The Red Bulletin Janeiro de 2015 - BR

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BRASIL

ALÉM DO COMUM

KILIAN JORNET

O cara mais insano das montanhas

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ÁFRICA VIRGEM

MANEIRAS

Quilômetros de praias com ondas intocadas

de mudar o mundo e a si mesmo

JANEIRO DE 2015

MADS MIKKELSEN

CANIBAL

O ator europeu de maior sucesso na atualidade fala de vida, morte e da nova temporada da série Hannibal




A energiA de red Bull em trĂŞs novos sABores.

crAnBerry

lime

BlueBerry

www.redBull.com.Br


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JANEIRO DE 2015

ESTILO AFRICANO

O fotógrafo da África do Sul Alan van Gysen abre seu portfólio espetacular

KENNETH WILLARDT/CORBIS OUTLINE (COVER), ALAN VAN GYSEN, MATT GEORGES

BEM-VINDO Algum dia você imaginou que subir montanhas gigantes – as mais altas do mundo – em alta velo­cidade e descê-las também deste modo ­seria algo possível? Pois um esportista colocou esse desafio diante de toda a comunidade ­montanhista: Kilian Jornet pode ser chamado de maluco, mas ninguém pode negar que o que ele faz está quebrando os limites dos esportes de alta resistência. O Red Bulletin foi bater um papo franco com o catalão (pág. 24) – mas não paramos por aí. Viajamos ao México para contar como foi a etapa final do Red Bull Cliff Diving World Series (pág. 40) e também bis­bilhotamos os arquivos do fotógrafo Alan van Gysen, que tem registros alucinantes de algumas das melhores – e menos frequentadas – ondas da África (pág. 50). Vamos nessa? THE RED BULLETIN

“Existem várias maneiras de encarar uma montanha.” KILIAN JORNET, PÁG. 24

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O MUNDO DE RED BULL

NESTE MÊS GALERIA 10 GALERIA  As melhores fotos do mês

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BULLEVARD 16 MUDANÇAS  Como mudar o mundo e nós mesmos

24 Kilian Jornet

O astro da série Hannibal fala da fama e de sua paixão por bicicletas

Loucura? Novos limites? Show de resistência? Conheça Kilian Jornet

34 Mads Mikkelsen

Entrevistamos o maior ator europeu da atualidade

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40 Red Bull Cliff Diving

Fomos ao México registrar a última etapa do campeonato

46 Banda do Mar

A nova banda de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães

74 30 HORAS DE FESTA

Música eletrônica sem fim, gente animada e mulheres interessantes: tudo numa única balada em Londres

48 Stéphane Peterhansel Um mestre do Rally

MALAS PRONTAS

Tiveram uma ideia muito boa: colocar uma pipa de paraglider junto com o snowboard

40 48 A PRÓXIMA GERAÇÃO

Quem será o próximo rei do Red Bull Cliff Diving World Series? Orlando Duque, atual detentor do posto, tem sua opinião 6

STÉPHANE PETERHANSEL

Hexacampeão com as motos e penta com os carros no Rally Dakar: Stéphane Peterhansel, 49 anos, é um mestre

50 Alan van Gysen

O portfólio de um dos maiores fotógrafos de surf

AÇÃO! 64 65 66 67 68 70 71 72 73 74 80 84

MALAS PRONTAS  Snowboard no ar MINHA CIDADE  Gdansk, na Polônia EM FORMA  Força no basquete WFL  Corrida noturna RELÓGIOS Oris BALADA Casa92 MÚSICA  Ariel Pink GAMES  Universe Sandbox 2 ENTRETENIMENTO  Luz, câmera, ação VIDA NOTURNA Fabric NA AGENDA  Dicas de janeiro MOMENTO MÁGICO  Montanha lilás

THE RED BULLETIN

KENNETH WILLARDT/CORBIS OUTLINE, ALEX DE MORA, GETTY IMAGES, SAMO VIDIC /RED BULL CLIFF DIVING, FLAVIEN DUHAMEL/RED BULL CONTENT POOL

DESTAQUES

MADS MIKKELSEN



NOSSO TIME QUEM FEZ A EDIÇÃO DESTE MÊS

“A modéstia e a veia compe­ titiva aliadas aos seus feitos extraordinários fazem dele um cara único.” Norman Howell sobre o montanhista Kilian Jornet (pág. 24)

NORMAN HOWELL

ALAN VAN GYSEN

WERNER JESSNER

O jornalista apaixonado por esportes de montanha já entrevistou diversos atletas. Mas nenhum foi tão natural e carismático quanto o cata­ lão Kilian Jornet, atleta de endurance que corre e esquia nas maiores montanhas do mundo. “Quando o fotógrafo pediu que ele corresse até uma encosta íngreme entre mato, raízes e buracos, ele o fez com tranquilidade, sem esforço, como se deslizasse sobre o chão”, diz Howell. “Ele tem uma relação ­espi­ritual com a natureza.” Conheça Jornet na página 24.

No começo, na escola de salvavidas júnior, ele tinha medo das ondas. Mas não demorou para o fotógrafo ­sul-africano Alan van Gysen superar seus medos e começar a captar a arte do mundo do surf ao seu redor. Nos últimos 15 anos ele viajou pelos litorais da África e do Oceano Atlântico, atrás do desconhecido e com a esperança de encontrar dias perfeitos e ondas perfeitas. “Uma coisa é fazer esses registros direto no lugar. E é bom demais juntar tudo e reviver as experiências.” Confira a partir da página 50.

Os caminhos de Werner ­Jessner e do campeão do Dakar Stéphane Peterhansel se cruzaram várias vezes nos últimos 20 anos. Numa delas, Jessner foi a um pas­ seio exclusivo na antiga fábrica da Mitsubishi. Peterhansel foi entrevistado enquanto pilotava a 160 km/h. Ao se deparar com um entronca­ mento, não diminuiu a velo­ cidade. Jessner ficou tenso e Peterhansel apenas sorriu e foi com tudo. Dessa vez, a entrevista foi consideravel­ mente mais tranquila. Confira o resultado na página 48.

THE RED BULLETIN PELO MUNDO

O Red Bulletin é publicado em 11 países. Acima, a capa da edição dos EUA

BASTIDORES

Balada sem fim por Alex de Mora O Red Bulletin já o mandou a um chuvoso festival no sul da Inglaterra para fotografar uma aranha-­ robô gigante, o que foi um teste de maratonista para o fotógrafo londrino especializado em música e moda. Mas desta vez Confira a balada de 30 horas na pág. 74 fomos além: “Uma balada aberta por 30 horas é loucura – e fotografar isso é mais louco ainda”, diz De Mora sobre sua maratona na Fabric, em Londres.

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Alex de Mora (à direita) com o repórter Florian Obkircher, do Red Bulletin

THE RED BULLETIN




D E S ERTO D O K AL AHARI , S U L DA ÁFRI C A

FAÍSCA INICIAL “Você, seu carro e o horizonte.” Com este slogan, a Kalahari Desert Speedweek vem atraindo os fãs de carros antigos do mundo inteiro para a savana desde 2012. A promessa: acelerar sem regras de ­trânsito – tanto em máquinas tradicionais como em motos. A caça ao recorde de velocidade começa na parte sul-africana do deserto. Vantagem do local: o dobro do tamanho da Espanha. Ou seja, espaço para se soltar à vontade. www.speedweeksa.com Foto: Tyrone Bradley

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LO N D RE S , I N G L ATERR A

STREET STYLE A ideia por trás do Red Bull Local Hero Tour é muito ­simples: quatro feras do BMX viajam pela Grã-Bretanha em busca de pistas de skate e de talentos locais. Se não há pistas, é preciso improvisar. Na Westminster Bridge em frente ao Parlamento Britânico, por exemplo. As marcações das ciclovias ganham uma interpretação muito livre, como demonstram os feras [da esq. para a dir.] Anthony Perrin, Simone Barraco, Bruno Hoffmann e Kriss Kyle. www.redbull.com/bike Foto: Rutger Pauw/Red Bull Content Pool

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YU C ATÁN , M É XI CO

ESTUDO SOBRE A QUEDA Uma piscina gigante no meio da selva? Os cenotes, típicos do México, se formam quando tetos de cavernas de rocha calcária desmoronam e os orifícios formados se enchem de água doce. Local perfeito para a final do Red Bull Cliff Diving World Series 2014. Na foto, os saltos de aquecimento dos atletas. Eles saltaram de uma altura de 19 metros. Gary Hunt (ING), que levaria o título mais tarde, é o segundo da esquerda. www.redbullcliffdiving.com Foto: Romina Amato/Red Bull Cliff Diving

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B U L L E VA R D

(*) Disse Mark Twain (que por sinal trocou seu nome)

REVOLUÇÃO!

AGORA É A SUA VEZ!

ODE “ V O C Ê PM U N D O . O M U D A RS I M E S M O . OU A UNDO É O S E G Í C I L .” ( * ) F MAIS DI

O orador controverso agora é escritor: Russell Brand quer estimular o ativismo político Ele já foi ao trabalho vestido de terrorista, foi depen­dente de heroína e contava publicamente suas aventuras sexuais. Hoje ele mudou e ­parece que está iluminado. O multitalento britânico é adepto do veganismo e pratica meditação transcendental. E o próximo em sua lista é o mundo. Em seu ­livro Revolution, o portador da boa nova entre os comediantes apela a uma mudança radical no sistema político. Como? Começando por si mesmo. DICA: Russell Brand, Revolution (Editora Cornerstone, 2014)


BULLEVARD

SUA ESCOLHA

Vira, vira, virou!

VOCÊ PRECISA DE MUDANÇAS? TOME A INICIATIVA !

As perguntas mais importantes na vida têm respostas muito simples. Se você for sincero

Está claro: se quer uma mudança, você tem que fazer algo. Mas o quê?

VOCÊ É INFELIZ?

S

N

N

APAREÇA! Manifestantes contra a Parceria Transatlântica (TTIP) levam seu frango desinfetado com cloro.

VOCÊ GOSTARIA DE SER FELIZ?

S

VOCÊ QUER MUDAR A SUA VIDA?

S

TIRE A ROUPA! Andar de bicicleta em Madri está diferente. Os ciclistas nus pedem mais ciclovias.

MANTENHA TUDO IGUAL

VOCÊ ESTÁ PREPARADO PARA AS DIFICULDADES DE UM NOVO COMEÇO?

N

N

DE VERDADE?

N

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THE RED BULLETIN

Não

ESCREVA NO CORPO! O Femen se mobiliza contra a exploração ­sexual das mulheres. A polícia não tira o olho.

COMO? VEJA NAS PÁGINAS SEGUINTES

N

Surpresa! Andreja Pejić é o nome desta modelo australiana que adora confundir nossos conceitos ­sobre o que é masculino e feminino. Ela nasceu e foi criada como menino, mas na adolescência descobriu seu lado feminino e acabou conquistando as passa­ relas da moda em Paris – tanto em roupas femininas quanto masculinas. Foi eleita uma das 100 mulheres mais sexy do mundo pela revista masculina FHM e hoje, aos 23 anos, vive oficialmente como mulher.

MUDE DE VIDA!

Sim

ESPALHE O CHEIRO! Parlamento de Berlim: o grupo Attac mostrou como cheiram esterco ou riqueza acumulados.

S

DEAN CHALKLEY, GETTY IMAGES, FOTOLIA, REUTERS(4), CORBIS

S

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BULLEVARD

DESCUBRA SEU VERDADEIRO EU E DESENVOLVA TODO SEU POTENCIAL Veja como se transformar, em apenas sete dias, em uma pessoa muito, muito melhor

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SEGUNDA-FEIRA

TERÇA-FEIRA

QUARTA-FEIRA

ENCONTRE O ERRO

PROCURE POR SIGNIFICADO

ABANDONE A ROTINA

Ninguém é perfeito. Nem você, não é mesmo? Se você responder a UMA destas perguntas com SIM, você ainda tem seis dias para aprender a dizer NÃO.

O autoconhecimento é o primeiro passo para a melhora. Questione sua rotina e seja sincero com você mesmo. Completamente sincero.

A vida começa onde a zona de conforto acaba. Então, vá lá fora e faça exatamente o contrário de tudo que tem feito até agora. Sinta o vento da mudança.

1. Se você pudesse mudar algo em você imediatamente, o que seria?

Infiltre-se num grupo de autoajuda para antigos membros de seitas e se apresente como seu novo líder.

VOCÊ… …é tímido demais para conversar com o cara do espelho? …atualiza seu status usando ­copiar e colar? …só se levanta de manhã para poder se deitar novamente à noite? …não consegue tocar os dedos dos pés nem sentado? …acha que uma dieta equilibrada consiste em alternar entre pizza e nuggets de frango? …acha que reiniciar só tem a ver com computador travado?

Então, já está mais do que na hora de arregaçar as mangas e fazer uma melhora nessa sua vida.

A   Meu corpo. B   Meu caráter. C   Minha inteligência.

E você já está realizando mudanças em algum deles?

2. Há alguma coisa que você sempre quis fazer mas nunca fez, apesar de não custar dinheiro? A  Sim.

E o que você está esperando? B  Não. O quê? Você não tem imaginação?

3. Você tem um segredo que

colocaria seu relacionamento em risco caso viesse à tona? A  Sim.

O segredo é que é muito grave ou o seu relacionamento é que é muito fraco? B  Não. Seu/sua parceiro(a) é tão compreensivo(a) assim ou a sua vida é que é regrada?

4. Qual destes destinos você escolheria? A   Famoso, mas infeliz. B   Podre de rico, mas sem

amor. C   Feliz no amor, mas pobre.

Somente com seu estilo próprio você poderá se manter sobre os próprios pés

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Entre numa loja, tire ­todas as suas roupas no provador, coloque-­ as na prateleira ao lado do caixa, pisque para a vendedora: “Sim. É isso mesmo”. E saia completamente nu pela porta.   Diga a seu chefe que você conside­raria seriamente uma r­ edução no s­ alário dele.   Ligue para sua mãe e pergunte se ela sempre come toda a comida do prato.   Pergunte à sua namorada o que ela está pensando. Se não tem uma, pergunte à sua terapeuta.

“Todos pensam somente em mudar a humanidade. Ninguém pensa em mudar a si mesmo.” LIEV TOLSTÓI

E qual deles se parece mais com a sua vida real? C? Sinceramente? Tem ­certeza?

THE RED BULLETIN

FOTOLIA(2), REUTERS, CORBIS

MUDE EM UMA SEMANA


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QUINTA-FEIRA

SEXTA-FEIRA

SÁBADO

DOMINGO

FAÇA CONTATO

MEXA SEU CORPO

ACEITE SEUS VÍCIOS

BEM-VINDO À SUA NOVA VIDA!

Soft skills são dinheiro vivo: só quem consegue inspirar as pessoas pode aumentar seu capital social. Misture-se.

Dedique esse dia a seu corpo. Ande de bicicleta. Ou nade. Faça flexões. Ou corra pelo menos os últimos 10 metros até o ônibus.

Cinco passos para a frente e um salto para trás: adiante-se ao efeito ioiô. Faça as pazes com a preguiça.

E então? Já sente a força do seu novo eu pulsar nas suas veias? Então agora descanse e curta o momento.

Acenda o forno e coloque dentro dele uma pizza recheada de nuggets de frango.   Beba 14 garrafas de vinho como Gérard Depardieu. Se ainda for possível ficar em pé (piscadinha), faça sexo loucamente.   No fim do dia, escreva uma carta a si mesmo. Explique o quanto você já está velho para a vida que levava antes.

Mostre seu verdadeiro eu, e as pessoas se sentirão atraídas por você

QUEBRA-GELO

FOTOLIA(2), REUTERS, GETTY IMAGES, NASA

Uma entrada silenciosa é a sua marca registrada? Não por muito tempo. Objetivo do dia: comece uma conversa com cinco pessoas desconhecidas. DICAS PARA QUEBRAR O GELO   Espalhe fatos interessantes. De preferência sobre o ­tempo. Por exemplo: “Você sabia que 80 por cento das pessoas atingidas por raios são homens?”   Faça elogios a seu inter­ locutor. Por exemplo: “Que peruca chique! Posso experimentar?”   Perguntas interessantes garantem a continuidade do diálogo: “Quando foi a última vez que você pen­ sou sobre como a vida é curta?”

THE RED BULLETIN

RELAXE COM IOGA A pose do escorpião em três passos: 1  Inspire. 2  Expire. 3   Faça a pose do escorpião.

A gente se vê na segunda!

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BULLEVARD

ARTE COM DADOS

MARLON BRANDO usou em Uma Rua Chamada P ­ ecado o que na época era roupa de baixo: uma camiseta branca. Hoje é a coisa mais normal do mundo.

DICAS DE LEITURA Para carreiristas: os clássicos que o guiarão ao poder. Memorize somente uma frase de cada

SUA NOVA, VERDADEIRA SELFIE É possível fazer coisas ­incríveis com os dados que registram movimento: crime ou arte Passos, curtidas, histórico de buscas: tudo o que fazemos pode ser quantificado. A artista Laurie Frick transforma seus dados em arte com um ­aplicativo bem divertido:

SEMPRE TEM UMA PRIMEIRA VEZ

FORAM ELES QUE COMEÇARAM Correr, lavar as mãos, usar camisetas: sim. Estas coisas ­também tiveram que ser inventadas. Graças a três heróis

IGNAZ SEMMELWEIS O médico de Budapeste era ­criticado por pedir que lavassem as mãos antes das operações.

