The Red Bulletin Junho de 2013 - BRA

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AÇÃO I  ESPORTE I  VIAGEM I  ARTE I  MÚSICA

UMA REVISTA ALÉM DO COMUM

JUNHO DE 2013

e dBiaixe a d i g ção de it a gra ça l

NEYMAR JR.: PRESSÃO? QUE PRESSÃO? A VEZ DO BRASIL NA COPA DAS CONFEDERAÇÕES

DENTRO DO VULCÃO

A AVENTURA MAIS QUENTE DA TERRA DA LAMA AO CAOS

BARRO E DIESEL NA F1 DA AMAZÔNIA


NOVO CITROテ起 C3

Clique e conheテァa


O MUNDO DE RED BULL

Junho 40

GAROTOS DE OURO

A Youth America’s Cup atrai os jovens velejadores que querem formar as melhores equipes do mundo.

FOTO DA CAPA: MARCELO MARAGNI FOTOS: BALAZS GARDI/RED BULL CONTENT POOL, MARCELO MARAGNI

BEM-VINDO!

Formalidades em geral costumam passar longe da gente. Então, nos permita escrever algumas linhas sobre este novo produto que você tem em mãos. A The Red Bulletin, de uma maneira bem simplificada, é uma lata de Red Bull no formato de fotografias, textos e ideias. A The Red Bulletin não é uma revista sobre Red Bull, mas a revista da Red Bull. É a oferta de um estilo de vida único, que leva você a um mundo de pessoas que se atrevem a buscar feitos inéditos e a transformar em realidade o que parecia inimaginável, de Hollywood a estrelas do futebol, de campeões mundiais de Fórmula 1 a DJs, de jogadores de vôlei de praia a base jumpers. Bem-vindo ao nosso mundo e dê asas à sua inspiração! Dietrich Mateschitz THE RED BULLETIN

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NEYMAR JR. EXCLUSIVO

Conversamos com a maior estrela da seleção sobre a cobrança que é competir diante da torcida brasileira. 3


o Mundo de red bull

Junho Nesta edição Bullevard 12 16 18 20 22 24

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NOTAS  Pelo mundo NA CABEÇA DE...  Mick Jagger ANTES E DEPOIS  Mergulho EU E MEU CORPO  Sally Fitzgibbons FÓRMULA PERFEITA  Escalada NÚMEROS DA SORTE  Star Trek

Destaques

Vulcão adentro

Depois de 15 anos tentando, Geoff Mackley conseguiu se embrenhar em um dos ambientes mais adversos do planeta.

26 Neymar Jr. é o cara

Ele fala da pressão da torcida, do   futebol brasileiro e de... videogame.

32 Na lama em Rondônia Conheça a corrida de Jericos,   a Fórmula 1 da Amazônia.

40 Velejadores do futuro 50 Prazer, Questlove

72 FAZENDO HISTÓRIA

Hoje em dia, museus não são mais um lugar onde apenas se expõe a arte. Ele são a arte.

56 Tribo do skate

O skate recuperou a esperança de uma comunidade indígena que sofreu com o abandono nos EUA.

O batera do The Roots entende de música mais do que você imagina.

56 Índio na pista

O skate trouxe esperança para uma comunidade indígena decadente.

64 Tá quente!

A expedição que desceu de rapel   um vulcão que é pura lava.

72 Mais do que museus

Uma seleção para você mergulhar   na arte em todos os sentidos.

mais corpo & mente

50 lições de um baterista

Ahmir Thompson, o Questlove, é batera do The Roots e toca diariamente no programa de Jimmy Fallon. 4

32 Tudo marrom

A categoria mais inusitada do automobilismo nacional rola em Rondônia e mistura Carnaval com barro.

86 88 90 92 96 97 98

MALAS PRONTAS  Austrália profunda MEU EQUIPO  Ryan Dungey EM FORMA  Karim Derwish vida Noturna  Bora pra balada? Na agenda  O que fazer neste mês kainrath Eventos de junho coluna  Steven Bailey

the red bulletin

fotos: bradley ambrose, vitra Design Museum, jay hanna, picturedesk.com, marcelo maragni

A Youth America's Cup é o berço   dos melhores atletas da vela.


A energiA de red Bull em trĂŞs novos sABores.

crAnBerry

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www.redBull.com.Br



S E AHAM , I N G L ATE R R A

MARÉ ALTA

“A onda é muito grande ou o farol é muito pequeno?”, perguntou um dos seguidores de Owen Humphreys no Twitter. Cinegrafista de uma rede de TV, Humphreys confirmou a primeira opção: “Amigo, foi um dos piores mares que já vi”. O farol, no muro do porto da cidade de Seaham, no condado de Durham, Inglaterra, cerca de 25 km a sudeste de Newcastle em direção a Tyne, tem 10 metros de altura; o jato d’água no alto daquela onda quebrando tem cerca de três vezes esse tamanho. twitter.com/owenhumphreys1 Foto: Owen Humphreys

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SA AR A , MAR RO CO S

CORRIDA SECA

Nenhum desafio esportivo é mais difícil que a Maratona das Areias (Marathon des Sables, em francês). É uma corrida enorme por dia, por seis dias. Quem corre precisa carregar toda a comida e equipamento. Água e os medicamentos para os primeiros-socorros estão disponíveis no trajeto. (Na lista de compras dos organizadores: 120 mil litros de água e 2.700 emplastros para bolhas nos pés.) A corrida deste ano terminou em 15 de abril. A do ano passado foi vencida por Salameh al Aqra, da Jordânia, em 19 horas, 59 minutos e 21 segundos. E ele declarou, com toda razão: “Qualquer um que cruzar a linha de chegada é um campeão”. www.darbaroud.com Foto: Erik Sampers

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LO FOTE N , N O RU EG A

ESPETACULAR Aksel Lund Svindal está acostumado a ser visto por muita gente quando esquia. Neste passeio fora das pistas, o norueguês bicampeão da Copa do Mundo, medalha de ouro olímpica super-G e vencedor de cinco medalhas de ouro em diversos campeonatos mundiais, integrava a equipe de filmagem de Being There (disponível no iTunes), um documentário sobre esqui ao redor do mundo. “É simplesmente a natureza em estado bruto”, disse sobre as filmagens. “E você esquiando no momento.” Ele é o que está sorrindo para a câmera. www.fieldproductions.com Foto: Mattias Fredriksson

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YO R K S H I R E DALE S , I N G L ATE R R A

NA HORA DO FLASH

“Cavernas não têm luz natural”, diz o fotógrafo de aventura Robbie Shone. “Então é nossa missão conseguir isso”. Em uma de suas expedições, na Boxhead Pot, uma das diversas cavernas no gigantesco parque na divisa da Inglaterra com o País de Gales, Shone teve problemas. “Eu estava em baixo do Sam Allshorn, na mesma corda, girando sem parar. No topo, o gelo começou a derreter e a água gelada começou a despencar. O barulho era ensurdecedor, não dava para se comunicar. Logo, meus flashes começaram a falhar e não consegui mais efetuar os disparos”.  Dentro dos buracos: www.shonephotography.com  Foto: Robbie Shone

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Bullevard Sua dose mensal de esporte e cultura

Você vai para Veneza? A partir de 1º de junho, a Bienal de Veneza vai exibir o trabalho de 150 artistas de 37 países. Conheça os quatro maiores talentos

1. SARAH SZE A representante dos EUA criou esculturas de itens do dia a dia especialmente para a mostra.

2. TAVARES STRACHAN Das Bahamas, sua obra tem um vídeo reencenando uma expedição ao Polo Norte de 1909.

BATE NA MADEIRA Como fazer uma coisa antiga ficar muito, muito nova Até onde Ferruccio Laviani sabe, móveis ficam mais interessantes quando a tradição encontra a modernidade. E “encontro”, para o designer, significa duas eras artísticas colidindo sem airbags. “Eu me sinto como o filho rebelde de uma boa família que tira as relíquias da avó para uma ocupação e faz algo novo com elas”, diz o artista de 52 anos. Esta abordagem foi largamente aplicada em “F***-se Os Clássicos!”, sua recente coleção para a loja de móveis italiana Fratelli Boffi, que exibiu uma série de peças que recriou móveis domésticos da exata maneira que o título sugere. Uma arca de peças íntimas e uma mesa qualquer com o que aparentam ser buracos feitos por raios laser. Mesas com partes de 1753 e 2053. E o mais impressionante de tudo, há “Boas Vibrações”, um armário de carvalho feito à mão (direita) que dá a impressão de estar em pausa num vídeo VHS. “Eu gosto da ideia de ter um móvel em casa que parece estar sofrendo uma interferência”, ele explica. “Isto realmente arrebata você ao passar por ele”, diz.

Móveis para a era digital: o armário de Laviani

www.laviani.com 3. JOANA VASCONCELOS O pavilhão português será flutuante, diz a artista, conhecida por trabalhar tecidos.

NEGATIVOS

A SUA FOTO AQUI Você já tirou uma foto com o sabor da Red Bull? 4. AKRAM ZAATARI “Carta a um Piloto que se Recusa” é a obra do artista libanês que mexe com fotos e vídeos.

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Todo mês a gente faz uma seleção com nossas favoritas. phototicker@redbulletin.com

Nova York

O ciclista de BMX Edwin De La Rosa anda pelas ruas da Big Apple. Stan Evans Stan Evans THE RED BULLETIN


Nos ouvidos

Músicas de 10, 20 e 30 anos atrás que ainda soam novas

Novo na praia: Sebastian Fuchs (direita) é a nova dupla de Julius Brink

FOTOS: FERRUCCIO LAVIANI, GUARDIAN NEWS & MEDIA LTD., TAVARES STRACHAN, GETTY IMAGES, PICTUREDESK.COM, IMAGO (2), TIM LÜDIN/RED BULL CONTENT POOL (2)

A escolha do campeão olímpico Quando Jonas Reckermann se aposentou, o campeão olímpico de vôlei de praia, o alemão Julius Brink, teve de encontrar uma nova dupla. Sebastian Fuchs E o cara escolhido foi Sebastian Fuchs, de 26 anos, 2,03 m de altura, braços compridos e um pulo excelente. O ex-jogador de vôlei de quadra está ansioso para começar a jornada pelo ouro na Olimpíada do Rio. “É muito motivador formar dupla com o melhor jogador defensivo dos últimos quatro anos”, diz. “Julius é um atleta maravilhoso que dá 100% em cada treino, em cada rally. Ele é um exemplo de atitude.” Agora eles são parceiros: “Eu tive a oportunidade de conhecer Julius como uma pessoa muito atenciosa, que gosta de se divertir. O espírito de equipe é extremamente importante para ele e agora eu posso aproveitar isso diariamente”. www.fivb.org

Nogaro

Sébastien Loeb começou muito bem o campeonato da FIA GT, na França. François Flamand THE RED BULLETIN

FOUR TET: “ROUNDS” (2003) Uma delicada obra prima eletrônica, insuperável como trilha sonora para coquetéis em uma estação espacial.

PJ HARVEY: “RID OF ME” (1993) O momento em que os punks arrumados molharam o dedo no mainstream foi um marco da música.

NA MIRA DELA Beitske Visser, de 18 anos, é a cor­ redora mais talentosa da Europa. Ela fez Schuma­ cher suar e agora quer uma chance contra Vettel the red bulletin: Em 2012, você terminou em oitavo no ADAC Formel Masters, a ­série open-wheel alemã, vencendo a corrida na condição de estreante e como única mulher no grid. Você deve estar com objetivos muito ambiciosos para esta temporada, não? beitske visser: Com certeza. E é uma ambição realista por­ que eu aprendi a me adaptar bem a carros de corrida mais rápidos, estilo Fórmula. E depois? Quero o título da Fórmula 1. Sebastian Vettel deve ter algo a dizer sobre isso. Ele é meu ídolo. Seria um sonho correr contra ele. Nós percorremos um caminho pare­ cido, ele também foi da equipe

Red Bull Junior antes da Fórmula 1. A Danica Patrick, estrela da NASCAR, é considerada a melhor piloto mulher. Você se espelha nela? Sim, mas eu prefiro ser melhor do que ela. Você já protagonizou episódio que constrangeu o Ralf Schumacher. Como foi isso? Foi em uma corrida de kart na Alemanha. Eu liderei pela maior parte da prova e ele estava em segundo quando me jogou para fora da pista na última volta. Ele foi punido e ficou bravo. A penalidade foi cancelada, mas foi engraçado ver como ele ficou contrariado porque uma garota foi mais rápida do que ele na corrida. www.redbulljuniorteam.com

TALKING HEADS: “SPEAKING IN TONGUES” (1983) Chamado de “pací­ fico” e “sanguinário”, este grito de revolta de um jovem de 24 anos é pura brutalidade.

Colombo

Os capitães com o troféu do Red Bull Campus Cricket, no Sri Lanka. A Índia foi campeã. Dimitri Crusz

Beitske Visser sonha com a F1

Pretoria

Muitos braços no campeonato de dança de rua sul-africano do Red Bull Beat Battle. Mpumelelo Macu

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Bullevard

Talvez a pessoa que você mais xingou em sua vida? Quem sabe... Os juízes de futebol são para-raios de impropérios desferidos pelos torcedores de todo o mundo. Mas será que você, no lugar dele, acertaria as decisões? Esse é o tipo de experiência que o Museu do Futebol, que fica no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, traz a você até o dia 9 de junho. A exposição “Será que foi, seu juiz?” conta com tecnologia e ilusão de óptica para colocar o espectador na pele do homem de preto. São situações que simulam impedimento e decisões que, para quem está na torcida ou no sofá de casa, parecem extremamente óbvias, mas que não são nem um pouco claras quando vistas do ponto de vista do juiz. www.museudofutebol.org.br Nas ondas da Barra: Parko foi vice em 2012

AGORA É NO RIO

Adriano de Souza fala sobre sua conquista histórica na última etapa do circuito, na Austrália, e as expectativas para o WCT do Rio, neste mês A moderna Sala das Copas

Dias de hambúrguer A segunda edição do festival de hambúrgueres em São Paulo, o SP Burger Fest, está confirmada para a segunda quinzena de maio, de 14 a 28. São restaurantes dos mais variados estilos e lanchonetes de toda cidade preparando receitas inéditas de hambúrgueres. Seja o estabelecimento uma hamburgueria tradicional ou com outras propostas, como cantinas, tascas e bistrôs, o desafio está aberto. O português Tasca da Esquina, por exemplo, deverá repetir o sucesso que foi o sanduíche de atum que fez na edição do ano passado. Ele é servido no prato, o peixe é selado sobre chutney de pimentão defumado, coberto por um ovo frito­­e vem sempre acompanhado de chips de mandioquinha. www.facebook.com/SPBurgerFest

Santiago Visão panorâmica no Chile: Tom Weissenberger e seu paraglider. Juan Luis De Heeckeren

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Rio de Janeiro

Preparação para a temporada “Comecei os treinamentos antes da primeira etapa. Foram muitos treinos físicos e natação. Cheguei na Austrália no começo de janeiro para treinar nas ondas e acostumar com o fuso horário. Ou seja, foi tudo muito bem planejado até eu chegar em Bells.” Campeão em Bells Beach “Os australianos viram uma tempestade chegando! Seria o Brazilian Storm? (risos). Ficaram chocados com a minha atuação, mas sei que os locais de lá não foram surpreendidos, pois eles sempre viram, ano após ano, como me dediquei naquela onda. O mais difícil da vitória foi a bateria contra o Mick Fanning, que é meu ídolo, competia em casa e defendia o título.” WCT no Rio de Janeiro “Treinei muito na Indonésia nas últimas semanas. Quero me aperfeiçoar para encaixar outro bom resultado no Brasil. Adoro as ondas do Arpoador, Barra e Postinho, onde o campeonato é disputado.” Corrida para o título de 2013 “Respeito todos os competidores, e com certeza o Kelly, mais uma vez, vai ser o cara a ser batido. Por outro lado, temos força brasileira. Acredito muito no potencial do Gabriel Medina para esta temporada.” Adriano Billabong Rio Pro: de 8 a 19 de maio, www.wctbrasil.com

As garotas de Ipanema batem um bolão no Red Bull Roda de Bola. Marcelo Maragni

de Souza

Montpellier

Na França rolou a “Copa do Mundo do Breakdance” e foi sensacional. Markus Berger THE RED BULLETIN

TEXTO: FERNANDO GUEIROS. FOTOS: KOLESKY/NIKON/RED BULL CONTENT POOL, MARCELO MARAGNI/RED BULL CONTENT POOL, SHUTTERSTOCK, DIVULGAÇÃO

Pega essa, juizão!


Bullevard

ONDE ESTÁ SUA CABEÇA?

MICK JAGGER

Documentários, shows, livros e, claro, uma nova coletânea dos maiores sucessos marcam os 50 anos dos Rolling Stones. A satisfação certamente já foi alcançada a essa altura, mas o que mais está rolando para Sir Mick?

Start Me Up

Michael Phillip Jagger nasceu em 16 de julho de 1943, em Dartford, Kent. Seu pai, Joe, era professor de Educação Física, a mãe, Eva, era cabeleireira. Chris, o irmão mais novo, é um músico que lançou sete álbuns. Até ir para a London School of Economics em 1961, o jovem Jagger era conhecido como Mike.

You Can Always Get What You Want

Durante a turnê A Bigger Bang Tour, de 2005, Jagger exigiu canais de TV para assistir a cricket no cama­ rim. Em 1997, ao perder um jogo por não ter transmis­ são, ele abriu uma empresa para comprar os direitos de transmissão online.

Com os Beatles

Parceiro Keith

Jagger tinha 18 anos quando os Stones fizeram seu primeiro show – isso foi em 1964. Em 1966 eles eram os maiores rivais dos Beatles. No futuro, Paul McCartney passaria a lua de mel na casa de Mick, na ilha de Mustique. “Paul é muito legal e fácil de lidar”, disse Jagger, em 1995.

Nascidos com uma diferença de 145 dias no mesmo hospital de Kent – hoje uma clínica que cuida de idosos –, Keith Richards e Mick Jagger se conheceram na adolescência, em 1961. “Você precisa aturaras boba­ gens; é como casamento”, disse Richards sobre a dupla, em sua biografia.

TEXTO: PAUL WILSON. ILUSTRAÇÃO: LIE-INS AND TIGERS

Simpatia para os Demônios

Após terem sido culpados pela morte de um fã em um show dos Stones de 1969, os Hells Angels planejaram matar Jagger em uma casa de Long Island, em Nova York, mas o barco que levava os motociclistas virou.

Sir Mick

Mick Jagger, guitarrista

Além dos vocais, da harmô­ nica e de muita arrogância, Mick contribuiu tocando guitarra em vários discos dos Rolling Stones: “Sway”, em Sticky Fingers (1971), “Stop Breaking Down”, em Exile On Main St. (1972), e “Fingerprint File”, em It’s Only Rock'N'Roll (1974).

Na atividade

Em 2011, Jagger gravou com o SuperHeavy, uma superbanda com Joss Stone, AR Rahman, Damian Marley e Dave Stewart, e embarcou no Twitter. Ele tuíta e posta fotos: uma com um presente de aniversário de 69 anos, outra em Paris gravando para o disco mais recente, GRRR!

Sobre Jagger ter se tornado Sir em 2003, Charlie Watts disse: “Qualquer outro seria linchado: 18 mulheres, 20 filhos e ele virou Sir. Não é fantástico?” Charlie é o mais velhor da banda, nascido em 1941. Jagger é o segundo, seguido por Keith (dezembro de 1943) e Ronnie (1947).

www.rollingstones.com THE RED BULLETIN

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ANTES E DEPOIS

OLHAR EM PROFUNDIDADE

O cenário nas profundezas do mar sempre foi o mesmo, mas a forma como o exploramos mudou radicalmente

VISOR

Vidro bem fino envolvido por bronze. Vantagem: pode ser aberto na superfície, em terra. Desvantagem: em caso de o mergulhador se debater debaixo d’água, o vidro pode se quebrar facilmente

MATERIAIS

Liga de bronze reforçada. O interior branco era intencional, supõe-se que a cor fora pensada para reduzir a claustrofobia do mergulhador

VEDAÇÃO

O colarinho da roupa de mergulho fica preso entre as partes da cabeça e do ombro e, com ajuda externa, é parafusado em três pontos. Um pouco violento, mas à prova d’água

1971 CAPACETE DE TRÊS PARAFUSOS (URSS) Esta engenhoca, parte de uma roupa de mergulho atmosférica, foi usada pela Marinha ­Soviética em até 40 metros de profundidade. O ar era bombeado para dentro por meio de uma mangueira conectada à superfície. Entretanto, o ar que o mergulhador exalava ficava dentro do capacete, o que tornava a experiência dentro do escafandro intensa. Só quando a pressão atingia um nível relativamente alto, uma abertura permitia que o ar saísse.

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Na parte de trás: dupla conexão de mangueira de ar e uma válvula para equilibrar a pressão www.rusnavy.com

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Bullevard

VISOR

MATERIAIS

O imponente painel do capacete é de policarbonato e à prova de arranhões. Ele mantém a temperatura e, graças ao fluxo de ar interno projetado para desembaciar, tem garantia contra umidificação

Revestimento de fibra de vidro e fibra de carbono. Resistente à pressão e com isolante elétrico. O isolamento é importante para se trabalhar com cabos submarinos de eletricidade

VEDAÇÃO

O mergulhador utiliza no pescoço um encaixe de alumínio, onde o capacete se ajusta perfeitamente. O interior se mantém seco até em mergulhos “de cabeça para baixo”

FOTOS: KURT KEINRATH

2012 KIRBY MORGAN 37 O KM 37 foi concebido para operações de salvamento em águas contaminadas e projetado para tornar a vida dos mergulhadores o mais confortável possível. O ar alcança o interior do capacete a partir de cilindros de ar comprimido (montados nas costas), o dióxido de carbono exalado flui através do regulador abaixo do visor e um sistema de ventilação interior melhora ainda mais a qualidade do ar. Tem também reserva de gás e rádio.

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O capacete conecta com os cilindros de ar comprimido; o sistema de rádio fica logo embaixo www.kmdsi.com

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B U L L E VA R D

FÓRMULA PERFEITA

SEGURA!

