VIII Edição Diagnóstico - Maio 2018

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REVISTA MEDUBI

ED. VIII MAIO 2018

Estrangeiro Internato na Suíça Entrevista ao Dr. André Rocha

Cultural 10 Anos Tuna-MUs História e evolução da Tuna Entrevista ao Magister

Ensino Dr. Isabel Neto Metodologias Pedagógicas no Curso de Medicina da FCS

Destaque Dr francisco George presidente da Cruz vermelha portuguesa


PROJETO: MedUBI MORADA: MedUBI - Nucleo de Estudantes de Medicina da Universidade da Beira Interior Faculdade de Ciências da Saúde | Rua Infante D. Henrique | 6200-506 Covilhã | Portugal TELEFONE: +351 275 329 002 E-MAIL: geral@medubi.pt

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FICHA TECNICA DIRETOR Jónatas Nogueira

DESIGN E PAGINAÇÃO Jónatas Nogueira

EDITORA GERAL Tatiana Neves

ILUSTRAÇÕES Mariana Pereira João Rui Calais Frade

DIRETOR CIENTÍFICO Ricardo Ascenção DIRETORA CULTURAL Marta Afonso TESOUREIRA Marta Figueiral

CARTOON Mariana Pereira DEPARTAMENTOS Cultural Educação Médica Mobilidade

COMUNICAÇÃO Mariana Silva COLABORADORES Maria Lúcia Castro Mariana Pereira Mariana Ribeiro Mariana Torres Ricardo Lopes Rita Cagigal Vasco Figueiredo

CONTACTOS diagnostico@medubi.pt medubi.pt/diagnostico facebook.com/diagnostico.ubi


Revista DiagnOstico

EDITORIAL vida é feita de etapas. E ao longo da nossa vida iremos atravessar várias etapas, quer sejam delineadas por uma data, como uma passagem de ano; ou delineadas por um evento importante como um casamento, ou por algo mais simples como um corte de cabelo. Cabe a cada um de nós fazer dessa etapa a melhor que já vivemos até então. Todavia, nem sempre alcançamos essa meta, ora por culpa própria, ora por circunstâncias fora do nosso controlo. Acredito no entanto, que mesmo que não se atinja esse nível proposto inicialmente, a vantagem de olhar para a vida como um conjunto de etapas é saber que teremos uma nova oportunidade com o início da próxima, e que poderemos mudar e corrigir os nossos erros. Podem até mesmo ser necessárias várias etapas para que se alcance essa mudança desejada. Winston Churchill disse: “To improve is to change, so to be perfect is to have changed often”, e este é o nosso alvo, atingir a perfeição através da mudança. Esta é a primeira etapa do caminho à perfeição. Apresentamos-te a nova Revista Diagnóstico! Para esta VIII Edição vais encontrar os artigos a que já estás acostumado e algumas novidades. Temos muitos desafios pela frente, e por isso espero contar contigo neste processo. O vosso feedback é muito importante, e estamos desejosos de vos ouvir.

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JONATAS NOGUEIRA DIRETOR

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INDICE 03 EDITORIAL 05 ACONTECEU 08 ANEM 10 ENTREVISTA DR. FRANCISCO GEORGE 16 ESPECIALIDADE NO ESTRANGEIRO 20 HOW TO LEARN ABOUT ME 21 AMAR-ME AMAR-TE 22 INTERCAMBIOS 26 TUNA-MUS 29 AQUI 30 ENSINO DR. ISABEL NETO 32 INVICTA 33 CONGRESSOS NACIONAIS 34 CONCURSO DE FOTOGRAFIA 37 PERDER AS ESTRIBEIRAS 37 CARTOON


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ACONTECEU MEDS GOT TALENT POR MARIANA RIBEIRO

o passado dia 19 de março de 2018 tivemos a oportunidade de receber mais uma edição do evento Med’s Got Talent, na Faculdade Ciências da Saúde, um evento organizado pelo departamento cultural do MedUBI.

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Este dia envolveu várias atuações, tanto para concurso como extraconcurso. Inicialmente fomos presenteados com uma atuação de dança, por Francisco Duarte e Rita Silva, envolvendo movimentos suaves juntamente com sentimentos de revolta e muita emoção. Também houve a atuação de dois duos: Francisca Freitas e Catarina Borges, assim como de Rita Magalhães e Mariana Fernandes, na voz e guitarra respetivamente. Além destas atuações tivemos uma sinestesia do verso por Madalena Faustino, Nuno Martins e Rita Cagigal.

Cajó mais uma vez entrou em grande, com um mix de música e comédia, num ambiente mais relaxado. No decorrer do evento, fomos tomando conhecimento dos vencedores das “personalidades de ano”, juntamente com a exposição dos “vídeos de ano”. Como de costume, a C’a Tuna aos Saltos e Tuna-MUs espalharam alegria e boa disposição. À entrada do auditório pudemos vislumbrar magníficas fotografias, parte do concurso de fotografia, também a decorrer neste evento. Assim, o Med’s Got Talent caraterizou-se por momentos de satisfação, descontração, muita animação e acima de tudo imenso talento!

Posteriormente, tivemos oportunidade de presenciar a performance da música “Trevo”, por um grupo de 4 elementos, que acabariam por sair vencedores.

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Qual achas ser a importância deste evento na vida académica dos estudantes da UBI? Med’s Got Talent é uma atividade com já nove edições somadas, tendo ano para ano aumentado a sua adesão e descobrindo sempre novas pessoas com talentos que, por uma razão ou outra, não são devidamente reconhecidos. Além disso, é um espetáculo completo e importante na medida que procuramos dar mérito a quem merece, falo claro das personalidades de ano que se destacam, não só alunos mas também funcionários, professores e até os blocos. Vê-se também uma dinâmica engraçada que se forma na época de criar o vídeo de ano e nota-se que há um esforço para se apresentar um bom trabalho, o resultado é termos em pleno espetáculo as pessoas a apoiar e a rirem-se das verdades caricatas que lá passam e que são o dia a dia de um estudante de medicina. É o que é, um excelente serão pensado nos estudantes e, no fundo, feito pelos estudantes.

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Ricardo Lopes - Coordenador do Departamento Cultural do MedUBI

O que achaste da vossa experiência no Med’s Got Talent e do facto de terem saído posteriormente vencedores?

Quando te propuseram o projeto de participar no concurso do Med’s Got Talent como reagiste?

Como surgiu a ideia de se unirem como grupo para fazer uma performance no Med’s Got Talent?

No momento em que a Madalina me veio convidar eu senti um misto de emoções! Fiquei extremamente contente pelo convite, mas, por outro lado, estava com medo de não estar à altura do desafio, pois ela propôs-me tocar um instrumento que não é o que estou mais habituada a tocar!

A ideia surgiu-me como uma resolução de ano novo de cantar em público. Como já conhecia o Fernando, pedi-lhe para me acompanhar e ele aceitou, depois pedimos à Marta para tocar guitarra e ela por sua vez puxou a Carolina e assim juntamo-nos.

Carolina Simão

Madalina Gututui

Eu e a Carolina já andávamos a pensar desde o início do ano que seriam bom participarmos, mas como tudo o que é planeado com muita antecedência caiu no esquecimento, porque há sempre mil e uma coisas que se põe à frente. Foi apenas 2 semanas antes que a Madalina falou connosco sobre se seria possível ajudá-la com a sua resolução de ano novo. Então eu sugeri esta música e todos concordamos. Depois foi do género: “agora estamos inscritos temos de fazer boa figura” e tornou-se uma experiência bastante intensa, porque estávamos todos em fase crítica de avaliações. Por outro lado, o facto do Fernando estar connosco deu-nos alguma confiança para gerir tudo. Em relação ao prémio acho que nunca acreditamos que íamos ganhar, mas no fundo tínhamos na mesma aquela esperança. E depois deixamo-nos levar, aproveitamos a atuação e correu muito bem; acho que chegamos às pessoas que era o nosso objetivo. Gostei muito de participar e talvez voltemos a repetir, mas noutro registo. Marta Barrigas

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Já tivemos a oportunidade de te ouvir cantar algumas vezes em eventos do MedUBI… Em que medida foi diferente desta vez? É verdade que já cantei em vários eventos do MedUBI, mas penso que este se destaca pelo estilo de música escolhido, que é diferente do que fiz anteriormente, bem como pelo acompanhamento, que foi também realizado por pessoas diferentes. Foi também a primeira vez que cantei em dueto num sarau, o que exige um trabalho mais minucioso porque não temos apenas atenção aos instrumentos, mas também ao outro vocalista. O meu erro poderia ter implicações na performance da Madalina, neste caso, ou vice-versa. Fiquei muito satisfeito com o resultado final e uma vez que

provavelmente foi a minha última atuação em eventos MedUBI, espero ter deixado uma marca positiva. Um obrigado à organização, não só deste espetáculo como de todos os outros em que marquei presença. Fernando Silva

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Delegação do MedUBI esteve presente na 121ª Assembleia Geral (AG) da ANEM na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, nos dias 16, 17 e 18 de fevereiro. Esta foi a primeira AG da nova direção da ANEM para 2018, e como tal foi marcada pela apresentação do Plano de Atividade e Orçamento que irão delinear as áreas de atividade da federação que representa os estudantes de medicina a nível nacional. Para além destes documentos foram abordados alguns Hot Topics como o ENEM - Encontro Nacional de Estudantes de Medicina.

