Ação i Esporte i Viagem i Arte i Música
Uma revista além do comum
Novembro de 2013
skate underground uma pista no porão de casa
mundial de powerboat
os barcos de alta velocidade
muita música
com jack johnson, kings of leon e guitarras recicladas
Marcelo
D2
“todo carioca é rapper por natureza”
o Mundo de red bull
Novembro 58 SUPERsÔNICOS
Dois dinamarqueses decidiram investir num sonho astronômico: criar um foguete e se lançar no espaço
FOTO DA CAPA: miko lim. fotos: thomas pedersen, Miko lim
bem-vindo
É respirando o mais puro ar do Rio de Janeiro que o Red Bulletin de novembro chega a suas mãos – mais precisamente, direto do calçadão do Arpoador. Foi lá que Marcelo D2 concedeu uma belíssima sessão de fotos e uma descontraída entrevista. O rapper brasileiro mais conhecido no exterior confirmou: “Quero fazer a pessoa ouvir e se sentir no Rio de Janeiro”. Tudo graças ao tempero do samba e da ginga típica dos cariocas. Além da entrevista com D2, você terá nas próximas páginas uma viagem pelo portfólio fotográfico de Franco Banfi, irá conhecer a endinheirada corrida de powerboats no mar da Turquia, a aventura interestelar de dois dinamarqueses que querem ser lançados da Terra com seu próprio foguete e ainda vai entrar numa pista de skate no porão de uma casa na Áustria.
the red bulletin
“O skate formou meu lifestyle e minha maneira de pensar” Marcelo D2, pág. 28
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o Mundo de red bull
Novembro Nesta edição Bullevard
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para sempre mcConkey
Um documentário celebra a vida do BASE-jumper
NOTAS Pelo mundo meu corpo Danny MacAskill kainrath O que está rolando ANTES E DEPOIS Painéis do Mazda Fórmula certa A onda na cabeça... Chris Hemsworth NÚMEROS DA SORTE Fiascos
Destaques 28 Marcelo D2
Um papo com o rapper carioca
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34 Ian Ruther
38 Kings of Leon
A banda fala do novo disco
40 Galeria Franco Banfi
40 danny macaskill
O biker escocês mostra que para ter a glória é necessário passar pelo sofrimento – e seu corpo é testemunha
Registros do fundo da natureza
52 Sasha DiGiulian
A promessa do alpinismo feminino
58 Foguete próprio
Banfi
Animais selvagens, águas profundas e a destreza com a máquina fotográfica: essa é a vida de Franco Banfi
76
Dois caras querem ir para o espaço
66 Shane McConkey O legado do BASE-jumper
76 Superbarcos
Corrida milionária dos powerboats
84 Skate no porão
Uma pista com as próprias mãos
ação!
52 Powerboat
Dinheiro, glamour e motores ferozes: esse é o ambiente que cerca a corrida dos superbarcos 4
mulher-aranha
A americana que divide sua vida entre os estudos em Manhattan e as escaladas livres é a grande promessa do esporte
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MEU EQUIPO Wetsuits ecológicas BALADA Montenegro ferve MALAS PRONTAS Finlândia radical em forma Dicas de golfista música Jack Johnson na agenda O melhor de novembro túnel do tempo O voo
the red bulletin
Fotos: alfredo martÍnez/red bull content pool, nathan gallagher/red bull content pool, franco banfi, simon palfrader, reinhard feichtinger
O caminhão-câmera
A energiA de red Bull em trĂŞs novos sABores.
crAnBerry
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colaboradores nosso time em novembro
THE RED BULLETIN Brasil, ISSN2308-5940 Editora e sede Editorial Red Bull Media House GmbH Gerente Geral Wolfgang Winter Diretor Editorial Franz Renkin
FRANCO BANFI
keith ladzinski Um dos maiores fotógrafos de aventura do mundo, vencedor do Maggie Award em 2013 na categoria Single Editorial Photograph pela sua foto numa escalada gelada no Colorado, Keith Ladzinski esteve com Sasha DiGiulian em uma expedição alucinante à África do Sul. O objetivo? Desvendar e registrar novas paredes e rotas para subir. Para ver essas conquistas junto a paisagens de tirar o fôlego, vá à página 58.
Crescer ao lado do Lago Lugano fez com que Banfi descobrisse ainda pequeno que os lagos de seu país natal, a Suíça, eram pequenos demais para ele. Foi assim que ele se tornou um dos principais profissionais do mundo da fotografia subaquática. Jacarés, baleias, arraias: ele se aproxima de qualquer animal selvagem sem medo. Sua missão mais perigosa até hoje foi fazer a foto de uma anaconda no Brasil: foi aí que ele descobriu que esses bichos podem engolir qualquer coisa que chegue perto.
O premiado jornalista de 42 anos fez grandes reportagens na África. Desta vez ele não precisou pegar um avião para fazer sua história: foi de moto mesmo. Bernd foi ao Danish Space Center, dos astronautas Peter Madsen e Kristian von Bengtson, que fica a poucos quilômetros de sua casa em Copenhague. “O que mais me impressionou foi a resistência dos dois”, diz o jornalista. “Você trabalha que nem um louco e, mesmo diante de contratempos bem chatos, retoma o fôlego e põe a mão na massa de novo.”
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Coordenador Editorial Alexander Macheck Editor Brasil Fernando Gueiros Diretor de Arte Erik Turek Diretor de Fotografia Fritz Schuster Editora Assistente Marion Wildmann Gerentes de Projeto Cassio Cortes, Paula Svetlic Apoio Editorial Ulrich Corazza, Werner Jessner, Ruth Morgan, Florian Obkircher, Arek Piatek, Andreas Rottenschlager, Stefan Wagner, Paul Wilson, Daniel Kudernatsch (iPad), Christoph Rietner (iPad) Editores de Arte Miles English (Diretor) Martina de Carvalho-Hutter, Silvia Druml, Kevin Goll, Carita Najewitz, Kasimir Reimann, Esther Straganz Editores de Fotografia Susie Forman (Diretora artística de fotografia) Ellen Haas, Eva Kerschbaum, Catherine Shaw, Rudi Übelhör Revisão Manrico Patta Neto, Judith Mutici Impressão Clemens Ragotzky (Diretor), Karsten Lehmann, Josef Mühlbacher Gerente de Produção Michael Bergmeister Produção Wolfgang Stecher (Diretor) Walter O. Sádaba, Christian Graf-Simpson (iPad) Financeiro Siegmar Hofstetter, Simone Mihalits
Robert Astley-Sparke Bernd Hauser
Editor Chefe Robert Sperl
Nascido em Londres, Robert é casado com uma brasileira e vive em São Paulo há quatro anos. Ele é especializado em moda, música e celebridades. Já colaborou para revistas como GQ, Esquire, Glamour e jornais como Sunday Times e New York Times. Seu desafio neste mês foi fotografar o rapper carioca Marcelo D2. “O Marcelo é um grande artista”, analisa Robert. “Ele é muito ligado ao Rio e a gente deu muita sorte com o dia, que nos presenteou com um belo pôr-do-sol”.
“O Marcelo é um grande artista. Ele é muito ligado ao Rio de Janeiro” Robert Astley-Sparke
Marketing & Gerência de países Stefan Ebner (Diretor), Stefan Hötschl, Elisabeth Salcher, Lukas Scharmbacher, Sara Varmingg Assinaturas e Distribuição Klaus Pleninger, Peter Schiffer Marketing de Criação Julia Schweikhardt, Peter Knethl Anúncios Marcio Sales, (11) 3894-0207, contato@hands.com.br. Gestão de anúncios Sabrina Schneider Coordenadoria Manuela Geßlbauer, Kristina Krizmanic, Anna Schober IT Michael Thaler Escritório Central Red Bull Media House GmbH, Oberst-Lepperdinger-Straße 11–15, A-5071 Wals bei Salzburg, FN 297115i, Landesgericht Salzburg, ATU63611700 Sede da Redação Heinrich-Collin-Straße 1, A-1140 Wien Fone +43 1 90221-28800 Fax +43 1 90221-28809 Contato redaktion@at.redbulletin.com Publicação The Red Bulletin é publicado simultaneamente na Áustria, Brasil, França, Alemanha, Suíça, Irlanda, Kuwait, México, Nova Zelândia, África do Sul, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Visite nosso site www.redbulletin.com.br
the red bulletin
Seus artistas favoritos compartilham playlists pessoais em rbmaradio.com
A melhor seleção musical da web.
Tuam otu, P o li n é s ia Fr an c e sa
Posição privilegiada Com o perdão de Manu Bouvet e dos surfistas ao redor do mundo, este pode ser o caso em que o fotógrafo tem mais espírito de aventura que o fotografado. “Decolei com meu paraglider motorizado num atol no meio do Pacífico”, diz Ben Thouard. “Eu voava, via a formação de ondas e seguia. Manu via que as ondas estavam chegando a cada vez que eu me aproximava dele.” A equipe do francês preferiu evitar o estresse: “Ninguém avisou sobre os tubarões que estavam ali nem que meu motor estava quebrado.” www.benthouard.com Foto: Red Bull Illume/Ben Thouard
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An n ec y, Fr an ç a
Caneleira Esta foto foi o resultado do uso de baixa tecnologia por parte do fotógrafo francês Pierre Augier e do paraglider Tim Alongi. “Usei uma caneleira de futebol para ligar minha câmera à perna do Tim”, diz Augier. Alongi terminou em terceiro no campeonato mundial de sua categoria e atualmente está entre os melhores do mundo. O portfólio de Augier é variado e conta com imagens de esporte e ação, mas ele também fotografa casamentos. Se você é desses que pretendem dizer “sim” antes de pular de paraquedas ou de bungee jump, ele é o cara certo para o trabalho. www.pierreaugier.com Foto: Red Bull Illume/Pierre Augier
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B o u ld e r , EUA
Na lama “Às vezes”, diz Dave Trumpore, “a única forma de registrar os melhores detalhes do esporte é literalmente enfiar a cara e a câmera diretamente dentro dele.” Até pouco tempo, Trumpore era um competidor, não fotógrafo. Sua decisão de começar a usar uma câmera depois de se aposentar do mountain bike profissional indica que ele pode ver ângulos que outros não conseguem sacar. Fazer as fotos de Joey Schusler no Colorado foi uma missão empolgante, apesar das pedrinhas voadoras. www.davetrumporephoto.com Foto: Red Bull Illume/Dave Trumpore
c ali fÓ r n ia , eua
sonho encanado A cada 10 anos o canal que leva árvores derrubadas de cima da montanha à cidade de Tehachapi é esvaziado. Geoff Rowley aprendeu isso, esperou o dia certo e chamou Anthony Acosta: “Vamos lá?” Eles dirigiram 4 horas para o norte de Los Angeles, às 4 da manhã. Rowley trabalhou seus movimentos no skate e Acosta testou os melhores ângulos com a câmera. O resultado é uma foto que vale por uma década. www.instagram.com/aacostaa Foto: Red Bull Illume/Anthony Acosta
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Bullevard Sua dose mensal de esporte e cultura
Sons diferentes Para aqueles que acham Daft Punk – e seus capacetes – exótico, seguem quatro bandas que (ainda) não são conhecidas, mas que são únicas
Rock das rodinhas Ezequiel Galasso dá sobrevida a skates quebrados, transformando-os em guitarras elétricas
The Zimmers Com 15 integrantes, todos entre 67 e 89 anos, é a banda mais velha do mundo. Fazem covers de bandas como Beastie Boys.
The Vegetable Orchestra A orquestra de 12 integrantes esculpe seus instrumentos para cada apresentação e no final transforma tudo em sopa.
Todo skatista passa por isso: por ano quebram, em média, cinco shapes. Mas o que fazer com as partes quebradas? Em 2011, o argentino Ezequiel Galasso, fabricante de instrumentos, teve uma ideia. Com a ajuda de Gianfranco de Gennaro, skatista profissional, ele transformou shapes usados em guitarras excêntricas. Para montar uma dessas completa, é necessário ter dois shapes. E funciona direitinho: devido ao seu comprimento e curvatura, a madeira é perfeita para servir de braço da guitarra. Desde que Mike McCready (da banda Pearl Jam) começou a tocar ao vivo com uma guitarra de Galasso, a demanda explodiu. No entanto, ele não produz suas guitarras com máquinas – para ele, o importante é a qualidade. Quem quiser um brinquedinho desse (que custa cerca de US$ 1 mil) deve enviar um e-mail.
Ezequiel Galasso monta uma guitarra com dois skates
www.facebook.com/galassoguitars Anamanaguchi Inusitados: os três integrantes de Nova York tocam punk rock com sons de Nintendo Game Boys e antigos videogames.
Clicks
A SUA FOTO AQUI Caninus Batidas hard rock e guitarras distorcidas. Nos vocais: dois buldogues. Um deles morreu em 2011, o que levou ao fim da banda.
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Você já tirou uma foto com o sabor da Red Bull? Todo mês a gente faz uma seleção com nossas favoritas. phototicker@redbulletin.com
Whistler
Martin Söderström voa na cidade canadense de Whistler durante o Red Bull Joyride – e se machuca. Dale Tidy the red bulletin
Top 3
Os três livros mais vendidos na história da literatura
Muscle Shoals conta a incrível história de sucesso de um pequeno estúdio no Alabama
Um Conto de Duas Cidades Obra-prima de Charles Dickens, publicada em 1859, 200 milhões de cópias vendidas.
fotos: rex features, picturedesk.com, mr. gif, yael gottlieb, skate guitar, erwin polanc/red bull content pool, jay nemeth/red bull content pool
O berço dos hits Muscle Shoals é uma cidade pacata no Alabama, rodeada por plantações de milho, no meio do nada. Mas, na década de 1970, essa tranquila vila entrou para a história da música por um simples motivo: artistas como os Rolling Stones, Aretha Franklin, Paul Simon, Bob Dylan, Wilson Pickett e muitos outros foram a Muscle Shoals para gravar sucessos num pequeno estúdio local. No filme, Keith Richards descreve o lugar como o céu do rock and roll. O motivo? Quatro jovens músicos do estúdio local ganharam fama de serem feras na arte do ritmo e da criação sonora. No documentário, os próprios – que hoje têm em torno de 70 anos – contam a história. Lendas como Mick Jagger e Jimmy Cliff adoravam a atmosfera do pequeno estúdio da cidade. E a geração mais jovem, de Bono Vox (U2) aos Black Keys, já declarou sua paixão por Muscle Shoals. Muscle Shoals está em exibição nos cinemas: www.muscleshoalsmovie.com
Yamaguchi Kart no limite: chuvas torrenciais transformam o Red Bull Kart Fight numa batalha molhada. Jason Halayko the red bulletin
O Senhor dos Anéis A história de J.R.R. Tolkien, de 1954, vendeu 150 milhões de cópias no mundo.
O Pequeno Príncipe O conto de Antoine de Saint-Exupéry, de 1943, vendeu 140 milhões. Feira de Frankfurt, de 9 a 13/10
Seignosse
“Tinha que ser” Um ano depois do salto histórico de Felix Baumgartner, o documentário Mission to the Edge of Space – The Inside Story of Red Bull Stratos conta os detalhes the red bulletin: Como sua vida mudou depois do Red Bull Stratos? Felix Baumgartner: A minha vida pessoal definitivamente ficou prejudicada. Já não é mais tão fácil de encontrar com amigos em um pub. Mas eu construí uma rede perfeita de pessoas interessantes e celebridades do mundo inteiro. Agora, pessoalmente, eu não mudei. O documentário Mission to the Edge of Space - The Inside Story of Red Bull Stratos conta da pressão… ...e do enorme alívio depois do ato. A pressão durante a preparação e durante o próprio salto chegou ao limite do que um ser humano é capaz de suportar. Mas eu nunca duvidei de mim.
Eu queria voltar para a estratosfera e voltar com segurança. Tinha que ser. Como você se sente quando vê as fotos? Às vezes me assusta. Eu penso comigo: como você conseguiu lidar com todos os altos e baixos!?! E nunca mais vou participar de um projeto dessa magnitude. Mas a verdade é que, se algo surgisse que me fascinasse tanto quanto o Red Bull Stratos, eu faria tudo de novo. O que é que o público leva do documentário? Que tudo aquilo que você tem em mente pode se tornar uma realidade – se você fizer tudo possível para realizá-lo. O documentário pode ser visto a partir de 14 de outubro no site rdio.com/redbullstratos
14 de outubro de 2012: Finalmente!