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JERRY MORRIS Provou na década de 1950 que ­correr regularmente é saudável. Não é só cansativo.

ROBERT GREENE: AS 48 LEIS DO PODER “Qualquer erro cometido com ousadia é facil­ mente corrigido com mais ousadia. Todos ­admiram o corajoso. Ninguém louva o tímido.”

O FRICKbits ­registra os luga­ res onde você esteve. Quanto mais você se movimenta, mais colorido fica.

Você pode ­compartilhar sua obra de arte com os amigos. Ou deletá-la. Junto com os dados, esperamos.

KOBAL COLLECTION, GETTY IMAGES, IMAGO

NICOLAU MAQUIAVEL: O PRÍNCIPE “Os homens são tão ­simples e obedecem tanto às necessidades presentes, que quem e­ ngana encontrará s­ empre quem se deixa enganar.”

DALE CARNEGIE: COMO FAZER AMIGOS E INFLUENCIAR PESSOAS “Fale para as pessoas sobre elas mesmas e elas o escutarão por horas.”

THE RED BULLETIN


BULLEVARD

VIRADA NA CARREIRA

DE VOLTA AO COMEÇO

MICHAEL JORDAN interrompeu sua carreira no basquete em 1993 para dedicar-se ao beisebol. ­Durou dois anos.

Não é toda mudança de direção que leva a uma melhora Só ficamos sabendo das ­histórias das pessoas que mudaram radicalmente de vida e se deram bem. Não foi o que aconteceu com estes famosos. Talvez porque eles já tivessem ­encontrado seu verdadeiro talento há muito tempo.

NAOMI CAMPBELL quis lançar carreira como cantora, mas o álbum de estreia foi um fiasco. Quem ouviu sabe por quê.

LUDWIG WITTGENSTEIN sentiu um chamado para ser professor. Depois de cinco anos, ele era novamente filósofo. Lógico.

“A vida não é fácil em lugar nenhum.” LUDWIG WITTGENSTEIN FRANKIE MUNIZ decidiu começar uma carreira de piloto em 2006. E ganhou um prêmio. Dos ­colegas, por ­jogar limpo.

GETTY IMAGES(4)

DIETMAR KAINRATH

KAINRATH – DUAS VEZES DOIS SÃO...

RELAÇÃO

THE RED BULLETIN

EDUCAÇÃO

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BULLEVARD

UPDATE PARA A VIDA

Mais futuro para o presente!

NÃO TEM APP PARA ISSO?

Como mudar nossas vidas, se todas essas coisas ainda não existem? Tá... a questão do amor... O amor existe. O que falta é coragem

TELETRANSPORTE EM VEZ DE VOO Economia de tempo e talvez de energia. Mas o lobby do suco de tomate ainda é muito poderoso.

ESTÁ NA HORA DO JANTAR

Sim, claro! Seis deles vão melhorar muito a sua vida

Estas três iguarias vão mudar você de dentro para fora. Acredite

MAIS BONITO Estas sementes de ­maconha não dão barato, mas são verdadeiras bombas de proteína. Em vez de queimar erva, queime gorduras, ­mantendo a forma.

MAIS FORTE Na Ásia, existem mitos de que o sangue de ­cobra além de melhorar o sistema imunológico também aumenta a virilidade dos homens. Não há provas científicas. Candidatos a cobaias?

SUAR Sete minutos de exercícios por dia são suficientes com o Fitness Coach.

WINGMAN BroApp envia um torpedo à sua namorada caso você se esqueça.

MOTIVAÇÃO Independentemente de seu objetivo: o Beeminder ajuda a não se perder.

NO PONTO Toggl mede o ­tempo de trabalho e percebe quando você enrola.

FESTA SEM FIM Ele encontra sempre o melhor club ou o melhor bar por perto: event0.

DAR SORTE Comece o dia de forma posi­ tiva com o Five ­Minute Journal.

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AMOR LIVRE Viva o poliamor! A charada con­ tinua sendo como ser feliz para sempre s­ omente com um parceiro.

FAZ TUDO Máquina de lavar e computador foram um bom começo. Mas e os robôs do­ mésticos que f­ azem tudo?

O que o ano novo trará?

CORBIS(3), FOTOLIA(3), GETTY IMAGES(3)

CRESCIMENTO Essa seria para viver rindo: den­ tes que não pa­ ram de crescer. Quando sai, se­ nhores nerds da biotecnologia?

DIETMAR KAINRATH

DIÁLOGO DAS LATAS

MAIS INTELIGENTE Escargots são o melhor alimento para o cérebro. Os ácidos graxos ômega-3 melhoram a memória, e o hormônio T3 da tireoide aumenta a atividade cerebral. Apetitosos.

THE RED BULLETIN


BULLEVARD

BOAS INTENÇÕES

Caramba!

FAÇA ISSO NO ANO NOVO

Quem precisa disso?

Parar de fumar, beber menos, malhar mais etc., etc. Sei... Nós temos cinco dicas muito boas para o resto de seus dias

Capacete pensador Neuroestimulação craniana é o nome que os cientistas deram ao que esta máquina faz com você. Simplificando: o Foc.us aumenta a eficiência do ­cérebro estimulando-o com impulsos elétricos. Eletrochocante!

O chato

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VISTA VERMELHO! Psicólogos descobriram que pessoas em fotos com moldura vermelha são consideradas mais atrativas. Azar no amor? Use roupas vermelhas este ano. Pelo menos a cueca.

4 SESSÕES DE RELAX SEXUAL POR SEMANA! Uma pesquisa grega confirmou: pessoas que fazem sexo pelo menos quatro vezes por semana ganham 3% a mais que aquelas que só podem, ou querem, ou conseguem, uma vez por semana.

3 CORBIS(5)

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NÃO ACEITE SER PROMOVIDO! Quem pode fazer mais do que o trabalho exige é promovido. Até alcançar o patamar da sua incompetência. É o que diz o “Princípio de Peter”, e muitos superiores são a prova viva de sua precisão.

PROCRASTINE – MAS COM ESTILO! Você vive deixando as coisas para amanhã? Cientistas descobriram que isso não é necessariamente ruim. Quem protela conscientemente sabe lidar melhor com a pressão. E surfa a adrenalina.

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NÃO CONFIE NA SUA INTUIÇÃO! Ela engana, pois as informações que recebemos do ambiente não são precisas. Por isso, só tome ­decisões com base na lógica. O nobel Daniel ­Kahneman refletiu muito a respeito.

THE RED BULLETIN

O HAPIfork dispara um alarme quando você passa dos limites com a comida. Quem não quiser receber ordens do garfo que coma com as mãos. Isso sim faz feliz.

Canhão fotográfico Pesa 20 gramas, não é muito maior que a unha do polegar e registra duas fotos por ­minuto. O Narrative Clip ­salva cada momento da sua vida. O seu sorriso ­também amarelou?

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KILIAN JORNET DIVIDE OPINIÕES NO MUNDO DO MONTANHISMO O QUE O ATLETA CATALÃO TEM FEITO NOS PRINCIPAIS MONTES DO PLANETA É ALGO JAMAIS VISTO: ELE ENCARA OS DESAFIOS A TODA VELOCIDADE, COM O MÍNIMO DE EQUIPAMENTO E MUITA CORAGEM POR: NORMAN HOWELL  FOTOS: MATT GEORGES

MAIS DO QUE ESCALADA

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Homem rápido: Kilian Jornet demonstra o que faz dele um ser supremo nas montanhas, enfrentando o caminho íngreme e sinuoso no vilarejo de Le Tour, perto de Chamonix

“NÃO SINTO MEDO, MAS EXISTE UM SENTIMENTO CONSTANTE DE PREOCUPAÇÃO. SE VOCÊ NÃO GOSTA DO RISCO, OU NÃO ACEITA, NÃO DEVE FAZER ESSAS COISAS. MESMO TREINANDO E VIVENDO NAS MONTANHAS, NUNCA SE SABE DE TUDO.”


K

ilian Jornet é um homem que vai a muitos lugares e com rapidez. Ele corre no verão e anda de esqui no inverno. É o melhor atleta de resistência do mundo e, aos 27 anos, acumula conquistas mais importantes que muitos atletas de nível internacional. Ele vence corridas de centenas de quilômetros, corre por gelei­ ras, sobe a toda velocidade montanhas e depois desce de esqui. Subiu alguns dos picos mais importantes do mundo a toda velocidade, sem auxílio, carregando o mínimo de equipamento, quebrando recordes impro­ váveis. Quando ele pode, para, admira a vista, come umas frutinhas e bebe água direto da fonte. Na maior parte das vezes, compete contra ele mesmo. Para alguns, ele inventou um novo esporte; para outros, está envergonhando a longeva tradição do ­alpinismo e incentivando um comportamento irres­ ponsável nas montanhas. Jornet prima pela simpli­ cidade: ele diz que é apenas um montanhista em busca de diversão. Diversão, no vocabulário de Jornet, quer dizer subir e descer o Mont Blanc em 4 horas e 57 minutos e o Matterhorn em 2 horas e 52 minutos. Ou percorrer toda a extensão dos Pireneus, do Atlântico ao Medi­ terrâneo, 850 km e 42 mil metros de elevação, em oito dias. Ou, sua mais nova opção de divertimento, conquistar o Monte McKinley, no Alasca, a 6 168 me­ tros, o mais alto da América do Norte, escalando a pé

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na neve e na cerração, e depois descer de novo, de e­ squi, num trajeto de 11 horas e 48 minutos ao todo. Outro recorde, outra façanha do montanhismo. Além dessas realizações na escalada de velocidade, Jornet foi muitas vezes campeão mundial em uma corrida extrema por trilhas (distâncias grandes, de ­tipicamente 80 km a 160 km de montanha), escalada vertical (1 km em disparadas de castigar o pulmão) e corridas na altitude (mais curtas, de 20 km a 42 km). Ele também venceu a maioria das mais importantes competições de montanhismo e alpinismo em todos os Alpes e detém o recorde de muitos deles. No final do ano, vai em busca do Aconcágua, nos Andes argen­ tinos, próximo da cidade de Mendoza. Depois, atacará montanhas na Rússia e América do Norte. A seguir, enumeramos alguns extratos de uma longa entrevista que Jornet concedeu ao Red Bulletin no vilarejo de Le Tour, próximo de Chamonix, na França, enquanto subia um caminho íngreme para encontrar um local adequado para a sessão de fotos. Uma van Mercedes azul com placa da Espanha entra no estacionamento. Kilian Jornet chegou. Ele está de bermuda, colete de corrida, jaqueta e tênis de trilha. Parece pequeno dentro da jaqueta. Ele é tímido no ­começo. Apesar de ter presença, um sorriso pronto e a aura de alguém que já fez tanta coisa, ele não fala muito. É bastante gentil, prestativo e, pelas quatro ­horas e meia seguintes, está totalmente dedicado a ser um profissional perfeito.

“NÃO VEJO DISTINÇÃO ENTRE ESQUI, MONTANHISMO E CORRIDA: PARA MIM, É TUDO UMA QUESTÃO DE ESTAR NAS MONTANHAS.” the red bulletin: Fale sobre a sua família. kilian jornet: Meu pai é um guia e guardião de uma reserva na montanha. Ele aborda de forma clássica o montanhismo: usa botas e mochilas ­enormes. Minha mãe é professora, adora correr, ­pratica o montanhismo de maneira mais relaxada e tem uma profunda consciência da natureza. Ela me transmitiu o desejo de compreender como as coisas acontecem e como a natureza é. Desde meus 3 anos até talvez os 10, depois do jantar, ­antes de ir para a cama, já de pijamas, nós saíamos para dar uma caminhada na floresta. Lembro-me de ficar com medo nas primeiras vezes, minha irmã e eu nos agarrávamos nas pernas da minha mãe e ficávamos junto dela. Mas, pouco depois, nos acostumamos com tudo, com a floresta, e, apesar de perceber que não se pode saber o que está ao redor, pode-se sentir o chão, tem o vento e a chuva, você ­começa a ficar mais confiante para caminhar na flo­ resta à noite e passa a se divertir. Meus pais desenvol­ veram em mim um grande sentimento de responsabi­ lidade. Quando nós partíamos em uma trilha, nunca eles foram na dianteira. Ao contrário, minha irmã e eu íamos na frente e tínhamos que decidir o caminho. THE RED BULLETIN


Grandes marcas: Kilian Jornet é multicampeão de trail running, skyrunning e escalada vertical. Ele também tem diversos recordes no alpinismo com esqui


“QUANDO COMECEI A PRATICAR, AOS 13 ANOS, FIQUEI FASCINADO PELA HISTÓRIA DE BRUNO BRUNOD E DE SEU RECORDE NO MATTERHORN (...) FORAM FAÇANHAS QUE ME FIZERAM SONHAR. PARA MIM, ERAM ACONTECIMENTOS LINDOS.”

Jornet sabe como poucos que montanhismo é um estilo de vida. Sua maneira de encarar as montanhas em desafios que beiram o surreal é vista por ele como algo natural, uma maneira própria de interagir com a natureza


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Quando errávamos, eles nos ajudavam a consertar e a analisar nossos erros junto com a gente. Era divertido, nós tínhamos que nos lembrar de referências, das flores e dos animais. Diversão é o que importa. Acho que é importante ser feliz. Não quer dizer que tudo tenha que ser carpe diem e só se divertir a todo momento. Você também precisa buscar as coisas que te ­fazem feliz. Isso significa muitas vezes que será difícil e haverá sofrimento, mas também haverá diversão. O sofrimento é duro, mas é diferente se vem do mundo exterior. Então, é um estado mental diferente. Por exemplo, você está em uma ­expedição e está realmente frio e o tempo está terrível: você sofre, é claro, mas é a sua escolha, então você lida com isso. O montanhismo não é apenas um esporte, é um estilo de vida. Você falou tanto em esportes quanto em montanhismo. Você inventou uma nova forma de estar nas montanhas, um novo esporte? Não, estou apenas repetindo o que as ­pessoas fizeram no passado e o que ainda farão no futuro. Quando observamos o que 32

figuras como Bruno Brunod e Marino Giacometti fizeram, foi igual, ou como Walter Bonatti, que estava fazendo um montanhismo light há muito tempo, como fazia Reinhold Messner, à sua maneira... É bacana ver que existem várias formas de se relacionar com a montanha. Tem os base jumpers, cuja interpretação é completamente diferente das montanhas, e eu com meu estilo de corredor… nós ­estamos todos fazendo a mesma coisa, mas de maneiras diferentes. O fotógrafo então pede que Jornet corra ­sobre uma superfície particularmente íngreme do terreno com uma geleira no fundo que ficaria bem na foto. Jornet tira a jaqueta que usava por baixo e corre. Ele não faz nenhum esforço, é leve, saltitante. Em menos de um minuto ele desaparece de vista ao alcançar o cume. Ele não está correndo, ele apenas flui pela montanha. Você descreveu uma vez a corrida como um fluxo. Você correu antes e nada foi um obstáculo, você simplesmente ultrapassou tudo com muita tranquilidade.

“É BONITO VER OS ANIMAIS SE MOVENDO. ELES TÊM MUITA SUTILEZA. NÓS NÃO FOMOS FEITOS PARA ISSO.”


Sim, mas existem alguns lugares onde os obstáculos existem (risos). É muito ­bonito ver os animais se movendo. Eles se mexem com tanta sutileza que parece fácil. Para nós, é muito técnico, você ­precisa se concentrar onde coloca os pés, e você luta, e então vê um bicho correndo e se dá conta de que na verdade nós não fomos feitos para isso. Falando sobre os riscos, o seu recorde no Monte McKinley foi alcançado nas mais duras condições. Sim, o tempo estava terrível no Denali [como é chamado no Alasca]. Estava lá ­havia 20 dias e tinha apenas passado três com sol. O tempo estava bom quan­ do cheguei. Mas depois disso foi ruim. Quando soube que haveria uma janela de tempo aberta, decidi arriscar. O tempo mudou a 5 mil metros: eu estava no meio das nuvens e ventava forte. Começou a nevar e minha visibilidade não ia mais que 20 metros. Então, nos últimos 1,5 mil metros, realmente dei tudo porque estava sozinho e tinha que abrir a trilha, o que era difícil. Eu não sabia se conseguiria chegar ao cume. Quando consegui, foi uma sensação muito boa de colocar meus esquis no pé, porque a escalada tinha sido muito difícil. Mas o tempo estava ­piorando: era uma cerração densa, e eu podia ver apenas 2 ou 3 metros na minha frente e nevava pesado. Eu tinha que des­ cer rápido para quebrar o recorde. Então, desci direto, praticamente às cegas, já que eu realmente não sabia o que encontraria pela frente. Você teve medo? Não é medo, mas existe um sentimento constante de preocupação. Se você não gosta do risco, ou não aceita, não deve ­fazer essas coisas. Mesmo indo muito às montanhas, treinando e vivendo nelas,

Um dos feitos mais recentes de Jornet foi a escalada do McKinley, no Alasca, onde esquiou por mais de 11 horas

nunca se sabe de tudo. Pode-se saber ape­ nas uma parte pequena, e é preciso aceitar isso. Quando se é jovem, olha-se para a montanha, enxerga-se sua beleza, mas não se entendem os riscos. Quanto mais se cresce em anos e experiência, mais se vê a montanha de forma diferente. Você en­ tende os perigos. E eles não são os que você espera, ou os que os livros avisaram. Sem­ pre são as coisas mais estranhas, inespera­ das, o ilógico. É preciso saber e compreen­ der isso se quiser estar nas montanhas.