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O MedUBI contou com a presença de 10 elementos, que participaram, para além dos momentos de Assembleia, nas reuniões de Grupo de Trabalho, onde se discute a atividade da ANEM na especialidade. Numa análise mais detalhada sobre as várias áreas da ANEM posso referir alguns daqueles que foram os principais pontos desta assembleia geral. Na área de Educação Médica saliento o trabalho no acompanhamento da Prova Pilo-

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to que será feito pelo Grupo de Trabalho (GT) e a aprovação através de uma Moção da não realização do HTA - How To Get Away With a Medical Degree no ano de 2018 sob o pretexto de não sobrecarregar a área e potenciar o seu trabalho na produção de material intelectual. Na Área de Formação as mudanças mais notórias passam pelo facto do Educação para Todos (EPT) não ter uma nova edição em 2018 e o CNEM - Congresso Nacional de Estudantes de Medicina, contemplar workshops clínicos, ao contrário do que foi realizado no ano de 2017. Medscoop não terá uma nova edição em 2018. Destaco na Área de Saúde Pública a aprovação de uma Moção em AG, proposta pelo MedUBI com o apoio da AEFML e AEICBAS que extinguiu o MedOnTour como atividade organizada pela Direção da ANEM, e alargou o nome às atividades de âmbito semelhante realizadas a nível local pelas escolas Médicas com mecanismos de garantia de qualidade. Esta posição foi defendida em AG na medida em que permite dar continuidade ao projeto de uma federação mais forte na reflexão


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e produção de material intelectual ao mesmo tempo que são promovidas as atividades dos associados e integradas de uma forma global atingindo do mesmo modo aquilo que são os objetivos estratégicos da ANEM. Na mesma área houve uma moção aprovada com os votos favoráveis da delegação do MedUBI para a reestruturação do projeto BurnOut Buddy, a passagem da atividade de estágios em emergência médica - Staying Alive - para a área de formação e o direcionar do advocacy na área para a correta higienização em Ambiente Hospitalar por parte dos estudantes de Medicina. Na área de Saúde Sexual e Reprodutiva o GT definiu como objetivo para o mandato um estudo acerca da PREP e Infeção por VIH no Adulto, com o intuito de determinar o grau de conhecimento dos estudantes sobre o tema, para depois produzir material intelectual e desenvolver uma tomada de posição nesta matéria que se entende ser prioritária no novo paradigma de combate ao VIH/SIDA em Portugal. De uma forma mais global, não posso deixar de referir a criação de dois grupos de tra-

balho para reflexão da pertinência do ENEM e da sustentabilidade do Programa de intercâmbios, que deverão apresentar conclusões na próxima AG de Maio em Lisboa, para os quais foram nomeados da parte do MedUBI André Vicente e Armando Felgueiras, respetivamente. O MedUBI votou a não realização do ENEM em 2018 para que possa ser terminado o trabalho do novo GT, tal como ficou definido na tomada de posição local, algo que foi aprovado por unanimidade. Para além disso houve a aprovação de uma moção da AEFML que propõe a contratação de assistência estatística, de forma a que a componente estatística dos vários estudos realizados pela federação tenha apoio na sua elaboração, uma vez que o novo paradigma da ANEM assim o exige. O balanço positivo da nossa participação, naquela que foi também a primeira AG para a nova de delegação 2018 e uma estreia para 8 dos 10 membros que a compuseram, deixam uma vontade de continuar a trabalhar para defender a nível nacional a posição dos nossos estudantes a nível local e trabalhar para uma federação mais sustentável e capaz.

FRANCISCO CAPINHA VICE PRESIDENTE EXTERNO MEDUBI

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ENTREVISTA DR. FRANCISCO GEORGE POR RICARDO LOPES E RITA CAGIGAL


rancisco Henrique Moura George nasceu a 21 de outubro de 1947 em Lisboa. A Medicina já era algo que lhe corria nas veias, sendo filho de Carlos George, médico e diretor do Hospital de Sta. Marta. Assim, em 1973 completou o curso de Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e, já em 1977, tornou-se especialista em Saúde Pública. Estava, pois, por começar, uma longa e brilhante carreira, que ainda hoje prevalece.

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Chegados ao Grande Auditório, apressados com a notícia de que já lá estaria, deparamo-nos com a figura já tão conhecida: estatura média, cabelos brancos, a barba e bigode caraterísticos, de fato e laço,azul desta vez. Imediatamente recebidos com um longo aperto de mão, preocupou-se em conhecer-nos e logo quis começar a entrevista “Vamos lá, não percas tempo!”


Francisco, muito obrigado por nos ter dado esta oportunidade de estar aqui consigo hoje. É, para nós, um prazer e, sobretudo, uma grande honra poder conversar com sua Excelência, que constitui, para muitos de nós, um modelo a seguir e uma inspiração.

Dr.

O que o fez ingressar pela Saúde Pública em prol de uma especialidade mais na “linha da frente” do contacto com os doentes? A questão de que, na época, (e que vim a verificar que essa época é igualmente a de hoje) era necessário intervir em planos preventivos porque Portugal no início da década de 70 tinha indicadores muito preocupantes que traduziam um atraso em todos os domínios, não só na economia, socioeconómicos, cultural e igualmente em saúde. Os indicadores eram medíocres, era preciso intervir, em especial na área da mãe e da criança e foi provavelmente o impulso que nasce a partir da verificação da fragilidade do país que é preciso intervir mais nestas áreas que estavam até então esquecidas. Entre 1980 e 1991, Francisco George foi funcionário da Organização Mundial de Saúde, onde foi consultor de diversas missões que tiveram lugar um pouco por todo o mundo.

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O que mais recorda do tempo em que trabalhou na OMS enquanto jovem médico? Foi o início da SIDA em 1980. A SIDA surge de uma forma absolutamente inesperada. Esta, aliás, é a marca que passou a ser muito importante, na medida em que, até então, se pensava que os fenómenos de saúde, em particular das doenças infeciosas, podiam ser eliminados, podiam ser reduzidos, podiam ser erradicados. E a SIDA veio demonstrar que há problemas que podem emergir, que não estavam sequer nos horizontes dos cientistas e das escolas médicas. Veio, portanto, revelar que é possível, de um momento para o outro, surgir uma doença, que até então não existia, sublinho, uma doença nova, que provoca, por propagação simultânea em vários continentes, uma pandemia, de dimensões muito preocupantes. Ao princípio não se sabia, nem qual era o agente, nem como se transmitia. Foi, sem dúvida, o episódio que mais terá marcado a minha carreira. Na OMS, sobretudo em África, onde vim a ser o diretor de toda África Austral, percebi que a situação era muito preocupante e muitíssimo grave. De maneira que a OMS dá depois lugar à ONU para mobilizar mais recursos, visto que os da OMS eram limitados comparados com os da ONU. Foi, assim, criado um programa específico que ainda hoje existe, que é o Joint United Nations Programme on HIV/AIDS (UNAIDS), para tratar destes problemas.


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Na qualidade de funcionário da OMS, Francisco foi designado, em 1980, chefe do Projeto OMS de Desenvolvimento dos Serviços de Saúde, na República da Guiné-Bissau. Já em 1986, tornou-se representante da OMS na República da Guiné-Bissau e, em 1990, epidemiologista do Programa Mundial de Luta Contra a SIDA da OMS e coordenador deste Programa na África Austral. George foi nomeado sub-diretor geral da Saúde em 2001 e, a 16 de agosto de 2005, tornou-se diretor-geral da Saúde, cargo esse que só abandonou em outubro de 2017, após ter completado 70 anos de idade.

os meus filhos. Entendi não os sacrificar. Resolvi, então, regressar e sabia, igualmente, que em termos de carreira, seria possível continuá-la em Portugal, tal como se verificou. Qual considera que foi a maior dificuldade? Há sempre dificuldades em matéria de recursos. Os recursos em saúde pública, vamos agora analisar, estão relacionados com a economia. Nós não podemos ter uma saúde pública igual à sueca, japonesa ou norueguesa e depois ter uma economia mais frágil. Isto está relacionado com o nosso PIB (produto interno bruto), que traduz a nossa situação económica. Mas a verdade é que, em termos de saúde, estamos muito acima das expectativas que seriam de esperar da situação económica do país.

