melhores ­picos de surf do mundo) no dia 12 de janeiro, quando começam os campeonatos de surf da Nova Zelândia nessas praias.

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Memo Rojas Jr. se apresentou na corrida que seu pai ganhou há 25 anos

a l a v ¡Vi

Selvagem, lendária e sem limites: a Corrida Panamericana é a última autêntica corrida de carros na estrada. Ao longo dos 3 500 km que percorrem no México, os carros da polícia que acompanham a maratona não precisam apenas de pneus novos Por: Werner Jessner  Fotos: Marcelo Maragni 26

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“Temos que atirar em tudo o que cruzar a pista”


A Corrida começou em 1950

E

m 1953, o Exército Nacional Mexicano emitiu uma ordem memorável: com a ideia de evitar um desnecessário derramamento de sangue, foi ordenado que se atirasse em todos que tentassem cruzar a estrada durante a Corrida Panamericana, o que incluía tanto animais quanto seres humanos. O motivo da ordem drástica foi que, pou­ co antes, alguns espectadores foram tentar ­ajudar um carro acidentado e acabaram eles mesmos morrendo. Entre todas as corridas dos primórdios do automobilismo, a Corrida Panamericana ficou com fama de ser a mais imprevisível, cheia de aventuras e perigosa. A primeira edição da disputa foi em 1950, THE RED BULLETIN

na abertura da parte mexicana da estrada ­panamericana. Nessa época, os pilotos Ascari, Fangio e Taruffi levavam os seus Maseratti, ­Lancia e Mercedes também para a Targa ­Florio na Sicília ou para a Mille Miglia, no norte da Itália. Para viajar rumo ao México foi preciso convencer os pilotos que queriam participar da Panamericana a escolher carros do tipo esporte, próprios para campeonato, de preferência aqueles com os melhores mo­ tores. O VW de F1 apareceu pela primeira vez no ano de 1955. Tudo começou inocentemente: a compe­ tição teve início em 1950; saía de Ciudad ­Juárez, do outro lado de El Paso, e terminava 29


­ ercorrer o que era determinado em 1954, P numa média de 222 km/h em uma Ferrari, é inconcebível até mesmo com o equipamento que se tem hoje em dia, 60 anos depois. É mais ou menos o dobro da velocidade de hoje, mas falaremos disso um pouco mais adiante. Depois dessa edição, ­a ­corrida foi interrompida por mais de três décadas. O Porsche, que desde 1953 fazia su­ cesso com sua classe de “miniaturas”, de no máximo 1 600 cm³, adotou o nome de “Panamera” para seu campeão de vendas, o modelo 911, que logo depois ganhou fama com o lançamento de uma linha de relógios, óculos e brinquedos. Mais tarde, os pesos-pesados da indústria automobilística – como Bruno Sacco, designer da Mercedes há décadas – planejaram seus carros inspirados nas histórias dos heróis da corrida, que conheciam ­desde jovens. A Corrida Panamericana foi reativada em 1988, sob a condição de serem uti­ lizados apenas carros velhos e “contemporâneos”, dizia o regulamento, e para que houvesse ainda mais precisão sobre isso, a competição foi dividida em sete categorias. Contudo, a atual Corrida Panameri­­­ cana ainda é demoníaca. Muitos pilotos ­ainda se acidentam, e a taxa de mortes continua bem alta. Correr por 3 500 km é muito pesado para carros velhos, que apenas ­visualmente lembram Studebakers, ­Oldsmobiles ou Cadillacs. A carroceria é feita com chassi de estrutura tubular, com potentes motores V8, eixos SUV e freios de corrida. Os Tuners são impiedosos: em geral de 700 hp, e nas vias ­públicas chegam a 300 km/h.

Memo Rojas Jr. com seu pai, vencedor da Panamericana há 25 anos

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em El Octal, na fronteira com a Guatemala. Depois de 27 horas, 34 minutos e 25 segundos, quem venceu foi o lenhador americano Hershel McGriff, em um carro pequeno e velho. O cálculo que ele fez foi: com um carro mais leve, ele precisaria encher o tanque e trocar as lonas de freio menos vezes do que a concorrência, com seus grandes e pesados carros de corrida. ­McGriff conhecia bem as ruas estreitas e sinuosas do México, suas curvas e passagens perigosas, desfiladeiros e abismos. De Highway Panamericana, a corrida tem apenas o nome. A estrada por onde os carros passam conta com apenas um pequeno trecho asfaltado. No próximo ano, vindos de norte a sul, mais centenas de pilotos chegarão para a grande aventura, e muitos deles estão apavorados. Eles sabem que carros despencam desfiladeiro abaixo, explodem nas rochas, perdem rodas e eixos, e que urubus caem sobre os automóveis e quebram vidros e pára-brisas. Talvez muitos dos acidentes mais graves poderiam ser evi­tados se os pilotos usassem os cintos de ­segurança e os capacetes adequados. E também tem a questão da falta de informação e preparo do público, que fica parado na beira da estrada durante a corrida. Tanto perigo influencia no regulamento, que diz que qualquer piloto, em qualquer ponto da corrida, que parar para ajudar outro piloto será imediatamente desclassificado – isso ocasionou muitos acidentes. Não existem dados precisos sobre o número exato de mortos, e também não se sabe se o Exército Nacional Mexicano faz de fato uso do Comando de Tiro. O ano de 1954 foi a gota d’água: a Corrida Panamericana ficou fora de controle.


A disputa voltou à ativa em 1988 só com carros antigos: “Essa é uma regra para lembrar os primórdios”

“Carros virados e urubus dando de frente com os vidros...”


com essas coisas”, disse. E completou, com o que jamais devemos esquecer: “Memo está começando agora a correr na estrada. É a primeira vez que ele tem um copiloto. Na estrada demora para que a informação seja facilmente transmitida de ouvido para pés e mãos. Quando ga­ nhei, eu conhecia cada rua, cada curva. Memo não conhece nada.” Pela primeira vez, Memo Rojas Jr. ­ocupa a posição 40 da elite de pilotos ­mexicanos de rali, entre um total de 700 Studebakers.

O Calor extremo, asfalto ruim, cheiro de diesel e ambientes hostis...

O

final da primeira etapa, que abrange o trecho de Veracruz até Oaxaca, deixou o piloto Memo Rojas surtado; mesmo ele que é o corredor mais famoso do México, com quatro vitórias na série da GrandAm de carros do tipo esporte e três vitórias no 24 Horas de Daytona. N ­ essa parte da corrida, o Studebaker dele ficou des­ gastado do lado do motorista, o que fez com que os pneus de trás não suportas­ sem a carga. Resumo da perda de tempo: uma boa meia hora. Memo Rojas, que não é exatamente um intelectual, terminou a prova muito pensativo e fez uma reflexão existencia­ lista: “É a primeira vez que senti medo dentro de um carro de corrida. Eu sei como é a sensação de ansiedade na lar­ gada, de nervosismo e de necessidade de concentração. Mas hoje eu realmente tive medo, medo de verdade. Cá entre nós: o carro é uma merda. Excessivamente motorizado, uma merda mesmo. Agora eu entendo o que o personagem do Niki Lauda diz no filme Rush: que você precisa estar 100% preparado quando entra em um carro desses. Ele não tem suspensão, não tem nenhuma segurança de verdade. 32

Correr assim em uma velocidade de 300 km/h pode ser fatal. Na corrida do ano passado dois pilotos de Studebaker também se acidentaram fatalmente. Na minha carreira dirigi Monopostos, Protótipos e carros de turismo, na Amé­ rica do Norte, na Europa, na América do Sul... Mas este é o pior de todos. Além disso, em uma pista você conhece seu ponto de freio e, quando precisa, conse­ gue usá-lo com uma previsão de meio ­metro, no máximo 1 ou 2 metros. Aqui você não tem como saber. Você quer frear, mas não pode”. Há 25 anos, Guillermo Rojas Sr., o pai de Memo, venceu a Corrida Panamericana. “Naquele tempo a gente não se importava

Capacete, cinto de segurança... e um cigarro

ritmo nas Special Stages, as etapas espe­ ciais, é de tirar o fôlego. Nas ultrapassa­ gens entre uma curva e outra, a veloci­ dade pode chegar a 100 km/h a mais do que é permitido e considerado um bom parâmetro. Entre os carros estão também os federais, da Políca Mexicana, que ­disponibiliza 172 motoristas de Dodge, bem equipados, destinados à supervisão. Para eles, uma curva que pode ser ultra­ passada sem cantar os pneus na via pública é considerada uma bobagem. O adesivo colado na entrada da Panamericana dá carta branca para quase tudo. Paname­ ricanistas têm sempre preferência. Já na ­cidade, o motorista que passar no sinal vermelho será advertido vigorosamente: “¡Vete, pendejo!” Dentro dos carros é tudo tão quente quanto barulhento, e tem ainda o cheiro tóxico dos combustíveis de alta octana­ gem, mas o pior de tudo é passar pelas ruas mais impiedosas, entre desfiladeiros e o deserto. Ali as curvas são realmente ­desumanas. E depois tem os famosos ­topes, curvas asfaltadas que até em ­picapes são desconfortáveis de fazer. Os primeiros desastres não demoram a acontecer: em geral, devido a falhas de concentração que resultam em acidentes e até morte. Falhas de comunicação entre piloto e copiloto. Óleo na pista, excesso de esforço, fadiga, euforia. Um Dodge conseguiu calcular precisamente o vão entre o fim de um muro e o início de uma barra de segurança, de modo que acertou no meio da árvore atrás dela. Escutam-se os gritos do piloto; defeito nos freios – o piloto diz que teve um sentimento estranho algumas curvas antes. Um Studebaker que vinha rápido capota. No seu óleo ­escorregam nada menos do que outros seis carros, que são lançados para fora da estrada. THE RED BULLETIN


Fim da linha: um Ford encontrou uma 谩rvore, e um Studebaker derramou 贸leo e acabou com a corrida de seis carros


Uma das corridas de carros clássicos de maior prestígio no mundo é dividida em sete etapas de mais de 3 mil km de extensão no meio de belas e extremas paisagens do México. Por que a Corrida Panamericana é tão exigente? O clima é uma resposta: começa com tropical, quente e úmido, passa pelo nível do mar e chega a subir a 3 mil metros de altura, com o ar rarefeito que sufoca os corredores. As variações de tempera­ tura vão de 34ºC à beira do congelamento – tudo isso num espaço de 72 horas


O maior desafio de todos fica entre Quéretaro e Morelia, chama-se Mil Cumbres e é algo como uma montanha-russa de 21 quilômetros no meio de uma floresta. Vistas de fora, cada uma das curvas é apavorantemente alta, mas, para os motoristas, Mil Cumbres é o paraíso. No alto, as curvas são ainda mais ­estreitas. Memo Rojas suou para entrar no Top 10, aos poucos ele foi aprendendo os pequenos truques da corrida. Como, geralmente, a equipe entende pouco da mecânica rústica desses carros, muito tempo é perdido trocando pneus. No entanto, se forem preenchidos com nitrogênio, a pressão com o aumento da temperatura permanece quase a mesma. Quando os pneus são abastecidos com oxigênio, a diferença de pressão entre o início e o fim da corrida fica quase em 100%. Se for injetado também um pouco de água, o vapor produzido no interior do pneu faz com que ele inche ainda mais, o que o torna mais resistente. É ­claro que os diferentes procedimentos de segurança variam dependendo do estilo de dirigir e das condições do ambiente.

