XI Edição Diagnóstico

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Revista do Medubi

Edição XI

EDUCAÇÃO MÉDICA

Janeiro 2020


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Projeto: MedUBI Morada: Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade da Beira Interior Telefone: +351 275 329 002 Mail: geral@medubi.pt


ÍNDICE TEXTO DE OPINIÃO

3

OPURTUNIDADES LÁ FORA

7

LINGUAGEM GESTUAL

11

CIÊNCIA BÁSICA

13

COMO É NO ESTRANGEIRO?

15

CASOS CLÍNICOS

17

NOSTALGIA DE UM FINALISTA

19

O INÍCIO

21

TRILHOS DA SERRA

24

LIVRO RECOMENDADO 25


A máquina portuguesa de exportação de profissionais de saúde

Os profissionais de saúde têm uma importância inquestionável e são, provavelmente, o recurso mais importante do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Contudo, nos últimos anos e à semelhança do que se tem observado com os enfermeiros, começamos a assistir à saída de médicos, não só do SNS, como de Portugal. Mas afinal que recurso é esse que o país está a perder? Como se formam os médicos e enfermeiros?


MÉDICOS O título de “Médico” é atribuído pela Ordem dos Médicos a todos aqueles que tenham concluído o Mestrado Integrado em Medicina, um curso com 6 anos de duração, pautado por uma formação rigorosa e das melhores da Europa. Este anos incluem formação teórica, teorico-prática e prática. Após a conclusão do mestrado, o ex-aluno inscreve-se na Ordem dos Médicos e passa a ser designado por Médico. Contudo, para que adquira autonomia profissional, isto é, para que possa avaliar doentes e decidir autonomamente, o médico é sujeito a um ano de internato de formação geral (antigamente designado de ano comum). Nesse ano de formação, o médico colabora com colegas mais experientes de diversas especialidades, ajudando-os e, simultaneamente, aprofundando as suas competências. No fim desse ano, o médico pode ingressar numa especialidade (internato), mediante um concurso nacional com vagas limitadas e insuficientes para todos. Os internatos de especialidade (ou internatos de formação específica) têm a duração de 4 a 6 anos, durante os quais os médicos trabalham para o Serviço Nacional de Saúde. Os internos, dependendo da especialidade, fazem consultas (programadas e urgentes), cirurgias (lado a lado com os especialistas), internam e acompanham doentes internados. São médicos, com autonomia, que se estão a especializar em determinada área, e que trabalham com os especialistas a quem recorrem nos casos de dúvida ou necessidade de ajuda. Têm contratos de trabalho de 40 horas semanais, mas normalmente trabalham mais. O seu sucesso no internato está sujeito à avaliação periódica daquilo que sabe, daquilo que produziu no local de trabalho, dos trabalhos científicos que desenvolveu e apresentou em congressos e das publicações que realizou em revistas científicas. No final dos 4 a 6 anos de internato de formação específica, o médico é sujeito às provas finais para ser então considerado médico especialista pela Ordem dos Médicos.

Decorridos então 11 a 13 anos desde que entrou na faculdade no curso de medicina, poderá então cocorrer para uma vaga de médico especialista.


ENFERMEIROS O título de “Enfermeiro” é atribuído pela Ordem dos Enfermeiros aos profissionais que concluam a Licenciatura em Enfermagem, com 4 anos de duração, incluindo estágios (“enfermeiros estagiários”). É considerado dos melhores cursos de enfermagem da Europa, razão pela qual alguns países importam o excesso de enfermeiros relativamente às ofertas de emprego em Portugal. Cada vez mais enfermeiros, depois da licenciatura, optam por complementar a sua formação com cursos de especialização de enfermagem, de forma a aprofundar conhecimentos e adquirir mais competência específicas. Estes têm duração de 1 a 2 anos e estão amplamente difundidos nas diversas escolas de enfermagem (públicas e privadas), incluindo aulas e estágios. Após essa formação adicional, o enfermeiro passa a ser designado de “Enfermeiro Especialista” pela Ordem dos Enfermeiros. São exemplos os enfermeiros parteiros (enfermeiros especialistas em saúde marterna/obstetrícia), enfermeiros especialistas em saúde infantil e enfermeiros especialistas em reabilitação.

Assim, o enfermeiro especialista é aquele que, além do curso base de 4 anos de licenciatura, frequentou com sucesso um curso de especialização com a duração de 1 a 2 anos, numa formação académica total de 5 a 6 anos.


ACONTECEU

A qualidade da formação dos enfermeiros e dos médicos em Portugal é inquestionável. Ambos investem muito na sua própria formação. Para converter a excelente qualidade dos profissionais nos melhores cuidados de saúde à população é crucial existirem boas condições de trabalho. No Serviço Nacional de Saúde, o desequilibrio entre as atuais exigências e os recursos disponíveis, particularmente a escassez de tempo para realizar um volume excessivo de trabalho de elevada responsabilidade, tem empurrado os profissionais para o burnout e/ou para fora do SNS.