A surfista americana de 19 anos Brianna Cope prepara sua prancha para o Swatch Girls Pro em Le Penon, na França. Laurent Masurel
Linz
O ciclista Tom Öhler quebra o recorde mundial no “BunnyHop”, com 44,62 segundos, nos 400 metros com barreiras. Enrique Castro Mendivil
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Bullevard
Interlagos decisiva
Kubrick será o destaque
Maratona de filmes
São Paulo está pronta para receber a 37ª edição da Mostra Internacional de Cinema, que terá sessões especiais de filmes de Stanley Kubrick Briga de gigantes
NBA no Brasil Sabadão no Rio de Janeiro. Praia, água de coco e clássico no Maracanã... Ou não. Em um dos sábados de outubro, mais especificamente no dia 12, o jogo que vai pulsar a tarde dos cariocas não será no Maraca, e sim no HSBC Arena. A cidade receberá um clássico diferente, internacional. É o amistoso entre Washington Wizards (dos brasileiros Nenê e Leandrinho) e Chicago Bulls (com a estrela Derrick Rose), ambos os times do primeiro escalão do basquete mundial, a NBA. A partida vale pela prétemporada e até 14 mil espectadores podem ir à arena para assistir à apresentação. Os ingressos custam de R$ 90 a R$ 2 mil. lojanba.com
Berga
Alta velocidade na chegada da cidade de Berga, na Noruega. Vegard Breie, Red Bull Olabillop
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Silverstone
O maior festival de cinema do Brasil acontece entre os dias 18 e 31 de outubro em São Paulo. É a 37ª edição da Mostra Internacional de Cinema, que destacará o trabalho de Stanley Kubrick por meio de seus filmes, uma extensa exposição que fica no ar até janeiro e um livro editado pela Cosac Naif em parceria com a mostra, chamado Conversas com Kubrick, onde o crítico francês Michel Ciment realiza uma afiada seleção de entrevistas, críticas e análises feitas pelo próprio cineasta ou por seus colaboradores. Serão exibidos também cerca de 300 títulos em mais de 20 espaços da cidade. No cardápio estão Ilo Ilo, vencedor da Caméra d’Or do Festival de Cannes, e a imersão 3D do diretor francês Jean-Luc Godard, com o filme 3x3D. A mostra conta também com sessões temáticas no vão-livre do Masp, onde serão exibidos filmes de personagens e histórias que contemplam a cidade de São Paulo, com uma reflexão sobre a mobilidade urbana. mostra.org
O espanhol Jorge Martín, de 15 anos, se prepara para o Red Bull Rookies Cup. Gold & Goose
Haarlemmermeer A final do Red Bull Studio Conecte, no Mysteryland (Holanda). Arenda de Hoop the red bulletin
POr: Fernando Gueiros. Fotos: Red Bull racing, TANNEN MAURY/EPA/picturedesk.com, Mostra.org
A posição que a parada brasileira tem na agenda da F1 no mundo favorece grandes decisões. Foi por aqui que vimos títulos serem vencidos e esperanças irem embora em duelos nas curvas e retas de Interlagos. Nos dias 22, 23 e 24 de novembro, a gente deve assistir mais uma vez à reta final do campeonato mundial, com Sebastian Vettel e Fernando Alonso brigando pelo título de 2013. Os ingressos ainda estão à venda. Corra lá. gpbrasil.com.br
Bullevard
Nas costas
EU E MEU CORPO
danny macaskill
O ciclista escocês de 27 anos fez milhões delirarem na internet com sua habilidade em cima da magrela – mas não existe glória sem sofrimento. E sem outras coisinhas mais...
1 Armado e perigoso “Há alguns anos, usando uma bicicleta de criança numa competição na lama, caí e agora tenho um pino no pulso. Depois, eu ainda levei um tombo com minha mountain bike e fiquei com pedras alojadas no músculo do braço. Operei e fiquei todo remendado.”
2 de Aquiles Credit: Por: ruth morgan. foto: chris parson
Calcanhar
“Quebrei meu pé direito duas vezes, o esquerdo três e torci os ligamentos do tornozelo várias vezes. Isso acontece quando você salta de algum lugar de costas e aterrissa numa superfície irregular. Só não é pior do que bater com o calcanhar no chão.”
3
“Rompi um disco nas minhas costas filmando um salto de 3,6 metros em 2009, mas na hora não me dei conta. Senti muita dor tanto nas costas quanto no meu joelho esquerdo, quando começou a pressionar o nervo. Operei em 2012 e precisei de dez meses para ficar bom.”
Engessado
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“Em seis meses eu quebrei três vezes minha clavícula. Primeiro quando eu caí em uma pump track, depois quando escorreguei no meio-fio – quando tive que parafusar uma placa de metal – e também fazendo downhill de mountain bike, quando caí de 3 metros.”
Passo em falso
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“Uma história triste: eu estava filmando na área rural de Vancouver em 2011 e quebrei minha bicicleta. Quando desci, meu pé esquerdo pisou em cocô de ganso, escorreguei e torci, rompendo meu menisco. Precisei de uma cirurgia para melhorar.”
www.redbull.com/imaginate the red bulletin
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ilustraÇÃo: dietmar kainrath
Bullevard
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the red bulletin
Bullevard
vencedores do mês
Rayana (de capacete) e sua amiga Nina depois de mais uma sessão de skate
Gatas na pista POR: Fernando Gueiros. fotos: Reuters, Ray Archer/KTM/Red Bull Content Pool, Mcklien/Red Bull Content Pool, picturedesk.com
A publicitária Rayana Lucena chama atenção por suas fotos quentes e radicais no Instagram Ela nasceu em Brasília e vive em João Pessoa desde os 10 anos. Há cinco meses, conheceu o skate e, desde então, descer ladeiras se tornou um hobby. Rayana Lucena, 26, pratica todas as manhãs na orla: “É para começar bem o dia”, diz. Em seu perfil no Instagram, não faltam belas mulheres (as amigas Nina Monteiro e Nara Marques), ação, sorrisos, praia e muito sol na capital paraibana. O sucesso na rede social aumentou sua visibilidade (ela conta com quase 4 mil seguidores na rede social) e hoje, por ironia do destino, trabalha na área. Falamos com Rayana: The red bulletin: Você pensa nas fotos antes de fazer? Rayana Lucena: As fotos de skate não são pensadas, é tudo muito espontâneo. Sempre que a gente acaba de dar um rolé, tiramos uma foto para registrar. Qual é o poder das redes sociais atualmente? Hoje em dia, elas são bastante influentes. Quase todo mundo está dentro. É uma forma de expressão bem grande e que dá muito certo. Você é muito assediada? Não sofro assédio, mas ganhei uma visibilidade que não esperava. Levo numa boa, meu Instagram sempre foi aberto, gosto de passar meu estilo de vida. Quais outros esportes você pratica? Malho, ando de patins e jogo frescobol nos finais de semana. Como é a cena de skate em João Pessoa? Aqui tem uma galera que anda de noite, desce ladeira e tal. Depois que comecei a postar as fotos com as meninas, o número de pessoas andando de manhã na orla aumentou e hoje está uma febre por aqui.
Sorte, suor, sofrimento... Existem diversos elementos que levam à glória no esporte
O alemão Sebastian Vettel voltou das férias para conquistar os GPs da Bélgica e Itália na Fórmula 1.
A vitória no MX1GP da Inglaterra deu ao italiano Tony Cairoli seu quinto título mundial seguido.
Daniel Sordo, da Espanha, garantiu sua primeira vitória no mundial de rally depois de dez anos tentando. O feito aconteceu na etapa da Alemanha.
O mundial de bike passou pela África do Sul e deu à inglesa Rachel Atherton seu segundo ouro na categoria downhill.
Siga Rayana no Instagram: @rayluc the red bulletin
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Bullevard
ANTES E DEPOIS
DE OLHO NO PAINEL O interior do Mazda, uma evolução entre o velho painel do carro e a central multifuncional de informação e entretenimento
acendedor especial
Dizem que nos anos 1970, se fumava de tudo e em qualquer lugar. Por isso, o acendedor ganhou este lugar de destaque e a seguinte descrição: CL – que significa Cigar Lighter – acendedor de charuto (!).
1969
O volante fino de madeira com três eixos de metal representa a sensualidade e a leveza do passado. Na época, não se preocupavam com a segurança em caso de impacto.
Incrementado
Naquela época, o rádio não fazia parte do equipamento de série. Este Sharp é um ícone da simplicidade: não tem som estéreo nem transmissão FM ou toca-fitas.
Mazda 110 Cosmo Sport
O cupê de dois lugares foi o carro esportivo dos sonhos naquele tempo. Porém, era ven dido oficialmente só no Japão – daí a direção do lado direito. O estilo com formas futu ristas e motor Wankel é refletido no design de seu interior: os instrumentos no painel, de formas arredondadas e o volante de madeira eram símbolos de veículos raros e caros. É assim que o luxo dos carros esportivos era representado no final dos anos 1960.
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Madeira
O Mazda 110 S Cosmo Sport (1967-1972) foi o primeiro carro de produção em série com mo tor rotativo da Wankel e 110 cavalos de potência
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Projeção
O head-up display é retrátil. Com um truque óptico, os números parecem estar a uma distância de 1,5 m do condutor. Assim, o olho focaliza com mais facilidade entre a estrada e os números.
Fácil controle
fotos: kurt keinrath, kurt pinter (1)
O volante tem diversas funções. Possibilita operar o celular via Bluetooth, e o Mazda Radar Cruise Control mantém o veículo a uma distância segura do carro da frente.
2013
Touchscreen
Com o MZD Connect – conceito de conectividade de áudio da Mazda –, a comunicação e o sistema de navegação são projetados para facilitar o uso e a legibilidade. Com seu smartphone, é possível acessar a internet pelo carro.
comandos
O botão de apertar e girar HMI Commander comanda todo o sistema de infotainment. Ao redor estão cinco botões, um para cada dedo. Assim, os aplicativos complexos podem ser controlados sem precisar olhar.
Mazda3
Hoje, designers de carros e estrategistas têm o desafio de dar ao motorista uma riqueza de informações sem distraí-lo da direção. O Mazda3 conseguiu atender a estes dois requi sitos com uma tela de 7 polegadas posicionada no alto, instrumentos claramente visíveis e o head-up display retrátil. Além disso, o interior satisfaz os mais exigentes em termos de conforto, segurança e ergonomia.
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O novo Mazda3 tem estrutura e tecnologia que ajudam a economizar e aumentar a diversão
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Bullevard
Fórmula Perfeita
AS ONDAS GIGANTES
Dança das partículas Normalmente, as partículas de uma onda se movimentam na direção de propagação (como as partículas de ar nas ondas sonoras), ou se movem pela transversal (como ao puxar a corda de um instrumento de cordas). Ondas do mar, no entanto, têm movimentos circulares, o que pode ser observado facilmente quando se coloca uma rolha de cortiça para flutuar (Figura 1). As partículas da água movem-se em círculo. Quanto mais profundo, menor o raio. Devido a esse movimento circular, as ondas em águas profundas sempre têm a forma de curvas onduladas. Isso pode ser visto ao se marcar um ponto em uma roda em movimento e observar ela de lado (Figura 2). Em “a”, a marcação encontra-se na metade do raio, em “b” justamente na borda. As ondas da água têm exatamente essas formas, só que invertidas, como mostra a Figura 1. A curva mais pontuda chega ao seu limite em “b” – as ondas de água não conseguem ficar maiores do que isso. Por consequência, é possível se chegar à relação máxima da altura da onda h e o comprimento da onda λ. O comprimento da onda corresponde à circunferência da roda e, por consequência, à distância percorrida pela roda ao dar uma volta completa, sendo U = λ = 2r π. A altura máxima é representada por h = 2r. Portanto λ = 2r π = h π. Para que uma onda atinja uma altura de 8 m, como na foto, ela precisa ter pelo menos 8π m de comprimento (≈ 25 m). A velocidade em águas profundas é calculada como: vprofunda = √ g ∙ λ /2 π ; onde g é a aceleração gravitacional (9,81 m/s²). Uma onda com 25 m de comprimento chega a uma velocidade de 6,25 m/s, ou aproximadamente 23 km/h. O surfista deveria ter praticamente essa mesma velocidade para que não perca a onda. É por isso que os profissionais que surfam as ondas gigantes vão de jet ski para atingir a velocidade certa. Quando a água fica mais rasa na costa, a onda “sente o chão”. Nesse momento, o movimento das partículas se torna elíptico (veja foto). Ondas de águas rasas têm uma velocidade de vrasa = √ g ∙ d , onde d é a profundidade da água. Se a água ficar rasa, as partículas nas camadas mais profundas desaceleram, enquanto as das camadas superiores continuam se movimentando rapidamente. Dançando à beira do abismo Como uma onda gigante te faz sentir? O australiano Ross Clarke-Jones (foto) diz: “Me sinto como se estivesse saltando de um avião. A aceleração, as forças centrífugas – você acha que a fibra de vidro da prancha vai descascar”. O mundo dos big riders: www.stormsurfers.com.au * Dr. Martin Apolin, de 48 anos, é físico e cientista esportivo, trabalha como professor do ensino secundário e da Faculdade de Física de Viena. É também autor de diversos livros.
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Por: Martin Apolin. foto: storm surfers 3d/red bull content pool. IlustraÇÃo: Mandy Fischer
Como esse fenômeno acontece? Como se surfa esses monstros? O nosso físico* explica.
Ross Clarke-Jones é o melhor surfista de ondas gigantes que a Austrália já produziu
Bullevard
Onde Está sua Cabeça
Chris hemsworth Com a volta triunfal de Thor aos cinemas, é tempo de heróis mitológicos. Mas o que será que se passa pela cabeça loira do ator que interpreta o mito?
Irmãos no surf
Deus do trovão
Christopher Thomas Hemsworth nasceu em Melbourne, Austrália, em 11 de agosto de 1983. Sua família ficava entre a cidade de Outback – entre “croco dilos e búfalos”, segundo ele – e Phillip Island, onde ele, seu irmão mais velho Luke e o caçula Liam, ambos atores, pegavam onda.
“Vou encontrar uma maneira de salvar a todos”, diz Thor, ou Hemsworth, todo fanfar rão de armaduras e tranças no novo Thor: O Mundo Som brio, que tem estreia mundial prevista para 30 de outubro. Curiosidade: seu irmão Liam também concorreu ao papel (e eles ainda são amigos).
Noveleiros
Todos os irmãos Hemsworth apareceram na novela Neighbours, da TV austra liana. Chris também esteve três anos e meio na produ ção concorrente, Home and Away, vivendo Kim Hyde. Pobre Kim: foi dispensado no altar; a namorada perse guidora e assassina morreu em uma explosão de gás causada por velas no bolo de casamento.
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Na bagagem
Hemsworth pode ser visto em várias produções: em três delas ele interpreta Thor, incluindo no sucesso Os Vingadores, e em duas faz George Kirk, pai do Capi tão Kirk, nos novos Jornada nas Estrelas. Tem ainda o suspense A Trilha, que não é um filme perfeito, mas vale a pena.
Mudando a marcha
Já foi lançado Rush: No Limite da Emoção, com Hemsworth vivendo James Hunt, rival de Niki Lauda. O diretor Ron Howard diz que isso abriu oportunidades para o ator: “Para Chris foi um grande divisor de águas. O pessoal de Hollywood passou a lhe oferecer papéis dramáticos”.
www.marvel.com/thor the red bulletin
POr: Paul Wilson. IlustraÇÃo: Ryan Inzana
Agenda cheia
Michael Mann (Colateral e Ali) acabou de filmar Cyber, um suspense de ação com Hemsworth no papel principal. Depois disso, nosso amigo tem Os Vingadores 2 – A Era de Ultron, previsto para 2015. Em seguida, ele deve descansar ao lado de Elsa Pataky, atriz de Velozes e Furiosos, e da filha India Jane, de 2 anos.
Bullevard
NÚMEROS DA SORTE
filmes-bomba Nem todo blockbuster se torna um sucesso de público. Aqui está um apanhado geral de falências no mundo do cinema
2 mil
O diretor Renny Harlin não agradou sua esposa, Geena Davis, com um papel em A Ilha da Garganta Cortada (1995). Mandaram trazer cavalos da Áustria, artesãos da Inglaterra, dublês da Polônia, 2 mil figurinos, 620 espadas e mais US$ 2 milhões para produzir réplicas de navios. O prejuízo total foi de US$ 80 milhões.
POr: ulrich corazza. fotos: corbis (3), picturedesk.com (3), getty images
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Tempo de gravação do filme: 18 dias. Custo: US$ 2 milhões. Bilheteria: US$ 30. Exatamente seis espectadores foram ao cinema em Dallas, no Texas, para assistir ao suspense independente americano Zyzzyx Road, com Katherine Heigl. Pelo menos conseguiram arrecadar US$ 368 mil com as vendas de DVD em 23 países.
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O Álamo: um fiasco
Joias brilhantes de ...
O megafracasso de Katherine Heigl
O galã de Sahara
120 mil ... John Carter
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1 800 figurinos, incluindo um vestido de noiva cravejado com 120 mil cristais Swarovski e mais de 2 mil efeitos visuais: cerca de US$ 250 milhões fazem da ficção científica John Carter: Entre Dois Mundos a quarta produção mais cara da história. Já a bilheteria nos EUA foi de apenas US$ 70 milhões.
20,4
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Em 2011, o filme Marte Precisa de Mães causou um desastre à Disney. No fim de semana da estreia, a animação conquistou US$ 7 milhões diante de US$ 175 milhões de custos. O problema foi o caro processo de captação de movimentos usado: o ator ficou seis semanas com uma roupa especial.
