The Red Bulletin Setembro de 2013 - BR

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Ação i Esporte i Viagem i  Arte i Música

Uma revista além do comum setembro de 2013

do tráfico ao gram my

o grupo mexicano que bomba nos eua

re d bull music acade my

um dia no curso mais descolado de Nova York

em cima, em cima!

naldo é o cara

do funk para o mundo

adrenalina coletiva

velejar na america's cup é para quem tem coragem



o Mundo de red bull

Setembro 48 america’s cup

O troféu mais antigo do mundo é disputado desde 1851 e hoje respira tecnologia e adrenalina

foto da capa: victor affaro. Fotos: oracle team usa/guilain grenier, victor affaro

bem-vindo

Em cima, em cima! Esse é o astral deste mês no Red Bulletin que você tem em mãos. Seguimos os passos do maior astro do pop nacional, Naldo Benny, um legítimo hit maker, para saber de sua vida, suas inspirações e os próximos sucessos. De quebra, destrinchamos a base da Red Bull Music Academy, em Nova York, onde alguns nomes consagrados da música estiveram no último mês e embarcamos na America’s Cup, uma disputa onde a tecnologia, os riscos e a adrenalina coletiva são palavras-chave. Ainda tem a entrevista com a musa ucraniana Olga Kharlan – ouro na esgrima –, a história do ritmo mexicano que invadiu os EUA e os ousados motoqueiros do Red Bull X-Fighters. Boa viagem!

Do funk para o mundo: Naldo faz shows no Brasil e no exterior

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o Mundo de red bull

Nesta edição Bullevard 14 NOTAS  Pelo mundo 17 NA CABEÇA DE...  Neymar Jr. 18 TIRO CERTO  Arco e flecha 20 FÓRMULA PERFEITA  Nuvem na sala 22 EU E MEU CORPO  Clemens Doppler 24 NÚMEROS DA SORTE  Um hit só

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Destaques 26 Torres humanas

Conheça de perto a cultura dos   empilhadores de pessoas

empilhando gente

38 Olga Kharlan

Você conhece a esgrimista   mais gata do planeta?

A festa típica da Catalunha onde a tradição centenária é fazer pirâmides humanas

42 Naldo Benny

Entrevistamos o maior   fenômeno pop da atualidade

48 America´s Cup

A nova geração em um novo  patamar do iatismo Tudo sobre o empresário de talentos como Usain Bolt e Mo Farah

82 red bull music academy

Tudo o que rolou na última edição do projeto que coloca músicos novos e consagrados no mesmo lugar

70

60 Red Bull X-Fighters

no passo

70 C ruzando a fronteira

Um ritmo nascido numa das cidades mais violentas do México virou hit em Dallas, do outro lado da fronteira

Velocidade, piruetas, barulho: um dos esportes mais insanos da Terra A cultura mexicana que fugiu   do tráfico e invadiu os EUA

78 Nadando a zero grau Como esse cara consegue?

82 RBMA

A fábrica de criação que roda as  capitais do mundo

ação!

22 Eu e meu corpo

Preparo físico e algumas tatuagens: como o bicampeão europeu de vôlei de praia cuida de seu corpo 4

93 viva méxico

A balada que mistura modelos, artistas e superstars como Chris Martin. Tudo regado a mezcal e tequila

92 93 94 95 96 97 98

MEU EQUIPO  Stefan Bradl  Festa  Cidade do México   MALAS PRONTAS  Dubai minha cidade  Dublin música  Empire of the Sun Na agenda  O melhor do mês Túnel do tempo

the red bulletin

Fotos: philipp horak, dan wilton/red bull content pool, katie orlinsky, philipp forstner, joy room

58 Homem de negócios



colaboradores nosso time em SETEMBRO THE RED BULLETIN Brasil, ISSN2308-5940 Editora e sede Editorial Red Bull Media House GmbH Gerente Geral Wolfgang Winter Diretor Editorial Franz Renkin Editor Chefe Robert Sperl

Fernando Gueiros

ryan inzana Quadrinista e ilustrador, ele teve trabalhos publicados no New York Times e no Wall Street Journal. Como Ryan não é um cara muito ligado em futebol, nunca tinha ouvido falar de Neymar antes de desenhá-lo para o Red Bulletin: “Achava que Neymar era o nome do barco de Ernest Hemingway. Sabe como nós, americanos somos”, ri. “A gente ainda vê o futebol como uma modinha passageira, como a internet e a penicilina”.

Philipp Horak O fotógrafo austríaco viajou à Catalunha para registrar algumas das formações humanas mais impressionantes do mundo, os castellers. Confira os incríveis ângulos captados por Philipp na reportagem Alpinistas Sociais, que mostra bem de perto a típica festa espanhola que consiste em criar pirâmides humanas com centenas de pessoas, de veteranos a crianças. O resultado é um visual alucinante, muito colorido e explosivamente intrigante.

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Com experiência em revistas como Trip, VIP e Hardcore, Fernando caiu no mundo de Red Bull para ser o editor da edição brasileira do Red Bulletin. “A experiência é estimulante”, diz. “O Bulletin oferece uma diversidade de assuntos muito interessante, de surf a música; de viagens a futebol.” Ele assina a matéria de capa desta edição, com Naldo Benny: “Ele é um cara muito humilde e sangue bom. De quebra, virei fotógrafo dos fãs que o paravam para registrar o momento”, brinca.

Coordenador Editorial Alexander Macheck Editor Brasil Fernando Gueiros Diretor de Arte Erik Turek Diretor de Fotografia Fritz Schuster Editora Assistente Marion Wildmann Gerentes de Projeto Cassio Cortes, Paula Svetlic Apoio Editorial Ulrich Corazza, Werner Jessner, Ruth Morgan, Florian Obkircher, Arek Piatek, Andreas Rottenschlager, Stefan Wagner, Paul Wilson, Daniel Kudernatsch (iPad), Christoph Rietner (iPad) Editores de Arte Miles English (Diretor) Martina de Carvalho-Hutter, Silvia Druml, Kevin Goll, Carita Najewitz, Kasimir Reimann, Esther Straganz Editores de Fotografia Susie Forman (Diretora artística de fotografia) Ellen Haas, Catherine Shaw, Rudi Übelhör Revisão Marina Corrêa, Manrico Patta Neto, Judith Mutici Impressão Clemens Ragotzky (Diretor), Karsten Lehmann, Josef Mühlbacher Gerente de Produção Michael Bergmeister

GUILAIN GRENIER Em 2008, o francês cruzou o Pacífico em um barco a vela, então quando ele pega a câmera para tirar fotos de barcos ele sabe o que faz. Para registrar melhor a beleza feroz do iate da Oracle na America‘s Cup, Grenier alugou um helicóptero e deu rasantes no barco durante os treinos na baía de São Francisco. Suas fotos apareceram em jornais e revistas de todo o mundo, incluindo a Paris Match, Yachting World e Le Figaro.

“O Naldo é um cara muito humilde e sangue bom” fernando gueiros

Produção Wolfgang Stecher (Diretor) Walter O. Sádaba, Christian Graf-Simpson (iPad) Financeiro Siegmar Hofstetter, Simone Mihalits Marketing & Gerência de países Barbara Kaiser (Diretora) Stefan Ebner, Stefan Hötschl, Elisabeth Salcher, Lukas Scharmbacher, Sara Varmingg Assinaturas e Distribuição Klaus Pleninger, Peter Schiffer Marketing de Criação Julia Schweikhardt, Peter Knethl Anúncios Marcio Sales, (11) 3894-0207, contato@hands.com.br. Gestão de anúncios Sabrina Schneider Coordenadoria Manuela Geßlbauer, Anna Jankovic IT Michael Thaler Escritório Central Red Bull Media House GmbH, Oberst-Lepperdinger-Straße 11–15, A-5071 Wals bei Salzburg, FN 297115i, Landesgericht Salzburg, ATU63611700 Sede da Redação Heinrich-Collin-Straße 1, A-1140 Wien Fone +43 1 90221-28800 Fax +43 1 90221-28809 Contato redaktion@at.redbulletin.com Publicação The Red Bulletin é publicada simultaneamente na Áustria, Brasil, França, Alemanha, Suíça, Irlanda, Kuwait, México, Nova Zelândia, África do Sul, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Visite nosso site www.redbulletin.com.br

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A energiA de red Bull em trĂŞs novos sABores.

crAnBerry

lime

BlueBerry

www.redBull.com.Br



W I NTE R B E RG , ALE MAN HA

PURO REFLEXO

O slopestyle é a modalidade que o mountain bike “pegou emprestada” do snowboard: um grande voo e manobras em uma pista com obstáculos. É o evento com maior sucesso da categoria. O fotógrafo Lorenz Holder sabia que tinha que fazer mais que apenas um registro do evento Red Bull Berg Line. O espelho estava em uma escavadeira; Holder tinha pressa. “Minhas chances eram pequenas porque eu queria que o sol aparecesse.” Quando o francês Yannick Granieri pulou de rampa em rampa, tudo alinhou do modo como Holder precisava. Veja o vídeo da competição: www.redbull.de/bergline Foto: Lorenz Holder

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G L A S G OW, E S CÓ C IA

BRINCADEIRA Quatro anos atrás, Danny MacAskill dava voltas de bicicleta perto do vilarejo de Dunvegan, na Ilha de Skye. Quatro anos menos um dia atrás, um vídeo na internet com suas manobras transformou sua vida para sempre. Uma série de outros vídeos que viriam o consolidou como o melhor biker em competições de rua do mundo. Seu mais novo projeto é um local sob medida para o que ele faz de melhor, inspirado pelo que mais conhece: sua própria mente. Escolhido por MacAskill para refletir suas paixões infantis, Imaginate é o circuito com obstáculos que qualquer criança sonhou, só que real. Seu “eu interior” entendeu tudo imediatamente: o primeiro vídeo conseguiu 2 milhões de hits no dia em que foi ao ar. Veja tudo isso ganhar vida: www.redbull.com/imaginate Foto: James North

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NÁP O LE S , ITÁLIA

VOANDO JUNTO O indicador de velocidade atinge 400 km/h. O piloto Matthias Dolderer, que faz suas acrobacias em um Zivko Edge 540, deixa o público que observa na cidade portuária italiana completamente embasbacado. Eles estão lá para ver a America’s Cup World Series; Dolderer, da equipe de exibição Flying Bulls, dá um show à parte. Sabendo que o ás alemão voaria por algumas das mais belas vistas do mundo, como o Monte Vesúvio, o fotógrafo Olaf Pignataro fixou sua câmera na ponta da asa esquerda do Zivko. Projeto piloto: www.matthiasdolderer.com Foto: Olaf Pignataro/Red Bull Content Pool

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Bullevard Sua dose mensal de esporte e cultura

Ouvidos ligados Eles são jovens e talentosos e sabem fazer rock. Quem são as quatro novas bandas da Red Bull Records:

Daniel Simon, 37, fez os carros de filmes como Oblivion e TRON: O Legado

Five Knives A vocalista Anna e seus electro punks de Nashville misturam dubstep com hard drums.

MÁQUINAS DO TEMPO Naves e carros de corrida do futuro: é isso que Daniel Simon traz para o nosso tempo Ele é um visionário designer de carros. Enquanto trabalhava na Bugatti, Daniel começou a projetar veículos e naves futuristas no seu tempo livre. Com seu primeiro livro, Cosmic Motors (2007), o alemão conquistou fãs célebres como o lendário piloto de corridas Jacky Ickx

New Beat Fund O som dos hipsters da Califórnia lembra Beck nos melhores dias. Não deixe de ouvir: “Scare Me”.

e também contratos para superproduções hollywoodianas, como TRON: O Legado, para o qual ele criou as motos de luz. Seu novo livro, The Timeless Racer, mostra carros fictícios dos anos 1981 e 2027. www.danielsimon.com

Clicks

A SUA FOTO AQUI Você já tirou uma foto com o sabor da Red Bull? Blitz Kids Pesados e sensíveis: o emo inglês com guitarras distorcidas e melodias grandiosas.

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Todo mês a gente faz uma seleção com nossas favoritas. phototicker@redbulletin.com

Vila Franca do Campo

O cliff diver Orlando Duque sobre as vacas portuguesas Dean Treml the red bulletin

fotos: daniel simon (2), Tina Korhonen

BearTooth Caleb Shomo (segundo da esq.) é o cabeça da banda de metalcore. O lema é berrar!


Novo mascote

Exemplos que a Olimpíada de 2020 (a ser anunciada em setembro) não deve seguir:

Gee Atherton (GB) dominou as primeiras etapas de mountain bike nesta temporada

fotos: imago (2), Getty images (2), Picturedesk.com (2)

Pedala, Geezinho! Na temporada passada, Gee Atherton subiu ao pódio em todas as etapas. Neste ano, ele também se manteve no degrau mais alto. Como? “Nós melhoramos o treinamento e temos a melhor bicicleta”, diz o mountain biker de 28 anos. Ele também comenta as mudanças para o mundial de Pietermaritzburg (África do Sul): “Vamos ter que pedalar muito, então a questão do peso é importante. Ainda vamos usar um suporte de banco com ajuste hidráulico e talvez rodas maiores.” Quem seria uma ameaça? “Greg Minnaar, Mick Hannah, Aaron Gwin... No total, cinco ou seis competidores.” Se tivesse que escolher, preferiria ser vencedor geral do mundial ou campeão do mundo? “Ser vencedor geral tem mais significado, mas o título de campeão do mundo tem mais prestígio. Além disso, a camiseta com o arco-íris é muito confortável.” Copa do Mundo de Mountain Bike, de 26/8 a 1/9 www.uci.ch

Tóquio Este participante do Red Bull Street Style dobra ao máximo Naoyuki Shibata the red bulletin

turim 2006 Que criativo... Os mascotes Neve e Gliz – uma bola de neve e um bloco de gelo.

Pequim 2008 Os Fuwas – 5 elementos do Feng Shui que mais parecem Pokémons domesticados.

PHENOMENAL Coautor do hit “Get Lucky” ao lado do Daft Punk, Pharrell Williams, 40, fala sobre a alegria de viver, os novos planos e sua nova paixão: trilhas para filmes infantis Ele compõe hits para si mesmo e outros artistas como se estivesse escrevendo uma lista de compras. Este ano, Pharrell Williams já esteve no estúdio com colegas como Destiny’s Child e Daft Punk, com quem compôs o hit “Get Lucky”. O que ele faz para relaxar? Compõe músicas para filmes infantis. Sua última trilha sonora foi para o filme Meu Malvado Favorito 2. the red bulletin: Você compõe em gêneros diferentes, mas todas as suas músicas têm muita vida... pharrell williams: Temos vivido tantas tragédias que as pessoas estão perdendo a sensibilidade. Acredito que todos temos esse desejo de sorrir.

É diferente escrever música para um filme infantil ou para a rádio? No final é tudo igual. O importante sempre é encontrar a harmonia com o roteirista e o diretor. Além disso, as canções têm que ter certa uniformidade e refletir a atmosfera do filme. Quais são seus próximos projetos? No momento estou produzindo os álbuns de Jay-Z, Kylie Minogue, Miley Cyrus e Jennifer Hudson. É uma loucura que todos eles queiram trabalhar comigo. Eu tenho que me beliscar a toda hora para conseguir acreditar e já estou cheio de hematomas. www.pharrellwilliams.com Pharrell Williams em ação

atlanta 1996 Mistério: o que Izzy, o boneco de tênis, queria simbolizar?

Hong Kong

O tambor marca o ritmo das remadas no Red Bull Dragon Roar Andy Jones

Potosí

O motociclista Aaron Colton mostra conceitos inovadores nas estradas da Bolívia Patricio Crooker

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Bullevard

Justin virá ao Brasil em uma das noites do RIR

Birita online O site Mapa da Cachaça é uma rede social para quem quer se aprofundar no mundo da caninha brasileira. O site reúne produtores e amantes do mé. “A gente quer ser a principal referência sobre cachaça no mundo”, diz o editor de conteúdo Felipe Hellminster. “Tanto nos aspectos culturais e históricos como ajudando o produtor a criar uma cachaça melhor com filtros para o con­ sumidor entender o que é uma cachaça de qualidade.” Nascido em 2010, o site mapeia os melhores rótulos do país com a colaboração dos usuários, discute sabo­ res, nuances e dá dicas para quem procura beber uma pinguinha de alto nível. www.mapadacachaca.com.br

Sakhile Moleshe, um dos membros do Goldfish, duo eletrônico da África do Sul, viaja o mundo e toca nos maiores festivais e baladas. Seu novo projeto, o programa de rádio Globalize Yourself Stereo, traz Moleshe e seu par­ ceiro Xee servindo os mais novos sons eletrônicos direto de sua terra natal duas vezes por semana. O programa pode ser escutado pela internet e alimenta os ouvidos

Moleshe (direita) e Xee apresentam o programa Globalize Yourself Stereo dos apaixonados por músicas e sets fresquíssimos todas as terças e sábados. No primeiro dia, a programação é voltada para músicas mais suaves, numa pegada menos dançante. Já no sábado, o bicho pega com ritmos fortes que ajudam a esquentar qualquer noitada.

Globalize Yourself Stereo vai ao ar às terças e sábados das 19h às 20h30 (CET):  www.redbullmobile.com/ globalizeyourselfstereo

Vancouver Pedaladas e remadas no Red Bull Divide and Conquer, no Canadá Bryan Ralph 16

Tudo junto misturado

Saiba como acompanhar (de perto ou de longe) o festival mais brasileiro dos festivais. Setembro é mês do Rock in Rio – o quinto da história do Brasil O maior festival de rock brasileiro está de volta, e quem não se antecipou está sem ingresso. A enorme procura acabou com todos eles, mas até o dia dos shows deverá ser possível encontrar tickets em sites de leilão ou de desistência. Para os roqueiros que preferem o pijama e o conforto do sofá, a chance de acompanhar o Rock in Rio é pela TV (o evento passará ao vivo no Multishow). A quinta edição nacional do Rock in Rio trará mais de 90 artistas, entre eles Justin Timberlake, Ivete Sangalo, Bruce Springsteen e Metallica, coroando a múltipla variação de gêneros do festival, que já sofreu com abandono de bandas brasileiras e garrafadas a Carlinhos Brown no passado. Ao que parece, tanto o público quanto o festival amadureceram e desavenças como essas não deverão mais ocorrer. Serão oito dias de festa com quatro palcos que dividem os mais variados estilos da música mundial. Depois de virar sucesso na Europa, em países como Portugal e Espanha, o RIR pousa com tudo em sua terra natal e já confirmou mais uma edição para 2015. Confira a programação completa: www.rockinrio.com.br

Zeltweg Este é realmente um bom ponto de vista para ver o Aeroporto de Zeltweg, na Áustria Red Bull Skydive Team

Nova York Quem não gostaria de ter um

Treequencer – a árvore da música – no estúdio? Aaron Rogosin, Red Bull Creation the red bulletin

Texto: Fernando Gueiros. Fotos: picturedesk.com, globalize yourself

Rádio globalizado


b u l l eva r d

ONDE ESTÁ SUA CABEÇA

neymar

Missão: liderar o Brasil em uma Copa do Mundo em casa e fazer uma parceria com Messi para ganhar a Liga dos Campeões. Fácil, não? Confira a seguir o que pensa o nosso garoto prodígio

Chutes de cinema

Quando o hino tocou antes do 225° e último jogo pelo Santos, em abril, o craque chorou. “O filme da minha vida desde criança passou pela minha cabeça.”

Ei, Neymar!

Neymar da Silva Santos Júnior nasceu em 1992 em Mogi das Cruzes, a 40 km de São Paulo. Como é previsto em lei para todos os jogadores de futebol, quando garoto ele jogou futebol na rua com seus amigos.