P

rincipalmente em Mil Cumbres, mas ­também em outros trechos em direção a Morelia, pelo meio da floresta, há muitos gravetos traiçoeiros na beira da estrada. Eles escorregam tanto quanto uma camada de gelo cobrindo a estrada, especialmente quando o desempenho e o nível de aderência dos automóveis não é muito bom e, além disso, eles ainda são muito pesados. Memo Rojas dispara: “Nas pistas de corrida estou acostumado a usar toda a largura da rua. Aqui seria fatal, e eu preciso me lembrar disso o tempo todo, é difícil. É como se você estivesse acostumado durante toda a sua vida a deixar a escova de dente do lado direito da pia, e daí vem uma namorada e diz que você deve deixar a escova do lado esquerdo”. Mas com o andar da carreta as melancias se ajeitam. Muitos pilotos chegaram à conclusão de que devem encarar a Corrida Panamericana como uma aventura de férias. O modelo e a manutenção da maioria dos carros custam muito dinheiro e, portanto, não é de se surpreender que a situação financeira da maioria dos participantes é um tanto folgada. Pilotos realmente desfavorecidos são raros. Um dos poucos é Roger Furrer, que mora na Inglaterra e dirige um simpático THE RED BULLETIN

Confetes, enchiladas, mezcal, música e loucura esperam os corredores que cruzam a linha de chegada

TR4. O carro dele foi montado com base em um modelo histórico e faz apenas 120 hp. Ele dispensou também os pneus de corrida, motivo pelo qual não é de se espantar que tenha apelidado seu copi­ loto de “Elefante”. Por trás de Furrer não há nenhuma equipe, nenhuma grande quantidade de dinheiro – apenas muitas horas de trabalho na oficina. O carro só não pode parar de funcionar: o Triumph pertence também à filha dele. Os dois ­mecânicos contratados apenas controlam o óleo e trocam os pneus. “É só o básico para que as coisas funcionem. Dos detalhes cuido eu, como um piloto de avião que verifica tudo antes de ligar os motores.” A missão de Furrer: “Eu dirijo como os pilotos de 1962”. Um adendo: “Eu queria ver quantos dos que estão na nossa frente teriam chegado onde chegamos com um carro como o nosso”. Não se pode subestimar a persistência e a capacidade de suportar o sofrimento de Roger Furrer: nos dias depois do rali, ele vai continuar a dirigir, para o norte, pela fronteira, até Houston, no Texas. Lá o carro será levado até um navio que transporta carros para a Europa. “É o jeito mais barato”, conta Furrer, rindo. “O transporte todo dificilmente chega a custar € 2 mil.” Tal quantia de dinheiro as outras equipes gastam em bons vinhos para o jantar,

“Os melhores carros de corrida são os que quebram na chegada”

no filé mignon e no champanhe preferido das namoradas. Alguns se tornam heróis pela única ­razão de terem morrido. Do início ao fim das etapas, os acidentes são muitos. ­Alguns fatais. A 1 quilômetro da marca de chegada, Doug Mockett estourou os pneus, e ainda assim arrastou o seu ­Oldsmobile até ultrapassar a bandeirinha que sinaliza o final da corrida, mas não sem antes destruir completamente seu câmbio. “Os melhores carros de corrida são os que quebram na chegada”, diz um velho ditado que circula entre os ­engenheiros. Hoje muitos carros não têm mais uma embreagem funcional e chegam ao fim da partida gaguejando em terceira. O jovem mexicano Pasqual Piccolo deu um giro e dois pilares de concreto arrancaram sua roda esquerda traseira. Ele ­parou para consertar, seguiu em frente, mas depois quebrou o motor e visivelmente também teve prejuízos no radiador. Ele telefonou e permitiu ser arrastado até a ­linha de chegada em Zacatecas. Ao chegar, ele é ajudado pela Tropa Local, composta de 16 homens, que levam seu sequelado Datsun até a linha de chegada. No centro da cidade tem fiesta mexicana: mariachis, enchiladas, mezcal, confete, Corona, dança, música e loucura. Memo Rojas, na sua estreia na Corrida Panamericana, depois de uma largada nada boa e uma série de imprevistos terríveis no caminho, chega ao final da competição em terceiro lugar, e dança abraçado com o campeão e o vice-campeão pelas ruas, gritando: “¡Viva México! ¡Viva la ­Carrera Panamericana! Somos todos uma família! Até ano que vem!” O pai dele está perto e ri discretamente. Ele sabe muito bem o que o filho quis dizer. A noite foi longa em Zacatecas... www.lacarrerapanamericana.com.mx

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ESSE, ENTÃO, É O PRÓXIMO PASSO

Sã o 2 064 q u i l ô m etros e 12 m eses q u e se p a ra m a c i d a d e d e Sc h l a d m i n g , n a Áu stri a , d e Só c h i , n a costa l este d o M a r N e g ro, n a R ú ss i a . Pa ra Li n d sey Vo n n é a m a i o r vi a g e m d e s u a ca rre i ra . Rea l iza m os esta e ntrevi sta n o m e i o d o p e rc u rso Entrevi sta: Stefa n Wa g n e r   Fotos: M i c h a e l M u l l e r Pro d u ç ã o: J o s ef S i e g l e

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tão grave que a campeã olímpica, mundial e diversas vezes vencedora da Copa do Mundo nunca mais praticaria esqui. Depois de cinco dias, Lindsey foi ­operada nos Estados Unidos e o resultado foi otimista: ela conseguiria seguir sua carreira. Poucos dias depois, ela postou no Facebook uma foto de sua perna: um pedaço de carne marrom-avermelhado, inchado e repleto de hematomas, pontos e esparadrapos. “Neste verão, só usarei saias longas”, escreveu. A contagem regressiva para o grande retorno já havia começado: quarta-feira, dia 12 de fevereiro de 2014, em Sóchi, na competição olímpica feminina. O Red Bulletin acompanhou Lindsey Vonn durante os meses de recuperação e conversou diversas vezes com ela sobre o centro de reabilitação e os profissionais que tomam conta dela. A entrevista abaixo foi realizada em Miami, onde Michael Muller fez as fotos.

primeiro dia de competição da Copa do Mundo de Esqui Alpino em Schladming, na Áustria, começou com tempo cinza, com temperatura acima de 0º C, névoa e chuva. Nevou nos dias anteriores e, em 5 de fevereiro de 2013, a pista estava macia e pegajosa, principalmente ao longo do traçado. A largada para a etapa do Super-G ­feminino estava programada para as 11h e foi adiada diversas vezes por causa do mau tempo. Anunciavam que começaria em 15 minutos, enquanto as competidoras aguardavam na estação da montanha, tomando chá. Quando ninguém mais acreditava que teria corrida, foi dada a largada às 14h30, o último horário ­previsto no regulamento. Já começava a escurecer quando, ­depois das 15h, largou a competidora com o número 19 e favorita para ganhar a ­medalha de ouro no Mundial. Quatro centésimos de segundos de vantagem na metade do primeiro tempo e 12 de desvantagem no segundo. A corrida terminou depois de 44 segundos: procure no YouTube por “Vonn crash” e, se você não gosta de filme de terror, reduza o volume. Lindsey Vonn apoiou mal o pé direito e rompeu os ligamentos cruzados e laterais do joelho, além de fraturar a lateral da tíbia. Na mesma noite em Schladming, circulava o boato de que o ferimento foi 38

the red bulletin: Quantas vezes você ainda pensa na queda de Schladming, que quase acabou com sua carreira? lindsey vonn: Não penso mais. Mas você já a assistiu? Sim, algumas vezes no YouTube. Queria ver se a queda foi do jeito que eu a senti. E...? Foi exatamente assim. O esqui direito para na neve macia, eu torço a perna pela direita, meu corpo cai por cima do joelho, que se distende. Como você se sentiu ao assistir à queda? Fiquei “p” da vida. Todos sabem que ­naquele dia não deveríamos ter feito a corrida. Durante cinco horas ficamos aguardando na montanha. Isso não foi um bom jeito de começar uma corrida que você anda a 80 milhas por hora (130 km/h). Na verdade, eu estava perguntando como você se sentiu vendo seu próprio joelho se esmigalhando. Vendo você deitada na neve, ouvindo seus gritos e gemidos de dor. Ah, isso. Isso não importa. Já caí muitas vezes. Já tive quedas muito mais feias do que aquela. Em Sestriere, por exemplo, durante o treino para a Olimpíada de 2006. Essa sim foi horrível. Eu ainda não entendo como não destruí meus dois joelhos naquele acidente.

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“O QUE FICA DO ESPORTISTA SÃO OS RECORDES”


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“NAQUELA ÉPOCA, EU ME COMUNICAVA COM MEU JOELHO” Você teve apenas uma pequena lesão nas costas e após 43 horas já estava participando da competição olímpica. A lesão nas costas é o meu souvenir de Sestriere. Desde então tenho dor nas costas quando fico em pé por muito tempo. Vai ser legal ver como as minhas costas vão doer quando eu ficar velha. O seu médico da equipe da Red Bull, Robert Trenkwalder, diz que uma lesão grave como aquela de Schladming também traz aspectos positivos. Ele diz que se amadurece e aprende, acima de tudo, a ter paciência. Paciência, uh. Uh? Até agora eu sempre consegui superar uma lesão. Desta vez não funcionou. Pela primeira vez uma lesão foi mais forte do que a minha força de vontade. Durante as primeiras três semanas foi extremamente difícil de aceitar isso. Eu não podia fazer nada, nem pegar um café, só ficar sentada. Não tinha muito o que fazer. O jeito era só esperar. E aí? Você se tornou uma pessoa mais paciente durante esse tempo? Olha, eu tentei. O que aprendi nesse ­tempo foi a escutar o meu corpo.

Desculpe, o que você quer dizer exatamente com “escutar o seu corpo”? Eu realmente escutava o meu joelho. ­Posso dizer que eu me comunicava com meu joelho. “…bom dia, joelho”? Quase isso. Você começa a prestar muita atenção a qualquer feedback, cada pon­ tada, cada sinal que poderia indicar que aquela atividade está exigindo demais do seu corpo. Você já conversou com seu joelho hoje? Não. Desde o verão não conversamos mais. Desde que eu jogo tênis sem dor, ­ o joelho voltou a ser uma parte normal do meu corpo. E o tênis força muito mais o joelho do que o esqui. Mesmo antes da queda, suas curvas de esquerda, sobrecarregando a perna direita, já eram melhores do que as curvas de direita. Isso é uma lenda ou é verdade? É verdade. Mas não tem nada a ver com o joelho, mas com a flexibilidade do meu quadril. Seria praticamente impossível ­fazer um treino com apenas curvas de esquerda [risos]. Pelo lado médico: os dois joelhos voltaram a ser igualmente bons e fortes? A diferença é de 1%. Bem, esse 1% seu joelho direito consegue reconquistar com certeza. [Risos.] Não, não, após a reabilitação e o treino de recuperação, o joelho direito está mais forte do que o esquerdo. Você passou a primavera e o verão em recuperação em vez de treinar. Como isso impacta a temporada 2013/2014? As primeiras descidas serão no final de novembro, começo de dezembro. Até lá eu quero estar preparada para ganhar a corrida. Mas a minha meta é a Olimpíada de Inverno, que será em fevereiro, e ainda tenho bastante tempo.

Você já ganhou tudo: medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, no Campeonato Mundial e na Copa do Mundo. Conseguir uma medalha de ouro em Sóchi ­seria, provavelmente, a maior conquista de sua carreira. É correto afirmar isso? Sim, com certeza. Uma medalha de ouro depois dessa lesão seria, para mim, a maior conquista. O acidente foi o ponto mais baixo da minha carreira. Ouro em Sóchi seria o máximo. Outra coisa. A Annemarie Moser-Pröll ganhou 62 corridas na Copa do Mundo. Você está com 58, se é que eu contei direito... …59! Se você conseguir ficar razoavelmente em forma, logo quebrará o recorde de vitórias no Mundial de esqui feminino. Não quero ser convencida, mas estou ­contando com isso, sim. Ingemar Stenmark… …já sei o que você vai me perguntar ­agora – 86 vitórias. Já pensei sobre isso. Até agora, meu plano é competir até a Copa de 2015. Aí verei quanto falta para chegar a esse número e vou decidir o que fazer. Se continuarei competindo em ­todas as modalidades ou somente no ­downhill e Super-G e focar nos recordes. Os recordes são realmente tão importantes assim? Claro. Os recordes são a única coisa que permanece de um atleta. A única coisa da qual as pessoas se lembrarão. Isso soa um pouco triste. Isso é triste, sim. Mas, se eu quiser que as ­pessoas não me esqueçam, só posso ­encerrar a minha carreira depois de ter estabelecido um nível alto o suficiente para aqueles atletas que virão depois. Isso quer dizer que, enquanto eu estiver ganhando, vou continuar competindo. Resumindo, é o que resta de mim. Os números e recordes. Alguns meses atrás, publicamos na nossa revista uma entrevista com ­Andre Agassi e Steffi Graf. A entrevista foi parecida com a que estamos tendo agora, e o Agassi disse exatamente o oposto do que você falou. Enquanto ele só jogava pela vitória, ele era in­ feliz. Ele só ficava feliz quando podia usar suas vitórias no tênis para outros fins, no caso para montar uma escola. Não se esqueça de que, quando criança, Agassi foi forçado a praticar o esporte. Ele não se divertia jogando tênis.