Mais de mil protagonistas participaram do filme Sahara (2005), incluindo Matthew McConaughey, que embolsou US$ 8 milhões. Do orçamento de 240 milhões, ficou uma dívida de 120 milhões. Mas parece que ninguém se importou com o desperdício: cortaram, sem a menor cerimônia, uma cena que havia custado 2 milhões.
Milhões jogados fora: A Ilha da Garganta Cortada Desastre: Marte Precisa de Mães, dos estúdios da Disney
A batalha decisiva no dia 6 de março de 1836, na qual 200 texanos confrontaram 1 800 mexicanos no Forte Álamo, durou seis horas. A filmagem da cena do massacre para o longa-metragem O Álamo (2004) durou mais de um mês – num set de 20,4 hectares, o maior da história do cinema americano. A produção de US$ 100 milhões conquistou só 22,4 milhões nos cinemas.
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u o S
o R io d de Janeiro
Há 20 anos, el e fo rmo u o Pl anet Hemp; há dez, fi co u co nheci do no mundo po r sua mi st ura de rap co m samba. Ho j e, Marcel o D 2 fa z parte da vanguarda da músi ca mo derna do Brasi l e co nt i nua a i novar. Sentamos co m el e pa ra to mar uma cer vej i nha num di a de so l no Arpoado r Por: Fe rnan d o Gu e iros
Fotos : Rob e rt Astley S parke
céu está claro no Rio de Janeiro. Marcelo D2 desce a pé o caminho de terra escura, úmida e batida que liga o bowl de skate do Arpoador à praia. “Agora vem a melhor parte”, diz, animado. “A hora da cerveja!” Ele segue com o sorriso tranquilo, vestindo regata, boné, calça e tênis, com a mochila pendurada por uma alça só, caminhando com o passo gingado da malandragem do Rio. “O carioca é propício para o rap por ser marrento naturalmente”, me diria mais tarde, entre umas e outras. Marcelo Peixoto, hoje com 44 anos, era camelô no Largo do Machado quando conheceu Skunk, um vendedor que lhe presenteou com uma fita do Miles Davis ao vê-lo com uma camiseta do grupo punk Dead Kennedys. O encontro foi o embrião do Planet Hemp, banda criada
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em 1993 e que marcou o hardcore e o hip hop do Rio de Janeiro e do Brasil, unindo elementos da música brasileira com os da estrangeira de maneira genuína, contestadora e à frente de seu tempo. A banda chegou, inclusive, a ser presa em 1997. “O Chico Science me falou uma vez, em 1995, que tínhamos que fazer uma coisa regional que fosse universal”, lembra Marcelo, sentado na mesa em frente ao hotel Arpoador Inn, em pleno calçadão do Arpoador, no final de tarde ensolarado de uma segunda-feira.
A
s cervejas descansam no balde de gelo enquanto o sol começa a se esconder atrás do Morro Dois Irmãos. Marcelo acaba de vir do estúdio, onde estava ensaiando com o grupo de hip hop carioca Cone Crew Diretoria, com quem irá fazer uma participação especial num show. Há poucos dias voltou dos EUA, por onde fez shows em Chicago (no festival Lollapalooza) e em Nova York, cidade na qual ficou um mês com uma loja itinerante que já passou por São Paulo e agora está no Rio de Janeiro – uma modalidade revigorada de divulgação de seu trabalho. “Preciso melhorar meu inglês”, comenta D2, com as sobrancelhas franzidas, se ajeitando na cadeira. “É sério, cara.” A preocupação tem cabimento, afinal o rapper faz shows nos EUA e na Europa há algum tempo. Depois do sucesso “Qual É”, do disco À Procura da Batida Perfeita (2003), D2 voltou a ser hit no exterior com “Desabafo”, do disco A Arte do Barulho (2008), que entrou na trilha sonora do filme de ação Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio (2011). Tudo isso sem falar nas turnês e no pioneirismo do Planet Hemp nos anos 1990. Seu último disco, Nada Pode Me Parar, que lançou em maio deste ano, vai mais fundo na busca por um rap com influências equilibradas de samba e R&B que nos leva a uma viagem pelo Rio de Janeiro dos dias de hoje. Marcelo está divulgando os clipes que fez de cada uma das músicas, viajando junto com sua loja, pensando na turnê e, de quebra, lançando o DVD do Planet Hemp. O garçom passa para completar nossos copos. O sol cai. “Mais um balde, por favor?”
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red bulletin: Como foi com o Planet no Lollapalooza? marcelo d2: Foi incrível porque a gente tocou em Nova York, no Central Park, e acho que mais da metade do público era brasileira. Aí, quando a gente chegou no Lollapalooza, em Chicago, tocamos para um público de umas 3 a 5 mil pessoas e os gringos gostaram mais que os brasileiros. O Planet é uma banda de hardcore, tá ligado? Acho que tem uma decepção daqueles brasileiros que botam banana na cabeça, se enrolam na bandeira do Brasil e esperam “Aquarela do Brasil”. O Planet é mais digerível hoje do que nos anos 1990? Quando a gente ia ensaiar antes, eu achava o Planet pesado pra caralho. Agora fui ver e não achei tão pesado assim. É engraçado porque, pra falar do assunto que a gente falava, na época dava até vergonha de tocar numas cidadezinhas de interior. Hoje em dia, não é mais tão tabu, depois de 15, 20 anos... “Legalize Já”, que levou a gente pra cadeia, não é mais tão tabu quanto era em 1993, 1997. Hoje você tem um apelo internacional que poucos artistas brasileiros têm. Como aconteceu isso? Ah, foi o samba, cara. O lance que abriu as portas legal foi fazer o meu rap com música brasileira. Considero que isso rola desde o Planet. No segundo álbum, já tem coisa pra caramba de música brasileira. Tem um lance em 1995, em abril, quando fui para Recife: nesse dia, o cara da gravadora veio com o disco impresso e foi a primeira vez que eu vi o disco na minha mão [o disco Usuário, o primeiro do Planet Hemp] e fui almoçar com o Chico [Science], Fred Zero Quatro, os caras do mangue beat. A gente estava querendo se afastar muito da geração anterior. Não dava para querer ser inglês ou americano. Ele falou algo que entrou na minha cabeça nesse almoço, que é fazer uma coisa regional mas que seja universal. O cara lá na França vai poder ouvir uma música que nem “À Procura da Batida Perfeita” ou “Qual É” ou “Desabafo” , e vai falar: isso é um rap lá do Rio. Sabe, nem de São Paulo ou Recife, é do Rio mesmo. E minha busca
Marcelo D2 à frente do Planet Hemp no festival Lollapalooza, em Chicago: “Tocamos pra 5 mil”
“No Lo l l apal o oza, os gri ngos gostaram mai s do que os brasi l ei ros. Ach o que tem uma decepção daqueles q u e botam banana na cabeça e esperam ouvir ‘Aquarela do Brasil’” the red bulletin
Foto: Theo Wargo/Getty images (1)
No bowl do Arpoador, no Rio, a galera parou para tirar fotos com Marcelo
foi sempre essa, fazer uma música carioca e contemporânea. Quero chegar num festival igual quando fomos lá na Suíça com gente do mundo inteiro, com cara da Espanha, Cuba, Jay-Z, Eminem, e o NAS veio falar comigo: “Demais aquela base, brasileira pra caralho, não sabia que dava pra fazer tão brasileiro assim”. Como você é recebido nos outros países, com um rap brasileiro e carioca? Tem uma cena de hip hop nos EUA que é mais underground, com o Mos Def, dessa rapaziada. Eles começaram a abrir a cabeça como os franceses, que conhecem pra caramba não só rap, a minha música, mas a música brasileira. O europeu sempre gostou muito de outro tipo de música e tal. O americano menos. Só ouve música em inglês, mas ultimamente tenho visto que eles têm dado mais atenção pro que vem de fora. Geralmente, os países mais quentes se identificam mais, Argentina, Espanha, Portugal, França... O carioca é propício pra rap por ser marrento naturalmente, o lance do samba. A marra tem uma coisa de rap. Todo carioca é meio rapper, aquele “Qual É, Cumpadi?”, mexe muito um com o outro na rua. “Coé barbudo, coé barriga, coé careca.” Todo mundo fala e zoa muito. A sua influência de samba vem desde pequeno, dos tempos de Andaraí? Tive uma família muito musical. A primeira vez que teve som mecânico em casa, eu devia ter uns 10 anos, meu pai chegando com um 3 em 1 que vendia no supermercado. Antes era batuque na cozinha literalmente. As mulheres na cozinha fazendo comida e os caras no quintal sentando a mão nas peles. Música ao vivo pra caramba. Lembro que televisão só teve em 1975, 76... Tinha falta de grana também, mas ninguém estava interessado em
ver TV ou ouvir música gravada. As pessoas estavam a fim de cantar. Essa tal interatividade que as pessoas falam hoje, os caras já pensavam naquela época [risos]. Neguinho queria cantar, bater lata... Só quando eu fiz uns 13, 14 anos é que comecei a andar de skate, me afastei desse samba e passei a ouvir punk rock, heavy metal. Não queria mais andar com meus pais. Era a galera do skate, era punk, queria cuspir, xingar, não dá para fazer isso na frente dos pais. Como era a sua relação com o skate? Comecei com 12 anos. O auge nos meus 20, por aí. Não jogava mais bola porque meu sonho de jogador já tinha ido pra cucuia. Fiz teste no Botafogo, na Portuguesa... Quando fiz teste na Portuguesa lá da Ilha do Governador e não passei, aí falei: “Ah, mermão, se não vou jogar na Portuguesa ‘pelamordedeus’, não quero essa vida”. Aí fui andar de skate. Foi o que formou meu lifestyle, minha maneira de vestir, de pensar no mundo. No universo do skate, se tu for ver, tem cinema, artes plásticas, tem música, atitude, roupa, é uma cultura completa. O que você ouve atualmente? Meus filhos falam que eu só ouço gente morta. Não ouço muita coisa nova não, é mais música antiga. Agora, neste momento, no meu iPhone, tá tocando hardcore pra caralho. Quando voltei a ensaiar com o Planet, comecei a ouvir umas coisas que
me inspira muito. Pra mim, o mais inspirador é o movimento Native Tongues, com A Tribe, De La Soul, Jungle Brothers. Aquilo foi o mais importante no rap, que começou a usar jazz, música regional e rock sem ser clichê. Como você faz para o seu público hoje, que é bem grande, entender essas referências de samba e jazz? Quando comecei a fazer rap, eu carregava discos para os DJs, porque eles eram os astros. Nessa época, o trabalho do DJ era levar esse tipo de informação. Lógico que neguinho quer ouvir os grandes hits, mas o DJ é que ia apresentar a música nova e tudo mais. Acho que tenho essa função hoje em dia. Uma vez, um molequinho de uns 8 anos veio falar pra mim que curtia meu som, e aí o pai dele veio: “A gente é de São Paulo e ninguém tinha conhecimento do João Nogueira, agora a gente ouve João Nogueira pra cacete por sua causa”. Acho que, de certa maneira, eu sou um comunicador. Quero vender disco, quero estar ao lado dos maiores, sabe qual é? Fazendo a minha música. Não é uma música descartável. Estou há 20 anos nessa parada ganhando disco de ouro, fazendo música que eu acredito. De certa maneira, esse trabalho, mesmo que o cara não entenda, fica no subconsciente. Depois de mais velho que você fala: “Caraca, Chet Baker!”.
“Cresc i m ui to com a q u e la co i sa de ‘t u tá se vendendo’. Tinha meu trabalho no me u g ueto e tin ha q u e dar um passo à fre nte. O Ra c iona is não q ui s i r no Faustão, a í e u f u i e ma ntive me u di scurso” eu não ouvia antes. Comecei a ouvir Fugazi, uma banda que eu achava interessante mas nunca tive na minha casa. Bad Brains, que eu sempre ouvi pra caralho. E tô ouvindo coisas de rap nova também, sabe? Tipo o disco novo do Kendrick Lamar... Aí, o resto é só música de morto: Chet Baker, Nina Simone, muito jazz e samba antigo. São esses sons que te inspiram na hora de criar suas músicas? Tem um momento no rap que cada vez mais eu me aprofundo naquilo. Quanto mais vai passando o tempo, mais eu vou voltando àquele lugar, que é o final dos anos 1980 e começo dos anos 1990. Seria uns dez anos de 1985 a 1995, aquilo ali 32
Você influência opiniões... Pro bem e pro mal [risos]. E hoje o Brasil vive um momento de protestos, querendo derrubar governador, reivindicar atitudes dos políticos... Achava que nunca ia ver isso. Incrível. A galera na rua. E não tem um líder, sabe? O ser humano tem essa coisa meio babaca de querer que alguém lidere e resolva o seu problema. Nesse momento não tem isso. Ninguém quer mostrar a cara. Eu tenho participado. Fui pra rua umas quatro vezes. Mas minha idade não dá mais, corre pra cá, corre pra lá, abaixa, levanta, joga pedra... Chego em casa e fico dois dias na cama. Tomei porrada da polícia, me mandaram deitar no chão e o caralho.
Você acha que vai mudar alguma coisa? Acho que já mudou. Se mudar um pouco, já é alguma coisa. Abrir a cabeça do povão, dos menos politicamente envolvidos, de que existe a possibilidade de mudança já é uma coisa. Só de saber o que é que tá acontecendo, quem tá lá em cima, como eles tratam as coisas. A grande mídia diz que tem 50 mil e o cara vai na rua e vê que tem bem mais que aquilo. Isso já é uma mudança. O cara passa a enxergar diferente o que falam pra ele, com muito mais desconfiança e filtro. Na verdade, o que as pessoas querem é que parem de roubar o nosso dinheiro. Nesse momento, você acha que sua música tem mais importância? Em Nova York, o cara falou: “Esse momento de protestos no Brasil te inspira?” Eu disse: “Faço isso há 20 anos”. Meu último disco tem “Eu Tenho Poder”, “Abre Alas”, uma porrada de música que fala de protesto antes dessas manifestações. Que disco você mais tem orgulho de ter feito? Disco é que nem filho. Quando olho meus discos, vejo uma fotografia daquela época. São momentos. À Procura... foi um disco muito importante na minha carreira porque eu estava começando uma relação nova com a mulher que estou desde aquela época. Aquela coisa de construir família, meu filho Luca nascendo, comprando casa [D2 tem quatro filhos: Stefano e Lourdes de outros casamentos; Luca e Maria Joana do casamento atual]. O À Procura... foi uma mudança porque teve o fim do Planet Hemp. Cresci muito com aquele disco porque tive que enfrentar a coisa dos fãs do Planet falando: “Porra, tu tá indo no Faustão, se vendendo pra mídia”. Mas eu sabia que meu trabalho era maior. Já tinha feito meu trabalho dentro daquele gueto ali com o Planet. Tinha que dar um passo à frente, passar aquele muro. Alguém tinha que fazer isso. Naquela época, o Racionais não queria ir no Faustão. No dia que eu fui, era o Racionais que tinha que ir. Fui meio que a segunda opção. Falei: “Quer saber? Vou lá, vou falar de maconha e tudo mais, sem mudar meu discurso”. Pra mim, isso é o meu trabalho. Acho que o À Procura... é importante por isso. Viajei o mundo por três anos com esse disco. Cheguei a fazer 59 shows em 85 dias na Europa. Quase acabou o casamento! [risos] Mas o que eu mais gosto agora é o Nada Pode Me Parar. Acho que tem um pouco do Eu Tiro É Onda, do À Procura..., do Meu Samba É Assim. Acho que cada vez estou me aprofundando. Confira os vídeos do último trabalho de Marcelo D2 em: nadapodemeparar.com.br the red bulletin
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Mágica de verdade Ian Ruhter tira fotos com um velho caminhão de entregas. O resultado é tão único quanto impressionante Por: Caroline Ryder Fotos: Shaun Roberts
Ian Ruhter comprou um caminhão de entregas e o transformou em câmera para produzir negativos em “colódio úmido prateado”
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No começo dos anos 1860, o fotógrafo Carleton Watkins fez negativos em 18” x 22” de Yosemite, imagens que convenceram Abraham Lincoln e o Congresso Americano a assinarem o projeto de lei de 1864 que transformou o lugar no primeiro Parque Nacional. Ansel Adams apareceu 100 anos depois, com suas férteis imagens do Half Dome que fizeram da fotografia ambiental uma forma de arte. Hoje, Ian Ruhter está na área com a que pode ser a mais singular câmera que aquelas encostas já viram. Seu modelo é um caminhão. E seu mecanismo é o interior humano. “Estou muito seguro que se trata da maior câmera que já esteve em Yosemite”, diz um habitante local que é conhecido pelo nome Yosemite Steve. É noite e nós podemos escutar a patrulha dos ursos circulando e fazendo barulho para afugentar qualquer animal que esteja por perto. Estamos sentados em torno de uma fogueira de acampamento, com o caminhão-câmera azul de Ruhter estacionado a alguns metros, parecendo-se menos uma câmera e mais um lugar para comprar sorvete ou tacos. Yosemite Steve, que também é fotógrafo e cinegrafista, admira Ruhter e sua espetacular câmera, que usa lentes do tamanho de uma bola para criar impressões do mundo exterior finamente detalhadas em enormes chapas de alumínio. O equipamento de Ruhter é basicamente uma versão em tamanho gigante da câmera de Watkins, usando a mesma técnica de “colódio úmido”. “Exceto que Carleton produzia negativos e Ian está fazendo positivos”, diz Yosemite Steve. 35
“Quero fazer obras únicas, como uma pintura”, diz Ruhter. “Especialmente nesta era em que tudo é produzido e consumido em massa. Gosto muito de uma fotografia. É só o que precisa.” Ruhter fala em um dialeto meio Yoda meio o gato de Alice no País das Maravilhas. Quando questionado sobre que horas planeja fotografar no dia seguinte, ele responde: “Entre o meio-dia e o meiodia e quinze. Ou duas e duas e treze. Ou cinco a seis. Ou você pode chegar à hora que quiser. Não posso garantir que estarei lá”. Risadas são ouvidas à sua esquerda, vindas do mimado protegido de Ruhter, Will Eichelberger, um fotógrafo de 23 anos e autoproclamado “nerd da arte” da cidade de Casper, Wyoming. Ele conheceu Ian Ruhter dois anos atrás, se sentou no caminhão do fotógrafo e decidiu que iria para a estrada com ele e fazer parte do seu assim chamado “American Dream Project”, um tipo de história visual com todas as imagens registradas pelo caminhão mágico. Zanzando pelo acampamento, Lane Power, também com seus 20 e poucos anos, é fotógrafo, cinegrafista e soldador. Ele ajudou Ruhter a customizar o caminhão, um antigo veículo de entregas que Ruhter comprou em Los Angeles há cerca de dois anos. Lane é o que fala de forma mais clara no trio, ajudando a preencher lacunas deixadas na biografia do seu mentor. Originalmente de South Lake Tahoe, Ruhter era um snowboarder
fotos adicionais: Ian Ruther (2)
‘‘ Nessa época em que tudo é produzido e consumido em massa, eu gosto mesmo é de fazer uma boa foto. É só o que preciso.’’