Vida pacata

Se o Brasil quiser ganhar a sexta Copa do Mundo, precisará de Neymar na liderança. “Não acredito que sofra pressão”, ele diz, dando uma volta como num de seus dribles.

Aos 11, em Santos

texto: paul wilson. ilustração: lie-ins and tigers

Em 2003, a família se mudou para Santos e ele assinou com o time local. “O que mais sinto falta é de jogar na praia com meus amigos”, disse Neymar Jr.

Nascido para o sucesso

Conhecido entre cabeleireiros como “moicano falso”, sua crina é assunto (onde o consenso é: alisador e depois secar até que endureça), e a ira de Pelé, que diz que o visual importa mais para ele que a bola.

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Multa contratual

Nil e Ney

Neymar foi indicado ao prêmio de gol mais bonito da FIFA desde que a categoria começou, em 2009. Na verdade, não, não foi: em 2009, Nilmar é que foi. “Ele é um craque”, disse o Nil sobre o Ney. Ney venceu em 2011 e foi terceiro no ano passado.

Coração tuiteiro

@Njr92 caminha para o top 100 do Twitter. Na última contagem, pegou o 87° lugar de sua santidade, o dalai-lama. O português Cristiano Ronaldo é o jogador com mais seguidores.

“Tenho contrato com o Santos até 2014”, disse à revista Time em fevereiro. Três meses depois assinou com o Barcelona sob multa de € 57 milhões (a nona mais alta da história). www.neymaroficial.com

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b u l l e va r d

ANTES E DEPOIS

TIRO CERTO

DE 68

Em 1968, este projétil era o suprassumo da arte, porque era feito de alumínio. Vantagem: é leve. Desvantagem: quebra facilmente e um tiro mal dado pode deformá-lo.

Os equipamentos de um arqueiro não parecem ter mudado muito, mas os avanços no esporte mantêm-se ligados nas novas tecnologias

1967 Arco recurvado Zopf x7 Este arco de madeira da cultuada fabricante austríaca que não existe mais era o mais fiel companheiro dos melhores arqueiros dos anos 1960. O riser pesava 1,8 kg e o Zopf X7 era muito estável, mas a madeira tinha seus pontos negativos: ela vibrava por algum tempo depois que a flecha era disparada e sofria com a chuva, por exemplo. Menos confiável no calor, o frio a deixava mais sensível, às vezes a ponto de se quebrar.

O BRILHO DO RISER

Um cabo de arco é conhecido como riser. Os risers de madeira ainda são usados por crianças e amadores; 50 anos atrás, feitos à mão com maple, nogueira ou pau-rosa, eram usados no juramento de profissionais.

Os braços são blocos de maple colados, trabalhados à mão, reforçados com vidro laminado. Arcos recurvos, com as pontas dos braços onduladas para longe do arqueiro, permitem tiros mais rápidos que pontas retas.

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O X7 foi desenvolvido com a ajuda do heptacampeão Frantisek Hadas (acima) há 45 anos www.archery.org

the red bulletin

texto: Arek Piatek

NO LIMITE


FLECHA RETA

Um centro de alumínio envolto em fibra de carbono faz com que esta flecha seja mais robusta e resistente ao vento do que a antecessora, feita só de alumínio com o mesmo peso.

VEJA E CONFIE

As partes superiores: o visor pode ser levantado e é ajustável para a distância do alvo. No meio: três estabilizadores mantêm o equilíbrio antes e depois de liberar a flecha.

2012

fotos: kurt keinrath (2), www.bogensport-marktredwitz.de, Action Images/Paul Childs

Arco recurvado W&W, INNO AL1

PRA VALER

Os risers modernos são mecanismos de precisão, equilibrados da melhor forma para reter a posição original depois de disparar. São feitos de alumínio embranquecido industrialmente.

Este arco à prova de mau tempo parece transmitir a força gerada pelo arqueiro à flecha. Seus braços sintéticos absorvem as vibrações melhor que a madeira, e o riser relativamente pesado (1,3 kg) mantém o recuo baixo e a alta incidência de acertos. Na Olimpíada de Londres, o sul-coreano Im Dong-Hyun (abaixo) estabeleceu o recorde mundial de 699 pontos (de um total de 720 possíveis) usando seu fiel arco recurvo Win&Win.

EM PEDAÇOS

Os braços destacáveis foram introduzidos em 1963, tornando-se padrão. Os arqueiros profissionais de hoje têm arcos desenvolvidos para o formato do seu corpo usando um programa de computador.

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No arqueirismo olímpico, o anel central do alvo, de 12,2 cm, é alvejado a uma distância de 70 m www.win-archery.com

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Bullevard

Fórmula Perfeita

TEMPESTADE PERFEITA

Atmosfera garantida: instalação de nuvem “Nimbus Minerva”, pelo artista holandês Berndnaut Smilde, Galeria Ronchini, Londres

texto: Thomas Schrefl. foto: eeftinck schattenkerk. IlustraÇÃo: Mandy Fischer

Um artista holandês cria climas dentro de casa – nossos físicos explicam como

NO CÉU Uma fotografia na casa de seus avós inspirou o artista Berndnaut Smilde, de Amsterdã, a criar uma nuvem nos interiores, hoje em exposição na Galeria Ronchini, em Londres. Mas como é possível que essa instalação funcione? “As nuvens são formadas a partir de gotículas mi– núsculas de água que flutuam no ar”, diz o professor Thomas Schrefl da Universidade de Sheffield e da Universidade St. Pölten de Ciências Aplicadas da Áustria. “Para que essas gotículas se formem, o vapor de água no ar – ao que nos referimos como umidade – precisa se condensar em torno de pequenas partículas de poeira. As gotículas aparecem quando uma umidade relativa de 100% é alcançada ou, em outras palavras, o ar não pode mais absorver vapor. “A pressão total do ar, p, é a soma da pressão parcial do ar seco, pd, e a pressão parcial do vapor, pv. Assim que a pressão parcial do vapor excede um determinado limiar, podemos alcançar o ponto de saturação. “Esse é o momento decisivo quando se trata de fabricar uma nuvem. Mas a temperatura também tem um papel importante. A umidade relativa é determinada na relação da pressão parcial do vapor e a pressão saturada do mesmo: f = pd/ps × 100. A pressão do vapor saturada depende da temperatura, T, como a linha sólida, ps(T), mostra na ilustração. “Quando a umidade parcial do ar encontra solo frio, o ar resfria, a pressão parcial do vapor excede a pressão saturada do vapor e a nuvem começa a se formar. Essa parte do processo é representada pela linha horizontal pontilhada do diagrama. O ponto de intersecção com a curva ps(T) é o que nós chamamos de ponto do orvalho.” NA GALERIA Então, como é possível criar uma nuvem dentro de um museu? “Com um truque”, diz o professor Schrefl. “A saturação acontece quando o vapor de água adicional é introduzido a um ar já saturado. O que Smilde faz é umidificar o ar da galeria. Então ele introduz vapor de uma máquina no espaço e a reação acontece. Simples. “Para assegurar que flutue no lugar certo, não pode subir ou descer muito rapidamente. A aceleração vertical das partículas de nuvem, aC, depende da diferença na densidade entre as partículas da nuvem e o ar em volta. Se a densidade das partículas de nuvem, ρC, é a mesma que a densidade do ar circundante, ρA, a aceleração é nula – e a nuvem flutua.” “Como antes, a temperatura é uma variável vital, também. O ponto de orvalho e a densidade dependem da temperatura. Isso significa que, para que uma nuvem se forme, a temperatura precisa estar inferior a 20°C.” Voilà! – temos uma sala com uma nuvem. Saiba mais em: www.berndnaut.nl

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Bullevard

clemens doppler

O bicampeão europeu de vôlei de praia, de 32 anos, mostra o que está por trás – e por cima – do seu excelente físico

NOS OMBROS

As partes do corpo de um jogador de vôlei mais propensas a sofrer lesões são os ombros. Ligamentos e articulações são submetidos a enorme pressão nos cortes e nos serviços, então trabalho intensivamente simulando os movimentos.

TATOOS

1 PREPARAR,

NÃO APONTAR, VAI

Tenho 2 metros de altura e peso cerca de 85 kg, mas posso pesar 3 kg menos no final de uma temporada. É importante ter uma musculatura forte no tronco, e a melhor forma de fortalecê-la é na bola suíça (grande bola de plástico) em uma superfície instável.

EXPLOSIVO

Energia para pular é fundamental na areia. Treino meus músculos da perna com agachamentos. Quando você quer mais força, pega pesos mais pesados e menos repetições – digamos quatro séries de seis repetições com 130 kg. Para a resistência, faço esse mesmo exercício com 100 kg e mais explosão.

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4

Todas as minhas tatuagens são lembranças da minha vida. Fiz minha primeira quando tinha 17 anos: o desenho era, é claro, um jogador de vôlei. Meus pais, que eram fãs do esporte, não teriam me deixado fazer outra coisa. A próxima deve ser um terceiro número 13 embaixo do ás de espadas do meu braço direito, ao lado dos números 03 e 07, os anos em que venci os campeonatos europeus.

PARAFUSOS SOLTOS

2 ALTAMENTE

3

5

Sofri as minhas piores lesões em partidas. Rompi o ligamento cruzado do joelho um mês antes da Olimpíada de 2004, e aconteceu de novo dois anos depois no campeonato europeu. Os pinos que foram colocados da segunda vez foram retirados quando fiz uma operação no menisco.

www.doppler-horst.com the red bulletin

texto: ulrich corazza. foto: philipp forstner

EU E MEU CORPO


ilustraÇÃo: dietmar kainrath

Bullevard

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Bullevard

NÚMEROS DA SORTE

Mestres de um hit só Cada músico espera emplacar um hit, mas, para muitos, é onde o sonho termina. A seguir, algumas histórias dos fogos de palha

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O smiley de Harvey Ball

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O duo espanhol de flamenco Los del Rio, formado em 1962, esperou 34 anos para o seu primeiro, e único, hit. Mas foi bombástico: “Macarena” – o maior hit dos “mestres de um hit só”. O remix encabeçou as paradas americanas por 14 semanas em 1996, vendeu 11 milhões de cópias no mundo e ensinou uma coreografia imortal.

264

Johann Pachelbel detém o primeiro one-hit wonder da história com seu “Cânone em Ré Maior”, que se tornou popular 264 anos após a morte do com­ positor alemão graças a uma gravação de 1970 da Orquestra de Câmara Paillard. Hoje, até Green Day, U2 e Alicia Keys chegaram a se apropriar da melodia.

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Seguindo as regras: Edelweiss

Por Harper Lee ou Capote?

30.000.000 Sem 1° lugar: Jimi Hendrix, Norah Jones e Iggy Pop

Harper Lee venceu o prêmio Pulitzer em 1961 com seu primeiro romance, O Sol É Para Todos. O livro vendeu mais de 30 milhões de cópias e foi transformado em um filme, levando três Oscars. A autora nunca escreveu nada depois, o que deu fôlego a rumores de que partes da obra tenham sido escritas por seu amigo Truman Capote.

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O primeiro one-hit wonder da história

Hey, Macarena

Em 1963, Harvey Ball teve que desenhar um logo para uma seguradora. Dez minutos depois, como conta, o rostinho amarelo, re­dondo e sorridente conhecido como smiley nasceu. Em 1971, 50 milhões de broches foram vendidos. O logo poderia ter feito Ball milionário, mas ele não registrou sua criação e recebeu apenas US$ 45 pelo trabalho. the red bulletin

texto: florian obkircher. fotos: ddpimages, rex features, frank w. ockenfels, shutterstock, xavier Martin

O que Jimi Hendrix, Iggy Pop, Beck e Norah Jones têm em comum? Nenhum deles emplacou mais que um Top 40 nas paradas americanas. Entre os injustiçados, Beck é o mais bem-sucedido tendo chegado entre os dez em 1994. Com qual música? “Loser”.

160

Bill Drummond e Jimmy Cauty conseguiram dez sucessos no Top 10 das paradas britânicas como The KLF. Em 1988, eles colocaram toda sua sabedoria em 160 páginas, no livro O Jeito Fácil de Ser Número Um. Os palhaços do Edelweiss seguiram os conselhos e emplacaram em quatro países o hit “Bring Me Edelweiss”, em 1989.


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U M A RE V ISTA

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SEU MOMENTO. ALÉM DO COMUM

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alpinistas

sociais Fazer uma torre humana de dez andares é uma questão de orgulho patriótico e faz parte da história da Catalunha, onde equipes de uma cidade competem para construir uma pirâmide humana com a força de 300 pessoas

Por: Andreas Rottenschlager  Fotos: Philipp Horak

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A competição de torres humanas em Vilafranca del Penedès, próximo a Barcelona


ombro amigo Torres humanas, conhecidas como castells, são parte tão importante da cultura catalã como a arquitetura de Antoni Gaudí ou o time do Barcelona. Suas origens estão nos movimentos de dança aérea realizada nas festas religiosas há mais de 200 anos. Hoje, cerca de 7 mil castellers mantêm a tradição viva em 66 associações. As competições são realizadas perto de Barcelona entre abril e novembro. Não há juízes para distribuir pontos: quem conse­ guir construir a torre humana mais espe­ tacular vence.


Associação Xicots de Vilafranca: a estrutura arquitetônica complexa é formada desde o século XVIII

Alta pressão: um dos baixos (pessoas que ficam na base) morde o próprio colar na falta de uma proteção bucal

Cinto para a coluna: as faixas pretas fornecem o necessário apoio para a lombar

EMPILHADORES DE GENTE As melhores equipes empilham seus integrantes em cima uns dos outros para construir torres humanas com até dez andares. A pirâmide é dada por completa quando a pessoa no topo – quase sempre uma criança – levanta um dos braços. Qualquer um que tiver paixão e comprometimento suficientes pode se tornar um casteller. Idade, profissão ou sexo são irrelevantes. As associações (colles, em catalão) são bastante democráticas. “Você vê desempregados montando sobre políticos”, diz Josep Cabré, presidente dos castellers de Vilafranca. “Todo mundo na torre é igual.”

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Membros do Castellers de Vilafranca dando início a uma torre de nove andares. O esquema tem que ser preciso para cada formação

BASE FIRME A camada circular na base de uma torre humana é chamada pinya. Ela adquire forma ao redor dos quatro homens no centro. Então os castellers montam uns sobre os ombros dos outros para formar os níveis superiores. Um desses seguradores da pinya tem que equilibrar mais de 350 kg nos ombros. Salvador Moreno fez isso pelos últimos 23 anos. “Às vezes, eu desmaio”, diz.

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VIDA NA TORRE O físico e o talento determinam a posição do casteller na torre. Alguns sobem até o alto da torre humana quando são estudantes jovens, integram a parte do meio quando são adolescentes e sustentam os amigos na pinya na aposentadoria. O lema dos castellers é o mesmo para todos, sem considerar idade: “Força, Equilibri, Valor e Seny” (“Força, Equilíbrio, Valor e Sanidade”) Ivan, de 6 anos, sofreu ferimentos na perna após cair de um castell. “Agora sei como é voar”, ele diz, orgulhoso. Crianças são obrigadas a usar capacetes e protetores bucais desde 2006


A equipe de castellers de Valls, alguns segundos após sua pirâmide desabar. Abaixo: membros do time de Vilafranca esperando a próxima tentativa

ASCENSÃO E QUEDA A maioria dos acidentes acontece quando as torres estão sendo desconstruídas. Um erro individual é suficiente para fazer um castelo de 300 pessoas desmoronar. Mas ferimentos graves ainda são raros, uma vez que o grande número de castellers na base amortece a queda dos demais.

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Estrutura sólida: a torre de nove andares dos Castellers de Vilafranca tem uma coluna central e um anel de susten­ tação no entorno do segundo nível

MOMENTO DE FELICIDADE EXTREMA Erguer torres huma­ nas exige meses de treinamento antes de ajudar a montar a estrutura de 300 pessoas. O público vai ao delírio depois de o castell ficar pronto. Os castellers só comemoram de­ pois de tudo desmon­ tado com sucesso. “Fazer torres huma­ nas”, declara Piqué, treinador dos Cas– tellers de Vilafranca, “é como uma droga.”

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“NÃO TENHA MEDO”

Três castellers campeões falam sobre o medo do desmoronamento, a dor no pescoço (e no resto) e a psicologia da torre humana

Pere,

o arquiteto. Pere Almirall i Piqué é quem se deve procurar para o planejamento da torre humana perfeita. Piqué, de 38 anos, tem rosto juvenil e é o “cap de colla” dos Castellers de Vilafranca – o treinador da equipe de torre humana mais consagrada da Catalunha. Sua equipe de Vilafranca, uma cidade de 38 mil habitantes a cerca de 50 km a oeste de Barcelona, venceu oito campeonatos nacionais até hoje, mais que qualquer outro grêmio. É um dos dois únicos times no mundo que conseguiram fazer um castelo de dez andares. “Gosto da mistura de tradição e emoção”, diz Piqué em seu escritório no centro de Vilafranca. “Formar torres humanas é como uma droga. Uma hora você fica viciado.” No posto de “cap de colla”, é ele quem decide onde fica cada um na torre. Piqué define as competições e dá as instruções de escalada. “Você aprende a lidar com todo mundo, além de saber avaliar os talentos corretamente. Também é preciso ter capacidade de motivar construtores e banqueiros.” Ele coordena a construção da torre do lado de fora da pinya, a fundação circular do castelo. “É um trabalho estressante porque você é responsável pelo sucesso, mas não pode se envolver ativamente.” Piqué diz que apenas uma em cada 100 de suas torres desaba sobre si. Isso normalmente acontece durante a fase crítica pouco depois que a torre começa a se desmontar, quando as pessoas na base já estão exaustas. 36

A última vez em que um de seus castelos caiu foi durante o treinamento na praça principal, na véspera da competição em Vilafranca, com 4 mil torcedores locais vendo tudo. “Alguém do segundo nível colocou o peso no pé errado e escorregou. Você não pode correr o risco de cometer esse tipo de erro.” Após a queda, coube a Piqué, cujo trabalho regular é vender portas corta-fogo, massagear os egos dos 300 homens, mulheres e crianças. “Tentei falar com cada um individualmente”, ele explica. “Como ‘cap de colla’, você é um conselheiro também.” E o que ele disse ao time? “Eu disse a eles: ‘Não tenham medo. Vocês são bons’.”

Salvador,

o operário. Cal Figarot é a sede da agremiação Castellers de Vilafranca. O sobrado central tem salas de reunião e uma opulenta sala de jantar. Para chegar à academia, onde os castellers praticam suas formações, você atravessa o jardim adjacente. Esse lugar lembra uma escola de circo: uma rede protege os castellers enquanto eles escalam durante o treino. Um quadro de anúncios numa parede tem esboços de planos para futuros castelos. Salvador Moreno faz alongamentos no gramado em frente à academia e tem suas costas largas massageadas. Ele está com 54 anos e tem o tórax de um halterofilista. Sua posição na torre é chamada de “baixos”, que em catalão significa o mesmo que em português: “Os que ficam embaixo”. Moreno e seus companheiros baixos formam a base da torre humana,

“ É difícil de res­ pirar na base. Eu não consigo ver as pessoas ao meu redor, mas incentivamos uns aos outros” the red bulletin


Esquerda: a família Sabaté acredita no valor educacional da construção de torres. Abaixo: o chefe casteller de Vilafranca, Pere Almirall i Piqué – seu emprego é vender portas corta-fogo, mas, como casteller supremo, sua função é gerir e, se possível, consolar 300 pessoas

PRÉDIOS HUMANOS Dos musculosos na pinya à pequena criança no topo, os castells catalães reúnem 300 homens, mulheres e crianças em uma obra de arte viva. Saiba como eles se encaixam

Pom de dalt (a coroa) Enxaneta

TITÃS DAS TORRES

Acotxador

Os Castellers de Vilafranca formam uma das maiores equipes de torre humana, com um recorde de nove títulos nos torneios catalães em Tarragona. A associação tem 500 membros, 300 dos quais estão envolvidos ativamente na festa. O pre­ sidente Josep Cabré tem uma teoria sobre tamanha popularidade das torres humanas na cidade: “Não nos vemos como uma associação”, ele diz. “Somos uma família.”