“UMA MEDALHA DE OURO DEPOIS DESSA LESÃO SERIA, PARA MIM, A MAIOR CONQUISTA”


PICTUREDESK.COM, COURTESY OF LINDSEY VONN, REUTERS (2)

Bem, na sua história e carreira, seu pai também foi muito decisivo... Mas não como o pai do Andre. Ei, eu li o livro dele. Comigo nunca foi tão ruim. Eu sempre gostei de esquiar. Eu não fui obrigada. Fui guiada. Quando você tinha 11 anos, sua família se mudou milhares de quilômetros de Minnesota para o Colorado, para que a pequena Lindsey pudesse treinar melhor. Investiram tudo na sua carreira. Não era uma enorme pressão? Foi a única pressão que senti. E sim, em última instância, essa pressão veio de mim, ninguém me forçou. Mas como é que uma menina de 11 anos se sente, sabendo que o futuro da família depende do seu sucesso no esqui? Era muita pressão, mas não se pode compará-la com a do Andre. Eu amo esquiar. Sempre amei e continuo amando. Eu sei que esquiar não é tudo, ganhar não é tudo. Passei por muita coisa, o divórcio, a depressão e agora a lesão. Aprendi a minha lição. Sei que a coisa mais importante é ser feliz e viver uma vida feliz. E o esqui me proporciona muita felicidade. Você tem duas irmãs e dois irmãos. Eles sentiam muito ciúme da princesa do esqui, que sempre foi o centro das atenções? Minhas irmãs nunca tiveram ciúme, mas meus irmãos um pouco. Mas não ao ponto que você imagina. Quer dizer, eles tiveram que deixar todos os amigos para trás por causa do meu esqui. Eles tinham o direito de ficar putos. Mas me apoiaram, entenderam que na verdade não era a minha decisão de mudar, que eu não conseguia alterar essa decisão. Eles também viam quanta pressão eu sofria. Eu não era a princesa, cujos desejos eram realizados. Eu era mais uma mula de carga. Hoje, seu relacionamento com seus ­irmãos, especialmente suas irmãs, é muito forte. Isso se deve ao fato de que você, de alguma forma, quer recompensar alguma coisa do passado? Acredito que eles não me culpam. Mas ­estou tentando ajudá-los a realizar coisas na vida. Um de meus irmãos, por exemplo, vive comigo no Colorado, sem pagar aluguel, porque eu quero que ele use o ­dinheiro para pagar sua educação. Laura teve a oportunidade de viajar comigo. Ela tem um blog, conhece jornalistas, o que pode ajudá-la nos seus primeiros passos como jornalista. Estou tentando ajudá-los a encontrar uma porta para que eles cheguem lá. Mas abrir essa porta e passar por ela continua sendo tarefa deles. Pouco antes da Copa do Mundo, foi apresentado um grande documentário THE RED BULLETIN

A HISTÓRIA DE LINDSEY

Treino em Soelden, Áustria, em 2013

Em ação, no Whistler Cup de 1997

Ouro no downhill na Olimpíada de Inverno de 2010 em Vancouver (CAN)

Lindsey Kildow nasceu em 18 de outubro de 1984 em Saint Paul, Minnesota. Ela tem dois irmãos e duas irmãs. Seu pai, Alan, lhe ­ensinou a esquiar e, quando Lindsey completou 11 anos, ele se mudou com a família para Vail, no Colorado. Em 1999, Lindsey ­participou de sua ­primeira competição organizada pela FIS (Federação Internacional de Esqui). Durante a mesma temporada, então com 15 anos, ­ela ganhou a medalha de prata no downhill da Copa dos Estados Unidos. Em 2001, conseguiu seus primeiros pontos

em uma Copa do Mundo, com uma medalha no Super-G em Val D‘Isère (FRA). Em 2002, teve sua ­estreia na Olimpíada, em Salt Lake City (EUA). Em janeiro de 2004, obteve sua primeira ­vitória na Copa do ­Mundo com um downhill extremamente difícil em Cortina (ITA). Em dezembro do mesmo ano, subiu ao pódio após vencer o downhill da Copa do Mundo em Lake ­Louise (CAN). Hoje ­acumula 59 vitórias em todas as cinco ­modalidades. No dia 29 de setembro de 2007, Lindsey Kildow se casou com o ex-atleta

da equipe americana de esqui, Thomas Vonn. O casal se separou no final de 2011, e o divórcio foi assinado em 2012. Lindsey admitiu à revista People que sofreu de depressão. Ela também chamou atenção por solicitar oficialmente à FIS a permissão para participar da modalidade downhill com os homens em Lake Louise. Seu pedido foi negado. Em 2006, ela era uma das favoritas na Olimpíada de Turim (ITA). Porém, após uma grave queda durante o treino, ficou com o oitavo lugar no downhill e o sétimo no Super-G. Quatro anos depois, na Olimpíada de Vancouver (CAN), ela ganhou o ouro no downhill e o bronze no Super-G. No campeonato mundial de 2009, disputado em Val D‘Isère, Lindsey ganhou a medalha de ouro no downhill e no Super-G.

OUTFIT Sports Bra: Under Armour; Skirt: Rag & Bone; Watch: Rolex; Corset Top & Bikini Bottom: American Apparel; Gloves & Legwarmers: Stylist's Own; Stilettos: Bebe; Necklace: Topshop; Mesh Bodysuit & Bra: American Apparel; Shorts: Rag & Bone; Gloves & Towel: Stylist's Own. Stylist: Shay Bacher; Hair: Miriam Azoula;

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“SIM, TIGER WOODS ME FAZ UMA ATLETA MELHOR” sobre você na TV. Nele você disse que somente se sentiu adulta aos 28 anos de idade, após o difícil ano de 2012 no qual se divorciou e falou publica­ mente sobre sua depressão. Sim, pela primeira vez na vida eu podia decidir o que aconteceria comigo. Em uma entrevista, você disse que seu lema de vida era: tudo que acontece tem um motivo. Você realmente acre­ dita nisso? Tenho certeza de que nada acontece sem um motivo. Na minha vida aconteceram tantas coisas que, primeiramente, eram apenas perturbadoras e, em seguida, ­começavam a se encaixar, e de repente ­faziam sentido. Mas por que você está perguntando isso? Eu gostaria de saber qual motivo você vê na sua lesão, que ocorreu justo no seu melhor momento. Estou convencida de que o que ocorreu não foi mera coincidência. Aconteceu para me tornar uma pessoa mais forte. E aconteceu justo no momento em que ­estava forte o suficiente para passar por este teste. Essa demora para tornar-se adulta foi influenciada por você estar sempre cer­ cada por homens dominantes, primeiro o seu pai, depois seu marido... …sim… O homem que está ao seu lado neste momento é um ícone do esporte, o atleta mais bem pago do mundo com 14 grandes títulos de golfe... …hahaha, valeu. É claro que Tiger tem um caráter forte. Mas ele não é dominante. Ele tem um papel totalmente diferente. Eu decido o que acontece na minha vida. Nem o Tiger tem poder para conseguir mudar isso. Eu estou interessado no impacto que um dos atletas mais bem-sucedidos 44

do mundo tem sobre você como atleta. Tiger Woods te faz uma esquiadora melhor? Eu diria que ele me faz uma atleta me­ lhor. Um exemplo: eu não diria que não sou uma boa profissional. Mas a maneira como Tiger entende o profissionalismo me surpreende. Ninguém consegue ima­ ginar o quanto ele trabalha. Realmente, ninguém. E isso num esporte no qual ­alguns caras fumam cigarro durante o aquecimento e te fazem pensar que não é necessário estar em forma para compe­ tir. Mas Tiger diz que quer estar mais em forma do que os outros; esse é o caminho dele. Por isso, ele se força a ir além do que provavelmente seria necessário. E convi­ ver com ele me faz querer trabalhar mais. E outro ponto forte de Tiger é sua força mental. Antigamente, eu pensava que o golfe se resumia a bater a bolinha e es­ perar para ver quão longe ela iria. Desde que acompanho Tiger nos torneios, eu sei que o golfe é uma inimaginável maratona: são quatro dias e cada tacada conta. Do mesmo jeito que uma jogada errada no xadrez te faz perder a partida. A pressão é inacreditável, porque é um jogo demo­ rado. Quanto mais eu observava Tiger, mais ficava fascinada como ele resiste à pressão, como ele mantém a compostura e o controle. Houve momentos em tor­ neios de golfe quando dizia para mim: “Ok, Lindsey, esse, então, é o próximo ­nível de autoconfiança, concentração e controle. Se conseguir chegar nesse nível, você também vai se tornar uma esquia­ dora melhor.” Conte sobre um desses momentos. Durante o masters de golfe em Augusta, teve uma tacada com a qual ele acertou a bandeira. Essa tacada acabou com a sua chance de vencer o campeonato. Mas ele permaneceu calmo e continuou

competindo, mesmo quando queriam ­fazê-lo ser desclassificado. Eu fiquei mais nervosa do que ele. Ou melhor: fiquei arra­ sada e ele permaneceu completamente cal­ mo. Nunca o vi reclamar de alguma coisa. Podemos esperar por uma inabalável Lindsey Vonn na próxima temporada de inverno? Não posso aplicar exatamente essa postura ao esqui, pois meu esporte demanda agres­ sividade. Você precisa explodir durante o 1,30 minuto. Isso não faria sentido no golfe, por se tratar de uma maratona, e não de uma corrida. Mas essas experi­ ências ao lado de Tiger me ajudam muito em grandes eventos. Na Copa do Mundo ou nas Olimpíadas, não se trata apenas do 1,30 minuto da corrida. Durante duas semanas, você está no “modo” de corrida, então tudo importa, pois todos estão de olho em você. Nesse momento fica difícil manter a calma, e essa é a parte impor­ tante. Quanto ao stress, as Olimpíadas mais parecem um torneio de golfe do que uma Copa do Mundo. Você se importa com a popularidade? Eu me importo em causar um impacto ­sobre os jovens que competem, porque são o futuro do nosso esporte. E acho que o esqui mereceria mais atenção, e, claro, eu ajudo sendo famosa. Mas, se você quer saber se eu me importo em ser reconheci­ da na rua, então a resposta é não – eu não me importo. Você nem sempre passou essa imagem. Porque nem sempre fui assim. Nos últi­ mos anos, muita coisa mudou. Eu sempre usei um pouco da minha popularidade para superar a minha insegurança. ­Quanto pior eu me sentia, mais eu queria o reconhecimento dos outros. Durante a minha depressão e antes do meu divórcio, eu quase fiquei viciada em querer que as pessoas gostassem de mim. Mas, quanto mais estou me conhecendo, mais indife­ rente fico em relação ao que as pessoas acham de mim. Como é esse seu desejo pelo reconhecimento? É como um stress insano. Eu sempre lia todos os comentários publicados no meu ­Facebook. E bastava alguém não gostar do meu post, que eu levava para o lado pessoal. Você lia todos os comentários? Em alguns posts havia milhares de comentários. Todos. E agora? Não leio mais. Ainda bem que passou essa fase. E há diversas razões para isso. Prin­ cipalmente porque agora eu quero ser como sou, e não como alguém me imagina no Facebook. E eu também percebi que, THE RED BULLETIN




quando me importo muito com os comentários alheios, me faz mais mal do que bem. Muita coisa também mudou desde que estou com o Tiger. Agora estou em outro nível. Hoje sou praticamente uma celebridade... quer dizer, agora atraio pessoas esquisitas. É inacreditável quantas pessoas existem por aí que te usam como válvula de escape para extravasar sua agressividade reprimida. Mas essa vida entre o esporte e o gla­ mour, com tapetes vermelhos e subir a montanha de neve às 6 da manhã... …e eu realmente não gosto de me levantar cedo [risos]. …essa vida você já tinha antes de na­ morar Tiger Woods. Como é trafegar entre esses dois mundos? Uma coisa é certa: meu mundo real, ­minha vida real, minha casa é o esqui. É um trabalho duro, de muito suor e tenho que acordar às 5 da manhã. Tapetes vermelhos são apenas uma diversão. É como uma criança que se arruma e se sente igual a uma princesa diante do espelho. É interessante quando esses dois mun­ dos se chocam. Durante o CFDA Awards em Nova York, um tipo de ­Oscar da in­ dústria da moda, você teve que se sub­ meter a um controle de d ­ oping sem ­aviso prévio. Não deve ter sido muito agradável. Uh, sim, passei uma vergonha. O CFDA Awards é um grande evento, e no salão estavam todas as pessoas mais importantes do mundo da moda. E, de repente, ­havia duas mulheres, inspetoras de doping. Estavam esperando na entrada do evento, usando tênis, shorts e camiseta. Eu tive que colocar as duas para dentro do evento. Perguntei ao segurança se poderiam reservar um banheiro para nós, para que eu pudesse fazer xixi em paz no copo. A situação foi muito desconfortável, porque ninguém tinha ideia do que estava acontecendo. Que apenas se tratava de um teste de doping de rotina e que não estavam procurando por drogas. Ao lado de Tiger, você aparece frequen­ temente em revistas que não se interes­ sam por uma esquiadora, por melhor que ela seja. Como você se sente sendo o foco das revistas de fofoca? É divertido. De verdade. Pois é tão absurdo, muito mais absurdo do que eu imaginava. Uma revista publicou, por exemplo, que eu estaria emigrando para o Paquistão, por não querer ter filhos com Tiger. Quem inventa uma história assim? Tiger e eu nos divertimos durante o café da manhã: “Tchau, amor, me desculpe, mas preciso te deixar. Paquistão está me esperando!” E ele: “Boa sorte, mande lembranças à equipe de esqui do Paquistão!” THE RED BULLETIN