E o Mont Blanc pela sua posição na ­história do montanhismo. O Aconcágua é o mais alto na América Latina. O Elbrus é o mais alto da Europa, e eu também gosto do fato de a Rússia ter a cultura de selecionar as melhores pessoas para expedições nas montanhas colocando-as para escalar essa montanha com veloci­ dade. Você consegue imaginar uma cor­ rida entre Chamonix e o cume do Mont Blanc? Impossível, mas é o que acontece na Rússia, e é por isso que eu gosto tanto de ir para lá. O McKinley é uma montanha Outra pausa porque o fotógrafo precisa polar com condições realmente extremas, ajustar a iluminação. Jornet se acomoda e o Everest, é claro, é a mais alta do mundo em um arbusto e colhe umas frutinhas. Ele e, hoje, com todas as expedições comer­ faz isso muito durante a entre­ ciais, é fácil de escalar. Mas, vista, pega umas frutinhas se você não vai pela rota nor­ azuis e outras vermelhas. Ele mal e evita as cordas fixas, então é uma montanha grande. pega um punhado e as oferece. Como você se sente de subir “É rico em vitamina C! Tem o Everest depois de toda tanta comida boa nas monta­ a confusão que aconteceu nhas, é por isso que eu quase Cruzar o Mont Blanc neste ano? nunca levo nada para comer. (4 810 m) Muito da confusão surgiu E tem água em todas as partes!” A rota de Courmayeur a da forma como a maioria Então, ele tira uma foto das Chamonix liga as capitais das pessoas no Oriente lida frutinhas selvagens na palma do alpinismo. 8h42m com a escalada, de maneira da mão e posta no seu Insta­ (normalmente: 3 dias) gram. Ele gosta de mostrar muito comercial. Quando Matterhorn (4 478 m) seu dia a dia nas montanhas. Ueli Steck e Simone Moro Quebrou o recorde de Bruno Brunod, Tem mais de 60 mil seguidores. ­estiveram lá, eles escalaram seu herói de infância, rápido, então não fazia parte em 1983. 2h52m Como começou o projeto das ideias de sherpas que Mont Blanc (4 818 m) “The Summits of My Life”? uma escalada daquelas fosse A montanha mais alta Comecei há três anos, mas possível. Com o Everest, se dos Alpes. 4h57m tenho ele em mente há muito você vai pela rota normal, McKinley (6 168 m) tempo. Quando era criança, onde todas as outras pessoas A mais alta da América tinha um pôster enorme do estão escalando, pode ter do Norte e sujeita a Matterhorn no quarto, e os ­problemas. Nós vamos evitar temperaturas polares. ­livros que eu lia eram sobre a rota normal, estaremos sozi­ 11h48m montanhismo. Então, sabia nhos daquele lado da monta­ Aconcágua (6 959 m) o nome dos picos e suas histó­ nha. Haverá apenas quatro O pico mais alto da América do Sul. Ele irá rias. Quando comecei a pra­ de nós, sem carrega­dores. encarar no fim de 2014. ticar esportes, aos 13 anos, Nós podemos ter pro­blemas Monte Elbrus ­fiquei fascinado pela história entre nós mesmos (risos), (5 642 m) de Bruno Brunod e do seu mas não com os outros. O monte mais alto ­recorde no Matterhorn, ou e difícil da Europa. de Stéphane Brosse, quando É hora de ir. Jornet precisa Tentou uma vez e não ele estabeleceu o recorde ­fazer umas filmagens no conseguiu. Tentará no Mont Blanc… essas foram ­esta­cionamento onde nos de novo em 2015. as façanhas que me fizeram encon­tramos. Escurecerá Everest (8 848 m) O topo do mundo – sonhar. Essas montanhas e em breve. Ele pega uma das ainda busca liberação. ­esses feitos eram ao mesmo ­pesadas sacolas do fotógrafo, tempo lindos e estéticos. carregada de equipamento, ­coloca nos ombros e começa Stéphane Brosse morreu enquanto a descer a trilha. Ele cantarola sozinho, ­conquistava os oito picos do maciço como faz no filme Déjame Vivir e nos ­muitos vídeos em que aparece no YouTube. do Mont Blanc de esqui com Jornet. Sem forçar, apenas fluindo pelo caminho ­Brosse era um dos seus ídolos. pedregoso e enla­meado. Infantil e alegre. Jornet some de vista, a voz do seu canto Por que escolheu esses cumes? ­sumindo atrás dele. Ele simplesmente O Matterhorn, bom, porque está lá. E por causa do recorde de Bruno Brunod, ama fazer o que faz. www.summitsofmylife.com que foi uma conquista inacreditável.

PROJETO “SUMMITS OF MY LIFE”

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AS LIÇÕES DE HANNIBAL LECTER Em entrevista ao Red Bulletin, Mads Mikkelsen fala sobre grandes temas como a vida e a morte; Deus e o mundo; e bicicletas E N T R E V I S TA : R Ü D I G E R S T U R M F O T O S : K E N N E T H W I L L A R D T/ C O R B I S O U T L I N E 34



“ [Se percebo que não fluí na ­interpretação] Exijo repetir. Porque sei que não ficou bom. Não importa o quanto o diretor esteja satisfeito.”


M ads Mikkelsen, 48, dinamarquês, filho de uma en­ fermeira e de um sindicalista, é hoje provavelmente a maior estrela entre os atores europeus. Ele chega para a entrevista com o Red Bulletin meio despenteado, com sua barba por fazer e a camisa enfiada de qual­ quer jeito no jeans. Mas ele está bem acordado e com um humor ótimo. “Antes de começar a entrevista, ­tenho que avisar uma coisa para você”, diz. “Nós, os dinamarqueses, somos muito bons em fazer piadas com nós mesmos. Por trás de tudo que dizemos tem sempre um senso de humor cruel.” Foram essas suas primeiras palavras antes de falar sobre seu processo criativo, suas crenças e a paixão pelas bicicletas. the red bulletin: Senhor Mikkelsen, você fez um vilão com James Bond, foi herói no faroeste e na mitologia grega, e também encarnou ­Hannibal Lecter. De onde vem essa preferência por personagens extremos? mads mikkelsen: A resposta é simples. A minha vida é muito chata. Para um projeto me tocar, ele tem que ser ou dramático ou emocionante ou mesmo louco. Eu preciso do contraste. De comédias, por exemplo, eu não gosto nem um pouco. A não ser que sejam muito loucas. Hannibal é tudo menos uma comédia. No momento, você está filmando a terceira temporada da ­série que tem sido um sucesso. Não teve dúvidas quanto a fazer esse personagem? Não depois que falei com Bryan Fuller, a mente ­criativa por trás da série. Ele queria me apresentar a história em dez minutos. Depois de duas horas, ele ainda estava falando. Ele delirava sobre Hannibal como um adolescente apaixonado. Depois dessa ­conversa, ficou claro: tinha que fazer alguma coisa junto com aquele cara doido.

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Ex-dançarino profissional, Mikkelsen iniciou a carreira de ator nos anos 1990, fazendo seu nome como um traficante de drogas na trilogia dinamarquesa Pusher

Quanto é necessário e até que ponto o ator deve encarnar um personagem canibal? Hahaha, você quer saber se eu…? ...não foi até as últimas consequências, certamente. Fora suas preferências alimentares muito... excêntricas, ele não é um psicopata típico. Hannibal Lecter não é um animal unidimensional. Não cometa o erro de reduzi-lo. Ele ama arte, música, comida, línguas e, também, matar. Para ele, trata-se de mais uma paixão. Tem inclusive um certo, digamos, amor no que faz. É uma faceta que tento expressar... Acha louco demais? Talvez se você explicasse essa ideia um pouco melhor. Ele é um dos monstros mais horrorosos que já vimos. Claro. Mas, deixando de lado suas atrocidades, po­ demos aprender muito com Hannibal. Por exemplo, que a vida no limiar da morte é muito mais interessante. Porque é quando percebemos que devemos aproveitar a vida ao máximo todos os dias. Ele não tem tempo para banalidades. Não perde tempo com pessoas estúpidas. Você pode aprender muito com essa atitude. Além disso, uma coisa que me fascina nele é sua imensa autoconfiança. Por quê? Porque sou uma pessoa insegura. Sempre estou ­inseguro quando experimento alguma coisa, cada vez que faço um trabalho. O sentimento de insegurança é minha companhia constante 38

“ Quando você sobe na bicicleta e quase cospe sangue, o seu cérebro produz essas endorfinas [...] Ando todos os dias. Se não ando, fico desesperado.” Agora você está mentindo. Não! É verdade! Insegurança poderia ser útil se você fizesse per­ sonagens medrosos, desesperados, desconfiados. Mas você interpreta heróis. Como dá para ficar ­inseguro ao interpretar heróis? Tenho que esquecer a insegurança. Eu sei, eu sei, ­falar é fácil. O que tento fazer é, quando estou interpretando, entrar em um tipo de estado fluido. Então não penso. Eu sou. Quando começo a pensar e raciocinar, quando estou consciente do que estou fazendo, então não funciona. Quando percebo que isso aconteceu, preciso repetir tudo novamente. A não ser que o diretor goste do resultado. Não. Não abro mão. Eu exijo repetir. Porque sei que não ficou bom. Eu sei. Dá para entender? Não importa o quanto o diretor esteja satisfeito. THE RED BULLETIN


Você tem alguma tendência em ser solitário? Essa profissão é ao mesmo tempo muito social e ­muito antissocial. Quando estamos trabalhando, ­estamos cercados de gente o tempo todo. Ou não ­seria possível realizar o trabalho. Ao mesmo tempo, um ator tem que vivenciar seu próprio processo ­interno. Você tem que encontrar uma personalidade diferente dentro de você e conduzi-la. Para isso é ­preciso estar completamente sozinho. E é preciso conseguir estar nesse estado mesmo rodeado de ­centenas de pessoas. Isso tem que ser aprendido. Quando se aprende a escutar somente os próprios pensamentos e a própria música interna, a quali­ dade da inspiração se torna infinita. Como se aprende isso? Maturidade? Anos de meditação? Andando de bicicleta. Ah. Ando todos os dias. Uma ou duas horas, quando vou sozinho. Mais tempo se vou com um grupo. Andar de bicicleta é a minha droga. Você pode perguntar aos maratonistas ou triatletas. Todos conhecemos a sensação. Quando você sobe na bicicleta e quase cospe sangue, o seu cérebro produz essas endorfinas. Coisinhas incríveis. Você fica viciado nelas. Quando não posso andar de bicicleta alguns dias, entro em desespero. Senhor Mikkelsen, isso é uma confissão de um ­viciado em drogas? Hahaha, até um certo ponto, sim. Claro que tem ­situações em que você esgota todas as energias, está fraco e pega uma gripe. Isso seria uma viagem errada, se você quiser. Mas normalmente você ­ganha uma boa dose de adrenalina. Tem pessoas que precisam sentir o perigo para experimentar essa sensação. Elas escalam montanhas. Isso não me interessa. O que me interessa é ir até aquele ­limite extremo em que nada mais rola. Onde já não posso mais. Isso me deixa realizado. O que exatamente deixa você realizado? Eu já refleti sobre o que acontece ali. Mas não sei o que é. Sinceramente. Devo ser simplesmente

v­ iciado em esportes. Mesmo quando não estou com a bicicleta, pratico algum outro esporte – futebol, handebol, tênis. Quando tenho um intervalo, assisto a esportes na TV. Tem alguma aventura de bicicleta que marcou você? Uma vez em Los Angeles. Um amigo tinha duas bicicletas de corrida e me desafiou. Fazia algum tempo que não pedalava, mas não dei importância. Normalmente estou em boa forma. E então fomos... subindo e descendo as montanhas ao redor de Los Angeles. E foi um fiasco. Sofri muito. Quase morri. Sem chance de ganhar do meu amigo. Uma frustração completa. Depois da corrida, disse a mim mesmo: “Você não pode admitir isso”. Comprei uma bicicleta de corrida, me preparei, voltei a Los Angeles e aí ele teve que se ver comigo. Foi muito divertido! Quer dizer que podemos imaginar como Mads ­Mikkelsen organiza corridas particulares de ­ciclismo nas estradas ao redor de Los Angeles? (Risos.) Não como algo que aconteça todo dia. Mas daquela vez foi importante. Eu precisava daquela ­revanche. Não podia simplesmente aceitar uma ­derrota sem fazer nada. Não é uma acusação, mas tem uma razão para se fechar uma estrada quando se realiza uma corrida. Claro. Você tem razão. Eu reconheço que foi perigoso. Nas ruas de Los Angeles têm essas grades enormes sobre os bueiros para recolher a água da chuva. Elas são grandes demais para você passar em cima com a bicicleta. O pneu entala. O que teria graves consequências mesmo numa velocidade abaixo dos 50km/h. Mas eu fui com tudo a 50 por hora na direção de uma dessas grades. Quando vi, era tarde demais para desviar. Eu sabia: ou conseguia saltar ­sobre a coisa, ou seria uma queda. E por sorte eu ­consegui. Só uma pequena parte do pneu traseiro ­tocou a grade. Essa foi por muito pouco. Talvez tenha um anjo da guarda vigiando você? Não sou nada religioso. Zero. Claro, seria muito bom se houvesse um ser superior bondoso. Mas, até que tenhamos prova disso, acho que é melhor que tomemos as rédeas de nossa vida nas próprias mãos. Ação própria, responsabilidade própria. ­Prefiro assim. Em todo caso, deve ter sido uma sensação incrível sair de um susto desses sem um arranhão... De jeito nenhum! Eu estava irritado e assustado. ­Acabei de dizer que o perigo não me excita. Não me interessa. Mas, por outro lado, você também disse que a vida no limiar da morte é mais interessante. O que não significa que você deve se arriscar imprudentemente. Senhor Mikkelsen, você está dizendo isso no ­mesmo momento em que acende um cigarro! Ponto pra você. Hahahaha! Eu já tentei parar, mas não consegui. Pense bem, quantos desafios ciclísticos você não poderia vencer com os pulmões limpos? Você tem razão. Se eu parasse de fumar, seria mais rápido pedalando. Talvez possa me fixar nessa ideia como motivação para parar. 39


“Ele é muito bom. Sua figura no ar é muito bonita”, diz Duque sobre Paredes. “O Johnny tem fome, tem vontade… E todas as habilidades necessárias para ser um sucesso no esporte”


~ INSTRUÇ OES PARA HERDAR

UM REINO Cenote Ik Kil, estado de Yucatán (México). Última parada do Red Bull Cliff Diving World Series 2014. O saltador mexicano Jonathan Paredes está na beira da plataforma, a 27 m de altura. Abaixo, Orlando Duque, 12 vezes campeão mundial, o anima. O medo e a pressão se notam no ar.Jonathan salta e falha em sua entrada na água. Orlando ri e aplaude: ele sabe que acabou de ver um futuro número um do mundo falhar

ROMINA AMATO/RED BULL CONTENT POOL

Por: Armando Aguilar

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Quando o nome de Jonathan foi mencionado para que fosse convidado ao Red Bull Cliff Diving World Series, Orlando o apoiou. “Pediram minha opinião, e eu disse que sim na hora. Só recomendo quem tem realmente qualidade. E ele se destacava, sem dúvida”

A

foto é comovente. Dois amigos unidos, um com um abraço e o outro com o cora­ ção: Jonathan não só rodeia Orlando com seus braços, como também repousa sua cabeça sobre o ombro de seu mentor. Os dois sorriem com essa alegria conta­ giante. Acabam de conseguir algo histó­ rico: Orlando Duque, a grande lenda, e ­Jonathan Paredes, o novato, levam o ouro e o bronze, respectivamente, na estreia dos saltos de grande altura dentro do Campeonato Mundial da Federação Inter­ nacional de Natação, em Barcelona, 2013. “Conseguimos, cara. Conseguimos!”, diz o colombiano ao jovem, que não conse­ gue conter a emoção e começa a chorar. Alguém comenta com o mexicano que ninguém de sua delegação presenciou sua façanha. “Não importa, aqui está Duque, que é quem tem que estar”, responde. Além dessa medalha, 2013 foi tão ­incrível para Jonathan (novato do ano no Red Bull Cliff Diving e quarto lugar geral – atrás de Duque, que ficou em terceiro), que muitos acharam que o mexicano era a próxima grande estrela dos saltos de 42