Na linhagem de Carleton Watkins e Ansel Adams, Ruhter faz fotos do parque de Yosemite, na Califórnia
patrocinado que começou a fotografar aos 26 anos depois de se aposentar do esporte. Sua tia o presenteou com uma velha Nikon SLR 35mm, e ele estudou revelação de fotografia numa universidade pública, trabalhando nas horas vagas em um cassino local para conseguir dinheiro para um equipamento melhor. Ele se mudou para Los Angeles e fez uma carreira de sucesso como fotógrafo comercial e de revistas, mas descobriu que sofria com esse ritmo de vida. Então ele deixou as fotografias e a cidade para morar em Lake Tahoe, colocando as economias de toda uma vida em um caminhão azul-claro. “Soube que tinha um cara que estava fazendo uma câmera gigante em Lake Tahoe”, diz Power. “Eu gosto de remodelar e construir coisas, então comecei a aparecer onde ele trabalhava. Para mim, Ian tinha essa coisa de Mágico de Oz, como o homem por trás do jogo. Me ofereci até que um dia ele deixou.”
Naquele momento, Ruhter ainda teria que fotografar com uma chapa com a qual ficasse satisfeito. Por cima, cada uma delas custa uns US$ 500. Na primeira vez que Lane saiu com Ruhter, para uma mina de prata abandonada em Nevada, foi também a primeira vez que ele conseguiu produzir uma imagem. “Eu nunca tinha visto o processo do ‘colódio úmido’ antes, fiquei abismado com os realces prateados e de como eles são bonitos”, diz Power. Isso foi em setembro de 2011. E qual é o objetivo? Ele dá de ombros: “Fazer o que quisermos quando quisermos.” Depois disso, Power, Ruhter e Will começaram a viajar, Power filmando suas viagens para uma série de documentários online que incluía o memorável Silver and Light, um curta-metragem que ajudou que Ruhter deixasse de ser “aquele cara com a câmera maluca” para ser um Thoreau do nosso tempo, com um culto se formando em torno dele no país inteiro. Toda a discussão do analógico versus digital é deixada para trás por Ruhter. Ele usa o Instagram, Facebook e tem um iPhone. Ele se vê como um fotógrafo contemporâneo, construindo uma ponte entre o passado e o futuro. “Vem aqui”, diz Ruhter no dia seguinte, puxando a lona preta na traseira do caminhão. Dentro do veículo a escuridão é total, exceto por uma imagem fantasmagórica e de ponta-cabeça em uma chapa. São as Cataratas de Yosemite e a Cooks Meadow, água caindo em tempo real. A imagem é preta e branca e incrivelmente nítida, uma cena ao vivo hipnótica que de alguma forma é mais bonita que a real do lado de fora. Como pode ser? “Porque nós estamos criando ela”, ele diz. Para Ruhter, 39 anos, que sofre de uma dislexia severa, essas fotos são a única forma que conhece de se expressar com clareza e confiança. Dentro do caminhão, Ruhter muda a chapa de lá para cá, focando a imagem. “Nesse momento, nós somos a câmera”, ele diz. “Nós somos os ajustes. Que viagem, né?” Quando ele está pronto para fazer uma foto (ele prefere o termo “fazer” a “tirar”), coloca nitrato de prata na chapa. É a prata que faz chapa ser sensível à luz, dando a qualidade reflexiva. Mais tarde, para comemorar, ele posa no alto de um precipício rochoso, mostrando os dentes na beira de uma queda de mil metros. Ele estende seu iPhone para alguém da equipe – “Quero só uma foto minha de pé na pedra, sabe?” – e depois compartilha no Instagram. “Agora é isso que está na moda.” Siga @ianruhter no Twitter, e ian_ruhter no Instagram
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Kings of Leon
De volta ao trono
Com o novo disco Mechanical Bull prestes a ser lançado, os primos e membros da banda Kings of Leon Jared e Matthew Followill falam sobre a vida sem música, o Twitter para solteiros e o segredo da felicidade eterna Entrevista: Andreas Rottenschlager
Você deu o nome da banda em homenagem a seu avô, Leon. O que o velho ensinou a vocês? jared: Muitas piadas e o segredo do bom casamento. Ele diz que as duas palavras mais importantes para um marido são: “Sim, querida”. Outra frase dele é: “Você quer ser feliz ou estar certo?” Ele é casado há muito tempo. the red bulletin: O que o Kings of Vocês se lembram da primeira músiLeon faz antes de uma apresentação? ca que os infectou com a doença jared: Nós formamos um círculo e do rock’n’roll? batemos palmas. Pura superstição. Se jared: A primeira que me deixou ania gente não faz, parece que falta algo. mado de verdade quando eu tinha Qual a regra mais importante 13 anos foi “Where Is My Mind”, para beber? do Pixies, do disco Surfer Rosa. jared: Não fique bêbado demais. matthew: Tenho uma bem menos Todos têm seu limite. legal. Quando eu tinha 9 anos, matthew: Não bebo nada antes escutei “More Than a Feeling”, do do show. Já estraguei alguns shows Boston... [cantando] More than por estar bêbado. Foi quando me dei a fee-eeling! E eu pensei: “Uau, conta de que tem que estar bem. que música!” jared: Já estraguei alguns shows por O Twitter é uma bênção ou estar sóbrio. Foi quando me dei conta uma maldição para roqueiros? de que “F... -se. Preciso beber mais!” jared: Comecei a tuitar quando era Quando você está no supermercado solteiro. As mídias sociais são ótimas quando se é solteiro. Esse foi o único e escuta “Sex on Fire”, pensa motivo pelo qual comecei a usar. “Legal, essa é nossa” ou “Caramba, Kings of Leon ao vivo: rituais pré-show e força total no palco Também dá a chance de corrigir estão tocando num supermercado”? rumores falsos. jared: Isso me deixa feliz. E, quando Suas famílias são religiosas. Qual pasalguém pega o último leite longa vida bem jared: Sem dúvida. E você pode ouvir sagem da Bíblia é a mais rock’n’roll? na minha frente, penso: “E daí? Sou eu os fãs enquanto planeja os shows. matthew: O Antigo Testamento! [risos] que estou tocando no rádio, filho da p...!” Quando algumas centenas de pessoas jared: O Antigo Testamento é bem brumatthew: Eu faria um solo de air guitar no Twitter dizem para você tocar uma tal. Acredito que a maior parte das relipara as pessoas que estivessem lá. determinada música, tem que tocar. giões prega a batalha do bem contra o mal. jared: Ouvir as próprias músicas no Você ainda fica adrenalizado no palco? Como rock star, a coisa que se aprende é: rádio é uma grande sensação. Especialmatthew: Sem dúvida. Quando todo trate as pessoas bem quando sua carreira mente quando você vai fazer compras mundo canta junto, posso sentir. está decolando porque essas são as mescom a mulher. É legal para impressioná-la. jared: Quando o público começa a canmas pessoas que você vai encontrar Qual é a melhor forma de fazer um tar ou as pessoas começam a pular, tenho quando estiver em decadência. disco novo: experimentar ou refinar um calafrio nas costas. E, quando uma matthew: Como compositor, dá para o som clássico? garota nas primeiras fileiras levanta encontrar grandes histórias na Bíblia. matthew: Gosto de experimentar e mua camiseta, aí sim fico bem adrenalizado. jared: Sodoma e Gomorra. dar coisas. Em Mechanical Bull nós temos matthew: Fico adrenalizado quando Vocês não tinham uma TV em casa cordas e guitarras metálicas. acerto um solo. quando crianças. Isso foi bom ou ruim? jared: Fala que você toca em “Wait for jared: Mas principalmente quando matthew: Provavelmente bom. Mas Me”. algumas garotas tiram a camiseta. meus pais eram divorciados – quando eu matthew: … www.kingsofleon.com queria ver MTV, ia para a casa do meu pai. jared: Ele não quer falar. Está tímido! 38
É um gravador? matthew: Mal dá para ouvir... é uma cítara. Como o Kings of Leon supera os bloqueios criativos no estúdio? jared: Tirando folgas. matthew: Ouvindo música sem parar. Todo dia. Depois de um mês no estúdio, eu chego a um ponto em que estou me debatendo. Então coloco minhas bandas favoritas – o novo do Wild Nothing ou do Thin Lizzy –, e daí as coisas voltam a fluir.
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Fotos: Dan Winters/Sony, getty images
Em uma suíte no Ritz-Carlton, em Viena, a capital da Áustria, Matthew Followill se atira no sofá de couro, exausto. O primo do guitarrista responsável pelo baixo, Jared Followill, esconde os olhos atrás dos óculos escuros Ray-Ban (“Jet lag, cara”) e acende um cigarro eletrônico. Faltam seis horas para o show.
Kings of Leon, em sentido horรกrio a partir de cima: Followills Matthew (guitarra), Jared (baixo), Nathan (bateria) e Caleb (guitarra e vocal)
Instinto animal Fotografar modelos vivos pode ser um negócio cruel, mas os de Franco Banfi podem atacar. O fotógrafo suíço fala sobre os perigos da vida debaixo d’água Por: Arek Piatek Fotos: Franco Banfi
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Bem de perto
Cara a cara com um tubarão-azul em pleno Atlântico, na costa do Arquipélago dos Açores
Gigantesca: Franco Banfi tira uma foto de uma anaconda de 8 metros
ubitamente, a foca-leopardo percebe o mergulhador. Deixando cair o pinguim ferido que estava perseguindo, ela volta sua atenção para o homem com a câmera. De forma assustadora, o predador de 300 kg se mexe em alta velocidade na direção do fotógrafo. Se quisesse, poderia matá-lo com apenas uma mordida. Para Franco Banfi, situações de vida e de morte como essa são apenas parte de seu trabalho diário. O suíço de 55 anos é um dos mais requisitados fotógrafos-mergulhadores. Em sua carreira de 30 anos, Banfi viu todas as mais perigosas criaturas dos oceanos e fotografou-as nos mais fechados enquadramentos: crocodilos, tubarões, lulas-gigantes, arraias... Sua motivação é simples: “Prefiro espécies que são difíceis de fotografar. Arrisco minha vida por isso”, ele diz. Banfi descobriu a fotografia nos mergulhos no início dos anos 1980. “Alguns amigos me convenceram a mergulhar no Lago Lugano”, ele explica. “O mundo debaixo da superfície me fascinou na hora.” Fotografia de mergulho – um meio de capturar esse mundo – se tornou a paixão de Banfi. Ele aprendeu sozinho 42
os aspectos técnicos e estudou também o máximo de espécies marinhas que podia. “Para ser notado como fotógrafo você tem que fazer o que ninguém fez antes”, diz. E foi isso exatamente o que ele se propôs a fazer, estabelecendo rapidamente seu próprio modus operandi. “Não saio clicando para fazer a foto por sorte; tento ganhar primeiro a confiança dos animais”, revela. “Quando monstros marinhos agressivos ou tímidos toleram sua presença, as imagens ganham uma dimensão inteiramente nova.” Aos 25 anos, Banfi vendeu sua primeira foto para uma revista de mergulho italiana. Aos 34, ganhou o campeonato mundial de fotografia de mergulho em Cuba. Desde então, suas fotos se transformaram em destaques de respeitadas revistas sobre a vida selvagem, como National Geographic, BBC Wildlife e Stern. A arte de se aproximar de um animal, diz Banfi, é uma mistura de ciência e experiência. “Cada espécie reage de forma diferente, mas existe uma regra de sobrevivência que quase sempre funciona: mostre respeito pelo animal, nunca medo.” Foi essa regra que salvou sua vida durante o encontro com a foca-leopardo: “Fiquei parado e mantive a câmera apontada para ela, que nadou para longe.” Mas sempre tem as exceções: “Quando uma sucuri fica agressiva, é melhor desaparecer”, conta. “Elas são primitivas e, assim que começam a atacar, não param mais.”
Franco Banfi tem 30 anos de experiência como fotógrafo e mergulhador the red bulletin
Dançando com a arraia
“Esta espécie gigante da costa da ilha mexicana de Socorro me aceitou depois de alguns dias. Coloquei minhas mãos nela e deixei que me puxasse pela água. Sua pele é áspera como uma lixa. Quando a deixo ir embora, ela volta e nós fazemos tudo de novo.”
Bocão
“Os crocodilos chegam a ter 2 metros de comprimento. Para se refrescarem durante o dia, eles abrem a boca na água e permanecem nessa posição. No Brasil, mexi com um deles durante um mergulho. Sempre pela frente, no entanto, porque estes animais gostam de morder para o lado.”
No olho do tubarão
“É um dos mais temidos animais do mar: imprevisível e com uma mordida poderosa o bastante para rachar cascos de tartaruga. Nós atraímos um deles na costa africana com sangue de peixe. Ele chegou muito perto: pode-se ver a sombra da minha câmera no seu focinho.”
No gelo com baleias
“Esta recebeu uma porção de prêmios. Foi feita no Mar Branco, na costa da Rússia. As baleias-brancas geralmente têm medo das pessoas, mas este macho curioso e brincalhão quebrou a regra. Ele chegou tão perto que eu tive que ficar empurrando para longe com a câmera para que pudesse acertar o foco.” 45
Alimentando os predadores “Para fazer fotos de tubarões, sempre é necessário segurar de longe uma isca para que eles possam sentir o cheiro, mas não alcançá-la. Em nosso caso, pedaços de peixe em caixas tipo jaula. Você para de clicar na mesma hora em que os predadores se aproximam. Nesta foto eu estou nas Bahamas, a 15 metros de profundidade, cercado por 25 tubarões-limão.”
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Caçando o impossível
“Ninguém conseguiu fotografar o nascimento de arraias na vida selvagem. Um biólogo marinho e eu acompanhamos esta fêmea grávida por uma semana no Atlântico, enquanto procurávamos evitar a ferroada mortal. Infelizmente, ela se afastou de nós. O que ficou foram as fotos do animal em sua incrível busca por um local de desova.”
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Atento aos sinais
“As baleias sabem quando você está nervoso, por isso é importante transparecer tranquilidade. Esta foto é o resultado da harmonia entre homem e animal. Eu já sabia que esta cachalote iria submergir, então fui na frente e tirei a foto enquanto ela mergulhava olhando para mim.” 50
Sucuri satisfeita
“Esta foto foi tirada no Pantanal. As sucuris esperam pela sua presa em um lugar seco – elas comem até mesmo crocodilos. Esta já tinha comido e mal percebeu que a gente estava lá. Mas de repente ficou incomodada e abriu a boca em minha direção. Foi o sinal para nossa retirada.”
