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prevenir é melhor

PREVENIR É MELHOR QUE REMEDIAR

O TUS – Transtorno por Uso de Substâncias, assim designado pelo DSM-5 (Diagnostic Statistical Manual), é uma doença complexa, multifatorial e carregada de estigmas. Depois de um longo percurso, que parte da compreensão da dependência química como uma escolha pessoal e consciente e por isso seu uso merecia punições sociais, finalmente, em 2001 passa a ser classificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma doença crônica, progressiva e fatal.

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Essa compreensão foi um importante salto no tratamento da doença. Desde então, pesquisas têm sinalizado dados significativos sobre o fenômeno e apontado para as possibilidades de tratamento, bem como para a necessidade de construção de propostas estratégicas de prevenção para impedir ou adiar o uso e abuso de substâncias psicoativas e consequentemente os problemas ocasionados por eles. Entre maio e outubro de 2015, a Fiocruz em parceria com outras instituições realizou o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, disponível à sociedade por meio da plataforma Arca, mantida na internet pela Fundação. “Os dados revelam que 3,2% dos brasileiros usaram substâncias ilícitas nos 12 meses anteriores à pesquisa, o equivalente a 4,9 milhões de pessoas. Esse percentual é muito maior entre os homens: 5% (entre as mulheres fica em 1,5%). E também entre os jovens: 7,4% das pessoas entre 18 e 24 anos haviam consumido drogas ilegais no ano anterior à entrevista”. (Portal Fiocruz)

Porém, o relatório chama a atenção para a necessidade dos dados serem observados com cautela já que a investigação não contemplou a população que encontra-se em abrigos, presídios ou vivendo em situação de rua, por se tratar de uma pesquisa domiciliar. Isso aponta para a possibilidade desses números serem ainda maiores que os apresentados no referido levantamento.

De acordo com o mais recente Relatório Mundial sobre Drogas 2019 divulgado pelo UNODC – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, em torno de 35 milhões de pessoas sofrem de TUS (Transtornos por Uso de Substâncias) em todo o planeta. A estimativa anterior era de 30,5 milhões. Além disso, aproximadamente 585.000 mortes e 42 milhões de anos de vida “saudáveis” foram perdidos como resultado do uso de drogas. (World Drug Report 2019)

Não há como negar que o uso abusivo de substâncias psicoativas tem se tornado um grave problema social e de saúde pública mundial (PRATTA & SANTOS, 2006), crescendo nas últimas décadas do século XX e se estendendo para o tempo presente (MENDES, 1999). Não só indivíduos tem sido atingidos pela dependência química , mas também as famílias e a sociedade em que estão inseridos resvalam nas mazelas provocadas pela doença.

Além dos elevados gastos com tratamento, é necessário considerar o custo social imputado pelo uso abusivo de substâncias psicoativas, percebido em várias esferas da vida do indivíduo como por exemplo: o desgaste e/ ou rompimento dos vínculos familiares, abandono dos estudos e consequentemente relações de trabalho precárias, desemprego, mortes prematuras, etc.

Entre as populações afetadas, crianças e adolescentes se destacam por sua vulnerabilidade para experimentação e uso por ainda estarem em fase de desenvolvimento pessoal e interpessoal e não terem habilidade na tomada de decisões, mas também relacionada ao contexto em que estão inseridos e as circunstâncias nele vivenciadas (CAMPOS & FIGLIE, 2011). Além disso, toda circuitaria cerebral ainda encontra-se em formação oferecendo maior risco de consequências pelo abuso de substâncias. Diante do exposto, as estratégias de prevenção caracterizam-se como possibilidade que ”têm como objetivo impedir ou retardar o início do uso e/ou diminuir a gravidade e a intensidade das consequências decorrentes dele” (CAMPOS & FIGLIE, 2011). Como diz o ditado popular “prevenir é melhor que remediar”. Porém, mesmo o senso comum parecendo entender esta lógica, a questão da prevenção no Brasil ainda se materializa de maneira isolada e incipiente. Apesar de não haver ações de prevenção exponenciais no país, evidências científicas indicam que os resultados mais efetivos para prevenir o uso e abuso de substâncias psicoativas entre os adolescentes é a participação dos pais na vida de seus filhos. Alguns autores destacam o monitoramento parental, forte vínculo familiar e harmonia no relacionamento conjugal dos pais como fatores protetivos ao consumo de drogas.

É importante que os pais se informem, mas principalmente se conscientizem da relevância que tem como agentes de saúde para seus filhos. Estudos indicam que a informação que mais parece eficaz é a transmitida pela família. Logo, ela precisa estar informada por fontes seguras e claramente posicionada sobre os riscos e malefícios do uso e abuso de substâncias para ter condições de orientá-los de maneira adequada.

26 de junho é o Dia Internacional de Combate as Drogas e a ONU, através do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes (UNODC) dá enfase a Campanha Internacional de Prevenção as Drogas, afim de orientar e sensibilizar a população acerca deste fenômeno mundial que tem atingido um número significativo de pessoas.

E ainda que muitos tentem invalidar a família, mais uma vez ela é reconhecida cientificamente como um agente de prevenção, cuidado e transformação, sendo necessário somente compreender o papel para qual foi criada.

Andresa Gouveia

Assistente Social Voluntária CCH andresa.gouveia@gmail.com

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