TEXTO: MARTIN APOLIN. FOTO: REINHARD FICHTINGER, STEFAN SCHLUMPF/RED BULL CONTENT POOL. ILUSTRAÇÃ: MANDY FISCHER

As agarradas com os dedos que são típicas dos alpinistas têm fundamento na realidade. Aqui explicamos a física desta pegada formidável

A PEGADA EM NÚMEROS “Qual é a correlação entre a profundidade de uma agarrada e a força máxima vertical que os dedos podem suportar na pegada de dedos meio dobrados [figura 1]?”, pergunta o dr. Martin Apolin, professor da Faculdade de Física da Universidade de Viena. “Um estudo de 2012 testou alpinistas que se penduravam em uma saliência com uma das mãos. A ideia era medir objetivamente a força do dedo. Os participantes eram todos alpinistas experientes. A figura 2 mostra a correlação entre a profundidade da saliência e a força do dedo: a força aumenta com a intensidade da pegada e atinge o ponto máximo em 520N. Kilian Fischhuber, pentacampeão da Copa do Mundo de escalada esportiva [tipo de alpinismo curto e rápido], teve a força dos seus dedos medidos com impressionantes 800N. “O peso do corpo em Newtons, FG, é determinado por FG = mg: m é a massa do alpinista e g é a gravidade (cerca de 10 m/s2). Pesando 63 kg, Fischhuber tem um peso corporal de cerca de 630N. Com um pequeno aumento na intensidade da pegada, ele poderia facilmente segurar com uma das mãos; este não seria o A estrela austríaca das montanhas Kilian caso dos outros alpinistas com o mesmo peso Fischhuber, de 29 anos, que se submeteram ao teste. foi campeão mundial “Os dedos têm diversas articulações, mas de escalada esportiva aqui os consideramos como uma unidade em 2005, 2007, 2008, integral. Para ter uma alavanca equilibrada, 2009 e 2011 tentamos explicar assim: força, Fk, multiplicada pela alavanca do braço, r, é igual à carga, FL , multiplicada pela alavanca do braço, rL , ou Fkrk = FLrL (figura 3). O flexor digitorum superficialis é o músculo responsável pelo desvio da articulação do dedo médio; sua força, FM, nós estimamos em 650N. Porém, como seus tendões puxam em um ângulo, o componente da força vertical, FK, é decisivo. Portanto, nós fazemos uma modificação: FK = FMcosα e portanto FL = FMcosα (rk/rL). “Assumindo a mesma força muscular, a força do dedo é indiretamente proporcional à carga do braço rL (FL ~ 1/rL). Dependendo de onde o principal ponto de apoio do dedo está, isto é, onde FL entra em efeito, a carga do braço muda. Com uma pegada profunda, esse ponto está mais perto do pivot, então rL é menor (por exemplo, 2cm) e FL é portanto maior (450N). Se a pegada for mais estreita, esse ponto se afasta do pivot, rL aumenta (3cm) e FL diminui (300N) (figura 3). É claro que há outros músculos do antebraço que aumentam a força dos dedos. Mas com esse modelo compreendemos porque a força dos dedos diminui com pegadas mais estreitas.” ­ VAMOS DAR AS MÃOS Como se aumenta a força dos dedos? “Treinando com uma campus board – tábua de madeira com grades horizontais presas nela”, diz Kilian Fischhuber. Na falta de equipamentos profissionais, é possível treinar a pegada ficando dependurado em casa. “Um revestimento de porta bem firme pode funcionar”, diz Fischhuber. 21


Bullevard

1  RESPEITO AO MAR Assim que você entra na água, seu corpo fica em uma espécie de estado de alerta. Para surfar é necessário que se tenha reações rápidas, uma excelente noção de espaço e uma compreensão bem apurada de como o oceano se comporta.

EU E MEU CORPO

REMANDO FORTE

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Quebrei meu pulso esquerdo no final de 2011 surfando em Fiji, quando fui arremessada sobre os corais. Ficar seis semanas sem poder surfar no verão australiano foi muito­­­ chato, quase fiquei louca.

SALLY FITZGIBBONS

Aos 17 anos, a austra­liana se tornou a mais jovem surfista a se classificar para o Circuito Mundial da ASP. Nas últimas três temporadas, ela sempre ficou entre as melhores classificadas. Agora, aos 22 anos, Sally está pronta para ser campeã

DOR CONTROLADA

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Machuquei minhas costas surfando na Gold Coast em 2009, durante minha primeira competição na ASP World Tour. Levei cinco meses para melhorar. Segui com­petindo com dor para não perder meu lugar na temporada seguinte.

www.sallyfitzgibbons.com

5 APNEIA

Sou assídua frequentadora dos campos de treino da Red Bull. Ano passado, em um curso de mergulho, aprendi como segurar a respiração por quatro minutos e manter a calma na água em situações de perigo. Isso pode salvar a vida de nós surfistas.

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No surf você trabalha c­ ostas, pernas e bumbum em harmonia. É por isso que eu faço treino funcional. Minhas coxas são meus ­músculos mais importantes, nelas busco força para as manobras. Por isso faço milhões de agachamentos de todos os tipos.

THE RED BULLETIN

TEXTO: ULRICH CORAZZA. FOTO: KATIE KAARS CREDIT:

AGACHAMENTOS


Bullevard

NÚMEROS DA SORTE

STAR TREK

Com a estreia de Star Trek Into Darkness no início de maio, viajamos pelos 47 anos (e milhões de anos-luz) da saga de ficção científica mais lucrativa da história

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TEXTO: CREDIT: FLORIAN OBKIRCHER. FOTOS: KOBAL COLLECTION, PICTUREDESK.COM (3), GETTY IMAGES (2), IMAGO, REX FEATURES, CORBIS

A nave estelar USS Enterprise pairou pela primeira vez nas telinhas norte-americanas em 8 de setembro de 1966, mas aterrissou após três temporadas de pouco público. Star Trek passou a ter mais repercussão quando as reprises eram exibidas. Foram cinco séries diferentes que viraram um marco na TV. Assistir a todos os 726 episódios de uma vez levaria três semanas.

1985

A primeira USS Enterprise

Mr. Spock e Capitão Kirk hoje… …e na época

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O ex-piloto e policial Gene Roddenberry escreveu o primeiro roteiro de Star Trek em 1964. Roddenberry foi o padrinho de Star Trek e trabalhou em programas de TV e filmes até sua morte, aos 70 anos, em 1991. Em 1997, um pouco de suas cinzas foi parar no espaço com um foguete, no primeiro “enterro espacial”.

Estação espacial Deep Space Nine

Trekkie azul

Tenente Worf, Klingon

THE RED BULLETIN

Tenente Uhura

47

O roteirista de Star Trek: A Nova Geração, Joe Menosky, formou-se em 1979 na Universidade Pomona (Califórnia) onde, em 1964, um professor apresentou a teoria de que o número 47 tem maior ocorrência no universo do que qualquer outro. Menosky incluiu a tese com frequência nos episódios; roteiristas de toda a franquia seguiram o exemplo.

385.680.446

400.000 Nenhuma série televisiva tem mais fãs que Star Trek. Em 1994, houve 130 convenções de fanáticos em todo o mundo, com mais de 400 mil participantes. Há alguns “Trekkers” famosos: Martin Luther King elogiou Tenente Uhura como um modelo de mulher afroamericana, enquanto Barack Obama providenciou uma exibição especial do filme de 2009 na Casa Branca.

Os Klingons são uma raça de guerreiros com um idioma próprio, desenvolvido pelo linguista Marc Okrand após seu trabalho em Star Trek III: À Procura de Spock. O dicionário Klingon foi publicado pela primeira vez em 1985. De acordo com o livro Guinness, Klingon é o idioma fictício mais falado no mundo.

Gene Roddenberry

Desde Star Trek – O Filme, de 1979, outros 10 filmes da saga foram lançados. O mais recente é de 2009 e faturou mais de US$ 380 milhões nos cinemas em todo o mundo, tornando-se a maior arrecadação da franquia em todos os tempos, mesmo com os preços atualizados. Um sucesso ainda maior é previsto para a sequência Star Trek Into Darkness, que será lançada no dia 15 de maio.

www.startrekmovie.com

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O grande desafio de

JR.

NEYMAR A principal competição internacional disputada pela Seleção Brasileira no Brasil desde 1950 acontecerá em junho. E adivinha para quem os holofotes estão voltados?

CREDIT:

ENTREVISTA: BENJAMIN BACK  FOTOS: MARCELO MARAGNI

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om a rapidez de quem desce pela esquerda correndo com a bola no pé, Neymar Jr. entra no vestiário do Santos pela porta dos fundos. Veste jeans, camisa polo e boné. Está na Vila Belmiro para participar do Red Bull Príncipe da Vila, evento que encerra o centenário do Santos Futebol Clube e dá início ao 101º ano da história do alvinegro praiano. Antes de se sentar no trono montado em pleno gramado da Vila Belmiro, Neymar Jr., de 21 anos, fez alguns retratos para a Red Bulletin. O atleta mais badalado do Brasil é atencioso com todos que estão por ali – assessores, câmeras, repórteres, seguranças. Magro, tranquilo e sempre sorridente, faz algumas brincadeiras com os amigos que estão por perto. Fotos feitas, ele caminha para o túnel que dá acesso ao campo, onde a festa está armada. No Red Bull Príncipe da Vila, garotos das escolas locais passaram por uma triagem e estão hoje no gramado do estádio do Santos para acertar chutes em alvos montados na arquibancada. São 101 meninos na disputa. Cada alvo tem um valor e se classifica aquele que somar mais pontos nos cinco chutes a que tem direito. O vencedor leva um par de chuteiras do craque. O jogador mais poderoso do Brasil tem uma forte identidade com seu time e com os torcedores. Por onde passa, especialmente nos arredores do estádio, o furor acontece. Meninas gritando, meninos com canetas em busca de autógrafo, fotógrafos, imprensa... O ídolo manteve-se firme no Santos mesmo com o imenso assédio dos clubes estrangeiros nos últimos anos. Hoje, Neymar Jr. também é o principal atleta e alvo das cobranças na Seleção Brasileira. O nosso camisa 11 está acostumado a ser notícia no mundo inteiro, como uma espécie de talento misterioso. Mas, se depender do sorriso fácil, do potencial e da malandragem do atacante, nada disso vai tirar o seu sono. Após ajudar os participantes a acertarem alguns dos alvos nas semifinais do evento e presentear o vencedor com suas chuteiras, ele volta ao vestiário. Ele tira o tênis e brinca descalço com a bola, totalmente descontraído. Seu pé estava levemente dolorido devido à partida disputada no dia anterior – pelo campeonato paulista, ele fez “apenas” quatro gols no jogo. Depois de algumas embaixadinhas, se sentou para conversar com a Bulletin. 28

the red bulletin: Ontem você “só” marcou quatro gols. Como é isso para você e para a equipe? neymar jr.: Fico muito feliz e eles também. Brincam, falam. No final do jogo a gente até tirou uma foto. O ambiente do Santos é maravilhoso. Todo mundo fala com todo mundo, não tem picuinha, não tem frescura. Ninguém nunca teve uma crise de ciúmes desde que você está no Santos? Eu acho que tá acabando isso de vaidade ou ciúmes no futebol. Graças a Deus isso nunca teve no Santos. Tem que acabar com isso, não precisa disso. Cada jogador tem sua história, seu contrato, independente de quanto ganha. Se a pessoa está ganhando aquilo, é porque merece. Meus pais sempre me ensinaram isso desde pequeno, a não ter ciúmes de nada. Eu também sempre fui muito relax, nunca tive muito problema com isso. Você falou “tem que acabar com isso no futebol”. Não acha que outras coisas também precisam acabar no futebol? Hoje tem gente que acha o drible uma ofensa, uma brincadeira arrogante... O futebol às vezes é engraçado, às vezes é um pouco chato. Tem umas coisas que, por exemplo, o Viola [ex-jogador], no jeito que ele comemorava o gol, o jeito que imitava bichos, subia na arquibancada... É engraçado. O legal do futebol é você brincar com um amigo. Você tem um amigo que torce para outro time e você zoa com ele. É uma brincadeira, mas tem muita gente que leva para o lado pessoal e fica se sentindo ofendida. Em breve vamos ter a Copa das Confederações. Só vi três caras totalmente tranquilos no futebol: o Ronaldo, o Romário e você. Tanto faz o jogo e

vocês entram desencanados. Como está a sua cabeça para a Copa das Confederações? Você está preparado para essa cobrança? Temos um grupo bem difícil, considerado o grupo da morte. São equipes com qualidades gigantescas. Mas me preparando psicologicamente não estou. Estou me preparando fisicamente. No psicológico eu tô tranquilo e fisicamente tô me preparando. A cada treino e a cada jogo eu me preparo para a Copa das Confederações. Cobrança existe, é normal no futebol. No clube, na Seleção. Ainda mais na Seleção, por ter uma história fantástica. A Seleção Brasileira, em qualquer campeonato que entra, é uma das favoritas. Então a gente tem que honrar isso. Mas tem que ser jogando futebol, não falando. Você já se imaginou numa final de Copa das Confederações, com o Maracanã lotado? Claro. A gente sonha. Tem que sonhar. Sempre sonho com todos os jogos, sempre ajudando a Seleção, o Santos. Na concentração ou antes da partida, eu procuro deitar e imaginar os lances. Eu faço isso em todos os jogos. Penso: “Se eu pegar a bola desse jeito, vou fazer isso e isso”. Quando estou no caminho para o jogo é o que mais faço. O que você vai imaginar contra a Itália (último adversário do Brasil na primeira fase)? Ah, vamos bagunçar a zaga da Itália! Deus te ouça! Vamos entortar aqueles caras! Mas temos o México também... É, virou o carrapato. O México é um time de muita qualidade. Tem jogadores de qualidade, e a gente espera reverter essa história. Nada melhor do que fazer isso agora na Copa das Confederações.

“ Não estou me

preparando psicologicamente, mas sim, fisicamente. Cada treino e cada jogo é um preparo para a Copa das Confederações. ”


Neymar Jr. antes do jogo: “Procuro deitar e imaginar os lances. Faço isso em todas as partidas.”


CREDIT:


Qual é o seu palpite para a final da Copa das Confederações? Espero que seja Brasil e... (longa pausa) Vai, acho que vai dar Brasil e Espanha. Com Brasil campeão. Um a zero? Mais, pô! Tem que pensar grande. É que uma seleção com Xavi e Iniesta não é fácil... Eu sei, mas tem que pensar grande. Vamos sonhar alto. Dois a zero. Dois do Neymar Jr.? Um passe já tá bom demais! Você fica chateado quando falam que o Neymar Jr. do Santos não é o mesmo da Seleção? Não me incomodo. E acho também que é uma coisa diferente. É o estilo de jogar, os jogadores são diferentes... A gente não está entrosado na Seleção. No Santos já tem um entrosamento. Meus companheiros de Santos já sabem onde estou, o que vou fazer, se posicionam diferente. Mas agora a gente vai ter tempo para trabalhar na Seleção, então vai melhorar. O Paul Breitner, um dos maiores jogadores da história do futebol alemão e dirigente do Bayern de Munique, disse numa entrevista que o brasileiro vive muito à sombra do passado. O que você acha disso? Não sei se vive à sombra do passado. Mas, com certeza, os times europeus cresceram muito no quesito tático. Taticamente os jogadores são todos bem corretos em suas funções. É diferente do que acontece por aqui. Aqui a gente fica mais à vontade. Lá não, são todos muito bem posicionados. Um atrás do outro, muita força física, difícil de conseguir passar. Mas também não é nem só a força física, eles fazem linha de quatro

Está valendo A Copa das Confederações reúne os campeões de cada continente e o campeão mundial. Será a primeira vez que o Brasil receberá o torneio – o último teste antes da Copa do Mundo de 2014. A Copa das Confederações será disputada em Brasília, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Salvador e Rio de Janeiro. São dois grupos na primeira fase. De cada um saem dois classificados. No grupo do Brasil (Grupo A) estão México, Japão e Itália. No Grupo B, Espanha, Uruguai, Taiti e Nigéria disputam as vagas. A fase de grupos acontece do dia 15 a 23 de junho. As semifinais serão disputadas nos dias 26 e 27, em Belo Horizonte e Fortaleza, respectivamente, e a final será no dia 30, no Maracanã.

e diminuem o campo, fica difícil para a outra equipe. Mas a gente vai se encaixando e vamos dar o que falar ainda. No futebol existe a oscilação, isso é inevitável, acontece no mundo inteiro e é claro que nós, jogadores, ficamos tristes, pois sempre queremos dar o melhor e vencer, é o nosso trabalho. O Pelé disse recentemente que a Seleção Brasileira deveria ter a base do Corinthians, mas com o Neymar Jr.. Você concorda? Hoje, se você for ver, a base da seleção alemã é o Bayern e o Borussia, e da seleção da Espanha é o Barcelona e o Real, por exemplo. Pelo que ele falou do entrosamento, eu até concordo, isso faz muita diferença. O Brasil tem uma coisa que nenhuma seleção tem, que é a qualidade dos jogadores por aqui. É muito alta.

“ O Brasil tem uma

coisa que nenhuma seleção tem, que é a qualidade dos jogadores. Tem mais do que em qualquer lugar. Só falta colocar em prática. ”

Se você parar para pensar, é mais alta que em qualquer lugar. Só falta colocar em prática. É isso o que queremos fazer logo. O mundo inteiro está impressionado com o desempenho dos times alemães nas finais da Liga dos Campeões da Europa. Estão dizendo que é uma nova ordem que está se formando. Você acompanha o futebol alemão? Sim, sempre que posso eu acompanho. Tenho amigos que jogam lá, inclusive. O campeonato alemão evoluiu bastante de uns tempos para cá. São times muito fortes e jogadores de alta qualidade. Esse trabalho está sendo visto pelo mundo inteiro, é possível notar que o desempenho das equipes está acima da média. No evento de hoje vimos várias crianças que sonham em tirar uma foto com você e que na hora começam até a tremer. Às vezes, você pensa “tenho que tomar cuidado para fazer isso ou aquilo porque tem milhões de crianças que se espelham em mim”? Eu preciso pensar no que faço. Mas sou esse cara aqui: é na sua frente, é em casa ou com meus amigos, eu brinco com todo mundo, não tô nem aí. Se eu tenho na minha cabeça o que vou fazer, então faço. Não ligo muito, não sigo uma linha. Eu faço o que tenho vontade. E essa questão de crianças gostarem tanto de mim, fico muito orgulhoso. Sou um fã até hoje, o meu ídolo é o Robinho, toda vez que falo com ele é uma alegria. Mudando um pouco de assunto... Fiquei sabendo que você é muito ruim no videogame. Pois é, hoje em dia tô mal... (risos) Mas dos meus amigos eu ganho de todos, deito e rolo! Com qual time você joga? Bayern de Munique. E qual jogador é seu favorito? É o Messi, né? O cara é fera, mano. Só ficando em casa no videogame para não ser assediado. É incômodo ter seus 20 e poucos anos e não ter liberdade para curtir, ir ao cinema? Não, opa, cinema eu vou! Este ano fui ao shopping, no cinema. Mas hoje só não tiro fotos ou dou autógrafo se ficar em casa. Incomodar não incomoda, mas tem coisa que faz falta, tipo ir à praia. Faz tempo que não vou. Não tem como. Ir ao shopping, dar um rolê, praça de alimentação, McDonald’s e voltar pra casa. Não dá. Isso eu fazia muito. Ir à praia jogar um futevôlei? Não dá. Ficar sentado tomando sol? Impossível. São coisas gostosas que eu tinha e hoje em dia acabou. Se quero comer no Mc, só indo no drive-thru. Copa das Confederações: de 15 a 30 de junho. www.fifa.com/confederationscup

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Calor, lama

e diesel Diante de 40 mil pessoas no Jericódromo de Alto Paraíso em Rondônia, aceleramos o “Fórmula 1 da Amazônia” Texto: Cassio Cortes  Fotos: Marcelo Maragni 32

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elo amor de Deus, tomem cuidado na curva inclinada”, adverte o diretor de corrida Renato Ribeiro, o Paraguaio. Ele enumera os perigos que esperam os 23 homens reunidos para a pales­ tra dos pilotos que antecede a corrida de Jericos. “Se sair da pista naquele ponto, com certeza morrerão algu­ mas pessoas do público”, diz. Os 23 competidores, em sua maioria com menos de 25 anos, alguns bem acima do peso, todos bem bronzeados, concordam com seriedade. A décima corrida nacional de Jericos Motorizados está prestes a começar. Isso é bom porque o público que lota o Jericó­ dromo já está ficando indócil. O início do evento foi adiado para coincidir com a chegada do senador Ivo Cassol, cacique político de Rondônia. O senador veio direto de Brasília para a pequena Alto Paraíso espe­ cialmente para assistir a corrida. Mas o que é este meio de transporte e por que ele surgiu em Alto Paraíso, um lugar pouco populoso localizado nas franjas do Sul da Amazônia, que se proclama a “capital do Jerico”? O fabricante Silvio Stedile, ou “Silvinho do Jerico”, como é conhecido, explica: “Quando a cidade foi construída, no final dos anos 80, as estradas eram tão ruins que nenhum caminhão normal durava – as peças da lataria caíam. Então as pessoas tiveram que inventar um veículo que aguentasse o tranco”. O resultado foi uma lataria precária, montada em suspensões de jipe velho e alimentada por motores a diesel parados, que eram normalmente usados para gerar eletricidade nas serrarias e minas de estanho. O “Jerico”, jumento ou burro, animal que serve como meio de transporte no Nordeste – origem de boa parte dos migrantes que povoaram as cidades mais recentes da região Norte –, ganhou uma versão motorizada para o ambiente hostil da Amazônia. Como brincadeira de garotos, não demorou muito até um fazendeiro local começar a pensar se o seu ju­ mento a diesel poderia ser mais rápido do que o cons­ truído pelo vizinho mineiro. As corridas – discretas por terem inicialmente essa finalidade – vieram rapidamente e, uma década depois, para comemorar o 10º aniversário de Alto Paraíso, um circuito lama­ cento de 560 metros que, desde então, vem sendo estendido, foi construído na periferia da cidade, dando origem à Corrida Nacional. O sucesso foi tão grande que a corrida se tornou conhecida pelo Norte do Brasil como a “Fórmula 1 da Amazônia”. Cerca de 40 mil pessoas (mais que o dobro da população da região de Alto Paraíso) aparecem no Jericódromo ano após ano para ver seus heróis acelerarem. Ser uma estrela da Fórmula 1 é normal­ mente sinônimo de fama e fortuna. Na F1 amazônica, entretanto, a fortuna vem na forma de uma Honda 125 cilindradas novinha para o primeiro lugar (na verdade duas, já que a Corrida Nacional é dividida em duas categorias, uma para uma cilindrada e outra para motores de duas). E fama. Para o Silvinho do Jerico, o reconhecimento garantiu uma eleição para presidente do Conselho Municipal de Alto Paraíso. O cortejo de Silvinho, no entanto, fica pequeno quando comparado ao dos irmãos Melquisedeque e 34