Monstro envergonhado
“Lulas-gigantes podem agarrar os mergulhadores com seus tentáculos e arrastá-los para as profundezas. Esse colosso nos acompanhou até os 80 metros, mas com cautela. Quando o flash da câmera disparou, ela se afastou – e depois, lentamente, fugiu.” www.banfi.ch
DiGiulian escalando a rota “Jack of all Trades”, em Waterval Boven, África do Sul
O mais novo nome dos esportes radicais é uma universitária aspirante a escritora. Desvendamos as alturas e os dedos em carne viva da campeã de alpinismo Sasha DiGiulian p or : I a N M a c l e od f o t os : K e i t h Lad z inski
AR PURO
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L
ogo acima da copa das árvores, mas ainda perto de onde a luz do sol começa, a campeã de alpinismo Sasha DiGiulian se agarra na pedra do penhasco. Estamos numa manhã de inverno. “Agarrar” talvez não seja o verbo. A jovem norte-americana está equilibrada demais para esse termo. Está serelepe. De qualquer maneira, a ágil escaladora superou essa. Ela nunca fica em um lugar por muito tempo, e sua subida do Rodan – uma escalada que nenhuma mulher completou até hoje – não foi diferente. Um giro de tronco, o reposicionamento da ponta do pé direito e um puxão coordenado de seus apoios fazem com que ela dê mais um passo para a luz. Sasha DiGiulian encontra novos pontos para segurar com as mãos treinadas, pintadas de esmalte rosa e cobertas por pó de giz e cicatrizes. Praticamente imbatível como alpinista júnior, DiGiulian selou sua entrada no cenário sênior ao ganhar o campeonato mundial 2011 de alpinismo em Arco, Itália, aos 18 anos. Ela também é dona de três campeonatos americanos e é a melhor colocada do mundo como alpinista outdoor. Mas foi uma conquista aos 20 anos, fora de competição, que atraiu a atenção do resto do mundo. A conquista da inóspita e pontuda parede Pure Imagination, do Red River Gorge, no estado do Kentucky (EUA), em outubro de 2011, fez dela a primeira mulher a concluir uma escalada 9a. Quão difícil é uma escalada 9a? Mais de 50 mulheres já estiveram no espaço, por exemplo. E DiGiulian é uma das três únicas pessoas em todo o mundo com uma 9a no currículo. Ela é a mais nova entre elas. 54
“Realmente não sei do que sou capaz”, ela diz. “Mas gosto de descobrir.” E tudo isso aconteceu antes que tivesse início seu segundo ano na Columbia University. Por volta desta época no ano passado, a estudante de escrita criativa sabia exatamente o que queria fazer em suas férias de verão. Ela ouvia histórias daquele parque de diversões rochoso cerca de 290 km a leste de Johannesburgo, perto de Waterval Boven (“Acima das Cataratas”, em africâner), e de sua reputação. “Lá tem muitas superfícies e elevações”, diz. “Você também precisa de muito trabalho técnico com os pés. E eu nunca tinha usado tantos grampos, que são pequenos buracos onde você só consegue colocar alguns dedos ou as digitais.” Em cima da pedra marrom alaranjada, a cerca de 10 km da cidade, DiGiulian tem uma manobra a mais para completar antes de alcançar o ponto mais importante. Seus 13 anos de treinamento e competição fazem disso uma rotina. Seu corpo de 1,58 m sobe quase brincando. Quando criança, em Alexandria, no estado americano de Virgínia, Sasha praticou todos os esportes, desde natação
Entre as primeiras escaladas de DiGiulian estão as subidas do Bellavista, uma escalada de nível 5,14b (o mais alto entre os escaladores), nas Dolomitas italianas, e do Pure Imagination, de 5,14d, no Red River Gorge, Kentucky (EUA)
“Eu realmente não sei do que sou capaz. Mas gosto de descobrir.”
No recesso escolar de verão, DiGiulian viajou para a África do Sul para escalar umas encostas
e futebol até tênis. Mas foi outra de suas buscas da infância que a convenceram a se dedicar ao alpinismo. “Na época em que eu comecei a escalar, também participava de competições de skate”, conta. “Para praticar alguns saltos, a gente usava equipamentos de segurança como os usados nas escaladas. Mas eu lembro que todas as vezes em que eu colocava, tudo o que pensava era que preferiria estar nos treinos de alpinismo.” Com o sol africano cuidadosamente deslizando pela face da rocha, DiGiulian alcança um local de descanso em Rodan. Não dá para relaxar e desfrutar da vista, trata-se de uma pausa momentânea. Arjan de Kock, alpinista sul-africano de destaque internacional que faz o papel de anfitrião e parceiro de escalada nessa viagem, viu DiGiulian pela primeira vez aos 16 anos, em 2009, “realizando escaladas muito difíceis” na Espanha. “Acima de tudo ela é motivada, concentrada e muito pilhada pela vida. Agora ela também está com muita confiança de que pode ir até o limite. E essa sua paixão 56
também faz com que a escalada alcance um público totalmente diferente.” Depois de um ano sabático após a escola, durante o qual viajou e escalou, ela foi admitida na Columbia University, onde cursa escrita criativa com especialização em negócios. “Me vejo escalando pelo resto da vida”, ela diz, “mas tenho uma queda por marketing esportivo como algo que gostaria de fazer um dia.” Por enquanto, ela vive se equilibrando entre os esportes e os estudos. Quando está no momento “garota da cidade”, DiGiulian anda de bicicleta e corre para manter a forma. Cinco dias por semana ela visita a parede indoor de Chelsea Piers, em Manhattan. Quando seus estudos permitem, ela viaja para competir aos finais de semana. “A carreira de Sasha no alpinismo não parece dominar sua vida”, diz a colega de quarto Ariana Dickey. “Diria que Sasha tem o mesmo tempo que qualquer outro estudante para se divertir. E mesmo durante este verão, enquanto ela viajava pelo mundo, deu uma passada para me ver, saber como eu estava.”
Enquanto está em Nova York, DiGiulian treina no muro de escalada indoor em Chelsea Piers, além de correr e pedalar the red bulletin
“Pouco a pouco você se dá conta de que o que antes era impossível na verdade é possí vel.”
Em uma superfície rochosa isolada na terra onde se pescam trutas, não muito longe da fronteira oriental da África do Sul com Moçambique e o recluso Reino da Suazilândia, tudo isso parece ficar em outro mundo. Existe uma razão para que nenhuma mulher tenha conquistado Rodan antes. O corpo pequeno e ágil são pontos positivos para alguns movimentos, mas altura e força são muito importantes também. Mesmo Arjan de Kock passou perrengues por lá. E então VUUUUUSH… e por um momento a primeira do ranking feminino de escalada outdoor está pendurada, 10 metros acima de um precipício. DiGiulian deixa que a corda em torno de sua cintura se estique, trazendo suas costas mais uma vez para o conforto da rocha e amortecendo o impacto com a perna. Rodan venceu. Mas existem outras subidas para fazer. Enquanto caminhava entre escaladas durante uma manhã, DiGiulian avistou o que nomearia de “aquela orgulhosa e intimidante face escura que chamava a atenção. Não havia marcas de giz, mas a pedra estava projetada como se pedisse para ser escalada”. Ela e De Kock
consultaram os locais e viram um projeto deixado de lado em 2008, no qual havia sido dado o nome de “Overlord” (Soberano), mas que ainda não tinha sido conquistado por ninguém. “Era tão bonito que pensei: ‘Por que não tentar?’ ”
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verlord é um teste mais difícil que Rodan. Dividido violentamente ao meio por uma protuberância, exige muita flexibilidade, trechos de escalada por fendas e uma boa dose de deslizamentos diagonais em superfícies íngremes. Por três dias a dupla voltou para prestar sua reverência ao Overlord. “Foi uma experiência nova”, explica DiGiulian. “Quando você está fazendo uma escalada que ainda não foi concluída, sempre tenta trabalhar uma parede se ela permitir. De certa forma, percorrê-la pela primeira vez é como montar um quebra-cabeças. Aí você percebe que o impossível é possível.” Depois de três dias de um processo que incluiu muitas escorregadas e passos lentos, o Overlord foi conquistado. “EU CONSEGUI!” foi a proclamação de DiGiulian nas redes sociais. Logo em seguida, chegou o fiel Arjan, o segundo na escalada inédita, concordando em classificá-la como uma 8c – tecnicamente pouco atrás da melhor de Sasha, uma 9a, mas em um território ainda inexplorado. Uma tradição do alpinismo manda que o primeiro a concluir uma escalada inédita tem o direito de escolher seu nome para sempre. DiGiulian aproveitou a chance para homenagear uma das mais importantes figuras do país, que estava no hospital a duas horas de carro dali. “Dei o nome de ‘Rolihlahla’ ”, anunciou. “É o nome do meio de Nelson Mandela. Ele é um dos maiores homens da história, é comovente estar aqui em um momento tão crítico para o país.” A tradução desse nome é “Agitador”. “Gosto dessa provocação”, prossegue DiGiulian. “Você está ali se arriscando a sofrer quedas perigosas. É um agito! Você sobe e faz uma bagunça na pedra, subjugando a gravidade e o medo. É uma forma de rebeldia.” Ao ir embora, DiGiulian para e observa Rodan, a única escalada que ela não conseguiu. “Essa vai ficar para a próxima vez que eu voltar aqui.” Veja Sasha na internet: www.sasha-digiulian.com
the red bulletin
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espAço Dois dinamarqueses estão trabalhando em um programa espacial particular. Dentro de cinco anos, um deles entrará em órbita a bordo do foguete que construíram
Por: Bernd Hauser Fotos: Uffe Weng 58
foto adicional: Bo Tornvig
Caubóis do
Peter Madsen (à esqu.) e Kristian von Bengtson em Copenhague: os responsáveis pela construção do foguete espacial. O lançamento do HEAT 1X, de fabricação própria, foi feito no Mar Báltico: “Somos supersônicos”
“Tenho mais medo de morrer sozinho em um asilo do que a bordo de um foguete caseiro�, Peter Madsen 60
p
eter Madsen coloca uma foto de sua esposa Sirid no painel de controle. Um auxiliar fecha a escotilha por fora. Madsen dá um tchauzinho e seu coração bate forte. Contagem regressiva: “Três, dois, um, zero!” – e então são acionados quatro motores do foguete.
Duzentos mil cavalos pressionam Peter com uma força de 4G contra seu banco. Isso representa quatro vezes o peso de seu corpo. “Esse é o meu melhor momento”, é a frase que passa por sua cabeça. Peter entra em órbita na ponta de seu foguete caseiro HEAT 1600. Essa cena passa muitas vezes por sua cabeça quando se deita de noite em um colchão debaixo da mesa de trabalho. Algumas horas de sono e um café de máquina mais tarde, ele continua seu trabalho no galpão HAB (Horizontal Assembly Building) da empresa Copenhagen Suborbitals, que Madsen fundou em 2008 com seu parceiro Kristian von Bengtson. Quando esse sonho se tornará uma realidade? Em quatro anos? Em cinco? Madsen terá 50 anos... Mas o projetista e empresário tem a certeza de que o sonho se tornará uma realidade. O HAB é um simples galpão de ferro localizado em um estaleiro abandonado nos arredores de Copenhague. Aqui, Peter Madsen solda, martela, perfura e bate para construir seu sonho. Por que aqui e não na Nasa? “A Nasa trabalha com muitas empresas que constroem propulsores. Eles me enviariam para trabalhar em uma empresa como a Pratt & Whitney Rocketdyne. Lá eu seria uma pequena peça de uma grande engrenagem. Isso não me faria feliz e seria desastroso. Na nossa empresa, a Copenhagen Suborbitals, eu que tomo as decisões e posso construir um foguete a partir do zero, em vez de ser responsável por apenas um detalhe. Quero pôr a mão na massa, criar o projeto e depois voltar a soldar. Eu amo isso!” O arquiteto espacial Kristian von Bengtson trabalhou para a Nasa, mas renunciou porque todos os seus projetos acabavam no lixo. No programa de viagem de volta à Lua, chamado Em 2008, Peter Constellation, ele projetou e Kristian criaram a empresa Copenhagen os interiores da nave espacial, Suborbitals. O objetivo porém foi encerrado pelo era construir um fopresidente dos EUA, guete a partir do zero. Barack Obama. À esquerda: desenho Quando Kristian estava do estudo da cápsula cansado de apresentações com assento. Energia recheada de tecnologia no PowerPoint e modelos
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Na vida, Peter nunca teve problema com aquilo que muitas pessoas temem: ser ridicularizadas pelos outros
Credit:
teóricos, leu em um jornal sobre Peter Madsen que o mesmo tinha construído o maior submarino particular do mundo e que seu próximo projeto seria ir pessoalmente para o espaço num foguete. Kristian ficou fascinado e se reuniu com Peter em sua casa, que na época era o Nautilus – um submarino de 34 toneladas construído por ele. Submarinos são como cápsulas espaciais: recheados de tecnologia, com um escudo protetor para enfrentar um ambiente hostil. Kristian tem uma certeza: somente com
o Peter ele conseguiria realizar seu sonho. Eles trocaram ideias e fizeram planos: Peter garante que o foguete chegue a 100 km de altitude e Kristian assegura que Peter sobreviva ao voo. Como eles planejam um voo suborbital – uma viagem de 15 minutos pelo espaço –, batizaram o programa de Copenhagen Suborbitals. As primeiras tarefas são claras. Peter cuida da construção do foguete e Kristian da cápsula e dos paraquedas. Para começar, os dois compram chapas e placas de cortiça. “A cortiça é um isolante térmico fantástico”, diz Kristian. “Ela suporta mais de 1000 graus Celsius.” Em junho de 2010, o Nautilus reboca a primeira plataforma de lançamento, chamada de Sputnik, para o Mar Báltico. Em cima da plataforma está o primeiro foguete, o HEAT 1X, com 9 metros de comprimento, 2 toneladas de peso e capacidade de atingir 16 km de altitude. Na microssonda no topo do foguete está Rescue Randy, o manequim que se vê pela cúpula de acrílico. Depois que o fogo queimar, Rescue Randy deve retornar com segurança à superfície da água por paraquedas. A unidade de acionamento contém 500 litros de oxigênio líquido que serão jogados no bloco de 500 quilos de borracha especial, onde serão incendiados. Nos barcos que acompanham o lançamento estão a imprensa nacional e internacional, prontas para registrar o evento: “...três, dois, um, zero”. E nada acontece. O foguete não se move. O oxigênio líquido, refrigerado a 183 graus negativos, congelou uma válvula. A pilha do secador de cabelo, comprado por € 10 no supermercado, morreu. Ele que deveria ter mantido a válvula funcionando. Mas não são só os homens-foguete que recebem críticas. Tem muita gente envolvida no projeto: pessoas físicas doam
Em um galpão de ferro no porto de Copenhague (à dir.), Peter trabalha seu sonho. Em 2018, ele quer entrar em órbita a bordo de seu foguete, porém, até lá, o boneco Rescue Randy (abaixo) fará os voos de teste
dinheiro; empresas patrocinam aço, equipamentos e combustível para novas experiências; o clube de apoiadores tem 300 membros, cada um pagando € 13 por mês. Semanalmente, Peter posta os progressos no blog Ingeniøren. Leitores dão conselhos e profissionais se apresentam no HAB para oferecer ajuda com frequência.
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o verão seguinte, a plataforma de lançamento, feita de antigos trilhos de trem, é levada novamente para o Mar Báltico. Na segunda tentativa com o HEAT 1X, 25 mil leitores do Ingeniøren acompanham o evento pela web. O canal de televisão dinamarquês TV2 envia um helicóptero e uma equipe de reportagem para cobrir o evento ao vivo. O motor é acionado, e já na contagem “um”, os espectadores veem um rastro de fogo e o foguete sendo lançado ao céu. O público que acompanha o lançamento de dentro do planetário de Copenhague não consegue mais ficar sentado. Eles gritam, batem palmas, levantam as mãos. Depois de dois segundos, Peter, observando o Mar Báltico, comenta: “Somos supersônicos”, usando jargão da Nasa. Mas, de repente, o foguete dá uma guinada como um fogo de artifício e chega apenas a 2,8 km de altura e não aos 16 km planejados. O paraquedas da microssonda não abre direito e Rescue Randy, dentro de sua microcápsula, cai com força na água. Quando a equipe resgata o tubo de aço, verifica que está muito danificado: um homem não teria sobrevivido a esse acidente. No entanto, ninguém tira uma com a cara deles. O número de membros do clube de apoiadores sobe para 450. Por que o foguete não funcionou na primeira contagem regressiva? “Provavelmente foi um contato elétrico defeituoso”, diz Kristian. Por que funcionou na segunda contagem regressiva? “Então, esse é o problema dos contatos elétricos: às vezes a corrente flui.” No verão de 2012, Peter e Kristian testam um assento ejetável para uma nova cápsula espacial,
em forma de cone truncado. Em junho de 2013, um passo decisivo: a guinada do HEAT 1X mostrou que os foguetes precisam de um controle ativo. Assim, o novo foguete de teste de 4,5 metros, chamado Sapphire, terá quatro lemes feitos de cobre abaixo do motor. Um programador do grupo de apoiadores trabalhou meses num software que controla o trajeto de voo do foguete 500 vezes por segundo e vai corrigindo-o constantemente por meio dos lemes.