“CHEGUEI A SER VICIADA EM BUSCAR RECONHECIMENTO” Mas você participa do jogo da mídia, mesmo em situações não tão confortá­ veis, como quando David Letterman… …uuh, isso me deixou nervosa. Isso foi frustrante. Letterman tirou sarro das diversas mo­ dalidades de corrida. Mas você reagiu de prontidão e com humor. Foi o que deixei transparecer para o público. Mas ele não tinha o direito de brincar assim, desrespeitando o meu esporte! Por que você levou essa brincadeira de mau gosto com humor? Porque são as regras do jogo. Letterman faz comédia. Ele quer provocar risos. Não tem como impedi-lo ou fazê-lo parar. Quando você entra na brincadeira, significa que você aceitou as regras. E uma parte dessas regras é: o Late Show de ­David Letterman não é o lugar para se discutirem regras do esqui. E quando Jay Leno perguntou se o seu marido também era seu treinador na cama? Até mesmo isso você levou na boa com um sorriso no rosto. Você precisa estar preparada para essas perguntas. Eles querem que você tenha uma reação emocional, que você diga algo inesperado. É o trabalho deles, ­ te tirar da zona de conforto. Então, por que você participa desses programas mesmo sabendo que não ganhará nada com isso? Porque a mídia faz parte do meu trabalho. Eu não sou apenas uma esquiadora, mas uma marca. Isso está relacionado com o esporte de hoje, não importa se eu gosto ou não. Para fazer sucesso como uma marca, eu preciso participar de algumas coisas. Sim, eu sei que podem surgir algumas perguntas desagradáveis, mas eu sei que no final das contas é melhor quando participo porque também ajuda o meu esporte. Quando Lindsey Vonn cancela uma

­ articipação, Letterman convidará um p ­jogador de tênis de mesa ou maratonista que fará propaganda do seu esporte. Uma última pergunta: antes da largada, vocês esquiadores visualizam o percur­ so mentalmente, e é sempre engraçado observar como vocês movem a palma das mãos diante do corpo. Eu sempre quis saber: as mãos são a superfície da pista? Hmmm… nunca pensei sobre isso [ela ­fecha os olhos e levanta as mãos sobre o peito]… não, são os esquis. Essa descida imaginária é em tempo real? Pouco antes da largada não, porque só serve para relembrar o percurso. Mas, no verão, quando visualizamos as rotas ou durante as simulações, é em tempo real. Às vezes, eu controlo o tempo no relógio. Você memorizou todas as descidas para a temporada de inverno? Cada curva, cada salto, para serem relem­ brados a qualquer hora? Claro. Isso quer dizer que, daqui do 15º andar de um hotel em Miami, você poderia descer mentalmente os percursos de Cortina, Beaver Creek e Sóchi; todos em tempo real? Sim, claro. Na sua cabeça, você sempre faz o seu melhor tempo? Não tem como saber. Mas o traçado é ­normalmente perfeito. Só às vezes, quando já estou deitada na cama à noite, eu ­visualizo os percursos. E, pouco antes de dormir, tenho uma queda, simplesmente porque estava cansada demais. Na maioria das vezes, eu me assusto e acordo. Aí eu ­tenho que voltar para a largada. www.lindseyvonn.com

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O LADO SELVAGEM DA CIDADE Ele é um astro sem rosto: um grafiteiro, artista e rebelde nômade. O Red Bulletin conversou com exclusividade com ROA, em sua mais longa entrevista até hoje Por: Jasmin Wolfram e Andreas Rottenschlager Fotos: Philipp Greindl

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Dias de trabalho: “Primeiro meus ombros começam a arder, depois minhas costas e então meu dedo i­ ndi­cador – isso acontece de tanto apertar o bico da lata de spray”


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red bulletin: Você grafita desenhos enormes em paredes públicas, muitas vezes sob muita pressão. Quais partes do seu corpo começam a doer primeiro? roa: Eu recentemente trabalhei num tema no porto comercial de Linz, na Áustria, por nove dias; em turnos às vezes de 12 horas, sem intervalo. Primeiro meus ombros doeram, depois minhas costas e então o dedo indicador da minha mão direita, que eu uso para pressionar o bico da lata de spray. É claro que um trabalho desse tamanho também é um baita desafio para a cabeça. Como é transferir um desenho em A4 para um prédio de vários andares? Faço o desenho diretamente na parede, que é como qualquer outra superfície de trabalho, só um pouco maior. Eu acho

“Artistas deveriam criar apenas coisas que os inspirassem” chato reproduzir algo que você já pintou, então meus desenhos são na maior parte rascunhos. Quero criar algo novo sempre. Muitos dos seus trabalhos podem ser destruídos com uma pintura por cima. Isso incomoda? É claro que eu quero que meus trabalhos sobrevivam o maior tempo possível. Mas, quando vou embora, já está tudo feito. A parede não me pertence e o mundo não nos pertence. É um espaço público, e qualquer um com uma lata de spray THE RED BULLETIN

ELSA OKAZAKI

Sem fotos: ROA, na galeria Hilger Next, em Viena: “Sou um pintor de paredes nômade”

ova York, Londres, Berlim. Se você procurar pelas maiores cidades do mundo, encontrará os animais de ROA pintados em grandes paredes que se esparramam ao lado das fábricas. Inspirado em parte pelos desenhos de Charles ­Darwin, o discreto artista de rua belga pinta só de preto, branco e vermelho e tem, nos últimos tempos, se valorizado bastante. Agora, em vez de fugir da polícia, tem recebido ofertas de espaço em galerias por grandes negociantes de obras de arte. Alguns dos seus trabalhos têm o tamanho de muitas quadras de tênis, enquanto as peças menores estão expostas em lugares de prestígio como o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles. No ano passado, a galeria Stolen Space de Londres fez uma exposição inteiramente dedicada a ele. Embora sua arte seja exibida e comentada em todo o mundo, ROA é um homem muito reservado. Não existe nenhuma foto sua à disposição do público. Seu pseudônimo, ele diz, “não quer dizer nada”. E o motivo para se resguardar é simples: “A obra é mais importante que as pessoas”. Quando o Red Bulletin o encontra, no segundo andar da galeria Hilger Next, em Viena, seu laptop emite um som alto de hip hop. Latas de spray vazias estão jogadas pelo chão. O sol vai se pôr daqui a pouco e a claridade diminui a cada segundo. ROA tem que terminar sua mais nova instalação – um enorme pássaro com asas abertas – até a noite seguinte. Mas, quando a noite cai, ele encontra um tempo para sentar com o Red Bulletin para conceder uma rara entrevista.


Em junho deste ano, ROA concluiu dois grandes ­murais para o festival de arte Bubble Days, na Áustria. Ele passou nove dias trabalhando neste bode


ou tinta pode mudar isso quando bem entender. Arte de rua é arte moderna? É contemporânea, não moderna. Não ­importa se a arte de rua é definida como intelectual ou underground, ou o quão é levada a sério. O mais importante é que aconteça. O termo “arte de rua” foi criado por pessoas que não tinham nenhuma ­ligação com ela e, assim como muitos ­termos genéricos, simplesmente liga “rua” e “arte”. Mas artistas de rua existem há muito mais tempo. Não se limitam a pintura: mímica, malabarismo e música podem ser arte de rua também. Então, é um termo ruim que não diz nada. Com as multas e condenações a prisão, nem todo mundo aceita isso como uma forma de arte. Seria melhor se as pessoas se preocupassem menos com sua privacidade ou propriedade e vissem essas obras de arte

“ ‘Arte de rua’ é um termo muito genérico” como um presente, não algo que afeta ­negativamente o seu ambiente. Quando você era jovem, pintava as paredes de casas abandonadas. Agora suas obras de arte são expostas em galerias. Como você transita nesses dois extremos? Um artista é um artista. Não importa onde, como ele trabalha ou o contexto em que faz isso. O principal é sentir esse desejo de criar alguma coisa. Não é uma questão de como grandes pessoas pensam que você é, ou do sucesso com que você mantém seu lugar no mercado. É bom ter pão, queijo e chocolate postos na mesa da cozinha todos os dias. Como você define o termo “artista”? Um artista pode fazer o que quiser. Se alguém chega e defeca no chão desta galeria 52

Acima: o intrínseco desenho de esqueleto de bode Nesta foto: o trabalho de ROA em uma parede no porto de Linz, na Áustria

THE RED BULLETIN


“Não importa se é legal ou ilegal, e sim criar algo interessante”

e chama isso de arte, é arte. Se o público gosta disso ou não é outra coisa. Um ­verdadeiro artista deveria apenas criar coisas que o inspirem, e não o que é fácil de ­vender. Eu fiz todos os tipos de traba­ lho no ­passado para conseguir dinheiro e ­poder comprar minha tinta. Agora é bem o oposto: faço dinheiro com tinta e compro tinta. Sua arte é sempre sobre domar animais selvagens. Por quê? Eu não os domo ativamente. Algumas pes­ soas acham meus animais dóceis, ­outras acham agressivos. Quando pinto os ani­ mais, eles estão parados, mas não necessa­ riamente mortos. As pessoas dão seu pró­ prio significado – é essa a beleza da arte. Sua inspiração vem totalmente do reino animal. Do que você não gosta nas pessoas? Animais revelam muito sobre a época em que vivemos, as coisas que nos afetam THE RED BULLETIN

e a forma que vivemos as nossas vidas como pessoas. Como o trabalho de Charles Darwin inspira seus desenhos? Darwin pesquisou espécies animais dife­ rentes por todo o mundo. Nesse sentido, somos muito parecidos. Estou muito inte­ ressado na biologia e na vasta variedade do reino animal. Mas, no fim das contas, sou artista, não biólogo. Você mantém os detalhes de sua vida privada bem guardados. Quanto tempo você passa em casa, na Bélgica? Eu estou num ponto em que minha casa já não parece mais meu lar. Sou como um grafiteiro nômade. Alguns dos seus desenhos recordam os velhos mestres da Bélgica e Holanda. Por você ter sido criado na Holanda, se enxerga como parte dessa tradição? Todos somos influenciados pelas condi­ ções nas quais crescemos; pelas coisas

que vemos quando somos crianças. ­Essas impressões nos inspiram, mesmo que a gente não saiba disso na hora. A partir dessa perspectiva, é possível que essa ­escola europeia tenha influenciado a minha pintura, sim. Você preenche 20 metros de parede com seus trabalhos. Como é que con­ segue acertar as proporções? Eu não gosto de usar projetores nem ­grades. Eles não teriam nenhuma utili­ dade, porque, quando estou começando, eu não sei como o trabalho prosseguirá. Eu descubro enquanto estou pintando. Tenho ­fotos dos animais que eu quero pintar e olho para os seus crânios para conseguir entender suas anatomias e proporções. Em 2011, você pintou na Gâmbia. Como as pessoas de lá receberam seu trabalho? O povo de lá está aberto à criatividade, não tem medo de mudança. Seria essa a maior diferença em relação à Europa? Por que os grafiteiros ocidentais pintam quase que exclusivamente em lugares ­degradados ou becos? Porque nesses lu­ gares ninguém se incomoda com o que ­fazemos. Mas esses também são os luga­ res com o maior potencial de transforma­ ção. Agora há proprietários especulando que a arte de rua pode na verdade fazer os preços subirem. O que te anima mais? A liberdade de um lugar onde é permitido grafitar ou a emoção de um muro ilegal? Não é importante se algo é legal ou ilegal. O que importa no final é que você crie ­alguma coisa interessante. Confira a última exposição do ROA: www.inoperable.at

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COULTHARD EM

CUBA COM O APOIO DE UMA EQUIPE DE FIÉIS MECÂNICOS, DAVID COULTHARD PARTICIPOU DO MAIS CLÁSSICO RALI DA ILHA. AQUI CARROS NOVOS NÃO ENTRAM FOTOS: BALAZS GARDI

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“Aqui está ele. O lindo e antigo Pontiac vinho que eu dirigi no rali clássico de Havana, em agosto deste ano. A coisa mais educada que ­posso dizer é que é mais bonito que dirigível, o que seria de se esperar de um carro de 50 anos mantido em funcionamento com qualquer peça que apareça. Será que aquele carro tinha algum freio? Não tenho certeza. Talvez uns pedaços de madeira no lugar dos pedais. Mas o carro é tão bonito, mesmo parado, que você se sente ­especial só de estar sentado nele”


“Este sou eu com Tony Burrows, da Red Bull Racing. Tem um monte de peças de carro encostadas na ­parede que a maioria das oficinas desprezaria. Mas em Cuba elas são vitais: qualquer coisa que possa ser útil para manter um carro andando é considerada. A simplicidade é fascinante. Alguns carros têm tubos plásticos no lugar de tanques de gasolina porque os antigos enferrujaram e eles não conseguiram outros para repor”

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“Os proprietários de Pontiacs têm esta garagem onde eles atendem algumas destas relíquias que também servem de táxi. As corridas com passageiros são sua fonte de renda, então é muito importante que eles consertem qualquer falha mecânica. O motor não é original: foi arran­cado de algum carango mais moderno e colocado para funcionar com o câmbio antigo por meio de algumas engenhosas operações debaixo do capô. Meus mecânicos, todos da Fórmula 1, ­ficaram admirados com o que viram: é como uma F1­ ao contrário – uma forma diferente de inovação”