Cefas de Lara, apelidados pela imprensa local como os “Schumachers de Alto Paraíso”, o que é um pou­ co injusto, considerando que lutam para se manter campeões [ao contrário da dupla Ralf e Michael Schumacher, em que apenas um já foi campeão mundial]. “Melqui” é campeão na categoria duas cilindradas; Cefas, rei da classe uma cilindrada. O principal adversário deste, por acaso, é Silvinho, que ganhou em 2006 e 2007 antes de ser deposto pelas vitórias de Cefas em 2008, 2009 e 2010. Os nomes dos dois têm origens bíblicas, o que provavelmente explica a música evangélica explo­ dindo as caixas de som na loja onde eles fazem os ajustes finais em seus Jericos na véspera da corrida. “A época de correr com o Jerico do dia a dia já vai longe”, Melqui revela. “Para vencer, você precisa de um Jerico personalizado.” Melqui e Cefas cuidam de suas máquinas o ano todo para aparecer em apenas dois ou três eventos nos 12 meses, sendo a Corrida Nacional o maior de todos. Uma olhada na máquina de Melqui revela suas puríssimas origens: o motor é localizado no

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Em sentido horário, a partir da foto maior: Norival Silva durante a preliminar da corrida; os irmãos Melquisedeque (esquerda) e Cefas de Lara em sua fábrica de Jerico; o desfile de rua na véspera da corrida; a fábrica de Silvio Stedile antes da corrida; Silvio em sua fábrica THE RED BULLETIN

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centro do eixo longitudinal, mas fora deste para a ­direita no transversal, o que garante uma perfeita distribuição do peso em todas as quatro rodas quando o condutor fica à esquerda. E como todos os Jericos, o de Melqui é um Frankenstein. O chassi de uma Kombi antiga ajuda na rigidez da parte de baixo, enquanto a suspensão dianteira vem de um Golf. Os freios são de um Fiat Uno e a suspensão traseira também é de Kombi. O sistema de tração é uma primorosa obra de arte: a potência do motor é transmitida por uma caixa de marcha de Jeep de um diferencial feito por Melqui, do qual dois eixos de transmissão, também de Melqui, dirigem a potência para um eixo de um Golf na frente e um diferencial central de Kombi cortado na traseira. No meio da maior floresta do mundo, o mais velho dos irmãos Lara usa o mesmo princípio que o do diferencial central Torsen – o maior sucesso técnico do lendário carro Audi de rali dos anos 80. A potência vem na forma de um gerador Yanmar, que está no catálogo de fábrica como uma unidade de 27 cavalos de potência. “Mas é impossível vencer a corrida com menos de 50 cavalos”, admite Melqui. “Nós conseguimos chegar lá na maior parte das vezes com molas de válvula mais fortes, pistões mais leves e uma melhor injeção de combustível.” Mesmo com todo o tuning, o motor ainda faz aquele barulho de baixa reverberação pop-pop-pop de veículos diesel, exatamente como um barquinho de pescador. Mas agora ele está muito mais rápido: “Eu alcancei mais de 90 km/h na estrada com o meu Jerico, o que significa que o de Melqui pode facilmente fazer mais que 100 km/h em uma rodovia pavimentada”, diz Cefas. Próximo das 16h, a principal rua do centro começa a ficar entupida com uma multidão em clima de festa e tem início uma batalha de som. São enormes picapes com alto-falantes maiores que elas mesmas, das quais os mais diferentes tipos de música saem em um volume ensurdecedor. Essa variedade de sons sai de 25 ou mais carros ­espalhados pelo espaço de uma avenida que deve ter apenas 300 metros de comprimento, todos disputando a atenção das garotas. Ao mesmo tempo, centenas de motinhos aceleram enquanto seus ocupantes também procuram chamar a atenção do sexo oposto, fazendo assim do desfile de Jericos um dos eventos de maior poluição sonora do planeta Terra. Com o ar úmido da tarde quente, o único jeito para uma pessoa sadia aguentar é bebendo. Para nossa sorte, há muitos ambulantes com garrafas de Johnnie Walker. Uma dose do uísque custa apenas uns R$ 4: trata-se de um “Juanito

Caminante”, como os locais chamam o Johnnie falsificado. O Red Bull pelo menos é verdadeiro, apesar de a lata ter informações em espanhol, não em português, um sinal de que foi trazido da Bolívia. Bem quando uma dor de cabeça brutal começa a envolver o cérebro deste repórter, Silvinho aparece em um Jerico de carga com todas as 14 garotas que competem pelo título de Rainha da Corrida. Dane-se a dor de cabeça, seu convite para “pular aí e se juntar à festa” na caçamba do veículo não podia ser declinado, sendo deste ponto de observação privilegiado que notamos uma longa cicatriz sob sua orelha esquerda. “Caí de um Jerico durante um treino dois anos atrás: 16 pontos e muita dor.” O desfile passa pelo Centro antes de terminar no Jericódromo. Ao lado do circuito fica um poço de lama do tamanho de um campo de futebol onde acontece algo que poderia ser definido como uma versão amazonense de um demolition derby americano. Derrapar o carro de forma radical pela lama é o­­­­ objetivo, e uma picape enorme divide o espaço

“Eu alcancei mais de 90 km/h na estrada com o meu Jerico, o que significa que o de Melqui pode facilmente superar 100 km/h em uma rodovia pavimentada” 36

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Em sentido horário, a partir da foto maior: Dirceu José Bogorni protegendo os olhos da lama; José Alex acelera seu Jerico na curva mais escorregadia do circuito; a festa regada a 'Juanito Caminante';o público faz da corrida um Carnaval na lama

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com carros de passeio que vão de ré – única forma de se conseguir fazer derrapagem lateral com um carro de tração dianteira. Pessoas em pé “surfando” nas caçambas das picapes enquanto derrapam é tão comum quanto as colisões de umas com as outras. Ninguém está muito preocupado com o prejuízo das batidas: os preços da madeira, do gado e da soja estão todos em alta no mercado internacional, então todo mundo parece bem de vida em Rondônia. Por outro lado, a sobriedade é uma commodity de menor valor – ao menos entre estes que se arriscam na lama. “Você tem que entender que para nós isto é o Carnaval”, diz Luzia Garbini, 17 anos, Rainha da Corrida de 2011, procurando explicar, um pouco envergonhada, o comportamento selvagem ao redor. A noite cai, o Jericódromo se esvazia e a festa ­segue para o Centro. Ir dormir é a única opção para curar a ressaca de uísque a tempo para a grande corrida do dia seguinte de manhã. 37


“Você podia tocar outro piloto e empurrá-lo para fora da pista, mas agora os dirigentes são mais rigorosos”

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Em sentido horário, a partir da foto maior: Melquisedeque de Lara cruza a linha de chegada para vencer a prova; após o final da corrida, o público pula na água enlameada; Silvio Stedile faz uma curva em frente a Cefas de Lara, durante uma das preliminares

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o domingo, os Jericos de corrida chegam ao ‘paddock’ – um lamacento curral – às 11h. Uma corrida de quadriciclos aquece a mul­ tidão. Enquanto os pilotos esperam pela palestra de segurança do Paraguaio, os fãs gritam por autógrafos, sendo a assinatura do lenhador Alex ­Oliveira a mais cobiçada. O carro de Alex tem uma camuflagem pintada e o levou a quatro vitórias con­ secutivas nas duas cilindradas antes que Melqui o ­superasse em 2010. Rápido porém errático, este legí­ timo Gilles Villeneuve da Amazônia gosta de falar: “Melqui ganhou no ano passado porque eu rodei”, diz. O volante do Jerico de Alex, como a maioria dos outros, tem punhos de bicicleta para segurar. “Para ser rápido no Jerico você precisa mudar as marchas muito rápido e com muita frequência”, ele explica. “Com os punhos eu posso guiar usando apenas minha mão esquerda e manter a direita na alavanca de câmbio o tempo todo.” Passava das 14h e os termômetros passavam dos 40° C quando o helicóptero do senador Ivo Cassol finalmente chegou. É hora de acelerar! Assim é que funciona a corrida: quatro jericos começam alinhados lado a lado para uma preliminar de quatro voltas. Os dois primeiros se classificam para a próxima rodada até que apenas quatro ficam para a grande final. Um capacete e um cinto de segurança são os únicos equipamentos de proteção obrigatórios. A classe de um pistão corre a preliminar inicial. No Jerico 9 (patrocinado pelo senador), Norival Silva assume a liderança na primeira volta. O nº 8 roda e fica em uma posição perigosa na curva cinco; leva três voltas para que o sinalizador apareça com uma bandeira amarela advertindo o perigo. O sorteio colocou Melqui e Alex na mesma preli­ minar para a classificação na classe dois pistões – um ‘Embate de Titãs’, como o narrador grita no sistema de som. Eles ficam em 1-2 com facilidade, enquanto o nº 11 vai para o canto por causa de um incêndio no motor. De volta aos carros de uma cilindrada, Cefas vence a classificatória enquanto Silvinho é derrotado pelo seu ex-mecânico Macedo, mas vai às semifinais em segundo lugar. Outro mecânico da loja de Silvinho, Reginaldo, liderava a preliminar de dois pistões quando uma quebra na coluna da direção o manda cambaleando para um banco de lama. Ele retira o capacete, se ajoelha e chora como criança. Entre uma preliminar e outra, os pilotos traba­ lham febrilmente no paddock para consertar seus ­veículos avariados. As equipes de apoio jogam água limpa em seus olhos – a maioria não usa óculos de proteção (muita sujeira muito rápido) e terminam cada preliminar com os olhos muito irritados e completamente vermelhos.

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primeira semifinal de um pistão tem uma disputa acirrada entre Silvinho e Cefas. ­Silvinho pula para a liderança no início, ­porém o carro de Cefas é claramente mais veloz. Entretanto, como acaba se descobrindo mais tarde, após as preliminares, fica muito difícil realizar uma ultrapassagem. Apenas a linha de corrida permanece lisa; todo o resto é terra revirada. Além disso, a linha interior nas duas curvas mais lentas está inundada. “Costumava ser permitido que você tocasse o adversário para empurrá-lo para fora da pista, mas agora os dirigentes são mais rigorosos”, reclama Cefas, que ficou em segundo e foi para a final. Na segunda semi de duas cilindradas, Alex e Melqui se encontraram novamente. Melqui toma a liderança precocemente, enquanto Alex erra uma marcha e cai para terceiro. Tentando criar um espaço de ultrapassagem onde não existe, Alex sai da corrida e atola na lama. Outra corrida que nosso Gilles Villeneuve da Amazônia abandona. Chega a final de uma cilindrada. O número 4, Marcelo Bogorni, faz a melhor largada, deixando Silvinho e Cefas na disputa acirrada na primeira curva pelo segundo lugar. A forma como quase tocam suas rodas lembra Michael Schumacher jogando Rubens Barrichello contra o muro no GP da Hungria em 2010 e, ainda que não tenha havido contato, a disputa afoita os leva para fora da pista e para dentro da poça gigantesca logo na primeira curva. É o bastante para dar a Marcelo uma liderança insuperável. Pela primeira vez em sete tentativas, ele vence a Corrida Nacional, apesar de seu pedal de aceleração ter quebrado na segunda volta. O que é realmente impressionante porque significa que Marcelo teve que tirar a mão esquerda do volante e torcer o braço a cada marcha trocada nas duas últimas voltas. Sem Alex, a final de duas cilindradas deveria ser um passeio para Melqui, o que parecia ser o caso quando ele assumiu a ponta já na primeira curva. Mas na maliciosa segunda curva o impensável acontece: o campeão roda. O incrédulo “Ohhh!” que vem do público parece a reação a uma dupla-falta de Roger Federer em um tiebrake de Wimbledon. Melqui vai para a última posição enquanto Dirceu Bogorni – irmão de Marcelo – pula para primeiro para logo quebrar a caixa de marcha na segunda volta. Na terceira volta, Melqui provoca uma derrapagem de Juliano e vai a segundo, atrás de Ismael. Ver o campeão se aproximando na última volta é demais para o jovem Ismael, que erra a curva cinco e nau­ fraga em outra poça gigante. A multidão enlouquece quando Melqui voa para conquistar sua segunda moto Honda em muitos anos. E assim termina o Carnaval. Vencedores, derrotados, políticos locais, este repórter forasteiro: todo mundo pula ou é jogado na lama da curva cinco. O sol se foi e o vento resfria nossas roupas ensopadas e enlameadas. Sem problemas: tem muito “Juanito Caminante”, o Johnnie Walker daqui, para nos manter aquecidos até a madrugada. Para ver fotos da corrida de Jerico, acesse www.capitaldojerico.com

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RED BULL YOUTH AMERICA'S CUP

O jovem time alemão STG/NRV corta a baía de San Francisco em um catamarã AC45

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Os melhores catamarãs, os melhores velejadores, a maior corrida de barco do mundo: qualquer iatista ambicioso sonha e m u m d i a p a r t i c i p a r d a A m e r i c a ’s C u p . E u m s e l e t o grupo de jovens está a um passo de realizar este sonho TEXTO: Ann Donahue FOTOS: Balazs Gardi


RED BULL YOUTH AMERICA'S CUP

Nas primeiras horas do dia, o Pier 80, em San Francisco, é um lugar calmo Leões-marinhos surgem na água de olho nas enormes garças e depois somem de novo nas profundezas. Os tratores que transportam cascalho de uma pilha de material para outra próxima no Pier 94 estão em silêncio. Às 9h da manhã, as equipes que competem nas Selection Series da Red Bull Youth America’s Cup chegam em SUVs pretas trazidas por motoristas vindos dos hotéis no Centro. A paz da doca dilapidada é quebrada pela jovialidade dos velejadores e pelas provocações entre eles – “vá se catar, seu maluco!” ecoa através das docas – além de remixes retumbantes de sucessos dos anos 80. Há um motivo para o barulho, claro. As equipes do Red Bull Youth America’s Cup são compostas de rapazes com idades entre 18 e 24 anos, então é perfeitamente normal que alguém em seus anos de formação fale grosso durante a faculdade, caso contrário, o planeta estaria girando fora do seu eixo. Sendo assim, a capacidade de fazer uma balbúrdia é uma qualidade. Duas horas depois, os jovens velejadores estarão se batendo contra as ondas da baía de San Francisco, com ventos soprando acima de 35 nós, enquanto todos correm lado a lado nos melhores catamarãs de 15 metros que existem. Garantir que as instruções de suas vozes possam ser ouvidas mesmo com o vento, os estalos dos enormes veleiros e os baques dos barcos de 1,4 tonelada podem ser a diferença entre a vitória e o fracasso. 42

A Red Bull Youth America’s Cup é uma criação dos velejadores austríacos Hans-Peter Steinacher e Roman Hagara, que conquistaram a medalha de ouro na classe Tornado nas Olimpíadas de 2000 e 2004. Por muitos anos, a barreira para ingressar na America’s Cup era quase intransponível: requeria uma rede de altos contatos nos clubes de iatismo – mundo praticamente fechado a pessoas sem um nobre sobrenome – ou uma medalha olímpica para chegar até a competição. Com o início da edição jovem do evento, o processo de seleção passou a ser

mais igualitário para as grandes ligas, provendo acesso às mais avançadas embarcações e treinamento profissional. Em fevereiro, jovens velejadores de 12 países competiram nas Selection Series, que determinaram quais cinco equipes avançarão à final em setembro, em San Francisco. A Selection Series é organizada para imitar a dificuldade de participar ‘pra valer’ da America’s Cup, incluindo árduas sessões de ginástica e a realização de sessões de navegação no AC45, o catamarã de melhor classe em uso. THE RED BULLETIN


As equipes se reúnem para um briefing toda manhã no Pier 80 (esquerda). Depois vão velejar na baía de San Francisco ou vão para academia (acima). É muita energia: uma semana aqui é melhor que três anos de treino sem supervisão, dizem os treinadores

As equipes são julgadas por sua habilidade na navegação, preparo físico e profissionalismo. “Em uma semana que dura a Selection Series, eles vão aprender mais do que aprenderiam em três ou quatro anos de treinamento”, diz Steinacher. Na Red Bull Youth America’s Cup, os catamarãs são doados por equipes veteranas da America’s Cup, mas a determinação e o espírito de equipe é todo dos jovens velejadores. “É uma oportunidade única”, diz Matt Whitehead, 19 anos, capitão do time sul-africano i’KaziKati. “Vir aqui e aprender o que é necessário 43


Velejando Ă sombra da Golden Gate

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" É A R E A L I Z A Ç Ã O DE TODOS OS NOSSOS SONHOS" W i l l T i l l e r, c a p i t ã o d a e q u i p e Full Metal Jacket Racing para ser um profissional de sucesso é simplesmente uma experiência incrível. Nenhuma palavra pode descrever quanto isso tudo significa para nós.” aniel Bjørnholt Christensen, 18 anos, é o capitão da jovem equipe dinamarquesa Vikings. A semana cobrou seu preço sobre os garotos. Eles imprudentemente decidiram comer burritos enormes pouco antes de uma sessão de treinamento em uma academia nos arredores do hangar Oracle Team USA. E não foi qualquer burrito, mas um “enorme, taludo burrito americano”, explica Christensen, mostrando com as mãos o tamanho do lanche. Após levantar 45 kg de peso em um aparelho, o burrito não caiu bem em um dos companheiros. “Tivemos um pequeno acidente”, explica. “Fizemos o teste e estávamos cansados, mas OK. Um dos garotos, porém, começou a vomitar e alguns outros também.” Os velejadores levam sua participação nesse evento a sério, mas é claramente um esporte diferente da liga dos veteranos da America’s Cup, com seus colarinhos arrebitados em camisas polo de cor pastel e sotaques híbridos de inglês americano com britânico. Por 25 anos, a America’s Cup tem sido conquistada por equipes de um desses três países: EUA, Suíça ou THE RED BULLETIN

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RED BULL YOUTH AMERICA'S CUP Nova Zelândia. A diversidade que a edição júnior traz ao esporte torna-se evidente. Exceto África do Sul e Dina­marca, as nações participantes incluem alguns países relativamente novatos como Argentina e Portugal. “Isso mostra como havia uma carência nessa área”, diz Russell Coutts, CEO da Oracle Team USA e quatro vezes campeão da America’s Cup. “A America’s Cup de antes era um pináculo dos astros da vela. Mas não havia uma forma de alimentar aquela constelação de estrelas.” A Red Bull Youth America’s Cup divide um píer com o hangar onde a Oracle Team USA está construindo seu barco para a America’s Cup 2013. É a primeira vez que uma classe profissional correu com o catamarã AC72, um gigante de 24 metros com dez andares e um casco que se parece com uma ameaça­dora garra extraterrestre. Enquanto os jovens assistem as palestras da manhã, os velejadores observam na baía como o imenso barco é cautelosamente baixado por um enorme guindaste.