­ enhasco. “As pessoas que entendem desse p esporte podem identificar quem tem um futuro extraordinário e quem vai ter que trabalhar com mais esforço. Johnny é dos primeiros. É como as pessoas que enten­ dem de cavalos: sabem em que animal ­devem apostar”, diz Orlando. No entanto, 2014 acabou não sendo maravilhoso para Jonathan: arrancou com dois pódios no Red Bull deste ano, mas teve dois tropeços graves, em Portugal e na Espanha. O novato do ano passado foi desmoronando, e sua participação na temporada 2015 está em perigo. Tudo se define aqui, em Ik Kil. Jonathan Paredes pode realmente ser um herdeiro digno do legado de Orlando Duque? “Não é meu legado. Somos muitos os que colaboramos todos estes anos para tornar grande esse esporte, a diferença é que eu durei várias gerações. Mas sim, ao final, Johnny será a pessoa que transmi­ tirá o conhecimento aos novos saltadores”, afirma Orlando, que também adverte: “Mas ele precisa melhorar algumas coisas, nós já falamos sobre isso. Por exemplo...”. Aqui vão os conselhos de uma lenda para seu amigo: “PERCA O MEDO, É HORA DE ­ARRISCAR.” Durante a prática prévia à grande final 2014 do Red Bull Cliff ­Diving em Ik Kil, Jucelino Junior, saltador brasileiro, caminha até a beira da plata­ forma. Ele para, espia o penhasco e dá dois passos para trás. Jucelino volta para a borda da plataforma, fica imóvel por ­alguns segundos e, quando parece que vai decolar, retrocede. Decepcionado,

Depois de ser o novato do ano em 2013, Jonathan experimentou a fama e a exigência. “Este ano eu estava esperando muitas coisas muito cedo, e acho que foi isso que me pressionou”, afirma

THE RED BULLETIN


DEAN TREML/RED BULL CONTENT POOL (2), AGUSTIN MUNOZ/RED BULL CONTENT POOL

“O JOHNNY PRECISA PARAR DE SE DEIXAR PRESSIONAR TANTO PELO PAÍS, PELA FAMÍLIA, POR ELE MESMO, E CURTIR MAIS.” THE RED BULLETIN

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“NÃO É RUIM TER MEDO, MAS AQUI É PRECISO ARRISCAR.” 44

ROMINA AMATO/RED BULL CONTENT POOL (2), DEAN TREML/RED BULL CONTENT POOL

O que Orlando significa para Johnny? “Ele é a pessoa que eu mais admiro e que vou admirar para sempre, porque ninguém vai conseguir o que ele já fez até agora. Nem eu vou conseguir isso”


abaixa a cabeça. Lá embaixo, o público o incentiva. Jucelino volta à posição de salto, abre os braços para começar, mas se arrepende, levanta uma mão para se desculpar e se retira. Sim, esses homens também sentem medo. E como não ter medo quando você vai se jogar de uma ­altura de oito andares, uma ousadia que acelerará seu corpo mais rápido que um carro de corrida, para impactar com a água a 85 km/h em apenas três segundos? “Quando você para na plataforma e volta, está claro que existe temor. Quando você chega ao final da plataforma, não vai vol­ tar, porque está preparado para saltar. E Johnny estava tendo um bloqueio meio complicado em relação a isso”, indica ­Orlando. O temor é um sistema de defesa que nos põe em alerta, mas se nos domina faz com que cometamos erros, e isso é uma coisa que um saltador de penhascos não pode se permitir. “Não é ruim ter medo, mas aqui é preciso arriscar e ven­ cer o temor. Uma nota 9 ou 10 de qualifi­ cação não se consegue com hesitações. Johnny deve confiar no seu preparo, foi para isso que ele treinou, para se arriscar de uma forma segura. Ele foi entendendo isso, e cada vez salta mais tranquilo.”

O que motivou Orlando a “adotar” Jonathan? “Eu achei ele legal. Johnny é uma pessoa agradável, é muito educado e estava muito emocionado por competir entre nós”

Abdominais, oblíquos e pernas fortes são indispensáveis para um bom salto, um treinamento que é mais parecido com a academia do que com saltar de um penhasco

F

AÇA SALTOS COM MAIOR GRAU DE DIFICULDADE. OS SALTOS QUE VOCÊ DOMINA JÁ NÃO LHE BASTAM.” Duque sempre admitiu que não tem muito como ajudar Jonathan em relação à técnica: “O que Johnny sabe sobre saltos ele aprendeu há muito tempo com a escola mexicana de clavados (saltadores de grandes alturas), uma das melhores do mundo, mas já é necessário que ele au­ mente o grau de dificuldade”. Durante o ano passado e o começo deste, a média de qualificações para os saltos de Jonathan era 9. A fórmula era simples: ele execu­ tava saltos excelentes e conservadores, à espera de que os outros competidores falhassem um pouco nos saltos mais arris­ cados. “Isso não tinha como funcionar sempre, os outros saltadores aperfeiçoa­ ram os saltos com maior grau de dificul­ dade, e agora os saltos que Johnny mais domina já não são suficientes.” É o que está acontecendo agora em Ik Kil: enquanto Jonathan tenta garantir seu lugar na série do próximo ano com os saltos com os quais ele se sente seguro, o inglês Gary Hunt apresentou como últi­ mo salto um triple quad, um dos saltos com maior grau de dificuldade. Jonathan falha e mal consegue receber alguns oitos; Gary recebe uma enxurrada de noves com seu último salto. “Eu nunca fiz os saltos mais difíceis, mas sempre saltei com muita qualidade, e isso me fez ganhar muitos eventos”, diz Orlando. “Johnny não tem que fazer os saltos mais loucos ou os mais perigosos, basta que ele aumente o grau de dificuldade e faça ótimas execuções para voltar a ter bons resultados.”

“QUANDO VOCÊ ESTIVER COM SEUS MELHORES RESULTADOS, ­TREINE COM MAIS ESFORÇO DO QUE NUNCA.” Se tem um erro que Orlando Duque cometeu e que ele não gostaria que Jonathan repetisse, é se sentir supe­ rior aos outros atletas. “Quando eu não parava de ganhar, no início de minha car­ reira, esqueci um pouco do treinamento pois sentia uma grande vantagem.” Apesar de ser um esporte cujas execuções duram apenas alguns segundos, aqui é vital ter um preparo físico excepcional. “A quali­ dade de Johnny pode levá-lo a achar que pode treinar menos que os outros, mas ele deve se preparar ainda mais para au­ mentar a vantagem”, aconselha Orlando. “PARE DE SE PRESSIONAR TANTO.” Após o último salto de Paredes em Ik Kil, o público e a imprensa estão desiludidos. Jonathan não está no pódio. Não há ne­ nhuma façanha mexicana para comentar a respeito. A nota é que Gary Hunt é o cam­ peão, e Jonathan não garante um posto para a série do próximo ano. Agora ele terá que passar por uma fase classificatória para obter seu lugar. Duque não se alarma: “Ele certamente vai ganhar a classificatória e estará na competição em 2015. O que aconteceu hoje foi a lição do ano inteiro: Johnny precisa parar de se deixar pressio­ nar tanto pela família, pelo país, por ele mesmo, e curtir mais”. Depois de suas sur­ preendentes vitórias de 2013, muitos se esqueceram de que Jonathan Paredes tem apenas 25 anos, que ele ainda é um novato e que compete contra os melhores saltado­ res do mundo. Inclusive o próprio Johnny se esqueceu de que tem uma carreira pela frente. Jonathan quis conquistar o mundo do cliff diving em dois anos porque isso era o que todos esperavam dele. Todos, menos o homem que já ganhou tudo nesse esporte e que tem um último conselho para o mexicano: “O que você conseguiu até agora já tem muito mérito. Jonathan: você está fazendo uma coisa que a imensa maioria do planeta não é capaz de fazer, em lugares maravilhosos como este. Olhe ao seu redor, este penhasco não é incrível? Você está praticando um dos esportes mais arriscados do mundo. Divirta-se!”. www.redbullcliffdiving.com

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Banda do Mar Formada no final de 2013 em Lisboa, Portugal, lançou seu primeiro disco, Banda do Mar, em maio de 2014 “Me Sinto Ótima” Uma das músicas que mais se destacam no disco é “Me Sinto Ótima”, na qual Mallu Magalhães mostra que a temporada europeia está lhe fazendo muito bem “Mais Ninguém” Primeiro single da banda, “Mais Ninguém” tem um ­divertido clipe com o trio dançando por Lisboa, e a ­letra diz: “Fazemos a festa / Somos do mundo / Sempre fomos bons de conversar”


BANDA DO MAR

“É mais que um trabalho para nós” Conversamos com Mallu Magalhães, Marcelo Camelo e Fred Ferreira sobre a turnê brasileira da Banda do Mar, trio formado em Portugal Por: Fernando Gueiros

DIVULGAÇÃO

Marcelo Camelo e Mallu Magalhães são o casal mais badalado da música nacio­ nal. Acontece que, desde o final do ano passado, eles não moram mais no país – se mudaram para Lisboa, onde, em pouco tempo, passaram a fazer música junto com o baterista português Fred Ferreira, amigo de Camelo dos tempos de Los ­Hermanos e membro de bandas como ­Buraka Som Sistema e Orelha Negra. No primeiro disco da banda, Banda do Mar, o trio acertou o tom e agradou a críticos e aos já apaixonados fãs de Camelo e Mallu. As 12 músicas refletem a tranquilidade do trio, com letras sobre alegria, paz e diversão – bastante do que o casal brasileiro encontrou na capital portuguesa. Mallu mostra maturidade em suas in­ terpretações e dá a entender como está sua vida atualmente em músicas como “Me Sinto Ótima”, uma das melhores do disco. Camelo parece que se libertou de um trabalho solo muito frutífero, intenso e extremamente poético para encarar um projeto dançante e animado. Fred foi a cereja do bolo, o equilíbrio que o caso precisava para deslanchar com arranjos arejados e extremamente atuais. Nos shows feitos aqui no Brasil, a Banda do Mar se apresentou junto com Marcos Gerez e Gabriel Bubu, que já trabalharam com Marcelo Camelo. Entre uma e outra parada na turnê que passou por mais de dez cidades, Mallu, Camelo e Fred fala­ ram com a gente. the red bulletin: Como foi a recepção do público nos shows da Banda do Mar aqui no Brasil? Marcelo Camelo: A gente esperava que o público gostasse, mas ficamos surpresos THE RED BULLETIN

com o carinho enorme com que os fãs nos ­receberam, foi incrível. Mallu Magalhães: A gente está vendo tanto os fãs antigos meus e do Marcelo como um pessoal novo. Fãs da Banda do Mar mesmo, que já vieram com o disco novo na cabeça. Como é o processo de divulgação de discos nos tempos de hoje? A internet tem um papel importantíssimo. ­Vocês acham que o CD está morrendo? Vocês se preocupam com isso de ­alguma maneira?

“Aconteceu de ­forma natural. Cada um com­ punha sua parte e mostrávamos um para o outro.” Mallu: Apesar de a internet ter um papel totalmente importante, não acho que o CD morreu e não acho que isso um dia vai acontecer, sempre vão existir aprecia­ dores dessa mídia. Existe alguma divisão de tarefas na banda? Ainda mais considerando que dois membros são marido e mulher, a relação na hora da criação tem ­alguma regra? Mallu: Não existe uma divisão imposta, eu e o Marcelo que fizemos as letras, o Fred foi importante nos arranjos. Todo mundo acaba ajudando no que pode. Marcelo: A Banda do Mar aconteceu de

forma bem natural. Cada um compunha sua parte, e, quando a música estava o mais perto de ficar pronta, nós mostrá­ vamos aos outros, que davam sugestões. Mallu: A música é muito mais que um trabalho para a gente, então não existe essa divisão entre trabalho e vida pes­ soal entre nós. Fred, quais são os sons novos vindos de Portugal que você recomenda para os nossos leitores? Fred Ferreira: Em Portugal assim como no Brasil temos bandas muito boas que eu posso destacar como grupos que estão fazendo algo novo, nomes que acho muito bons como Deolinda, David Fonseca, The Legendary Tigerman, Frankie Chavez, Osso Vaidoso, Dead Combo, Da Weasel, Xutos & Pontapés, Buraka Som Sistema, Regula, Sam The Kid, Orelha Negra... Quais são as diferenças e as semelhanças entre a música portuguesa e a brasileira. Por quê? Fred: Juntar as culturas é ótimo, e a cul­ tura brasileira e a portuguesa não são tão distantes. Somos países irmãos e com muita música e cultura para descobrir ainda sobre cada um deles. Mallu, vocês se mudaram para Lisboa por um tempo. O que foi o melhor dessa experiência de vida? Quais as principais diferenças que sentiram entre a vida em Lisboa e a vida que tinham em SP? Mallu: Continuamos morando em ­Lisboa, viemos para o Brasil para os shows da Banda do Mar mesmo. Temos uma rotina bem tranquila em Portugal, assim como a que tínhamos no Brasil. O Brasil sempre será nossa casa, mas ­agora Lisboa também é nossa casa, ­estamos curtindo a rotina por lá. www.bandadomar.com.br

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Nome Stéphane Peterhansel Nascido em 6 de agosto de 1965 em Échenoz-la-Méline, França Estreia no Dakar em 1988, na Yamaha Vitórias no Dakar em 1991, 1992, 1993, 1995, 1997 e 1998 com a Yamaha na categoria motos. Mudou para carros em 1999. Vitórias em 2004, 2005 e 2007 com a Mitsubishi e 2012 e 2013 na Mini. E ainda dois segundos e um terceiro lugar. Para 26 largadas somente dois (!) rallies não terminados


“Você não se cansa nunca do Rally Dakar, Stéphane Peterhansel?” São 26 largadas e 11 vitórias. Em toda a história do lendário rally, nenhum piloto teve mais vitórias do que o francês Stéphane Peterhansel, de 49 anos. E ele não pensa em parar. O que o motiva?

FLAVIEN DUHAMEL/RED BULL CONTENT POOL

Por: Werner Jessner

the red bulletin: Então, você já não viu tudo depois de tantas edições do rally? Há 26 anos, o seu ano sempre ­começa da mesma forma… stéphane peterhansel: Não! Minha grande paixão é explorar países novos. E, como o trajeto muda a cada ano, ­sempre tem algo novo para conhecer. Mas para isso não é necessário ser um piloto de rally. É verdade. Em setembro, por exemplo, eu atravessei o Lesoto de bicicleta. Por quê? O Lesoto é um enclave na África do Sul. Eu nunca tinha estado lá, e, como o Dakar agora é realizado na América do Sul, ele não me levaria tão cedo para o sul da África. Por que de bicicleta? De uma maneira ou de outra, você tem que ficar em forma para o Dakar. Mas são 26 largadas no Dakar... A minha segunda grande paixão é o automobilismo. O Dakar é, para mim, a combinação perfeita. Mas chega o momento em que você já viu essencialmente tudo... Eu participei 18 vezes do Rally Dakar na África. Em cada uma delas o céu era diferente. Isso sem falar da areia e dos cheiros. Que lugar você achou o mais bonito? Pela paisagem, foi o sul da Argélia. Mas, pelo conjunto de toda a corrida, o trajeto desde Paris até a Cidade do Cabo foi o mais diversificado. Na América do Sul, todos os trechos pela cordilheira são espetaculares. Água, seca, altitudes extremas: muitas opções para o viajante. THE RED BULLETIN

Qual é a idade ideal para vencer o rally? Quando eu tinha 35 anos, achava que meu conterrâneo Jean-Louis Schlesser era um velho. E hoje ainda sou mais jovem do que ele era quando conquistou sua última vitória. Quarenta e nove não é idade. Eu sou jovem mentalmente e ­fisicamente me sinto em perfeita forma. Por quanto tempo você pretende correr ainda? Ainda gostaria de conseguir minha sexta vitória na categoria carros. Ganhei seis

“Pela paisagem, amei o sul da Argélia. Muitas opções para o viajante.” vezes na categoria motos. Seria uma ­conta redonda. O meu contrato com a Peugeot Sport tem duração de três anos. Quando você trocou a moto pelo carro foi por medo? Mais por instinto de sobrevivência. Em dez corridas de moto eu não tive nenhum acidente sério. Mas vi pilotos morrerem na minha frente e outros ficarem em ­cadeira de rodas. Tinha sempre a sensação de estar no controle da situação. Mas é exatamente aí que mora o perigo. Além disso, era bem chato... Chato?!? Muito. Dentro do capacete, você está ­sozinho o tempo todo. Para o melhor

e para o pior. No carro, você pode trocar ideias com o copiloto. Qual o seu carro preferido? Sempre tive carros muito rápidos. Todos AWD. Em 2015, vou correr pela primeira vez com um buggy de tração traseira, o Peugeot 2008 DKR. Mesmo que nesse momento, três meses antes do início da corrida, eu não tenha a sensação de que ele me permita vencer, ele é o carro que mais me agrada. É o que diz o piloto de fábrica. Mas é verdade. O regulamento permite maior curso na suspensão do buggy do que dos carros com AWD (que altera a tração automaticamente), o que combina melhor com meu estilo de direção suave e tranquilo. Quanto pior a pista, melhor o Peugeot. Quem será o mais rápido? Você ou o companheiro de equipe Carlos Sainz? Por enquanto ele. Simplesmente porque ele tem mais experiência com buggies. Você poderia mudar para a categoria trucks também... Experimentei uma vez no ano passado. Não vai acontecer. Não tem nada a ver com dirigir um carro. Não me interessa. Ou para o skate. A última vez que subi num skate foi há mais de dez anos quando, arrumando a garagem, encontrei por acaso meu skate velho. Continuo sabendo o que faço em cima de um, mas o esporte mudou radicalmente desde a minha época há quase 40 anos. Nós competíamos no slalom. Os jovens de hoje nem sabem que isso existiu um dia. O que a idade lhe ensinou? Que você tem que ficar atento se não ­quiser perder o trem. www.peugeot-sport.com