“Em Havana, você se sente como num ­túnel do tempo. Este lugar era pujante e ainda tem um potencial incrível, mas tudo está diferente. Você não tem sua casa: se quiser se mudar, ­precisa fazer uma troca com alguém que está do outro lado da cidade”


“O que você vê aqui é o amor do homem por sua máquina. Por toda Havana há uma linda arquitetura que não teve nenhum reparo desde a revolução, mas, em meio à decadência, você encontra este carro lindo e encerado, no melhor estado possível de conservação, porque ele é tudo para o dono dele. As poucas pessoas que podem comprar um por aqui realmente veneram­ os seus carros. Eles são insubstituíveis”

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“No rali, Tony Burrows, que eu conheço desde as corridas da Fórmula 3, ficou encarregado de olhar o mapa. Você vê que todas as ruas são na verdade bem silenciosas. Aqui é uma região bem densa e não tem muito trânsito. A maioria dos habitantes usa ônibus. Em uma ilha com 11 milhões de pessoas, são apenas 60 mil carros, então não tem trânsito” “Este senhor [de camisa amarela, no detalhe] era um fotógrafo que queria nos mostrar imagens do grande prêmio que aconteceu aqui em 1958. Ele tinha fotos de todas as estrelas da época – Stirling Moss, Carroll Shelby e assim por diante. Juan Manuel Fangio, que era campeão mundial, foi sequestrado e liberado um dia depois. O circuito foi montado ao longo da orla de Havana. Era lindo e deve ter sido realmente incrível na época” “Tem muita arte nas ruas de Havana – muita criatividade mesmo. O prédio do Capitólio de Cuba [extrema direita] é baseado no prédio de Washington, com um diferença: este é bem maior e não é utilizado”

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THE RED BULLETIN


“Em algumas das áreas turísticas de Havana você ainda tem uma impressão do quão maravilhoso este lugar deve ter sido. Ao final de dois dias na cidade, eu e os rapazes demos uma caminhada pela praia e fumamos um charuto olhando para os estreitos da Flórida, que ficam ‘logo ali’”


ESTÁ

VIVO

No coração de São Paulo, num prédio dos anos 1920 que atualmente é rodeado por arranha-céus, uma estação promete inspirar liberdade, experimentação e ousadia. O Red Bull Station é o novo ponto criativo da cidade, em pleno Anhangabaú POR: FERNANDO GUEIROS  FOTOS: ROBERT ASTLEY-SPARKE

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PURA EXPERIMENTAÇÃO O Red Bull Station distribui em cinco andares a sua busca pela integração de diferentes expressões artísticas, com música e a­ rtes visuais. A casa é aberta ao público, e os projetos valorizam o processo, a experimentação e a formação de artistas

U

ma loira, de óculos Ray-Ban Wayfarer, caminha pelo cor­ redor do primeiro andar da ­estação elétrica desativada. Ela entra em seu atelier para se arrumar. “Você é o Rodolpho?”, pergunto. “Ele está em casa, no armário, ou melhor, no closet”, responde Fancy, que está com a barba por fazer. Ela é o alter ego e uma das obras do artista Rodolpho ­Parigi, um dos seis selecionados para integrar a primeira turma da residência artística que acontece durante os meses de novembro e ­dezembro no Red Bull Station.

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A construção da década de 1920 e antiga estação de energia da companhia Light foi restaurada para abrigar um estúdio de mú­ sica ultramoderno, galerias de arte, espaço para workshops, ateliers, palco, cafeteria e terraço. Tudo aberto ao público e à experimentação. Performances, obras, gravações, projetos e palestras vão acontecer dentro da casa que é uma estação permanente. A primeira turma ocupou seus ateliers na última semana de outubro. Junto com ­Rodolpho (ou Fancy), estão Thiago Honório, que trabalha com desenhos e objetos; Fabi ­Faleiros, que cria arte com irreverência, mú­ sica, moda, barulho e poesia, extrapolando as artes plásticas; Raquel Uendi, que faz trabalhos com fotografia e objetos bi e tridimensionais; Chico Togni, que trabalha com materiais reutilizados e busca um lado técnico e mecânico da arte; e Alê Domingues, que faz cenografia de teatro e trabalha com luzes. Todos os artistas envolvidos com o projeto estão em intenso processo de criação, cada um vindo de uma vertente artística e disposto a interagir tanto com o espaço f­ ísico do prédio quanto entre si. A curadora é a paulistana Paula Borghi, de 27 anos. “­ Gosto de pensar a residência como um paralelo da residência médica. O médico se forma e depois tem que fazer uma especialização, ver como é na prática, um espaço para experimentar”, ela diz. “O importante da residência é vir para um ­espaço compartilhar, aprender, trocar e se ­deparar com artistas que pensam o oposto”. THE RED BULLETIN


FABI FALEIROS

A artista gaúcha quer f­ azer o sol nascer por meio da música, tocando no topo do Red Bull ­Station: “É um conceito inspirado em ­Orfeu­ da Conceição”

“VOU FAZER O SOL NASCER POR MEIO DA MÚSICA DO FILME ORFEU”

THE RED BULLETIN

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ALESSANDRA DOMINGUES Alê trabalha com luzes e vai interagir seu conhe­ cimento em cenografia com as artes dos outros ­integrantes da residência. Abaixo, sua primeira ­instalação no Station

“UM DOS MOTIVOS QUE ME TROUXERAM AQUI FOI POR SER NO CENTRO DE SÃO PAULO” 66


Encravado no Centro, o Station teve um videomapping em sua fachada durante a festa de inauguração

LOST ART/RED BULL CONTENT POOL

Como em qualquer ambiente em que arte é a palavra-chave, a paz se mistura com o caos, e a bagunça fala tão alto quanto a organização. Os pedreiros estão terminando os últimos ajustes, e o que se ouve são marteladas e furadeiras intermitentes. As paredes carregam uma energia densa e foram restauradas para manter o aspecto rústico e industrial da antiga usina elétrica. Cada atelier tem uma porta de metal de vaivém fechada por um pesado cadeado. É inevitável ouvi-la batendo. “Os ateliers ficam nos lugares onde antes eram as bombas de energia”, lembra Thiago Honório, pouco depois de apoiar na parede do seu atelier 20 ferramentas utilizadas na construção. “Aqui é um lugar onde acontecia uma irradiação de energia. Isso, no meu ponto de vista, tem um significado.” As ferramentas que ele apoiou foram negociadas com pedreiros e mestres-de-obras. “Alguns me deram, outros pediram para, em troca, eu dar uma nova”, ele explica. São enxadas, marretas, alicates e pedaços de pau que integram o que será sua primeira obra na residência, batizada de “Trabalho”. “O que me interessa é a carga de história de cada ferramenta; elas estão cansadas. Quero dispô-las escoradas na parede como uma espécie de porto de descanso”, continua o artista.

THIAGO HONÓRIO Do desenho ao objeto, Thiago expande a forma e comprime o espaço. Sua obra materializa ­corpos, lugares e formas, como em sua primeira ­produção dentro do ­Station, batizada de ­“Trabalho” (abaixo)

aqui nada é o que parece. A “máquina” é uma obra feita de papelão – Chico faz sua arte com papéis descartados e é aficionado ao funcionamento técnico de suas criações. “Eu produzo situações e objetos de papelão com técnicas de marcenaria. Já fiz trailer, guindaste, performances. Gosto do funcio­ namento das coisas”, ele diz. Na outra ponta do corredor fica uma área com palco para apresentações ligado à escada que leva para o térreo ou para o terraço na cobertura. No térreo está o estúdio de música, que terá seus primeiros projetos no mês de dezembro, junto da galeria principal. Na área externa, uma cafeteria serve também como um bom lugar para abrir o laptop e checar os e-mails. Agora, se o obejtivo é mirar o Centro de São Paulo, esse lugar é a cobertura, de onde é fácil ver a correria frenética e o fluxo imenso de carros e pessoas. O Centro de São Paulo é uma bagunça: dezenas de ônibus se revezam no terminal que fica há alguns passos do Station, e o metrô leva e traz centenas de pessoas. Prédios construídos sem nenhum padrão ou respeito ao zoneamento circundam o lugar. Alguns foram ocupados por moradores

A

galeria na qual Thiago expôs seu primeiro trabalho dentro do Station é a Galeria Transi­ tória, uma das três situadas dentro da casa. Ela fica logo no final do corredor dos ateliers, no primeiro andar. Nesse mesmo lugar, além dos pedreiros que terminam seu trabalho, artistas vão e vêm, confundindo-se com os operários. Passam com réguas, chapéus, instrumentos musicais e até furadeiras, como é o caso de Chico Togni. Mineiro criado no interior de São Paulo, ele está com a camisa molhada de suor. Em sua frente, uma instalação de mais de 2 metros, com rodinhas embaixo, parece fazer parte do maquinário da construção do prédio, mas THE RED BULLETIN

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RODOLPHO PARIGI O artista plástico Rodolpho Parigi conta com seu alter ego e obra Fancy para encarar os dias de residência no Red Bull Station: “Ela está aqui para brilhar!”

de rua, outros ainda funcionam com salas de escritório e mais um tanto é completamente abandonado. A Prefeitura está por aqui também, junto ao Vale do Anhangabaú. É bem no meio disso tudo que fica a Praça da Bandeira, onde está situado o Red Bull Station. É quase como se fosse um Triângulo das Bermudas, fora do tempo e do espaço, no meio do caos paulistano. Um lugar que até então era um buraco negro sem nem sequer ter condições de prover rede wi-fi. Hoje isso mudou – e muito.

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LOST ART/RED BULL CONTENT POOL

A

curadora faz sua reflexão: “Me falaram que aqui é um oásis no meio da cidade, mas confesso que ainda não consegui enxergar, afinal estamos rodeados pelo caos, mas durante as próximas ­semanas isso vai se transformar”. Para Chico Togni, São Paulo é uma cidade estranha. Ele veio do interior e acredita que São Paulo tem muita gente e estar no Station é ver e viver isso ao extremo. “Tem muita informação, muita coisa. Estruturas imensas, prédios, avenidas, ônibus lotados, serviços públicos saturados.” Fancy, por exemplo, não sai na rua. “É muito perigoso”, diz, enquanto pede uma escova de cabelo para uma de suas amigas que estão no atelier. A obra viva de Rodolpho Parigi garante que era amiga de Andy Warhol e que, dentro de algumas horas, vai viajar para St. Barthes para gravar um filme. “Ela gosta de São Paulo, gosta de coisa urbana”, diz Rodolpho.

A GALERIA O resultado da primeira ­residência artística do Red Bull Station estará ­exposto na galeria prin­ cipal (foto) a partir da ­primeira semana de ­dezembro. A entrada é gratuita.

THE RED BULLETIN


“O IMPORTANTE DA RESIDÊNCIA É APRENDER, COMPARTILHAR E TROCAR”

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“PRODUZO SITUAÇÕES E OBJETOS COM MATERIAIS USADOS”

CREDIT:

CHICO TOGNI A paixão pelo design e pelo funcionamento das coisas fez Chico utilizar material muitas vezes encontrado na rua para fazer suas ­criações, trabalhando com opostos


LOST ART/RED BULL CONTENT POOL

“Ela é animal e urbana, mas não gosta de ­morar na selva. Gosta que a selva chegue nela. A Fancy vai ganhar dinheiro e fama.” Perdido entre portas, artistas, obras e ­ateliers, vejo o teto do corredor piscar. São ­linhas verde-néon instaladas pela paulistana Alê Domingues “Um dos motivos que me trouxeram aqui foi o fato de ser no Centro de São Paulo. Acho que temos que reocupar a região e mostrar que isso pode ser muito ­legal.” É a primeira vez que participará de uma experiência como a residência do Red Bull Station. “Como venho do teatro e mexo com luz, para criar penso o que a pessoa irá ver antes de chegar, paredes, cores, ruas.”

RAQUEL UENDI Com impressora e papel sulfite, ela cria um trabalho que pode ser compreendido tanto como fotografia quanto escultura, utilizando-se de recortes e dobraduras. Diferenciar a técnica do trabalho é quase impossível em sua obra

Assim como Chico, as obras de Alê dependem de sua relação com o espaço, e o Station servirá, inevitavelmente, como uma contaminação em sua arte.