"Todos os dias eram marcantes. Não havia dia sem adrenalina."

O que o levou a abandonar um panorama de atuação internacional, na OMS, para um panorama nacional, na DGS? Questões de caráter familiar. Teve muita relação com as responsabilidades de pais educarem filhos. Também sou pai e era preciso educar os meus filhos e os movimentos constantes de posto de trabalho eram muito impeditivos de uma formação contínua para a família e para

Quais considera que foram os momentos mais marcantes nos 12 anos em que foi diretor geral da Saúde? Todos os dias eram marcantes. Não havia dia sem adrenalina. Sempre adrenalina.

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De que mais se orgulha ter feito? Em termos de orgulho, foi a equipa que trabalhou comigo. Uma equipa de grande qualidade, que me acompanhou sempre e que foi magnífica. Conseguimos quase desmaterializar a DGS, tornando-a paper-free. Muitos dos programas hoje já implementados permitem considerar que a DGS é uma instituição digital, e isto é uma marca que fica.

O que ficou por fazer? Tudo fica por fazer. É continuar, o processo é imparável.

© Blas Manuel

Cruz vermelha: o novo desafio.

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Porque decidiu aceitar ser presidente da Cruz Vermelha Portuguesa?

Considera que até agora foi uma boa decisão?

Sãos exemplos destas senhoras que estão aqui (apontando para representantes da Delegação da Cruz Vermelha da Covilhã) que motivaram a minha candidatura. Sabia que ia atingir o limite de idade dia 21 de outubro de 2017 e também sabia que 5 dias depois teriam lugar as eleições para presidente da cruz vermelha. Decidi fazer a minha reforma, limitá-la a 5 dias e, no sexto dia, concorrer a presidente.

Sim, foi uma boa decisão. Mas há muito trabalho. É preciso continuar, é preciso trabalhar. No sentido de as atividades humanitárias prosseguirem, serem mais próximas de tudo, mas com mais transparência. Preparados para prestação de contas a qualquer momento.


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Quais os principais objetivos para esta nova etapa? Mais atividade humanitária em conjunto com outras associações, com outras fundações, até mais diria, todas as iniciativas nos 3 seus pilares: emergência, respostas sociais e na saúde, incluindo a formação em saúde. Em relação à Saúde em Portugal, em que ponto estamos e para onde caminhamos? Caminhamos para melhor, nunca pioramos. Estamos sempre a avançar e vamos continuar. Mas a evolução depende, sublinho de novo, da economia. Se a economia crescer, nós podemos crescer. Não podemos, agora, é ter exigências quando a economia não o permite.

O melhor prognóstico indica que 800 jovens médicos não terão um lugar no SNS para iniciarem a especialização (notícia Expresso de 12 de março de 2018). Dr. Francisco, enquanto médico, que comentário faz? É preciso lutar contra essas expectativas. Há muito trabalho para médicos, em Portugal, mas também no domínio da cooperação dos países que falam a mesma língua. Há que encontrar soluções, juntar as autoridades e especialistas da saúde e da ciência e tecnologia do ensino superior. Não podemos desperdiçar “cérebros”. Para terminar, Dr. Francisco, 44 anos de serviço público, 12 enquanto Diretor Geral da Saúde, 70 anos e agora Presidente da Cruz Vermelha: o que é que o motiva? Utilizar conhecimentos, experiência e energia.

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ESPECIALIDADE NO ESTRANGEIRO Se até há uns tempos podíamos dizer que quem se formava médico tinha a vida feita, hoje em dia já não se pode afirmar tal coisa. A crescente dificuldade em assegurar vaga na especialidade que sempre se sonhou, o baixo salário comparativamente aos nossos vizinhos europeus, ou mesmo a carga excessiva de trabalho da atual classe médica, são algumas das razões que estão a mudar o paradigma dos estudantes de medicina e médicos recém-formados. Cada vez mais somos aconselhados a expandir os horizontes de carreira para fora da nossa bolha portuguesa. Para conhecer melhor esta perspetiva, entrevistámos dois médicos portugueses, recém-formados, que recentemente começaram a construir a sua carreira médica especializada na Suíça e na Suécia.

SUIÇA , DR. ANDRE ROCHA

- INTERNO DE MEDICINA INTENSIVA - DOUTORANDO NA UNIVERSIDADE DE GENEBRA - MEMBRO DO QUADRO EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO EUROPEIA MD/PHD

1. O que mais o motivou a ir para a Suíça?

3. Já tinha algum tipo de contactos antes de ir?

A razão da minha vinda para o estrangeiro (e em particular para a Suíça) teve que ver com a especialidade de medicina intensiva, que não existia ainda na altura e na qual eu me queria formar. Existem na Europa alguns (poucos) países onde esta especialidade tem um programa de formação próprio e a Suíça é um deles. É um país onde se pode decidir fazer a especialidade por muitas (outras) razões: a formação é boa, a qualidade de vida e remuneração também.

Sim e não. Conversei com amigos de amigos que cá estavam mas não tinha realmente uma « rede de contactos ». Vim visitar alguns hospitais e fazer entrevistas antes da minha vinda definitiva mas quando cá cheguei não conhecia ninguém.

2. Chegou a fazer o Harrison ou a escolher especialidade antes de ir? Sim. Não foi muito fácil motivar-me a estudar para o Harrison sabendo que talvez não o ia utilizar mas não tinha ainda vaga na Suíça nessa altura e decidi empenhar-me na mesma nesse exame quebra-cabeças ;) Acabei por ter uma boa nota e estive quase para escolher anestesiologia em Lisboa mas depois organizei tudo cá na Suíça e decidi não « ocupar » desnecessariamente uma vaga. Fiz parte do ano comum e depois vim para os Alpes...

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4. Como é o acesso à especialidade médica na Suíça? É necessária alguma acreditação prévia? Duas informações de partida: Na Suíça não há exame de especialidade. Não há tutor e vaga de especialidade. Quer isto dizer que cada interno tem que organizar as diferentes rotações e estágios em diferentes hospitais de maneira autónoma e fazer candidaturas nesse sentido ao longo do internato. 5. Qual a parte do processo que considerou mais difícil? Mais do que a adaptação a uma nova língua, sistema de saúde ou cultura, o mais difícil foi mesmo a candidatura. É muito perturbador para nós, portugueses, habituados a um sistema nacional de seriação, entrar no


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sitema de acesso que descrevi acima. No fundo, não existe nenhuma classificação, não existe uma época de candidaturas, lista de vagas, etc. Aqui cada director de serviço recruta internos para o seu serviço de acordo com necessidades internas e a selecção baseia-se no CV e entrevista. 6. Qual o nível linguístico mínimo? A Suiça é um país essencialmente trilingue: Alemão, Francês e Italiano. As 3 línguas são oficiais e o nível mínimo requerido é sempre B2. A língua que será pedida (e a única necessária) é aquela que se fala na zona para onde se deseja ir. 7. Qual a remuneração base de um médico? Esta questão é difícil de responder com um só número. Tem que se compreender que a Suiça é um país federal, igual ao sistema dos EUA. Assim sendo, cada cantão (o equivalente de um estado) tem autonomia legislativa quanto à lei do trabalho. O ordenado do médico é portanto diferente em cada cidade e muda a cada ano do internato. Em números redondos, o ordenado líquido no 1° ano do internato pode variar entre €3500-€6000. 8. O que mais gosta no país? É um país com muito charme, admita-se. Os alpes, as dezenas de lagos, tudo é verde. A cena cultural e a vida quotidiana beneficiam de estrangeiros de todos os cantos do mundo, o que enriquece muito a gastronomia e a cultura. A integração dos estrangeiros é plena. Por outro lado há a posição estratégica no centro da Europa, que permite decicdir ir de carro para qualquer país da Europa central e do sul. E por fim (porque afinal metade da nossa vida é no hospital J) a vida hospitalar é agradável, com menos horas extra e mais dias de folga que em Portugal.