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ÁFRICA SALGADA Ser um surfista na África significa ser comprometido. Significa enfrentar a infinidade de uma rica e diversa fronteira do surf e estar preparado para tudo o que aparecer no caminho. Ser um surfista na África é viajar grandes distâncias por uma onda, e nunca mais querer voltar para casa quando você encontra o pico certo. O fotógrafo sul-africano ALAN VAN GYSEN, 32 anos, abriu sua galeria de fotos de surf e contou para o Red Bulletin como é trabalhar em busca de ondas inóspitas no continente africano

O sul-africano Craig Anderson, um dos freesurfers mais alternativos e ousados da atualidade, em Skeleton Bay, na Namíbia, uma das ondas mais cobiçadas da atualidade

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“É difícil não se apaixonar pela África”, diz Alan van Gysen, descrevendo o mistério e a oportunidade que acenam para os viajantes antes mesmo que eles tenham colocado os pés naquele continente de solo vermelho cor de sangue Morador da Cidade do Cabo, a uma curta distância da Praia de Kommetjie, Van Gysen fotografa surf desde o final dos anos 1990. “A África é cercada de mar e três oceanos que contam com ondas de todos os tipos, a maioria das quais ­ainda intocadas e divididas em 38 países”, ele diz. “Esta é a atração: tem alguma coisa para todo mundo. Uma aventura para todos. Primeiro mundo, terceiro mundo, mundos intermediários: a África tem a resposta para qualquer per­ gunta. Por exemplo, uma das melhores ondas do momento, em Skeleton Bay, na Namíbia, começou a ser surfada regularmente a partir de 2011. E, no ano ­passado, uma onda ainda mais nova apareceu – em Angola, com 3 quilômetros de comprimento. Imagine o que mais pode existir lá… O que eu adoro na África é que ela oferece uma sensação de liberdade ­desconhecida para muitos dos que vivem no primeiro mundo. Claro que a sensação de liberdade geralmente tem um preço, que pode chegar na forma de desafios a serem superados. Mas não é assim que as melhores descobertas são feitas? Como as descobertas culturais nas viagens de ônibus que duram 24 horas. Ou nas suas descobertas pessoais quando o carro quebra no deserto. Ou descobrindo uma onda quando sua barca foi cancelada e você precisa ­tomar uma rota alternativa. Esse é o estilo de vida do surf, e muitas vezes você só valoriza isso quando desliza numa onda que nunca surfou antes.”

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Nesta página: o americano Dane ­Gudauskas mostra a perfeição da manobra e da onda num secret spot no sul de Angola. Surfar sem ninguém por perto era aquilo que ele precisava depois de uns dias ­parado por causa de uma lesão À esquerda: o sul-africano Andrew Lange arrebentando numa tarde em Moçambique

“O freesurf, ou surfar com a alma, está no coração de todo surfista. Desde os guerreiros de fim de semana até os ativos grisalhos viajantes, a busca é sempre por uma onda exclusiva, livre de ego ou de disputa. A pureza do surf e a satisfação do coração e da alma… Os surfistas chamam isso de ‘alimentar’, e é isso que dá o combustível para esse vício que é o surf. E poucos lugares oferecem tanta exclusividade como a África.”


“O Norte e o Oeste da África têm grandes swells em lugares como Marrocos, Senegal e Ilhas Canárias, mas poucos lugares oferecem ondas maiores e mais fortes que a África do Sul”, diz Van Gysen. “Aberta à força total das profundas correntes atlânticas geradas nos Roaring Forties, a África do Sul é martelada por ondas gigantes durante os meses de inverno do Hemisfério Sul. A Cidade do Cabo tem uma comunidade de big surf em expansão, os sul-africanos estão criando fama de destemidos e ligados em dropar ondas grandes. E, enquanto alguns picos não oferecem boas paredes para manobrar, existem outros muito menores, protegidos, que surgem quando os grandes swells batem em cheio na ponta mais sul do continente.”


Nesta página: o surfista Josh Redman, de Durban, faz o bottom turn com estilo em Hermanus, perto da Cidade do Cabo Esquerda: o pôr do sol africano é ainda mais lindo visto da água, com a silhueta de Craig Anderson em Cabo St. Francis

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“Diferentemente de lugares como Austrália, Havaí e Indonésia, a vida na África não precisa girar em torno do surf”, diz Van Gysen. “Ainda existem comunidades que não têm um conceito do que é surf. É um conceito­completamente ­exótico, tão alienígena quanto gente voando. As pessoas às vezes piram na praia, imitando os movimentos do surf e olhando as pranchas como se elas tivessem caído do céu. Um dos grandes presentes de viajar na África é a oportunidade de mergulhar nessas comuni­dades e em suas culturas.”

Nesta foto e na superior ­esquerda: crianças curiosas em Angola se reúnem em volta de Cheyne Cottrell e David ­Richards pela praia enquanto eles desbravam uma onda ainda sem nome. “Depois que nós ­paramos de surfar, um mole­ quinho per­guntou onde esta­ vam as hélices, presumindo que a prancha de surf era como um barco a motor”, diz Van Gysen. “Não tem nada como a emoção de surfar uma onda pela pri­ meira vez e saber que nenhum surfista esteve nela antes” À esquerda: uma vista aérea do remoto subúrbio de Wlotzkasbaken, no deserto da Namíbia


Imagem principal: não se engane pela cor. Esta é a Cidade do Cabo, e a temperatura é de 9 ºC: “Pegar a estrada em busca de ondas novas e boas não é brincadeira. É imersão de verdade. É se integrar ao ambiente”


“A beleza de uma onda vazia, azul cristalina, é o que motiva o surfista desde sempre. Ter a capacidade de estar cortando por dentro um corpo de água em movimento é a sensação mais especial e definitiva para qualquer surfista e vai para sempre se manter como o aspecto mais eterno do esporte. Como diz um famoso slogan de uma marca de surfwear: ‘Only a surfer knows the feeling’ [Só o surfista conhece a sensação].”

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Acompanhar um surfista em uma onda de 2 km de comprimento no meio do deserto não é pouca ­coisa. “Voando de um país vizinho, o helicóptero teve que esperar ­horas para que a névoa espessa da Namíbia se dissipasse antes de pousar na areia em frente a esta onda”, diz Van Gysen. “A beleza aqui está em como a onda quebra: a curva quebrando, a explosão da água branca, o tubo sombrio e a água com cor de areia. Craig ­Anderson está no meio do caos e procurando a saída”

“A fotografia sempre foi uma questão de perspectiva. Seja de cima ou de baixo, horizontal ou vertical, a paisagem é utilizada para enfatizar o momento. Mas como é que se faz para fotografar uma das ondas mais insanas do mundo, no meio do Deserto da Namíbia, sem um ponto privilegiado? Em Skeleton Bay não tem uma elevação de onde se possa observar o surfista, só dá para ver o mar e a areia até onde o olho consegue enxergar. A solução então foi o ponto de vista do olho de um pássaro nas nuvens.”


Conheça o autor Quando Alan van Gysen foi picado pelo bicho da aventura, 15 anos atrás, em vez de viajar e gastar suas economias, decidiu ganhar a vida contando histórias que viveu com o surf. Uma experiência em natação competitiva combinada com o estudo de música clássica e com a escola de arte foi a preparação ideal para a forma física da arte da fotografia de surf. “Prefiro fazer as fotos na água”, ele diz. “É uma energia muito grande no momento e isso me dá melhor perspectiva para registrar e compartilhar a beleza do tema e do local.” instagram.com/alanvangysen

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Aonde ir e o que fazer

Conheça a nova tecnologia para acabar com barulho MÚSICA, pág. 71

AÇ ÃO ! VIAGEM / RELÓGIOS / TREINO /

M Ú S I CA / FESTAS / C I DA D ES / BA L A DAS

Reinando na NBA GETTY IMAGES

PRECISA DE AJUDA PARA TER UM FÍSICO EXPLOSIVO? APRENDA COM HARRISON BARNES, DO GOLDEN STATE WARRIORS EM FORMA, pág. 66

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AÇÃO!

MALAS PRONTAS Pense na manobra dos sonhos: você pode realizá-la

TEM MAIS COISA! AS BOAS PEDIDAS NA SUÍÇA

À LA 007 Faça um salto de bungee jump da represa de ­Locarno, no Ticino, no sul do país, e recrie a cena de abertura do ­filme 007 Contra Goldeneye. getyourguide.com

Snowboard no ar

Combinando a emoção do snowboarding com a adrenalina do paragliding, o woopy jumping está cada vez mais se tornando um esporte comum nos Alpes suíços. Descendo uma montanha a cerca de 50 km/h em uma prancha pode ser emocionante, mas com uma vela inflável em formato de delta acoplada às suas costas a adrenalina é total. O que seriam solavancos se tornam pequenos voos. Parece que você está planando por uma eternidade. Mais de 30 segundos de voo, se você caprichar. “Parece mesmo que você está voando de verdade”, diz Emma Shore, uma praticante de snowboard do Canadá que experimentou o woopy jumping na região do Lac Noir, na Suíça. “A vela é realmente muito leve e, quando você está planando, é como se não tivesse peso algum.” Com a vela nas costas e a pista brilhando lá embaixo, os woopy jumpers podem curtir o passeio no ar. A categoria acabou de surgir nos Alpes suíços, com apenas uns poucos resorts oferecendo instruções e equipamento. Mas, com um rápido crescimento e uma experiência incomparável, não demora muito para que sua popularidade decole, exatamente como seus participantes. “Já desci muito com snowboard e também já planei bastante”, diz Shore, “mas saltar com uma vela acoplada às costas é realmente demais.” jump.woopyjump.com

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AVISO DE QUEM CONHECE TENHA ATITUDE “Decida se o que você quer é planar ou descer a montanha”, diz Emma Shore. “Se você vacilar quando estiver decolando, vai sempre escorregar e se esborrachar no chão. Tome coragem, atitude e assuma o voo!”

SE JOGUE Embarque em um passeio de h ­ elicóptero pelos alpes e salte de ­paraquedas com instrutor. A altura? 4,5 mil metros. helicopterskydive.com

Decole utilizando a vela de paragliding

A direção certa

“São duas opções de comando”, diz Laurent de Kalbermatten, inventor da woopy wing. “Uma é como uma asa-delta, jogando o peso de acordo com o seu centro gravitacional. A outra é criando um ‘diferencial’ puxando em um cabo e em outro para curvar a vela.”

SUBINDO Desça de rappel ­pelas fendas até o fundo de uma ­geleira e escale para voltar. Tudo com a supervisão de alguns dos ­melhores instru­ tores de alpinismo da Suíça. swissalpineguides.ch

THE RED BULLETIN

GETTY IMAGES(2), FOTOLIA(2)

W OOPY JUMPING  O NOVO ESPORTE FAZ VOCÊ PLANAR ENQUANTO DESCE MONTANHAS DE NEVE


AÇÃO!

MINHA CIDADE Sopot

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“Um milhão de conhecidos”   G DANSK  JAZZ DE PRIMEIRA, ARQUITETURA DOIDA, AMBIENTE FAMILIAR – POR QUE A CIDADE PORTUÁRIA NA POLÔNIA É NOSSA DICA DE VIAGEM

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“À primeira vista, Gdansk lembra outras cidades portuárias no norte da Europa, como Amsterdã ou Bruges”, conta o DJ Tomek Hoax sobre sua ­cidade natal. “Isso por causa das igrejas de tijolo à vista e dos canais. Mas, na verdade, Gdansk é única: junto com as vizinhas Gdynia e Sopot, forma a ‘Trójmiasto’ (Tricidade) – com opções para todo mundo: Sopot é a metrópole da festa, Gdynia um oásis de tran­quilidade e Gdansk a cidade antiga com cafés, pubs e bares de jazz. As pessoas? São 1 milhão d ­ elas vivendo aqui e todas parecem se ­conhecer. São abertas aos turistas, o que parece ­estar agradando, já que a cada ano chegam mais.”

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TOP CINCO OS MELHORES DA CIDADE DE TOMEK

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1 SFINKS700 Al. Franciszka Mamuszki 1 “A melhor balada de Gdansk. Com os melhores DJs locais e internacionais. O dono é Leszek Moz˙dz˙er, famoso ­pianista de jazz. Ele está sempre lá e improvisa ao piano junto com os DJs. Único.”

AÇÃO EXTR A EM GDANSK E ARREDORES

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2 CASA TORTA Jana Jerzego Haffnera 6 “Ponto turístico, mas que vale a pena: o edifício doido foi construído por dois arquitetos poloneses que se inspiraram nos gráficos do sueco Per Dahlberg. Dentro? Lojas, bares e agito.”

3 MURAIS Bairro de Zaspa “Um bairro com atmosfera antiga: artistas de rua decoraram os edifícios cinzentos da época comunista com ­grafites gigantescos. Para ver todos, planeje duas horas de caminhada. Vale a pena.”

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4 NEIGHBOUR’S KITCHEN Szafarnia 11 “Pergunta: onde comer em Gdansk? Resposta: no Neighbour’s Kitchen. Amado por todos, o restaurante serve menu de luxo ou hambúrgueres para paladares exigentes. Até o pão é feito lá.”

5 FOOD TRUCKS Gdansk, Gdynia e Sopot

“Nossos food trucks são uma lenda. Carrinhos de lanches ambulantes que estão em ­todos os lugares onde está acontecendo alguma coisa. Meu preferido? O ‘Mukabar’ e seus sanduíches de falafel.”

VELEJAR NO GELO

SUBMERSO

SKATE DE INVERNO

Barcos a vela sobre patins, gelo liso, velocidade... Os lagos na Masúria são o paraíso dos ­velejadores no gelo.

Quer se divertir mergulhando? Gdansk é o lugar perfeito ­para buscar restos de barcos naufragados.

O parque de skate ao ar livre com 1 500 m2 é novo. O clima da costa possibilita a diversão mesmo durante o inverno.

icesailing.org

balticdive.pl

abiskatepark.pl

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AÇÃO!

EM FORMA Por que Harrison Barnes faz treino de explosão? Porque sim

Harrison Barnes, 22, é ala dos Golden State Warriors na NBA

Ele sabe como voar   B ASQUETE  VEJA COMO O ALA DOS GOLDEN STATE WARRIORS, HARRISON BARNES, SE MANTÉM EM FORMA PARA DISPUTAR A NBA “A capacidade de fazer o corpo render o máximo é o que diferencia um atleta bom de um atleta excepcional”, diz a fera da NBA, Harrison Barnes. “No basquete profissional isso significa principalmente explosão e velocidade.” Na sua primeira temporada, em 2013, já pelo time de Oakland, Califórnia, Barnes alcançou uma média de 16 pontos nos playoffs. ­Depois do sucesso da temporada, o ala de 2,03 m de altura contratou os serviços do personal coach Travelle Gaines, que já treinou mais de 300 jogadores profissionais de futebol e também estrelas como o rapper Puff Daddy. Sua preocupação principal: pernas e a velocidade na passagem da defesa para o ataque. “Treinamos muito saltos e corrida”, explica Gaines. “Tornozelos e dedos dos pés fortes são ­decisivos para um salto potente.”

A G A C H A M EN TO

nba.com Treine como um profissional da NBA. Veja o vídeo em que Harrison Barnes mostra seu treinamento em redbulletin.com

“Agachamento e extensão de ombros são exercícios fantásticos para trabalhar todo o corpo”, conta o treinador. “Os melhores resultados são obtidos com duas a três séries de 12 a 15 repetições.”

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ALGEMAS PARA OS PÉS

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Posição ereta, pés afastados na largura dos quadris, halteres pequenos na altura dos ombros, braços próximos ao corpo

Agachar, manter o tronco ereto e joelhos em cima da linha dos pés

Subir, levantar os halteres acima da cabeça. Voltar à posição inicial

GETTY IMAGES(2)

“Sempre levo essa faixa elástica comigo”, diz Gaines. “Você coloca nos tornozelos e faz alguns movimentos muito intensivos (passo lateral, pivôs, avanços, por exemplo)... Fortalece os quadris e melhora a explosão.”

HERI IRAWAN

SKLZ LATERAL RESISTOR

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AÇÃO!