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“ É U M A E X P E R I Ê N C I A I N C R Í V E L” Matt Whitehead, capitão da equipe i'KaziKati

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A Red Bull Youth America’s Cup Selection Series começa com 12 times. As tripulações correm umas contra as outras na primeira semana de competição e as seis finalistas competem na semana seguinte. Os cinco vencedores de fevereiro se classificam para enfrentar outras sete nas finais em setembro

“Quando eu era jovem e assistia a Ame­rica’s Cup, eu sempre sonhava em ser como esses caras”, diz Jonas Schagen, 23 anos, da equipe suíça Tilt. “Hoje eu sou um deles. Mas ainda falta muito até o próximo passo. Nossos barcos são como brinquedos comparados a isso.” A America’s Cup dos adultos começa em 7 de setembro, em San Francisco, mas na edição de 2016 alguns dos jovens que competem nas Selection Series poderão estar nos barcos. A Red Bull Youth America’s Cup ajuda os velejadores a treinar com foco no grande prêmio. “Quando vi pela primeira vez as fotos do catamarã Oracle 72, pensei: ‘Meu Deus, o que está acontecendo?’”, disse Philipp Buhl, 23, capitão da equipe jovem alemã STG/NRV. “Há dois dias visitamos a base. Eles estão trabalhando 12 horas por dia, seis dias por semana. É muito profissionalismo.” Sete equipes se classificaram para a Red Bull Youth America’s Cup em virtude de uma afiliação com equipes correndo THE RED BULLETIN

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RED BULL YOUTH AMERICA'S CUP

na classe AC72; as Selection Series decidem as outras cinco. Charlie Buckingham é capitão da equipe USA45 Racing, vinculada à Oracle Team USA. Nos seus primeiros dois dias aqui, Buckingham foi submetido a testes físicos e foi introduzido ao barco. “Eles basicamente nos entregaram as chaves e nos deram dicas aqui e ali, mas acho que o que realmente queriam era ver quem era capaz de se virar com tudo sozinho”, ele diz. O resultado? “Parece estar tudo sob controle se você e a tripulação estiverem fazendo as coisas certas”, diz. “Mantivemos o barco aprumado, sem forçar demais para não estragar.” 48

o primeiro dia de competição nas Selection Series. Os velejadores estão trabalhando seus nervos antes da corrida com joguinhos de videogame de Fórmula 1 montados do lado de fora dos contêineres onde as equipes armazenam seus equipamentos. Ter um pouco de tensão é compreensível, já que não é apenas a ambição pessoal que está em jogo, mas também em grande medida o orgulho nacional. “A Austrália não é uma presença constante na America’s Cup há anos”, diz o capitão da Objective Australia, Jason Waterhouse, 21 anos. “Isso só mostra que

A Selection Series aconteceu em dois lugares: a leste da ilha de Alcatraz (direita) e ao sul da Bay Bridge, que liga San Francisco a Oakland (acima) THE RED BULLETIN


“ P O D E R Í A M O S T E R T I D O 2 0 E Q U I P E S FA C I L M E N T E . É A M E TA PA R A A P R Ó X I M A” R o m a n H a g a r a , d i r e t o r d a R e d B u l l Yo u t h A m e r i c a ’s C u p nós não estamos para brincadeira. O AC45 é o melhor barco com a melhor tecnologia, e estas são as melhores equipes jovens do mundo. Vamos fazer o possível para dar o melhor show que a gente sabe fazer.” Os catamarãs chegam ao mar pouco antes do meio-dia. Um barco com motor a diesel dual que pode rasgar a água a 50 nós salta da doca. Ele serve como uma lancha de perseguição, alcançando boias e suprimentos para as equipes, bem como levando alguns membros da mídia para um passeio “com emoção”. É um navio animalesco, e um fotógrafo veterano acena positivamente assim que vai a bordo. “Quero um bom barco me separando desses caras”, ele diz. Os jovens velejadores podem ter anos de experiência competindo em equipes de faculdade e seleções nacionais, mas com o AC45 o buraco é mais embaixo. A força e agilidade requeridas para manejá-lo são enormes, mesmo para os profissionais que estão habituados a ela. A experiência das equipes jovens nesse barco é limitada a estes poucos dias da Selection Series. “Trabalhamos desde muito antes”, diz Hanno Sohm, 23 anos, timoneiro do time austríaco. “Estudamos vídeos e conver­ samos com pessoas que velejaram este barco. Mas há uma diferença entre saber o que precisa ser feito e fazer de fato.” O vento começa a ficar mais forte na baía. Se você não vira o rosto na direção THE RED BULLETIN

do vendaval, seus óculos de sol saem voando. Os barcos flutuam quando velejam em frente, depois seguem desordenados enquanto as equipes tentam navegar em volta das boias de marcação. “O grande lance é que tudo acontece tão rápido”, diz o capitão da equipe GBR Youth Challenge, James French, 20 anos. “Se você parar pra pensar, já é tarde demais.” No final das Selection Series, os diretores Peter Steinacher e Roman Hagara pegam os cinco times para se juntar aos outros sete nas finais de setembro. Eles são a Full Metal Jacket Racing, da Nova Zelândia; a Objective Australia; a alemã STG/NRV Youth Team; a suíça Tilt; e a portuguesa ROFF/Cascais Sailing Team, que se recuperou após quase emborcar em seu primeiro dia. Tomar a decisão final foi difícil, diz Hagara, e foi limitada pelo número de embarcações disponíveis, não apenas pela qualidade das equipes. “Poderíamos ter tido 20 times facilmente. É um objetivo para a próxima.” Para as equipes que se classificaram, é uma realização das ambições que não eram nem imagináveis um ano atrás. “A Nova Zelândia está envolvida na America’s Cup desde que nascemos”, diz Will Tiller, 23 anos, capitão da Full Metal Jacket Racing team. “Estar aqui e poder fazer isso tudo significa a realização de todos os nossos sonhos.” www.americascup.com

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INCANSÁVEL

BUSCA

S

O salto entre os bastidores dos palcos e o comando da banda do programa de Jimmy Fallon, ao vivo toda noite na TV, é uma trajetória sem igual na história musical de Ahmir Thompson. Fundador do The Roots, ele fala sobre a discussão do underground com Jay-Z e as ciladas da “geração YouTube”. Texto: Jonathan Cohen  Fotos: Jason Nocito

ão 11h no estúdio 6B da NBC no Rockefeller Center, em Nova York. Em um primeiro momento, o único barulho que se escuta é o do aspirador de pó indo e vindo nos corredores, entre bancos ainda vazios. É o começo dos preparativos para a gravação do Late Night with Jimmy Fallon. Uma pequena pausa na faxina nos permite escutar uma série de batidas de bateria vinda dos estúdios. Seguindo o som pelos cor­­redores e virando à esquerda, chega-se a uma porta azul, a plaquinha com o nome The Roots estampado convida a entrar; na parede ao lado da porta, chama a atenção um prêmio Grammy emoldurado em vidro. E, do outro lado da porta, está Ahmir Thompson, 50



“SOU UMA PESSOA QUE ESCUTA MÚSICA CINCO HORAS POR DIA”


the red bulletin: Você foi abençoado por crescer em uma família de músicos profissionais. Para pessoas que não tiveram essa oportunidade, existe alguma forma de ter algo próximo a essa experiência extraordinária? questlove: Entre os 2 e os 13 anos, aprendi todos os aspectos que o show business oferece. Comecei como navegador, descobrindo como sair da minha casa para uma boate ou até para um outro estado. Tive que aprender a usar mapas aos 7 anos. Eu me formei primeiro como figurinista.Lavei roupa a mão e a vapor e engomei roupas brancas. Aos 10 anos, eu cuidava da iluminação de palco. Aprendi também a operar diferentes sistemas de som. Eu chegava antes da passagem de som, marcava os holofotes e conseguia uma escada. Quando tinha 10 ou 11 anos, comecei a aprender os acordes básicos. Conhecia repertório do meu pai de cor e salteado, portanto já identificava muito cedo as primeiras notas musicais. Aos 12 ou 13 anos, eu já era baterista e, em seguida, líder da banda. Todo aquele tempo eu estava só observando minha mãe e meu pai em suas apresentações. Mais tarde eu não tinha nem me dado conta de que os Roots incorporaram THE RED BULLETIN

exatamente estas lições. Na realidade ficamos famosos nos karaokês de hip hop. Meu pai não só compôs “músicas”, mas sim aquilo que seria mais tocado, músicas que se tornavam familiares facilmente. Meus pais sabiam perfeitamente conduzir um show: nos primeiros cinco minutos, você cativava a plateia com algo que ela já conhecia. Nas duas músicas seguintes, era minha mãe que tornava-se o centro das atenções, como comediante. Para mim era natural achar que aquela era uma educação básica, comum; assim como era óbvio que qualquer criança sabia chegar sozinha a Muncie, Indiana. E depois a minha reação vinha a ser de espanto: “o quê? você nunca foi a um clube noturno antes?!” Eu só fui me dar conta do meu privilégio muitos anos mais tarde. Como foi para você o segundo grau, com o ambiente escolar mais certinho? Foi uma espécie de choque? Bom, eu tive que começar tudo de novo. Aos 8 anos eu tocava bateria como um adulto – aquela coisa de ter um garotinho no show. O show do meu pai era tão bom

que transcendia o circuito da velharada. Ele tinha uma esposa modelo e dois filhos que desacatavam as idades dos outros no palco, coisas que usava a seu favor. Ao entrei no segundo grau, deixei de repente de ser o tubarãozinho no mini-aquário para me tornar uma sardinha no Oceano Pacífico! Logo no segundo dia de escola, Christian McBride e Joey DeFrancesco foram arrancados da aula para tocar na TV da Filadélfia com Miles Davis. Nessas eu não passava do quinto baterista, tocando triângulo e às vezes um tamborim. Eu não era de nenhuma forma a estrela de antes. Era frustrante, mas hoje sou feliz que tenha sido assim. O Boyz II Men era a estrela de nossa escola, tinham todas as tietes. Tariq e eu tivemos aquele momento somente depois de nos formarmos. Mas do jeito que desenvolvemos nossa carreira, como a tartaruga e a lebre, mantemos hoje um

“A CHAVE DO SUCESSO DO ‘THE ROOTS’ É TER COLOCADO SÓ OS MAIS FERAS EM NOSSO CÍRCULO ÍNTIMO”

FOTO ADICIONAL: ROBIN LANAANEN

ou “Questlove”, ensaiando uma das inúmeras músicas que ele e seus companheiros de banda irão tocar dentro em pouco, quando o Late Night enfim tiver entrado no ar. Sou um privilegiado em poder ver Thompson tocar de tão perto, em carne e osso, no 6º andar do Rockefeller Center, onde agendo os músicos convidados para o Late Night. E poder tratar Questlove e o The Roots como meus colegas durante as quatro horas do nosso programa me deixa muito feliz. Mas o ritmo do nosso Late Night é tão alucinante que demorou quase tudo isso para eu finalmente conseguir me sentar com Ahmir e conversar com ele sobre a sua história com a música. Ahmir nasceu em 20 de janeiro de 1971 na Filadélfia, filho do gigante do doo-wop Lee Andrews, da Lee Andrews and the Hearts. Suas memórias mais antigas estão relacionadas a turnês acompanhando o pai e, na época de adolescente, à sua função de baterista oficial da banda. Durante seus estudos na famosa Philadelphia High School for the Creative and Performing Arts, conheceu o futuro membro do Roots, MC Tariq Trotter, com quem promoveu suas ambições ao lado de um corpo ­discente que incluiu uma série de futuras estrelas da música.

RED BULL MUSIC ACADEMY: NY Desde 1998 que a Red Bull Music Academy tem rodado o globo, fazendo estações todos os anos em cidades como Londres, Cidade do Cabo, São Paulo, Melbourne e Madrid. Dois grupos de 30 participantes seleciona­ dos – produtores, instru­ mentistas, vocalistas e DJs de todas as partes do mun­ do e de vários estilos – se reúnem por um mês (duas semanas para cada grupo de 30) para trabalhar nos estúdios, tocar nos melho­ res clubes da cidade e aprender os segredos dos músicos profissionais.

Mentores como Quest­ love (que vem trabalhando com a Red Bull Music Aca­ demy desde 2006), a lenda tecno Carl Craig, o compo­ sitor Steve Reich e o pro­ dutor star Mark Ronson não só chegam para dar uma aula, como também fi­ cam por mais tempo, às ve­ zes até dias fazendo jams com os participantes nos estúdios e compartilhando sua sabedoria. No seu 15º ano, a Red Bull Music Academy segue curso para Nova York, o lu­ gar onde nasceu o hip hop e uma das capitais do punk.

Como homenagem à criati­ vidade da cidade, a Academia organizará um festival de cinco semanas com 35 shows e 150 artistas. Entre os highlights estão cogitando Nile Rodgers do Chic e James Murphy do LCD Soundsystem; uma instalação audiovisual de Brian Eno; e gigs com músicos como Kim Gordon (Sonic Youth), Four Tet e, claro, os 60 participantes de 35 países. Red Bull Music Academy,  Nova York, de 28 de abril a 31 de maio. redbullmusicacademy.com

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excelente padrão de vida e muitos dos nossos contemporâneos já estão em declínio. Onde estão, segundo o que você hoje pode observar, se aprimorando os novos e emergentes talentos? Um dos maiores desgostos que eu tenho com o momento atual da música é a ideia de que a cultura do underground não interessa mais a ninguém. O hip hop se apunhalou com sua própria faca mais ou menos em 1997, quando subitamente só vencedores importavam e perdedores ou guerreiros não valiam nada, com o resultado de que ninguém mais quis acolher o underground. Vivemos uma era de sucessos. Puffy inaugurou esta era, na minha opinião. A narrativa ficou muito motivacional e só se fala em vencer. Não se celebra mais o cara que leva a água, o estatístico ou o treinador-assistente – pessoas que também ajudam a equipe. Passou-se a falar de destaque, destaque e destaque. Provavelmente a maior discussão que eu tenho com Jay-Z é sobre a necessidade de se pagar adiantado pelo 54

estabelecimento de uma cultura. Hoje, não existe mais um contexto subcultural na black music. O motivo pelo qual os Roots se tornaram um sucesso é porque decidimos pegar só os mais feras para se juntar ao nosso círculo íntimo. Não foi uma coincidência os Roots terem saído de uma venda de 200 mil para o disco de platina. Com o Mos Def foi a mesma coisa. Com o Gang Starr, D’Angelo, Talib Kweli e Erykah Badu idem. Esse movimento está crescendo e isso é o resultado: o fato de que ele pode ser contextualizado. Como acontece com a maioria dos guerreiros do underground, assim que você consegue esse sucesso, é como Ló. Você não quer olhar para Sodoma e Gomorra. É um sacrilégio olhar para o passado. Assim, você acaba se isolando. Na era do YouTube, sim, você pode sentar no seu quarto, fazer um cover da música do Little Dragon e se transformar numa celebridade da internet da hora. É bom, mas temporário. Não faz uma carreira de 20 anos. Então quais habilidades seriam necessárias para ser um verdadeiro talento? Eu não sei se é uma questão de habilidade ou apenas a vontade de fracassar em

FOTO ADICIONAL: GETTY IMAGES

“OS ARTISTAS MAIS IMPORTANTES PARA MIM SÃO STEVIE WONDER, MICHAEL JACKSON E PRINCE”

público. Um grande exemplo disso é Jill Scott e Jaguar Wright. Elas eram duas amigas dos Roots. Nós as conhecemos em 1994 ou 1995. Quando começamos a fazer jam sessions em nossas casas, Jill ainda estudava e trabalhava, e Jaguar trabalhava na WaWa – uma lojinha de conveniência do tipo posto de gasolina. Toda semana elas vinham em casa para as sessions. Mesmo sendo amigas, rolava um pouco uma competição. Jaguar tinha uma habilidade maluca para o freestyle como cantora. Ela fazia o público delirar com qualquer letra que cantasse. Isso fez com que Jill quisesse ser melhor e praticasse em casa. Então, quando ela voltava na semana seguinte, era ela que conquistava a galera e não Jaguar. Isso aconteceu toda a sexta-feira dos anos 1997, 1998 e 1999, incluindo alguns domingos. Por muitos anos você dedica três horas diárias o ano todo e de repente você é um dos melhores performers que se pode imaginar. É essa a ideia do workshop: o princípio da paciência e da espera. É um valor que parece perdido nestes tempos. Eu queria que esse método fosse mais praticado. Trabalhando aqui testemunhei situações onde artistas com apenas um ano ou dois de experiência pipocam e correm para o banheiro.

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Os Roots estavam muito nervosos nos nossos primeiros dois shows no Late Night. Hoje eu dou risada pensando no passado, porque fizemos tantas vezes. Acho que é menos uma questão de talento e mais de força de vontade e paciência. Nas aulas sobre álbuns clássicos que você vai começar a ministrar na NYU, que tipo de ideias pretende transmitir aos estudantes? Decidi começar pelo mais simples. Eu tinha a opção de fazer uma aula para 100 estudantes, mas eu disse a eles que queria o mínimo. Então tenho 24 alunos. Eu só quero ensinar a eles a arte da paciência necessária para se ouvir uma música. Da mesma forma que tenho que funcionar como uma enciclopédia da música e como produtor de hip hop, me ensinaram a destrinchar discos. Você coloca um e escuta, escuta, escuta, procurando por um sample ou um break. Estou tentando inverter isso e explicar para as pessoas por que alguns discos são mais importantes que outros e deixar isso tudo depois nas mãos delas. Para alguém da minha idade, que nasceu há 40 anos, em 1971, eles agora têm muito mais informação à disposição do que antes. Mas o que eu acho é que estamos com falta de professores

que os coloquem no caminho certo. Esta manhã mesmo eu tive que repreender alguém que censurou outra pessoa por não saber que “It’s a Shame” não era um rap de Monie Love, mas uma música dos Spinners dos anos 1960. Um dia entrei no Twitter e me dei conta de que essas coisas básicas que eu levava como garantidas, tinham que ser passadas adiante, sabe o que eu quero dizer? Há muita informação de fácil acesso por aí, tem que se ter paciência para filtrar isso assim como tem que se ter paciência para ajudar alguém a administrar toda essa informação. Eu tenho a sensação de que, quando eu era jovem, parecia haver uma quantidade finita de músicas. Hoje há muito mais lançamentos. Você pode falar sobre como absorver tudo isso? Para mim não é enlouquecedor. Dos três artistas que são mais importantes para mim nesse sentido – Stevie Wonder, Michael Jackson e Prince – eu tenho todo

“NA ERA DO YOUTUBE VOCÊ PODE SENTAR NO SEU QUARTO E FAZER UM COVER DA MÚSICA DE LITTLE DRAGON E TER SUCESSO. MAS ISSO NÃO FAZ UMA CARREIRA DE 20 ANOS.”

o espaço necessário na minha cabeça para guardar o que for. E eu sou uma pessoa que ouve música praticamente cinco horas por dia. Quando você pensa, é um bom tempo. Entre a academia, o carro e quando volto para casa, eu provavelmente dedico cinco horas. Eu apenas quero fazer o processo de se produzir música ser mais divertido. Algumas pessoas vão até seus limites. Alguns DJs com os quais cresci deixaram de fazer música há muito tempo. Eu provavelmente faria o mesmo se não tivesse descoberto stems (componentes de uma música separados digitalmente). Eles me deram um novo impulso na vida, porque me dão a oportunidade de aprender como discos são gravados – tudo de novo e mais uma vez... Parece que você não é o tipo de pessoa que gosta de colaborar com uma só música. Quando alguém te contrata para trabalhar, você prefere uma colaboração mais abrangente? Bem, eu não tenho o know-how ou o conhecimento para fazer um manifesto grandioso em três minutos e 30 segundos. Gostaria de ter esse talento. Mas eu consigo fazer esse manifesto em 70 minutos. Fale sobre os problemas em ser um especialista de música quando hoje se tem acesso a aparentemente toda a música do mundo. Não há realmente tempo para conhecer tudo. E eu não me desgasto para consumir música. Mas eu tenho que pensar o que vai acontecer com minha coleção de discos quando morrer. Um álbum ainda é uma forma viável de lançar música? Desde a época em que o Late Night discutia se ainda fazia sentido lançar discos completos, os Roots fizeram álbuns conceituais. Você sabe: nos filmes, quando os vilões percebem que acabou e que não tem saída, ou eles chutam o balde como em Thelma e Louise ou eles se rendem. Não há precedente para uma banda de rap a esta altura da carreira seguir no mesmo selo, lançando seu 16º disco. Eu sempre penso, “OK, este vai ser nosso último grande manifesto, e você sempre precisa de um grande ponto de exclamação no final”. Se você não compete com o que está no topo, como Rihanna ou o que for, então talvez devessemos apenas fazer o que melhor sabemos e... esperar que a guilhotina te corte a cabeça. Daí você lança o álbum, a guilhotina não cai e você se acalma e começa tudo de novo! www.theroots.com

Questlove e The Roots na cerimônia introdutória do 27º Rock & Roll Hall of Fame

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Mais perguntas e um vídeo exclusivo com Questlove dando show na bateria você confere no app gratuito da The Red Bulletin para tablets.

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Ser jovem na reserva indígena de Pine Ridge, nos EUA, não é fácil. Em um lugar onde a pobreza, o suicídio e o alcoolismo são companheiros constantes, o skate tem sido a salvação – uma boa pista é suficiente para transformar a vida e a cultura locais

SKATE 56


Jake Roubideaux, de 14 anos, flui sobre seu skate na pista de Wounded Knee

E or DIE Texto: Andreas Tzortzis Fotos: Jay Hanna


A pista de skate criou espaço para uma nova cultura e dá suporte a crianças e jovens (como Joe Mesteth, acima) que enfrentam as dificuldades da reserva indígena


E lijah Battese observa Bobby acertar um ollie numa bicicleta do outro lado da rampa, ficando 3 ou 4 metros acima do chão e aterrissando sem problemas. Boquiabertos, os outros garotos simplesmente exclamam: “oooh”. “Acho que posso acertar um desses”, diz Elijah num resmungo pré-adolescente, com seus olhos azuis acinzentados fixados na bicicleta. Diante dele está um drop de 10 metros. A descida é suave e o concreto está liso. As descidas emendam em um trecho plano, onde ficava uma antiga quadra de tênis. É lá que os skatistas costumavam ficar, no tempo em que não passavam de um grupo de desajustados que não praticava nem atletismo nem futebol. Entre duas quadras de basquete, um gramado descuidado, terrenos baldios e as áreas de reunião dos Sioux encontra-se hoje este espaço impensável e ainda estranho na reserva indígena de Pine Ridge, Dakota do Sul – espaços comumente encontrados em Venice Beach, Los Angeles, ou Nova York. Os garotos usam skates detonados, de segunda mão ou doados, e voam na pista como se estivessem na Los Angeles dos anos 1970 e fossem Tony Alva, porém caem com facilidade. Mas eles chegam lá. E quando estão andando de skate, ficam longe de seus lares desestruturados e dos rolês em carros caindo aos pedaços com garrafas de bebida roubadas nas mãos. Enfim, não estão na marginalidade, pensando se alguém sentiria sua falta se sumissem.

Nada é simples no lugar onde Eli e seus amigos estão crescendo. A moda radical de um esporte mainstream como o skate quase não foi adaptada – não há nada além da obsessão única de uma manobra bem realizada, o estalo dos shapes e a batida das rodinhas de poliuretano no concreto. E, assim, com todo esse barulho ao redor, Eli se concentra na extremidade do bowl, coloca seu calcanhar no shape e dropa, com sua trança até a cintura sacudindo ao vento.