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as essa limitação física não acontece com todos, como é o caso de Fabi Faleiros, que trabalha com uma arte mais abstrata no sentido de não ter forma fixa. É poesia, imagem, som. Durante a sua estadia, ela quer mostrar a música com um conceito de arte. “A música costuma ser esquecida do universo das artes plásticas”, ela diz. “Eu quero mostrar o conceito de como a música e a poesia ­podem entrar nisso.” Ela irá se inspirar em Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes, para fazer o sol nascer através da música, em pleno teto do Station. “Vou fazer versões da trilha sonora do filme para o sol nascer. Tem a ver com essa coisa do energético, de ­ficar a noite inteira acordado. O que as pes­ soas querem de uma noite? Precisa esperar tudo clarear para terminar?” Para o mar de concreto que rodeia o Red Bull Station, onde o abandono e o caos são palavras de ordem, um espaço já fez o ambiente clarear. Bem ali, na Praça da Bandeira, onde arte, experimentação e liberdade, no centro nervoso da maior cidade da América Latina, injetam inspiração e liberdade na ­selva de pedra paulistana. Conheça esse novo espaço dedicado às artes: redbullstation.com.br

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Os caminhões azuis da montadora K a m a z - M a s t e r d o m i n a m o R a l l y D a k a r. Visitamos a oficina na República d o Ta r t a r i s t ã o , o n d e o s v e n c e d o r e s ­a i n d a p õ e m a m ã o n a m a s s a Por: Werner Jessner Fotos: Heinz Tesarek


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DENIS KLERO/RED BULL CONTENT POOL


K Chelny Moscou

R Ú SS I A

Chelny é a cidade onde fica a fábrica. Ela não existiria sem a Kamaz

mapa da cidade de Naberenezhnye ­Chelny, que a partir de agora só chamaremos de “Chelny”, assim como seus nativos, conta muita coisa. O antigo centro tem ­algumas construções de tijolos aparentes. A distribuição é ainda mais geométrica do que das cidades-satélites americanas. Depois de ter sido pressionada pela elite política da República do Tartaristão em meados da década de 1970, a administração da ex-União Soviética construiu a maior montadora de caminhões do país à beira do Rio Kama. E, juntamente com a montadora, arquitetou uma cidade para meio milhão de habitantes. Durante essa época, o escritório que realizou o planejamento deveria ter apenas papéis quadriculados, o que poderia explicar de um lado a distribuição extremamente geométrica e de outro uma peculiaridade exclusivamente russa: em Chelny ninguém pergunta pelo nome da rua, mas pelo quarteirão. Nos anos 1990, período também conhecido na ex-União Soviética como os “selvagens noventas”, a queda do antigo poder fez os aventureiros, os desorientados e os ­criminosos virem à tona, os homens se deitavam na cama pobres e acordavam podres de rico (ou o inverso) e até crianças moradoras de diferentes quarteirões eram inimigas a ponto de seus pais terem que pagar por segurança. Nesse período, o que fez Chelny seguir em frente foi a montadora Kamaz. Mesmo depois de duas gerações ­desde a fundação da fábrica, o tamanho da planta ainda impressiona visitantes ­despreparados. Diariamente, 50 mil funcionários passam pelo chamado “pedágio”, palavra que os russos usam no lugar de barreiras. A placa “Kamaz”, que está 74

f­ ixada no muro da fábrica da qual saem os caminhões finalizados, tem a dimensão de uma piscina (que, no entanto, fica pequena na fachada gigantesca). A montadora é um bairro por si só. O assentamento da fábrica é o resto da cidade. Como conseguiram tantos moradores para Chelny em tão pouco tempo? A resposta está na economia controlada do ­comunismo. Durante a década de 1970, quando se precisava de um apartamento na ex-União Soviética (que estava sempre amarrado a um lugar de trabalho), se ­esperava. E esperava. E esperava. Uma ­alternativa era mudar-se para a cidade de Chelny (que por um curto período teve o nome de Brezhnev, secretário-geral do partido comunista). Imediatamente forneciam um apartamento. Tudo era novo, as seis linhas de bonde da cidade terminavam na planta da Kamaz, e um rio acabava servindo como área de lazer. Apropriadamente, o governo soviético criou o polo petroquímico de Nizhnekamsk a apenas 40 quilômetros rio acima.

E m C h e l n y, a s p e s s o a s s e orientam por quarteirões, não ruas. Não existe um centro ou algo que se pareça com um marco zero da cidade. Ta m b é m n ã o é a m o n t a d o r a Kamaz, que emprega 50 mil funcionários


A Kamaz-Master cuida de oito ou nove caminhões. A vida útil de um caminhão de corrida são três largadas no Dakar


A etapa menos atraente: 8 mil km pela América do Sul. Alguém se habilita?

Hoje, 20 linhas de bonde cruzam a cidade de C ­ helny, ainda não existe um centro (certamente não é a planta de Kamaz) e não tem também um marco zero. Os mora­dores de longa data anseiam por pontos de referência na cidade, onde apenas se diferencia entre apartamentos das ­décadas de 1970 e 1990. Um tipo de ponto de referência fica a uma curta distância da planta principal da Kamaz. Numa construção do ano de 2007 está localizada a Kamaz-Master, o departamento de esportes terceirizado da Kamaz. A montadora participa há um quarto de século do Rally Dakar e já ganhou 11 vezes. Cento e dez pessoas trabalham atualmente na Kamaz-Master. Elas são a elite. O primeiro dia da nossa visita é um feriado estadual russo. No entanto, aqui é um dia normal de trabalho. A única diferença é que hoje a comida servida no refeitório, 76

onde todos aguardam educadamente na fila e se sentam juntos nas mesas in­ dependentemente do cargo ou da idade, é gratuita. Em uma espaçosa ponte envidraçada, de onde é possível ver a área de montagem, estão expostos os troféus. Olhando rapidamente por cima, parece ter mais de 100. Quanto mais importante a vitória, mais proeminente é o lugar. Os troféus das vitórias gerais do Dakar ficam no ­centro, em cima de uma bandeira russa. “Esse aí fui eu que ganhei”, diz Vladimir Chagin. “Esse, esse outro aqui e os dois lá embaixo, eu acho, também. Ah, e aquele outro é meu.” O homem usando calça jeans, tênis branco, camisa xadrez de mangas curtas e um relógio esportivo de ouro rosa é uma lenda. Ele é um dos mais prestigiados e bem-sucedidos competidores do Tartaristão. Devido às suas sete vitórias THE RED BULLETIN


MARCELO MARAGNI/RED BULL CONTENT POOL

Os motores de mil HP consomem 150 litros de diesel por hora e tem tanto torque quanto um estacionamento cheio de VW Golf

V l a d i m i r C h a g i n (à d i re i ta) é o participante mais bem-sucedido na história d o D a k a r, c o m 6 3 v i t ó r i a s nas etapas. Desde 2012, ele dá continuidade à sua carreira como chefe de equipe. “Faz 25 anos que o Dakar é parte da minha vida. Depois de tanto tempo, sei o q u e é p r e c i s o f a z e r ”, diz, cheio de humildade

gerais e 63 vitórias de etapas, ele é o czar do Dakar. Ninguém na história do Rally ganhou mais corridas que Vladimir ­Chagin. Portanto, após o fim de sua carreira como competidor, ele tornou-se o chefe de equipe. Aos 18 anos, o aspirante a piloto de kart começou de baixo, com uma vassoura na mão no recém-fundado departamento de esportes. Tinham-lhe contado que o chefe do departamento, Semen Yakubov, queria convencer a cúpula da Kamaz a participar do Rally Dakar, “com a intenção de mostrar ao mundo a superioridade dos caminhões soviéticos”. E ele queria participar. Em dezembro de 1989, os aventureiros fizeram a primeira viagem. “Para os ­agentes da imigração na fronteira franco-­ espanhola, fomos os primeiros cidadãos soviéticos que eles já tinham visto na vida”, conta Chagin, que foi acompanhar o grupo THE RED BULLETIN

como mecânico. Em 1991, a Kamaz ­chegou pela primeira vez em Dakar: ­todos os cinco caminhões finalizaram a corrida, em segundo e terceiro lugar e superaram todas as expectativas. Pouco tempo depois da desintegração da União Soviética, a antiga empresa estatal Kamaz tornou-se uma sociedade anônima. omente em 1996 conquistaram a primeira vitória. No mesmo ano em que Vladimir Chagin estreou na ­cabine. Em 2000 ele conquistou sua primeira vitória geral, na rota Paris-DakarCairo. Mas essa também foi especial por outras razões: “Na República do Níger, havia terroristas, e a competição teve de ser interrompida. Em seguida, toda a comitiva voou com aviões de carga Antonov para a Líbia: 15 caminhões na barriga, carros no topo, motos no meio, e no andar superior viajaram os pilotos. Foi impressionante como essas aves gigantes ainda conseguiam voar”. Sem a ajuda da Kamaz, o Rally não teria terminado. 77


Durante 49 semanas do ano, os pilotos n찾o se distinguem dos demais mec창nicos. Aqui o vencedor do ano a n t e r i o r, E d u a r d N i ko l a e v (d e c o sta s), m o n t a u m motor com dois colegas


DENIS KLERO/RED BULL CONTENT POOL

A corrida na Rússia é uma preparação para o Dakar. “Enquanto a mon­tadora quiser, participaremos da competição”, diz ­Chagin, o chefe de equipe

Assim como Vladimir Chagin, os pilotos de hoje, como Eduard Nikolaev, têm que trabalhar duro para conquistar uma posição na cabine: “Em primeiro lugar, somos mecânicos; e, em segundo, pilotos. E somos pagos como mecânicos”. É claro que as vitórias são recompensadas com um bônus, mas a rotina é dura. As estrelas do Dakar montam seus caminhões, fazem os consertos e as melhorias e à noite acabam com as unhas sujas de graxa. O mecânico com um talento especial tem a chance de provar-se em uma corrida local como o terceiro homem – um mecânico na cabine. Nikolaev ficou ao lado de Vladimir Chagin e Ilgizar Mardeev antes de passar para trás do volante. O que faz o mecânico durante uma corrida? “Nós monitoramos os instrumentos, THE RED BULLETIN

“Houve casos em que o piloto quis chutar o copiloto d a c a b i n e d u r a n t e a c o r r i d a ”, diz Slava. “Mas não com a gente: apagamos o que acontece na estrada” temos que saber todos os valores e os dados desejados e somos responsáveis pela pressão correta de ar nos pneus: macio na areia e duro nas estradas de cascalho e asfalto.” Durante a corrida, os ajustes são feitos por um sistema de ar integrado. De acordo com Nikolaev, “um bom mecânico poupa o piloto de um monte de trabalho”. A seleção, para participar do Dakar, é difícil e existem muitas oportunidades para que os jovens promissores façam algo errado, como vomitar na cabine. Eduard Nikolaev diz: “Quem passar mal fica em casa. Somente os caras fortes ­participam do Dakar”. O estômago russo não abre mão da culinária local, como um bom peixe seco. Até mesmo um re­ frigerador com cerveja local já foi visto. ­Slava Misyukaev, que já participou como navegador de cinco largadas do Dakar, diz que “apenas as estradas das montanhas são ruins e que é melhor maneirar na comida no dia anterior”. É inevitável que haja atritos quando três homens passam duas semanas em condições extremas em 4 metros quadrados. “Já aconteceu de o piloto mandar descer os companheiros durante a corrida”, ri Slava. “Mas isso ainda não aconteceu com a gente. Temos uma regra: no acampamento esquecemos o que houve durante a corrida.” Há pouca coisa que exige tanto de um homem como o Dakar – mentalmente e f­ isicamente. Vladimir Chagin se lembra de Marrocos 2007. “Eu queria ultrapassar um carro na poeira a 130 km/h e não vi uma pedra. Capotei quatro vezes, a cabine foi arrancada do chassi, eu não conseguia mais me mover, e tivemos que ser libertados à força. Tivemos sorte: apesar de algumas contusões, uma leve lesão na mão e outra na vértebra, nada aconteceu. Depois, o mecânico e eu ganhamos mais duas ­vezes o Dakar, e o navegador três vezes.” Os caras na cabine são duros como aço – assim como os caminhões. Após expe­ riências iniciais, utilizando materiais de ­série, a Kamaz já se destaca faz tempo. Hoje, um caminhão da Kamaz-Master é

composto pelas melhores peças que existem no mundo. Ilgizar Mardeev, um piloto de sucesso do Dakar e agora gerente de produção, diz: “As cabines são fabricadas na planta principal da Kamaz e aqui fazemos as modificações. O chassi é produzido em colaboração com a Reiger, uma fabricante alemã, e a transmissão é da ZF. Os eixos da marca Sisu são fabricados na ­Finlândia. No momento, estamos testando um motor da Liebherr”. A concorrência faz a mesma coisa. “A Hino é uma empresa japonesa, mas seu caminhão de corrida vem da França. A Iveco é italiana, mas seus caminhões são holandeses.” Os testes de motor são realizados no fundo do porão da Kamaz-Master. O novo regulamento limita a capacidade do motor para 16,5 litros, além de exigir uma baixa emissão de poluentes. Não haverá mais nuvens negras como aquelas produzidas pelos antigos motores de 18,5 litros. É um osso duro de roer para os técnicos, ­especialmente porque precisam tentar manter os mil cavalos. Ainda mais impressionante é o torque que serve para andar na areia fofa: com 4.500 Nm, um KamazMaster tem 18 vezes mais torque do que um VW Golf TDI com 110 cavalos de ­potência. O tanque tem mil litros, e o ­consumo por hora chega a 150 litros. ara lidar com tanta potência, melhorias precisam ser feitas do sistema de refri­ geração à cabeça do ­cilindro, nos mancais das bielas e válvulas. É o que acontece o dia inteiro na planta da Kamaz-Master. A montagem dos ­caminhões é só um passo. “Se alguém me trancar sozinho na oficina, monto um caminhão de corrida dentro de uma semana”, sorri Andrey Karginov. Ele ficou em terceiro lugar no Dakar 2013; o pior ranking da Kamaz. A tripla vitória histórica deixa aflorar as emoções dos habitualmente frios tártaros. O vencedor Eduard Nikolaev derramou lágrimas ao cruzar a linha de chegada. E a equipe e os fãs, que vieram do outro lado do mundo, comemoraram sem parar. Houve uma recepção oficial em Moscou, o hall de entrada do aeroporto de ­Nizhnekamsk estava completamente ­lotado para recepcionar os vencedores. Na manhã do dia seguinte, todos estavam novamente trabalhando na oficina. 79


A energiA de red Bull em trĂŞs novos sABores.