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Quando finalizou o primeiro de seus três submarinos e queria apresentá-lo, havia uma multidão no cais, repleta de técnicos e engenheiros. Um deles gritava: “Você fez curso de solda?”. Peter respondeu “Sim!”, e o homem gritou de volta: “Você foi reprovado?” Peter diz que “o cara tinha a intenção de magoar”. Até hoje Peter Madsen já fez mil mergulhos com seu submarino. Ele e Kristian vivem seus sonhos e o de muitos outros: atualmente, a Copenhagen Suborbitals tem 40 voluntários e 800 apoiadores. Muitos são engenheiros e técnicos, e quase todos precisam conciliar com seus trabalhos do dia a dia. “A gente, no entanto, faz todos os dias o que quer fazer”, diz Kristian. “Quando eu posto no blog notícias sobre o nosso projeto, escrevo em uma linguagem técnica”, diz Peter. É a sua maneira de conquistar o leitor: “O que realmente fascina é a poesia dessa missão absurda”. Às vezes, Peter não suporta o barulho e as pessoas que trabalham no HAB. Então ele passeia pelo estaleiro. Entre o asfalto e as ruínas de concreto, brotam flores. Abelhas voam sobre elas. Seu barulhinho parece uma máquina. As abelhas têm um corpo grosso e asas pequenas. É incrível que elas consigam voar. Mas elas voam.
Acima: ajudantes alçam componentes do foguete Sapphire. Abaixo: o fundador da empresa, Peter Madsen: “Aqueles que nos apoiam são fascinados pela poesia dessa missão absurda”
www.copenhagensuborbitals.com
foto adicional: Copenhagen Suborbital
ais uma vez a equipe está no Mar Báltico, agora apoiada pelo Vostok, um antigo navio de resgate alemão, que funciona como centro de controle. (Peter havia postado no blog que precisava do navio. Em poucos dias arrecadaram € 40 mil em doações para comprá-lo.) O Sapphire dispara em direção ao céu, em linha reta, perfeita. Assim que ele ameaça sair da rota, os lemes o trazem de volta ao trajeto em uma questão de milissegundos. A 1239 km por hora, o foguete atinge 8,3 km de altitude. “Um grande sucesso”, comemora Ingeniøren. Por que o paraquedas novamente falha e o foguete afunda no Mar Báltico? A equipe está trabalhando em um novo mecanismo de liberação. A próxima meta, para o verão de 2014, é integrar o controle ativo no HEAT 2X, um foguete de 3 metros que já está sendo feito no HAB e que deve ter um motor de 200 mil cavalos de potência. O HEAT 2X não tem mais motor híbrido com borracha especial – agora trata-se de um foguete líquido, alimentado por álcool e oxigênio líquido. O foguete é um modelo 1:03 do projeto final do HEAT 1600, uma cópia do foguete V2 do pioneiro Wernher von Braun. Esse foguete, que levará Peter ao espaço, deverá ser lançado no verão de 2015, inicialmente com Rescue Randy a bordo. Em 2018, Peter quer estar sentado na cápsula. Em toda sua vida ele nunca teve problema com aquilo que muitas pessoas temem: ser ridicularizado pelos outros. “Criar um teatro. Navegar ao redor do mundo.” O medo do fracasso afasta as pessoas. “Não fazemos nada que consideramos arriscado economicamente ou pessoalmente.” Mas, no projeto do foguete, Peter até arrisca sua vida: “Aos 40 anos de idade, muitos se convencem que têm um trabalho chato, uma casa chata, uma mulher chata. Eu tento não ficar entediado. Tenho mais medo de morrer sozinho em um asilo do que a bordo de um foguete caseiro”. Os pertences pessoais de Peter cabem em dois sacos plásticos. Ele abandonou a faculdade de engenharia mecânica e vários outros cursos. Antes de casar com Sirid e morar com ela (e ela fazer uma tatuagem de uma cápsula espacial no braço), viveu em oficinas e em submarinos. Peter nunca quis fazer carreira. Ele queria só construir submarinos e (especialmente) foguetes, porque os considera míticos e bonitos pela sua força titânica.
“Depois do nosso primeiro encontro, fomos direto para a loja de ferragens. A cortiça é um isolante térmico fantástico”, Kristian von Bengtson
Preparativos para o lançamento do foguete Sapphire em junho de 2013: “Todo dia a gente faz aquilo que quer fazer”
Como uma águia Shane McConkey morreu fazendo o que amava fazer. Para sua viúva, Sherry, esse fato é o que a faz seguir em frente
foto: www.carroux.com
Por: Ann Donahue
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Shane McConkey e Miles Daisher pulam de BASEjump de um bondinho em Whistler, Canadรก
“Não é possível que alguém fale que aquele homem não era um marido incrível e um pai amoroso”
A verdade dura e fria é que em março de 2009 Shane McConkey – um inovador nos esportes de aventura, pioneiro da mais nova modalidade de saltos com esquis – morreu aos 39 anos quando seu equipamento falhou durante um salto nas montanhas Dolomitas, na Itália. Aos 41 anos de idade, Sherry se tornou viúva e com uma filha de 3 anos para criar. De origem sul-africana, Sherry é uma fortaleza compacta e ágil: vive em Squaw Valley e acompanha atletas feridos em acidentes de esqui no seu processo de reabilitação com ajuda da ioga. Seu nome próprio é Scheherazade, devido à herança persa e em honra à famosa contadora de histórias das Mil e Uma Noites. Ela usa um colar com diversos pingentes – um é o anel de Shane e outro tem a inscrição com uma frase atribuída a Leonardo da Vinci: “Uma vez tendo experimentado 68
voar, caminharás para sempre sobre a Terra de olhos postos no céu, pois é para lá que tencionas voltar”. Para Sherry, os quatro anos desde que seu marido morreu têm sido de um borrão sombrio, com dois momentos de grande clareza: primeiro, quando percebeu que precisava controlar o luto como forma de dar exemplo à filha, Ayla. E segundo, o de que apesar dos altos riscos que seu marido assumiu na carreira, ela tinha que provar o amor inquestionável de Shane por sua família. the red bulletin: Como você está lidando com o documentário? sherry mcconkey: É difícil, mas eu sei que bem no fundo é o que eu quero, é o que Shane iria querer e eu quero que Ayla tenha algo realmente incrível. Eu sabia que demoraria e que seria muito duro. Não superei a perda ainda. E é porque isso está bem na minha cara o tempo todo e é uma lembrança constante. Mas não é uma coisa ruim. Sempre me recordarei dele, goste disso ou não. Quando Shane morreu, primeiro ouvi muitas observações negativas, comentá rios online do tipo: “Como ele poderia ser um bom pai? Como ele poderia amar você se ele foi fazer esse tipo de coisa?” Aí eu ficava sentada remoendo isso na cabeça. Não é possível alguém sair [do filme] e dizer que aquele homem não era um pai amoroso e um marido incrível. Ayla viu o filme? Ela viu as partes relacionadas a ela e a nosso casamento; ela dá risadinhas de prazer e eu fico atrás dela tipo... [faz uma mímica de choro]. Foi duro para ela e é muito difícil para mim chorar na frente de Ayla. Sabe, a gente é muito ligada. E você deve lembrar de como era ver seus parentes chorarem, você enlouquece. É horrível – e eles não choram. E, quando choram, é por algo sério. Mas uma amiga me disse que às vezes é bom para ela ver essa emoção e como amo Shane. Então, quando ela viu o filme, falei: “Preciso te contar, eu vou chorar, pois é muito difícil para mim. Tenho saudade do papai”. Dava para notar que era desconfortável para ela, mas ela entendeu. E, depois da cena que ela aparece, corta para a Itália e ela disse: “Eles vão mostrar o papai the red bulletin
fotos: Brigitte Sire, Ulrich Grill/Red Bull Content Pool
S
herry McConkey se lembra de uma conversa que teve com o marido, Shane. Foi um daqueles momentos numa relação em que as perguntas são rápidas e firmes e a sede por detalhes – não importa quão pequenos nem quão bobos – é da mais absoluta importância. “Quando você morrer, como gostaria de voltar à vida?”, Sherry perguntou. A resposta de Shane foi instantânea. “Como uma águia”, disse. Naquele momento, Sherry soube tudo o que precisava saber sobre Shane McConkey. Porque ela quer reencarnar como uma águia, também.
McConkey mudou o esqui livre com seu design inovador. Depois de escolher o BASE-jumping como hobby, ele se tornou o primeiro esquiador e BASE-jumper do mundo
morrendo?” E é claro que não mostram. Mas foi muito sofrido mesmo assim ver as preparações para o último salto. Foi uma grande conversa. Fiquei paralisada pensando que eles fossem mostrar, sendo que não era necessário. Mas a coisa transcorreu da melhor forma. Na minha opinião, preferiria não ter visto a saída [para o salto] pois aqueles foram seus últimos momentos. Não é divertido ver. Sou sua mulher e, obviamente, vou odiar assistir. Mesmo que todo mundo pense que é tranquilo, ainda assim vou detestar. Mas a filmagem é bonita, o cenário, foi isso o que aconteceu. Em seu último instante, ele fez um double flip. Confiei nos diretores, se eles achassem necessário, mas eles tinham que parar onde eu queria parar. E me escutaram. Como foi a estreia de McConkey no festival de Tribeca? É aquela ansiedade de ir para Nova York – mais do que nunca na minha vida. Era como se eu estivesse indo para um casamento e um funeral ao mesmo tempo. Eu estava animada porque parte de mim avançaria, mas também é um capítulo 70
que se encerraria. E eu estava tão ansiosa para que as pessoas vissem o Shane da forma que queríamos. Eu vi diversas vezes, mas estava com muito medo de assistir na frente de todo mundo. Eu só tinha visto com alguns amigos, mesmo assim tive que parar. Foi muito difícil. Tinha uma rota de fuga se quisesse sair, tinha meus amigos em volta e... foi simplesmente uma paulada. Olhei em volta em determinado momento, obviamente chorando – e todo mundo também chorava. Eu pensei: “Todo mundo vai chorar nessa parte, porque é triste e é lindo também”. O filme vai ser exibido em várias salas dos EUA. Você vai acompanhar alguma dessas exibições? Não sei até que ponto posso ver esse filme. Estou muito feliz por Squaw. É minha família e eles estão tão felizes de ver o filme acontecer, deram um incentivo tão incrível nestes anos todos. Eu também queria vê-lo em uma grande cidade, não apenas em uma vila esportiva como aqui. Uma mulher se levantou do filme em Nova York e disse: “Agora eu vou viver minha vida”.
fotos: Brigitte Sire, Christian Pondella/Red Bull Content Pool
“ Uma mulher saiu da sessão e disse: ‘Agora vou viver minha vida’. Era isso que a gente queria.”
A vida e a carreira de McConkey é contada no documentário McConkey, disponível para download no iTunes. Na foto menor: Sherry McConkey
fotos: Red Bull Content Pool
AÇÃO McConkey teve sua première mundial no festival de Tribeca, em abril, na cidade de Nova York. Para mais informações, acesse: mcconkeymovie.com
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Shane na telona Para os atletas que conheciam Shane McConkey, o documentário sobre sua vida foi um olhar incisivo sobre a entrega de alguém a uma paixão – apesar do preço que pode custar
Charles Bryan (direita) Paraquedista, BASE-jumper “O filme foi uma experiência ótima. Não conhecia o Shane esquiador, como a maioria das pessoas conhecia; a gente era amigo no paraquedismo e no BASE-jumping. Soube de sua fama e influência no esqui mais tarde. É uma realidade triste, a dos perigos dos esportes aéreos. A de todos os esportes, na verdade.”
Miles Daisher (esquerda) Paraquedista, BASE-jumper “O filme me deixou bastante emocionado. Foi bom rir do seu humor insano e relembrar alguns grandes momentos de nossa vida. O fim foi trágico. Você sabia que aconteceria mesmo sem conhecer Shane, como mostra logo no começo do filme.”
É isso que nós queríamos. Esse homem incrível era tão engraçado e brincalhão. Ele não ligava para o que as outras pessoas pensavam. O melhor não é nem o fato de que era um atleta incrível – sua personalidade era muito contagiante. Como você e Shane se conheceram? Eu o vi pela cidade, mas não o conhecia. Ele era esquiador, eu era uma snowboarder – públicos diferentes. Começamos a andar de bicicleta juntos e então foi inevitável. A gente se divertia, ele era muito engraçado. Um palhação que me fazia rir. Ele era famoso. Isso foi estranho? Ele nunca foi famoso para mim. Via seus filmes ou via ele nos saltos e dizia: “Uau!”, mas ele não me parecia famoso. Era humilde – bem, não humilde, mas ele sabia do que era capaz. Era sua paixão. Ele não era metidão. É o que ele amava fazer e isso transpirava naturalmente. Acredito que ele é mais famoso agora. Um dos meus momentos favoritos do filme é quando você faz seu primeiro BASE-jump. No meu primeiro salto eu estava muito assustada, mas foi muito bom. Queria ir de novo, então saltei mais algumas vezes. É o tipo do esporte em que você realmente quer ser um bom paraquedista. Você quer muito ser um daqueles atletas ligeiros que você idealiza, que pensa as coisas rápido. Acho que é melhor começar quando se é jovem e tem mais coragem. Eu comecei quando tinha 35 anos, o que é muito. Então pratiquei paraquedismo e fiquei um pouco mais confortável com isso – e então fui nocauteada. [Risos.] E hoje eu não consigo mais. Sem chance. Depois da morte de Shane, por que você deu início à Shane McConkey Foundation? A princípio eu só queria realizar alguma coisa no aniversário [de sua morte]. Senti muita pressão – as pessoas olhavam para mim e diziam: “O que você vai fazer?” E foi uma oportunidade de levantar fundos e estimular a conscientização. Fizemos
“ Todo mundo vai chorar, porque é triste e lindo” 74
Sherry McConkey e Pedro, seu cachorro, em Squaw Valley, Califórnia
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Chris Davenport (direita) Esquiador “Contar a história de qualquer vida, mesmo que seja curta, é uma tarefa difícil. Shane era um brincalhão e amante das coisas divertidas, o filme é bem-sucedido mesmo que seu falecimento e a história por trás dele sejam tristes. O espectador é lembrado que se divertir na vida é da mais absoluta importância.”
JT Holmes (direita) Esquiador, BASE-jumper “É um grande tributo e um triunfo, considerando a tarefa desafiadora de fazer justiça à vida e ao legado de Shane. Claro, havia muito material para trabalhar na história, já que o conteúdo é convincente, mas as expectativas daqueles que o conheciam eram extremamente altas. É para se orgulhar desse filme.”
3P: Scott Gaffney Amigo de longa data de Shane e codiretor da produtora de vídeos de esqui MSP Films, ele é um dos diretores de McConkey
fotos: Brigitte Sire (1), Red Bull Content POol (3), Action Images (1)
the red bulletin: Quais
the red bulletin
foram os desafios de pesquisar todas as imagens de Shane McConkey em ação? scott gaffney: Sou ridicularizado pelos outros caras da MSP Films por ser nerd e saber tudo de filmagem. Mas por acaso eu estava presente como cinegrafista em cerca de 80% da carreira de Shane como esquiador... Sei o que aconteceu, onde e quando e quais foram suas emoções. Mas os BASE-jumpers também são nerds de câmeras – se Shane e outros três caras fossem pular de uma antena, três deles provavelmente estariam com câmeras nos capacetes. Então, demorou um tempo, mas eu sabia o que significaria muito para ele e o que era apenas mais uma filmagem. Como você trabalhou com sua mulher, Sherry, na criação do filme? Queríamos que Sherry desse a última palavra. Suas entrevistas obviamente deram um conjunto ao filme. Ficamos muito orgulhosos porque ela ficou bem impressionada com o resultado final. O que a estreia de McConkey no Tribeca significou para o filme? Só de ter sido aceito foi a afirmação de que Shane era alguém que merecia atenção fora do mundo esportivo. A gente é meio excluído por sermos “viciados em adrenalina”, embora Shane constantemente rejeitasse esse rótulo. O que ele fazia significava muito mais para ele.