Dosos (duplas)

Tronc (o tronco) Quints (quintos)

Quarts (quartos)

Terços (terceiros)

ilustraÇÃo: ruedi schorno

Segons (segundos)

equilibrando até nove níveis com os ombros. Dependendo da distribuição de peso, ele pode ter de aguentar mais que 350 kg em seu corpo. “É difícil respirar”, diz Moreno sobre seu estado quando a torre termina de ser erguida. “Fica tudo escuro onde estou posicionado. Não consigo ver as pessoas ao meu redor, mas incentivamos uns aos outros.” Os baixos têm que ser pequenos e fortes. Moreno tem 1,69 m de altura e pesa 96 kg. Os castellers sempre vão dizer que o coração de uma torre são os baixos. Moreno sempre malha os músculos das costas. A faixa preta que ele enrola em torno da cintura dá uma estabilidade extra. “Mas as dores nas costas são inevitáveis”, the red bulletin

Pinya (base)

Baixos (base)

Pom de dalt: crianças de 6 a 12 anos formam os primeiros três níveis do castelo, conhecidos como coroa, devido ao peso reduzido. Assim que a enxaneta – a menor criança que fica bem no alto – levanta a mão, a torre está completa. Tronc: a parte central chamada tronco sobe a partir do centro da pinya e vai até os dosos na coroa. Uma torre é classificada pelo número de pessoas em seu tronco. A ilustração acima mostra uma formação “3d8”: um castelo de oito níveis com três pessoas em cada nível do tronco. Pinya: a base, que contém cerca de 200 pessoas, sustenta as seções superiores e evita que o tronco ceda. Se uma pirâmide desaba, a pinya amortece a queda dos castellers.

ele diz. Moreno tem integrado as pirâmides humanas há 23 anos. Em geral, as pessoas começam no topo ainda crianças, ele explica, e com os anos vão ficando mais fortes e indo até a base. Moreno trabalha como vendedor em uma loja de jardinagem. “Não são muitos os que se tornam baixos”, ele explica. “Às vezes, eu desmaio quando os castellers estão descendo dos meus ombros, mas formar torres humanas é o que me deixa feliz.”

Silvia,

uma mãe da torre. É noite em Cal Figarot, a sede da associação. O canal de TV local, a TV3, está mostrando cenas das competições de torres humanas. Enquanto os adultos debatem sobre os castells dos rivais bebendo cerveja, um bando de crianças entra fazendo barulho na cantina. As torres reúnem gerações. O mais novo membro dos Castellers de Vilafranca tem apenas 6 anos, enquanto o veterano já chegou aos 63. Silvia Sabaté está com 44 e tem ajudado a construir castelos desde os 18 anos. Ela auxilia os baixos na base na difícil união. Enquanto isso, seus filhos, Pere, de 11 anos, Foix, de 10, e Aina, de 8, chegam a trepar até o oitavo andar. “Fico nervosa cada vez que eles estão lá no alto”, ela diz. Em 2006, em Mataró, a 20 km de Barcelona, uma menina de 12 anos morreu com os ferimentos de uma queda. Os pequenos foram obrigados a usar capacetes e protetores bucais desde então. A equipe se aquece antes de cada competição, quando treinam como cair de forma segura. Ferimentos graves, seja em competições ou fora delas, são raros. Sabaté trabalha como pediatra no hospital de Vilafranca. “Se eu achasse que o risco fosse alto demais, não deixaria meus filhos subirem lá em cima”, ela diz. “Além disso, acredito no valor educacional de formar torres humanas.” Mas o que as crianças podem aprender com isso? Sabaté pensa por um momento... “Aprendem que todo mundo é igual.”

www.cccc.cat   www.castellersdevilafranca.cat

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BELA

ESPADACHIM Esgrimista top do mundo, Olga Kharlan, da Ucrânia, manda seus cortes e estocadas para cima do Red Bulletin durante sua preparação para o campeonato mundial neste mês, em Budapeste Por: Ruth Morgan Fotos: Sergei Chyrkov

Q

uando era uma menininha, Olga Kharlan sonhava em ser vendedora ou bailarina. Para a sorte do esporte ucraniano, as duas carreiras foram reduzidas a pó no momento em que ela pegou a espada. Isso foi há 12 anos. Hoje, aos 22, Olga e seu sabre fiel já ganharam duas medalhas olímpicas – a primeira, de ouro, foi nos Jogos de Pequim, em 2008 – junto com outros diversos títulos mundiais e europeus. Neste mês, ela vai atrás de mais um sonho no campeonato mundial, em Budapeste – e conta com um pouco de peixe seco, autoajuda e sons do Marilyn Manson. 38

red bulletin: A esgrima não é um esporte muito popular. Como você entrou nessa? olga kharlan: Me lembro bem do dia em que ouvi falar de esgrima pela primeira vez. Eu era uma criança, cheia de energia e costumava dançar muito. Mas, quando eu tinha 10 anos, minha mãe falou: “Olechka, desculpe, mas não podemos mais pagar por suas aulas de dança”. Meu padrinho trabalhava como treinador de esgrima, então ele sugeriu que eu fosse ao clube onde ele dava aulas. Quando você se deu conta pela primeira vez que a esgrima era sua paixão? No começo, era só por diversão, mas

descobri minha verdadeira paixão pelo esporte quando passei a ter bons resultados. Eu tinha uma grande sede por vitórias. Amo também a esgrima porque é um esporte incomum – você precisa enganar o rival se quiser vencer. É divertido explicar esse drama para as pessoas. Tem três tipos de espada na esgrima competitiva: o florete, a espada e o sabre. Por que você escolheu o sabre? A espada e o florete você pica, enquanto o sabre risca. É a única arma com a qual você consegue marcar pontos ao acertar seu oponente com o fio da lâmina. É uma arma muito ágil e o resultado é uma modalidade incrivelmente rápida. A gente the red bulletin


A primeira facada que Olga Kharlan levou na esgrima foi aos 10 anos – hoje ela é campeã olímpica


esgrima com mais energia, enquanto com a espada e o florete existe muita espera e estudo do adversário. O que você diz àqueles que classificam a esgrima como esporte menos físico? Todos os esportes são fisicamente árduos, e a esgrima não é exceção. Você precisa de uma boa dose de força e perseverança. A gente não se movimenta com os joelhos meio dobrados, então tem uma pressão constante nessa articulação e nas costas – que geralmente ficam bem doloridas. Além disso, somos constantemente machucados por causa dos golpes. Como você faz para se mexer dentro de toda essa roupa? Uma das coisas que faz da esgrima um esporte duro é o tamanho do equipamento que é necessário colocar. Só a máscara pesa 2 kg. O próximo a vestir é o colete de lamê; debaixo dele, veste-se uma blusa comum para proteger dos ferimentos, depois calças e sapatos. E para mulheres tem um espartilho para proteger o peito. Ficar dentro disso tudo esquenta demais! A esgrima também gera cansaço mental? O treinamento psicológico é tão importante quanto o lado físico. Tudo pode mudar em um segundo. Então a gente passa também por psicólogos. O meu ajuda nas estratégias para focar meus pensamentos. Você sente falta de sua primeira paixão, a dança, apesar de todo o seu sucesso na esgrima? Eu amava o samba e o chá-chá-chá e talvez tivesse me tornado uma grande dançarina, mas nunca vou saber. Às vezes, assisto a competições de salão porque acho muito bonito, mas meu interesse acaba aí; meu coração hoje pertence a um esporte diferente. Quero seguir em frente e ter conquistas grandiosas na esgrima. Como foi ganhar o bronze em Londres 2012? Antes de Londres, pensava que, se eu não recebesse um ouro, como em Pequim, ficaria deprimida. Mas me dei conta de que, uma vez que você chega a um pódio olímpico, é um vencedor. Gostaria de chegar um pouquinho mais no alto, mas ainda tenho tempo para isso. Vamos ver em 2016. Como é sua rotina de treinamento? Faço academia oito horas por dia, seis dias por semana. Tenho também treinos físicos em geral e depois é espada na mão, onde eu passo um bom tempo praticando movimentos particulares e aprimorando a técnica. Você come de tudo ou procura ter uma dieta específica? Não faço dietas. Adoro comidas bem temperadas, especialmente peixe seco. 40

Não consigo resistir. Curiosamente não gosto de chocolate, mas às vezes – e isso acontece muito raramente – posso comer uma barra inteira de chocolate ao leite de uma vez só. Depois disso, quero mais peixe seco de novo. Você alguma vez quis se desligar, esquecer da academia e curtir com as amigas como uma garota de 22 anos “normal”? Não tenho muito tempo livre, e essa é a parte mais difícil da minha profissão. Quando dá, gosto de curtir com amigas de fora do esporte – mais precisamente duas amigas que tenho desde os 6 anos. Quando nos encontramos, não tem conversa sobre treino ou competição. A gente simplesmente vai ao cinema, conversa e se diverte. Às vezes, até eu fico enjoada de esgrima! Falar de negócios chega a ser um problema com seu namorado, já que ele também é esgrimista? Pois é, estou saindo com o Dima, que também é esgrimista do sabre. Vira e mexe a gente conversa sobre nossos jogos e até damos conselhos um para o outro. Meus treinadores prefeririam que fosse

“ Fico muito feliz quando as pessoas valorizam a minha aparência, mas também fico envergonhada com os elogios ”

Hora do ataque: Kharlan (esquerda) está pronta para ganhar seu segundo ouro no campeonato mundial

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foto adicional: daniel kolodin/red bull content pool

solteira, mas ter Dima por perto nunca trouxe problema. Talvez tenha ajudado. Com que tipo de música você entra no clima para uma luta? Adoro ouvir música – no carro, em casa, treinando. Às vezes, não consigo me preparar para uma disputa se não tiver uma musiquinha. Tenho tudo no meu iPod, de Metallica a Justin Bieber. Quando meu namorado ouve meu iPod, sempre fica surpreso com a variedade de músicas. Ele fala: “Você tem Marilyn Manson aqui?!” Você chamou muita atenção tanto por sua beleza quanto por seu potencial com a esgrima. Te incomoda ser rotulada de “gatinha”? Fico muito feliz que as pessoas valorizem the red bulletin

“ Quando meu namorado ouve meu iPod, sempre fica surpreso. Ele fala: ‘Você tem Marilyn Manson aqui?!’ ”

minha aparência, mas me sinto envergonhada quando ficam elogiando. Gostei de fazer fotos para uma revista masculina da Ucrânia, mas teve algumas consequências negativas. Meus pais acharam normal, mas meus treinadores não entenderam muito bem o que a gente [Olga e duas amigas] fez. Depois disse que não posaria de novo para nenhuma revista, mas quem sabe? Talvez… Você ainda mora na cidade em que cresceu, Mykolaiv. Você é uma celebridade local? Não muito, afinal a esgrima não é um esporte muito popular na Ucrânia. Se eu sou reconhecida, é apenas por causa do meu carro - ou melhor, por causa dos números na placa, porque tenho meu nome e os anéis olímpicos nela [o carro foi um presente da Federação Ucraniana de Esgrima depois que Kharlan conquistou sua medalha]. É ótimo quando sou reconhecida porque isso mostra que as pessoas sabem o que é esgrima. Você acha que algum dia vai deixar sua cidade? Eu vivo em Mykolaiv desde sempre e adoro a cidade. Todos os meus familiares estão lá. Eu divido uma casa com meus pais e um cachorro. Minha mãe sempre faz coisas deliciosas para mim depois que volto das competições – eu amo o borscht [típica sopa local] que ela faz. Quero viver muito tempo e muito feliz por lá. Você viajou o mundo com a esgrima. Que lugar mais te deu vontade de morar? Olha, eu amo Las Vegas. A gente participou de um torneio lá por três anos seguidos. Depois foi cancelado, o que foi triste porque eu não tinha feito 21 anos na época, então não podia experimentar todos os prazeres da cidade. Quando voltar, quero dar um jeito de fazer isso como turista, não como atleta! Você ainda fica nervosa antes de uma competição? Sempre fico nervosa! A confiança é uma coisa estranha. Você pode tê-la em um minuto e depois em dois segundos ela some. Preciso me distrair, espantar os pensamentos negativos. Minha voz interior também me ajuda. Converso muito comigo mesma, mas não muito alto. Como você se sente com o próximo Campeonato Mundial chegando? Meu objetivo é ganhar a medalha de ouro individual tanto no campeonato mundial quanto na próxima Olimpíada. Tenho que trabalhar bem duro para conseguir isso, mas, quando conseguir, vou ser a pessoa mais feliz do mundo. Conheça o Campeonato Mundial de Esgrima: http://fencing2013.hu

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Do funk p a r a

mundo Naldo é o maior astro pop do Brasil na atualidade. Dos casamentos milionários em São Paulo às festas nos morros cariocas, é difícil não tocar músicas suas como “Amor de Chocolate” ou “Exagerado”. Não conhece? Pode colocar para escutar que você logo vai cantar junto... E essa máquina de hits não vai parar tão cedo p o r : F e r n a n d o G u e i r o s , F o t o s : V i c t o r A ffa r o 42

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Naldo, que adotou o segundo nome Benny para ter maior apelo internacional, posa no MAC de Niter贸i


n aldo chega ao museu que é um dos ícones do Rio de Janeiro e um dos legados do arquiteto Oscar Niemeyer, o MAC de Niterói, depois de poucas horas de sono. O maior astro pop do Brasil desce do carro no outro lado da rua. Ele está carregando uma pequena maleta e vem caminhando ao lado de seu sobrinho e de uma assessora. O sorrisão humilde e acolhedor coroa seu 1,86 m de altura. Rapidamente, quem passa por ali, de seguranças a turistas, nota sua presença. Naldo, de 34 anos, é um cara conhecido em todo o Brasil e veio ao museu para fazer uma sessão de fotos e falar com o Bulletin. A maletinha que carrega, na verdade, é uma caixa de som de última geração. Ele passa para seu sobrinho, Rafael: “Você vai ver só, rapá. Que sonzão!”, diz, entregando-lhe a caixa. Alguns degraus abaixo do térreo do museu, em um auditório anexo ao restaurante, pergunto o que ele está ouvindo ultimamente. “O que eu estou escutando?”, diz, enquanto prova um colete para as fotos. “Vou te mostrar o que estou ouvindo: Rafael, aperta o play.” O ambiente então é invadido por um piano hipnótico durante um, dois, cinco segundos para, de repente... BUM! PÁ! BUM! Duros golpes de vibração de um grave fortíssimo, profundo e poderoso, intercalando-se com o tarol seco e quebrado típico da black music americana. 44

A música é “Started From the Bottom”, do rapper americano Drake. Por acaso ou não, as primeiras rimas da música falam um pouco da história de vida de Naldo: “Started from the bottom now we’re here / Started from the bottom now my whole team fucking here” (“Comecei de baixo e estou aqui / Comecei de baixo e o meu time todo tá aqui”). Sim, Naldo começou lá de baixo, mais exatamente na Favela do Pinheirinho, no Complexo da Maré. Vendeu frutas com o pai, trabalhou em supermercados e, ao lado de seu irmão, Lula, morto de forma trágica, formou uma dupla de funk no final dos anos 1990. A estrada até chegar onde está foi longa, honesta e agora recebe reconhecimento nacional. Ele abre um sorriso e ginga discretamente enquanto as produtoras rodam em sua volta com roupas, e a maquiadora espana seu rosto. “Esse é o som que eu tô escutando”, ele me responde. Em seguida, quando a música “Suit & Tie”, de Justin Timberlake, explode no som, Naldo já está pronto para a primeira sessão de fotos.

A

nova febre do pop brasileiro tem origem no funk carioca e hoje define o que é fazer hits nacionais, com milhares de seguidores e fãs pelo Brasil e cerca de 30 shows por mês. Entre o bate-papo no backstage, o assédio de mulheres de todas as idades ao redor do museu, as fotos e autógrafos, o astro parou para nos contar sobre sua infância no morro, a perseverança para seguir a carreira de cantor, a morte trágica do irmão, a paixão pelo basquete e pela cultura norte-americana, a amizade com produtores da black music dos EUA e como é ser o criador de hits que estão na cabeça do Brasil.


red bulletin: Você foi dormir às 7h da manhã, é isso mesmo? naldo: Pois é, estou produzindo meu novo DVD e passei a noite no estúdio. Vou no flow... Dormi às 7h e acordei às 10h. O que te inspira na hora de produzir? É muita coisa gringa, mas no meu novo DVD tem uma onda bem louca. Misturo tanto hip hop quanto coisa nacional. Tem elementos de samba, cuíca, percussão, cavaco, porém tudo voltado para a linha da black music gringa. Então essa é a receita para criar um hit atrás do outro? “Na Veia”, “Chantily”, “Exagerado”... Todas são músicas na mesma linha. Elas têm uma característica que eu comecei a fazer, que é sem o tamborzão [batida típica do funk carioca] e com uma linha meio quente, algo entre duas pessoas que se desejam, mas de um jeito sexy e erótico, não pornográfico. Não é um “tenho saudades de você”, mas também não é uma coisa pesadona. Quando os caras falavam sacanagem, qualquer tipo de música que tenha palavras de sexo pesadas, a galera até gritava na hora, mas ninguém canta. É só o papo. Então pensei: “Preciso ser inteligente, fazer alguma coisa erótica mas que a galera cante”. Aí fiz “Na Veia”, com histórias de amor entre duas pessoas que se gostam e bombou.

L

ançar hits virou uma obrigação para você? Não me preocupo com isso não. Eu deixo fluir. Sou muito crítico comigo mesmo. Tenho que me convencer do que estou fazendo. Se eu acredito no que faço, mostro um trabalho e a pessoa me olha meio esquisito, falo: “Relaxa, eu sei que é legal”. Isso aconteceu com “Amor de Chocolate”. Cheguei na mesa de reunião e a galera disse: “Ihh, essa música, não sei não...”. E eu: “Me ouve, vai na minha”. Hoje, quando encontro essas pessoas, elas nem sabem o que dizer. Gravei um DVD ao vivo e, duas semanas depois,

Credit:

“Levei muito tempo para descobrir minha identidade e sempre gostei da cultura norte-americana, desde quando jogava basquete”

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quis fazer o clipe de “Amor de Chocolate”. Falaram que eu tava maluco. Fui lá e fiz. Minhas coisas são assim, muito doidas, todo mundo fica meio pirado. No final, essa música sozinha com o clipe me trouxe mais resultado do que todo o DVD. Como tem sido sua rotina hoje em dia? Muito corrida. A falta de tempo é o que mais me estressa. Malho onde chego, aí vivo com três, quatro malas. Toda terça eu viajo. Seja lá onde estou, procuro uma academia e uma quadra de basquete, que é o esporte que eu mais gosto, para manter a forma. Tenho uma boa relação inclusive com o Leandrinho e com o Varejão [ambos brasileiros que jogam na NBA]. Joguei pelo Olaria com uns 15, 16 anos. Fora os esportes, em que outro momento você descansa e relaxa em meio à agenda atribulada? Minha mulher está quase sempre comigo. Como não paro no Rio, ela vem junto pra não ficar sozinha em casa. Acho que eu relaxo mais no meu ônibus, onde tenho um espaço pra mim. As coisas têm que ser resolvidas na estrada e na chegada do hotel. Viajamos com umas 30 pessoas. É nessas horas que você compõe? Muitas músicas fluem durante as viagens, como é o caso da “Se Joga”, que eu terminei de compor em Miami, onde fui gravar, e coloquei algumas referências de coisas que vi na viagem. Outras eu escrevi mesmo no ônibus ou nos quartos de hotel até porque eu não paro. Isso não é problema para mim. Quando eu era garoto lá no Pinheiro, compunha no meu quarto e logo na frente tinha um som muito alto, funk, forró, pagode, samba... E eu lá no meu quarto, quieto, compondo com aquele barulhão na frente. Eu escrevia contra aquilo! Você imagina só. Hoje compor no ônibus está uma maravilha. Você falou de Miami. Como é essa sua relação com os gringos? Quando eu fui pros EUA, não tinha a intenção de gravar, estava indo de férias. Quando cheguei lá, conheci o T-Pain, os produtores do Fat Joe, do Chris Brown, do Flo Rida... Os caras são mega! Conheci na LIV [casa noturna local] e eles me deixaram em casa. Sempre desejei muito ir para os EUA. Quando era menor, pegava o número das gravadoras nas capinhas dos CDs e ligava só pra ouvir a galera falando inglês. Sempre sonhando em ir pra lá um dia fazer show e tudo mais. Acho que minha vibração quando moleque que fez tudo isso acontecer hoje. Fiz alguns shows, fui para Nova York. Isso me aju– dou muito. Levei muito tempo para me encontrar e descobrir a minha identidade, o meu caminho. E sempre gostei dessa cultura, desde quando jogava basquete. 46

“Não saio à noite. Quando era moleque ia em baile funk e deixava meu pai preocupado, mas no geral não curto a noite. Não consigo estar ali à toa, sabe?”