9. E o que menos gosta? Hum... o que menos gosto é que, definitivamente, não nos sentimos em Portugal. Embora hajam mais de 100.000 portugueses por aqui, falta o mar, o peixe, aquela atitude voluntariosa, o desenrasca e a maneira de ser calorosa da nossa gente. Aqui tudo funciona a horas e sem falhas, mas não se pode pisar o risco. 10. Qual a posição da população perante os médicos estrangeiros? Algum problema de receptividade? Nenhum problema de receptividade. Cerca de 50% dos médicos na Suiça são estrangeiros e portanto é frequentíssimo ter colegas de todos os cantos do mundo. Tanto as equipas de trabalho como os doentes recebem muito bem os estrangeiros. 11. Considera ficar a trabalhar na Suíça após concluir a especialidade? Se sim, considera algum dia regressar a Portugal? É um país com muito boas condições de vida e de trabalho, com oportunidades de carreira atractivas. Tudo está em aberto mas eu penso voltar a médio prazo por razões pessoais e familiares. 12. Que conselhos daria a um estudante de medicina interessado em fazer a especialidade na Suíça? Acima de tudo comecem a tratar do processo com 1-2 anos de antecedência. Entre aprender a língua, enviar candidaturas, ser chamado e ir a entrevistas podem passar-se vários meses. O sistema de acesso pode fazer algum medo, nomeadamente de ficar pendaurado a meio da formação. Contudo, após começarem, tudo se torna mais fácil, nomeadamente para as candidaturas seguintes. Boa sorte aos interessados!

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SUECIA DRA. RAQUEL FERNANDES - INTERNA DE OFTALMOLOGIA

1. O que o motivou a ir para a Suécia? Começou com um certo descontentamento com a situação em Portugal, via poucas perspetivas de melhoras a curto-medio prazo, depois durante o ano comum conheci o meu marido que é sueco e mudei-me para a Suécia após um ano de especialidade. A ideia de haver muito mais flexibilidade na escolha de especialidade também pesou na decisão. 2. Chegou a fazer o Harrison ou a escolher especialidade antes de ir? Fiz um ano de especialidade. 3. Já tinha algum tipo de contactos antes de ir?

É necessária alguma acreditação prévia?

O meu marido que é também médico e a família dele com vários médicos foram um grande apoio, orientaram-me bastante durante todo o processo

É apenas necessário ter a legitimation como já referi, para isso é necessário enviar para a Socialstyrelsen os documentos habituais (diploma, certificado de good standing, certificado de nível de língua etc.) traduzidos para inglês ou sueco. O processo é relativamente fácil para quem tirou o curso na UE, a única barreira é a língua.

4. Como é o acesso à especialidade médica na Suécia? Tudo começa com a obtenção da “legitimation” que é basicamente o documento que certifica que somos

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autónomos. Tendo a legitimation pode-se concorrer a vagas de especialidade. Estas abrem conforme as necessidades dos serviços e clínicas, ou seja, os centros de saúde estão frequentemente a tentar recrutar internos porque há muita carência de médicos nesta área, e outros serviços abrem uma vaga por ano. Habitualmente os serviços chamam os candidatos interessantes a uma entrevista antes de decidirem. Outra via de entrada é conseguindo uma vaga num serviço da especialidade pretendida como “legitimerad underläkare”, que é um médico autónomo, mas não interno da especialidade, ir aprendendo e esperar que eles depois renovem o contrato ja como interno de especialidade.


Revista DiagnOstico 5. Qual a parte do processo que considerou mais difícil?

10. O que mais gosta no país?

A luta inicial com a língua foi difícil. Ultrapassar aquele receio inicial de simplesmente começar a falar apesar dos erros ou de não perceber tudo o que diziam. Quando vim não era necessário certificado de nível linguístico para obter a legitimation, cabia depois ao empregador decidir se sabíamos o suficiente ou não. Portanto o meu objetivo era conseguir falar o suficiente para começar a trabalhar e entrar no sistema. Eu comecei por trabalhar num centro de saúde, o início é obviamente complicado entre a língua, o sistema informático, os termos médicos, o sistema de saúde, tudo é novo. Outra fase complicada foi depois a espera para conseguir a vaga que eu pretendia em oftalmologia, esperei um ano e meio antes de haver uma vaga na cidade onde estou. Claro que estava ao mesmo tempo a trabalhar no centro de saúde e a aprender muito, mas sentia me impaciente.

Temos melhor qualidade de vida, também se trabalha bastante, mas temos ordenados que nos permitem ter uma estabilidade que não é possível em Portugal e ainda temos o suficiente para gozar um pouco a vida que também é preciso. Depois também gosto da importância dada à família, as licenças de parentalidade são longas, não há entraves a ter de ficar com as crianças em casa quando estão doentes e também é possível reduzir horário de trabalho para 75 ou 50% por exemplo. Há também um foco grande na igualdade de género, vê-se até na situação das licenças de parentalidade em que os pais ficam com os filhos em casa tanto ou mais tempo que as mães.

6. Qual o nível linguístico mínimo? É necessário nível C1 para obter a legitimation. É um nível elevado, mas o sueco não é uma língua muito complicada, é francamente mais fácil do que alemão por exemplo. O tempo que leva a aprender varia obviamente. Quem quiser fazer tudo em Portugal nível a nível demora algum tempo claro. Quem por algum motivo decida aprender cá, há maneiras um pouco mais rápidas com os cursos de sueco para estrangeiros que são gratuitos, mas podem ter algum tempo de espera. 7. Qual a posição da população perante os médicos estrangeiros? Algum problema de recetividade? Não, há muitos médicos estrangeiros a trabalhar na Suécia, muitos gregos, polacos, mesmo espanhóis e italianos. Não acho que haja muitos problemas desse tipo não. A grande maioria da população penso que aceita bem. 8. Qual a remuneração base de um médico? A remuneração varia um pouco consoante a zona da Suécia em que se trabalha. Mas penso que em geral um interno no inicio da especialidade recebe cerca de 30.000kr (2.919,18€) líquidos depois o valor aumenta para quem faz turnos de noite, fins de semana, vai aumentando também ao longo da especialidade.

11. E o que menos gosta? O clima em outubro-novembro... está frio, escuro e chove. Depois melhora quando começa a nevar. Mas costumo dizer que passo mais frio em Portugal porque as infraestruturas cá estão feitas para este clima, e mesmo no pico do inverno dentro de casa está um ambiente quente e seco. A falta de praia também é um fator negativo. 12. Que conselhos daria a um estudante de medicina interessado em fazer a especialidade na Suécia? Muita paciência e persistência. Tudo é possível com mais ou menos esforço e luta, não há especialidades inatingíveis (mas há graus de dificuldade diferentes). A Suécia é um ótimo país para viver e fazer a especialidade!

9. Considera ficar a trabalhar na Suécia após concluir a especialidade? Se sim, considera algum dia regressar a Portugal? Sim, penso ficar cá. Considero regressar a Portugal talvez para algum estágio, mas fora isso só mesmo férias.

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HOW TO LEARN ABOUT Coluna sobre Educação Médica do Departamento de Formação Científica e Educação Médica do MedUBI

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udo começa naqueles três anos em que lutamos, divididos entre a vida de adolescente e a tentativa árdua de alcançar a média que nos colocará no curso com que sonhámos a vida inteira. Uma vez “cá dentro”, vivemos atarefados no meio de livros, estudo, exames, esquecendo-nos que um dia seremos Médicos. Mas tardará a chegada desse dia? Médicos ou não, a Educação Médica começa no primeiro instante, visto ser não só a aprendizagem integrada ao longo do curso, bem como o desenvolvimento de skills essenciais no desempenho da profissão. É, assim, um processo educativo que se perpetua ao longo da nossa vida e carreira profissional. Tal como todo o conhecimento científico, o saber e a Educação Médica têm vindo a sofrer uma metamorfose evolutiva gradual, que visa melhorar competências dos profissionais e, a longo prazo, a qualidade dos serviços de saúde apontando para uma população mais saudável. De acordo com um estudo realizado pela Medical Teacher(1), tais alterações têm-se verificado a vários níveis. O plano curricular das escolas médicas tem investido em disciplinas como ética médica, educação interprofissional e profissionalismo; têm sido introduzidas técnicas de e-learning, tornando o ensino tradicional num método ativo, participativo e adaptado à sociedade tecnológica em que nos inserimos. Com o passar dos anos tem-se apostado numa instrução onde a tomada de decisão seja feita através da evidência sistemática informada, deixando de parte a deliberação baseada em intuições, opiniões e suposições. Têm sido, também, desenvolvidas novas ferramentas pedagógicas alternati-