uma daquelas coisas que ele gostava de fazer: levar um Mickey para esquiar com todo mundo fazendo bobeira, sem levar a vida tão a sério. É uma competição, um downhill com esquis, o que é ridículo, e todo mundo se fantasia. Como meninas da dança do ventre, ou prostitutas, ou tudo junto. [Risos.] É uma ocasião de gala; é superdivertido. Nós demos início a equipes sustentáveis nas escolas daqui, quero fazer mais eventos de conscientização ecológica na região. Parece bem cansativo. É um emprego full-time que não paga nada. [Risos.] Para mim, é como prolongar minha dor, mas não acredito que algum dia conseguirei superar. E por que deveria? Eu o amava. Ele era minha alma gêmea. Quero que Ayla veja que tanto seu pai quanto sua mãe eram pessoas apaixonadas por este mundo, e eu quero continuar fazendo isso. Ele deu tanta coisa para mim. E não foi apenas amor e companheirismo, foi coragem de fazer coisas que eu nunca tinha feito. O que você aprendeu sobre o luto? A única forma de superar esse luto, obviamente, foi Ayla. Quero ser uma mãe forte e mostrar a ela que seu pai me deu a coragem de fazer as coisas que precisava fazer. E esportes. Se eu não tivesse minha mountain bike, não sei o que seria de mim. É com ela que posso sair e deixar fluir toda minha raiva ou ficar sozinha algumas horas e ver como o mundo é bonito. Não tenho mais o Shane para brigar [risos], então tenho que extravasar em uma volta de bike. Você vai bastante no túmulo dele, no Squaw Valley? Squaw deu a ele o Ninho da Águia [rebatizando o difícil circuito de esqui em sua homenagem], e isso foi bem apropriado. Nós tínhamos essa ligação com as águias – a gente conversava: “Quando morrer, como você gostaria de reencarnar?” E nós dois dissemos: “Como águias, claro”. Você pode levantar voo e planar. Não poderia ter uma homenagem melhor. A mais bela vista de uma de suas montanhas favoritas. Tirei fotos de uma águia-real lá em cima sentada. Subi lá no dia do seu aniversário e tinha águias-reais voando. É tão estranho. Nunca tinha visto elas lá em cima antes. E agora vejo o tempo todo. www.mcconkeymovie.com
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foto: Simon Palfrader
O barco de corrida Fendi 8 LFF8 na UIM Offshore Powerboat Grand Prix, em Istambul, Turquia
ACELERANDO NA
ÁGUA A vida no limite no campeonato mundial de lanchas Por: Noel Ebdon
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As lanchas roncam seus motores pela água no começo da corrida, com o Victory 3 abrindo na frente
A CORRIDA DE LANCHAs offshore class 1 é A MAIS ALTA Categoria da modalidade
A fotos: Raffaello Bastiani, Philipp Horak
meia-noite se aproxima no primeiro dia de corrida e os boxes ainda fervilham. Mecânicos e integrantes das equipes se empurram, alguns carregando peças de reposição para as máquinas de performance, outros carregando partes desgastadas pela corrida que precisam ser lavadas para tirar a água salgada. Componentes descartados estão espalhados pelo chão. Não é Fórmula 1. Faltam menos de 12 horas até a segunda corrida do UIM Offshore Powerboat Grand Prix, em Istambul, na Turquia, e o barco Victory 3 tem os dois motores removidos. Pouco antes, o barco, com seus dois pilotos, o condutor Arif Saif Al Zafeen e o acelerador Mohammed Al Marri, caiu fora na primeira das duas corridas do fim de semana, danificando motores e dando um grande trabalho para a equipe Victory, de Dubai. “Essas coisas acontecem. A gente segue em frente, mesmo com Mohammed tendo sofrido um choque na cabeça”, disse Al Zafeen após o acidente. “Se conseguirem consertar os motores, a gente volta na segunda corrida.” Os boxes, conhecidos também como “boxes molhados” nessas corridas, estão localizados em uma bem-acabada área da marina. Essa é uma corrida de lanchas offshore Class 1, a mais alta categoria dessa modalidade. De cima de um guindaste que levanta os barcos, um cara de barba por fazer observa a loucura com jeito de quem gostaria de estar na cama.
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Em sentido horário, a partir da direita: a equipe Abu Dhabi se acidenta; os mecânicos da Victory fazem checagens de última hora; o motor de 8,2 litros V12 da Fendi Racing; um membro da equipe aperta os cintos de segurança de Giovanni Carpitella, da Fendi Racing
O BARCO PODE TANTO voar E rodar na superfície
O Victory 3 necessita de reparos em sua estrutura, ainda que o casco tenha aguentado bem ter sido arremessado com toda a força. Ambos os motores precisaram ser reconstruídos, e todas as partes que sobreviveram à transformação precisam ter a água do mar retirada. A equipe terá uma longa noite pela frente. Por todos os lados, mecânicos da Fendi Racing estão sentados em cadeiras de armar, tomando uma gelada em celebração ao barco que está preparado, limpo e arrumado, pronto para o dia seguinte. Esses caras sabem que poderiam ser eles que iriam varar a noite trabalhando. O mar não escolhe o lado quando faz suas vítimas na água, quando há colisão em alta velocidade. O oceano não é nem um pouco fofo. Ele pode ser tão duro quanto o concreto e, depois de ter destruído seu meio de transporte, ainda vai tentar te afogar. O segundo barco da Fendi Racing terminou em terceiro na primeira corrida, de forma que os responsáveis têm direito a uma bebidinha de comemoração. Sob holofotes erguidos às pressas cercados por mariposas esvoaçantes, os mecânicos 80
da equipe Victory realizam reparos. Um engenheiro de software aparece no cockpit do barco para fazer ajustes nos equipamentos eletrônicos.
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ós podemos baixar todos os dados do motor para um laptop a fim de descobrir onde estamos indo mal e o que os motores estão fazendo”, afirma Stephen Phillips, um engenheiro eletrônico da equipe Victory. “Mas nós conseguimos isso apenas antes ou depois da corrida, porque eles baniram a telemetria ao vivo alguns anos atrás para tentar manter os custos baixos.” A cabine é úmida e cheira a suor molhado. Os assentos, com o do piloto na direita, são bem próximos uns dos outros, separados apenas por uma barra central de sustentação que se estende pela cabine. No casco, à frente e ao lado de cada assento
há uma escotilha. Dentro dela, parece mais um tanque do que com um veículo de alta performance. Os controles são: duas telas mostrando informações de GPS, algumas chaves, um volante como o de um carro de corrida e dois aceleradores de mão. Não há nada ali que não precise estar ali. Esse é o tipo do lugar em que a maioria das pessoas não quer passar mais que alguns minutos. A corrida de lanchas é um esporte glamouroso, sexy, em que os pilotos testam suas habilidades uns contra os outros em perigo extremo, mas participar é um trabalho cheio de dureza, calor e desprazer. A corrida de lanchas não é um esporte para os jovens. A maioria dos competidores já passou dos 40 anos; muitas de suas companheiras femininas não têm essa idade. Os homens, como as mulheres, estão no local simplesmente pela emoção do esporte. A adulação e os prêmios são ambos relativamente pequenos. Os patrocinadores de alto nível não estão nesse esporte. Algumas equipes são como brinquedos de homens ricos; outros são bancados por entidades de turismo nacionais. the red bulletin
fotos: Philipp Horak (3), Raffaello Bastiani
DA ÁGUA COMO PEGAR UMA ONDA E CAPOTAR
the red bulletin
Os barcos têm uma velocidade máxima de 128 nós (255 km/h). O casco está quase que completamente fora d’água pela maior parte do tempo. Se a potência for muito pequena, o barco não vai ficar sobre a superfície; se for demais, ele vai virar o bico para trás. “Manter o barco na inclinação certa é crucial”, diz Ragesh Elayadeth, gestor da equipe Victory. “Se conseguir fazer com que o barco corra nesse equilíbrio, então você está no caminho certo para vencer.” A potência é controlada pelo acelerador, que usa dois aceleradores de mão. Eles estão conectados a cabos que se enredam embaixo da cabine, os quais por sua vez estão conectados a dois motores V12 grandes, escondidos debaixo do convés do barco, cada um capaz de produzir 850 hp. O condutor toma conta da direção. Ao fazer conversões, o timoneiro pilota de forma fechada o bastante para contornar a curva, enquanto o acelerador também usa os motores gêmeos para ajudar o barco na curva. Se os dois pilotos não estiverem em sincronia um com o outro e com o veículo, o barco pode tanto virar, 81
OS NÚMEROS DA CORRIDA DE LANCHA COLOCAM O ESPORTE ENTRE OS MAIS PERIGOSOS DO MUNDO
A ação rolou perto das pedras em Istambul. O Victory 3 (abaixo), de Dubai, foi o campeão, já o Team Abu Dhabi (esquerda) terminou em sétimo
fotos: Simon Palfrader, Philipp Horak, Raffaello Bastiani
pulando e girando na superfície da água, como pode pegar uma onda e capotar.
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o domingo da Corrida 2, o céu está mais limpo. Dez minutos antes do início, os pilotos colocam seus coletes salva-vidas e se jogam para dentro das cabines. As escotilhas são abertas e trancadas. Os motores de arranque começam a roncar. Uma lancha é projetada de forma que a cabine permaneça intacta no caso de um acidente, mas o que acontece na vida real e o que foi projetado nem sempre são a mesma coisa. Quando comparada com outros esportes de velocidade, esta corrida é uma das mais perigosas do mundo. Desde 1972, 25 pilotos morreram em the red bulletin
corridas de lancha assim, incluindo quatro acidentes que mataram dois homens e um no qual três morreram. No mesmo período, 16 morreram na Fórmula 1, seis dos quais durante GPs. No mar em frente à marina, os barcos rumam para a linha de largada. Com as lanchas, o som é como o de uma turbina em baixa velocidade, diferente da F1. Quando a bandeira abaixa, o rugido das máquinas é alto. A aparência dos barcos faz com que pareçam malvados. Nos primeiros momentos da corrida, eles quicam na água. O barco Victory 3 parece estar correndo sem problemas. Os mecânicos estão tomando baldes de café no trailer da equipe. De repente, o barco da equipe Abu Dhabi capota, ficando de cabeça para baixo no meio do circuito. Toda a tripulação está bem, saindo pela escotilha de emergência no fundo do barco. A corrida é interrompida.
É GRANDE E PERIGOSO. DINHEIRO É A PRINCIPAL EXIGÊNCIA PARA PARTICIPAR
“Estamos bem”, diz o condutor Faleh Al Mansoori, enquanto caminha para dentro dos boxes, sem dizer mais nada. Capotagem é apenas mais uma das muitas maneiras de afundar US$ 1 milhão no mar em uma corrida de lanchas. Tem também a “submarinagem”, que é quando o barco decola antes de mergulhar de bico. É tão forte que pode muitas vezes separar o convés do casco, feito uma lata de sardinha. Depois do recomeço, o Victory 3 acelera para primeiro. Fendi chega em segundo com os vencedores da primeira corrida, a equipe Hub Australia, em terceiro. As corridas de lancha em alto-mar são grandes, perigosas e elitizadas. O dinheiro é a principal exigência para participar. Por esse motivo, provavelmente vai se manter para sempre como um esporte de nicho. Mas é isso que o torna interessante. Ele é mais restrito que a F1, mas é também mais atrelado à corrida do que ao circo como um todo. De volta aos boxes, a parte superior foi removida de um dos blocos de motor da Abu Dhabi, e um mecânico está dando partida no motor à mão, fazendo jorrar uma cascata de água para fora. Um mecânico carrega uma peça quebrada da lataria para fora da área de consertos. “Outra noite longa”, ele diz. A última etapa da temporada 2013 do mundial de powerboat vai acontecer em Dubai, nos dias 5 e 6 de dezembro: www.class-1.com
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FAÇA VOCÊ mesmo
Um skatista profissional troca seu shape por uma betoneira e se enfia, por quatro meses, num porão empoeirado onde não bate luz. Essa é a forma mais extrema do “faça você mesmo”? É pura loucura? Ou as duas coisas?
U
m tranquilo bairro residencial em Viena, igual a qualquer outro de periferia de uma grande cidade europeia. Uma discreta casa em frente a um jardim de infância. Tem vasos de flores no pátio e bicicletas encostadas. Nos fundos está um belo jardim. Do lado de dentro, um corredor estreito leva a um porão no andar de baixo. O ar parece estar parado e a luz praticamente não consegue entrar. Um buraco estreito vai até o andar de baixo. De repente, você está no meio de uma incrível pista de concreto, um verdadeiro underground de skate. 84
Por: Mike Mandl Fotos: Philipp Schuster
Johannes Wahl fazendo um transfer backside tailslide
AtĂŠ para pequenos reparos Elias Assmuth usa o material pesado
A partir do topo, à esquerda, em sentido horário: foram utilizados aproximadamente 800 metros de concreto. Modelar as rampas exigiu muita precisão, pois cada desnível interfere diretamente na session; Elias Assmuth afia o metal: foram mais de seis meses de construção; Frido Fiebinger conseguiu fazer um fingerflip to tail; atualmente, esta obra no porão é a única no mundo e já se tornou lendária
O desafio não é somente andar de skate: “É sobre o que você faz com o seu potencial”
Aqui, o skatista profissional de Viena, Philipp Schuster, realizou um sonho com seus amigos. O lugar fica tão bem escondido e é tão abstrato e complexo que até skatistas acostumados a andar em bowls precisam de um tempo para absorver a realidade underground. “Muita coisa aconteceu nos últimos meses”, diz Schuster, com orgulho. O inverno é longo na Europa Central. Isso é bom para quem curte o esqui, mas ruim para a galera do skate. Nem todos podem viajar aos países ensolarados para andar. Philipp Schuster pode – porque vive do skate – mas também não dispensa um bom lugar em casa “para curtir com os amigos, andar de skate e alimentar a alma, pois são seus amigos que te fazem ser quem você é”. Um desses caras é John Wahl, inquilino da casa e “descobridor” do porão, que passaria por uma transformação inimaginável depois de ter servido como armazém de carvão.
O
porão tem 5 metros de largura, 10 de comprimento e 7 de altura. A ideia era criar um lugar para andar de skate durante o inverno. Quais eram os obstáculos? Toneladas de entulho e todo o lixo que normalmente se acumula num porão ao longo de anos. Só tinha uma solução: “Faça você mesmo”. O “faça você mesmo” (conhecido como DIY, de “do it yourself”) é uma cultura onde os esforços de amadores criam algo novo com habilidade e improvisação. Embora o resultado nem sempre seja tão bom quanto um produto pronto, certamente é mais vivo e humano. A motivação por trás de fazer com as próprias mãos foi em parte a diversão e em parte a criatividade. No entanto, para Schuster, o DIY é a alma do skate, sendo o começo de tudo – e continua assim até hoje. A história nos diz que, em algum momento, surfistas tiveram a ideia de parafusar rodas de patins à prancha de madeira
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Os primeiros skatistas também andavam em pisos irregulares: “Você usava o que tinha disponível”
para poder surfar no asfalto nos dias sem onda. Além disso, os primeiros skates eram feitos por surfistas em suas garagens. No começo, tinha a criatividade e a vontade de fazer as coisas com suas próprias mãos. E, assim, surgiram os primeiros parques de skate e half-pipes, um processo de tentativa e erro com sucessos, excessos e falhas. “Mas o skate sempre se levantou, e por conta própria”, diz Schuster. “Faz parte errar uma manobra, juntar forças e tentar tudo de novo.”
N
o inverno de 2011, foram reunidas as primeiras ideias para o porão do skate. Schuster se lembra: “Já que vai dar trabalho, deve valer a pena. O porão deveria ser algo exigente e desafiador, mesmo depois do passar do tempo”. Então, por que não um bowl feito de concreto, versátil e duro? Mesmo com as infinitas possibilidades, eles resolveram explorar livremente as ideias do grupo, que conhece
De cima para baixo: Elias Assmuth, Johannes Wahl, Philipp Schuster, Matthew Collins e Frido Fiebinger. Por mais diferentes que sejam as personalidades e histórias dos criadores do porão, o skate os mantém unidos e expande seus potenciais
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Trabalho em primeiro lugar: Frido Fiebinger carregando o cimento (esq.). O resultado? A paisagem mais underground possível para uma sessão de skate
bem as facetas do skate ao redor do mundo. Rapidamente, Schuster e seus amigos definiram o planejamento. O que levou mais tempo foram os trabalhos preparatórios. “Tente tirar dezenas de metros cúbicos de entulho de um buraco de difícil acesso. Esse foi bem difícil”, diz Schuster. Muitas horas de leva e traz de entulho. E isso foi só o começo: se são necessários dez dias para desentulhar um porão, ainda tiveram mais dez para preenchê-lo novamente. Em outono de 2012, voltaram a trabalhar durante o dia depois de passar o verão ao ar livre. Foram toneladas de cimento e cascalho, vergalhões, arame, madeira, uma betoneira, ferramentas e muita motivação. “Sem a motivação, você não consegue descer todo esse material da rua para dois andares no subsolo”, lembra Schuster. “Sem ela, você também não aguenta o tranco, especialmente num inverno com pouquíssimo sol. Nossos amigos acham que somos loucos.”