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Aonde ir e o que fazer

AÇ ÃO !

Um fone portátil com bloqueador de som externo, página 87

V I AG EM / EQ U I PA M ENTO / TR EI N O / M Ú S I CA / FESTAS / C I DA D ES / BA L A DAS Sabe onde fica o Quirguistão?

GETTY IMAGES

Neve virgem

HELICÓPTEROS RUSSOS, MILHARES DE KM DE NEVE INTOCADA E NEM SINAL DE TURISTAS POR PERTO. BEM-VINDO AO QUIRGUISTÃO MALAS PRONTAS, página 84

THE RED BULLETIN

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AÇÃO!

FORA DE ÁREA

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Bem na foto Captar movimentos rápidos em alta definição (full HD) com capacidade de até 60 quadros por segundo não é problema

Peso leve A câmera mede 24,4 x 47 x 82 mm, pesa 90 g e é à prova d’água

Ponto de vista A lente Carl Zeiss Vario-Tessar tem 15,3 mm de dis­ tância focal fixa e um ângulo de visão de 170º (com esta­ bilizador de 120°)

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Markus Pekoll, 26, tem todos os seus treinos gravados na parte de cima do capacete

A RMA SECRETA  A CÂMERA QUE NÃO DEIXA O MOUNTAIN BIKER PERDER A LINHA

“Minha Sony Action Cam HDR-AS30V me ajuda muito nos treinos”, conta Markus Pekoll, austríaco natural de Schladming, atual campeão europeu de mountain bike downhill. “Gravo todos os treinos. O objetivo é ­depois colocar o cartão de memória no celular. Assim eu posso analisar as diferentes linhas percorridas e calcular os tempos.” Markus está especialmente satisfeito com a função steadyshot: “A imagem fica muito nítida e dá para se concentrar bem nas linhas. É muito ruim ver o fundo quando a gente só enxerga borrado pela v­ iseira do capacete, que fica sacudindo”. Nas competições, as câmeras UCI não são permitidas. “É uma pena, porque a intensidade do percurso, da velocidade e dos observadores seria incomparável.” www.sony.com

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YETI COOLER TUNDRA 65 Praticamente indestrutível e à prova de ursos, este congelador é à base de gelo seco e mantém as coisas geladas por até sete dias. www.yeticoolers.com

THE RED BULLETIN

KURT KEINRATH

Num piscar de olhos

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AÇÃO!

HORA DO LANCHE EM MUMBAI

BALADA

OPÇÕES ESTIMULANTES À INDIANA

Sapos em ritmo de festa

LAIF (3), PHILIPP HORAK, PICTUREDESK.COM (3)

FLORIAN OBKIRCHER

MUMBAI ESTÚDIO, AGÊNCIA, CASA DE SHOWS: O BLUEFROG É O LUGAR NÚMERO 1 DAS BANDAS O que fazer quando suas bandas preferidas não vêm para sua cidade? Tome você mesmo a iniciativa! Foi isso que cinco artistas de Mumbai, Índia, fizeram: há cinco anos eles fundaram a própria casa de shows em um prédio abandonado onde um dia funcionou uma fábrica. O objetivo: incentivar a cena das bandas locais e trazer seus maiores ídolos para Mumbai. Hoje o Bluefrog conta também com um restaurante, um estúdio de gravação para jovens talentos, uma agência de artistas e uma casa de shows com seis apresentações por semana. As atrações vão do guitarrista de jazz John McLaughlin ao lendário DJ Sasha. Como se pode perceber, a iniciativa não foca no gênero, mas sim no amor à música. Durante os shows, não são servidos coquetéis por ­causa do barulho do liquidificador. BLUEFROG Mathuradas Mill Compound, Senapati Bapat Marg, Lower Parel, Mumbai 400013, Índia www.bluefrog.co.in

THE RED BULLETIN

Dois mundos, uma casa de show: atrás é servido o jantar, na frente é festa

BHANG LASSI O bhang é feito de folhas secas de maconha e seu comércio é permitido na Índia. Misturado com iogurte, o resultado é uma bebida verde e amarga, que há muito ­tempo os surfistas usam para entrar em transe.

O Bluefrog recebe mais de 800 frequentadores por noite

AQ U I TEM ASSOMBRAÇÃO! NESTES TRÊS PRÉDIOS DE MUMBAI MORAM ESPÍRITOS – CERTEZA

ESCOLA PARA MENINAS Lá pela 1h30 da madru­ gada dizem que se escuta um professor batendo em suas alunas. As aulas começam com lições de matemática, seguidas por gritos de criancinhas. RAJ KIRAN HOTEL Cola azul nos travesseiros, lençóis que voam. Isso é o que acontece nas noites deste hotel próximo a Mumbai. Oficialmente comprovado. MUKESH MILLS Diretores se recusam a ­filmar no prédio desta fábrica abandonada durante a noite. Em 2009, um espírito se apossou do corpo de uma atriz: com uma voz estranha, ela ordenou que a equipe saísse do prédio.

CHHAANG A cerveja de arroz é quente e a tradução de seu nome significa: néctar dos deuses. É ­conhecida como o melhor remédio contra o frio. Lenda: o abominável homem das neves tomava uma para cruzar o Himalaia.

CHAPRA A receita leva ­pimenta, sal, ­gen­gibre, formigas vermelhas e seus ovos. O gosto: ­doce e muito picante. Na província de Chhattisgarh, o alimento mais ­rico em proteínas é o chetnim.

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AÇÃO!

MALAS PRONTAS

NÃO FIQUE DE BOBEIRA DEPOIS DO HELICÓPTERO

ÁGUA QUENTE Acelere o jet ski no segundo maior lago de montanha, o Issyk-Kul. O anti­ go local de testes de torpedos russo nunca está conge­ lado devido a suas fontes termais. issykkul.kg/en

Neve intocada

Ninguém por perto: um voo de helicóp­ tero na neve virgem

HELI-SKI  QUEM GOSTA DE INVERNO E ESTÁ PRONTO PARA SUPERAR OS LIMITES DEVE IR DE HELICÓPTERO ÀS MONTANHAS INEXPLORADAS DO QUIRGUISTÃO

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ianbek.kg/?p=7393

FIQUE ATENTO TENHA UM GUIA “É fundamental ter um guia”, diz Nick Armstrong. “­ Sergei Dubovi, da Fantastic Asia, resolveu tudo para a gente. Nós não saberíamos nem por onde começar se estivéssemos por nossa conta.”

De confiança

“Como você está transferindo dinheiro para um estranho num país que você nunca visitou, esteja certo de que é uma empresa honesta”, diz Armstrong, que viajou com a Fantastic Asia. Ou tente a austríaca Fit and Fun, que oferece pacotes bem semelhantes. www.fitundfun-outdoor.com

MACARRÃO Prove o forte prato de espaguete do Afeganistão e de Dungan chamado Laghman, que foi oficialmente adotado pelo Quirguistão em um dos tradicionais restaurantes de Bishek. thespektator.co.uk

THE RED BULLETIN

GETTY IMAGES, FITUNDFUN-OUTDOOR.COM, SHUTTERSTOCK (2)

O Quirguistão é conhecido como a Suíça da Ásia, graças às montanhas que cobrem 95% do país. ­Diferente do seu sofisticado equivalente europeu, os resorts de esqui são ainda pequenos. É aí que entra a frota de helicópteros Mi-8. Essas feras de fabricação russa são capazes de diminuir distâncias na imensidão de neve para os aventureiros que pisam nesse território inóspito. “Ouvi falar que havia essas imensas montanhas nas quais ninguém nunca pisou, ­então eu e alguns amigos fomos conferir”, diz Nick Armstrong, de Sydney, Austrália. “Foi incrível. Eu ­esquio no Japão há cinco anos e isso foi totalmente novo. Todo mundo foi muito receptivo, especialmente os snowboarders. Foi uma verdadeira aventura. Nós ficamos em um acampamento-base em um refúgio no sul, em Suusamyr, a cerca de 3 mil metros, e subimos até 4,5 mil. Toda a área em torno do lugar era praticamente inexplorada e estava coberta por uma neve fina. Como é um terreno sem patrulhamento, ­tivemos que ser cuidadosos, mas A partir de os guias sabiam o que estavam US$ 499 (cerca ­fazendo. Eles tinham o que havia de R$ 1 100) por de mais avançado em equipamento um dia de helicóp­ de segurança. O passeio foi sensatero em Suusamyr cional. Aqui é muito fácil descobrir ou Karakol com novos picos em que ninguém tenha a Fantastic Asia heli-ski.kg esquiado antes.”

NA CAPITAL Vá até o maior centro esportivo da capital, Bishkek, o Sports Palace, para jogar bas­ quete, mergulhar na piscina olím­ pica ou fazer uma sauna.


AÇÃO!

EM FORMA

Soltem os parafusos!  SNOWBOARD A ESTRELA CANADENESE DO SLOPESTYLE MARK MCMORRIS PRATICA SEUS GIROS EM ALTA VELOCIDADE COM BOLAS E TRAMPOLINS

TIM ZIMMERMAN/RED BULL CONTENT POOL, SEBASTIAN MARKO/RED BULL CONTENT POOL, SHUTTERSTOCK

HERI IRAWAN

Mark McMorris, 19, pioneiro em manobras de snowboard e vencedor dos X-Games, é de Regina, no Canadá

“Dentro de todo homem existe um campeão”, diz Mark McMorris, 19 anos. “É preciso d ­ escobrir onde está o seu campeão.” O canadense descobriu: em 2012, na Big Air, em Aspen, ele aterrissou o primeiro backside triple cork 1440 da história dos X-Games de inverno – um salto mortal triplo com parafuso triplo. Um dia depois, ganhou a medalha de ouro em slopestyle e em março de 2013 ficou com a de prata na mesma categoria. A preparação para a temporada de neve (dezembro a maio) toma todo seu tempo até agosto. Ele treina em Encinitas, Califórnia. Entre muitas modalidades e equipamentos esportivos nos treinos semanais, o surf é importante todo dia. O motivo? “Todos os esportes com prancha ajudam um snowboarder.” www.markmcmorris.com

TREINO SECO NÃO TEM NEVE? SEM PROBLEMAS!

Em 2012, McMorris fez história ao aterrissar o primeiro backside triple cork 1440 da história do snowboard

TR EI N O-R ELÂM PAGO “É essencial para o salto: rapidez, balanço, coordenação e estabilidade”, diz McMorris. “E a melhor parte é que com apenas uma bola e dois exercícios você pode treinar tudo isso”

1

Segure a bola com as duas mãos na frente do peito, com as pernas na largura dos ombros.

Ajoelhe-se bem, depois estique as pernas num movimento rápido, pule e lance a bola para o alto.

Depois segure a bola com os braços estendidos. Pratique de 10 a 15 vezes.

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TRUQUES NA CAMA ELÁSTICA

“Quando era criança, tive poucas oportunidades de treinar grandes saltos e manobras. A ­cama elástica é uma alternativa para melhorar nossa percepção do vento. Eu uso até hoje!”

Com estes passos você treina os músculos das coxas e dos glúteos.

THE RED BULLETIN

Importante: mantenha o tronco ereto durante todo o exercício.

Depois de segurar por 30s, faça 10s de pausa e troque a perna.

Dica: é bom fazer um aquecimento antes de começar os treinos.

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AÇÃO!

MINHA CIDADE Be ll St re et

I M PU LSO EXTRA

MELBOURNE brunswick east

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Amy Findlay, 23, líder da banda de rock australiana Stonefield

Melbourne é puro rock! MELBOURNE  FEIRAS NOTURNAS, HOTÉIS COM TEMÁTICA ROCK’N’ROLL E UMA RUA CHAMADA AC/DC. UM ROLÊ PELA CIDADE COM A ROCKSTAR AMY FINDLAY Darraweit Guim parece o nome de um comandante alienígena de Star Trek, mas na verdade é uma cidadezinha que fica a 50 km de Melbourne – e o lugar onde a carreira musical das irmãs Findlay começou. “Na infância, a gente escutava Hendrix, Zappa e Led ­Zeppelin. Daí, quando crescemos, começamos nós mesmas a tocar, num galpão que ficava nos fundos da casa dos nossos pais”, conta Amy, a mais velha de quatro irmãs. Em 2010, durante uma apresentação em Perth, elas conheceram um produtor de Glastonbury. No ano seguinte, já estavam agitando um público de 150 mil pessoas num festival inglês. O tão sonhado e esperado álbum de estreia, Wunderkind, chegou às lojas em outubro. “No tempo livre, a gente gosta de dar umas voltinhas em Melbourne”, diz Amy. “A música está em toda parte por aqui. Todo dia dá para escolher entre muitos shows e lugares.”