vas, tais como os “serious games” que intendem a aquisição de determinadas habilidades num registo mais informal e “outside the box”, impulsionando uma forma de ensino que marca pela inovação e que os métodos tradicionais não permitem. É, ainda, notória a maior colaboração entre profissionais, no que diz respeito ao ensino, decorrente da globalização e internacionalização da Educação Médica, perspetivando a formação adequada de médicos profissionais e humanos. Enquanto futuros médicos é fundamental que nos mantenhamos informados e atualizados, sendo este, por isso, um processo contínuo e gradual, do qual não nos devemos afastar. Devemos abraçar a busca pelo conhecimento, através das mais diversas formas, adotando uma postura ativa e participativa na nossa formação. O Departamento de Formação Científica e Educação Médica do MedUBI está a desenvolver um vasto programa de atividades lúdicas e educativas, entre as quais o “Medical Sherlock” e o “Escape the ER”, direcionadas a todos os estudantes de Medicina da Faculdade de Ciências da Saúde, de forma a proporcionar a oportunidade de aprimorar algumas soft-skills que irão, com certeza, revelar-se muito úteis no quotidiano enquanto estudantes ou médicos. Investe no teu futuro e começa já, porque “Afinal de contas, todas as ações do presente têm repercussões na nossa vida profissional futura”(2). (1) Ronald M. Harden, Pat Lilley & Jake McLaughlin (2018): Forty years of medical education through the eyes of Medical Teacher: From chrysalis to butterfly, Medical Teacher, DOI: 10.1080/0142159X.2018.1438593 (2)

Associação Nacional de Estudantes de Medicina; http://anem.pt/

Vasco Guerra de Figueiredo

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Revista DiagnOstico

AMAR-ME, AMAR-TE

Eu sei que, um dia, vou amar alguém especial dentro da sua loucura, cândido na sua fortaleza. Esse amor não tem aviso prévio nem local assinalado para chegar, mas vai com toda força, arrebatar-me perdidamente.

Apesar disto, não vou esperar, jamais esperarei por esse amor para ser feliz. Eu não preciso de uma pessoa para me fazer feliz, nem pretendo. Tenho que o ser sozinha pois, só aí estou preparada para amar. Amar sem cobranças ou imposições, cobrindo-me de admiração e respeito. Amar sem egoísmos mas com grande companheirismo. Hei-de ampara-lo em tudo o que eu puder, mas também vou querer esse amparo. Provavelmente irei ceder em muitas coisas, esperando que o faça por mim. Moverei montanhas sempre que necessário for, sacrificar-me-ei sem nunca deixar de ser quem sou. O amor não precisa que abandonemos os nossos projetos, os nossos costumes e tradições. Não carece que abdiquemos da nossa educação e princípios. Que o amor me respeite, me proteja e nunca me peça para sacrificar a minha família, o meu coração e a minha dignidade. Amar não é abdicar dos sonhos em prol da pessoa amada, mas compartilhar esses mesmos sonhos sem exigir nada em troca. Se no amor o sacrifício dói sem me trazer a felicidade que almejo, então não o vou fazer.

O amor só acontece quando duas pessoas têm amor por elas próprias.

MR

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INTERCAMBIOS BOLSAS SANTANDER

As Bolsas Santander incluem o Programa de Bolsas Ibero-americanas de licenciatura e mestrado Santander Universidades, dando ao aluno a oportunidade de escolher entre 30 faculdades distintas, em 3 países diferentes (Brasil, Espanha e Uruguai). São atribuídas 19 bolsas para toda a Universidade da Beira Interior, com valor unitário de 2.300€ cada, suportadas pelo banco Santander Totta. Através deste programa, os alunos de medicina podem usufruir de uma experiência de intercâmbio durante um semestre, numa cultura, país e tipo de ensino diferentes, podendo assim contribuir para o seu enriquecimento curricular e de prática clínica. Para saber mais acerca do processo de candidatura e prazos, consulta o link seguinte (www.ubi.pt/Pagina/GISP_bolsas_ibero_americanas)

Falámos com o Pedro Moreira, aluno do 6º ano, para te dar a conhecer a sua experiência no Brasil, todo o processo de candidatura e alguns conselhos para quem quiser se candidatar.

O que te motivou a querer fazer o programa? Sempre tive a vontade de estudar fora do país. A oportunidade de poder ter contacto com realidades de ensino e práticas médicas diferentes das realizadas em Portugal foi algo que sempre considerei essencial. Depois falei com pessoas que tinham ido para o Brasil e cuja experiência tinha sido muito positiva, e percebi que um intercâmbio lá contemplava exatamente aquilo que procurava: • Um método de ensino da medicina com uma forte componente prática (algo que não se encontra em mais nenhum pais europeu) que me permitisse ganhar experiência; • Um país com cultura muito distinta da portuguesa (e no fundo das europeias); • Um país/cidade que me permitisse conhecer também outros locais de forma não muito cara. Desta forma, achei que esta seria a oportunidade certa.

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Sempre tive a vontade de estudar fora do país. (...) Um intercâmbio lá (Brasil) contemplava exatamente aquilo que procurava.”


Revista DiagnOstico Como foi o processo de candidatura: fases, dificuldades, encontraste o apoio necessário na faculdade? O primeiro passo é ir ao Gabinete de Internacionalização e Saídas Profissionais da UBI, no qual a responsável, a Dra. Sofia Lemos, explica todo o processo pormenorizadamente. Posteriormente, ela servirá como interlocutor entre a UBI e a universidade que se pretende fazer o intercâmbio. A FCS tem também um responsável pelos intercâmbios, com o qual será necessário discutir o Plano de Estudos que se realizará na universidade de acolhimento, bem como os estágios/aulas/seminários/LaCs que ficarão a faltar fazer em Portugal. São os próprios alunos que fazem o seu Plano de Estudos, de acordo com os estágios que pretendem fazer e que a universidade de acolhimento pode oferecer. Posteriormente, tem de ser apresentado ao responsável da FCS, podendo este aceitar ou não. O processo de candidatura a bolsas e ao intercâmbio tem prazos, por isso é preciso ter atenção.

Nos dias que fossemos escalados, teríamos de fazer urgências (12 horas), mesmo que isso fosse ao fim de semana e/ou à noite. A qualidade do hospital em que tive (Hospital de Clínicas de Porto Alegre) era muito boa, tinha condições excelentes, ao nível do que há de melhor em Portugal. Os tutores (médicos e residentes) eram excecionais, muito simpáticos, acolhedores e com toda a disponibilidade para ensinar e explicar. O ambiente era ótimo. Efetivamente, apareceram oportunidades únicas de aprendizagem, como foi o caso do Simutec. Um instituto associado ao hospital e à faculdade, que nos permitia treinar todo o tipo de procedimentos, incluindo técnicas cirúrgicas (exemplo: suturas), tipos de cirurgia (colecistectomia, apendicectomia, …), treino de ecocardiograma, ecografia e procedimentos médicos (toque retal, passagem de cateteres, …).

Experiência educacional e profissional: resumo descritiva das atividades feitas, qualidade das mesmas, qualidade dos tutores, serviços, hospital, universidade; tiveste oportunidades UNICAS de aprendizagem? Ao contrário do que muitas pessoas pensam, os alunos brasileiros de Medicina estão, em termos de prática clínica, num nível muito superior a qualquer aluno português no mesmo ano. Um aluno do 11.º/12.º semestre brasileiro (equivalente ao nosso 6.º ano) realiza, a nível hospitalar, o trabalho de um IFE de 1.º ano, com tudo o que isso implica. Relativamente aos estágios, tínhamos um certo número de pacientes a nosso cargo e todos dias eramos responsáveis por os observar e documentar as suas evoluções. Depois, na reunião de serviço (que acontecia todos dias de manha), apresentávamos os nossos doentes e tínhamos de dar sugestões de planos terapêuticos para eles (exemplo: alterar/suspender medicação, pedir novos ECD, dar alta, …). Para além disso, haviam dias específicos para consulta externa. As consultas eram dadas totalmente pelo aluno, que se encontrava sozinho no consultório com o paciente. Antes de finalizar a consulta, os alunos saiam do consultório e iam a uma sala à parte debater com um médico/interno qual o melhor plano para o paciente. Retornavam ao consultório e davam as indicações ao paciente e registavam no computador. Nas especialidades cirúrgicas, nos dias de cirurgias, deixavam entrar os alunos de forma mais ou menos direta conforme a complexidade da mesma. Quando me refiro a entrar é mesmo de bisturi na mão, ou com pinças laparoscópicas. Deixavam fechar os doentes todos e em muitos casos abri-los.