A

história de como o Wounded Knee 4-Directions Skate Park chegou em Pine Ridge começou pouco antes de Eli e seus amigos nascerem, há 12 anos. Mas a história do porquê é muito mais antiga e tem suas raízes ligadas a fantasmas do passado, como tratados nunca cumpridos, maus-tratos e uma espiral de tristeza e autoaversão que assombram a reserva. Há estatísticas depressivas que contam a história dos antigos americanos nativos nos EUA. A reserva de Pine Ridge, lar dos Oglala Lakota Sioux, tem sido um barril de pólvora por mais de um século: desde a quebra do tratado do Forte Laramie em 1868, passando pelo movimento de militância em favor dos direitos do índio nos anos 1970 e chegando ao massacre de Wounded Knee, Pine Ridge é com certeza o ponto mais crítico das políticas fracassas do governo americano relativas às populações indígenas. A expectativa de vida 59


À esquerda: Leroy Janis, o cara que andava de skate na reserva quando ninguém sabia o que era. Hoje ele é considerado um dos mentores do movimento. À direita: Jaydin Thomas Peters

desta reserva, que tem aproximadamente o tamanho equivalente ao estado de Connecticut, é de 47 anos. O desemprego atinge mais de 90% da população, a maioria tem uma renda anual de cerca de US$ 3 mil. O alcoolismo persiste apesar da proibição, desestrutua as famílias e aniquila o espírito tribal. A dieta mal balanceada faz quase metade da população sofrer de diabetes. Carros velhos enferrujam em frente aos gramados mal cuidados de casas que muitas vezes abrigam numerosas famílias. Prédios mais recentes, com exceção de um hospital novo, são escas­ sos. Entre os nove distritos, Pine Ridge é o centro do conselho tribal, com sua rua principal que ostenta dois semáforos. Há uma lanchonete Subway, uma Pizza Hut e um posto Shell. Depois vem uma estatística que real­ mente choca – uma taxa de suicídio entre jovens que é 150% maior que a média nacional. Em um período de 45 dias em 2009, o Departamento de Segurança Pública de Oglala Lakota Sioux registrou 90 suicídios ou tentativas de suicídio. O celular que Tiny DeCory guarda no bolso como uma espécie de linha do suicídio, tocava sem parar naquela época. Na realidade ainda toca: jovens tomando overdose de comprimidos, outros que ligam para simplesmente dizer “eu quero me matar”, fazem com que ela pule no carro e acelere para onde estejam. “Há muitos fatores que contribuem para tal atitude”, diz DeCory, advogada da juventude e tia por adoção de 60

i­ ncontáveis meninos na reserva. “Aqui existem mães solteiras sem nenhuma renda. A economia vai de mal a pior e segue cobrando seu preço. Alguns garotos entram no Facebook e escrevem ‘f*-se minha vida’, e eu sei quais são, porque é constante.” Há neste lugar coisas ruins o suficiente para fazer de alguém um desesperado, e DeCory, cuja reputação por falar e agir de forma direta é muito conhecida na reserva, tem uma visão nebulosa do futuro. Mas entre as ligações telefônicas de pânico e mensagens tristes, ela vem notando uma mudança: postagens no Facebook de crianças sorridentes e de skates; vídeos de celular com manobras realizadas com destreza; fotos dos suaves contornos da pista – seria o surgimento de uma real alternativa? “Temos nossos rodeios e encontros indígenas e nossos jogadores de basquete. Mas finalmente temos uma nova cultura”, ela diz. “E é a cultura do skate.” Uma SUV branca entra no estaciona­ mento de chão batido ao lado da pista de skate numa manhã ensolarada de um sábado de primavera. A parte traseira do carro está coberta com uma crescente

“Tenho alguns problemas rolando na minha vida, mas na pista eu me sinto livre”

coleção de adesivos de marcas de skate, incluindo uma dos Wounded Knee. Walt Pourier e Jim Murphy desembar­ cam; sua chegada causa um pequeno alvo­roço, com muitos cumprimentos e alguns abraços entre uma dúzia de jovens presentes na pista. Eles estão bem familiarizados com seus benfeitores. A dupla chega diante de um cenário inimaginável um ano antes. “Quando Murf e eu entramos no carro de volta, a gente pensou, ‘cara, conseguimos!’”, diz Pourier com a voz trêmula. “É emocionante, e uma felicidade muito grande também.” Nascido e criado lá, Pourier sabe muito bem das dificuldades encaradas pelos skatistas. Hoje, morando em Denver, onde trabalha com design gráfico, ele retorna frequentemente para marcar presença em sua terra. “Uma boa parte da minha família ainda está aqui, muitos amigos, então voltamos frequentemente para cerimônias e reuniões familiares. Infelizmente, muitas vezes para funerais”, ele diz.

O

skate não existia em Pine Ridge no tempo de Pourier. Basquete, futebol e corridas indicavam status – e ainda indicam. Mas Pourier, um cara de cabelo enfeitado com penachos e cheio de energia, parecido com persona­ gens dos filmes de John Hughes, mostra­ va já naquela época um lado diferente. Quando Pourier chegou na California, conheceu e apaixonou-se pelo skate. Ten­ tou andar algumas vezes, mas nem sem­ pre teve muito sucesso. Mas diz que já chegou a 90 km/h em uma estrada. Hoje, aos 47 anos, já não se arrisca mais. “Eu geralmente caio. E faço uns barulhos estranhos quando vou ao chão”, diz. Metade palhaço e metade um eloquen­ te representante da juventude, Pourier viu no skate uma forma de conectar os jovens a tradições e cultura dos Oglala Lakota Sioux, costumes que os ajudam a crer em ser parte de algo maior. “Os jovens de hoje podem não dar bola à história como a do búfalo branco”, ele diz. “Então nós a desenhamos no shape.” Os shapes são um presente de Murphy, ou Murf, como ele é conhecido por todos. Skatista da lendária turma de Tony Alva, seu estilo vertical desapareceu quando o streetstyle entrou em voga em meados dos anos 1990. Mas seu amor pelo esporte, que se tornou um objetivo pessoal desde a morte do seu pai há 13 anos, nunca se esvaiu. Trabalhando em tempo integral como restaurador de vitrais, Murf e seu bom amigo, o falecido defensor do skate THE RED BULLETIN


A partir da foto superior esquerda, em sentido horรกrio: Elijha Battese (centro) e Jaydin Peters (direita); Will Peters; Elijah, Taylor e Leroy descem a colina; as meninas que andam pelo parque


Desde o começo do século XIX, as tribos da grande nação Sioux dominaram as planícies do Norte dos EUA. O tratado do Forte Laramie de 1868 confinou os Lakota Sioux a uma região do que é hoje o sudoeste de Dakota do Sul, transformando pela força uma cultura guerreira em uma sociedade agrícola. A reserva de Pine Ridge foi estabelecida formalmente em 1889. Um ano depois, 300 Sioux foram massacrados pela 7ª Cavalaria em Wounded Knee Creek. Em 1973, Wounded Knee teve mais uma vez um impasse com o governo americano quando membros do movimento de ativistas dos índios locais tomaram a região, protestando por melhores condições. O confronto armado durou 71 dias, despertou a consciência para a causa dos índios e conduziu mudanças de vida na reserva, buscando, inclusive, um resgate cultural. Enquanto o conselho tribal mantém jurisdição sobre a reserva, incluindo os departamentos de segurança pública, os governos estadual e federal ainda participam. Dos estimados 2,5 milhões de índios americanos, 40 mil vivem hoje em Pine Ridge, a maioria deles abaixo da linha de pobreza. Em 1980, a mais longa batalha judicial da história dos EUA terminou quando a Suprema Corte estabeleceu uma multa de US$ 106 milhões em favor dos Sioux, determinando que os Black Hills e 7 milhões de acres de terra foram injustamente tomados pelo governo. Mas as tribos recusaram o dinheiro, seguindo na luta pela devolução das terras.

novaiorquino Andy Kessler, criaram uma empresa. Como uma brincadeira, decidiram fazer uma homenagem a seus corpos decadentes e chamá-los de Wounded Knee (que sigifica joelho machucado). Os livros escolares se referem a esse episódio de sua história somente como a uma batalha entre os Sioux e os remanescentes da 7ª Cavalaria que montavam guarda na reserva no inverno de 1890, omitindo que Wounded Knee foi um massacre profetizado pelo chefe Sioux Touro Sentado. Trezentos Sioux, incluindo mulheres e crianças, foram executados, seus corpos deixados para congelar para depois serem jogados numa vala comum. A maior característica do design de shapes de skate Wounded Knee é a inspiração na cultura nativa norte-americana; os shapes vêm com uma folha contendo informações detalhadas sobre o massacre e suas consequências (como é possível ver no pé desta página). “Sempre sonhávamos ver uma pista de skate em Pine Ridge como homenagem àqueles que morreram em Wounded Knee”, disse ele. “Mas ainda parecia algo inimaginável.”

“Não é apenas construir rampas de skate, é mudar mentalidades” Walt Pourier

Em 2007, Murf participou de uma exibição que a Smithsonian organizou sobre skatistas índios. Lá ele conheceu Pourier. Os conhecidos de Pourier conseguiram arranjar as coisas, e a Grindline, uma fabricante de pistas de skate, se ofereceu para construir uma por um preço reduzido. Pourier e Murf conse­ guiram uma doação de US$ 10 mil da Tony Hawk Foundation, que foi acrescida com aportes do mesmo valor por dois outros membros da fundação. O baixista do Pearl Jam, Jeff Ament – que foi skatista e cresceu próximo a uma reserva em Montana – também abraçou a causa. A construção teve início em setembro de 2011. A rampa foi aberta algumas semanas depois, no dia 16 de outubro, em uma grande cerimônia, durante a qual Pourier recebeu uma bandeira tribal, uma honra normalmente reservada aos idosos. “Essa rampa de skate traz a eles mais uma razão de viver. É alguma coisa que os instiga e mantém as mentes ocupadas”, diz Murf. “Você pode lidar melhor com os sentimentos. É possível trabalhar isso na pista de skate, com uma grande família de skatistas para te apoiar.” A maioria dos garotos da pista chega cedo e vai embora tarde. Com a visita de sábado da dupla Pourier e Murf não é diferente. Os cães da reserva andam pelos arredores, farejando os primeiros sinais do churrasco. O estacionamento é de chão batido cheio de barrancos e buracos esculpidos pelo mau tempo. Alguns carros velhos sem farol e outros com remendos de plástico nas janelas vêm chegando. Entre os skatistas, um se destaca. Sob uma juba tingida de laranja e um rabo de cavalo, o lado direito do rosto de Joe Mesteth, o “Crazy J” , está coberto por um desenho de prata e tinta azul. “Ele é um pouco a exceção da regra aqui na reserva”, diz Pourier. “Eu acho que o skate é simplesmente aquilo que o mantém vivo. Ele está vivendo a ideia de o skate realmente poder salvar vidas.” A biografia de Crazy J segue uma tendência quase generalizada da reserva. Com pais alcoólatras, ele foi criado por seus avós. Apesar de já ter trabalhado para o presidente da tribo, ele acabou se envolvendo com o tráfico. “Os problemas daqui não se comparam aos problemas de fora”, diz Mesteth com uma voz calma. “Se estivesse vivendo no mundo dos brancos, eu provavelmente conseguiria algum dinheiro para pagar o aluguel. Aqui na reserva ou você tem um sobrenome ou terá que vender droga para conseguir dinheiro.” Mas Crazy J não é um traficante ou um bandido qualquer. Seu lar no momento

FOTOS ADICIONAL: CORBIS, WOUNDED KNEE

História


A partir da esquerda: Taylor, Jaydin, Jake, Janis e Elijah descansam depois de uma sessão de skate pela manhã

é um velho carango Chevy Suburban, já que ele teve que fugir de uma família envolvida em briga e álcool. O carro, seu atual refúgio, fica agora estacionado ao lado da pista de skate. “Sempre que estou no skate, eu sinto a liberdade”, ele diz. “Eu tenho alguns problemas rolando na minha vida, mas na pista eu me sinto livre.” Com fone nos ouvidos, ele percorre a pista em seu skate plenamente concentrado, agachado, absorvendo as curvas de concreto enquanto manda ver nas manobras. Quando não está no skate, os mais jovens grudam nele para ouvir conselhos sobre manobras e consertos. Crazy J é um exemplo para eles e Murf fez dele um membro oficial da equipe Wounded Knee Skateboards. “Há tantos problemas que atormentam esses garotos, coisas das quais eles nem se dão conta”, diz Mesteth, de 25 anos, um dos mais velhos da pista. “Estou tentando fazer do meu carro uma loja de skate ambulante. Eu quero sair e encontrar os garotos, realmente usar o que tenho.” Murf estima que para cada garoto num shape há provavelmente uma centena de outros que gostariam de ter um mas não têm dinheiro. Conseguir mais skates para os que precisam tem sido a filosofia que orienta sua empresa mas também o motivo de ela nunca ter dado lucro. Enquanto a comida assa na grelha, uma mistura de pais, amigos e bebês se senta no concreto para assistir aos skatistas. THE RED BULLETIN

Os árbitros são lenientes para que todos tenham a chance de participar. Não há sistema de som, apenas dois voluntários que gritam os nomes dos participantes. Murf, vestindo um abrigo de moletom de capuz Wounded Knee e com cabelo preso num rabo de cavalo, faz comentários de incentivo em meio ao barulho das rodinhas dos skates. “Vamos lá, cara, tá na sua mão!”, grita. “Mais uma manobra!”

A

camaradagem na pista é notável. Não faltam assobios e gritos de apoio a cada manobra bem realizada ou terminada em tombo. “Esses garotos podem alcançar o mesmo nível dos skatistas na Califórnia. O que eles precisam é de uma estrutura parecida ou da mesma qualidade”, diz Murf. No final do torneio, prêmios são distribuídos aos vencedores de categorias como a de “Melhor Manobra” e a “Mais Criativa”. Eli, que começou a andar de skate no dia em que o parque foi inaugurado há seis meses, levou o prêmio de “Mais Coração”. “Eu vivi aqui a maior parte da minha vida”, ele diz. “Não havia muito o que fazer até que eu ganhei um skate... Se não fosse por Walt e Jim, eu não conseguiria ser tão bom como sou agora. Sei que estou sendo notado.” Claro, para Pourier e Murf, a performance e a perfeição das manobras não são o principal foco das atenções, isso é uma consequência de muito trabalho.

“A profecia de Touro Sentado tem duas fases: a primeira terminou com o massacre de Wounded Knee”, ele diz. “A segunda começa com Wounded Knee, através desta geração de jovens.” A crença ancestral é o que está por trás do compromisso fervoroso com o skate e os efeitos que tem no lugar. Eles estão planejando construir três outras pistas em Pine Ridge. “Não podemos esperar mais uma semana, não podemos esperar mais duas semanas”, diz Pourier. “Já enterramos muitos garotos aqui e ninguém mais deveria passar por isso. Aqui não é só uma questão de construir rampas de skate, mas sim de mudar a mentalidade”. A tarde cai. O capacete de ouro de Jaydin Thomas Peters pega um brilho do sol cadente, a luz combina com o sorriso em seu rosto. Para um lugar que procura histórias de sucesso, Jaydin é um exemplo evidente. Ele já ganhou alguns prêmios com danças nativas no gramado e é um bom aluno. Foi criado pelos avós, uma mulher estoica de nome Lena e um fã de Bob Marley, o professor da língua e cultura Lakota chamado Will. “Esse cara é forte, ele cresceu aqui”, diz Will Peters, espiando por óculos escuros tipo John Lennon. “Sua mãe aparece e depois some. Ele sabe como é”, afirma. A casa de Peters é arrumada e tem um andar de base pré-fabricada comum na reserva. Entre as coisas de que mais gosta está uma pequena caixa de madeira que tem na tampa o desenho de um guerreiro Lakota montado em seu cavalo. Dentro estão os presentes de familiares: uma lâmina de faca, a gargantilha que foi dada pela mãe e uma pulseira de porco-espinho. “Eu só tiro para velórios”, diz. Há muitas coisas que poderiam deprimir Jaydin, mas, se ele se deixa abalar, sabe esconder bem. Cinco anos atrás, quando começou a andar de skate, a rampa de madeira construída nas antigas quadras de tênis era o único lugar próximo de sua casa para praticar. Mas lá está ele na extremidade do halfpipe com Eli, seu primo, observando seu amigo Jake Roubideaux dropar e sentir aquele arzinho no outro lado. “Vê o que Jake acaba de fazer? E o aplauso de todos?”, ele pergunta. “Isso realmente faz o coração bater mais forte, saber que essas pessoas estão aqui só pra me ver”, diz Jake. Jake para e olha para longe de novo. “Aqui a gente não pensa em ser melhor ou pior”, ele diz. “Não tem aquele ‘eu sou superior a você’. Todo mundo é igual.” Leia mais em: strongholdsociety.org, www.redbull.com/skateordie

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Mr. Lava Lover

O cinegrafista neozelandês Geoff Mackley vive de registrar os maiores fenômenos da natureza. Descer de rapel até o interior de um vulcão beirando um rio de lava é uma coisa que ele faz brincando Texto: Robert Tighe Fotos: Bradley Ambrose

Trabalho incandescente: o assistente de Geoff Mackley, Nathan Berg, contempla o lago de lava do vulcão Marum, na Ilha de Ambrym, em Vanuatu

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J

á fazia pelo menos 15 anos que uma pergunta ardia no peito do aventureiro Geoff Mackley: como seria chegar o mais perto possível do rio de lava do Monte Marum e observar a borbulhante massa de rocha derretida? Sua resposta é clara: “Parece a superfície do sol”, ele diz, via rádio, para seu braço direito, Bradley Ambrose. O assistente está empoleirado 100 metros acima numa encosta rochosa, registrando o momento com a câmera. “É como nos meus sonhos mais malucos.” Marum fica na Ilha de Ambrym, a quinta maior extensão de terra do arquipélago da República de Vanuatu, no sul do Oceano Pacífico, onde estão os poucos rios de lava ainda existentes. Um rio como esses é um grande e permanente volume de rocha derretida que fica borbulhando dentro de uma cratera ou abertura na terra. Desde 1997, Mackley gastou cerca de meio milhão de dólares em expedições a Ambrym para descobrir uma forma de poder descer de rapel os 400 metros do despenhadeiro até o rio de lava. “Contando com esta, estive no local 13 ou 14 vezes”, diz Mackley. “As filmagens e fotografias que fizemos dessa vez correspondem ao que eu tinha em mente por 15 anos. Nas nossas primeiras viagens carregávamos o equipamento montanha acima, ficávamos em nossas barracas debaixo de chuva torrencial por semanas e no final voltávamos sem ter conseguido ver nada. Aprendi muito com essas expedições e tentei não cometer os mesmos erros. Da primeira vez que fomos, bar­racas e equipamentos nos deixaram na mão, hoje utilizamos 66

Nathan está pronto: “Ele desceu o penhasco equipado com respiradores e roupa anti-calor”, diz o fotógrafo Bradley Ambrose. “Ele provou o equipamento e sabia o que fazer no caso de uma emergência”

o que há de melhor. Mas as falhas são humanas, é natural. As pessoas simplesmente piram lá em cima.” Com Mackley nessa viagem estavam os neozelandeses Bradley Ambrose e Nathan Berg, além do cinegrafista americano Rui Cavender. Ambrose, um cinegrafista freelancer, começou a trabalhar com Mackley alguns anos atrás, quando se conheceram ao fazer a cobertura de um acidente de carro para um canal de notícias. Essa foi a quarta viagem de Mackley, de 36 anos, para Ambrym. Berg lavava pratos em um café quando Ambrose, cujo enteado era o melhor amigo de Berg,

perguntou se ele estaria interessado em ir até um vulcão. Aos 18 anos e sem nunca ter saído do país antes, Ambrose agarrou a oportunidade com todas as forças. “Eu era um cara barato”, brinca Berg. “Além do mais, estou em forma, malho muito e cumpro com o que me mandam.” Os três neozelandeses chegaram em Porto Vila, capital de Vanuatu, no final de junho, e Cavender chegou uma semana depois. Uma combinação de clima desfavorável e equipamentos fundamentais perdidos pela empresa de transportes durante a viagem tornou impossível, até meados de julho, embarcar no helicóptero THE RED BULLETIN


“EU JÁ TINHA SONHADO COM ESTAS IMAGENS HÁ 15 ANOS”

Aventureiros no nevoeiro: “As bandeiras de Vanuatu e da Nova Zelândia balançam no acampamento. A neblina no fundo é uma nuvem de gases tóxicos que rodeia a área”, explica Ambrose

THE RED BULLETIN

que os transportaria ao topo do Marum. Além da responsabilidade sobre mais de 1 tonelada e meia de equipamento, a pressão dos custos era enorme. “Na última viagem, há anos, tiramos algumas fotos razoáveis”, disse Mackley, cujos cinegrafistas na época eram dois alpinistas que chegaram a 50 metros do rio de lava. “A única maneira de superar isso era chegar ainda mais perto.” Estar próximo do perigo é algo que Mackley tem feito desde que começou a trabalhar como filmmaker há mais de 20 anos. Incêndios e acidentes de carro têm sido sua rotina até 1995, quando houve a erupção do Monte Ruapehu, um vulcão em uma ilha do norte da Nova Zelândia. Mackley escalou o cume da montanha por cinco horas debaixo da forte nevasca para fazer as imagens que percorreram o mundo. Uma produtora britânica comprou 15 minutos de seu material no Ruapehu pagando US$ 20 por segundo, US$ 18 mil por todo o esforço. Foi quando surgiu uma nova carreira: viajar o mundo para filmar eventos extremos em lugares perigosos. Desde então, aos 48 anos, começou a caçar tempestades ao redor dos EUA, registrou a devastação causada pelo tsunami na Indonésia e cobriu a Guerra do Afeganistão. Vulcões, no entanto, são sua grande paixão. Em 1997, o Discovery Channel incumbiu Mackley de fazer uma série de TV batizada de Volcano Detectives. Durante as filmagens, visitou um dos vulcões de maior atividade no mundo, o Monte Yasur, localizado na Ilha de Tanna, em Vanuatu. Enquanto esteve lá, alguns locais lhe contaram haver um grande lago de lava na Ilha de Ambrym. “‘Mentira’, disseram as pessoas que estavam comigo.” “‘Se houvesse um rio de lava, todo mundo saberia disso e seria uma grande atração turística.’ Mas logo descobri que era verdade”, relata Mackley. 67


Todo cuidado é pouco: “Geoff (esquerda) e eu nos preparos para a descida à cratera”, lembra-se Ambrose. “Usávamos máscaras e visores à prova de calor para evitar que a chuva ácida queimasse os nossos olhos”


Como faltava dinheiro para um helicóptero, Mackley teve que escalar os 1.334 metros de montanha a pé. Quando chegou ao topo, descobriu que um tremor de terra recente tinha soterrado o rio de lava com pedregulhos. “Saíam apneas poucas baforadas de fumaça”, ele conta. Alguns meses depois, ao saber que a lava havia reemergido, voltou para o local. “Dito e feito, lá estava ela, no fundo da enorme cratera”, disse Mackley. “Tínhamos péssimas condições climáticas e conseguíamos apenas vê-la por alguns segundos no meio da chuva, mas eu tinha certeza de que queria chegar até o fundo. Eu imaginava o que iria se passar e quais dificuldades me esperavam. Levei para Ambrym um pessoal que havia escalado o Everest; eles olharam para a borda do vulcão e disseram ‘não vou descer’. Porém um ‘não’ era para mim inaceitável.” É claro que existem outros rios de lava pelo mundo. Mas, segundo Mackley, o perigo deste é sua instabilidade. A lava fervente e borbulhante de rocha fundida, que alcança temperaturas de mais de 1.250°C, tem se mantido no mesmo nível desde sua primeira visita ao local. “O lago de lava do Marum não está em erupção”, ele diz. “A pressão liberada ocorre de maneira muito estável. No caso da maioria dos outros vulcões você não pode nem chegar perto: é impossível prever o seu comportamento.”