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equipe tinha cinco pessoas, cada uma com uma habilidade diferente. A jornada de trabalho era diária, por até 14 horas, muitas vezes em turnos. Tinha que se considerar tudo, da desidratação da piscina à cura prolongada do concreto – um porão frio e úmido tem aspectos peculiares para uma construção como essa. Schuster diz que é preciso ter nervos de aço. “Depois de horas e dias sem luz do sol, em condições físicas extremas, você logo percebe seus limites. Além disso, a concretagem tem uma baixa tolerância a erros.” Foi preciso esquecer um pouco do habitual perfeccionismo na execução da obra. Os primeiros skatistas também andavam em pisos irregulares: “Você usava o que tinha disponível”. Andar de skate também significa adaptar-se – estar aberto às possibilidades é inevitável. Para Philipp Schuster este é o verdadeiro ato criativo que define o DIY na prática: “Depende de você e da sua vontade de fazer e curtir”. É por isso que ele também não lamenta que algumas partes do bowl do porão ficaram mais duras do que o esperado. Na entrada e saída, por exemplo, tem uma subida íngreme seguida por 70 centímetros na vertical e, para concluir, uma transição: “Você precisa de muita velocidade para passar pelo buraco, que é a entrada e a saída da piscina. Só tem um desnível no começo da ladeira, que faz com que seja extremamente difícil”. “Skate no Porão” se tornou uma exposição de fotos. Saiba mais em: redbull.com.br/skate
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Som na caixa: um teclado que é uma capa de iPad ao mesmo tempo. MÚSICA, página 96
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V I AG EM / EQ U I PA M ENTO / TR EI N O / M Ú S I CA / FESTAS / C I DA D ES / BA L A DAS
Velocidade no gelo Voar baixo com um supercarro pelos lagos congelados da Finlândia é um novo patamar no prazer de dirigir
Foto: ARNAUD TAQUET
MALAS PRONTAS, página 94
Sem limites: deslize pelo gelo em uma Lamborghini Gallardo
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Jason McCaffrey é diretor de surfe da Patagonia (o melhor emprego do mundo)
Chega de neoprene surfe As roupas de borracha da Patagonia são fabricadas com materiais vegetais
CAMINHADA Feito a partir de materiais recicláveis, o Earthkeepers GT tem a tração e a estabilidade necessárias para caminhar nas piores condições
Com a meta de reduzir a quantidade de neoprene, um material nocivo ao ambiente presente na roupa de banho clássica, a Patagonia trabalhou por quatro anos com a Yulex, uma empresa do Arizona (EUA) que extrai a borracha natural do guaiúle, um arbusto do deserto. O resultado: uma wetsuit de alta performance, feita 60% de borracha não sintética e biodegradável. Qual o único porém? Tem um cheiro parecido com o do eucalipto – o que tem seu lado bom na hora de deixar dentro do carro. “Fiz o ‘teste da Pepsi’ com nossos surfistas”, disse o diretor de surfe da Patagonia, Jason McCaffrey. “Mandei a nova roupa sem dizer nada. E eles disseram: ‘É, veste bem. A boa e velha...’ ” McCaffrey não esperava por um elogio maior.
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Depois que a Patagonia teve sucesso em popularizar sua roupa ecológica, o protótipo R2, eles convidaram o resto da indústria para começar a usar o yulex com o objetivo de erradicar o neoprene em alguns anos. Eles conseguiram. E o melhor está por vir: a meta é tornar as wetsuits do futuro 100% recicláveis.
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BALADA Club Maximus: a pista ferve até o sol nascer atrás das muralhas de Kotor
Monte negro wood Três filmes para entrar no clima do país
Modelos e iates
Por: florian obkircher. Fotos: Radoje milic (4)
KOTOR fica na costa de montenegro, já é chamada de “A nova Mônaco” e atrai endinheirados do mundo todo Batidas de house, raios laser, dançarinas seminuas e uma pista de dança cheia de top models. Isso não é uma piada. Uma noite na balada mais estrelada em Kotor promete agito em todos os seus sentidos. A Maximus é a força noturna do nobre porto da costa montenegrina. Nobre porque, a partir de 2014, Kotor terá mais atracadouros para superiates do que Mônaco: 50 no total – e isso também não é uma piada. A balada fica atrás da muralha medieval da cidade que, em 1979, se tornou patrimônio mundial pela Unesco, o que deixa a diversão ainda mais intensa. Antigamente, essas paredes de 2 metros de espessura protegiam Kotor dos otomanos. Hoje, elas garantem que os vizinhos não reclamem do barulho. MAXIMUS Stari Grad 433, Kotor, Montenegro www.discomaximus.com
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O Príncipe das Sombras Uma história de amor com belos pores do sol, filmada em Montenegro no período antes da guerra. É o primeiro papel de Brad Pitt como protagonista.
Pernas torneadas no palco, batidas de house music, raios laser e modelos na pista
Pegação Aprenda três frases para se dar bem na noite de Kotor
1 Seus olhos têm a cor do meu Porsche.
007 – Casino Royale O filme mais conhecido de Montenegro não foi filmado lá. Quando Craig percorre Kotor, ele na realidade estava sendo filmado na República Checa e nas Bahamas.
Tvoje ocˇi imaju istu boju kao moj Porše.
2 Eu perdi o meu número de telefone. Você me dá o seu? Izgubio sam svoj broj. Mogu li da dobijem tvoj?
3 Eu não te conheço? Você parece a minha próxima namorada. Da li se znamo, jer puno licˇiš na moju buduc´u djevojku?
Smash & Grab Documentário sobre uma quadrilha internacional de ladrões de joias com raízes na Sérvia e Montenegro. Em mais de 500 roubos, levaram cerca de US$ meio bilhão.
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MALAS PRONTAS Numa fria: a 100 km/h numa Lamborghini Gallardo num lago gelado na Lapônia
Não fique de bobeira Aonde ir na Lapônia
Curta Quer ainda mais adrenalina? Salte num ski-doo e acelere por uma floresta em busca do esplendor do Polo Norte. www.experience-isosyote.fi
Deslizando no gelo DIREÇÃO GELADA Alguma vez você já se perguntou por que os finlandeses vão bem nos esportes motorizados? Para eles, deslizar no gelo com uma Lamborghini é brincadeira de criança
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Coma O frio faz parte do dia a dia no Polo Norte
FIQUE ATENTO Frio como o gelo
“É preciso ficar de olho no tempo”, avisa Daniel Eden. “Assim que você chega à Lapônia, o frio vem com tudo. Pode chegar até a -40°C. Mesmo que nós mandemos informações sobre como se preparar, ainda tem gente que aparece de camiseta no aeroporto. Somos esquimós.”
Pronto para briga
“Todo motorista deveria tentar”, diz Frank Scheelen. “No gelo, você pode acelerar o carro com segurança e descobrir quais são seus limites. Você aprimora as técnicas. Agora sei o que fazer em qualquer situação.”
Para se alimentar como os finlandeses, é preciso comer carne de rena. Ravióli de rena, pescoço de rena frito ou um simples bife de rena. www.monterosa.fi
Explore Para uma folga no ronco dos motores, pegue um trenó puxado por huskies e explore as geleiras em silêncio quase total. www.visitrovaniemi.fi
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Por: Ruth Morgan. Fotos: Arnaud TAQUET, Juha Kankkunen Driving Academy, Shutterstock
Enquanto crianças sonham com uma viagem à Lapônia para conhecer Papai Noel, adultos são levados a um frenesi similar pela ideia de ir até lá para dirigir a 100 km/h no gelo. Não que crianças sejam proibidas de mudar do Papai Noel para supercarros. “No ano passado, tivemos um garoto de 11 anos dirigindo uma Lamborghini”, diz Daniel Eden, proprietário da D1 Ultimate-GT, uma organizadora de passeios motorizados. “Não existe nenhuma norma ou lei em circuitos de lagos gelados. Qualquer um pode pegar o volante.” Mas são os adultos quem normalmente fazem as manobras. “Já dirigi muitos carros de corrida e de alta performance ”, diz o empresário alemão Frank Scheelen, que viajou à Finlândia no ano passado, “mas é aqui que você aprende a levar o carro até o limite. Não tem obstáculos no lago e eu ainda tive o tetracampeão mundial Juha Kankkunen ao meu lado dando conselhos enquanto dirigia. Então, o carro foi uma sala de aula.” “O Porsche 911 é ótimo, você literalmente desliza. Mas o mais divertido é a Lamborghini Gallardo. Ela é muito potente. Você precisa ter reflexos rápidos para parar o giro dela a 100 km/h, mas Custa a partir de é assim que a adrenalina pega. € 3 569 (mais taxas) para uma estadia de Você realmente sente a potência três dias all-inclusive do carro. Foi uma experiência para testar os nervos. Sei que não incluindo um dia inteiro no circuito vou encontrar a liberdade de diriwww.ultimate-gt.com gir assim em nenhum outro lugar.
AÇÃO!
EM FORMA
Agachadas PRONTO PRO GOLFE O italiano de 20 anos, Matteo Manassero, é uma jovem estrela do golfe mundial que foca em agachamentos para garantir músculos fortes e rápidos, além de pilates para treinar a flexibilidade
Por: Ulrich corazza. Fotos: GETTYIMAGES, Chris Garrison/Red Bull Content Pool. IlustraÇÃo: Heri Irawan
Em 2010 Matteo Manassero se tornou o mais jovem vencedor do European Tour Events. Em 2013 ele ganhou o BMW PGA Championship
Em dezembro e janeiro, Matteo Manassero se prepara fisicamente para a temporada desgastante de cerca de 25 torneios. “O treino deve incluir exercícios de resistência e de força”, diz ele. “O mais importante no golfe são músculos fortes e rápidos, especialmente nos quadris e nas pernas. Eu foco em poucas repetições, umas oito, em explosão”. Para garantir a estabilidade do tronco e a flexibilidade, Manassero completa as séries com pilates e alongamento. O mais importante, antes de uma partida de cinco horas de golfe, é se alimentar corretamente. “Me acostumei a comer um pouco de bresaola [carne curada ao ar seco] com arroz.”
A tensão corporal adequada é essencial para Matteo Manassero
Ab dô m en , pernas, glúteos “Duas coisas são importantes no golfe: tronco sólido e pernas com músculos fortes e rápidos. Portanto, todos os meus treinos incluem agachamentos explosivos e diferentes exercícios de pilates”
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https://twitter.com/ManasseroMatteo
Q u estão d e tr e i n o Dicas para encaçapar
Pés alinhados com o ombro (apontado a 30° para fora), barra apoiada sobre os ombros, inspire durante o agachamento. Não incline o quadril para a frente
Na sequência, voltar do agachamento expirando, levando ligeiramente o peito para cima, curvando um pouco as costas. Não esticar totalmente os joelhos
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tá na grama
Qual é a fórmula para reduzir o número de tentativas de putt? “Precisa ter convicção de acertar a bola no buraco e muito treino. Minha rotina inclui 15 minutos de exercícios técnicos, 20 minutos de putts a uma distância de 1,2 m e, para finalizar, a uma distância de 6 m.”
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Elevar as duas pernas, dobrar os joelhos a cerca de 90°, levantar o tronco do chão. O queixo vai em direção ao peito e as mãos tocam a batata da perna
Esticar as pernas e ao mesmo tempo colocar as mãos em movimento circular atrás da cabeça, contrair os músculos da barriga. Repetir o exercício 15 vezes
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Ação!
Música
Pop Quiz Jack Johnson, 38, é músico, surfista e produtor de filmes
Qual músico fez qual quadro?
A música e o mar: Jack Johnson se sente bem nesses dois ambientes. Aos 17 anos, ele se classificou para o campeonato mais cobiçado do Havaí (sua terra natal), o Pipeline Masters. Foi quando se tornou o finalista mais jovem da história. Mas, em vez de seguir carreira profissional no surfe, foi para a Califórnia estudar cinema e fazer música. Aí bombou. Seus cinco álbuns com canções folk e acústicas, com clima de verão, já venderam 15 milhões de cópias. Para a divulgação de seu novo trabalho, From Here to Now to You, Jack Johnson, 38 anos, revela quais são as músicas que o inspiram.
Nos ouvidos do surfista Playlist Jimi Hendrix o transformou num guitarrista, Fugazi o fez entender o punk: Jack Johnson fala sobre as músicas de sua vida
Bob Dylan está com quadros em exposição na National Portrait Gallery, em Londres. Mas ele não é o único músico a explorar o mundo dos pinceis.
a
Trechos de músicas e datas da turnê em: www.jackjohnsonmusic.com
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1 Jimi Hendrix
2 Fugazi
3 Michael Kiwanuka
Quando eu era um menino, muitas vezes fui acampar com meu pai. Sempre levava o walkman com a fita do álbum Electric Ladyland, do Jimi Hendrix. Ouvia todas as noites para dormir, especialmente essa música que acho incrível. Os sons estranhos que Hendrix tirava de sua guitarra pareciam tão mágicos que eu também resolvi tocar.
Durante minha adolescência, no Havaí, tinha só uma boa estação de rádio que eu ouvia todos os dias. Uma vez tocou essa música e eu achei muito louca! Selvagem, cheia de energia e tão simples que me fez ter certeza de que também conseguiria tocá-la se eu ligasse o amplificador bem alto. Criei a minha primeira banda por causa desse som.
Eu amo a voz do Michael Kiwanuka. Ela me lembra a de caras como Bill Withers e Otis Redding, mas ainda assim tem uma sonoridade única, especial. E nessa música ela se destaca muito, é muito bonita. Eu o conheci na Austrália. Eu vi em um show fascinante e quis conhecêlo em seguida. Foi aí que vi que ele é um cara muito legal.
4 Tame Impala
5 Violent Femmes
Há quatro anos, um cara na Austrália me deu um CD: Tame Impala. Durante o resto de nossa turnê era a única coisa que ouvia no ônibus. Esses australianos são inexplicavelmente bons na maneira como reproduzem o som psicodélico dos Beatles conseguindo deixá-lo atual. O segundo álbum, Lonerism, é ainda melhor.
Quando eu tinha 12 anos, meu irmão me fez uma mixtape com várias músicas do Violent Femmes. Essa música eu ainda gosto de tocar nas passagens de som, ela é bem calma e muito boa. Essa banda me influenciou na juventude como nenhuma outra, mostrando que é possível expressar a energia do punk com um violão acústico.
“Rest”
d
“Good Feeling”
Patti Smith, Marilyn Manson, Paul McCartney,
Tec las m i lag r o sas Gadget do mês
Miselu C.24 Eis a maneira de deixar o iPad interessante para os músicos que vivem na estrada. O C.24 é um teclado de duas oitavas que se conecta via Bluetooth com o iPad e, ao ser dobrado, serve como capa protetora. www.miselu.com
96
c
Kim Gordon ou Bob Dylan?
the red bulletin
Por: florian obkricher. Fotos: universal music, rex features (4), picturedesk.com (3), reuters, getty images
“Feels Like We Only Go Backwards”
“Waiting Room”
Respostas: a) Patti Smith b) Bob Dylan c) Paul McCartney d) Marilyn Manson
“1983 (A Merman I Should Turn...)”
ação!
Na agenda
C u rtas e boas
Concreto e floresta: o Rocky Man exige versatilidade
o melhor de novembro
2
sábado
paralamas Uma das bandas de rock mais importantes do Brasil volta aos palcos do Credicard Hall neste mês: Herbet Vianna, Bi Ribeiro e João Barone continuam em ótima forma e prometem esquentar a plateia com hits clássicos. ticketsforfun.com.br
9
sábado
dança de rua O Grupo de Rua de Niterói foi fundado em 1996 pelos coreógrafos Bruno Beltrão e Rodrigo Bernardi e se apresenta no Teatro Alfa. Formada por jovens estudantes de dança que participavam de festivais competitivos.
Por: Fernando Gueiros. FOTOS: Warner mUsic, Universal Music, Lost Art, Alexandre Cappi/Rocky Man
9/11, no Rio de Janeiro
Rocky Man
A prova de aventura mais diversificada da América Latina chega a sua segunda edição com muito fôlego. O Rocky Man 2013, evento que envolve canoagem, corrida, mountain bike, SUP, surf e até parapente, passará pelo Rio de Janeiro e premiará a equipe vencedora com US$ 20 mil. Os grupos têm atletas para cada desafio, mas em modalidades coletivas, como a canoagem, o espírito de equipe fala mais alto.
teatroalfa.com.br
www.rockyman2013.com.br 13/11, em João Pessoa
Planeta Terra
Red Bull Funk-se Tour
Com nomes de peso, como Lana Del Rey, Blur, Beck, The Roots e BNegão em seu lineup, o Festival Planeta Terra mostra em São Paulo por que se tornou um dos festivais mais concorridos do país. O evento será no Campo de Marte e os ingressos custam a partir de R$ 350. www.planeta terra.com.br
Sucesso em 2009, o Red Bull Funk-se virou Tour em 2010 e, em 2011, se encontrou de vez com o hip hop. Essa grande festa não parou em 2012 e continua em 2013. Nomes como DJ Sany Pitbull e MC Guimé estão confirmados para a edição paraibana, em João Pessoa. Os ingressos estão à venda e custam a partir de R$ 45. redbull.com.br
9/11, em São Paulo
7/11, em São Paulo
Apimentados A Arena Anhembi receberá a turnê “I’m With You”, da banda californiana Red Hot Chili Peppers, que está viajando pelo país. anhembi.com.br
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terça-feira
zeca baleiro A rádio Nova Brasil FM traz ao palco do Teatro Bradesco o projeto Nova no Teatro. O projeto contará com seis importantes nomes da MPB. Na última sessão a apresentação será de Zeca Baleiro. teatrobradesco.com. br
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TÚNEL DO TEMPO Voando ao passado
foto: imagno/getty images
É um sinal de respeito ao magnetismo da terra ou falta disposição para se arriscar? Nos eventos atuais da Red Bull Flugtag, os participantes preferem a água, enquanto os pioneiros da aviação pousavam em terra firme e seca, muitas vezes machucando seus pés. Os modelos de aviões projetados para vencer a força da gravidade apresentam coisas surpreendentes, como mostra esta foto: Otto Lilienthal em 1893.
A próxima edição do the Red Bulletin sai em novembro DE 2013 98
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