Experiência socio-cultural: Tiveste programa social? Quais foram as atividades que organizaram para ti? Foste bem acompanhada socialmente pelos alunos locais? Havia mais alunos de ERASMUS? Existe dois grupos de apoio a estudantes estrageiros/ intercambistas chamados Amigo Brasileiro e Lagarteando. Basicamente, ambos são constituídos pelas mesmas pessoas, que são alunos ou ex alunos da UFRGS, que se dispõe a organizar eventos e viagens para os intercambistas e dar a conhecer Rio Grande do Sul e o Brasil aos intercambistas. Fomos acolhidos por este grupo e por isso desde cedo nos integramos bem, mas também fomos muito bem recebidos pelos nossos colegas de estágio e da faculdade de Medicina. Para além de nós, haviam intercambistas de todas as partes do mundo, mas principalmente da América do Sul. Para quem for de intercâmbio, e estiver na data da sua realização, considero obrigatório participar no Intermed Sul, que basicamente é um evento em que todas as Faculdades de Medicina do sul do Brasil se

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juntam para 5 dias de festa, convívio e competição desportiva. Para além disto, existe também a TripTri, que é uma agência que organiza várias viagens a um preço muito acessível a vários locais do Brasil e países vizinhos, que também recomendo. Qual a tua opinião sobre a riqueza cultural da cidade? Sentiste algum tipo de choque cultural? O que podia ter corrido melhor? Porto Alegre, é uma cidade que nunca pára. Tem eventos quase todos dias da semana, desde simples eventos tradicionais a mega eventos (nos 4 meses que lá estive houveram concertos de Muse, Coldplay, Paul Mccartney, …). Quanto ao choque cultural, este existiu por motivos positivos e negativos. Embora seja uma das cidades mais seguras e evoluídas do Brasil, é necessário ter precaução ao andar na rua em especial à noite (a partir das 21:00 horas), pois a segurança não é igual à de Portugal. Contudo, pode-se fazer uma vida perfeitamente normal. Depois porque o Brasil é um país de profundas diferenças socioeconómicas. Praticamente não existe classe média, ou se é rico ou pobre. E ser se pobre no Brasil nada tem a ver com ser se pobre em Portugal! Por este motivo, a quantidade de moradores de rua e pessoas a buscarem comida no lixo é assustadoramente grande. As primeiras semanas foram um choque por causa destes motivos.

Por outro lado, a maneira de ser do povo brasileiro é algo incrível. São acolhedores como ninguém, fazem-nos sentir em casa e que somos da família deles. Fazem festa por qualquer motivo e estão constantemente alegres, sendo que isso é algo que nos contagia e que torna, por exemplo, o ambiente de trabalho muito bom. Eles tem uma mentalidade do tipo “sempre se dá um jeito” ou “pega de leve”, que os faz acreditar que a vida não é algo assim tão sério como nós aqui, em Portugal e na Europa em geral acreditamos, que os faz viver mais as coisas simples da vida e, por isso, serem mais felizes, apesar de todos os problemas que o Brasil tem.

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Recomendas o programa que fizeste? (tendo em conta a experiência nos seus vários compartimentos) Absolutamente! Recomendo o programa e em especial recomendo a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFFRGS, que é uma das 5 universidades publicas mais prestigiadas, não só do Brasil mas também da América do Sul. Conselhos que dás aos alunos para o processo de candidatura e para a experiência em si? Fazer a candidatura com tempo, porque são necessários vários documentos. Ir e aproveitar tudo quer a nível hospitalar, porque são dadas oportunidades que talvez nunca mais na vida tenham (exemplo: entrar verdadeiramente numa cirurgia e realizar grande parte dela, fazer um parto sozinho, dar consultas sozinhos, fazer urgências a sério, …), quer a nível sociocultural, pois contactar com uma cultura diferente da nossa e absorver um pouco daquilo que ela tem para nos oferecer só nos torna melhores Seres Humanos, com uma visão mais alargada do mundo e muito mais recetivos e tolerantes às diferenças culturais. Ir no mínimo 6 meses (fiz o erro de ficar só 4 e arrependo me todos dias). Em especial para os alunos que vão para o 6.º ano, ir 6 meses em nada prejudicará o estudo para a PNS e/ou a tese. Ir e aproveitar tudo ao máximo, deixando os problemas de Portugal/UBI cá.


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Tiveste facilidade em obter as equivalências? Houve algum problema em relação ao plano curricular? Antes de ir de intercâmbio e durante a própria construção do plano de estudo falou-se, quer com a responsável da FCS pelos intercâmbios, quer com o Professor Miguel Castelo Branco. Por isso, quando fomos, já tínhamos a certeza que iriamos ter equivalências. É necessário ter em atenção que muitas das faculdades no Brasil têm um tempo mínimo de estágio. Por exemplo, na UFRGS, não se podia fazer nenhum estágio com duração inferior a 1 mês (5 dias por semana, 4-8 horas por dia, de dia 01 do mês até 30/31). No meu caso, por exemplo, acabei por fazer mais horas que as requeridas em todos os estágios (Pediatria 160 horas em vez de 80 horas; Cirurgia 225 horas em vez de 140; Medicina Interna 160 em vez de 140 horas). Contudo, tenho de vincar que, sem dúvida nenhuma, vale a pena! Somos literalmente membros da equipa, temos responsabilidades e trabalho sempre delineados, algo que nos permite evoluir e ganhar confiança que em Portugal talvez só a tenhamos no fim do Ano Comum.

Consideras que o programa ERASMUS te deu/dará mais oportunidades e reconhecimento educacional/ profissional? Tendo em conta o panorama médico português, não sei se eventualmente me será vantajoso ter realizado este intercâmbio, uma vez que o ingresso na especialidade e posteriormente num hospital como assistentes se baseia em notas de exames. Contudo, como pessoa, e pelos motivos referidos anteriormente, sem dúvida nenhuma valeu a pena. Voltei com uma ideia muito diferente de várias especialidades, do próprio funcionamento de um hospital, com outra visão de métodos de ensino teórico e prático da Medicina. Para além disso, voltei com uma mente mais aberta e recetiva e uma maior capacidade de “desenrascanço”, algo que, certamente, no futuro, me ajudarão a ser melhor profissional e pessoa.

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TUNA-MUS 10 ANOS 10 MOMENTOS POR MARIANA TORRES E MARIA LUCIA CASTRO A Tuna-MUs - Tuna Médica da Universidade da Beira Interior, celebra 10 anos de atividade. Este grupo representa o curso de medicina da UBI pelo mundo fora. Fundada a 16 de outubro de 2007 por cinco amigos, foi a primeira tuna constituída apenas por um curso, medicina, a obter o estatuto de tuna pelo Fórum Veteranum. Com o passar do tempo, cresceu e abriu as portas a novos elementos, nomeadamente de outros cursos. Ao longo dos 10 Anos foram integrando a tuna cerca de 100 membros de Medicina, Ciências Biomédicas, Ciências Farmacêuticas, Ciências de Optometria e também Engenharia Aeronáutica e Biotecnologia. Atualmente conta com mais de 45 elementos no ativo, distribuídos por Medicina, Ciências Biomédicas e Engenharia Biotecnológica.

VI Lágrimas de Amores - Coimbra (2017)

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III Gala Tuna- MUs (2011) VS X Gala Tuna-MUs (2018)

Em 2011, criaram a 1ª edição do seu festival: “I Herminius”, que conta já com cinco edições.

III Herminius (2015)

2012 foi um ano particularmente importante. O grupo lançou o seu primeiro álbum ”Trilhos de Neve” e realizou o seu primeiro encontro de tunas: “I Alma e a Beira”.

Visita do Presidente da República à FCS (2016)

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A Tuna celebra este ano os seus 10 anos de existência. Assim, no dia 30 de abril, foram convidados para atuar no programa matinal “A Praça” na RTP1 e à noite, celebraram com o seu próprio evento “10 anos, 10 momentos”. Este realizou-se no auditório da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior. Este espetáculo, que foi solidário, decorreu em parceria com a AJAS - Associação de Jovens para a Ação Solidária. Contou com as presenças de Kayzer Ballet, Edgar Valente, Port Do Soul, Escola Profissional de Artes da Covilhã, GAIJUS, Sexta-Feira Santa, Trovadores e a C’a Tuna aos Saltos - Tuna Médica Feminina da UBI. A Diagnóstico falou com a Tuna-MUs sobre estes 10 anos. D-Quais são os momentos mais marcantes destes 10 anos da tuna? T - Os diversos festivais ao longo desta década, nomeadamente a ida aos Açores e à Madeira. A realização de dez Galas Tuna-MUs, que reúne os familiares e pessoas que nos apoiam. Digressões por diversas cidades nacionais e também espanholas, como Madrid e Sevilha. Todas as conquistas em festivais com esta grande família.