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epois de cantar no coral da igreja, você passou para o funk e hoje está no pop, estilos atrelados à vida noturna. Como é sua relação com as baladas? Eu não tenho relação nenhuma com a noite. É simplesmente trabalho. Eu não saio para lugar nenhum. Quando era moleque, até saía para dançar em baile funk, e meu pai tinha medo por causa de drogas e tal. Mas, no geral, eu não curto a noite. Não consigo estar ali à toa, sabe? É trabalho mesmo. Mas o que você faz quando vai sair com os amigos? Saio para jantar ou faço alguma coisa em casa com a família. De vez em quando tem churrasco, mas não muito. Já trabalho com música há um tempo, estourando uma música por ano, com shows direto, não rola muito aquele tempo totalmente ocioso. Eu li que você era um cara muito tímido. É verdade? Hoje já não posso mais dizer que sou tímido, mas eu era muito. Trabalhei em diversas coisas antes de entrar definitivamente na música. Uma delas que me deixava tímido era vender fruta com o meu pai. A primeira vez que fui fazer um show, ainda com o meu irmão, ele colocava a mão no meu coração e falava para eu me acalmar, porque eu ficava muito nervoso. Eu tinha uns 19, 20 anos, e o Lula era três anos mais novo. Depois de tudo o que aconteceu com ele [Lula sumiu no dia de uma gravação e apareceu morto dias

depois com o corpo carbonizado em um morro do Rio de Janeiro], eu fui estudar na Intrépida Trupe [companhia de circo], que era uma ideia dele. Além de treinar acrobacias, o professor me colocava para fazer algo teatral, isso me ajudou muito. Era aula de teatro mesmo, imitar bichos e tudo mais. Sabe como é, né? Fundição Progresso, aula de circo no Circo Voador, aquilo é muito louco. Pensei: “Saio bom ou maluco!”. Mas funcionou demais. Foi lá que você começou uma relação com os B-Boys? Sim, e hoje eu tenho uma relação muito forte com esse movimento. Tenho, inclusive, uma companhia de dança com os B-Boys chamada Reflexo Urbano. Para mim também acho importante saber que, além de ser uma manifestação cultural, é um ótimo exercício físico, é saudável. Mas o que mais curto é a energia que a galera tem para trabalhar com o corpo, acho essa vibe demais. Você disse que foi seu irmão quem deu o toque sobre colocar as danças no repertório. No que mais ele foi fundamental para você? Se hoje eu estou aqui, é por causa dele. Ele me apoiou desde o começo, lá em 1998. Ele já conhecia uma galera do circuito funk, eu já tinha uma coisa mais pro R&B e tal. Aí misturamos o romântico com o funk. Ele que começou a ideia. Eu já curtia a música dele moleque, mas eu nunca tinha imaginado trilhar essa carreira. Curiosamente, quando eu tinha uns 10 anos, saiu uma dupla de funk lá do Complexo da Maré, aí aquilo mexeu the red bulletin


com a minha cabeça porque eu achava que conseguiria transitar naquele universo. Queria entrar num curso de teatro ou coisa parecida. Aí o Lula veio com a história da música e começamos a levar isso até decidir que queria que fosse o meu ganha-pão. Ele que veio com isso tudo de que fazer aula de circo seria um diferencial, foi ver junto comigo e tudo mais, mas infelizmente não deu tempo de ele seguir essa estrada comigo. E minha paixão pela música aumentou ainda mais depois que eu o perdi. Nessa trajetória, você pensou em desistir em algum momento? O meu pai chegou e falou pra gente que era hora de parar porque ele não estava conseguindo aguentar mais aquela dificuldade. Lembro que nessa hora olhei nos olhos dele e disse: “Eu sei o que quero”. E essa trajetória foi um grande aprendizado, caindo, levantando... E o que eu mais me mantive atrelado foi ao trabalho. O sucesso é consequência. Em que momento você sentiu que tinha estourado? Foi quando escrevi “Exagerado”, e no estúdio todo mundo falou: “Agora você não volta mais!”. Depois, veio o DVD e foi uma explosão. nde quer que você vá as pessoas te param. Você chegou lá, mas até que ponto a fama é boa? Muito ruim são os comentários. Eu sou o mesmo cara de sempre, minha cabeça não mudou em nada. Mas, como você passa a ser visto, as pessoas falam o que acham. Tem situações que não dá pra responder para não aumentar. Então, tem que engolir, ficar quieto. Esse é o lado ruim. Imagino que muitos “amigos” aparecem e vão no rabo do foguete, não? Nas minhas primeiras tentativas com as gravadoras, eu ganhei adiantado e comprei um carro. Então eu vi isso. Pessoas se aproximaram, amigos chegaram e quando o disco não saiu eles se distanciaram. Hoje, sendo bem sincero, eu não tenho tempo para ter amigos. Por isso eu trabalho tanto e gosto disso. Essa foi uma defesa que eu acabei descobrindo da pior maneira. Senti na porrada. Depois de eu aparecer na TV com meu irmão, pessoas iam me buscar na porta de casa para jogar bola. Logo, quando as coisas não estavam dando certo, eu passava por essas mesmas pessoas e elas nem me reconheciam. Foi aí que eu vi: “Ah, é assim que funciona...”. O novo DVD do Naldo será lançado nas próximas semanas: www.naldonaveia.com.br the red bulletin

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Foto: ORACLE TEAM USA/Guilain GRENIER

O casco do AC72 sai da รกgua de forma imponente: qual serรก o prรณximo passo do esporte?


PRONTOS PARA

zarpar

Mortais e exigentes, os catamarãs de 72 pés    que vão cruzar a Baía de  São Francisco numa    velocidade de cerca de 80 km/h em setembro    formam velejadores em um novo patamar do esporte Por: Andreas Tzortzis

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e se aglomerando contra o outro casco, enquanto a água chicoteia a rede. A velocidade do barco diminui. Spithill se junta à equipe no outro lado. O australiano estabiliza o timão e posiciona a embarcação contra o vento e toma a direção do Forte Mason. Atrás dele, três barcos de apoio com o logo da Oracle dão guinadas para dentro e para fora do rastro do AC72 em velocidade máxima, como uma fila de carros, esforçando-se para se manter na cola e não perdê-lo de vista. O australiano é o capitão dos atuais campeões da America’s Cup, a equipe

Oracle USA. Ruivo, tem 33 anos, passou por um transplante e foi o mais jovem capitão a conquistar o troféu quando pilotou o trimarã de Larry Ellison para a vitória na America’s Cup de 2010. Em setembro, ele e uma tripulação de 11 profissionais de primeira linha disputarão uma melhor de três para saber quem será o vencedor entre barcos da Suécia, Nova Zelândia e Itália na 34ª edição do mais antigo torneio da modalidade. “Acho que nem mesmo os velejadores profissionais poderiam prever ou imaginar, anos atrás, que a gente chegaria the red bulletin

fotos: Cameron Baird

O

vento da Baía de São Francisco bate na Golden Gate como uma gangue de hooligans ferozes bate na porta de um bar. Ele sopra sobre as águas calmas daquela manhã, deixando-as encrespadas, corta as colinas ao redor e apita nas janelas fantasmagóricas do antigo presídio de Alcatraz, arrancando das cabeças dos turistas seus bonés de beisebol. Na água, os barcos inclinam para o lado, e as extremidades de suas velas tremulam sob rajadas de 37 km/h – cerca de 20 nós. Mas toda a ação dos catamarãs de 72 pés com asas de 13 níveis gera pouco barulho. O barco que o comitê da America’s Cup espera que dê ânimo ao esporte começa a se inclinar na primeira rajada. Os 11 membros da tripulação se enfiaram em um canto de um dos dois cascos. Emparelhados em volta de quatro cabos ligados a guinchos de alta tecnologia, eles permanecem imóveis. É um jogo de detalhes. O capitão Jimmy Spithill levanta os olhos para a vela e a asa, depois os move na direção dos planos que tem em mente. Os esmeris estão parados, depois eles começam a se mexer em movimentos sincronizados, raspando dentro e fora a vela e a asa. O único som é o giro mecânico da asa enquanto o casco do navio começa a se erguer da água. Primeiro o casco em que bate vento, depois o outro, levantando a estrutura de mais de 220 kg feita de fibra de carbono numa manobra chamada “foiling”, que permite que o barco atinja a velocidade de mais de 70 km/h (39 nós). Outros barcos fazem o mesmo, mas não com o mesmo êxito do AC72. Ele é muito estável mesmo em altas velocidades. Spithill dá ordens pelo rádio e a tripulação age. Uma dura coreografia começa quando eles amarram cordas por todo o barco, deslizando a rede para baixo


“Acho que nem mesmo os   velejadores profissionais   poderiam prever ou   imaginar, anos atrás,   que a gente  chegaria   aonde chegou. De onde   a gente estava até onde   estamos hoje foi uma   evolução radical.”  the red bulletin

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“O pessoal trabalha   muito, você está   no limite e, quando   chega ao  final...   aí, sim, olha em volta.    Se conseguir aguentar   isso, vai se dar bem”

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outubro do ano passado,quando, no oitavo dia de treino nos barcos, o 72 deles mergulhou de bico em condições extremas enquanto fazia sua manobra mais perigosa, uma curva fechada de vento de proa para vento de popa, lançando os 11 integrantes da tripulação nas águas geladas antes de se partir e levar sete horas para voltar. As tragédias são colocadas contra o potencial desses barcos ultramodernos. Eles têm o que é necessário para gerar o tipo de falatório e audiência das TVs, e por isso a vela precisa justificar os milhões de dólares em investimento. Ninguém sabe melhor disso que Spithill. O esportista não esquece a alegria na vitória australiana de 1983, a primeira vez em que o barco de um time de fora dos EUA ganhou desde o começo das corridas, em 1851. Ele tinha 3 anos na época. Sete anos depois, venceu sua primeira corrida em um bote de madeira que ele, sua irmã e o pai tiraram dum ferro-velho, arrumaram e levaram à água. Ele agora está no timão de um barco que custa em torno de US$ 10 milhões. A tripulação é dividida em oito nacionalidades. O preparo físico exigido é de nível olímpico, e Spithill leva esse desafio ao extremo, buscando o máximo de vigor.

fotos: ORACLE TEAM USA/Guilain GRENIER (2), cameron baird

SENTIMENTO

aonde chegou”, diz Spithill. “De onde a gente estava até onde estamos hoje foi uma evolução radical. Não foi um progresso gradual. Nós simplesmente estouramos. É como se tivéssemos quebrado uma grande barreira.” O potencial mortífero do AC72 já teve oportunidade de se mostrar no início de maio, quando a embarcação sueca Artemis se partiu durante uma manobra com vento forte e o medalhista olímpico inglês Andrew “Bart” Simpson morreu depois de ficar preso na água debaixo de uma asa the red bulletin

e uma parte sólida do barco por mais de cinco minutos. O acidente levou a propostas de mudança nos regulamentos da America’s Cup, incluindo velocidade máxima em corridas de 23 nós (32 km/h) – antes 33 nós (45 km/h). Integrantes das equipes também passaram a usar coletes salva-vidas Kevlar com pequenas latas de oxigênio presas no lado de fora para ter mais um minuto de ar assim que entram em contato com a água. Spithill e sua equipe tiveram bastante sorte para sobreviver a um desastre em

“Minha primeira vez foi intimidadora. Mergulhamos por horas no design com engenheiros, prognósticos, computadores... Mas quando você começa nisso é como descer de um pônei e montar no alazão. Assim que o barco vai para a água e a asa desliza, você se sente vivo e quer voar. Dá para fazer isso com um mínimo de 5 nós de vento. O dia é muito difícil porque é preciso ter muita energia e concentração. Você vacila uma vez e o barco te faz pagar o preço. Você escuta as chapas começarem a zunir ao passar dos 40 nós (74 km/h) e o barulho do vento é como estar dentro de um furacão. A equipe trabalha muito, você está no limite e, quando chega ao final... aí, sim, olha em volta. Se conseguir aguentar isso, vai se dar bem.”

RESPEITO

“Nunca subestime seu barco. É preciso respeitar e não relaxar. Tem que manter 100% do foco. Em outros barcos, muitas vezes, você pode dizer ‘Ei, pessoal, vamos dar uma pausa e sentar para relaxar um pouco’. Com esse não é assim. É quando um acidente pode acontecer. Não é tipo abaixar a asa e almoçar. 53


Em boa parte do tempo você não tem uma margem para dizer ‘É isso o que vai acontecer’. Ou ‘Prepare-se para isso’. Você precisa tomar a decisão de maneira calma enquanto está avaliando o barco. E os caras na borda têm de tomar decisões completamente exaustos em questão de segundos, então você precisa de gente muito esperta. Você pode ter o cara mais bem preparado fisicamente no barco, mas, se ele não tiver um raciocínio estratégico ou não for um bom marinheiro para antecipar o que vai acontecer, ele não vai conseguir. Você também pode ter um grande estrategista, mas, se ele não for também um bom atleta, vai ser inútil. E hoje nós temos uma credibilidade alta. Tivemos alguns jogadores de futebol, de rúgbi e pilotos de corridas e eles falavam tipo ‘F...., não sei fazer isso’.”

RISCOS

“Quando você tem cascos múltiplos, de 20 metros de fibra de carbono com uma asa de 40 metros e pensa que não vai ter risco, aí está um problema. Nós sempre soubemos como vai ser na hora H, mas nunca quisemos fazer. No fim das contas, o velejador está no barco porque quer estar ali. Eles compreendem que aquilo tem um risco. Tudo na vida é assim. Mas eles fazem porque são pessoas que gostam de sair da zona de conforto, gostam de ser pressionados e no final aprendem algo sobre eles mesmos. A manobra mais perigosa é o ponto em que você vira completamente (a conversão em que o barco muda de vento de

proa para vento de popa com a asa recolhida). Se você não fizer nada, o barco embica. Requer muita coordenação. E, se você consegue acertar, há uma aceleração incrível (de 10 nós para 40 nós – ou de 33 km/h para 73 km/h). É fantástico.”

RESPONSABILIDADE

“Existe muito risco. Se você toma uma decisão errada nesse barco, pode ser uma catástrofe. As decisões são tomadas em frações de segundo. É necessário ter um passo ou dois de antecipação, sempre. Não há dúvida de que existe mais responsabilidade hoje do que no passado. Isso é raro em esportes de equipe. Você vê a Moto GP e a F-1, se o piloto comete um erro, ele se machuca. Não tem muitos esportes em que você coloca todo mundo em perigo. Na verdade, não sei se existe um esporte assim. Exige muita atenção.”

ARENA

“Se você é um velejador e já navegou em São Francisco, está pronto para a parada. Só assim dá para ter confiança de já ter sido bastante pressionado, ter lidado com o ar úmido, balsas, Alcatraz, correnteza... A atmosfera e as vontades da baía mudam todo santo dia. É desafiador. Então, você sobe no barco e segue o fluxo. Voltar para a doca é uma realização depois de um dia duro que exigiu muito, mas a experiência é recompensadora.”

FUTURO

“Finalmente estamos no topo com outros tipos de esporte. Isso me incomoda, mas não me leve a mal. Amo barcos convencionais e o fato de que nosso esporte é tão diversificado. Hoje somos chamados de F-1 das águas e isso é pura verdade no aspecto da engenharia, mas ainda caminhando no ponto de vista de atletas. Essa é a equação para o esporte decolar – e agora gente tem isso também. Honestamente, quando vou para casa, eu mal posso esperar para acordar no dia seguinte e ir para a água. É a melhor coisa do mundo. É um grande sacrifício para a família, mas fico bastante ansioso para ir para a água. Fico curioso para saber como estaremos nos próximos cinco, dez anos. Costumava praticar um pouco de motocross, e você viu o [Travis] Pastrana fazer seus primeiros backflips, e depois o duplo backflip, ir muito além do normal... Então penso: ‘Para onde vamos?’ ”  www.americascup.com

foto: ORACLE TEAM USA/Guilain GRENIER

“Tem muito risco.   Uma decisão errada   no barco pode    terminar em    catástrofe.  Isso é   raro nos esportes    de equipe. Não existe    tantos esportes assim    em que você coloca    todo mundo em perigo”


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A Arena Aquática Fazer a corrida na Baía de São Francisco foi perfeito para a America’s Cup. Em setembro, os ventos que passam pela ponte têm em média 36 km/h, e a hora mais forte costuma ser sempre a mesma. O tamanho dos barcos e o percurso que os leva próximo à Península de São Francisco garantem que o público na margem consiga ver toda a ação.

FATOS & NÚMEROS  Com ventos consistentes e uma linda paisagem, a Baía de São Francisco é   perfeita para os competidores, espectadores e transmissões de TV

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As equipes

Todas as quatro equipes internacionais ostentam décadas de experiência de America’s Cup. Cobrindo todas as edições desde 1980, Kimball Livingston é a pessoa certa para se perguntar sobre os favoritos.

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Quem será o campeão?

Celebridades fãs da vela dão seus palpites

Luc Alphand (França) Ex-corredor do mudial de esqui Vencedor do rali Dakar

T e am O r ac l e US A

fotos: oracle team usa/Guilain GRENIER, Sander van der Borch, Luna Rossa, Chris Cameron, Picturedesk.com (3), Getty Images. Illustration: sascha bierl

Golden Gate Yacht Club, São Francisco CEO: Russell Coutts (Nova Zelândia) Skipper: Jimmy Spithill (Austrália) “Quebrar o barco número um em outubro tirou tempo da Oracle na água, mas não se pode garantir que a atual campeã fique de fora. Eles são uma grande equipe, com bons reservas, e foram vencedores com muita consistência na corrida preliminar do último verão. Eles são a única equipe que treina com dois barcos e duas equipes. São fortes quando chega a hora e não importa quem estiver na disputa, nunca houve uma America’s Cup tão vulnerável para os espólios de guerra.”

Em i r at e s T e am NE W Z E A L A ND Royal New Zealand Yacht Squadron CEO: Grant Dalton (Nova Zelândia) Skipper: Dean Barker (Nova Zelândia) “Atualmente os kiwis têm o barco mais forte, equipe com mais experiência, o maior tempo na água e não tiveram que lidar com problemas políticos como a Oracle. Eles estão focados, se divertindo e sabem que precisam vencer para sobreviver. Se a equipe da Nova Zelândia não ganhar agora, o governo não a financiará novamente. Ela é a única equipe com apoio do governo, e sem esses US$ 30 milhões o futuro não existe.”