WINGS FOR LIFE Entre em forma para a Wings for Life World Run: aproveite a noite

EQUIPO IDEAL MENOS DESCULPAS: ASSIM DÁ MAIS GOSTO ­CORRER À NOITE

PETZL TIKKA XP Lanterna de cabeça com até 160 lumens, peso de 85 g, feixes vermelhos e brancos e luz constante quando a energia da bateria diminui. petzl.com

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Corrida noturna   W INGS FOR LIFE WORLD RUN  CONSTRUA DESDE JÁ UMA BASE PARA ESTAR EM FORMA EM MAIO. CONFIRA 10 DICAS PARA ESTAR NA MELHOR FORMA A TEMPO PARA A WINGS FOR LIFE WORLD RUN

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BALASZ GARDI/RED BULL CONTENT POOL

Desafie a escuridão. A noite caiu e a rota de sempre já não motiva? Vá correr mesmo assim. O caminho conhecido muda completamente à noite. O cérebro compensa a falta de estímulos ópticos e de repente você se sente acordado e tudo parece novo e interessante.

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Vista-se direito. Medo do resfriado? Use várias camadas, para manter a temperatura do corpo estável. Importante: não se esqueça de proteger as orelhas, as mãos e os pés do frio. Ninguém quer dedos frios e úmidos. Então, o melhor são bons tênis de ­corrida e meias de Gore-Tex.

Seja visível. Refletores no agasalho, na calça e principalmente nos tênis melhoram as chances de os motoristas o verem com antecedência. O mesmo vale para os que correm na mata e não querem que um ­caçador incauto os confunda com um javali. (Leia o item 6.)

Esteja atento. Correr no escuro não significa correr às escuras. Um passo fora da trilha pode ser o suficiente para torcer um tornozelo. Lanternas de ­cabeça com LED iluminam o caminho, só pesam uns poucos gramas e praticamente não atrapalham.

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Oriente-se. No escuro, seu sentido espacial e temporal muda. Vá se afastando de casa em círculos concêntricos. Na dúvida, você pode voltar rapidamente à casa. Para corridas noturnas é melhor medir o tempo do que a distância.

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Deixe quem está dormindo em paz. Nem o pior tipo físico justifica correr pela mata acordando todas as formas de vida. Os animais que o digam: corredores não têm nada que procurar na mata à noite. (O mesmo vale para caçadores. E excursionistas. E mountain bikers. E cachorros.)

A COMPETIÇÃO

Uma única largada para seis continentes: no dia 3 de maio de 2015 acontecerá a segunda corrida mundial da história. O público-alvo: todos que queiram competir com todo mundo. Mais informações: www.wingsforlifeworldrun.com

THE RED BULLETIN

Ouça com atenção. OK. Você está acostumado a correr com fones. Sem música, você não faz nada. Mesmo assim, experimente ­fazê-lo durante a noite. Os ­ouvidos estão com sensibili­ dade máxima durante a noite. A noite soa diferente.

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Grupos de corredores noturnos. O grupo dá motivação ao treino. Nele você tem menos desculpas e menos motivos para deixar a preguiça vencer. E a noite é propícia para atividades em grupo.

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Participe de uma ­competição. Tem muitas. Mais do que você imagina. Muitos organizadores já perceberam o bom negócio que é preparar corridas noturnas. Há mais pessoas correndo à noite do que imagina o corredor solitário. Vinte mil na largada já não são raridade (em Viena, por exemplo).

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Dê-se uma ­recompensa. Um banho quentinho, o co­ michão na pele reaquecida, um chá com biscoito no sofá. Quem foi brincar lá fora à noite pode apreciar melhor o aconchego do lar. Os que ficaram enrolando no sofá devorando biscoitos têm toda razão para ter peso na consciência. E em alguma outra parte também.

PUMA PURE NIGHTCAT Jaqueta de corrida respirável com ­malha de ventilação e fios de fibra de vidro nos ombros (com ajuste para luz constante ou intermitente). puma.com

PUMA FAAS 600 V2 NC POWERED Tênis para corrida ultraleve com refletores na superfície e um dispositivo de LED na língua que melhoram a ­visibilidade do ­corredor à noite. puma.com

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AÇÃO !

RELÓGIO

DUPLA FU N Ç Ã O

ALTÍMETRO ORIS BIG CROWN PROPILOT Ele mostra sua altitude até 4 572 metros

POR QUE O ALTÍ­METRO ORIS BIG CROWN PROPILOT TEM DUAS COROAS

DUAS E QUATRO Na posição de duas horas, a coroa ajusta a data e a hora. O barômetro/altímetro é ajustado usando a coroa em quatro horas. Gire ela, e o relógio fica à prova d’água e desce até 100 m de profundidade.

No pulso e no ar  ORIS  EXISTEM MUITOS RELÓGIOS DE AVIAÇÃO, MAS QUASE NENHUM COM DUAS DAS MAIS IMPORTANTES FERRAMENTAS DE VOO. ESTE TEM – E COM MUITO ESTILO

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SEM PRESSÃO Todas as peças do barômetro e do altímetro são feitas de mate­ riais ultraleves: para o ProPilot, a Oris usou filamentos de fibra de carbono laminados, um material que também tem o benefício extra de ser incrivelmente resistente. O tamanho do relógio, bem maior do que os outros, com 47 mm de diâmetro, não é assim só porque está na moda ver pessoas usando relógio grandes. Ele é assim por­ que precisa acomodar as raras ­características de modo que você possa facilmente ler a pressão ­atmosférica ou altitude, sempre que precisar.

O barômetro/altímetro funciona apenas se a pressão dos ambientes externos e internos estiver equalizada, o que você faz girando a coroa no sentido inverso.

SEMPRE LIMPO Oris desenvolveu uma membrana de Gore-Tex e um material de teflon para evitar umi­ dade ou sujeira ­entrar no relógio.

oris.ch

THE RED BULLETIN

ALEXANDER LINZ

O

s pilotos gostam de estar informa­ dos sobre a alti­ As ­mudanças na pressão são tude e a pressão d ­ etectadas mecani­camente por atmos­férica, mas pequenas ligas de metal sensíveis são raros os reló­ gios de pulso com barômetro à pressão em uma pequena cápsula e altí­metro. Em 1963, conhe­cida como câmera a suíça Favre-Leuba aneroide. (“Aneroide” lançou o Bivouac. literalmente signi­fica Em 1989, a tam­ “sem fluido”; a pres­ são foi medida pela bém suíça Revue Thommen lançou o primeira vez por altímetro Airspeed. ­barômetros e outros Agora chega um ter­ instrumentos usando ceiro, o altímetro Big líquidos.) Um delicado As peças do barôCrown ProPilot, da Oris. sistema de alavanca então metro e altímetro Cada um desses reló­ transforma as ligas de são produzidas gios tem as funções pela empresa suíça contração em movimen­ tos de indicadores nos de barômetro e altíme­ de instrumentos de voo Thommen medidores do relógio. tro do mesmo jeito.


TÚNEL DO TEMPO

Homem de sorte JACK W. HEUER TRANSFORMOU SORTE EM UMA FORTUNA

Por Gisbert L. ­Brunner, jornalista de relógios que teve seu primeiro Carrera há 50 anos

Jack W. Heuer deve ter sido um ­sortudo. Em 1969, a fabricante de relógios que leva seu nome apresentou ao mundo seu primeiro cronógrafo automático com microrrotor e um encaixe à prova d’água. Como Heuer – conhecido como JWH – não tinha dinheiro para anunciar, decidiu trabalhar com o piloto de Fórmula 1 e representante suíço da Porsche Jo Siffert. Em troca da oferta de JWH de mudar seu compromisso para a Porsche, ele colocou

o logo da Heuer no Porsche 908. Um Heuer Monaco novinho também passou a ser usado no pulso de Siffert. “Foi certamente uma forma amadora de ingressar no negócio da Fórmula 1”, lembra-se JWH, “mas nós fomos a primeira marca de fora dessa indústria a entrar nesse esporte de alta performance.” Como parte do acordo, em 1970 Steve McQueen usou os macacões originais de Siffert para as filmagens de As 24 Horas de Le Mans. (Siffert morreu em um acidente de corrida THE RED BULLETIN

no circuito de Brands Hatch em 1971.) O departamento de compras do filme também garantiu que ­McQueen usasse um Heuer Monaco, que instantaneamente se tornou um relógio cult. Em 1971, a sorte mais uma vez se apresentou a JWH. Enquanto ele vagava por Saint-Imier, na Suíça, conheceu Clay Regazzoni. O vencedor do Grande Prêmio Italiano estava à procura de um equipamento para cronometrar a 24 Horas de Le Mans e o circuito da Ferrari em Maranello. Dessa forma, o Heuer se tornou o cronômetro oficial da Escuderia Ferrari, com Enzo Ferrari em pessoa assinando o contrato (o grupo Tag comprou a Heuer em 1985). Por mais de 40 anos, todos os pilotos da Ferrari tiveram o logo de cinco ponteiros da Heuer nos seus carros e um igualmente marcante cronógrafo ­automático de ouro nos seus pulsos. tagheuer.com

MAIS DESEJADOS

A trinca

MODELOS ESPETACULARES ASSINADOS POR GRANDES MARCAS? SELECIONAMOS TRÊS NOVOS PARA VOCÊ Chopard Superfast Chrono Porsche 919 Edition A fabricante de relógios de Genebra recentemente se tornou a Parceira Oficial de Cronometragem da Porsche para comemorar o retorno da fabricante alemã para Le Mans. O primeiro resultado dessa parceria é o cronógrafo de aço de 45 mm, do qual apenas 919 unidades existem. A braçadeira de borracha preta imita as marcas dos pneus de carros de corrida. chopard.com

Alpina Alpiner 4 GMT Este relógio de pulso ­superelegante consegue fazer um ou dois truques. Você pode ajustá-lo para mostrar as horas de um segundo fuso horário graças a um controle a mais. Ele é lindo de todas as formas: com o dial iluminado ou escuro e com a pulseira de couro ou metal. alpina-watches.com

Tudor Heritage Black Bay

Em sentido horário, da esq. para a dir.: Niki Lauda (à esquerda) e Clay Regazzoni assinam seus patrocínios com a Heuer, um de cada lado com JWH, no início dos anos 1970; Mick Jagger em 1977 usando um Heuer Autavia; e Steve McQueen em Le Mans em 1970

Este relógio de mergulho da subsidiária da Rolex causou sensação da primeira vez que apareceu, em 2012, especialmente o modelo com detalhes em bordô. Esta nova versão em azul foi um sucesso ­instantâneo quando foi lançada, em março. Você precisa entrar em uma lista de espera para comprar um. tudorwatch.com

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AÇÃO!

BALADA

São Paulo, quinta-feira: alegria total

BALADAS LOUCAS DEBAIXO D’ÁGUA, NO GELO OU EM CIMA DA ÁRVORE. VOCÊ NUNCA IMAGINOU UMA FESTA ASSIM

SUBSIX

Niyama, Maldivas A primeira balada submarina do mundo (fica a 6 metros de profundidade). Só se chega nela com barcos especiais. Da pista você pode ver os peixes nadando.

Tá em casa   C ASA 92  A BALADA QUE É UM MARCO DA REVITALIZAÇÃO DO LARGO DA BATATA, EM SÃO PAULO, É ESPETACULAR

CASA 92 Rua Cristóvão Gonçalves, 92, Pinheiros São Paulo, SP casa92.com.br

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HOMEM DA NOITE NEY FAUSTINI, 33, É DJ HÁ 15 ANOS E ATUALMENTE PRODUZ SEU SOM TEVE ALGUMA NOITE INESQUECÍVEL? Tive várias, mas me lembro como se fosse ontem quando toquei pela primeira vez no extinto club Lov.e, em 2001, na noite do DJ Marky. Ele era referência pra mim. O QUE FAZ A NOITE PAULISTANA SER TÃO BOA? São Paulo é uma cidade que nunca dorme, caótica e intensa, onde a diversão se mistura à arte e cultura. OS INGREDIENTES PARA A FESTA PERFEITA SÃO... ...diversidade e respeito, com mais pessoas aproveitando o momento, e menos celulares. facebook.com/neyfaustini. music

Dubai, EAU Um bar de gelo numa cidade do deserto: a temperatura do salão é -6 ºC. Tudo é feito de gelo, vidro e aço. Os visitantes precisam de casacos e luvas.

TREE BAR

Limpopo, África do Sul Um dos baobás mais antigos (1 700 anos) e amplos (47 metros de circunferência) do mundo tem um bar em seu tronco. O espaço comporta 60 pessoas.

THE RED BULLETIN

CAROLINA KRIEGER E ALI KARAKAS(5), FOTOLIA(3)

Imagine um ambiente com gente bonita, serviço de qualidade, segurança e uma decoração feita com todo requinte por grandes artistas. São nove bares, quatro pistas de dança, fumódromos e áreas ­livres em todos os quatro ambientes: Casa da Família, Boulevard, Pracinha 92 e Casa 92. Além de tudo isso, a Casa 92 tem uma loja, dentro da balada, onde os clientes podem comprar objetos de deco­ ração e camisetas assinadas por Marcelo Sommer e Adriana Comparini. No calen­ dário de festas, uma se destaca pela origi­ nalidade: a noite para cachorros e seus donos. Fora os embalos caninos, a Casa recebe festas como We Love Beats, Turn Around e Let’s Jack, às quintas, e Luv e Sundaze nos finais de tarde de domingo. Com quatro anos e meio de existência, a Casa 92 inaugura ainda neste ano um bar com comida mediterrânea e coque­ telaria. Em 2015, abre o Bar da Família para seus clientes mais fiéis e amigos.

CHILLOUT


AÇÃO!

MÚSICA

D E O LH O EM 201 5 Em sua juventude, Ariel Pink gravava canções folk punk em fitas cassete fazendo a batida nas axilas. Em 2003, ele foi descoberto pelas estrelas do indie americano Animal Collective, que chegaram a fundar uma gravadora para lançar a música de Pink em grande estilo. Agora, o décimo álbum do último gênio louco da música pop está pronto: Pom Pom é uma mistura alucinada de new wave, música melosa, comercial e freak rock rabugento. O gênero “tudo misturado” de Ariel Pink também é reconhecido no setor convencional. Madonna o convidou para escrever as canções de seu próximo disco. Como tributo, ele escolheu cinco canções da ­rainha do pop que marcaram sua juventude.

Ariel Marcus Rosenberg, conhecido como Ariel Pink, 36, é o alucinado gênio pop de Los Angeles

Rei do pop chiclete  PLAYLIST  AS REFERÊNCIAS VÃO DE ANTONIO BANDERAS A MICKEY: O NOVO COMPOSITOR DE MADONNA, ARIEL PINK, E AS MÚSICAS DA RAINHA DO POP QUE MAIS O INFLUENCIARAM

1 Madonna

2 Madonna

3 Madonna

Na verdade, a música de Madonna era considerada coisa de menina na minha escola. Mas eu não me ­importava. Essa música é para mim a materialização da felicidade infantil. Quando a ouvia, fechava os olhos e imaginava que era o Mickey que a cantava e que meus pais me levavam para comprar brinquedos. O paraíso!

Como essa música me emocionava! Madonna canta sua juventude, a morte da mãe, os conflitos com o pai, a fuga do ambiente católico. A música é claramente autobiográfica. Dá para sentir nos versos e na energia. O single foi um fiasco comercial. Mas eu a consi­ dero a música mais emocionante de toda a carreira da Rainha do Pop.

Outra canção triste e inacreditavelmente bela. Mesmo que Madonna não seja conhecida por suas baladas, já nos primeiros compassos fica claro que isso é ­Madonna. Inconfundível. Não importa que ela mudasse de produtor como ­mudava de amante. O seu talento para melodias simples e geniais nos primeiros anos de carreira era incomparável.

4 Madonna

5 Madonna

A fantasia de férias mais sensual de ­todos os tempos. Quando ouço “La Isla Bonita”, quero beber martínis com Antonio Banderas em uma praia de Cancún. ­Claro que a música é uma lista de clichês: guitarras flamencas, frases em espanhol. Melhor ignorar. Porque atrás delas está uma das melhores canções pop dos anos 1980.

Para mim, o último grande clássico de Madonna. Foi lançado em 1989. Eu tinha termi­ nado a escola e trabalhava em uma loja de discos. Não gostava da MTV e de Madonna. Preferia thrash ­metal e músicas ainda mais anormais. Fantás­tica e eterna: os vocais parecendo gospels a transformam no perfeito pop ­chiclete – porém com muita qualidade.

“Borderline”

“La Isla Bonita”

SASHA EISENMAN, WARNER MUSIC, ROGER SARGENT

www.ariel-pink.com

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“Oh Father”

“Cherish”

NOMES PARA VOCÊ ESCUTAR MUITO NO ANO QUE VEM

ILOVE­ MAKONNEN Venerado por Miley Cyrus e patroci­ nado por Drake: o rapper de 25 anos consegue unir ­atmosferas oníricas com hip hop pesado. Para os fãs de Future e Drake, ouçam “Tuesday”.

“Live to Tell”

FAT WHITE FAMILY Nudez, brigas com os fãs: o sexteto de blues-punk é a maior novidade da Inglaterra. Para os fãs de Nick Cave e The Fall, ouçam “Bomb Disneyland”.

PR OTEÇÃO C O NTR A R U Í D O S GADGET DO MÊS

DUBS Os primeiros tampões para ouvidos ­hi-tech do mundo: eles fazem mais do que simplesmente bloquear as ondas ­sonoras do ambiente. Um sistema de ­filtro de frequências mantém o som original, mas o reduz em 12 dB. Perfeitos para baladas e shows ensurdecedores. getdubs.com

TINASHE Modelo, atriz, ­cantora: com baladas melancólicas, a garota de 21 anos vai direto para a liga das superstars. Para os fãs de ­Aaliyah e The W ­ eeknd, ouçam “Pretend”.