Curiosamente, esta realidade é antagónica ao preconceito de improdutividade dos profissionais dos serviços públicos que ainda hoje persiste

Dr. CARLOS FILIPE GOMES


TRILHOS NA SERRA

OpORTUNIDADES lá fora Existem 1 milhão de atividades em que te podes envolver como estudante que desconheces! Perante isto, trazemos-te duas experiências incriveis no estrangeiro, já para não falar das novas habilidades que tens a oportunidade de desenvolver! AUGUSTO HENRIQUE DIOGO FERREIRA


A non-profit, non-governmental organisation, representing medical students from all across Europe. Founded 1990 in Brussels, it is the only voice of students within the European Medical Organisations. EMSA is recognised by the European Parliament, the European Commission, and the United Nations. The association provides a platform for high-level advocacy, projects, trainings, workshops and international meetings. Its activities gather around 6 Pilars:

Public Health The Public Health Pillar envisions a Europe in which all policies and practices reinforce the promotion of health, preventive healthcare and community wellbeing. The Public Health Pillar aims to raise awareness and advocate for a healthy and environmentally friendly lifestyle within and across Europe.

Medical Science The Medical Science Pillar encompasses many key research principles and practical skills, which are essential for every future physician. It aims to provide a platform where all the students interested in science can communicate with each other, learn from good examples, experiment in various workshops and get inspired by best European scientists.


Medical Education The Medical Education Pillar envisions a Europe of the highest standards in healthcare education and a continuous integration of medical curricula across the continent and a prosperous exchange of best practices in interprofessional education. Empower medical students to be part of shaping an education, that responds to advances in medicine, new learning technologies and philosophy of education.

Medical PolicyW The Health Policy Pillar envisions a Europe in which all policies improve the health and well-being of populations and ensure people-centred health systems that are universal, equitable, sustainable and of high quality within and across Europe. The Health Policy Pillar aims for the successful digital transformation of the healthcare sector that is driven by a healthy healthcare workforce.

Medical ethics The Health Policy Pillar envisions a Europe in which all policies improve the health and well-being of populations and ensure people-centred health systems that are universal, equitable, sustainable and of high quality within and across Europe. This pillar aims for the successful digital transformation of the healthcare sector that is driven by a healthy healthcare workforce.

Human rights


European integration The Health Policy Pillar envisions a united Europe, with common values and solidarity, providing equal opportunities for healthcare students ans professionals, whilst embracing cultural variety. Their mission is to empower students to participate in European mobility and exchange programmes and to foster their intercultural understanding and compassion toward disadvantaged groups in society.

and Culture Outra Atividade: Workforce


LINGUA GESTUAL PORTUGUESA A Língua Gestual Portuguesa, utilizada pela comunidade surda e muda, é ignorada pela maioria da população portuguesa por considerarem uma língua irrelevante no seu dia-a-dia. Todas as pessoas têm o direito de estar enquadradas na comunidade e nós, ouvintes, deveríamos tornar essa inclusão possível.

MARIA RIBEIRO

razão, o MedUBI, juntamente com a professora de Língua Gestual Portuguesa, abre todos os anos uma turma de nível 1, para dar a todos os alunos a oportunidade de no futuro conseguirmos chegar mais além.

No passado ano letivo, a Inês França, Liliana Mendes e Beatriz Fia Muitos de nós, futuros médicos, te- lho decidiram inscrever-se nessa turmos a preocupação de chegar a toda a po- ma e deram a conhecer um poupulação através da comunicação. Por essa co mais sobre a sua experiência.

INÊS FRANÇA “Ora bem, penso que as aulas de Língua Gestual tiveram a capacidade de enriquecer, não só em termos académicos, mas também intelectualmente. Este curso foi de facto interessantíssimo e definitivamente uma mais valia para o futuro. Não posso deixar de destacar a atenção e dedicação da professora, que sempre procurou estimular e cultivar os nossos interesses. Concluindo, adorei esta experiência e menciono desde já que pretendo continuar no próximo nível, e aconselho vivamente a que todos deem uma oportunidade a esta aventura.”