M i c k e y Ha r t ( e ua ) Da banda Grateful Dead Compositor do tema da America’s Cup

L u n a R o s s A C h all e n g e

A rt e m i s

Circolo della Vela Sicilia CEO: Patrizio Bertelli (Itália) Skipper: Max Sirena (Itália)

Royal Swedish Yacht Club CEO: Paul Cayard (EUA) Skipper: Iain Percy (GB)

“Sirena é um veterano que estava no comando da asa para a Oracle quando ela venceu em 2010. Ele já chegou em 2013 com experiência. A equipe até parece boa no papel, mas seu barco é essencialmente uma cópia do primeiro da equipe neozelandesa, e os kiwis melhoraram e evoluíram. Os italianos e os kiwis têm treinado juntos, mas, se a Luna Rossa tem força para bater a Nova Zelândia, isso é difícil de detectar.”

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“A equipe Oracle Team é favorita na final. Eles ainda detêm a melhor tecnologia e estratégia. Entre as desafiantes, vejo a equipe Emirates New Zealand impondo sua cultura na competição. Essa nova fórmula da vela moderna é boa, a tradição não prevalecerá, como muitos queriam. Velejar se tornou muito mais profissional com esse projeto, que precisa de muito mais trabalho e energia. Com tecnologia inovadora, cada detalhe conta na corrida. Como venho de esportes cronometrados (esqui e corridas de rali), esse tipo de vela me diz muita coisa.”

“As corridas ficaram mais tran– quilas desde que Andrew ‘Bart’ Simpson morreu em um treino. Até eles usarem o barco dois, não faziam ideia do que tinham. A equipe teve menos tempo na água que qualquer outro time e não teve nada do AC72 até que tivessem que usar seu segundo barco neste verão. Para eles a perspectiva é unicamente de evolução.”

Velejador da Baía de São Francisco por décadas, Kimball Livingston escreveu um livro e tem três décadas de cobertura da America’s Cup. Ele dá aula sobre a competição na UC Berkeley

“Estou no ritmo dessa história. É como uma dança, um balé na água entre o homem, o barco e o oceano. Esses caras estão no limite e são os mestres do ritmo. Quem vai ganhar? Bom, são vários caras correndo. A coisa mais importante é que eles criaram essa dança. Meu interesse é saber qual som eles produzem. Qual é o som do barco e da água e como eu vou usar isso na música da America’s Cup.” E d d i e J o r da n ( G B ) Fanático por vela Corredor veterano de F-1/Dono de escuderia “Se as condições forem de muito vento e com boa qualidade – coisa que os americanos tentarão usar para boicotar a corrida –, os kiwis vencerão.”

N e v i ll e C r i c h t o n ( N o va Z e l â n d i a ) Milionário fanático por vela Vencedor da corrida Sydney-Hobart em 2009 “Se acabar numa disputa entre a Oracle e a New Zealand, a Oracle tem vantagem com vento em popa, mas a New Zealand é mais rápida com vento de proa e na aproximação. A tripulação da New Zealand e suas habilidades com o barco são muito superiores às das outras equipes.“ Veja imagens exclusivas da Oracle Team USA na água no Red Bulletin para tablet. Baixe gratuitamente.

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Ricky Simms

Cartola das corridas Precisa ser rápido para tomar conta de Usain Bolt e Mo Farah, membros de um seleto time de atletas de alto nível. Este irlandês sabe fazer isso como ninguém

olímpica dos 5 mil e dos 10 mil metros. “Eu não quero constranger Usain”, diz É um papel que caiu em seu colo natuRicky Simms, com um sorriso dividindo ralmente. Ele se formou na Universidade seu rosto em dois, “mas sou melhor que Jordanstown, de Belfast, em educação ele em muitas coisas.” Esse é um dos poufísica e logo descobriu que seu próprio cos momentos em que o quase sempre talento como corredor irlandês não garboso e bem-educado empresário do seria suficiente para fazer carreira como homem mais rápido do mundo tira onda. profissional. Mas onde ele é melhor que Bolt? Logo seguiu seu caminho para a “Corrida em longa distância. Com certecidade de Middlesex para aprender sobre za. Qualquer coisa além de 1 quilômetro, as engrenagens do coaching e administrafácil, fácil”, diz, com seu sorriso virando ção de atletas sob a tutela do agente gargalhada. A mais carismática personaliesportivo Kim McDonald. dade do mundo do esporte tem um empresário que pode ser páreo ao seu espírito esportivo. Simms, 38 anos, nascido em Milford, na Irlanda, veste um terno fino e confortável típico dos cartolas dos esportes, mas ele tem um coração de atleta e, mesmo que seus pulmões e braços não tenham sido páreo para a tarefa de se tornar um corredor de média distância nos anos 1990, ele ainda sente a adrenalina das competições. Você não chega a chefe da Pace Sports Management, a agência com mais prestígio no atletismo mundial, sem esse instinto, mas Simms é rápiRicky Simms cuida da carreira de Usain Bolt do em negar a ideia de que, apesar Quando McDonald morreu subitamendo terno, seja parecido com agentes te em 2001, com apenas 45 anos, Simms mafiosos à la Hollywood. e sua namorada alemã, Marion Steininger “Não é uma questão de estar bem, é – os dois hoje são casados e vivem em uma questão de fazer os atletas estarem Middlesex –, assumiram o plantel de bem. Se eles estão, nós estamos.” McDonald com quase 80 atletas, descoSimms está ocupado fazendo contas brindo com alegria que a maioria estava a em sua agência para apurar como pode fim de dar uma oportunidade ao novato. ter uma renda maior com um grupo “Acho que tivemos a sorte de ter atlemenor. Mo Farah, o superstar da corrida tas de alta qualidade, éramos, já naquela a meia distância, ainda consta nos regisépoca, uma empresa forte. Eram predotros – ele está na Pace desde que era venminantemente corredores de longa disdedor assistente trabalhando na loja de tância quenianos. Então, é claro, alguns artigos esportivos do outro lado da rua. [dos promotores] ofereceram dificuldade. Simms é em primeiro lugar um técnico Quando Kim estava negociando, se ele que escreve os programas de treino e tivesse uma multa de US$10 mil para corcorridas para muitos dos seus atletas, rer a prova, eles diriam a nós: ‘Não, nós incluindo Vivian Cheruiyot, tricampeã vamos pagar apenas US$ 3 mil’. Então mundial e duas vezes medalhista 58

você tinha que trabalhar muito para justificar.” Um negócio recompensador transformou-se em um passaporte para a fortuna e um chafariz de fama quando, em 2003, ele se envolveu com um jamaicano de 15 anos com músculos explosivos e tempos fora do comum. Simms sabia que Usain Bolt tinha um potencial de nível internacional, mas ele já tinha visto crianças prodígio falharem antes. “Todo mundo estava falando sobre esse garoto da Jamaica que estava ganhando os sub-20 com 15 anos. Ele era um gigante. Me lembro de dizer: ‘Esse cara vai revolucionar o esporte’. Mas nós tivemos muitos jovens talentosos antes – talvez ele tivesse 15 anos em um corpo de 25?” Desde a ascensão de Bolt a uma divindade do esporte na Olimpíada de Pequim, em 2008, os pés de Simms se fixaram no chão. A movimentada rotina de viagens o tirou das atividades diárias na Pace enquanto trabalha para obter o melhor da velocidade de Bolt na pista e de seu carisma fora dela. “Acredito que nosso modelo de negócio mudou um pouco nos últimos cinco anos”, diz Simms. “A gente tem uma empresa para trabalhar em tempo integral para Usain e outra full time para Mo. Poderia gastar um dia, todos os dias, em qualquer um desses dois caras.” Então a gente quer saber: quem será a nova revelação do atletismo? Simms tem um nome em mente. “Acredito que será difícil ter um novo Usain nesta vida. Sempre tem corredores explosivos e talentosos na Jamaica, sabe. Nós temos outro rapaz, ele correu 9,97s. Tem então o Usain, o Yohan Blake e logo esse cara, o Kemar Bailey-Cole. Nós estamos cuidando dele, mas é um caminho longo. Este ano é um grande ano para ele ver se consegue evoluir.”  www.pacesportsmanagement.com  the red bulletin

foto adicional: DPPimages

Por: Declan Quigley Foto: Ricky Simms


Clientes famosos Usain Bolt, Mo Farah, Vivian Cheruiyot, Kemar Bailey-Cole, Christine Ohuruogu (400 m) e Phillips Idowu (salto triplo). “Só 8m5s atrás!” De acordo com os registros do clube de atletismo de Finn Valley, do qual Simms foi membro por muitos anos, sua melhor marca nos 10 mil foi de 35m03s. O melhor tempo de Mo Farah é 26m46s. Décima atmosfera Simms é o mais velho de uma família de dez irmãos. Jogador Ele torce pelo Liverpool FC desde criança e frequenta o Bayern de Munique. “Eu deveria ter sido jogador de futebol”, diz.


“Quando não estou pilotando, me sinto mal. É estressante. Parece que tenho um buraco na alma” ERICK RUIZ


os x - men Com carreiras medidas em anos em vez de décadas e sempre enfrentando a ameaça de se machucar com gravidade, os pilotos de motocross freestyle são, nas palavras de um deles, “novos gladiadores”. Mas, com tantos riscos, por que eles continuam nas arenas? Por: Justin Hynes  Fotos: Julie Glassberg

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Na página anterior: o piloto mexicano Erick Ruiz estreou no Red Bull X-Fighters neste ano, logo em seu país. Acima: Tom Pagès, o destaque da temporada 2012, quando terminou na segunda colocação. O francês está indo bem neste ano. O espanhol Dany Torres (direita) e o australiano Rob Adelberg também.

om Pagès tentando explicar por que ele precisa se lançar com a moto a 10 m de altura, para então pular dela, faz qualquer um achar que essa é a última profissão que alguém pode pensar em ter. Sua testa se franze, ele se inclina para a frente na cadeira, depis desiste, senta-se e enfia os dedos nos cabelos bagunçados, exalando ar lentamente. “É difícil gostar de competir”, “Não sei o que me faz voltar” e “Você tem medo por seus amigos e por você”: essas são algumas das frases que ele diz com sua cara sorridente cheia de sardas e as sobrancelhas erguidas. Essa contemplação contrasta com a atitude do francês no circuito de motocross freestyle do Red Bull X-Fighters World Tour. Longe dos microfones e da análise, não há nada além de energia efervescente e do espetáculo. Isso é onipresente no motocross freestyle. Pense um pouco nos perigos do esporte em que os atletas passam mais tempo acelerando que dando show e você nunca mais vai querer subir numa moto.

Assim que ele termina sua análise, Pagès sorri e descreve como o FMX ainda é o que ele mais ama na vida. “É mais que um esporte. Pratico isso todos os dias e é só o que eu consigo fazer”, ele diz. “No freestyle você pode se expressar como realmente é na vida normal. Se você está feliz, não tenho dúvidas de que transparece. Você vê a personalidade verdadeira de alguém; consegue ver a pessoa que está na moto. Para mim é tudo. Se eu não piloto, minha vida parece vazia, como se tivesse um grande buraco. Não imagino viver sem o freestyle.” Quatro anos atrás, no entanto, a história era diferente. Em 2009, Pagès quase desistiu da modalidade. As viagens constantes, o risco cada vez maior e uma lista crescente de mortes no esporte em que as manobras ficam mais arriscadas e os ferimentos mais graves fizeram com que Pagès questionasse seu futuro no FMX. “Não via mais graça”, ele explica. “Tudo estava indo rápido demais. Comecei no freestyle no final de 2005 com meu irmão Charles. Ia atrás dele o tempo todo.


“Tenho sete tatuagens, entre elas meu irmão em uma BMX, o rosto de um palhaço, uma do coringa e uma para meu amigo que morreu em um acidente” DANY TORRES

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Então, um dia pensei: ‘É isso mesmo que eu quero para mim?’, porque estava viajando demais e não fazia mais nada – não tinha vida pessoal, nada, era só pilotar o tempo todo, todo dia. Comecei a duvidar e a pensar muito. E quando você começa a pensar é porque já era. “Tive que encontrar uma forma diferente de pilotar”, diz Pagès. “Levou um ano para que eu decidisse aonde ir, o que fazer. Finalmente encontrei meu caminho e redescobri o prazer. Ao sentir isso, você não vê os riscos porque é o que ama. Quando você não curte mais, só vê risco. Fiz um trabalho sério com uma psicóloga. Ela me ajudou muito. Compreendi quem eu era, por que estava pilotando e por que eu amava o esporte. Percebi tudo isso e estou muito mais forte agora.” Isso Pagès provou neste ano. Desde a vitória na rodada de abertura na Cidade do México, o piloto francês não parou. Pagès descobriu um estilo de pilotagem alternativo quando abandonou os mortais, que considerava perigosos, e se jogou em uma série de manobras que podia fazer em posição vertical na moto. Foi uma transformação emocionante e bem recebida pelo público. Para o piloto tcheco Martin Koren, é esse desejo de ver o público delirar

que faz esses atletas seguirem na moto. “É o fator entretenimento, é ser o centro das atenções”, diz Koren. “Não tem muitos esportes nos quais você recebe sozinho 90 segundos da atenção de tantas pessoas. Claro que tem outros esportes, mas você está lá com 30 outros jogadores em uma partida de duas horas onde você pode conseguir alguns minutos. Aqui, nesses 90 segundos, tudo e todos estão de olho em você.” Para o atual campeão do Red Bull X-Fighters, Levi Sherwood, a motivação é ainda mais fundamental. “Vivo repetindo isso, mas a única razão pela qual eu sigo montando em uma moto e fazendo o que faço é porque é divertido”, diz o neozelandês. “Amo meu trabalho. Todos os meus amigos saem do trabalho e vão para casa. Eu não. Vou pilotar, fazer o que amo. É um privilégio.” É uma grande diversão que pode custar caro. Na semana anterior ao primeiro evento do ano na Cidade do México, o veterano Eigo Sato morreu durante um treino perto de sua casa em Fukuoka, no Japão, após girar errado em um mortal de costas. A morte de Saito, integrante do Red Bull X-Fighter desde 2005, teve um impacto sobre os outros pilotos que ecoa até hoje.

Hora do relax (a partir da esquerda): Maikel Melero (Espanha), Tom Pagès (França), Dany Torres (Espanha) e Alex Cervantes (México)

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“Quando você sente prazer, não se liga nos riscos. Afinal, é o que você ama” Tom Pagès


“Eigo era um grande amigo, quase um irmão. Vou sentir saudades para sempre” TOM PagÈs

A tragédia definiu que o México receberia a rodada de abertura da série. Entrevistado por uma rede local de televisão depois de dominar um dos treinos de classificação, Pagès foi às lágrimas ao dedicar sua performance a um homem que chamou de “meu irmão, meu melhor amigo”. Na noite seguinte, pilotando na Plaza de Toros Monumental, Pagès vestiu a camiseta do seu amigo e, quando ganhou, rasgou para mostrar às câmeras o nome de Sato tatuado nas costas. Mesmo na quarta etapa do Red Bull X-Fighters World Tour, no país de Sato, o Japão, os efeitos ainda eram sentidos. Lá, o piloto local e vencedor da etapa, Taka Higashino, se juntou a Pagès na homenagem – ele subiu ao pódio levantando a bandeira japonesa. Pagès usava uma camiseta com a imagem do amigo estampa66

da no peito. Para Koren, a morte de Sato foi um alerta para os perigos do esporte. “Existem riscos enormes no motocross freestyle”, diz. “Antes de Jeremy Lusk [piloto americano] morrer em 2009, sabíamos que os riscos existiam, mas ninguém queria confrontar essa informação. Não achávamos que ia acontecer. Então, quando perdemos Eigo, voltamos a refletir. Isso nos reabriu os olhos para o fato de que esse esporte tem um lado negro.” O piloto australiano Rob Adelberg admite que, na medida em que acidentes como o de Sato atacam os nervos dos pilotos, a única forma de ir adiante é bloquear esse pensamento. “Você sabe que eles estavam fazendo o que amavam”, diz sobre os pilotos mortos. “Então, para superar isso, é preciso pilotar por eles nos primeiros dias, em

sua memória. Quando as notícias não são boas, elas não podem afetar. Enquanto meu capacete estiver aqui, não deixo nada na minha cabeça. Se você pensa sobre o assunto, acaba ficando em dúvida e se questionando o tempo todo, o que pode resultar em erros.” Koren concorda, acrescentando que esse risco constante é parte do negócio. “As pessoas chamam os pilotos de motocross freestyle de gladiadores modernos, o que provavelmente faz sentido. A gente tem noção das consequências”, diz. “Sabemos dos riscos, mas de alguma maneira isso nos deixa mais fortes.” Para Josh Sheehan, faz parte. O piloto australiano passou seus anos de formação em uma fazenda de maçãs na Austrália, com um vasto campo para treinar novas manobras aprendidas por repetitivas the red bulletin


Levi Sherwood completa uma sessão de treino em um estádio vazio antes de conferir a capital mexicana (acima)

“Gosto das coisas feitas do meu jeito e com segurança. É preciso ser esperto e não arriscar” LEVI SHERWOOD

sessões de vídeos de FMX. Porém, desde que se tornou profissional, Sheehan conheceu de perto a parte negativa do esporte. No inverno de 2011, ele se submeteu a uma cirurgia de reconstrução do ombro depois de uma queda no X Games. Quase tão rápido quanto a sua recuperação, o erro fraturou da vértebra C7 ao pescoço. Apesar dos contratempos, ele ainda diz que os riscos dão uma apimentada no esporte. “Acredito que eu definitivamente posso ser definido como um viciado em adrenalina. Quando era criança, fazia qualquer coisa para ir mais rápido, mais alto – qualquer coisa radical”, diz. “Gosto de ser testado. Gosto do desafio. E o pouquinho de medo que vem com isso, cada nova manobra, é estimulante para mim. Superar esse medo é parte disso.” the red bulletin

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Dany Torres faz uma exibição perfeita na primeira noite da turnê no México (nesta foto e na de baixo), mas não foi o suficiente para bater Tom Pagès (superior direita), que vestiu a camiseta de seu falecido amigo Eigo Sato na última noite da competição

Sherwood discorda, insistindo que o risco jamais foi recompensa. “Não é o que me dá motivação”, diz, enfático. “Não sou um cara viciado em adrenalina. Alguns são assim, eu não. Gosto que as coisas sejam mais controladas. Gosto que as coisas sejam feitas do meu jeito e em segurança. Não dá para ser estúpido. Não é como se você pudesse receber um salário a cada semana fazendo isso. É muito arriscado e sempre foi assim. Não é uma coisa que apareceu de repente. É necessário apenas ser esperto e não se arriscar.” Nos últimos anos, a necessidade de se manter saudável fez a abordagem dos pilotos da modalidade mudar bastante. No começo, em meados dos anos 90, o freestyle tinha uma imagem de garotos rebeldes tatuados e com uma ética punk que se estendia a uma reverência quase autodestrutiva pela parte aniquiladora do esporte. O FMX era obscuro, perigo– síssimo e apenas para loucos alternativos. Com os riscos em alta e as recompensas e as habilidades exigidas tornando-se cada vez mais difíceis, o grito de rebeldia dos primórdios do FMX foi substituído por uma abordagem esportiva mais tradicional com regras e preparo. “O motocross freestyle começou com uma atitude transgressora e um espírito 68

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“Piloto por diversão. Nunca penso em nada. Se pensar demais, você cai” foto adicional: joerg mitter/red bull content pool