E FOTO: RUI CAVENDER

ntão, como Mackley sabe de que maneira o Marum vai se portar? “Não sei”, ele admite. “Mas é fácil pelo menos verificar onde a lava esteve recentemente. Se você chegar mais perto que do isso, é um otário.” O topo do vulcão, onde Mackley levantou acampamento, é uma planície de cinzas, com 12 km de ponta a ponta e completamente estéril. A uma certa distância das barracas tem-se uma crista da qual o rio de lava pode ser visto do alto de 400 metros. O caldeirão, cujo diâmetro é de aproximadamente 200 metros – equivalente ao tamanho de dois campos de futebol –, é uma vista deslumbrante. “É como uma criatura viva”, diz Ambrose. A equipe montou sete barracas para a estadia na montanha: uma para cada um dos quatro integrantes, outra que servia de depósito, uma para o guia e o gerador e por fim um abrigo onde cozinhavam, assistiam a filmes e tentavam manter a

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cabeça fria enquanto o mau tempo só atrasava seus planos e complicava a vida. A combinação de altitude, calor e os gases do vulcão faz com que o Ambrym tenha um clima singular: “Tivemos no máximo cinco dias bons durante a estadia lá em cima. É como viver dentro de uma nuvem”, relata Ambrose sobre o seu ambiente de trabalho. Mackley explica: “Enquanto reina o maior sol no Pacífico, poderá estar caindo o mundo em cima da montanha. Se houvesse melhores condições climáticas, poderíamos ter ido embora em uma semana”.

O Gás pesado (no topo): “Na maior parte do tempo a nuvem saía do acampamento”, diz Ambrose, “mas dessa vez o Nathan foi surpreendido do lado de fora sem a máscara”. Caminho da descida (abaixo): “O lago de lava visto do topo da cratera do Marum em uma das poucas noites com boa visibilidade”

“TUDO LÁ NO TOPO ESTÁ, POUCO A POUCO, TENTANDO TE MATAR” 70

mau tempo transfor‑ mou uma experiência desgastante em uma aventura caríssima – cerca de US$ 70 mil, estima Mackley. O plano inicial era passar mais de 20 dias na montanha. Em vez disso, tiveram que ficar 38. Isso implicou mais dinheiro para suprimentos, helicóptero e guia nativo do vilarejo de Ranvetlam. “Poderíamos ter pego um helicóptero que nos levasse até o topo do vulcão sem pagar mais ninguém, mas isso teria sido uma estupidez, já que você está em uma ilha isolada, cercada por pessoas com armas de fogo e facões”, diz Mackley. “É preciso ficar amigo de uma comu‑­ nidade e ter guias daquele lugar com você. Na verdade, eles não estão ali para orientar. Estão ali para sua segurança.” Anteriormente, Mackley teve contato com a aldeia de Lalinda, situada do lado oposto do vulcão Ranvetlam. A relação azedou depois que os camponeses escon‑ deram a maior parte do seu equipamento exigindo em troca uma grande soma em dinheiro. Nessa viagem, um camponês de Lalinda encostou no piloto de Mackley e ameaçou derrubar o helicóptero a tiros se ele sobrevoasse a aldeia. Mesmo assim, a maior ameaça no Ambrym não são os hostis habitantes locais, mas o próprio vulcão. “Tudo lá em cima está aos poucos tentando te matar”, diz Mackley. Algumas noites a equipe foi obrigada a colocar máscaras de gás para dormir, porque o vento soprava uma terrível combinação de gases tóxicos sobre a região do acampamento. Outras vezes, o vulcão arrotava sulfeto de hidrogênio e dióxido de enxofre mistu‑ rados à água da chuva, formando pingos ácidos fortes o suficiente para queimar a pele. Os locais chamam o Marum de THE RED BULLETIN


Na linha (esquerda): “Nathan a cinco metros do cume”, diz Ambrose. “O brilho laranja é o lago de lava 400 metros abaixo”. Contrapeso (direita): “Geoff, Rui e Nathan preparam uma bolsa de areia para segurar o rappel no topo da cratera. A planície era cinza e estéril, não tinha onde amarrar os fios”

“Porta do Inferno”. Mackley concorda com essas impressões sobrenaturais: “Com certeza há momentos em que você pensa: ‘Eu não deveria estar aqui’.” O clima severo e a baixa visibilidade impossibilitaram, na maior parte do tempo, as filmagens e a escalada. Quando o clima melhorou, a equipe preparou os cabos e grampos para a descida, planejando um caminho que permitisse a Mackley, Ambrose e ao equipamento de filmagem chegar até o fundo do penhasco de 400 metros. Mackley desceu antes, em um cabo de 200 metros – metade da altura do precipício –, fincando grampos nas rochas em intervalos regulares. Quando seu cabo terminou ele tinha encontrado uma saliência de 10 metros na rocha, dando-lhe espaço e tempo para conseguir realizar a segunda metade da descida. Enquanto isso, Ambrose desceu outros 200 metros alcançando alguns aparatos da câmera. Mas antes que eles pudessem descer de rapel a segunda corda, o tempo virou e choveu todos os dias por quase duas semanas, confinando a equipe dentro de suas cabanas ou a trabalhos ocasionais perto do acampamento. Foi no dia 10 de agosto, quadragésimo quinto dia da expedição, que Mackley teve a oportunidade de descobrir o que havia no final da segunda corda. Após uma descida de duas horas, ele conseguiu chegar ao fundo da cratera correndo 50 metros a partir da base do precipício até uma saliência apenas 30 metros acima da lava pulsante. Vestindo apenas camiseta e calça cargo, ficou cinco ou seis segundos até que o calor intenso o forçou a se afastar. “Eu não esperava chegar até o fundo naquele dia”, ele disse. “Mas, após THE RED BULLETIN

15 anos tentando, eu jamais teria deixado de ir até o fim depois de ter encontrado uma forma de chegar até lá.” No dia seguinte, os deuses do tempo sorriram para Mackley que, com um traje contra o calor e um cilindro de oxigênio, permaneceu bem perto da lava por 45 minutos, olhando a deslumbrante claridade laranja e vermelha de pedra derretida. (As imagens espetaculares registradas por Mackley e sua equipe foram vistas mais de 2 milhões de vezes em poucos dias após sua divulgação na internet. Desde seu regresso, Mackley vem sendo as­sediado pela BBC e canais de TV da Coreia do Sul e do Japão, pedindo para ele repetir a ação com eles em Ambrym). “Eu estava completamente louco naquela hora”, disse Mackley sobre sua experiência de 45 minutos, um sonho que durou 15 anos. “Quando cheguei ao fundo, tinha tanto calor, estava tão desidratado e exausto que mal conseguia pensar em alguma coisa. E o barulho é como o som de um mar em fúria, só dez vezes mais alto! Fiquei lá até começar a sentir que faltava suprimento de ar. Eu não queria voltar, o espetáculo era maravilhoso. O maior espetáculo da Terra.” www.geoffmackley.com

ILHA DE AMBRYM

Ilhas Vanuatu

Ambrym é uma ilha vulcânica do arquipélago de Vanuatu, anteriormente conhecido como Novas Hébridas

Vulcão Marum SAMOA Planície cinzenta COOK ISLANDS 10 km 10 milhas

“HÁ MOMENTOS EM QUE VOCÊ PENSA: ‘EU NÃO DEVERIA ESTAR AQUI’” 71


HISTÓRIA

VIVA DEZ MARAVILHOSOS MUSEUS MOLDAM NOSSO PASSADO, PRESENTE E FUTURO POR STEPHEN BAYLEY

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NOVO MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA

Nova York, EUA

Arquiteto: SANAA. Ano de inauguração: 2007 Localizado na Rua Bowery, é o primeiro museu de arte contemporânea de Nova York desde o influente MoMA. Mas, enquanto o MoMA institucionalizou as obras prediletas da arte internacional, o MOCA decidiu cumprir um papel mais subversivo. Até mesmo os arquitetos que projetaram o museu eram desconhecidos nos EUA naquela época. SANAA é um acrônimo de Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, que se juntaram a Shigeru Ban (do museu nômade de contêineres) e ao falecido Kenzo Tange (do museu de arte de Yokohama), formando uma sensacional equipe japonesa de projetistas. O MOCA foi erguido no local de um antigo estacionamento. É composto de caixas dispostas sobre um eixo deslocado dando um efeito de escada, como para explicar que com o MOCA não se trata de uma instituição hierarquizada. Aqui está representado um paradoxo: o MOCA se interessa por uma arte insubstancial e digital, mas ganhou um prédio com uma enfática presença arquitetônica. Ao mesmo tempo é uma negação e um despiste para os vídeos e shows de luzes em exibição no lugar. Ainda que o SANAA tenha anteriormente projetado a loja da Christian Dior em Tóquio, o MOCA fez a reputação internacional do coletivo: em seguida construíram o Rolex Learning Centre em Lausanne (2010) e o pavilhão desmontável da Galeria Serpentine, em Londres (2009). Uma característica que define a vida moderna é que o comércio e a cultura já não são mais distintos entre si: de fato, experimentar grifes e visitar museus é a mesma coisa. Arte e luxo tornaram-se um só. THE RED BULLETIN

FOTO: CORBIS

Quer a caricatura do funcionário de um museu? À moda antiga: um homem pálido e uniformizado que fala baixinho e é responsável por uma assustadora coleção de fósseis sobre a qual passa um espanador. Hoje: um jovem vestido de preto, usando fones no ouvido e servindo água mineral com gás a um milionário durante uma animada festa cheia de luzes. Museus já foram, um dia, vastos e imponentes depósitos do conhecimento de suas cidades, possuindo uma arquitetura condizente a seu papel. A majestosa fachada clássica do Museu Britânico foi concebida como uma irrefutável declaração de Londres enquanto guardiã, ou mesmo até ladra, da cultura material do mundo. O museu de História Natural de Londres foi construído em estilo gótico, mesmo estilo das prefeituras britânicas do século XIX. A intenção era sugerir valores diferentes daqueles de então. Foi no Museu de História Natural de Londres que os primeiros dinossauros foram exibidos e classificados: talvez se sentissem mais em casa num modelo arquitetônico que sugere o primitivo do que num ambiente refinado. Certo é que, qualquer que seja o seu lugar e o que exibe, o museu revela o orgulho, as ambições, as crenças e preocupações, bem como as ansiedades e dúvidas da civilização que o ergueu. Porém tão grandiosos como os museus municipais, explicando ciência e arte, as modernas lojas dos centros comerciais foram expondo da mesma forma seus produtos industriais, colocando-os à venda. Observadores fizeram essa conexão, que veio seguida por uma série de metáforas: o romancista Émile Zola declarou o Le Bon Marché de Paris a “cathedrale de la commerce moderne” (catedral do comércio moderno). Seu contemporâneo, Julien Guadet, foi além, chamando-o de “musée de marchandise” (museu de mercadoria). Os EUA acrescentaram ao conceito de museu uma dimensão que vai ainda além do comercial. Em Nova York, a Frick Collection foi o resultado do encontro entre o novo dinheiro dos norte-americanos e a velha mobília francesa. O Museu de Arte Moderna foi fundado em 1929 não por devassos radicais, mas pelos Rockefellers. O MoMA fez arte como forma de um investimento seguro. Por fim, na Paris dos anos 1970, o Centre Pompidou demonstrou como uma arquitetura arrojada pode transformar um museu em troféu urbano. Apenas culturas bem estabelecidas, cidades ou indivíduos erguem museus. Hoje, uma nova geração de museus internacionais representa os limites das possibilidades arquitetônicas. Para um arquiteto, um museu é uma missão almejada: a oportunidade de projetar a construção definitiva, livre das realidades diárias no sentido mais amplo. Um museu é um símbolo de riqueza, status, cultura, confiança, virilidade e estilo.


O estilo de caixas deslocadas feito por SANAA no MOCA, de Nova York, proporciona uma variedade de espaços internos abertos, fluidos, sem colunas e repletos de luz com diferentes alturas em cada nível


BMW WELT

Munique, Alemanha Coop Himmelb(l)au, 2007

É assim que um mundo projetado pela BMW funciona? A fabricante de carros alemã criou uma experiência de grife única sob um teto enorme de 16.500 m², que dobra de área com o gerador solar, provendo energia para todo o prédio

FOTOS: SHUTTERSTOCK, CORBIS, IWAN BAAN

A Coop Himmelb(l)au foi criada pelos jovens arquitetos Wolf Prix, Helmut Swiczinsky e Michael Holzer em Viena, Áustria, em 1968. Foi um ano que viu rebeliões estudantis idealistas em toda a Europa. O nome é a junção de Coop, que remete a cooperativismo (hoje também chamado de coletivo), com Himmelb(l)au, que pode significar céu azul ou arquitetura celestial. Ou ambos. Em 1968, enquanto estudantes franceses atiravam pedras contra gendarmes, a BMW se ocupava em consolidar a reputação conquistada com os carros “Neue Klasse” de 1961. Com sua linhagem clean e o legado da escola de design Bauhaus, os carros BMW se transformaram em símbolos do avanço econômico alemão, amplamente aprovados e bem conceituados nos mercados ao redor do mundo. Tanto foi assim que no século XXI a BMW não é mais apenas uma fabricante de motores bávara, mas uma produtora de artigos de luxo universalmente conhecidos pela sua reputação no design único, na dirigibilidade e tecnologia avançada de seus carros. Assim, quando a BMW decidiu criar um templo para a sua coleção de valores próximo do Olympiapark Munique, a orientação foi ao mesmo tempo complexa e sutil.

Os conceitos da Bauhaus de claridade e funcionalismo, tão bem representados por exemplo num BMW 2002 modelo 1968, começam a ser reconsiderados. Realmente, a série 2003-5 apresentou uma nova linguagem no design que era expressiva, orgânica e quase perversa. A Coop Himmelb(l)au, que conquistou sua reputação na arquitetura desconstrutivista exposta no Museu de Arte Moderna de Nova York em 1988, era capaz de interpretar essa orientação. O BMW Welt de 1968 teria sido um barracão cheio de detalhes. Em 2007 se converteu numa vasta e complexa estrutura cujos espaços variavam em significação. Tecnologia e qualidade permanecem, enquanto que a assertividade e a complexidade foram acrescentadas ao mix de valores.

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THE RED BULLETIN


MUSEU VITRA DESIGN

Weil am Rhein, Alemanha

FOTOS: IWAN BAAN, VITRA, PICTUREDESK.COM

Vários, 1989 Dizem que os anos 1980 foram considerados a “década do design”. O Museu do Design de Londres foi inaugurado em agosto de 1989 tornando-se, tecnicamente, o primeiro. O Museu Vitra Design abriu suas portas mais tarde naquele mesmo ano. Mas enquanto o Museu de Design de Londres tinha um único prédio na margem do Tâmisa e se concentrava em um programa didático, o Museu Vitra era um envolvente projeto comercial. Vitra é uma fábrica de móveis da Basileia. Quando adquiriu uma licença para produzir as famosas cadeiras de Charles Eames, bombou. E um desastroso incêndio na fábrica em 1981 deu a Rolf Fehlbaum a oportunidade para reinventar o negócio da família. Originalmente, Frank Gehry foi incumbido de criar um museu para abrigar a coleção Fehlbaum de móveis modernistas clássicos. Mas Fehlbaum logo teve a ideia do Vitra como um “campus” e foi para a Alemanha, transformando a experiência em uma impressionante propaganda de sua visão. O primeiríssimo prédio construído por Zaha Hadid foi o posto de bombeiros privado do Vitra, concluído em 1993. Outros arquitetos que criaram prédios independentes e que foram sendo agregados a um Vitra em contínua expansão incluíram Nicholas Grimshaw (1981 e 1986), Tadao Ando (1993), Álvaro Siza (1994) e Herzog & de Meuron (2010). Um círculo virtuoso de egos competitivos foi estimulado pelas ousadas e inegáveis encomendas de Fehlbaum. O museu Vitra Design tornou-se ele próprio um fenômeno para o “designer”. Todavia, pacientemente, Fehlbaum confirmou o elo entre cultura e comércio, entre arte e negócio, entre lojas e galerias. THE RED BULLETIN

Rolf Fehlbaum, presidente da fabricante de móveis suíça Vitra, queria apenas um lugar para expor sua coleção de mobília clássica modernista. No entanto, na época em que o museu Vitra Design foi concluído, em 1989, o conceito original evoluiu para uma escola completa que mostrava a visão de Fehlbaum. O prédio do museu está no meio de outras dez construções em Weil am Rhein. O primeiro prédio de Frank Gehry’s na Europa tem um exterior geometricamente desconstrutivista que não é visível por dentro, com linhagem clean complementando diversas mostras

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VULCANIA

Saint Ours les Roches, França Hans Hollein, 2002

A província de Auvergne, na França Central, é a maior área vulcânica da Europa. O Puy de Dôme é o seu mais alto vulcão, com 1.464 metros – erupções não acontecem há cerca de 8 mil anos. O vazio selvagem da região e os dramáticos vestígios vulcânicos são uma estarrecedora lembrança das forças inefáveis da natureza. Lá, em uma propriedade militar de 57 hectares, está Vulcania, que recebeu o nome em homenagem à forja de ferreiro do Virgílio da Eneida.

Vulcões são símbolos poderosos que nos fazem lembrar da mitologia. O arquiteto de Vulcania é o austríaco Hans Hollein, um dos primeiros pós-modernistas europeus. Os pós-modernistas almejaram repor a restrição geométrica e as certezas manipulativas da moral do modernismo com um design inspirado pela irracionalidade, tolerante com a decoração e inclinado à narrativa, muitas vezes do tipo frívolo. Os grandes prédios de Hollein incluem o Museum für Moderne Kunst – Museu de Arte Moderna de Frankfurt (1983-1991) e a Haas-Haus (1990), um monumento à forma lúdica modernista, situado em frente ao Stephansdom, em Viena.

FOTOS: PICTUREDESK.COM, REX FEATURES, SHUTTERSTOCK

O Vulcania é onde a pré-história encontra o pós-moderno, onde um parque temático de um vulcão se confunde com museu de sismologia. Dentro, há um enorme simulador de vulcão (no topo); seu cone de 28 metros é tanto uma reação à paisagem (foto maior) como uma boa fonte de luz (direita). Intenção de Hans Hollein era criar uma forma de entretenimento ou dar uma lição de geologia?


Hollein recebeu o prêmio Pritzker Vulcania em 1985, mas sua sociedade mais significativa foi com o Memphis, um grupo de arquitetos e designers que se reuniu em torno de Ettore Sottsass em Milão, no ano de 1981. Arquitetar Vulcania, com seu conceito grandioso de conectar pré-história e sugerir acesso ao Centro da Terra, foi um grande desafio. O museu está enterrado numa “cratera” no subsolo vulcânico: a única estrutura visível é um cone de 28 metros cuja forma sugere um vulcão, mas que a função é canalizar luz para o prédio. A paisagem de Auvernais torna a arquitetura pequena, mas Hollein reagiu a isso criando um museu subterrâneo.

Os espaços elegantes do Modern Wing, no Instituto de Arte Moderna de Chicago, aumentam o tamanho do museu em um terço. Renzo Piano projetou a construção (no topo) de tal forma que a cobertura com lâminas de alumínio possa desviar as fortes luzes do sul, enquanto a luz do norte é filtrada na direção das galerias do terceiro andar, que tem vista para o Millennium Park (esquerda)

INSTITUTO DE ARTE DE CHICAGO MODERN WING

Chicago, EUA

Renzo Piano, 2009

FOTOS: GETTY IMAGES, CORBIS

O arquiteto genovês Renzo Piano é talvez o mais notável projetista de museus da atualidade. Seu portfólio de realizações radicalmente diferentes inclui o Centre Pompidou, de Paris; o Broad Contemporary Art Museum, em Los Angeles; o The Menil Collection, de Houston e o Parco della Musica, de Roma. A nova extensão realizada por Piano em Chicago transformou o The Art Institute no segundo maior museu dos EUA. O jornalista A.J. Liebling caracteriza Chicago sobretudo nessa sua qualidade do espaço ampliado: seu grande monumento. O Modern Wing abriga em sua coleção fotografias, arquitetura e design. Um enorme guarda-sol está equipado com lâminas fotossensíveis controladas por computador que monitoram e adaptam a luz ambiente. O objetivo é obter condições ideais para a contemplação das obras assim como prover um consumo

equilibrado de energia. Apesar dessas difíceis demandas, o Modern Wing atende aos exigentes padrões do código de energia de Chicago. A ingenuidade de Piano como designer não compromete sua modéstia essencial, revelada pelo singelo nome “oficina de construção de Renzo Piano”. Ele mesmo afirmou: “Não é suficiente que a luz seja perfeita. Você também precisa de calma, serenidade e até de uma certa volúpia”. Essas características estão presentes nessa edificação. Chicago foi o lugar onde surgiram os primeiros arranha-céus, mas o Instituto de Arte de Piano é puramente horizontal: os diversos elementos estão interligados e em sintonia com os arredores por uma arrebatadora e elegante ponte para pedestres. Alguns elementos revelam um design conservador embora perfeitamente apropriado para uma imponente e magnífica instituição. Truques de bravura ficariam deslocados ali. O mais famoso arquiteto da “Windy City” foi Frank Lloyd Wright, que certa vez afirmou: “Penso que algum dia Chicago será a mais linda grande cidade que restará no mundo”. Você mesmo pode julgá-lo, indo conferir na South Michigan Avenue número 111. 77


CIDADE DAS CIÊNCIAS E DAS ARTES

Valência, Espanha

Santiago Calatrava, 1998 altamente original de espaço e estrutura tem caracterizado seu estilo. Tendo rece­ bido o reconhecimento na Seville Expo de 1992, sua Puente del Alamillo é estaiada por cabos de sustentação paralelos. É uma forma dramática que tem o seu efeito tanto de dia como à noite. A Cidade da Ciência e das Artes é um símbolo da revitalização de Valência como uma das grandes cidades da Euro­ pa. Ele é composto de seis elementos: o L’Hemisteric (um planetário e cinema); Museu das Ciências (um museu interati­ vo); L’Umbracle (um corredor de pedes­ tres); Palau des Arts Reina Sofia (artes performáticas); El Puente de l’Assut d’Or

(uma ponte); e a L’Agora (uma praça de esportes). Cada um é essencialmente mais popular do que acadêmico e cada componente foi projetado por Calatrava e seu parceiro, Félix Candela, como um exercício de bravura na composição de formas expressionistas. Concluído em sua maior parte em 2005, esse vasto e dispendioso projeto recebeu várias críticas. Políticos de opo­ sição o chamaram de “obra faraônica”, o público em geral tem opiniões abertas à interpretação, e os críticos por fim não se decidem se Calatrava é um gênio ou se não passa de um charlatão. Obviamente é um pouco das duas coisas.