LILIANA MENDES

BEATRIZ FIALHO

É, indubitavelmente, umas das experiências mais desafiadoras a que alguma vez me propus. O curso ocorre todas as segundas feiras das dezoito às vinte horas desde meados do mês de outubro de 2018. O facto de esta área ser ainda desconhecida para mim e a dificuldade de todo o processo de aprendizagem, tem me cativado cada vez mais e tornado esta experiência ainda mais enriquecedora. O principal motivo que me fez inscrever no curso foi o ideal de igualdade. Considero extremamente necessário que os profissionais sejam capazes de comunicar com pessoas que não o conseguem fazer oralmente, imagino-me na situação de alguém com esse tipo de dificuldade a querer-se comunicar numa instituição de saúde e ninguém compreender quem a pessoa é, a origem do seu sofrimento e o que a fez recorrer ao local. Ter a oportunidade de frequentar este curso permite uma abertura para um novo mundo, tornando-nos capazes de enfrentar as adversidades e responder às diferenças da sociedade com equidade. Quero continuar todo este processo de aprendizagem de uma nova e diferente Língua, tornando-me um pouco mais capacitada e um pouco mais humana, enaltecendo mais uma vez a responsabilidade social de um profissional de saúde em tratar, como referido anteriormente, com equidade todas as pessoas que recorrem a si, necessitando do seu auxílio.

Já alguma vez pensaste como é comunicar apenas com gestos e expressões faciais? Posso garantir-te que não é tarefa fácil, requer muito treino e dedicação, mas não tenhas dúvida de que é uma aventura muito interessante e enriquecedora. A curiosidade em experimentar algo diferente aliada à possibilidade de necessitar destas competências no futuro foram as razões que me levaram a embarcar no Curso de Língua Gestual. Já perdi a conta às palavras que aprendemos, foram tantas! Sabias que não há uma língua universal e que em cada cidade há algumas variações em certas palavras?

É um mundo novo que vale a pena descobrir desde a sua raíz... e ele está à tua espera!


HISTÓRIA O própolis é uma mistura complexa de substâncias recolhida pelas abelhas da espécie Apis mellifera, dos brotos de algumas árvores e plantas, que contêm substâncias como materiais lipofílicos, látex, resinas, bem como de exsudados de feridas nas plantas (Bankova, 2005; Castaldo and Capasso, 2002; Lustosa et al., 2008). A abelha recolhe os exsudados com as suas mandíbulas, mistura com a cera por si produzida, e com as patas dianteiras empurra para os sacos das patas traseiras, onde armazena o material recolhido (Fig. 1) (Sforcin, 2007). Durante este processo as enzimas fermentativas da saliva são misturadas com o material bruto recolhido, o que provoca a hidrólise de compostos, nomeadamente dos glicosil-flavonóides, que na presença da enzima β-glicosidase originam flavonóides agliconas (Lustosa et al., 2008; Park and Ikegaki, 1998; Ramos and Miranda, 2007). Quando a abelha completa a recolha, voa para a colmeia onde deposita o própolis que será utilizado na construção e conservação da colmeia (Fig. 2) (Bankova et al., 2006).

Desenpenha funções na protecção contra microrganismos e insectos, na reparação de fendas ou partes danificadas da colmeia, na garantia séptica de locais para a postura de ovos pela abelha rainha e na mumificação de insectos e outros invasores (Lustosa et al., 2008; Marcucci, 1996).

PRÓP

INVESTIGADOR LEANDRO MOREIRA

DOI: 10.1016/j.fct.2010.11.042


APLICAÇÕES Antimicrobiano

OLIS

Antitumoral

Antiviral

Antiprotozoárico

Antioxidante

Antiinflamatório

e

Imunomodulatório


How many years is the internship on anesthesiology in your country? The residency in anesthesiology are 4 years in total. *FYI : To be a doctor in South Korea, one has to complete (typically) 6-year course in medical school. After 6 years as a medical student he or she takes Korean Medical Licensing Examination (KMLE) to be a certified doctor. Usually, after passing the exam, we have 1 year of internship in an hospital, which we call them “interns”, and 3 or 4 years of residency (“resident”). At the end of the residency period one can take an exam to be a specialist, or we call them “board-certified physicians/ surgeons”. If one wants to study more one can take a fellowship period (“fellow”).

In which hospital do you work?

Now I have my own pain clinic, for I’ve studied pain medicine as well as anesthesiology (“Anesthesiology and Pain Medicine“). I have completed my residency in Presbyterian Medical Center(PMC) located in Jeonju. *FYI ; If you want to know more about PMC, visit http://jesushospital.com/index.asp.

Do you have access to the latest technologies? Since it is mandatory to take academic courses annually to some extent to maintain one’s doctor license in Korea, it is accessible to get the latest information in

my field. Mostly I attent those courses or conferences, or refer to the latest textbooks or technical texts to get recent advances.

Do you think that it is a specialty with a lot of demand in South Coreia? Yes, the demand is consistently increasing in South Korea, since it is needed in every operating room and one can also open one’s own pain clinic if he or she wants.

Why did you choose this particular speciality? Would you choose it again? To be honest I chose anesthesiology because there was no competition at that time (haha). It was only “anesthesiology” when I applied, but the official name of the specialty has changed to “anesthesiology and pain medicine” since 1999. If I can go back to that moment again, well, yes I think I’d choose it again. I’m quite satisfied with my life now with my own clinic, so no regrets.