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AÇÃO!

GAMES

O espaço e suas possibilidades infinitas

CLIQUE CHIQUE ESPAÇONAVE OU MOUSE GAMER? NÃO PARECE, MAS A RESPOSTA É: MOUSE

TT ESPORTS LEVEL 10 M A Tt eSports d ­ esenvolve tecla­ dos e mouses ­ ara gamers pro­ p fissionais. Para e­ ssa preciosidade em alumínio, eles tiveram a ajuda do departamento de design da BMW.

O universo na caixa de areia

MAIS CAIXAS DE AREIA NO ESPAÇO

U NIVERSE SANDBOX ²  QUEM NÃO QUER BRINCAR DE DEUS? COM ESSE SIMULADOR ESPACIAL É POSSÍVEL O que aconteceria se de repente um asteroide gigante apa­ recesse do nada em rota de colisão com a Terra? O impacto abriria uma cratera maior que a Austrália. E a onda de cho­ que espalhada pelo planeta destruiria todas as formas de ­vida e faria os oceanos evaporarem. O que sobraria da Terra seria um pedaço de rocha morta com temperatura de um ­forno de pizza. Não soa como uma tarde de domingo ideal. A não ser que seja no Universe Sandbox ². É o que há em ­todos os jogos da série: o prazer de criar e de destruir. Não há pontuação, níveis ou chefões. As crianças nas caixas de areia também não precisam deles para se divertir. No Universe Sandbox ², como o nome diz, o universo todo é uma caixa de areia. Mas, em vez de destruir castelos de areia, você lança asteroides contra a Terra ou faz galáxias inteiras colidir. A primeira parte do Universe Sandbox saiu em 2008. Era o resultado do hobby de um único programador: Dan Dixon, de Seattle. Ele mesmo se surpreendeu que as pessoas achassem tão divertido construir sistemas solares (para destruí-­ los em seguida). A continuação precisou de três anos e uma equipe – com um ­astrônomo e uma climatologista – para ficar pronta: Universe Sandbox ². Uma Universe Sandbox ² coisa é certa: eliminar toda forma de para Windows, Mac e Linux ­vida na Terra nunca foi tão divertido. 72

LOGITECH G502 PROTEUS CORE

Engenheiros do espaço

Construir espaçonaves e estações espaciais com a tecnologia que só vai existir daqui a 50 anos: com Space Engineers é possível. No momento, o jogo ainda está em fase de testes, em processo de melhoramento e expansão. E lembra um pouco Minecraft no espaço sideral.

Para mãos de cirur­ gião: com sensor de 12 000 dpi, o Proteus Core é o mouse mais preciso do mer­ cado. E ainda parece que vai decolar a qualquer m ­ omento.

Conheça os Kerbals Eles são homenzinhos verdes e baixinhos do planeta Kerbin. Eles têm uma missão ­espacial ambiciosa. Mas, antes de se lançarem a ela, os foguetes têm de ser planejados e testados. Não que engenharia ­espacial seja uma coisa ­fácil, mas neste jogo ela é s­ urpreendentemente divertida.

MAD CATZ R.A.T. 9 Quando se trata de design audacioso, a Mad Catz é a nú­ mero um. E nesse mouse monstruoso sem fio ainda é possível ajustar peso e tamanho.

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L

UZ, CÂMERA, AÇÃO

J O G O R Á P I D O

LORENZO RICHELMY HISTÓRIA DE AMOR

Anote este nome. A série ­épica que a Netflix vai produzir e exibir, Marco Polo, terá Richelmy como o lendário explorador em batalhas grandiosas, lutas incríveis e encontros cheios de aventura. Filmada em locações asiáticas com orçamento para rivalizar com Game of Thrones, Marco Polo poderá ser o seu próximo vício

Simon Helberg, astro de The Big Bang Theory, está começando no cinema, escrevendo e dividindo a direção com sua esposa, Jocelyn Towne, na comédia We’ll Never Have ­Paris. Abaixo, ele fala de suas influências:

DON FLOOD FOR NETFLIX, JOE PUGLIESE

Por: Geoff Berkshire

the red bulletin: Essa é a sua primeira série para a TV. Como foi que surgiu a oportunidade? lorenzo richelmy: Meu agente disse que o diretor de elenco italiano não gostou de mim, então ele me falou para fazer um vídeo e mandou para o diretor principal da escolha do elenco [nos EUA]. Filmei com a minha namorada interpretando Kublai Khan. Não soube de nada por dois meses. Então viajei para os EUA para um festival de filmes e descobri no aeroporto de Filadélfia que tinha conseguido o papel. Você precisou aprender muita coisa, inclusive a falar inglês. Como se preparou? Tive seis semanas. De manhã, fazia quatro horas de treinos para o corpo. Tínhamos uma equipe chinesa de acrobacias para nos ensinar wushu, os japoneses nos treinavam para luta com espada e um coreógrafo para as cenas de luta. Depois, mais duas horas de lições de montaria, uma hora para aprender arco e flecha e mais duas horas de inglês. Você já conhecia a Malásia? Eu já tinha visitado a maior ­parte do Sudeste asiático, exceto as Filipinas e a Malásia, THE RED BULLETIN

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa

(1977) Este é, quem sabe, o filme mais romântico já feito. Ele também é tão brilhante enquanto comédia com frases memoráveis como é na análise da condição humana.

“T ivemos pessoas de 25 países, e eu era o único italiano. Não foi fácil, mas foi um sonho.” então foi bom para aumentar o repertório! Adorei o calor e a umidade, melhor que o ­Casaquistão. Atuar no frio é pior que atuar no calor. Como foram as filmagens? Eu tive algo como três dias de folga em sete meses. Tivemos pessoas de 25 países, e eu era o único italiano. Não foi fácil, mas foi um sonho. Quanto você sabia sobre Marco Polo? Ele não é um herói como ­Napoleão é para a França,

mas para Veneza ele é o maior homem que já existiu. Quando John Fusco [o criador do seriado] me falou dele pela primeira vez, era como se ele fosse o professor da universidade e eu um ignorante. Tinha que estudar e conhecê-lo. E você já conhecia a Netflix? Não tem na Itália. Pensei: “Ah! Série para a web e vão me levar para a Malásia?” Não terá na Itália nem nos próximos dois anos. Eu posso ficar com a minha vida tranquila em Roma e talvez ir para a China e ser famoso. Aí serei como Bill Murray em Encontros e ­Desencontros e fazer propaganda de bebidas em Tóquio. www.netflix.com Marco Polo estreia dia 12/12

Sideways – Entre Umas e Outras (2004)

O protagonista é um ­personagem cujo maior obstáculo é ele mesmo. É um filme com linda ­produção e simplicidade. O tom é perfeito.

Um Romance Moderno (1981)

Este filme não tem medo de mostrar um personagem em um foco não muito favorável: autodestrutivo, neurótico. Aborda os relacionamentos e sua construção na luta entre a autonomia e o egoísmo. We’ll Never Have Paris estreia nos EUA em 22/1

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30 horas Seth Troxler (acima) é um dos DJs convidados. Ele toca dois sets na comemoração do aniversário da ­Fabric: o turno da ­manhã, às 10 horas, e a after party, 20 horas mais tarde


de FESTA

200 mil beats, 8,5 mil pessoas dançando, 20 DJs, três pistas: a Fabric, a melhor balada underground de Londres, comemora seu 15º aniversário com uma festamaratona desde sábado à noite até segunda de manhã Por: Florian Obkircher   Fotos: Alex de Mora

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Sábado, 23:00

Oliver Bourke está preparado. Uma bolsa com a escova de dentes, gel para o cabelo e óculos de sol. “Noitadas ­especiais requerem medidas especiais”, diz. O designer gráfico de 25 anos, de barba por fazer, veio aqui festejar por 30 horas a fio. Porque a maior balada underground de Londres, a Fabric, comemora seus 15 anos com uma festa-­ maratona até segunda-feira. Está há uma hora na fila de 150 metros para a entrada. “Venho aqui desde que tinha 18 anos. Minha educação ­musical foi com os DJs da ­Fabric”, conta. “Hoje vamos ter 20 dos melhores DJs do mundo na largada: Ricardo Villalobos, Seth Troxler, Craig Richards...”

23:02

Um edifício vitoriano de três andares, tijolos à vista, porta de metal grande e pesada, 76

­ cima dela uma placa des­ a pretensiosa com o nome ­“fabric”, à frente das grades. À direita vão entrando os que têm ingressos, à esquerda se amontoam os que têm o nome na lista de convidados. E aqueles que esperam ter. “Aqui!”, gritam quatro pessoas à jovem com maquiagem cin­ tilante sentada à frente da porta. Jo Neill, 25, é arquiteta durante a semana e hostess da festa no fim de semana. “Nome?” “Andy Harris.” “Infelizmente não está na lista.” “Mas... Seth Troxler tinha me prometido...” “Sinto muito, querido, por favor, você precisa ir para a outra fila.” Em uma noite normal, Neill tem 300 nomes na sua lista. Hoje são 842. Quem já passou por ela passa por um detector de metais, depois é revistado pelos seguranças e, em seguida, passa pela revista das bolsas.

Domingo, 00:14

O apelido do clube é labirinto – e por uma boa razão. As três pistas de dança subterrâneas estão interligadas por duas amplas escadarias de tijolos. Elas são as principais veias de trânsito do lugar. Entre elas há balcões, bares, banheiros e inúmeras escadas de caracol e corredores estreitos onde se perder. Não há sinalização. “Sala 3? Aqui à esquerda, pelo corredor à direita, suba a escada. Entendeu?”

00:18

Na Sala 3, Keith Reilly está ­encostado no bar. Cabelo curto, barba por fazer, camiseta preta, 55 anos, o chefe da Fabric. Quando lhe perguntam sobre o 19 de outubro de 1999, ele sorri. “A primeira noite foi uma loucura. Três horas antes do início ainda não tínhamos luz”, conta. “No fim da festa, descobrimos que nenhum de nós sabia fechar o edifício.

­ ntão, ficamos aqui e conti­ E nuamos a festa.” A ideia de Reilly no começo era oferecer uma balada underground de amantes da música para amantes da música. “Um lugar no qual o visitante não fosse julgado pela roupa que está vestindo”, diz. “E isso numa época em que praticamente só havia ­clubes almo­fadinhas tocando house ­insosso em Londres.” Desde então, 4 mil artistas já participaram de cerca de 2,6 mil eventos, e mais de 5,43 milhões de pessoas ­dançaram no que foi um ­fri­gorífico um dia. Só para a festa de aniversário são ­esperadas 8,5 mil pessoas. Em 2007 e 2008, a Fabric foi considerada a melhor ­balada do mundo pela DJ ­Magazine. Qual é a receita para o sucesso? Autenticidade. “Os Guettas e Aviciis da vida não tocam aqui. Ainda que ­esses DJs estrelados e engomadinhos adorassem ter essa chance. Nós só trazemos


os DJs apaixonados pelo que fazem e criativos”, diz Reilly.

tanto que os joelhos de quem está dançando tremem.

01:15

04:15

A Sala 1 é o centro da catedral da festa. Dez metros de altura, parede de tijolos à vista, canos grossos de metal cobrem o teto. Lasers verdes cortam a fumaça. Praticamente não se pode ver o DJ porque sua cabine não é elevada e tem uma grade de 2 metros de ­altura em volta. É assim que deve ser, pois aqui a estrela é a música, que é bombardeada sobre as centenas de pessoas que estão dançando ao som de quatro caixas de som gigantescas penduradas nos cantos. O piso tem 400 sensores que transformam ­ondas sonoras em vibração. Os baixos reverberam

Um segurança grandão vigia a porta de metal ao lado do caixa eletrônico da própria ­balada. Só quem tem uma ­pulseira dourada escrita “rock star” pode entrar no ­backstage. Quem anda por aqui é importante. Ou se sente assim. Cerca de 40 figuras ­disputam os 15 metros quadrados do ­salão. Está abafado e quente. O pequeno ventilador de teto não é suficiente.

04:18

Entre os que levam a pulseira de “rock star”, Normski é a verdadeira estrela. Barba grisalha,

“OS GUETTAS DA VIDA NÃO TOCAM AQUI. AINDA QUE ESSES DJs ENGOMADOS ADORASSEM TER ESSA CHANCE.”

voz rouca, olhos brilhantes. Tapinhas nas costas e abraços o tempo todo. Normski ensinou a muitos dos que estão presentes aqui o que é house. Em finais dos anos 1980, ele era o apresentador de um programa sobre dance na TV britânica. O lema de vida do autoconfiante veterano das festas: “Eu não preciso da noite. A noite precisa de mim”. Ele é convidado de honra na Fabric há 15 anos. “Por fora, o lugar não mudou nada. Continua detonado como no começo”, diz. “E isso está certo. As pessoas vêm aqui por causa da música. Para ver os DJs da Champions League da Música tocarem. Pergunte aos DJs britânicos quais são seus objetivos profissionais. A resposta será sempre a mesma: Tocar aqui uma vez.”

Estão trabalhando 245 pessoas na maior festa do ano na Fabric. Desde o pessoal do bar e os pizzaiolos até os DJs. Um deles é Craig Richards (no topo, de camisa azul), que tem sido presença constante atrás dos controles da Sala 1 nos sábados desde a inauguração há 15 anos. À direita, abaixo: o DJ James Jackson e o veterano Normski relembram os primeiros passos do superclube nos bastidores

09:32

O hipster, irmão mais novo do Super Mario, entra nos bastidores. Seth Troxler. Cabeleira, bigode, quilinhos a mais. 77


“Seth! Seth!” Duas mulheres bonitas se jogam sobre ele para cumprimentá-lo. O DJ americano parece cansado, mesmo que só comece a tocar em uma hora. Como se preparar para uma gig às 10h30? Dormir antes ou não dormir? “A segunda opção. Acabei de chegar do aeroporto. Há algumas horas eu estava ­tocando em Amsterdã.”

11:45

Segundo a programação, os DJs Marcel Dettmann e Ben Klock deveriam ter parado há duas horas. Os DJs do lendário clube berlinense Berghain estão suando há 11 horas atrás das pickups da Sala 2. Para encerrar, eles tocam “Idioteque”, do Radiohead. Quando Dettmann sai da cabine, ele surpreendentemente não parece cansado. “As primeiras três horas foram um pouco difíceis, mas depois o tempo voou”, diz. Esse foi o set mais longo de sua carreira? 78

“Não. Uma vez toquei por 16 horas no Berghain.” Em três horas sai o voo para Amsterdã para a próxima festa.

14:00

Fim do primeiro tempo. Quinze horas de festa já se passaram. Três garotas fazem posições de ioga nos futons de couro da Sala 2. Na Sala 1, uns garotos parecem embriões colados à parede, as pernas dobradas, a cabeça entre os joelhos. Um deles é Oliver Bourke. Seus olhos já estão pequenos e vermelhos. Ele não precisa contar que esqueceu de colocar desodorante na bolsa. E está decidido a aguentar até o fim. Ele murmura: “200 mil beats. Eu fiz as contas. Trinta horas de techno são cerca de 200 mil beats. Eu não vou ­perder nenhum”.

16:05

Como se manter nutrido para a festa-maratona sem sair da

balada? Tem um carrinho de pizza no fumódromo. O cozinheiro, com seu bigode enrolado, assou umas 100 pizzas nas últimas três horas. A preferida até agora? “Smokey Seth” com tiras de bacon temperado e molho picante de jalapeño, segundo uma receita do DJ Seth Troxler. “Comida pesada”, avisa a Bourke. “Você não quer um pedaço de marguerita? É bem mais leve para o estômago.”

19:00

Um faraó com dreadlocks e óculos escuros arrasta caixas de papelão pela pista de dança. O conteúdo: perucas com cores de gosto no mínimo questionável, capacetes de proteção para construções,

máscaras de cavalo, toucas de anões, roupas de padres, chupetas gigantes. Uma tradição de aniversário na Fabric: é a única noite no ano em que se usam fantasias. O pequeno gesto tem um efeito enorme: em poucos minutos, todos os convidados estão revolvendo o conteúdo das caixas como crianças. O cansaço da tarde já desapareceu. Normski ­vestiu um vestidinho de festa vermelho muito justo. Seu corpo brilha com o suor. Ele grita com voz rouca: “Ainda preciso de uma peruca. Me deem uma peruca!”.

21:05

Um coelho sobe ao palco e se posiciona dentro de um ­castelo de sintetizadores

“30 HORAS DE TECHNO. SÃO 200 MIL BEATS. E EU NÃO QUERO PERDER NENHUM.”


­ nalógicos: Mathew Jonson, a especialista canadense do ­techno. O beat invade o am­ biente. Ele parece possuído, manipulando os controles. Bate tanto a cabeça que uma orelha da fantasia se desprega.