DANY TORRES

rebelde, mas mudou muito desde então. Ele está bem mais regrado agora”, diz Adelberg. “Os pilotos são como qualquer outro atleta. Não dá para chegar ao Red Bull X-Fighters e pirar. Precisa ser centrado e ter dedicação total. Se você fica chamando a atenção tentando ser rebelde, vai forçar a barra.” Adelberg sabe bem quanto vale não se preparar corretamente. Em 2010 ele caiu em um show e quebrou a fíbula e a tíbia da perna esquerda, espatifou o tornozelo esquerdo, fraturou o calcanhar direito e quebrou o pulso. O impacto que essas lesões causam em um piloto é, ele admite, difícil de assimilar. “Acordar no hospital é deprimente, para dizer o mínimo”, afirma Adelberg. “Você não só quebrou ossos e está todo dolorido, como também tem consciência de que ficará uns dez meses sem trabalhar. Isso é muito frustrante, porque, do mesmo jeito que eu pratico o esporte porque amo, tenho isso como profissão, e pessoas dependem desses resultados. A grana que entra depende do quão bom você é. Se machucar não ajuda em nada. De toda forma, superar isso e conseguir se recuperar e começar de novo faz de você uma pessoa maior. Tanto quanto acordar no hospital te coloca no fundo do poço, dar a volta por cima faz com que você vá ainda mais alto.” E isso talvez seja a característica geral dos pilotos de motocross freestyle: otimismo sempre. Apesar dos acidentes, com a tragédia diante dos olhos e contra uma rotina solitária de viagem, trabalho duro e treinos sem fim, existe a esperança de que, quando a sirene apite e o cronômetro começe a rodar para a próxima bateria, tudo vá ficar bem. Um mundo cinza se transforma em Technicolor e, por um momento de hiper-realismo, tudo dá certo. “Você estabelece metas, coisas das quais tem medo e coisas que pensa que não pode fazer. E então, quando entra na arena e milhares de pessoas te dão a energia de ir além do que pensa ser possível, é a melhor sensação que há”, diz Koren. “É aí que mora o encanto. Esse é o sentimento de correr atrás de uma coisa efêmera, inspiradora.” Mas é Pagès quem talvez explique melhor por que esses gladiadores continuam doando o corpo para mais e mais combates. “Ao realizar manobras realmente difíceis e tocar o solo em segurança, você se sente livre”, diz. “Você olha em volta e a multidão está gritando e você pensa: ‘Meu Deus, eu estou no chão e vivo’. É incrível.” www.redbullxfighters.com

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B

em-vindo a Matehuala”, diz o arco monumental de cimento que recepciona os turistas. A verdade é que, nessa manhã de outono, nem tudo é alegria na cidade desolada. São duas pousadas: El Trailero (O Caminhoneiro) e Las Infieles (As Infiéis), ferros-velhos, antigos depósitos de pneus e montanhas de detritos que um velho fazendeiro arruma para que seus bodes possam chegar aos pequenos pedaços de grama que crescem nas rachaduras da calçada. Antes das enchentes, pouco mais de dois anos atrás, quando ainda era uma cidade pacata, jornalistas do Brasil, Argentina, Alemanha e Holanda viajaram a San Luis Potosí, no norte do México. Suas câmeras registraram uma colorida extravagância musical: Los Parranderos, Los Socios e outros grupos de jovens que popularizaram um gênero chamado tribal guarachero: um mix de música eletrônica com ritmos sul-americanos tradicionais e suas coreografias praticadas nas pistas de dança das baladas. Além da música, uma das características que mais chamam atenção no fenômeno são as botas pontiagudas dos dançarinos, com pontas que podem alcançar até 2 metros, utilizadas nos intrincados passos de dança. Hoje, as histórias antropológicas e curiosas vindas de Matehuala competem com as notícias de tragédias, como é comum no México. Uma delas conta como na manhã do dia 12 de agosto, o prefeito recém-eleito, Edgar Morales, saía de um casamento no Club de Leones quando foi pego numa emboscada e, em seguida, assassinado. 70

DANÇANDO

na

NARCOLÂN Das cidadezinhas do México às metrópoles americanas, um novo estilo de dança dá uma trégua na guerra das drogas dos dois lados da fronteira. O Red Bulletin foi às discotecas e ruas com os guaracheros das botas pontudas Por: Aníbal Santiago, Fotos: Katie Orlinsky


DIA O ritmo tribal nascido no MĂŠxico levou uma nova febre aos EUA e, de quebra, um novo estilo: o das botas pontudas.


“Um dia eu ia fazer uma apresentação, mas não consegui chegar porque os chefões do tráfico bloquearam a estrada com um ônibus”

“Esse é o nosso hip hop”

Descendo pela deserta estrada La Dichosa, no sul de Matehuala, está o quinteto de tribal guarachero Los Parranderos (Os Festeiros). Sob um sol forte, uma caminhonete Dodge Grand Caravan azul, velha e acabada, encosta na estrada e levanta uma nuvem de poeira antes de brecar. Pascual Escobedo, líder do grupo, abre a janela, o som do carro bomba com um acordeão mexicano, o “chun-ta- ta” da bateria e a letra que diz: “Você me faz sentir borboletas no estômago quando meu celular toca e vejo que é você”. Os integrantes do Los Parranderos saem do carro. Pascual, Miguel, Erick, Jonathan e Luis estão em frente ao Mesquit Rodeo, uma discoteca imponente 72

no meio do deserto onde, três anos atrás, vestindo os mesmos jeans apertados, camisetas, botas pontudas e chapéus, a banda, que foi a primeira a chegar com a coreografia tribal do norte do México, venceu seu primeiro torneio do gênero em uma discoteca. Daquela noite em diante, eles tornaram-se alvo das mulheres que surgem para vê-los em feiras, boates e rodeios da região. É por isso que eles nem sequer piscam quando duas garotas se aproximam (não se sabe como elas sabiam que estariam lá para uma sessão de fotos). Lucy Méndez, uma simpática mulher de 30 anos do Texas, posa com os ídolos, mostrando as curvas formadas em um generoso decote. “Para nós, mexicanos que vivem nos EUA,

o tribal é como o hip hop”, diz, olhando extasiada para Los Parranderos enquanto sussurra com outra fã, Mayra Rivera, 23 anos, de bermudinha, que saiu escondida do trabalho. “Eles parecem durões, mas são bonzinhos, e com essas calças apertadas me deixam louca!”, diz Mayra enquanto seca cada Parrandero dos pés à cabeça, com suas botas pretas e rosa e as camisetas estampadas com figuras de garrafas gigantes de cerveja. Como caubóis veteranos, caminham pelo bar com o chão estalando sob os pés. E posam para fotos, com os polegares enfiados nos bolsos da calça, caras de durões rindo de sua própria ousadia, olhando de lado para a câmera, como galãs de TV. “As mulheres procuram a gente nos hotéis o tempo todo”, diz Erick Castillo, 18 anos, de cabelos espetados. “Elas beijam, abraçam, agarram – não tem como fazê-las largar”, acrescenta Escobedo. the red bulletin


Esquerda: Los Parranderos (a partir da esquerda, Luis Puente, Jonathan e Erick Castillo, Pascual Escobedo e Miguel Hernández) mostram suas botas pontudas. Acima: Jonathan Castillo pratica na Mesquit Rodeo. Abaixo: Miguel Hernández de carona em sua cidade

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Mas essa vontade de dançar, tocar, ter dinheiro e mulheres – o sonho de uma vida melhor – corria riscos. A violência ligada ao tráfico de drogas prejudica a vida noturna da região. Empurrados para o norte com outros em busca de abrigo, o movimento tribal cruzou o Rio Bravo para fincar suas raízes no Texas.

“Gosto das suas botas”

Com uma cruz de ouro pendurada no pescoço e as calças agarradas às coxas

carnudas, Joel observa cuidadosamente a pista lotada no Kalúa, uma danceteria em Dallas. Ele está sério, imperturbável, indiferente às dezenas de mulheres à sua volta à procura de um homem. Seu olhar é rápido. Suas botas são pretas, brilhantes e pontudas. Ele está vestido com elas por uma boa razão: “É porque elas falam: ‘Gosto das suas botas’ ”. Seus três amigos balançam as penas dos chapéus como se tivessem acabado de ouvir uma verdade universal. “Agora vamos ouvir Tamaulipas… Zacatecas… Chihuahua!”, grita uma voz na caixa de som, para uma multidão que responde com berros toda vez que escuta o nome de sua cidade na noite de sábado. Nas picapes de som, os DJs diminuem o volume da música romântica do cantor Julión Alvarez para empurrar um mix do DJ Tetris e do 3BallMTY, grupo que colocou a música tribal no mapa. Esse trio de DJs popularizou o tribal guarachero, e tornou-se um dos mais populares fenômenos no México chegando a ser indicado ao Grammy Latino em 2012. Seis anos atrás, Erick Rincón, Sheeqo Beat e DJ Otto tocavam em festas de adolescentes em sua cidade natal, Antiguo de Monterrey, norte do México mas em 2011, a cena local começou a enfraquecer. “Um dia”, conta Rincón, “eu ia tocar no bar Arcoiris, mas não consegui chegar no local do show porque os traficantes bloquearam o caminho com um ônibus.” Atualmente um caminho está aberto para eles graças ao vídeo de sua música, 73


“Inténtalo”. O 3BallMTY (abreviação de Tribal Monterrey) tocou no Staples Center, em Los Angeles, na Worldtronics, Berlim, e no El Zócalo, na Cidade do México: esse foi o passaporte para longe da violência que os cercava. Voltando à danceteria, as mulheres se agarram ao pescoço dos homens e chacoalham seus quadris para continuar com a dança chamada tribalero. Os casais então deixam a pista para girar em sentido anti-horário em volta deles mesmos. Avançam devagar, os cotovelos curvados, uma Corona com rodela de limão na mão. Eles dão pequenos passos, como que para não incomodar o fluxo viciante da música pelo corpo. “A música regional mexicana é antiquada; o tribal a modernizou”, diz DJ Nando, com as mãos sobre o console. “As mulheres ficaram mais atiradas com o tribal”, acrescenta o DJ Shaggy, enquanto observa a multidão, suada de dançar e bebendo cerveja. Há 8 milhões de mexicanos no Texas, cerca de 30% da população deste estado, e não é muito difícil atrair uma multidão de adolescentes tex-mex para os torneios tribais em Dallas e nas periferias. O povo segue girando. Ninguém ri, ninguém berra, ninguém sai do ritmo. De vez em quando, um jovem com uma imagem da patrona do México, Nossa Senhora de Guadalupe, bordada na camiseta, caminha cheio de marra até a pista e dá alguns passos. No entanto, apesar de ser um ambiente mexicano, a lei é americana: às 2h a festa termina.

“Eu consegui”

Durante o dia, o Ford F-150 Ram 1500 e outras caminhonetes que enchem os estacionamentos das discotecas à noite espreitam a empoeirada Harry Hines Boulevard, a disputada rua do mercado mexicano de Dallas. “Então você é aquele dos e-mails?”, pergunta Vladimir Gómez, o jovem proprietário do estado de Michoacán, depois das apresentações. “Deletei todos. Tudo que chega do México eu deleto”, ele diz. “Do jeito que as coisas são lá, nunca se sabe com quem você está lidando.” Cada centímetro das paredes, das prateleiras e do piso da loja está tomado por produtos feitos para vestir mexicanos. Em duas palavras: botas e chapéus. Em uma prateleira estreita, 40 pares de botas pontudas formam uma torre colorida, a única parte colorida em uma loja que é dominada pelo couro marrom. Tem botas prata, vermelhas e azuis, feitas de cetim e lantejoulas, com luzes, ganchos dourados, pedrarias e até diamantes falsos. 74

“Se você se diverte dançando, pensa menos sobre o crime organizado”

Direita (a partir do topo): a loja de calçados Erika, em Matehuala, no México, onde as botas pontudas são confeccionadas; existem formatos variados para homens, mulheres e crianças

Gómez trabalhou como garçom até 2000, quando começou a vender botas pontudas. Cada par é feito apenas com os melhores materiais. Dois detalhes evidenciam a qualidade: de um lado, o couro de bezerro bronzeado, que faz a ponta firme e flexível; de outro, ele usa couro de novilho, que torna o sapato macio e confortável. O limite do comprimento é a imaginação: “Já fiz botas de 2 metros”, diz. “Dá para agarrar as pontas sem se abaixar. O mexicano tem o american dream realizado, e aquilo que nunca teria em casa: um bom caminhão e um bom par de botas. Quando você calça, está dizendo: ‘Olha, eu consegui’.”

“Você tem estilo”

Há três anos, o Los Parranderos começou a ensaiar nas ruas poeirentas da vizinhança. Eles eram pagos para fazer shows em casamentos e bailes de debutantes e logo se tornaram conhecidos na região de Matehuala. Em 2011, eles receberam uma mensagem do Rincón do 3BallMTY no Facebook: “Galera, quero fazer um vídeo com vocês. América Sierra e El Bebeto

vão cantar. Vocês têm estilo!” Alguns dias depois, o Los Parranderos viajou a Monterrey. O produtor Toy Selectah deu a eles um novo look para o clipe de “Inténtalo”, que teve mais de 32 milhões de acessos no YouTube. Então as coisas explodiram: junto com o 3BallMTY, o Los Parranderos lotou as arenas de touros por todo o México. “Tribal nas ruas, tribal nas lojas, tribal no rádio, tribal na TV”, diz Escobedo. “E as garotas só olham você se estiver calçando as botas”, acrescenta Rincón. Desde então, o tribal já viajou para a América Central e do Sul, onde o 3BallMTY tocou ao vivo. “Essas pessoas pegam nossas músicas pelo Twitter, Facebook e YouTube”, diz Rincón. “É interessante: eles sentem uma nova necessidade por música tradicional, porque nós misturamos estilos da América Central e da Argentina. Eles veem um reflexo de si no tribal e ficam ligados.”

“Queremos nosso visto” O som das botas pontudas faz barulho dentro do enorme e obscuramente

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Acima: dançarinos do tribal guarachero caminham por uma das principais cidades de Matehuala. Esquerda: Pascual Escobedo, o líder do Los Parranderos

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iluminado Mesquit Rodeo, mas não há atmosfera mais festiva que a do Los Parranderos se preparando para ensaiar. Eles servem como uma distração no meio da guerra entre facções de traficantes que avassala San Luis Potosí, os estandartes de uma moda que trouxe alegria a uma comunidade aterrorizada. “Quando você se diverte dançando, pensa menos sobre o crime organizado”, diz Escobedo. E, mesmo que as rádios locais ainda toquem o tribal todos os dias, o número de shows caiu muito. “Nós vamos pra noite com medo”, admite Escobedo. “Ninguém bebe. Sempre estamos juntos. Sempre circulamos pelas ruas principais. Ficamos sabendo das mortes e pensamos: ‘E se algo acontece durante o show?’ A gente vive na incerteza.” A atmosfera de Matehuala está dominada pelo medo. Para escapar, eles têm que dirigir 340 km rumo ao norte até o novo paraíso do tribal guarachero do Texas. Nos últimos anos, 160 mil pessoas de San Luis Potosí pegaram essa estrada. “Em um vídeo no YouTube”, diz Miguel Hernández, do Los Parranderos, “alguém 75


fala: ‘Deixe esses rapazes em paz. Eles são de Matehuala e, graças a eles, Matehuala está melhor’. Queremos nosso visto. Tem gente esperando do outro lado.”

“Uma Lamborghini azul”

Nos passos do Club Rio, em Dallas, raspadinhas de gelo, tacos e tortillas vendem bem. Uma tarde de domingo com matinê tribal cheia de crianças. Mesmo assim, o anfitrião, Don Pepe, um homem grande com uma camiseta vermelha e queixo duplo, não consegue evitar a brincadeira: “A banda que toca hoje não tem um Grammy, tem um grama, ha ha ha”. Ele ergue a cerveja na direção de um caubói com um chapéu preto, costeletas e uma medalha gigante do herói popular Jesús Malverde no peito. “Meninos, até que a cirrose nos separe”, diz Don Pepe. O caubói ergue a cerveja e ri como resposta. Nesse círculo em Arcadia Park, os cinco policiais de Dallas que patrulham a área não piscam um olho para o que veem ou escutam: “Aos 17 anos, ele já organizou seu exército na escola, ganhou seu primeiro BlackBerry, tem a proteção de El Cheyo, bala por bala, o cérebro por trás das notas / Seu dever de casa, seu nome e seu apelido”, diz a letra da música “La Plomería”, que toca minutos antes de o sol se pôr. Como qualquer domingo, dezenas de jovens escutam o tribal na pista de dança dentro do galpão. Eles podem brincar de 76

pega-pega ou praticar sua dança. Sem muito o que ajude a controlar as botas, as crianças muitas vezes as perdem no chão escorregadio, batendo as cabeças ou machucando os joelhos. Mas nunca perdem os chapéus, que imediatamente agarram e colocam de volta se começam a cair. Pequenos tribais precisam ficar atentos. Veja Carlos Zaragoza, 9 anos de idade e hexacampeão do torneio Kiddie Tribal. Ainda que ele seja meio cheinho, dança com agilidade, ganha prêmios aqui e ali e faz seu sonho se tornar realidade: “Estou economizando dinheiro para crescer, ficar rico e poder comprar uma Lamborghini azul”, ele diz.

Acima: no Kalúa Club, em Dallas, fãs do tribal mexicano fazem a dança característica na pista. Direita: dançarinos vestindo botas pontudas são revistados antes de entrar na discoteca

O rei do tribal

Payasos, Plebeyos, Alterados, Socios… Matehuala é um celeiro de grupos de tribal. Entre as sirenes de polícia e o medo dos habitantes, os homens de botas defendem o direito de fazer coisas grandiosas com seus pés compridos e coloridos. Hoje, por exemplo, Fernando Martínez, líder do Tribal Matehuala, estacionou seu Pontiac conversível preto no meio da cidade. “Posso tirar uma foto de você no capô?”, pergunta a fotógrafa quando o nota por ali com suas coxas musculosas, cheirando a loção pós-barba, a camiseta colada e botas pontadas fluorescentes. Ele resmunga, mas concorda em fazê-lo com uma marra que rapidamente desaparece. Da multidão que se forma para vê-lo the red bulletin


Esquerda: existem quase 8 milhões de mexicanos vivendo no Texas. A cada semana, centenas se amontoam nas boates de Dallas, onde o ritmo tribal virou febre

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posar, destaca-se Karla, uma gracinha de olhos negros vestindo calças apertadas. Ela olha para ele em clima de flerte, ele reage convidando-a para posar junto. Ela sorri e desmorona sobre seus braços. “Com as botas é assim”, ele diz, dando um tapa no carro, “elas não resistem.” Com Martínez e seu grupo é diferente. “O look original da camiseta, chapéu com pena e botas bicudas já era. “Deixe que eles nos critiquem. Isso nos torna mais famosos”, diz ele. Martínez se recusa a colocar chapéus, troca as botas por “tênis tribal”, enquanto seu grupo inclui duas mulheres, refutando o tabu que apenas homens poderiam dançar tribal. Martínez é, como Los Parranderos e outras bandas locais, um sobrevivente não apenas do gênero musical, mas também da violência e da falta de oportunidades que afligem o norte do México. O que eles fazem é se dedicar a uma vida normal, distante dos chefões do tráfico e do perigo. Pelo menos enquanto dançam.