FOTOS: PETER GUENZEL/GALLERYSTOCK.COM, GETTY IMAGES, SHUTTERSTOCK, REX FEATURES

O arquiteto e engenheiro valenciano Santiago Calatrava é o Ferran Adrià dos projetos arquitetônicos. Enquanto que o chef catalão representou uma nova Espa­ nha na criatividade culinária, Calatrava ampliou as possibilidades da arquitetura. A arte culinária dominada por Adrià leva a composição química dos alimentos e a compreensão do freguês aos seus limites. A arquitetura de Calatrava faz o mesmo com suas estruturas de pontes e prédios, mesclando as definições que separam escultura da arquitetura. A tese de Ph.D. de Calatrava de 1980 recebeu o título de A Dobrabilidade das Armações. Desde então, uma abordagem

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A Cidade das Ciências e das Artes, de Santiago Calatrava é um inspirador complexo de educação e entretenimento. Feito em sua maior parte de vidro laminado e cercado de água, suas seis estruturas incluem um planetário cuja forma lembra um olho, um cinema em formato de domo com projeção IMAX (esquerda) e o grandioso museu de ciência Príncipe Felipe (acima) THE RED BULLETIN

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MAXXI

Roma, Itália

LOUVRE

Zaha Hadid, 2010

Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos Jean Nouvel, 2013 O museu do Louvre foi o primeiro grande museu nacional, uma declaração do propósito magnífico da França, de seu inigualável prestígio e elevado refinamento. A maioria de nós concorda que o Louvre é o maior museu do mundo. Logo que foi anunciada a abertura de um Louvre em Abu Dhabi depois de um acordo comercial e diplomático entre França e aquela cidade, houve críticas condenando tal iniciativa um aviltamento. Para os críticos trata-se de um exercício de franquia tão cínico e arrogante quanto o do costureiro Pierre Cardin, que decidiu colocar sua assinatura numa linha de frigideiras. Jean Nouvel, junto com o engenheiro de arquitetura britânico Buro Happold, planejou o Louvre de Abu Dhabi na Ilha Saadiyat. Em 2014, ele terá a companhia de outro museu que abrirá sua franquia no local: um braço extensivo do Guggenheim, que está sendo projetado por Frank Gehry. Para completar a lista e fazendo concorrência visual ao museu de Sheikh Zayed de Norman Foster, um campo de golfe de Gary Player será agregado ao conjunto arquitetônico da ilha. A proposta de Nouvel é de uma “estrutura de domo flutuante”, já que domos são uma tradicional característica da arquitetura do Oriente Médio e, além disso, uma forma de dar prestígio a projetos nos quais falta esse influência (o London’s Millennium Dome é, de fato, muito mais parecido com uma barraca). É bem provável que, no futuro, essa pequena parte do Golfo Pérsico venha a ter mais influência do que a própria França. O Louvre de Abu Dhabi receberá uma variedade de obras emprestadas do Louvre, do museu de Versalhes, do Centre Pompidou e do Museu d’Orsay. Entretanto houve na França uma petição contra a “venda do Louvre”. Segundo o diretor, seria irresponsável ignorar a “internacionalização” dos museus. No atual mercado global, um Louvre itinerante é uma boa propaganda para a França.

Abaixo: uma imagem gerada por computador mostra a forma de domo do Louvre Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. No topo: O distrito cultural da Ilha Saadiyat, onde ficará o museu. Ele será construído perto do Museu Nacional Sheikh Zayed, projetado pelo inglês Norman Foster

Zaha Hadid gozou por muitos anos, se este é o termo mais correto, da reputação de ser a maior arquiteta internacional que jamais construíra alguma coisa. Seus exigentes, contestados, ilógicos, energéticos e às vezes até desconcertantes projetos encantavam os críticos, alarmando por outro lado os árbitros de concursos e afastando os clientes. Atualmente ela é uma das mais solicitadas arquitetas do mundo, projetando atraentes instituições geralmente tão difíceis de construir como fáceis de apreciar. O museu romano MAXXI – Museo Nazionale delle Arti del XXI Secolo – é um bom exemplo disso: tão magnífico quanto absurdo. Hadid fez colaborações com arquitetos que incluíam a Coop Himmelb(l)au e Frank Gehry, cuja fama foi alcançada com a exibição de desconstrutivismo do MoMA em 1988. “O sonho da forma pura tinha sido perturbado”, notaram os autores do catálogo. De fato, tinha mesmo. O desconstrutivismo desmantelou e recolocou as partes componentes de um prédio em um estilo que era tão deslumbrante quanto impraticável. MAXXI era duplamente absurdo nesse aspecto quando abriu as portas em 2010. Era um museu para obras que ainda nem existiam – só depois de seis meses é que foram instaladas as primeiras obras. Hadid não teme as críticas. O primeiro museu de arte moderna de Roma estava, essencialmente, vazio, mas segundo a sua arquiteta ele é “um espaço urbano imersivo para a troca de ideias”. Sua arquitetura reflete este diálogo: o interior não difere do exterior; painéis móveis redefinem os espaços interiores; um teto de vidro rompe as expectativas convencionais. As contas do MAXXI caíram sob o escrutínio do governo italiano, mas isso se deve mais pela sua localização fora da cidade do que pela sua credibilidade como espaço cultural. O MAXXI é um museu que funciona como um laboratório de pesquisa de design, arte, arquitetura e publicidade. Desde os anos 1970, a arquitetura de alguns museus novos tem sido mais acertada do que o que ela contém. Isto dificilmente é o caso do MAXXI. Como disse Hadid, o museu do século XXI “não é mais apenas um museu”.


FOTOS: ATELIERS JEAN NOUVEL (2), IWAN BAAN (2), ARCAID

Não existe lugar como Roma: os corredores de concreto sinuosos do MAXXI projetados por Zaha Hadid oferecem aos visitantes surpresas estruturais em cada uma de suas esquinas, como se a arquitetura em si fosse a arte a ser apreciada. Mesmo após os primeiros seis meses da sua abertura oficial, a arquiteta reitera o seu conceito de que nada devesse ser exposto naquele espaço. “Não é um contêiner de objetos, mas um local de estudos de arte”, diz Hadid

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Washington, EUA

Hellmuth, Obata e Kassabaum, 1976 Saindo do Shopping Nacional de Washington, você dá de cara com um Boeing B-17 Flying Fortress. Só quem é muito distraído não fica pasmo diante deste cenário. O Museu do Ar e Espaço é o maior museu aeroespacial do mundo. Ele faz parte da Instituição Smithsonian, considerada a guardiã do espólio norte-americano. O Museu do Ar e Espaço representa uma grande conquista: acabou com a subjugação tecnológica espacial e dos ares ao se tornar um dos mais visitados museus do mundo. Sem ser um hangar glorificado, o seu prestígio é enfatizado por seu vizinho, o jardim Hirshhorn Sculpture. De alguma forma, quando se vê, no 1903

Wright Flyer, um Supermarine Spitfire, um ‘Folgore’ C.202 Macchi e uma Mb109 Messerschmitt expostos no seu imenso espaço com a silhueta contra o céu, esculturas artísticas perdem força persuasiva tanto em drama visual como em inventividade formal. Hellmuth, Obata e Kassabaum, agora HOK, é um dos mais importantes escritórios de arquitetura dos EUA. Para esse museu, a orientação era criar “um mecanismo gigante para orientar eficientemente uma multidão”. O Museu do Ar e Espaço é, enfim, um galpão espaçoso cujo acabamento é de altíssima qualidade. Apesar do tamanho e da escala das exibições não se vivencia a sensação de superlotação, mas, ao contrário disso, uma experiência intimista. Um bombardeiro como Martin Marauder pode ter sido concebido para ser uma arma letal, mas a tecnologia em si é moralmente neutra. Lá você deixa isso de lado para apreciar máquinas que são construções extraordinárias e, ao mesmo tempo, objetos de beleza.

O Museu do Ar e Espaço, em Washington, é o mais popular da lista do Red Bulletin, com quase nove milhões de visitantes por ano. Exibições menores são recebidas no conjunto de cubos em mármore (acima à esquerda), enquanto os átrios em forma de hangar são espaços para exposições maiores, tais como de aviões de guerra antigos (acima) e mísseis (esquerda)

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FOTOS: NASM (3)

MUSEU DO AR E ESPAÇO


MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE NITERÓI

Niterói, Brasil

FOTOS: GETTY IMAGES (2), CORBIS

Oscar Niemeyer, 1996 O MAC Niterói, criado para abrigar a Coleção João Sattamini, comporta o segundo maior acervo de arte contemporânea do país. O grande arquiteto do século XX, Oscar Niemeyer, depositou cuidadosamente sua ‘taça futurista’ numa área de 2.500 m². Projetado pelo arquiteto falecido aos 104 anos em dezembro de 2012, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói chama a atenção pelo design que lhe rendeu, entre os cariocas, o apelido de “disco voador”. Impossível não notar o formato arrojado de sua arquitetura circular, mesmo a quilômetros de distância, como a partir de Icaraí, a mais movimentada praia da cidade vizinha ao Rio de Janeiro.

O museu é o prédio mais famoso do “caminho Niemeyer”, que inclui diversas obras de intervenção urbana do arquiteto, todas situadas na orla da cidade. Ali no Mirante da Boa Viagem, o MAC Niterói oferece uma das mais privilegiadas vistas da Baía de Guanabara e reflete, por si só e por sua coleção, os caminhos da arte contemporânea brasileira, com mais de 1.200 peças de nomes consagrados como Cildo Meireles, Carlos Vergara, Hélio Oiticica e Tunga. O prédio em forma de taça é uma das obras fundamentais de Niemeyer – uma visita obrigatória se você passar pelo Rio. A construção levou cinco anos e constitui hoje um símbolo da arquitetura contemporânea brasileira. Sua estrutura em forma de cálice está subdividida em quatro pavimentos; a fachada de vidro dá um toque especial à composição, com a vantagem de oferecer uma visão tanto sobre as obras expostas como de uma vista panorâmica sem igual.

Uma sinuosa entrada para o “disco voador” carioca nos convida para uma experiência única. Entre uma vista panorâmica sobre a Baía de Guanabara e as obras do segundo maior acervo de arte contemporânea do Brasil, Niemeyer visualizou um visitante que aprecia artesem deixar de aproveitar dos belos contornos naturais da costa fluminense


Mais que uma moto: o campeĂŁo americano de motocross Ryan Dungey mostra seus equipamentos na pĂĄgina 88


Índice 86 MALAS PRONTAS O mergulho nos destroços de um navio centenário na Austrália 88 MEU EQUIPO O material de motocross indispensável de Ryan Dungey 90 EM FORMA Como o campeão de squash Karim Darwish treina fora da temporada 92 VIDA NOTURNA Qualquer coisa que te leve para balada 96 NA AGENDA 97 KAINRATH

FOTO: FRANK HOPPEN/RED BULL CONTENT POOL

98 MENTE LIGADA A coluna de Stephen Bayley

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MAIS CORPO & MENTE

MALAS PRONTAS

Impacto profundo

VIAGENS E AVENTURAS ESPETACULARES

TOWNSVILLE, AUSTRÁLIA.  O encontro do homem com a natureza acontece lá onde jaz o SS Yongala, que naufra­ gou na costa australiana há mais de 100 anos e é hoje um dos melhores lugares do mun­ do para quem quer mergulhar Encantos submarinos O SS Yongala está a uns 30 metros de profundidade e é hoje um paraíso para mergulhadores

O cenário

Última viagem

Os destroços do Yongala se encontram a 80 quilômetros a sudeste de Townsville, no parque marinho Great Barrier Reef. Eles estão distantes das outras bancadas de coral, tornando-se assim um paraíso exclusivo de vida marinha local. No Yongala o mergulho é de não-penetração: entrar ou tocar os destroços é proibido.

O Yongala recebeu seu nome em home­ nagem a uma cidadezinha na Austrália setentrional que significa “água boa” na linguagem dos aborígines Ngadjuri da região. O navio transportava cargas e pas­ sageiros das minas da Austrália Ocidental para os portos do leste de Sydney, Mel­ bourne e Cairns entre 19 de abril de 1903 e 23 de março de 1911. Em sua 99ª via­ gem, de Brisbane a Townsville, o Yongala foi atingido por um ciclone e afundou com seus 122 tripulantes sem deixar vestígios. Os destroços foram descobertos em 1947 por trabalhadores de um navio da Marinha, mas não foram formalmente identificados até 1958, quando dois mer­ gulhadores locais resgataram um cofre dos escombros. Empresas de mergulho deram início às expedições na década de 1980. Hoje o antigo SS Yongala é atração de até 6 mil mergulhadores a cada ano. Assassinato misterioso

O navio naufragou em 1911, sendo identificado somente 47 anos mais tarde por mergulhadores

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Em outubro de 2003, o Yongala virou manchete: Tina Watson, uma americana em lua de mel, morreu enquanto mergu­ lhava nos destroços com seu marido, Gabe. Ele era um experiente mergulhador de salvamento; ela era inexperiente. Gabe foi acusado de assassiná-la e acabou se

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TEXTO: ROBERT TIGHE. FOTOS: GETTY IMAGES (3), DDPIMAGES, QUEENSLAND MUSEUM

Basta falar do SS Yongala na presença de qualquer mergulhador para perceber como seus olhos brilham. Os destroços do navio adquiriram status de lenda entre os mergulhadores por um bom motivo: o antigo e imponente casco de 110 metros de comprimento do navio a vapor está em grande parte intacto e o coral que se desenvolveu nos destroços atrai uma incrível diversidade de vida marinha. Repousando 33 metros abaixo da super­fície em um banco de areia, o Yongala não é uma área de mergulho difícil quando o tempo está bom. Assim, até os novatos podem aproveitar a chance de fazer um grande mergulho submarino.


Para os amantes de praia, a costa australiana oferece opções perfeitas para relaxar

declarando culpado em um tribunal australiano, embora o processo criminal no Alabama tenha sido arquivado por falta de provas. “O que faz o Yongala ser tão especial é a quantidade e a dimensão da vida marinha no casco”, diz Heather Batrick, do Yongala Dive. Tudo que existe lá é gigante: arraia-mármore gigante, tartarugas gigantes... Também tem tubarõestigre, peixes-espada, barracudas e, se der sorte, tubarões-baleia. Grande parte da vida marinha no Yongala é inofensiva, mas reage se for provocada. Paul Crocombe, da Adrenalin Dive, conta que um mergulhador sueco quase virou comida de peixe. “Ele tinha começado a fazer palhaçada com uma garoupa de 1,4 metro de comprimento e ela que já estava um pouco agressiva com os mergulhadores”, diz Crocombe. “Quando eles começaram a subir, o peixe abocanhou o mergulhador pela cabeça dando uma chacoalhada que o deixou desnorteado.”

Onde começar A Adrenalin Dive, em Townsville, e a Yongala Dive, na pequena cidade de Ayr (cerca de uma hora de carro partindo de Townsville), organizam regularmente grupos de passeio rumo ao Yongala. Para chegar ao navio afundado, são apenas 30 minutos navegando desde Ayr e três horas desde Townsville. Quando ir  A alta temporada é de setembro a janeiro, quando o tempo é bom e a visibilidade varia entre 10 e 15 metros. De junho a setembro o clima é menos previsível, mas a visibilidade chega a ser de 20 a 25 metros, e a chance de conseguir ver baleias jubarte é maior. De volta à terra Townsville oferece também o aquário da maior barreira de corais do mundo. O Reef HQ é um tesouro cheio de informações sobre as criaturas que vivem em um dos mais diversificados ecossistemas do mundo.

Ciclone central

www.yongaladive.com.au www.adrenalindive.com.au

Dicas para o mergulhador

O ponto de partida, em Townsville

A vasta biodiversidade da Great Barrier Reef

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MERGULHE NA AUSTRÁLIA

Um ciclone foi responsável pelo naufrágio do Yongala em 1911; na temporada de tempestades, o navio ainda sofre umas pancadas. Quando o ciclone Yasi atingiu a costa de Queensland, em 2011, removeu toda a superfície de coral dos destroços. Felizmente a tempestade não assustou a vida marinha, e os mergulhadores puderam curtir o casco antes que o coral voltasse a cobri-lo. A Adrenalin Dive em Townsville e a Yongala Dive na aldeia de Ayr (cerca de uma hora de viagem a partir de Townsville e 30 minutos até o lugar de mergulho) organizam excursões para o Yongala. Alta temporada é de setembro a janeiro, quando a visibilidade de 10 a 15 metros cria boas condições de mergulho.

Yongala Townsville

AUSTRÁLIA Brisbane

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MAIS CORPO & MENTE

Metal pesado

MEU EQUIPO O ESSENCIAL PARA VENCER

As parceiras de viagem do campeão de motocross Ryan Dungey são máquinas da mais alta qualidade. Elas não são muito de falar, mas tudo o que este jovem de 22 anos precisa durante as longas temporadas é proteção 1. Capacete Fox V4 É uma das coisas mais importantes para mim. Tento conseguir roupas customizadas para todas as partes do meu corpo. Ele é feito de fibra de carbono e é leve: 1,6 kg. 2. Botas Nike 6.0 MX Comecei a usá-las em 2010. São feitas de fibra de carbono e espuma de borracha macia, previnem torções e me protegem dos detritos. 3. 2013 KTM 450 SX-F Bike Minha moto tem estrutura de aço, injeção eletrônica e 58 cavalos de potência. Pesa cerca de 103 kg. A embreagem é hidráulica, de modo que não queima tão rapidamente e se reajusta para que eu possa me concentrar na pilotagem. 4. Sistema de rádio Eu não tenho um receptor de comunicação em meu capacete, mas a minha equipe pode conversar entre si. 5. Suspensão WP Link TRAX A quantidade de pressão que este amortecedor traseiro pode absorver é impressionante. Cerca de 50% a 60% da performance da moto vem de amortecer bem os impactos. 6. Limpador Motorex É usado para desengordurar a moto. Estamos no patamar mais elevado de nosso esporte e temos que manter tudo limpo para nossos patrocinadores ficarem felizes e para as pessoas olharem. 7. Mochila Eu a carrego comigo para todas as 30 etapas dos campeonatos AMA Motocross e Supercross. Nela vai o meu iPod, os óculos

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escuros e meus livros. Atualmente estou lendo Unbroken, sobre o sobrevivente da II Guerra Mundial Louis Zamperini, e a Bíblia. 8. Pit cart Temos nossas opções de pneus novos para cada corrida. Além deles, neste carrinho também estão coisas importantes, incluindo um ventilador de ar quente e uma chave de impacto.

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9. Pneus Dunlop Em cada nova corrida que participamos, temos um novo pneu traseiro. Seu diâmetro é de 48,26 centímetros. O dianteiro não costuma se desgastar tão rápido pois é na parte traseira que vai toda a potência que faz a moto andar. 10. Caixa de ferramentas Snap-on São as melhores ferramentas do momento. A caixa tem cerca de 250 peças, mas as mais importantes são as chaves T de 8 mm e 10 mm, que ajustam o freio, a alavanca da embreagem e o acelerador. 11. Joelheira Asterisk É de carbono e feita sob medida. A joelheira é fundamental no motocross. Você vai muito rápido e estica muito a perna. Seria mais difícil pilotar sem elas porque você machucaria a parte de dentro dos joelhos. 12. Pit board Meu mecânico Carlos e eu usamos isso para nos comunicarmos durante a prova. Ele informa minha posição e o tempo da minha volta, o que me tranquiliza e me dá noção de como estou indo.

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www.ryandungey.com

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Dungey foi o vencedor da corrida de 450 SX de Supercross, em Anaheim, Calif贸rnia

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TEXTO: ANDREAS TZORTZIS. FOTO: PATRICK STRATTNER

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MAIS CORPO & MENTE

O vencedor de 22 torneios de squash treina 20 horas por semana na quadra

DARWISH E SEU TREINO FORA DE TEMPORADA SEGUNDA 9h: corrida de aquecimento de 2 km em 8 minutos, depois 15 minutos de alongamento. 9h45: treino trabalhando o pé na quadra – cerca de 50 repetições de diversos movimentos. 11h30-13h: trabalho técnico, como treino de stroke. 18h-19h30: partidas de treino com os companheiros de time do Egito. TERÇA 18h-20h: treino com a equipe egípcia; alongamento; massagem de uma hora. QUARTA 9h30: o treino “champion killer”, cerca de 40 minutos ao todo: 4 x 800m (de 2m30s-2m40s cada), então 5 x 400m (70-75s), então 6 x 200m (30s), com 1 min. de pausa entre cada corrida. 12h-13h: treino técnico solo na quadra, como a prática de drop shots. 18h-18h30: treino com a equipe nacional. QUINTA 9h30: treino em circuito, com 4 séries em aparelhos de musculação: 12-15 repetições no leg press, ombros, bíceps e tríceps; 30 levantamentos de peso; 40 abdominais. 11h-12h30: trabalho técnico. SEXTA Folga.

EM FORMA TREINANDO COM OS PRÓS

KARIM DARWISH Para

ser o melhor, Karim Darwish tem que ter amor e devoção pelo esporte – isso inclui superar a dor “Squash é minha vida”, diz Karim Darwish, de 31 anos, que manteve o primeiro lugar no ranking por 11 meses em 2009, o ano em que venceu o seu primeiro mundial de equipes (o segundo veio em 2011). Ele trabalha força e velocidade fora da temporada, em junho e julho, no Egito, onde mora. “Eu quero dar 120% no treino para chegar 100% nas competições. Às vezes, quando eu acordo, dói; mas isso é sinal de evolução”, diz. Prepare-se para uma batalha diária se, assim como o dele, seu treino ficar conhecido como “champion killer”. www.psaworldtour.com

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DOMINGO 9h-10h30: treino em circuito. 11h-12h30: treino tático e técnico. 18h-20h: treino com a equipe nacional.