22:00

A loucura toma conta: um Barbapapa rosa de 2 metros sobe no palco e convida o coe­ lho-de-uma-orelha para dan­ çar. Alemães em lederhosen se misturam com pedreiros. Seth Troxler dança junto com o público – com uma touca de bebê e uma camisola de stri­ pper. “Demais!”, grita Bourke, em sua fantasia de Batman. “Devia ser assim antigamente no Studio 54.”

Segunda-feira, 01:32

São 26 horas de festa e já se nota: o chão está sujo, o ar cheira a suor, o comportamento

de cio dos rapazes já perdeu todo traço de inibição. Pare­ cem galos com o pescoço ­esticado buscando contato ­visual com as mulheres que dançam ao lado.

04:59

É o último minuto da festa. O pioneiro do techno mini­ malista Ricardo Villalobos toca um de seus grandes ­sucessos: “Easy Lee”. Muitos levantam os smartphones para gravar em vídeo os ­últimos momentos da festa-­ maratona. Três... dois... um... e??? Não acon­tece nada. O beat continua.

05:20

Oliver Bourke, que a essa hora já parece ter encarnado o Batman, diz: “Na reta final de uma festa, você entra no modo maratonista: não pensa. Continua”. Olhando para ele, é fácil identificar que já entrou nesse modo.

06:10

O DJ desliga a pickup. O beat vai ficando lento e se trans­ forma em um ruído surdo. As luzes se acendem. Os dan­ çarinos apertam os olhos, vampiros ao nascer do sol. Bourke coloca os óculos de sol e se despede, suado, mas contente. Fim da festa, depois de 32 horas.

O turno mais longo de DJs da festa-­ maratona foi o dos berlinenses Marcel Dettmann e Ben Klock (à esquerda, abaixo): 11 horas. De 1 h da ­madrugada ao meiodia. A receita de re­ sistência? “Dormir a tarde inteira antes”, sorri Dettmann

06:30

A Sala 1 está vazia. A turma da limpeza já começou há muito tempo. Silêncio abso­ luto se não fosse aquele zu­ nido no ouvido. A porta do ­backstage se abre. Um pequeno grupo dos que têm a pulseira dourada aparece e vai na dire­ ção da Sala 3. Caixas com be­ bidas estão preparadas sobre a pista de dança – o pessoal do bar já foi para casa. Seth Troxler começa a after party colocando um ­álbum de space disco. www.fabriclondon.com

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AÇÃO!

NA AGENDA

Campeonatos de surf acontecem na Praia da Cacimba do Padre A partir de 1º/1, em Fernando de Noronha

Temporada em Noronha Pense no paraíso. Agora pense nas melhores ­ondas do Brasil. Junte as duas coisas e pronto: esse é o cenário que você encontrará em Fernando de Noronha, a ilha pernambucana que recebe ­dezenas de surfistas entre dezembro e março. O motivo? As tempestades de inverno no Hemisfério Norte. A gente explica: como a ilha está em mar aberto, as praias da Cacimba, Bode, Cachorro e Conceição, que são viradas para o norte, recebem as ondulações potentes vindas das tempestades do inverno no Atlântico Norte. O resultado? Um show de surf para quem está na areia. www.noronha.pe.gov.br

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9 e 19/1, no Rio, SP e Salvador

Eletrônico Uma das estrelas do pop eletrônico, o DJ francês David Guetta, que já foi eleito o melhor do mundo pela revista DJ Mag, fará shows em três cidades do Brasil durante o verão: São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. No Rio, David se apresentará diante de milhares de fãs no Riocentro; em SP, o show acontece no Pavilhão do Anhembi; e, na Bahia, a festa será no Parque de Exposições de Salvador. Espere por hits bombásticos como “When Love Takes Over” e “Turn Me On”. Os ingressos custam a partir de R$ 200 (estudantes pagam meia). ingressorapido.com.br

THE RED BULLETIN


3 a 25/1, em São Paulo

E N SA I O S D AS ES C O L A S

Copinha A disputa mais respeitada das categorias de base do futebol brasileiro acontece em janeiro. Com a já tradicional final realizada no Pacaembu no dia do aniversário de São Paulo, a Copinha, como é conhecida, é o celeiro de grandes craques do país e contará apenas com atletas nascidos entre 1995 e 1999. Quem defende o bicampeonato é o Santos.

É O COMEÇO DO SAMBA E DA FOLIA

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www.cbf.com.br

JANEIRO

MOCIDADE ALEGRE 10/1, no Rio

Reggae roots A Fundição Progresso receberá o Natiruts, banda brasi­ liense fiel ao reggae roots instaurado por Bob Marley. A banda volta aos palcos da Fundição um ano após a gravação de seu último disco ao vivo, #NoFilter, lan­ çado no ano passado. No repertório, além de clássicos da banda, algumas releituras de músicas de Legião ­Urbana, Charlie Brown Jr. e Paralamas do Sucesso. www.fundicaoprogresso.com.br

JANEIRO

Foo Fighters

MARCELO MARAGNI/RED BULL CONTENT POOL, DIVULGAÇÃO (3), RINGO STARR, AL BELLO/ZUFFA LLC

mocidadealegre. com.br

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21, 23, 25 e 28/1, em Porto Alegre, SP, Rio e BH

MANGUEIRA O ensaio técnico da tradicional ­escola verde-e-­ rosa acontecerá na ­Sapucaí no ­domingo, dia 18. A entrada é gratuita, e o enredo da escola de figuras como Cartola homenageará as mulheres.

A banda de Dave Grohl chega de forma arrasadora em território tupiniquim. São quatro datas de megashows, sendo dois deles nos estádios do Morumbi e do Maracanã. Puro delírio para os fãs do verdadeiro rock. O Foo Fighters ­passa por aqui com sua nova turnê, do disco Sonic Highways, que já é sucesso de vendas. O novo single “Something From Nothing” é uma das canções mais esperadas – mas com certeza o público vai pedir clássicos como “This is a Call”, “Everlong” e “All My Life”.

mangueira.com.br

www.ticketsforfun.com.br

31/1, em Las Vegas

31/12, no Rio

17/1, em São Paulo

Ele voltou

Ano-novo

Ritmo de samba

Anderson Silva irá encarar seu primeiro desafio depois da trágica derrota para Chris Weidman em dezembro de 2013. O brasileiro se recuperou da fratura exposta e volta ao octógono diante do americano Nick Diaz. Será que ­teremos nocaute? ufc.com

A festa em Copacabana é ­daquelas que o mundo inteiro para e assiste. Comemorar o Réveillon no Rio é uma experiência única na vida – e na noite de 31 de dezembro para 1º de janeiro a prefeitura carioca promete, mais uma vez, um show de fogos que durará mais de 15 minutos. A festa é para todos! www.rio.rj.gov.br

A folia tem data para começar a esquentar o verão: é no dia da apresentação do Bloco do Sargento Pimenta no Cine Joia, em São Paulo. A turma inspirada nos Beatles que adapta grandes hits do quarteto de Liverpool ao ritmo das marchinhas carnavalescas promete ferver mais uma vez a noite paulistana. Imperdível. cinejoia.tv

THE RED BULLETIN

O ensaio técnico da campeã do Carnaval paulista em 2014 acontecerá no Sambódromo do Anhembi e é de graça. O enredo homenageia Marília Pêra.

Anderson Silva

25 JANEIRO

BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS A escola azul-­ e-­branca vai ­ensaiar na Sapucaí no dia 25. O en­redo conta a ­história da G ­ uiné Equatorial, en ­ omes como ­Paulinho da Viola estarão por lá. beija-flor.com.br

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Diretor de Redação Robert Sperl Redator-Chefe Alexander Macheck Editor de Generalidades Boro Petric

Diretor de Criação Erik Turek Diretor de Arte e de Criação Adjunto Kasimir Reimann

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Editora Executiva Marion Wildmann Editor Geral Daniel Kudernatsch Editores Stefan Wagner (Editor-Chefe), Werner Jessner (Chefe de Redação), Lisa Blazek, Ulrich Corazza, Arek Piatek, Andreas Rottenschlager Editores Online Kurt Vierthaler (Editor-Chefe), Andrew Swann Colaboradores Muhamed Beganovic, Georg Eckelsberger, Sophie Haslinger, Holger Potye, Clemens Stachel, Manon Steiner, Raffael Fritz, Marianne Minar, Martina Powell, Mara Simperler, Lukas Wagner, Florian Wörgötter Editores de Arte Martina de Carvalho-Hutter, Silvia Druml, Kevin Goll, Carita Najewitz, Esther Straganz Editores de Fotografia Susie Forman (Diretora de Fotografia), Rudi Übelhör (Diretor de Fotografia Adjunto), Marion Batty, Eva Kerschbaum

Ilustrador Dietmar Kainrath Diretor Editorial Franz Renkin Anúncios Internacional Patrick Stepanian Gestão de Anúncios Sabrina Schneider Marketing & Gerência de Países Stefan Ebner (Diretor), ­Manuel Otto, Elisabeth Salcher, Lukas Scharmbacher, Sara Varming

Design de Marketing Peter Knehtl (Diretor), Simone Fischer, Julia Schweikhardt, Karoline Anna Eisl Gerente de Produção Michael Bergmeister Produção Wolfgang Stecher (Diretor), Walter O. Sádaba, Matthias Zimmermann (App) Impressão Clemens Ragotzky (Diretor), Karsten Lehmann, Josef Mühlbacher Assinaturas e Distribuição Klaus Pleninger (Vendas), Peter Schiffer (Assinaturas)

Gerente Geral e Publisher Wolfgang Winter Produção de Mídia Red Bull Media House GmbH Oberst-Lepperdinger-Straße 11–15, A-5071 Wals bei Salzburg (Áustria); Tribunal de registro de empresas: Tribunal de ­justiça de S ­ alzburgo; Número de registro: FN 297115i; UID: ATU63611700

Diretores Executivos Christopher Reindl, Andreas Gall

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THE RED BULLETIN Brasil, ISSN 2308-5940 Editor Brasil Fernando Gueiros Revisão Judith Mutici, Manrico Patta Neto Venda de Anúncios Marcio Sales: (11) 3894-0207, contato@hands.com.br Redação Av. Brig. Faria Lima, 1826, sala 709 – São Paulo/SP Contato fernando.gueiros@br.redbull.com

THE RED BULLETIN África do Sul, ISSN 2079-4282 Editor África do Sul Angus Powers Editores Nancy James (Subeditora-Chefe), Joe Curran (Subeditor-Chefe Adjunto) Gerente de Projeto e Vendas Andrew Gillett Venda de Anúncios Andrew Gillett: +27 (0) 83 412 8008, andrew.gillett@za.redbull.com Impressão CTP Printers, Duminy Street, Parow-East, Cidade do Cabo 8000 Assinaturas Preço da assinatura: ZAR 228,00; 12 edições/ano www.getredbulletin.com, subs@za.redbull.com Redação South Wing, Granger Bay Court, Beach Road, V&A Waterfront, Cidade do Cabo 8001, +27 (0) 21 431 2100

THE RED BULLETIN Alemanha, ISSN 2079-4258 Editor Alemanha Andreas Rottenschlager Revisão Hans Fleißner Gerentes de Canal Christian Baur, Nina Kraus Venda de Anúncios Evelyn Kroiss, evelyn.kroiss@de.redbulletin.com Martin Olesch, martin.olesch@de.redbulletin.com Assinaturas Preço da assinatura: EUR 25,90; 12 edições/ano www.getredbulletin.com, abo@de.redbulletin.com

THE RED BULLETIN Áustria, ISSN 1995-8838 Editor Áustria Ulrich Corazza Revisão Hans Fleißner Gerente de Projeto Lukas Scharmbacher Venda de Anúncios Alfred Vrej Minassian (Diretor), Thomas Hutterer, Romana Müller; anzeigen@at.redbulletin.com Impressão Prinovis Ltd. & Co. KG, D-90471 Nuremberg Assinaturas Preço da assinatura: EUR 25,90; 12 edições/ano www.getredbulletin.com, abo@redbulletin.at Contato redaktion@at.redbulletin.com

THE RED BULLETIN Estados Unidos, ISSN 2308-586X Editor EUA Andreas Tzortzis Editora Adjunta Ann Donahue Revisão David Caplan Diretor de Publishing e Venda de Anúncios Nicholas Pavach Gerente de Projeto Melissa Thompson Venda de Anúncios Dave Szych, dave.szych@us.redbull.com (L.A.) Jay Fitzgerald, jay.fitzgerald@us.redbull.com (Nova York) Rick Bald, rick.bald@us.redbull.com (Chicago) Impressão Brown Printing Company, 668 Gravel Pike, East Greenville, PA 18041, www.bpc.com Assinaturas Preço da assinatura: US$29,95; 12 edições/ano www.getredbulletin.com, subscriptions@redbulletin.com Redação 1740 Stewart St., Santa Mônica, CA 90404 Contato 888-714-7317; customerservice@redbulletinservice.com

THE RED BULLETIN França, ISSN 2225-4722 Editor França Pierre Henri Camy Assistente de Redação Christine Vitel Tradução e Revisão Susanne & Frédéric Fortas, ­Ioris Queyroi, Christine Vitel, Gwendolyn de Vries Gerente de Canal Charlotte Le Henanff Venda de Anúncios Cathy Martin: 07 61 87 31 15, cathy.martin@fr.redbulletin.com Impressão Prinovis Ltd. & Co. KG, 90471 Nuremberg Redação 12 rue du Mail, 75002 Paris; 01 40 13 57 00

THE RED BULLETIN Irlanda, 2308-5851 Editor Irlanda Paul Wilson Editora Associada Ruth Morgan Editor de Música Florian Obkircher Subeditora-Chefe Nancy James Subeditor-Chefe Adjunto Joe Curran Venda de Anúncios Deirdre Hughes: 00 353 862488504, redbulletin@richmondmarketing.com Impressão Prinovis Ltd & Co KG, 90471 Nuremberg Redação Richmond Marketing, 1st Floor Harmony Court, Harmony Row, Dublin 2, Irlanda; +353 (1) 631 6100

THE RED BULLETIN México, ISSN 2308-5924 Editor México Alejandro García Williams Editores Pablo Nicolás Caldarola (Editor Adjunto), Gerardo Álvarez del Castillo, José Armando Aguilar Revisão Alma Rosa Guerrero, Inma Sánchez Trejo Gerente de Projeto e Vendas Rodrigo Xoconostle Waye Venda de Anúncios +5255 5357 7024, redbulletin@mx.redbull.com Assinaturas Preço da assinatura: MXP 270,00; 12 edições/ano Impressão R.R. Donnelley de México, S. de R.L. de C.V. (R.R. DONNELLEY) Av. Central no. 235, Zona Industrial Valle de Oro San Juan del Río, Q ­ uerétaro, CP 76802 Editor Responsável Rodrigo Xoconostle Waye

THE RED BULLETIN Nova Zelândia, ISSN 2079-4274 Editor Nova Zelândia Robert Tighe Editores Nancy James (Subeditora-Chefe), Joe Curran (Subeditor-Chefe Adjunto) Gerente de Projeto e Vendas Brad Morgan Venda de Anúncios Brad Morgan: brad.morgan@nz.redbull.com Impressão PMP Print, 30 Birmingham Drive, Riccarton, 8024 Christchurch Assinaturas Preço da assinatura: NZD 45,00; 12 edições/ano www.getredbulletin.com, subs@nz.redbulletin.com Redação 27 Mackelvie Street, Grey Lynn, Auckland 1021 +64 (0) 9 551 6180

THE RED BULLETIN Reino Unido, 2308-5894 Editor Reino Unido Paul Wilson Editores Florian Obkircher, Ruth Morgan, Nancy James (Subeditora-Chefe), Joe Curran (Subeditor-Chefe Adjunto) Gerente de Projeto e Vendas Sam Warriner Venda de Anúncios Georgia Howie: +44 (0) 203 117 2000, georgia.howie@uk.redbulletin.com Impressão Prinovis Ltd. & Co. KG, 90471 Nuremberg Redação 155-171 Tooley Street, Londres SE1 2JP, +44 (0) 20 3117 2100

THE RED BULLETIN Suíça, ISSN 2308-5886 Editor Suíça Arek Piatek Gerente de Canal Antonio Gasser, Melissa Burkart Revisão Hans Fleißner Venda de Anúncios Mediabox AG, Zurique: contact@mediabox.ch Assinatura Preço da assinatura: CHF 19,00; 12 edições/ano www.getredbulletin.com, abo@ch.redbulletin.com

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MOMENTO MÁGICO

Golden, Canadá 25 de março de 2014

“ 4 000 watts de lilás. 3 da manhã. Pep desce a encosta.” O fotógrafo Mike Brown descreve as gravações de Afterglow na Colúmbia Britânica

A PRÓXIMA EDIÇÃO DO RED BULLETIN SERÁ LANÇADA EM 14 DE JANEIRO DE 2015 84

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AFTERGLOW SCREENGRAB

Dez meses de trabalho e quatro toneladas de equipamento foram investidos na produção de Afterglow, um filme que combina instalações de luz e freeskiing de maneira impressionante. “Iluminamos montanhas com holofotes de 4 000 watts em várias cores”, conta o fotógrafo canadense Mike Brown. “E então seguimos o freeskier Pep Fujas às 3 da madrugada descendo a montanha lilás.” www.sweetgrass-productions.com


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