D - Quais os planos da tuna para o futuro? T - O grande objetivo é continuar nesta fase de constante crescimento. Continuar a ter uma relação próxima com os nossos colegas, docentes e público em geral na nossa cidade. E, naturalmente continuar a levar o nosso nome e o da nossa Universidade para todos os cantos do país e porque não mais longe.

D -Quais os prémios mais significativos que já receberam?

D - O que é que um candidato tem de fazer para entrar na tuna?

T - De todos os prémios que já recebemos, todos são muito importantes para nós pois representam toda a nossa dedicação e união durante toda a nossa existência. No entanto, melhor que todos os prémios é sem dúvida deixar o sorriso nas pessoas no final de cada atuação.

T - Primeiro, gostar de música, convívio e de cultivar grandes amizades. Segundo, vontade de se envolver numa das suas maiores e MELHORES oportunidades durante a vida académica de criar laços para a vida. O resto, só mesmo entrando e percebendo a essência desta família.

Para os interessados os ensaios realizam-se às segundas e quartas, entre as 18h00 e as 20h00. Podes seguir a Tuna-MUs no Facebook: https://www.facebook.com/tunamus/ e no Instagram: @tuna_mus

A Diagnóstico congratula a Tuna-MUs nestes 10 anos de atividade com desejos de que venham mais dez em plena harmonia e cheios de festividades. Fim da digressão em Lisboa (2017)

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Revista DiagnOstico

AQUI Os erros do aqui. Procura incansável da descrição das coisas, e para o fazer a necessária organização de definições foi criada. Sei que nada sei, sei que nunca saberei, sei o que sei, ora palavras ótimas... palavras que me levaram a ponderar as minhas duvidas, as mesma cuja a credibilidade não reconheço. Pouco poder as palavras têm. todas ou quase todas são comparativas, subjetivas e nestas restrições me vejo obrigado a não elogiar, a não reconhecer, a não desafiar, apenas a duvidar. Assim reformulo, sei que nada sei, sei que nunca saberei, não sei para dizer que sei. Palavras desorientas, palavras perdidas, sonhando ansiosas pelo seu puro uso. Oh! que maldade a do tirano, aquele que roubou o sonho das crianças. Que fazer ao impuro que, por mero capricho, se atreve a desfiar o sentido? Lei não manda, não há que seguir. face ao cruel mundo que do tempo inventou tantos segundos... segundos presenteados por deus á pobre criatura melosa. Mas bem... que sentidos os sonhos têm senão os de representar o alivio do real, e que sentido têm as palavras se não passam de meros traços onde pequenos deformadores vão buscar satisfação. Muitas perguntas tenho... mas nem elas consigo reconhecer. Alguma vez se viu o mocho a olhar na árvore à procura de energia? As incapacidades são conscientemente realizadas, e mesmo assim calcadas na terra. Muitas perguntas tenho... aqui penso e aqui as interpreto com um horroroso sorriso, emitindo sons (apenas sons). Que pensar senão nas atrocidades que cometo, enquanto os sons da guilhotina se aproximam para esclarecer o pecado da ganância. Pouco digo para aquilo que supostamente, ao escrever isto, pretendo. Enfim já que cá estamos deixei-me dar-vos a conhecer a profundezas da irracionalidade e, como ponto de começo apanhem o que procuram.

AUGUSTO HENRIQUE

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o processo de criação da Faculdade de Ciências da Saúde na Universidade da Beira Interior, no final dos anos 90 do século passado, estava inscrito como um dos requisitos fundamentais para a sua aprovação o “desenvolvimento de modelos inovadores de formação, pautados por padrões científicos, pedagógicos e assistenciais de elevada qualidade e que satisfaçam os requisitos adoptados pelas instâncias nacionais, comunitárias e internacionais”, “com ênfase no sistema centrado na aprendizagem em desfavor do sistema tradicional de ensino centrado na transmissão passiva de informação” adotando-se “metodologias de ensino–aprendizagem centradas no aluno”. Estava também declarado que o currículo devia ser integrado e ter um elevado conteúdo de formação humanística. Esta foi, portanto, a génese do curso de Medicina da FCS1.

N

Esta visão dos órgãos dirigentes da UBI resultou do conhecimento

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Dra. Isabel Neto

Professora Associada Gabinete de Ensino e Metodologias de Avaliação em Ciências da Saúde

do que se passava na altura com o ensino médico a nível internacional e de visitas feitas a outras faculdades de medicina europeias (Bristol, Maastricht, Linkoping, Genéve) onde era utilizada a metodologia PBL (Problem Based Laerning). Esta metodologia pedagógica, que foi introduzida pela primeira vez no ensino médico em McMaster (Canadá) em 19692, foi adotada mais tarde por outras escolas em todo o mundo. O aparecimento das teorias

construtivistas da aprendizagem (construtivismo e construtivismo social) suportam a adoção destes métodos. Estas teorias colocam o foco nas estratégias que ajudam os alunos a assimilar os novos conhecimentos relacionando-os com os adquiridos anteriormente, na colocação de questões que ajudem a estruturar esses novos conhecimentos, num ambiente colaborativo e de trabalho em grupo. O professor é um facilitador que cria o ambiente


Revista DiagnOstico apropriado à aprendizagem motivando e ajudando os alunos no desenvolvimento do seu próprio conhecimento. No curso de Medicina da FCS não foi adotado o modelo de aprendizagem baseada em problemas mas sim o de aprendizagem baseada em objetivos. Qual a diferença? No primeiro o ponto de partida é um problema que serve de mote para identificar, com a ajuda de um tutor, o que é necessário aprender e a partir daí definir os objetivos de aprendizagem. No segundo modelo os objetivos de aprendizagem já foram previamente definidos. A partir daqui a metodologia é semelhante: clarificação dos objetivos ligando-os a conhecimentos anteriores, procura e sistematização de informação, discussão da nova informação em grupo, esclarecimento de dúvidas e verificação dos conhecimentos adquiridos através da avaliação. O tutor é o orientador neste processo sendo do aluno a responsabilidade de aprender. A organização das atividades pedagógicas em pequenos grupos de alunos, além de potenciar a aprendizagem, permite a colaboração na resolução de problemas e dificuldades, a partilha de conhecimento entre colegas, no fundo, desenvolve comunicação e trabalho em equipa, competências essenciais na profissão médica. A auto-aprendizagem e a responsabilização do aluno por procurar informação relevante para resolver problemas são essenciais quando o acesso a essa informação está muitíssimo facilitada, sendo que o importante é perceber como utilizar essa informação e desenvolver a capacidade de a transformar em conhecimento. Este modelo pedagógico tem tido evoluções em diferentes contextos e, também, especificamente na nossa Faculdade. A associação entre as chamadas aulas expositivas, em grandes grupos, e aulas tutoriais em pequenos grupos, numa complementaridade de situações passivas e ativas de aprendizagem, tem mostrado que pode ter benefícios e potenciar as virtudes de cada um dos formatos. Hoje em dia, com a utilização das tecnologias, é pos-

sível fazer a ligação entre a disponibilização de conteúdos on line e as tutorias presenciais em pequenos grupos para discussão e aplicação desses conteúdos. A utilização das chamadas “flipped classrooms”3 é cada vez mais comum, aliando as chamadas aulas teóricas disponibilizadas on line e que os alunos vêem em qualquer lugar e a qualquer hora com as aulas presenciais onde se promove a interação entre colegas e se aplicam os conhecimentos ad-