DICAS DE TREINO

Precisa se mexer “A parte mais importante do squash é trabalhar os pés – e isso começa com a escolha do tênis certo. Ele tem que ser extremamente leve, bem acolchoado e não pode escorregar. Atualmente uso o Asics Gel Blade 3. Você corre cerca de 15 km em uma partida de squash, o que faz com que seja muito importante que você aprenda a ser econômico nos movimentos. A melhor forma de fazer isso é treinando na quadra. Dê um pique do centro da quadra e volte até cada um dos quatro cantos por vez, então repita a série de quatro corridas oito vezes.”

Darwish no centro de treinamento e diagnóstico em Thalgau, na Áustria

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TEXTO: ULRICH CORAZZA. FOTOS: TOMISLAV MOZE/RED BULL CONTENT POOL

Contra a parede

SÁBADO 9h30: corrida: 8 x 400m (68-72s cada, com 1 min. de intervalo entre elas), relaxamento e alongamento. 11h30-13h: técnica e tática. 13h-13h45: treino livre. 18h30-20h: treino com a equipe nacional.


/redbulletin

© Jörg Mitter

Li k e What you Li k e

Seu MoMento. Além do ComUm


MAIS CORPO & MENTE

vida noturna Qualquer coisa que te leve para balada

LANÇAMENTO

AÇÃO

“Eu gosto dos heróis patéticos” Talib Kweli O rapper cujas rimas divertiram e ao mesmo tempo educaram voltou trazendo um pouco do bom e velho hip hop Talib Kweli foi um poeta maldito desde o princípio. Quando ele apareceu na cena com seu som de consciência social em 1995, o rapper do Brooklyn estabeleceu um forte contraste com o movimento gangsta de poesia e letras politizadas. Hoje com 37 anos, Talib é um dos mais admirados e bem-sucedidos rappers, visto como um acadêmico do rap. Ainda assim, com toda a profundidade, ele sabe muito bem como agitar o seu público. Seu novo álbum mostra isso. The Red Bulletin: O canto que abre o álbum é como um protesto... Talib Kweli: A força por trás da primavera árabe me impressionou. Isto aparece especialmente na introdução e no final. O álbum é como o dia na vida de uma pessoa. É sobre política, relacionamentos e o meu lugar na música. Quais são as vantagens de lançar discos com seu próprio selo? Tinha mais dinheiro [nos selos maiores] nos anos 1990. Naqueles idos passei muito tempo no estúdio criando, enquanto agora eu também tenho que ser empresário. Gosto do desafio que

O novo disco de Talib Kweli, Prisoner of Conscious, está disponível em: www.talibkweli.com

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essa independência me traz. Kendrick Lamar, que faz uma aparição como convidado no meu novo disco, se tornou um sucesso primeiro na internet, sem o apoio de um grande selo. Você estudou para ser ator. Se seu disco fosse um filme, quem ia dirigir? Wes Anderson. Ele consegue ser coerente e surpreendente ao mesmo tempo. Em seus filmes sempre há personagens que aparecem como figuras patéticas e depois você se vê torcendo por eles. Nós dois temos uma certa simpatia por esse tipo de herói.

De noite na rua POPULARIDADE: Com a concorrência do calendário nas corridas diurnas, treinar à noite é cada vez mais popular nas grandes cidades. ACERTE: As condições da madrugada podem ser ideais: sem muito calor e menos movimento nas ruas, o que até melhora a respiração. CUIDADO: Correr de noite requer uma maior concentração devido à falta de luz. O relógio biológico também tem que se ajustar para funcionar até mais tarde, o que deve ser levado em conta durante o treinamento. É recomendado usar kits de proteção e luzes de sinalização.

FALARAM POR AÍ

“ A vida é o que acontece quando você não consegue dormir ” Fran Lebowitz, escritor americano

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HORA DO DRINK

Vanilla Garden

“Este drinque tem um ingrediente, a salsa, que, em um primeiro momento, você pensaria que não cabe em um coquetel”, diz o dono do bar e mestre de coquetéis Michael Steinbacher, do Mayday Bar, no Hangar-7, em Salzburgo, na Áustria. “Entretanto, a erva combina perfeitamente com ginger ale e Angostura.” É um drinque fraco (os aperitivos têm 44,7% de álcool). Com um sabor acentuado no início, o Vanilla Garden desenvolve um incomparável sabor harmonizando a salsa e a baunilha.

BALADA

NOITE

DO MÊS

FOTOS: DOROTHY HONG/VISION MUSIC, GETTY IMAGES, FABRIK (3), FOTOSTUDIO EISENHUT & MAYER

“Portal para outra dimensão” Fabrik A cada final de semana, 3,5 mil clubbers transformam uma antiga fábrica na região de Madri em uma rave gigante governada por DJs de renome internacional Homens seminus sopram fogo ao lado de mulheres também com pouca roupa que dançam em cálices gigantes. Raios laser fazem ondas sobre o público enquanto canhões montados no teto disparam toneladas de gelo seco na pista de dança. O enorme sistema de som bomba os graves, que reverberam nas blusas enquanto o DJ vira o rei de mais de 3 mil súditos escravizados pelo ritmo. Fabrik é a realização plena de um superclub, verdadeiro palácio da dance music cujo show de luzes literalmente estonteantes dá a impressão de se estar atravessando um portal para uma outra dimensão. Em 2003, Daniel Perellón abriu a balada na região metropolitana de Madri, com o propósito único de criar um local que pudesse rivalizar com as melhores baladas do mundo. Ele conseguiu, sendo que uma década depois ele ainda está operando com padrão internacional. Além dos três ambientes – cada qual contando

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INGREDIENTES

COMO FAZER

4 fatias de limão 10 folhas de salsa 2 colheres (chá) de açúcar de baunilha 120 ml de ginger ale Angostura Gelo picado

Misture o limão, o açúcar e nove das folhas de salsa em um copo de caipirinha. Acrescente um pouco da Angostura, o ginger ale e gelo picado. Agite até que o açúcar dissolva. Mergulhe a última folha no açúcar como enfeite.

como uma balada por si só –, há pequenos restaurantes, uma loja, lounges e camarotes. Tal grandiosidade exige um mestre de cerimônias do mesmo nível: aos sábados, DJs top de tecno e progressive como Umek, Steve Bug, Ben Sims, 2manydjs e Carl Cox são as atrações. Nas noites de domingo há festas à fantasia com temas que incluem o mundo de Tim Burton. Quando uma Alice no País das Maravilhas está na balada pesada ao lado de um Edward Mãos de Tesoura, o portal para o outro mundo se abre de verdade. FABRIK Avenida de la Industria 82 28970 Humanes de Madrid, España www.grupo-kapital.com/fabrik

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MAIS CORPO & MENTE

VIDA NOTURNA

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Eles estão crescendo: Thomas Mars (esquerda) e Deck D’Arcy, do Phoenix

DAN FLAVIN (1933-1996)

Minha mulher [Mars é casado com a diretora de cinema Sofia Coppola] me deu um “étude” de Dan Flavin, um estudo, de aniversário. É muito inspirador para o tipo de show que estamos preparando. O bonito é que eu ouvi que os néons não viverão para sempre e que algumas cores, acho que vermelho e preto, morrem mais rápido que as outras.

2 DONALD JUDD (1928-1994)

Ele viveu no Texas e trabalhou com marcenaria e arquitetura, e agora há manuais na internet que ensinam como fazer suas próprias peças com seu estilo. Então você pergunta o valor do objeto: ele não fez pessoalmente, ele só fez os moldes. Essas peças de madeira podem ser incrivelmente difíceis de criar, mas qualquer um pode fazer.

TOP 3

Inspiração pós-moderna Phoenix. Os premiados gigantes do indie gostam de arte moderna tanto quanto suas músicas: cool, originais e provocativas Quando o quarteto parisiense Phoenix conquistou os EUA em 2009, vendendo dois milhões de cópias do seu quarto LP de art-pop, Wolfgang Amadeus Phoenix, a banda ficou tão surpresa quanto qualquer um. Antes de estourar, o grupo ralou por quase uma década, mesmo tendo tido um começo

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promissor nos anos 90, ao lado de Daft Punk e Air. “Nós estávamos um pouco perdidos em nosso próprio mundo e pensando que ninguém estava ouvindo”, disse o vocalista Thomas Mars. Ele, junto com o baixista Deck D’Arcy e os irmãos guitarristas Laurent Brancowitz e Christian Mazzalai voltam com o quinto álbum, Bankrupt!, repetindo a fórmula vencedora. E, com a fortuna feita, a banda inteira passou a investir em arte. “Nós curtimos artistas bem americanos, como Dan Flavin e Edward Ruscha, a geração pós-beatnik cujo trabalho é instintivo e fresco”, diz Mars. “Quando as pessoas nos perguntam por que chamamos o disco Bankrupt! ('Falência!'), eu fico tentado dar uma resposta à la Ed Ruscha: porque é o que está aí.” Aqui, Mars conta ao Red Bulletin quais artistas pós-modernos norteamericanos servem de inspiração.  www.wearephoenix.com

3 EDWARD RUSCHA (*1937)

Quando esses artistas americanos falam, é tudo ou nada. Adoro o Ed Ruscha, que quando fala não entrega nada. As pessoas o questionam sobre por que ele pinta, e ele diz: “Não há nada a explicar”. Para nós, é confortante que não haja elemento cerebral acrescido, que esteja tudo ali; nada mais. Eu o conheci e ele é muito gente boa.

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PETISCO

México Coquetel de camarão à moda Veracruz No lado caribenho do México tem uma comida de rua que reina sobre todas as outras

TEXTO: KLAUS KAMOLZ. FOTO: GETTY IMAGES (4), CORBIS (2), DDPIMAGES, IMAGO, FOTOSTUDIO EISENHUT & MAYER

CAMARÕES!!! Bubba, o amigo de Forrest Gump, era capaz de falar para sempre sobre pratos com camarão. Ele se sentiria no paraíso no estado mexicano de Veracruz, a Meca dos amantes de frutos do mar. Tem tacos de camarão, omeletes de camarão, risoto de camarão. É possível grelhar, fritar, assar, cozinhas ou comer cru. Mas a especialidade local é um coquetel que se costuma servir em todo lugar, como um petisco para qualquer hora, em cumbucas de vidro em restaurantes ou em copos plásticos na rua. ABAIXO O ROSÉ Este não é o quitute que você está pensando, com camarão no molho rosé à base de ketchup. O que tem em Veracruz é muito mais leve e fresco: ferva os camarões e marine no alho com cebolinha, pimenta, azeite e suco de limão. Amasse os tomates, corte os abacates em cubos e pique o coentro; misture tudo com molho de pimenta para fazer uma base e depois coloque os camarões por cima.

Eu quero camarão: o pessoal é “muy loco por camarones” no México

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COMO DEVE SER O coquetel de camarões, assim como você verá nos menus de restaurantes e nas placas dos palapas (as barraquinhas de

comida em Veracruz), vem com um acompanhamento crocante salgado (ou tacos ou nachos) e, para arrematar, um “toro” ou “el torito”, um drinque elaborado com leite evaporado, fruta (goia­ ba, manga, qualquer frutinha que estiver à mão), água e uma dose generosa de rum branco. PARENTE PRÓXIMO Uma variação do coquetel de camarão, que também contém caranguejo e lagosta, é conhe­ cida como “vuelve a la vida”, que significa “de volta à vida”. Isto porque esse coquetel de três frutos do mar é uma pedida especial para aqueles que que­ rem tentar curar uma ressaca.

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MAIS CORPO & MENTE

Na agenda Maio/Junho 18 E 19 DE MAIO

Virada Cultural Já virou tradição entre os paulistanos transformar o Centro da cidade em um festival de música e apresentações por 24 horas ininterruptas. Assim é a Virada Cultural, que está confirmada para 2013 com atrações nacionais e internacionais. Será a nona edição da festança que no ano passado contou com Gilberto Gil e Titãs e neste ano já confirmou a presença dos Racionais MCs, que se apresentarão na Praça Júlio Prestes. www.viradacultural.org

Ronaldinho está em alta na nova era Felipão 2 DE JUNHO

18-21 DE MAIO

Cat Power A cantora norte-americana abrirá a sua curta turnê brasileira com um show no Circo Voador, tradicional casa de shows no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Ela passará ainda por Recife e São Paulo (no Cine Joia), nos dias 19 e 21, respectivamente. Na turnê do disco Sun, que foi lançado em julho do ano passado, a cantora desfere hits como “Manhattan”, o maior sucesso do disco, e encanta a plateia com sua doce melancolia. www.catpower.com 2 E 16 DE JUNHO

Para inglês ver O Brasil comandado por Felipão vai entrar na reta final da preparação para a Copa das Confederações com um teste de fogo no novíssimo Maracanã diante da seleção inglesa. Será o segundo amistoso contra a Inglaterra neste ano. No primeiro confronto, quem levou a melhor foram os britânicos – venceram por 2 a 1 no estádio de Wembley, em Londres, com gols de Rooney e Lampard. Quem balançou a rede para o Brasil foi Fred, artilheiro da nova era Felipão. No amistoso de junho, o time brasileiro terá um aperitivo de como será a pressão dos torcedores nas grandes competições que serão disputadas por aqui. Com o time ocupando o 19º lugar no ranking da Fifa, o país está ansioso para ver os resultados aparecerem. www.fifa.com

O campeonato de Stock Car segue firme no mês de junho, quando a Red Bull Racing tentará manter a liderança na disputa entre equipes. Com duas vitórias, uma de Cacá Bueno em Interlagos e outra de Daniel Serra em Curitiba, o time comandado por Andreas Mattheis briga pelo topo com a Eurofarma RC, chefiada por Rosinei Campos. Entre os pilotos, Daniel Serra, Cacá Bueno, Ricardo Mauricio e Valdeno Brito brigam pela ponta. As próximas etapas, em Brasília e no Paraná, prometem colocar mais fogo na briga. stockcar.globo.com

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19 DE MAIO

Corrida da Ponte de Niterói Disputar uma prova dura rodeado por um dos visuais mais bonitos do Brasil é um prazer que todo corredor deveria experimentar. Essa é a proposta dessa meia maratona que costuma acontecer debaixo do forte calor carioca desde 2011. São 21,6 km do Caminho do Niemeyer até o Aterro do Flamengo, passando pela Baía de Guanabara sobre a ponte mais famosa do Brasil, com vista para o Pão de

De Niterói ao Rio: muita corrida e belo visual

Açúcar. A disputa, que tem poucas curvas, distribuirá R$ 60 mil em prêmios. Para se inscrever é preciso ter participado e concluído a maratona nas edições de 2011 ou 2012. www.corridadaponte.com.br

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FOTOS: GETTY IMAGES, CORRIDA DA PONTE, BRUNO TERENA/RED BULL CONTENT POOL

Stock Car


ILUSTRAÇÃO: DIETMAR KAINRATH

K A I N R AT H

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M O R E B O DY & M I N D

Mente ligada

Em excelentes termos Esqueça o falatório dos comentaristas esportivos: Stephen Bayley garimpa sua preciosa sabedoria nos esportes

Andretti, o único homem a vencer cor­ ridas durante cinco décadas, disse: “Se tudo parece sob controle, é porque você não está indo rápido o bastante”. Tênis é diferente de corrida, até porque, a não ser que se jogue sem nenhum cuidado, morrer em uma partida é improvável. Pelo menos morrer em um acidente. Com certeza pensei muito em parar com tudo após uma terrível dupla falta com uma fraca rebatida na rede. Porém, a aparente simplicidade de uma rebatida na bola sobre a rede de lá para cá engana. Nenhum outro esporte pune o jogador com uma exposição psicológica tão cruel como o tênis. Na quadra, você é revelado em toda a sua falta de jeito, amenizada apenas ocasionalmente por um momento

de inspiração ou coordenação. É claro que os tenistas profissionais querem ganhar furiosamente, mesmo tendo que respeitar as restrições de decoro estabelecidas pelos árbitros vestidos de escarlate tão típicos de Wimbledon, herdeiros do código Castiglione de costumes cavalheirescos. É por isso que os sorumbáticos astros do esporte desenvolveram uma linguagem verbal e não verbal, de evasivas. A cabeça abaixada e a palma levantada querem dizer: “Sim, eu sei, acabei de me portar como um canalha”. Quando resmungam “muito bom” eles querem na verdade dizer “eu te odeio”. Mas a minha expressão predileta é “erro não-forçado”. O conceito levanta importantes questões semânticas relativas à diferença entre um erro (que é benigno) e um equívoco (que é profundamente lamentável). As implicações são profundas: com a bola em jogo e aparentemente sob controle, um erro não-forçado acontece quando um dos jogadores, aparentemente sem nenhuma pressão, perde o ponto. Ele cometeu um erro sozinho. Essa ideia vem carregada de uma culpa avassaladora e de um vergonhoso fracasso pessoal. Quem garante que o erro não foi de fato forçado pela paciência em devolver a bola sem agressividade? Erros não-forçados estão esperando por nós em todo lugar. Pessoas de sucesso conseguem fazer com que algo dê errado para outros; elas forçam erros não-forçados. Talvez forcem apagões cerebrais. O termo “erro não-forçado” não é ancestral no tênis. De fato, ele não remonta à Renascença, mas sim a partir da década de 1980 com as primeiras análises computadorizadas do esporte. Não é um conceito científico, mas uma opinião subjetiva necessária para que as estatísticas funcionem. É enlouquecedor e contraditório, possivelmente até bonito e profundo. Bem como o esporte em si. Stephen Bayley é um escritor premiado e antigo diretor do Museu de Design de Londres

THE RED BULLETIN Brasil é uma publicação da Red Bull Media House GmbH. Gerente Geral Wolfgang Winter Diretor Editorial Franz Renkin Editor Chefe Robert Sperl Coordenador Editorial Alexander Macheck Editor Brasil Fernando Gueiros Gerentes de Projeto Cassio Cortes, Paula Svetlic Editora Assistente Marion Wildmann Diretor de Fotografia Fritz Schuster Editores de fotografia Ellen Haas, Catherine Shaw, Rudi Übelhör Diretor de Arte Erik Turek Editores de Arte Martina de Carvalho-Hutter, Silvia Druml, Kevin Goll, Carita Najewitz, Kasimir Reimann, Esterh Straganz Apoio Editorial Ulrich Corazza, Werner Jessner, Ruth Morgan, Florian Obkircher, Arkek Piatek, Andreas Rottenschlager, Stefan Wagner, Paul Wilson, Daniel Kudernatsch (iPad) Revisão Manrico Patta Neto Impressão Clemens Ragotzky (diretor), Karsten Lehmann, Josef Mühlbacher Gerente de Produção Michael Bergmeister Produção Wolfgang Stecher (diretor), Walter O. Sádaba, Christian Graf-Simpson (iPad) Gerência de Marketing e Gerência Nacional Barbara Kaiser (diretor), Stefan Ebner, Stefan Hötschl, Elisabeth Salcher, Lukas Scharmbacher, Sara Varming Assinaturas e Distribuição Klaus Pleninger, Peter Schiffer Marketing Julia Schweikhardt, Peter Knehtl Escritório Central Red Bull Media House GmbH, Oberst-LepperdingerStraße 11–15, A-5071 Salzburg, FN 297115i, Landesgericht Salzburg, ATU63611700 Anúncios Marcio Sales, (11) 3894 0207, contato@hands.com.br. The Red Bulletin é publicada simultaneamente na Áustria, Brasil, França, Alemanha, Suíça, Irlanda, Kuwait, México, Nova Zelândia, África do Sul, Grã Bretanha e Estados Unidos. Visite nosso site www.redbulletin.com.br

A PRÓXIMA THE RED BULLETIN BRASIL SAIRÁ EM 12 DE JUNHO 98

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ILUSTRAÇÃO: VON

C

orrer é viver, qualquer coisa que acontece antes ou depois é apenas espera. Há discussão a respeito de qual seria a fonte desta maravilhosa verdade, mas a frase foi dita por Steve McQueen, no filme de 1971 As 24 Horas de Le Mans, de Lee H. Katzin, sobre a clássica prova francesa. Houve um tempo em que pilotos, e até atores representando pilotos, se arriscavam na metafísica. Alguma coisa foi ganha agora que eles têm perfis midiáticos para cuidar em vez de distrações intelectuais para satisfazer, mas algo também se perdeu. Perspicácia, por exemplo. Adoro quando o esporte origina metáforas de validade geral. Disseram-me que, ao perguntarem sobre a razão de um fracasso catastrofal ao realizar uma curva facílima, o corpulento australiano campeão da Fórmula 1 Alan Jones replicou: “Fácil, amigo: apagão cerebral”. Quem nunca viveu uma situação dessas, aparentemente banal mas tão perturbadora? E teve aquele outro famoso piloto australiano, Frank Gardner. “Que foi que deu errado, Frank?” “Jogaram bosta no ventilador e respingou um monte em mim...” E novamente Gardner sobre um Chevrolet Camaro particularmente violento: “Sacode os malditos botões do macacão. Deve ser por isso que inventaram o zíper.” Mesmo se Immanuel Kant estivesse ao volante, não haveria melhor crítica da razão. Ou aquele grande piloto da NASCAR (não sei se foi Junior Johnson, AJ Foyt, Richard Petty ou Parnelli Jones, mas menciono todos eles porque gosto demais dos nomes), que capotou seu Chevy a 320 km/h numa pista oval inclinada prosseguindo invertido na reta, praticamente na mesma velocidade com faíscas e fumaça e fogo por todo lado? Entre­ vistado após a corrida e diante de uma pergunta sobre experiência, ele compara a situação a um ato de se “fazer uma solda sem camisa”. Gênio. Portanto os riscos físicos extremos dos esportes motorizados vêm estimulando a reflexão filosófica. O campeão mundial de F1, Indy 500 e Daytona 500, Mario



/redbulletin

AÇ ÃO I ES PO RT

A ALÉM DO CO UMA REVIST

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O DE 2013

NEYMAR: PRESSÃO? QUE PRESSÃCOOPA? A V E Z D O B R A S ILA ÇNÕAE S DAS CONFEDER

ALÉM DO COMUM

TE I M ÚS IC A

Da lama ao caos

BA RR O E DI ES EL NA F1 DA AM AZ ÔN IA

Dentro do vulcão

A AV EN TU RA MA IS QU EN TE DA TE RR A

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