VOE COM UM AVIÃO DE CAÇA

To o ra k R oad

Albert Park

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TOP 5 NOSSAS DICAS DE MELBOURNE

malvern east

Olhe Melbourne de cima a 910 km por hora, como copiloto de um avião de caça. Manobras de combate, loopings e mergulhos estão incluídos. adrenalin.com.au

3 TWILIGHT MARKET

O’Donnell Gardens, St. Kilda A feira acorda nas noites de quinta. Engolidores de fogo, músicos, pintores e barracas vendendo ­comida estão por todos os cantos. É pura diversão.

MERGULHE COM OS TUBARÕES No Aquário de Melbourne, você fica cara a cara com os predadores do mar. Não são oferecidas gaiolas de proteção.

1 CHERRY BAR AC/DC Lane

Até Noel Gallagher quis comprar esse bar da AC/DC Lane (nome da rua desde 2004!). Ele é o point do rock na cidade, onde a maioria das bandas faz o after quando acabam os ­shows. Q ­ uinta é noite de soul e o fim de semana é só rock.

A ADRENALINA TÁ BAIXA? A GENTE AJUDA A LEVANTAR

Kew Golf Club

south melbourne

st . kilda

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myspace.com/stonefieldtheband

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MELBOURNE, VICTORIA, AUSTRÁLIA

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4 LAS CHICAS

203 Carlisle St., Balaclava

melbourneaquarium. com.au

É o melhor café da manhã. Apesar de estar sempre cheio, não se precisa esperar muito para conseguir mesa. Peça o pão de banana, a panqueca de leitelho ou os burritos de salmão.

PRATIQUE RAPEL 2 FOSSIL VINTAGE

57 Sparks Avenue, Fairfield

Loja de antiguidades muito ­louca: vende equipamentos ­industriais. Para quem procura leitos de hospital ou luminárias de fábricas da Checoslováquia, este também é o lugar. Eu fico com os uniformes antigos.

5 THE TOTE HOTEL

71 Johnston St., Collingwood

Hotel, pub e casa de espetáculos, ele é o ponto de encontro das bandas novas. White Stripes ­tocou ali antes da fama. O hotel também tem suas lendas: ­dizem que o espírito do gangster Squizzy Taylor vive por lá.

Praticar rapel s­ ignifica escalar arranha-céus ao contrário: de cima para baixo. Protegido por um cinto de segurança, você desce encarando o abismo. redballoon.com.au

THE RED BULLETIN

JUSTIN VAGUE (4), KANE HIBBERD/RED BULL CONTENT POOL, SHUTTERSTOCK

Por t Ph i l l i p B ay


AÇÃO!

MÚSICA

MIX DO ANO OS MELHORES SETS DE 2013

Egbert Nathaniel Dawkins III, ou Aloe Blacc

Pra cima! PLAYLIST O NEGÓCIO DE ALOE BLACC É A VIBRAÇÃO POSITIVA CONTAGIANTE. DÁ PARA SER FELIZ SÓ POR UM INSTANTE?

1 Stevie Wonder

BRIAN DOWLING/RETNA LTD., CHRISTELLE DE CASTRO/RED BULL CONTENT POOL, ROBERT SNOW/RED BULL CONTENT POOL, VALERIE CHERCHI FLORIAN OBKIRCHER

You Are the Sunshine of My Life

Este ano tem sido bom para Aloe Blacc. Seu hit “Wake Me Up” vendeu 3 milhões de cópias e chegou ao topo das paradas em 22 países. Depois dessa ­excursão no mundo da dance pop, um novo álbum, Lift Your Spirit, marca o retorno do californiano ao que está mais próximo do seu ­coração: a soul music, aquela ­mesma de Al Green e Marvin Gaye. Aos 34 anos, ele se vê como um ­mediador: da mesma forma que descobriu seus heróis ouvindo hip hop quando era mais jovem, espera que os jovens de hoje descubram os clássicos através de sua música. A seguir, Blacc revela cinco de suas descobertas. www.aloeblacc.com

Headless Heroes of the Apocalypse

“Eu conheço McDaniels desde jovem, mas não sabia disso. É que os rappers como A Tribe Called Quest samplearam sua música. Eu descobri este disco dois anos atrás; um amigo me deu enquanto eu estava procurando inspiração. Me apaixonei pelo soul-jazz psicodélico, que usei como ponto de partida para meu novo álbum.”

4 Cat Stevens

5 D.J. Rogers

“Descobri esta música na TV quando era criança. Cat Stevens estava muito sério no vídeo. A sua interpretação, acima de tudo a letra, instantaneamente me marcou. Até hoje não consigo pensar em uma música mais bonita sobre a relação entre pais e filhos. Escrevi minha própria música, ‘Mama Hold My Hand’, como ­tributo a esta obra-prima.”

“Escutei esta música saindo do quarto do meu roommate e fiquei tão animado que a transferi do vinil para o MP3. Dificilmente alguém conhece Rogers, infelizmente. Nesta pérola do soul ele fala ­sobre problemas sociais e no final ele se dá conta de que, mesmo com tudo, é bom estar vivo: uma frase que hoje é o lema da minha vida.”

Big Yellow Taxi

“Minha maior heroína. A forma como Joni reúne sensibilidade e consciência política em suas músicas é fantástica. Especialmente nesta, ela aborda as questões da cultura consumista e da urbanização – assuntos que tratei no meu último disco [Good Things] – porque a música pop boa de verdade também tem ­consciência social.”

JAMIE XX JUNHO, BERLIM Deuses do indiepop, o XX estrelou seu próprio fes­ tival em junho; o ponto alto foi o líder da banda atrás das picapes. Estilos: house, post-dubstep

It’s Good to Be Alive

COOLY G

S I LÊN C I O D E O U R O ESCUTE SEU SANGUE PULSAR

BOSE QUIETCOMFORT 20 O plugue de ouvido perfeito para viajar. Um minimicrofone embutido capta o ­barulho externo – do trânsito, de obras, dos ­zunidos urbanos – e usa um bloqueador de barulho para acabar com ele. O som externo desaparece e deixa só a música. www.bose.com

THE RED BULLETIN

MAIO, NYC Pioneiro da música eletrônica de 73 anos (“I Feel Love”) e colaborador do Daft Punk estreou como DJ. Estilos: disco, electro

2 Eugene McDaniels 3 Joni Mitchell

“Quando eu era criança, sua música sempre estava tocando em casa. Ele é ao mesmo tempo virtuoso e popular. Stevie Wonder também me ensinou que tudo bem escrever músicas felizes. Esse hit é uma onda de positividade. Peguei minha missão artística dele: faça uma pessoa feliz com sua música e ela passará essa felicidade adiante.”

Father and Son

GIORGIO MORODER

SETEMBRO, LAUSANNE Ela mistura todas as sonoridades dos gêneros musicais do funk, mas o denomi­ nador comum é o baixo pesado. Estilos: deep house, grime Ouça agora: www.rbmaradio.com

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AÇÃO!

NA AGENDA

5-20/1, Rio de Janeiro

Ensaios técnicos Vá de graça e assista às escolas do Rio esquentando os tamborins em plena Sapucaí. A partir de 5 de janeiro os ensaios começam. Por noite tocam de duas a três escolas. Consulte o calendário no site para saber qual você quer ver e aproveite o começo do ano para cair no samba. http://bit.ly/HyeORa

4/1, Guarujá

Verão Jequitimar

6-12/1, BA, RJ, SP

David Guetta O DJ francês ultrabadalado ­chega ao Brasil para fazer quatro apresentações. A primeira dia 6, em Salvador; dia 10, no Rio; dia 11, em São Paulo; e dia 12, em Ribeirão Preto. davidguetta.com

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Anitta será a estrela maior do festival de verão que toma conta do litoral paulista. Ela abre os trabalhos no dia 4, e nos dias seguintes, Leonardo, Jota Quest e SPC dominam os palcos. O Verão Jequitimar atrai multidões que querem apro­veitar o verão do melhor ­jeito possível, comemorando, dançando e curtindo com os amigos. Seja bem-vindo, 2014! ingressorapido.com.br/jequitimar

17 e 18/1, Atlântida

Planeta Atlântida Maior festival do Sul do país, o Planeta Atlântida é realizado desde 1996 na Praia de Atlântida, em Xangri-lá (litoral gaúcho), e a partir de 1998, também em Florianópolis. O festival costuma ser um dos pontos mais quentes do verão brasileiro, com bandas nacionais de primeira linha e muita praia e gente bonita. planetaatlantida.com.br

THE RED BULLETIN

GETTY IMAGES (2), ROBERT ASTLEY SPARKE, HUGO SILVA/RED BULL CONTENT POOL, CORBIS, HANDOUT, JARDIEL CARVALHO, JULIAN MARQUES

Está dada a largada para a temporada de ensaios


16-19/1, São Paulo

13/12, Imbituba

Planet e Cone

Surf na veia

O pré-lançamento do DVD A Raiva e o Ritmo, do Planet Hemp, contará com a presença da banda Cone Crew Diretoria. Esteja certo de que a Estância Alto da Serra vai pegar fogo. O lugar é amplo e muito conhecido por abrigar grandes shows de diversas linhas, do rock ao reggae, do sertanejo ao pop. estanciaaltodaserra.com.br

O Oakley Pro fecha o Catarinense 2013 na Praia da Vila, no município de Imbituba. É a terceira e última etapa do Circuito Catarinense de Surf, um dos prin­cipais celeiros de novos atletas no Brasil. O prêmio para o vencedor é de R$ 30 mil, valendo 1 500 pontos para o ranking brasileiro da Abrasp. Ficar na areia de olho nos prós voando em uma das ondas mais potentes do Brasil é de graça. abrasp.com.br

14/12, São Paulo

Skate e música SP vai ferver com a passagem do Circuito Banco do Brasil pela cidade. A disputa trará skatistas de ponta para a última etapa da Copa Brasil de Skate Vertical, exposições de arte, atividades ligadas à sustentabilidade e shows de nomes como Stevie Wonder, Jason Mraz, Criolo e Paralamas do Sucesso. Tudo junto e misturado no Campo de Marte. circuitobancodobrasil.com.br

ACELERE NO FIM DO ANO TEM MÚSICA PARA TODOS OS GOSTOS

20 SEXTA-FEIRA

ROCK O Matanza Fest acontece sob a tutela dos roqueiros da banda de mesmo nome, liderada pelo ruivo Chuck. Nesta ­edição, Mukeka di Rato, Serial Killer e Plastic Fire irão se apresentar no Circo Voador, no coração do Rio. circovoador. com.br

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QUINTA-FEIRA

3/1, Trancoso

De óculos Trancoso é só agito durante o verão. E uma das festas que prometem levar esse nível de badalação ao extremo é a Sunglasses Party. Lindas mulheres, todo mundo de óculos escuros e o mar logo ali, em uma das paisagens mais bonitas do Brasil. DJs com o setlist fresquinho, e os melhores hits do house, techno, electro e rock dão o tom da balada que começa de dia e invade a noite sem hora para terminar. Corra para garantir o seu convite! www.facebook.com/agenciamulticase

ELETRÔNICO Uma das festas raves mais co­ nhecidas do país realizará sua edição 2013/14 na Praia de Pratigi, na Bahia. A festa reúne os devotos da música eletrônica e do mundo dos psicodélicos. universoparalello. org

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MPB 31/12, em São Paulo

Corrida Internacional de São Silvestre Para fechar o ano com passos firmes, a tradicional competição de pedestres reunirá cerca de 25 mil atletas de todo o mundo para correr 15 km com largada na Avenida Paulista. A habilidade dos dez primeiros colocados será recompensada com um prêmio de R$ 230 mil, distribuído entre as categorias feminina e masculina. www.saosilvestre.com.br

THE RED BULLETIN

Moraes Moreira e seu filho Davi prometem incendiar o bairro da Lapa, no Rio. Ambos ­dividirão o palco para interpretar as músicas da obra clássica dos Novos Baianos, o disco Acabou Chorare, de 1972. circovoador. com.br

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TÚNEL DO TEMPO

Calças ao vento

GETTY IMAGES

Desde os anos 1920, os homens não se contentam em usar os meios de transporte aéreo apenas para ­carregar materiais de um lugar para outro. Nossa foto mostra um senhor chamado “Mars”, trocando de roupa numa performance em cima de um antigo monomotor.

A PRÓXIMA EDIÇÃO DO RED BULLETIN SAI DIA 15 DE JANEIRO DE 2014 90

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