(...) o importante é perceber como utilizar essa informação e desenvolver a capacidade de a transformar em conhecimento. quiridos através de cenários da vida real. Há escolas médicas que impuseram que todo o currículo utilizasse este tipo de abordagem4 ou que tendencialmente o fossem adotando nos próximos anos5. Outra abordagem pedagógica que promove uma aprendizagem ativa é o TBL (team-based learning) que tem demonstrado eficácia na dinamização

das aulas quer em pequenos grupos de alunos quer em grupos maiores6. Ambas as formas (flipped classes e TBL) têm sido usadas em diferentes contextos no curso de Medicina da nossa Faculdade. Concluindo, existe uma diversidade de metodologias pedagógicas que favorecem uma aprendizagem ativa cabendo às escolas médicas a sua aplicação à sua realidade concreta sempre com o objetivo de encontrar aquelas que melhor possam desenvolver no aluno capacidades que façam dele um profissional competente. 1  Dossier de candidatura do Curso de Medicina, UBI, 1999 2  McMaster University MD Program. h p://mdprogram.mcmaster.ca/mcmaster-md-program/ overview/pbl---problem-based-learning 3  Flipped classroom improves student learning in health professions educa on: a meta-analysis. h ps://doi.org/10.1186/s12909-018-1144-z 4  University of Vermont Robert Larner College of Medicine h p://www.med.uvm.edu/ohpr/ home/2017/06/06/AAMCac velearning 5  Stanford Medicine Interac ve Learning Ini a ves h p://smili.stanford.edu/ 6  A systema c review of the published literature on team-based learning in health professions educa on. h ps://doi.org/10.1080/014215 9X.2017.1340636

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INVICTA

Ó Invicta, quem te fez assim? Esse teu charme, chailes ao alto, fitas em haste, gourmês de não sei quê e um rio de ouro expandem-me, pulmões a insuflar de um ar tão puro e filosófico. Caminho prá Ribeira, hoje vou pela Rua das Flores. Uma dançarina oriental dança com o seu leque, um Charlie Chaplin em busca de risos, uma banda de ritmos calientes e por fim o Douro. Aproximo e só não toco porque está frio, vejo-o pela tua cor. D.Luís I, que rica homenagem aqui tendes, caminho pela ponte e deleito-me com a alma agitada que me trespassa esta cidade, cheira a História! Cá dentro, de mim, quando por aqui passo ouço uma música que não sei se por mim inventada ou por mim captada, não interessa, sei que me salta e entoa nos ouvidos, soa assim: “Meu Porto, meu Porto quando te oiço gemer, abre a ponte lá vai o barco, bebe um Porto só por beber.” E cheira a fado, sabe a uva, vejo cor, oiço guitarra, a nossa! Olhares apaixonados por aqui desfilam, mãos dadas e pequenas curiosidades palpitam naqueles corações, ai o Amor, ai Porto! Isto não se faz, não vês que estou de coração partido? Olhares incrédulos, de quem não sabe, de quem não acredita porque nunca teve, nunca viu nem tocou. Para esses quero gritar, ele existe! Oiçam o vosso maior conselheiro, não o ignorem. Saibam que ele dir-vos-á por todos os sentidos o que quer! Ai! Oiçam, mas cuidado que depois esse será o vosso disco predileto. Amor! E por aqui continuo, Invicta cidade, Invicto meu amor. “Meu Porto, meu Porto(…)”

DeLírio

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CONGRESSOS NACIONAIS

POR MARIA LUCIA CASTRO

MAIO DIA 25

2ª REUNIÃO DE ONCOLOGIA DA COVA DA BEIRA Auditório do Hospital Pêro da Covilhã, Covilhã

DE 27 A 29

X CONGRESSO NACIONAL DE CIRURGIA AMBULATÓRIA / VII CONGRESSO IBÉRICO DE CIRURGIA AMBULATÓRIA Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, Lisboa

JUNHO DIA 8

II JORNADAS CORINO DE ANDRADE Auditório Municipal de Vila do Conde, Vila do Conde

DE 7 A 8

VI JORNADAS DA QUALIDADE CHCB Auditório Hospital Pêro da Covilhã – CHCB, Covilhã

DIAS 14 E 15

4.º ENCONTRO DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR EM MATOSINHOS Centro de Formação Hospital Pedro Hispano, Matosinhos

DE 16 A 19

4TH CONGRESS OF THE EUROPEAN ACADEMY OF NEUROLOGY Centro de Congressos de Lisboa, Lisboa

DIAS 22 E 23

I NOTES CONGRESS NOVEL THERAPEUTIC STRATEGIES FOR NONCOMMUNICABLE DISEASES Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Porto

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CONCURSO DE FOTOGRAFIA MGT No passado dia 19 de janeiro, decorreu um concurso de fotografia, junto ao Grande Auditório da FCS, no âmbito da IX edição do Med’s Got Talent. Estiveram a concurso 28 fotografias, de um total de 41 submissões, da autoria de 14 participantes, tendo o vencedor sido eleito através do voto do público e anunciado ainda durante o evento. Manuel Maia, aluno do Mestrado Integrado em Medicina na Universidade da Beira Interior, foi quem arrecadou mais votos. Contactámo-lo, com o intuito de compreender melhor não só o seu trabalho, como também a sua motivação.

1. Como surgiu o teu interesse pela fotografia? Sempre gostei imenso de fotografia, do que ela desperta nas pessoas e do que uma simples mistura de cores e formas fazem transmitir mais do que mil palavras, como se costuma dizer. Mas tudo ficou mais forte há 3 anos quando me vi com uma câmara na mão e pude tentar registar um pouco do que via onde quer que fosse. 2. O que te motivou a concorrer? Eu concorri para poder partilhar com as pessoas que passassem pela exposição um pouco do que vi longe da Covilhã, dentro e fora de Portugal e que não poderia fazer de outra forma. Essas são as mesmas pessoas com quem partilho o meu dia-a-dia, a nossa Covilhã e vida académica; porque não também um pouco do resto? 3. O que te levou a escolher os títulos das fotografias? Os títulos que escolho são um pouco o que a fotografia me faz lembrar quando a vejo, depois, já em casa. Fazem-me lembrar algo do sítio, cheiros, ambientes, momentos e tento resumi-los numa frase pequena.

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MANUEL MAIA


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Fotografia 1 Título: Bluish Massala Descrição: “Inspirado pelas cores e pelo cheiro das especiarias, tirei esta fotografia numa das viagens mais marcantes da minha vida. Num mundo de cores, onde a pobreza é o dia-a-dia das pessoas, que estão sempre prontas a dar-nos um sorriso e a acolher-nos na sua cultura.”

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Fotografia 2 Título: Saudade Descrição: “De dia, as mesas e bancos corridos. À noite, um luar de amor e saudade. Assim é a vida de estudante numa cidade onde a Universidade é rainha e Senhora do quotidiano. Coimbra escreve-se com saudade e tradição A minha terra, a minha paixão! Por ela, cruzam-se estudantes Que nunca se tinham visto antes. Que se apaixonam, então Por esta cidade, de coração.”

4. De que forma é que a fotografia “Bluish Massala” sumariza a viagem que fizeste ou por que a escolheste, concretamente? Bem, o título mistura a cor principal da fotografia, o azul, com aquilo que, para mim, mostra uma cultura, um cheiro, um sabor, um gosto, um hábito indiano: a Massala. O homem que aparece na fotografia tem na sua cara as marcas de uma vida de sol, de calor, de trabalho; a magreza de um povo que ganha para o que come e não muito mais; uma realidade muito diferente, mas sempre com um sorriso e boa disposição característica dessas mesmas pessoas que têm fé nos seres humanos, acima de tudo.

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5. Por que razão elegeste a fotografia “Saudade”? A fotografia de Coimbra foi uma escolha fácil para mim. Nasci em Coimbra e quase sempre lá vivi, adoro a cidade e a universidade, as tradições e a vida de estudante. Mostrar o Paço das Escolas, símbolo de tudo isso, espelhado no que ficou de um dia de chuva intensa, reflete, além do edifício, também o orgulho que tenho de ser de Coimbra. 6. Qual foi a sensação de veres o teu trabalho reconhecido? Foi absolutamente fantástico. É muito gratificante ver os meus colegas e amigos mostrarem que apreciam as fotografias que tiro e que gostam que partilhe os momentos com eles. É um grande incentivo para continuar e aprender mais sobre fotografia, para melhorar.


Revista DiagnOstico

PERDER AS ESTRIBEIRAS

POR MARIANA RIBEIRO

Nos dias 19 a 23 de março, realizou-se a I Semana Solidária, resultante da parceria entre a AJAS (Associação de Jovens para a Ação Solidária) e a AAUBI (Associação Académica da Universidade da Beira Interior). Esta semana teve o intuito de promover a solidariedade, momentos de partilha e de interajuda por toda a cidade Covilhã, englobando atividades em que todos os alunos da UBI tiveram oportunidade de participar. Estas atividades envolveram a preparação de cabazes, plantação de árvores, pintura de Murais, ajuda na Loja Social de Roupa e animações para crianças e idosos. Assim, com um saldo bastante positivo no final da semana, os participantes reconhecem o valor da semana e confessam a importância no seu enriquecimento pessoal.

CARTOON

POR MARIANA PEREIRA

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Qual E O tEu?


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