Algumas quadras dali, onde antes 30 policiais arados estavam em alerta, Los Parranderos se encontraram para uma sessão de fotos. A esquina entre Juárez e Cinco de Febrero é como outras, com suas árvores secas. Três jovens, os irmãos Ángel, Isaac e Itzel, saem de casa e ficam surpresos em encontrar o grupo colocando suas botas. “São Los Parranderos”, sussurram para a mãe da porta da rua. Logo, enquanto os dançarinos posam em frente a um muro grafitado, um dos garotos, o pequeno Ángel de 3 anos, assiste a um vídeo no smartphone. “Olha como você dança esse ritmo / Com um pé aqui e ali / Com essas botas compridas, é assim que se dança, se dança o tribal”, diz a música de El Rey del Tribal, com participação de Los Parranderos. Sujo e com a cara cheia de catarro, o garoto observa e começa a girar com os braços e as pernas. Ele quer que todos vejam que ele também dança o tribal. Siga os guaracheros: twitter.com/3BallMTY

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cabeça

fria Wim Hof acredita que o frio é um estado de consciência. O detentor de diversos recordes de resistência abaixo de zero crê também que qualquer um pode fazer isso

Por: Andreas Rottenschlager  Fotos: Henny Boogert

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Credit

U

ma vez, quando Wim Hof ainda era um jovem, visitantes do Beatrixpark de Amsterdã acharam que ele estava morto. Em uma manhã de inverno, na época com 20 anos, ele mergulhou no lago e desapareceu. Um minuto passou. Depois outro. Alguém chamou a polícia. “Eles pensaram que teriam que recolher um cadáver”, Hof lembra. “Mas estava tudo bem. Eu estava sentado no fundo do lago meditando.” Hof está sentado em seu apartamento em Amsterdã bebendo chá. Ele hoje tem 54 anos e barba. Seus músculos peitorais explodem para fora da camiseta.


Controle da mente Ê o que permite a este homem meditar em um iceberg na Islândia


Os jornais chamam Hof de Homem de Gelo. Ele já estabeleceu 20 recordes mundiais relacionados ao frio. Ele escalou o Kilimanjaro sem camisa, pulou dentro de lagos congelados sem roupa de mergulho e correu descalço em diversas maratonas com temperaturas de -20°C. Hof se acomoda e coloca açúcar no chá. “Qualquer um pode aprender a fazer isso”, ele diz.

FOGO DE DENTRO

Hof explica que seu método anticongelamento é uma combinação de técnica de respiração, meditação, e décadas de treino sob condições extremas. Normalmente, se a temperatura de uma pessoa cai abaixo de zero, o corpo bombeia o sangue dos membros para o coração. O risco de congelamento é alto, podendo levar à morte com a continuidade da exposição ao frio. Mas não para Hof. O holandês acredita que, com a meditação, ele pode influenciar seu sistema nervoso autônomo e circulação sanguínea e assim manter uma temperatura constante do corpo, mesmo em temperaturas abaixo de zero ou água gelada. Ele chama isso de “levantar o termostato interno”. O Homem de Gelo mostrou ao mundo como isso funciona em novembro, em Nova York. Para quebrar seu vigésimo recorde mundial, Hof subiu em uma caixa de vidro plástico com 500 kg de gelo picado. Ele não vestiu nenhuma roupa de proteção; uma camada de gelo envelopou sua pele desprotegida. Hof meditou com seu olhar fixo. Ele respirava e expirava constantemente. Quem passava parava para olhar. Ele permaneceu na caixa por uma hora, 52 minutos e 42 segundos – mais tempo que qualquer outra pessoa jamais conseguiu. Finalmente os auxiliares quebraram o vidro plástico e Hof saiu do gelo. Tá bom, como? “Quando estou congelando, visualizo o calor em meu corpo”, ele diz. “Eu imagino ele crescendo em cada respiração, como um fogo se espalhando dentro de mim. É uma demonstração de força, é uma comunicação permanente entre corpo e mente.” Você sente frio no gelo? “Não. O único perigo seria se algo me distraísse e eu perdesse a concentração. Daí eu ficaria com frio na hora.” O que você faria se isso acontecesse? “Eu bombearia calor para a parte importante do corpo!” Hof sabe que algumas das coisas que ele diz parecem loucura: um “termostato na cabeça”, “fogo vindo de dentro”. E, apesar de ele ter se exposto ao frio extremo por 30 anos, a descrença das pes80

Um mergulho nas gélidas águas da Islândia: “Fui chamado de louco”, ele diz

soas ainda o motiva. “Fui chamado de louco, de mentiroso. Você não pode imaginar quanto ressentimento eu tive de aguentar.” Hof deve ter vantagens genéticas, alegam os críticos. “Influenciar o sistema nervoso autônomo? Gerar o calor a partir dos pensamentos? Isso não existe”, dizem. Hof teve que provar que eles estavam errados.

EXPERIMENTO HOMEM DE GELO

O doutor Peter Pickkers é um homem magro com seus 40 e tantos anos, com cabelos bem aparados e uma voz agradável. Ele é pesquisador no Centro de Medicina da Universidade de St. Radboud, em Nimegue, na Holanda. Em 18 de abril do ano passado, Pickkers apareceu na TV holandesa.

Testando: “Isto mostrou que o que eu faço não é picaretagem”, declara Hof the red bulletin


Os médicos acreditam que a técnica de respiração de Hof – hiperventilação e depois segurar a respiração – poderia ser a responsável pela descarga. Pickkers sorri na reportagem de TV. Hof, em contrapartida, é visto chorando. Ele explica: “Os testes significam mais para mim que os recordes que quebrei. Mostram que o que eu faço não é picaretagem”.

IMPIEDOSO E JUSTO

“Temos notícias extraordinárias”, ele disse aos jornalistas – ele estava falando sobre o Homem de Gelo. Pickkers e sua equipe testaram a resistência de Hof ao frio durante um banho de gelo de 80 minutos. A descoberta excepcional foi que, enquanto a temperatura da pele de Hof caiu de 28°C para 5°C, a mudança dentro do seu corpo foi mínima, de 39°C para 37°C. Essa experiência também mostrou que a ingestão de oxigênio por Hof dobrou enquanto ele estava no banho de gelo. Hof estava parado, mas seu sangue pulsou como se ele estivesse correndo uma maratona. Em outro experimento, os cientistas investigaram se Hof realmente poderia influenciar seu sistema nervoso autônomo. Os médicos injetaram nele uma endotoxina bioquímica que provoca sintomas de resfriado de curto prazo em pessoas. O Homem de Gelo iria combatê-los através da meditação. As reportagens de TV mostraram Hof deitado na cama duas horas após a injeção com sensores ligados em todo o corthe red bulletin

Ele insiste que qualquer um pode fazer o que ele faz: “basta começar com um banho gelado” po. Ele conta ao médico que sente apenas uma leve dor de cabeça. Mas a sensação real apareceu mais tarde, no laboratório. Hof conseguiu reagir ao ataque da endotoxina produzindo grandes quantidades do hormônio do estresse cortisol – algo que as pessoas em geral não conseguem controlar ativamente. O cortisol é liberado pelo corpo em situações extremas, como quando de repente a pessoa se envolve em uma briga de rua.

Um vento gelado sopra pelas árvores de grossas folhas em Flevopark, Amsterdã. Hof quer nos mostrar seu novo lugar para tomar banho. É uma piscina turva, cercada por pistas de cooper e cercas, a pouco mais de 2 km do centro da cidade. Hof diz que a temperatura da água é de 3°C e que ele vai dar uma volta nadando. Ninguém deve se jogar numa água gelada sem preparação – isso é burrice. Mas Hof insiste que qualquer pessoa pode um dia aprender a fazer o que ele faz. Assim como tudo na vida, você só precisa começar devagar. “Um banho gelado todas as manhãs”, explica Hof. Cinco segundos está bom para começar. E então vai aumentando a duração da ducha com o tempo. Hof começou a ensinar seus métodos – respiração efetiva, concentração profunda, caminhada descalça na neve – em oficinas que atraem pessoas de todas as partes do mundo, desde sujeitos normais até atletas dedicados, como a medalhista olímpica de judô Elisabeth Willeboordse e o campeão de kickboxing Gökhan Saki, ambos da Holanda. “Nossos corpos podem aguentar muito mais do que nós pensamos”, diz Hof. “O frio é a melhor ferramenta para ajudar a treinar o físico e a concentração. Ele é impiedoso, mas justo.” Quando questionado sobre qual foi a primeira experiência que teve com o frio, o Homem de Gelo conta a seguinte história: “Minha mãe estava grávida de gêmeos, mas não tinha ideia de que havia dois bebês, já que não tinha feito o exame de ultrassom”. O irmão de Hof, Andre, foi o primeiro a nascer naquele 20 de abril de 1959. Alguns minutos depois, sua mãe começou a gritar pela segunda vez. Wim estava chegando, sem que ninguém esperasse. “Eu nasci em um corredor sem aquecimento, entre a sala de recuperação e a sala de parto”, conta Hof. Ele então faz uma pausa. “A ironia é que médicos me dizem desde então que eu devo ter quase congelado até a morte lá.” Conheça o treinamento de Hof em www.innerfire.nl; ou veja seus experimentos procurando por “Wim Hof scientific” no YouTube

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No turno da noite: Louis Baker (acima) manda ver na guitarra enquanto os outros improvisam na bateria eletrônica

Café da manhã com Blondie, uma jam com James Murphy, composições com Philip Glass ou ainda cantar numa igreja em completo silêncio. Isso é um dia de trabalho na Red Bull Music Academy, em Nova York Por: Florian Obkircher  Fotos: Dan Wilton & Christelle de Castro 82

VeNHA a nós a vossa

Batid the red bulletin


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A mesa de som é do tamanho de um carro. Seus controles, dials e luzes fazem lembrar uma espaçonave. Ali do lado tem uma variedade de amplificadores, suportes de microfone e baterias, rodeando a mesa como planetas em torno do Sol. Um cara descabelado e de barba meio cinza está sentado de costas para esse cockpit musical. “Então vocês querem saber como é que a gente consegue esse som de batida seca, né?”, ele pergunta para o público, sorrindo. O estúdio de gravação está abarrotado de ouvintes. “Então, tá”, ele diz. “A gente usa uma tecnologia muito moderna: mouses de computador colados nas baterias.” Ouvem-se o som de reverência e também murmúrios de admiração vindos dos espectadores. O cara em questão é James Murphy, nova-iorquino cujo selo, DFA, tem lança-

do novas modas nas pistas do mundo. Como a mente criativa por trás do LCD Soundsystem, ele vendeu milhões de discos durante uma carreira estelar, recebendo três indicações ao Grammy. O produtor de 43 anos atualmente está trabalhando no novo álbum dos canadenses do Arcade Fire, mas nesta tarde ele está com a cabeça em outro projeto. O público é composto de 31 jovens e ambiciosos músicos. O lugar é um dos novos estúdios de gravação da Red Bull Music Academy em Manhattan. A RBMA viaja pelo mundo desde 1998. A cada ano faz uma parada de quatro semanas em polos musicais como Cidade do Cabo, Berlim, São Paulo e, em maio deste ano, Nova York. O conceito é sempre o mesmo: reformar um prédio antigo do centro da cidade e deixá-lo em condições de receber estúdios de gravação e um auditório, para então convidar 62 jovens músicos, produtores, vocalistas e DJs de todo o mundo e colocar lá dentro. O grupo é então dividido em dois, com 15 dias de imersão dedicados a cada um. Com esse tempo, eles podem se entregar de corpo e alma para aprender e trocar ideias sobre o que mais amam: a música.

12 anos de DFA Records: a Red Bull Music celebra o aniversário do selo de James Murphy (foto maior) com uma megabalada em NY

As histórias da Red Bull Music Academy em Nova York incluíram frases marcantes como “Estive lá quando o primeiro sintetizador foi ligado”. Durante quatro semanas, passaram pelo “sofá de entrevistas” nomes como Debbie Harry (abaixo, à esquerda), Giorgio Moroder (abaixo, com microfone) e um dos fundadores do negócio todo, Torsten Schmidt (abaixo, à direita)


“A Red Bull Music Academy é um lugar de oportunidades” LOUIS BAKER

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“Para mim, a Red Bull Music Academy é um local de oportunidades”, diz o neozelandês Louis Baker, 23 anos. “Produzir música com pessoas de 29 diferentes países? Fazer contatos internacionais dentro da indústria? Receber opinião de profissionais bem-sucedidos? Nada disso é fácil de conseguir lá em casa. Mas, aqui, isso tudo é realidade.” “Como músico jovem, é fácil se sentir meio que um peixe fora d’água na Nova Zelândia”, ele continua. “É um grande lugar, mas você se sente um pouco sozinho como artista. Aqui, você logo se dá conta de que não é o único maluco correndo atrás do sonho. Isso estimula minhas crenças e meus projetos.” Baker já está há uma semana e meia em Nova York, mas ainda não teve tempo para fazer turismo, graças à rotina frenética da Red Bull Music Academy. “É puro estresse”, diz. “Mas é o melhor que se pode imaginar. Você acorda às 10h e conversa sobre a festa da noite anterior no café. Durante todo o resto do dia, são duas aulas ministradas por profissionais. Enquanto isso, você trabalha em músicas ou dá entrevistas para a rádio que funciona ali dentro. Na parte da noite grava músicas no estúdio ou vai para as baladas da cidade onde as lendas da música e outros participantes dividem o palco e as mesas conosco. É surreal.” Nessa noite, Baker vai tocar. Depois de terminar sua aula final, ele empacota a guitarra e os fones com o ruído tagarela de outros estudantes dentro da grandiosa West Park Church, na rua 86. Baker vai abrir para o artista alemão da vanguarda da house music, Pantha du Prince, que deu uma aula como convidado na Red Bull Music Academy na véspera.

O mestre do house Sinjin Hawke nasceu em Montreal e mora em Barcelona

No público do show de Louis Baker está o pro­dutor londrino de house Bok Bok (no topo), que apareceu no sofá das entrevistas dias depois. O beijo ele ganha de Nick Hook, um participante de 2011. Depois do show de Baker na igreja, muitos participantes vão para Chinatown, incluindo o nigeriano Kraftmatiks (centro). Abaixo, o DJ de dubstep escocês Rudi Zygadlo (de gravata) e o produtor italiano Jolly Mare

Os DJs da casa, Carrot Green e Pleasure Cruiser (do Japão), aperfeiçoam uma música em um dos nove estúdios de gravação

No caminho, Baker admite estar nervoso: é sua primeira apresentação fora da Nova Zelândia. Uma hora depois, ele se prepara. Respira fundo e está pronto. Em dois minutos ele calou todas as conversas dentro da igreja com uma voz gentil e poderosa como a de Jeff Buckley, fazendo gelar todo o público com sua folk music. A multidão presta atenção em cada palavra. É uma cena surreal: um homem e seu violão colocando algumas centenas de pessoas em transe coletivo. “O garoto é incrível”, diz Just Blaze depois da apresentação. “Vamos ouvir falar muito dele ainda.” Blaze produziu Jay-Z, Eminem e Kanye West, e é um dos quatro tutores do estúdio da Red Bull Music Academy em Nova York disponíveis para os estudantes. Aos 35 anos ele participou pela primeira vez do projeto como professor em Melbourne, em 2006, ele


Música sem fim (a partir do alto, à esquerda): o pioneiro do electro, Brian Eno, no sofá de entrevistas; uma revelação na festa da DFA; o jornal da Red Bull Music Academy, The Daily Note, distribuído diariamente; o participante de Nova York Shadowbox no show; um baladeiro doido com a chegada do fim da festa

Foto: anthony Blasko (1)

curtiu tanto que dessa vez quis contribuir mais e ficar mais tempo. “No passado, muitos DJs tinham o costume de cobrir os discos para que ninguém pudesse ver que música estava tocando. Não interessava saber qual disco era”, ele diz. “Mas hoje, com propostas como a Red Bull Music Academy, compartilhar conhecimento cumpre um papel muito maior na cultura.” Blaze, cujo trabalho primordial como orientador é ajudar essas novas caras da música no estúdio, diz que também aprende com o time. “Me sinto muito inspirado quando vejo um grupo de jovens músicos colaborando uns com os outros, ou quando trabalho no estúdio com garotos talentosos como Louis”, diz, referindose ao neozelandês. “Você vem ao Le Baron?”, alguém pergunta, segurando a porta de um táxi para ele. É tentador. Quatro outros estudantes vão tocar por lá nesta noite. Mas Baker recusa o convite. Ele já estava cansado. Além disso, um convidado importante está escalado para a aula da manhã seguinte na Red Bull Music Academy. Depois do café, uma mulher vestindo uma camiseta preta dos Ramones e óculos escuros entra no auditório, ao lado dela está um homem de cabelo branco. Ela é Debbie Harry e ele Chris Stein – eles são the red bulletin

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No topo: o DJ de dubstep Skream traz o som das batidas inglesas para Nova York em uma das festas oficiais da Red Bull Music Academy. Ele apareceu no sofá de entrevistas em 2006, quando tinha apenas 20 anos. Acima: o DJ inglês Richie Hawtin fala dos primórdios da música eletrônica. À direita: DâM-FunK mostra seu funk do terceiro milênio em um show intimista

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O participante inglês T Williams inclui Jessie Ware e Disclosure em seus remixes

“Não tenham vergonha. Toquem o que vier do coração” Mathew Jonson

O produtor de hip hop Just Blaze (acima) é parte da equipe de estúdio da Red Bull Music Academy. Até que horas vai o trabalho com os participantes? “Geralmente até as 5 da matina”, diz. “Mas tudo bem. Não parece trabalho”

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o Blondie, ícones do rock nova-iorquino. A pura personificação do cool, eles falam por mais de uma hora sobre como era o Lower East Side nos anos 1970 e de que modo Harry começou vendendo velas para sobreviver. Contam também das noitadas com Andy Warhol e os Ramones no Max’s Kansas City e sobre como gravaram o hit “Call Me” com o pioneiro da música eletrônica Giorgio Moroder, que tinha estado no sofá da Red Bull Music Academy uma semana antes. Harry faz uma careta quando alguém fala da música “Denis”. Ela diz que não gosta. Stein explica: “Você precisa entender que ela está constantemente cantando as letras ‘woobiedoo’ naquela música. É difícil para qualquer um”. O auditório cai na gargalhada. A palestra final, de Lee Scratch Perry, 77 anos, mago do dub, também rende boas risadas. Ele é produtor de muitos álbuns de Bob Marley e um gênio das pick- ups. Um jamaicano que fez o reggae parecer coisa de outro mundo. Sua roupa também ajuda: um boné de beisebol com espelhos grudados e a barba tingida de vermelho meio rosa. Ele descreve seu próprio mundo com uma imagem charmosa: porque o reggae é como o sexo; porque toda a vida pode ser explicada através das batidas graves do bumbo da bateria. O efeito de sua palestra cósmica é que, por pelo menos uma hora, você pensa que entendeu como todo o universo é interconectado. E sem substâncias ilegais. Mais tarde, durante o jantar, alguns ainda estão discutindo a sabedoria de Perry. Outros já estavam trancados nos estúdios. A Red Bull Music Academy se transforma em um parque de diversões musical à noite. Jovens produtores correm dentro dos estúdios com baterias eletrônicas e fones debaixo do braço.

Amantes do hip hop conferem se os discos que acabaram de comprar na feira ao lado são bons para samplear ou não. Só Blaze está sentado em um dos estúdios, olhando para a tela de computador. Ele trabalha na faixa do participante Sinjin Hawke, que mora em Barcelona. Os dois colocam uma faixa vocal no software e intensificam a frequência até que soe igual ao Mickey Mouse. Blaze diz: “Precisa de harpa”. Hawke concorda. Eles importam o arquivo e apertam play. Um verdadeiro monstro do baixo surge dos computadores do estúdio quebrando tudo. Estamos falando de algo que faria rachar o teto de qualquer boate. “Ainda não está pronto”, Hawke explica. “Mas devagar a gente chega lá.” No estúdio vizinho, o canadense especialista em música eletrônica, Mathew Jonson, dá uma oficina de áudio. As perguntas para as quais todo mundo quer resposta são: como é que suas músicas conseguem esse som rico e volumoso? Qual é a configuração ideal? E como é que ele consegue controlar aquele sin– tetizador enorme que fica à sua direita? Os jovens músicos se sentam em torno do estúdio e seguem os comentários de Jonson em silêncio. Então ele os conduz até os comandos: “Não sejam tímidos. Toquem o que vier do coração!” Então, em questão de minutos, aquilo vira uma sessão de house music. Os novos estudantes chegam como leões em torno de um antílope abatido. Eles agarram o sintetizador e entram na jam. Os sons se sobrepõem uns aos outros, regulados apenas pela batida forte. Um participante compara a experiência a uma hipnose: “Foi como subir em uma cápsula do tempo”. São 4 da manhã e é como se fosse hora do rush nos corredores do estúdio. Até Louis Baker ainda está de pé. Ele acabou de gravar a guitarra na faixa de R&B do participante nigeriano Kraftmatiks. É a quinta música que ele trabalhou com os participantes desde que chegou. “Fiz um pacto comigo mesmo”, diz. “Eu topo qualquer desafio.” E isso é o suficiente para ele naquele momento. Baker joga a jaqueta no ombro e vai saindo até que alguém o chama. É Anna Love, outra participante dos EUA. Baker ainda deve a ela um vocal. “Qual é, Louis. Você me prometeu que gravaríamos hoje!”, apela a cantora. Baker dá uma suspirada, pensa por um momento… e então se arrasta de volta para o estúdio, com um sorriso. Ele sabe que dá para descansar depois, enquanto que uma experiência como essa só pode ser vivida agora. www.redbullmusicacademy.com

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Seus artistas favoritos compartilham playlists pessoais em rbmaradio.com

A melhor seleção musical da web.


Aonde ir e o que fazer

aç ão !

Grave profundo: conheça o MP3 player perfeito para quem é mergulhador e não vive sem música. MÚSICA, página 96

Fotos: xtremedesert.com, Finis

V I AG EM / EQ U I PA M ENTO / TR EI N O / M Ú S I CA / FESTAS / C I DA D ES / BA L A DAS

Bugueiros modernos

Bugueiros: acelerando nas dunas a 100 km/h

the red bulletin

As dunas de areia gigantes na região de Abu Dhabi são perfeitas para quem procura emoção e o melhor passeio da vida MALAS PRONTAS, na página 94

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Ação!

Meu equipo

Sistema de ar comprimido “Quando uma queda é detectada, o airbag é preenchido completamente até sua capacidade de 4 litros em 30 milésimos. Ele sabe que o piloto está caindo antes que caia.”

Airbag “Em uma queda, ele reduz a força do impacto na região peitoral em até 85%.”

s a lv a vidas H i -TEC H PARA CASOS DE EMERGÊNCIA

Arai VX-3

Telemetria “Estatísticas são coletadas por sensores, que fornecem informações sobre a performance e como melhorá-la.”

Integração “O sistema de ar comprimido cabe dentro da jaqueta para maior comodidade. Todo o equipamento pesa só 650 g.”

“O protetor facial pode ser aberto, reduzindo o risco de lesões durante os primeirossocorros.” www.araihelmet.com

Pescoceira “Precisa de muita imaginação para inventar uma desculpa e não usar um colar cervical. A Leatt tem os melhores.”

Stefan Bradl: piloto de MotoGP da equipe LCR Honda

Segurança total em todo o corpo MotoGP O piloto alemão Stefan Bradl dedica seu sucesso em busca da glória e longe dos hospitais ao sistemA Dainese D-air Todos sabemos que viver em alta velocidade pode ser difícil. Mas, quando sua profissão é pilotar motos de 1000cc, pode ser um risco de vida. Stefan Bradl – campeão mundial em 2011 da Moto2 – ajudou a desenvolver o sistema de proteção da Dainese D, uma mistura entre mochila inflável e colete salva-vidas. Ele alega que o equipamento já o salvou de se ma-

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Inteligência “As informações são coletadas por três detectores de movimento, três sensores de proporção e um GPS.”

chucar diversas vezes. “Na última temporada em Indianápolis, voei da moto e esmaguei o ombro”, diz Bradl. “Sem o D-Air, teria quebrado minha clavícula, pelo menos. Mas eu saí dessa com um arranhão.” Na coluna ao lado, o jovem de 23 anos descreve o sistema que dá a ele confiança para superar seus limites. www.dainese.com

Para coluna “Tem proteção máxima e permite movimentação completa: esse colete de proteção da espinha dorsal cabe sob qualquer jaqueta.” www.pocsports.com

the red bulletin

fotos: gepa pictures/red bull content pool, kurt keinrath, oskar kihlborg

www.leatt-brace.com


ação!

festa

beba ME Z C AL ASSIM é A balada NO MÉXICO

Todo mundo conhece tequila, mas para conhecer o verdadeiro mezcal é preciso provar estes dois tipos

Cerca de 800 pessoas dão vida à pista de dança até as 3 da madrugada

¡Mucha fiesta!

texto: alejandro garcÍa williams. fotos: rodrigo jardÓn (2), joy Room (2)

Cidade do México Duchas de champanhe, fontes, house MUSIC: o Joy Room é o point de gente bonita do México A fila para entrar no Joy Room é longa. Sempre. Desde sua inauguração, há cinco anos, no mais fino templo da moda na Cidade do México. Em nenhum outro lugar do país a festa é tão chique quanto aqui – a decoração é cheia de luxo, com fontes ao lado da pista de dança e duchas de champanhe no fim da noite. O ambiente explica a quantidade de celebridades na pista: aqui é possível encontrar bandas como The Black Eyed Peas ou Coldplay, porque, quando tem show de grandes artistas na cidade, é para cá que eles vêm depois. E, claro, quando a seleção mexicana ganha, é aqui que eles comemoram. Ah, quando for brindar no México, diga “salud”. O resto você já sabe. JOY ROOM Antara Fashion Hall Cidade do México, 11520 www.joyroomantara.com

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Os DJs do Joy Room costumam tocar house

tem plo da moda

Mezcal Danzantes A bebida do fim de tarde dos trabalhadores mexicanos. Feito a partir de diferentes espécies de agave. O sabor é suave e levemente defumado. O teor alcoólico é de 45%.

Além do Joy Room existem outros clubes no Antara Fashion Hall

FAT CROW Bar com música ao vivo e atmosfera íntima, no estilo Twin Peaks. Os shows são para 80 pessoas. RAGGA Uma megabalada com sushi bar dentro de primeira linha. VOILÀ Casa de shows de indie rock que recebe bandas como o Ratatat.

Mezcal Pierde Almas O teor alcoólico de 45% explica bem o nome deste mezcal de produção exclusiva. É um destilado forte produzido no sul do país em séries limitadas com selo de garantia de “produto original”.

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ação !

malas prontas

NÃO FIQUE DE BOBEIRA Aonde ir em Abu Dhabi

Corrida Depois de conquistar as dunas, os pilotos com energia de sobra podem acelerar em um circuito de alta octanagem no F1 Yas Marina. www.yasmarina circuit.com

Carne Das arábias: o passeio pelo maior deserto de Abu Dhabi é melhor “com emoção”

Bora pro deserto? Dune bashing Com subidas e descidas de 400 m, correr de buggy no maior areal do mundo é uma montanha-russa como nenhuma outra

Como ir: www.xtremedesert.com Quanto custa: a partir de € 829 (cerca de R$ 2 400) para 2 dias

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www.rotana.com

Vento

Fique atento Não é miragem

“Encontrei um lindo resort cinco estrelas no Empty Quarter”, diz Welmers. “É realmente no meio do nada. Foi bom demais ter ficado ali durante a viagem. Era luxo de verdade depois de horas de areia e vento.” www.qasralsarab.anantara.com

Ainda não enjoou de areia? Tente o blokarting, ou velejar na areia. Encontre um trecho com bons ventos, coloque a vela no buggy de três rodas e aproveite a velocidade. www.dreamdays.ae

Vá acompanhado “Não tem placa de trânsito no deserto”, diz Maurits Knopjes, da xtremedesert.com. “Nada vai alertá-lo sobre um desnível brusco ou uma mudança no terreno. Então é bom ter alguém experiente junto. Nunca dirija sozinho no Empty Quarter.”

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texto: ruth morgan. fotos: Xtremedesert.com (2), shutterstock

Não é preciso ser um gênio para adivinhar por que as dunas no entorno de Abu Dhabi são conhecidas como “The Empty Quarter” (“o quarteirão deserto”), mas a ausência de habitantes é exatamente o que torna essa parte do maior deserto de areia do mundo o lugar perfeito para o “dune bashing”. Esse esporte consiste em dirigir por grandes dunas e, enquanto algumas companhias de turismo oferecem um passeio com motorista de 4x4, dois maníacos por carro pegam no volante de um buggy capaz de atingir mais de 100 km/h em dois dias inesquecíveis. “Já estive em desertos antes, mas nada como o Empty Quarter”, diz Joost Welmers, 29 anos, executivo de marketing digital da Holanda. “É como estar na Lua. O terreno é indescritível – e dirigir ali é animal. Eu amo adrenalina e isso é completamente diferente de tudo que já fiz. Essas dunas têm até 400 m de altura e são muito íngremes, então você sobe nelas a toda velocidade e depois desce pelo outro lado – é como numa montanha-russa. Foi muito melhor do que eu esperava.”

Abu Dhabi é muito bom para comer carne. O Blue Grill, na Ilha Yas Rotana, serve alguns dos melhores cortes da capital com paisagens grandiosas.


Ação!

MINHA CIDADE Dublin City

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fotos: maser (2), the Bernadrd shaw, all-city records, lusciousblopster

“Até turistas são tratados como se fossem da família”

Top cinco As boas de Dublin

1 The Bernard Shaw

South Richmond Street Este velho pub foi assumido por produtores de música e se tornou um lugar maluco. Meu primeiro estúdio foi aqui. Tem exposições e pizzas num ônibus que fica no jardim.

Dublin, irlanda Para o grafiteiro Maser, sua cidade significa passar um tempo na prisão, cortar o cabelo, conhecer lugares inesperados e quase ver Bono Devido ao seu estilo de vida, é compreensível a aversão de Maser às câmeras. Você não vai saber se ele pintou na sua fachada ou não. Mas ele está sempre em sua cidade. “Nasci e me criei no sul de Dublin”, diz. “É onde fica meu estúdio agora. Aqui o pessoal é muito afetivo, até turistas são tratados como se fossem da família. Quanto mais viajo, mais me dou conta de como Dublin é um bom lugar. A cidade tem muita influência no meu trabalho. Meu trabalho é Dublin de certa forma.” www.maserart.com

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St. Stevens Green

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Grove Road

O grafiteiro Maser, que mantém seu nome e idade em segredo, nasceu e foi criado em Dublin

Trinity College

2

St. Patrick’s Park

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Dublin tem mais do que o St. Patrick’s Day

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Dublin, Irlanda

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Capetown, South Africa

Phoenix Park

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verdadeiro espírito acolhedor. Pinto bastante por aqui e as pessoas falam comigo. Minha arte não é só a obra finalizada, é também a experiência.

4 Kilmainhan Gaol

Inchicore Road Esta prisão do século XVIII me inspira. O filme Em Nome do Pai foi rodado aqui e, há 300 anos, a heroína nacional da Irlanda, Anne Devlin, ficou presa nessas celas. Pintei um retrato dela em Dublin 8.

samhain festival Este festival, que acontece no Halloween, anuncia o fim do verão céltico. Milhares se reúnem para um desfile de fantasias que atravessa Dublin. E, no final, acontece uma queima de fogos gigantesca.

Fringe Festival Por 16 dias em setembro esse festival transforma Dublin em um palco de comediantes, músicos e dançarinos de diversos países, com 500 atrações em 30 lugares diferentes. www.fringefest.com

Electric Picnic

2 All City Records

Temple Bar Aqui é onde consigo tudo o que preciso: uma loja de discos que vende a parafernália do grafite. Ainda tem café e barbearia. Também tem uma galeria de arte de rua.

3 Dublin 8

Kevin Street e arredores Esta é a velha Dublin, com um

5 Hawk Cliff

Vico Road Esta pedra para saltos fica bem ao lado da casa de Bono Vox. Fica a 20 minutos do centro da cidade e, na época em que demora para escurecer, é maravilhoso para pular no mar. Nunca vi Bono por aqui...

Realizado em uma enorme propriedade nos arredores de Dublin, “o Glastonbury irlandês” trouxe grandes atrações como Fatboy Slim, Björk e Arctic Monkeys. The Knife e Eels foram anunciados para agosto. www.electricpicnic.ie

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Ação!

Super S ta r D J

Música

O DJ do Ano Seth Troxler dá dicas para sobreviver ao mercado

Foi difícil não ouvir falar do Empire of the Sun quando o álbum de estreia Walking On a Dream aterrissou direto da era espacial para os ouvidos do mundo, em 2008, especialmente por causa do hit We Are the People. Agora o líder Luke Steele e o produtor Nick Littlemore lançaram Ice On the Dune, outra bomba sonora. Suas influências são tão coloridas quanto sua diversidade: a pedido de Elton John, Littlemore retrabalhou seu catálogo e hoje também é diretor musical do espetáculo Zarkana, do Cirque de Soleil. Confira as músicas que o ajudaram a ficar de pé nas longas noites de estúdio.

Nick Littlemore, 35, é um dos dois australianos por trás do Empire of the Sun

Império do Sol playlist o australiano nick littlemore, do Empire Of The Sun, gosta mesmo é de músicas simples

www.empireofthesun.com

Seth Troxler foi escolhido DJ do Ano 2012 pela revista especializada Resident Advisor

1 Se você leva a música a sério, precisa desistir de tudo. Não ter emprego e não ter distrações

2 I Walk on Gilded ...

Essa é uma música maravilhosa do primeiro disco de Dr. John, de 1968, chamado Gris-Gris, que ouvi pela primeira vez quando tinha 21 anos. Tem um trecho incrível em que ele e cinco vocalistas cantam cada um a mesma frase em um microfone posicionado entre eles. Tentei fazer igual muitas vezes, mas nunca consegui ter o mesmo sucesso.

2

Brian Eno By This River

Essa é uma música quieta e muito bonita de Eno, do disco Before and After Science. O que eu gosto nele é que as coisas parecem ser simples e delicadas, e o estilo é bem silencioso. Sempre considero que as composições mais simples são as mais difíceis de escrever, então respeito muito quando elas são feitas de maneira tão impecável como essa.

4 The Korgis

5 Soak

Essa música tem diversos covers, mas ninguém conseguiu igualar a beleza da original. Teve um remix que eu ouvia quando dava uma escapada das raves nos anos 1990 e faz poucos anos que escutei a original, de 1980. É tão simples, mas é só isso que ela precisa ser. Músicas poderosas não precisam de muita coisa para serem o que são.

Soak é uma menina bem talentosa que eu escuto muito. Sea Creatures é um trabalho maduro e o mais incrível é que ela o escreveu aos 13 anos. Essa é sua chegada à maioridade. Parece que ela foi escrita de uma perspectiva infantil, mas é muito perspicaz – são coisas que Soak descobriu sobre ela mesma e sobre as outras pessoas.

Everybody’s Got To...

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Sea Creatures

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Ruth

Polaroïd/Romans/Photo

Paris tem a vibe mais bacana de todas as cidades do mundo. Cresci na Austrália, mas sempre tive uma relação aberta com a França. Ruth é uma banda eletrônica pouco conhecida de Paris e essa música é a minha favorita. O jeito que o vocal entra é incrível. Não entendo o que ele fala e não me importo, mas sempre fico animado quando escuto.

M ú s i ca N ’Ág ua Nosso gadget do mês

Finis Neptune Para quem mergulha e ama música, eis um xodó: o MP3 player à prova d’água com fones de ouvido ligados à bochecha em vez da orelha. Ele transmite as vibrações diretamente para dentro do ouvido. O deep house acaba de ficar bem mais “deep”. www.finisinc.com

Seja sempre simpático. Se você for um chato, todo mundo no mercado saberá na hora

3 Conheça muitas pessoas e faça contatos. A maioria das gravadoras escolhem trabalhar com quem conhecem pessoalmente

4 Quando enviar sua demo, faça você mesmo o pacote. É necessário mais que um link para sua página no SoundCloud

5 Não lance mais que quatro singles ao longo de um ano; é assim que se faz o interesse da imprensa começar a desaparecer www.redbullmusic academy.com/ lectures/seth-troxler

the red bulletin

texto: florian obkricher. fotos: universal music (2), finisinc.com, christelle de Castro/red Bull Content Pool

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Dr. John


ação!

Na agenda

C u rtas e boas

A disputa que começa na web termina em Barcelona

Bons shows em agosto

16 sexta

Tribo de Jah O Cine Joia recebe uma das bandas mais tradicionais do reggae brasi­ leiro. Vinda direto do Maranhão, a Tribo de Jah segue fazendo a cabeça com seu reggae de raiz e seus hits como “Reggae na Estrada” e “Não Basta ser Rasta”. www.cinejoia.com.br

23 sexta

Clarice Falcão O Circo Voador abre suas portas para receber a can­ tora e humorista carioca Clarice Falcão, que ficou conhecida em suas participações no Porta dos Fundos, um canal de humor na internet.

24/8, em SP

FOTOS: olaf pignataro/red bull content pool, getty images (2), corbis

Da internet para as pistas Pintou a chance de andar de skate em um dos paraísos do esporte: Barcelona. O Red Bull Skate Arcade irá selecionar, por meio de vídeos postados na internet, 12 brasileiros para a disputa final no dia 24 de agosto. O vencedor faz as malas e vai para a cidade catalã disputar contra atletas de 24 países no dia 7 de setembro.

www.circovoador. com.br

www.redbullskatearcade.com.br 3/9, no RJ

Música e ação

Prêmio Multishow

O CBSK, Circuito Banco do Brasil que mistura música e skate, terá quatro paradas até o final do ano. A primeira será em Salvador e, junto com a Copa Brasil de Skate Vertical, os espectadores terão shows de nomes como Skank e Joss Stone. As outras paradas serão em BH, SP, RJ e Brasília, com shows já confirmados de artistas como Red Hot Chili Peppers e Stevie Wonder. circuitobancodobrasil.com.br

A música brasileira tentará revi­ ver seus bons tempos de festivais na edição 2013 do Prêmio Multi­ show. Doze finalistas apresen­ tarão músicas inéditas ao vivo no dia da premiação na categoria “Nova Canção”. Os concorrentes passarão pelo crivo do Super Júri e do Júri Especializado montado pelo evento. Ivete Sangalo e Paulo Gustavo serão os apresentadores pelo segundo ano consecutivo. multishow.globo.com

31/8, em Salvador

26/8 a 1/9, no RJ

Judocas Acontece no Brasil, pelo segundo ano consecutivo, o campeonato mundial de judô, no Maracanãzinho. www.mundialjudorio2013. com.br

the red bulletin

30 sexta

Monobloco É Carnaval? Não, mas o Monobloco vai fazer o mês de agosto parecer fevereiro. O grupo carioca liderado por Pedro Luís aterrissa em São Paulo para mais um de seus shows catárticos. www.credicardhall. com.br

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TÚNEL DO TEMPO

Força no cabelo

foto: Gamma-keystone/getty images

O dia em que o mundo (das com­ petições de crescimento de cabelo) parou foi 12 de agosto de 1968. Pairando sobre uma Estocolmo abso­ lutamente cinza, Sigrid Andersson (conhecida por “Wiggy Siggy”, algo como “Sigridinha Peruquinha”), a favorita nos campeonatos mundiais, pegou um par de binóculos e olhou para os juízes lá embaixo. Por fazer – alguns dizem que por deboche – a mesma pose que os árbitros, ela foi primeiro desclassificada e depois reintegrada, com uma série perfeita de notas 10 que lhe valeram o título. A manchete estampada no jornal local foi: “O binóculo tirado da cartola decide a final”.

A próxima edição do Red Bulletin sai em setembro DE 2013 98

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