Is it hard, in your profession, to conciliate your personal life with the professional one? I have experienced a life in general hospital as an anesthesiologist before, so I can tell that the work-life balance mostly depends on the operation schedules, which means basically you don’t have a personal life there. But after I opened my clinic I could focus on my personal life more than before.


COMO É NO ESTRANGEIRO? Entrevista a um dos melhores Anestesiologistas na Coreia do Sul, mostra-te como é trabalhar e formar-se lá.

JÉSSICA LEMOS


CASOS

CLINICOS

UROLOGIA 1. A senhora M.I.A. de 25 anos, deslocou-se ao SU por 24h de febre alta, dor lombar, disúria, polaquiúria e urgência miccional. Nas análises apresentava leucocitose, leucocitúria e PCR elevada. Qual o diagnóstico mais provável?

A- DPOC B- Rinite Alérgica C- Asma Brônquica D- Bronquiectasias E- Neoplasia do pulmão

A- Pielonefrite aguda B- Pielonefrite xantogranulomatosa C- Pielonefrite enfisematosa D- Cistite aguda

O senhor P.S.A. de 22 anos, apresenta crises recorrentes de dispneia, pieira e opressão torácica. Nega hábitos tabágicos. Realizou uma espirometria do qual indicava uma síndrome obstrutiva com boa resposta aos broncodilatadores. Qual é o diagnóstico?

PNEUMOLOGIA


CaSOS CLInICOS

CARDIOLOGIA 1. O senhor M.A.N. de 63 anos recorreu ao SU depois de ter tido uma dor torácica que irradia o dorso. Tem HTA. À entrada a TA era 190/40 mmHg. Qual o exame complementar de diagnóstico mais útil?

A- Prescrevia uma mudança na dieta e exercício físico B- Pasta de açúcar e colocava no interior da bochecha C- Glucagon IM D- Insulina NPH E- Nada

A- Ecocardiograma B- ECG C- TC cardíaca D- Todos dos anteriores E- Nenhum dos anteriores

O Sr. L.A.M.A. de 59 anos, é diabético tipo 1 e está internado no serviço de Medicina Interna. Está com fala arrastada, tremores, palpitações, suores frios e muito confuso. Foi lhe pedido a glicémia em jejum da qual estava a 25 mg/ dL. O que fazias?

ENDÓCRINO A Sra. L.E.R. de 32 anos, grávida de 22 semanas, foi diagnosticada com trombose venosa profunda. Qual será o tratamento mais indicado?

HEMATO JÉSSICA LEMOS

A- Heparina não fracionada subcutânea B- HBPM C- Dagibatran D- Apixaban

Solução: A,C,B,C,B


CROnICa

NOSTALGIA DE UM FINALISTA Quando cheguei pela primeira vez à Covilhã lembro-me de ver uma montanha enorme e alguns animais em campos esverdeados, ruas sempre a subir ou sempre a descer e, de repente, uma faculdade magnífica, a faculdade onde iria estudar e apostar no meu futuro! Agora como finalista sei que o tempo passou demasiado rápido, gostaria de ficar mais tempo. Olhando para trás fazia tudo de novo e ainda mais. Estou feliz, porque a minha altura chegou, chegou o momento tão aguardado de prosseguir com o meu sonho, o meu grande sonho. No entanto, sinto uma tremenda nostalgia, porque passei a pertencer à Covilhã. Os sapatos do traje já estão gastos, não sei bem como aguentaram tanto Km; a capa ainda arrasta no chão, o que indica que em 6 anos não cresci em altura, mas sim como pessoa. O sorriso grato por esta brilhante oportunidade continua presente e os 6 anos parece que não passaram. Ainda ontem estava no primeiro ano, era caloira. As ruas da Covilhã já não me são estranhas, já as percorri tantas vezes que já não sinto que sejam in-

clinadas. São ruas que já me pertencem. O sexto ano é um misto de emoção: desejo de permanecer nesta casa, tristeza por ir embora, saudade intensa de tudo o que se viveu aqui e de tudo o que ficou, mas também vontade de descobrir o que o futuro me preparou, desejo de me conhecer numa outra dimensão pessoal, a do meu sonho. Vão surgindo novos estudantes e eu gostaria de lhes mostrar a beleza desta terra, o quanto

Digo um até já à mi As recordações guardo-as bem juntin


CROnICa

ela me encanta e o quão pode encantá-los também. Gostaria de lhes mostrar todos os motivos que me fizeram ficar, para ficarem também. Covilhã acolhe quem lhe chega. E acolhe carinhosamente de braços abertos. É bela como a vemos. É assim. Sinto muita satisfação pela Covilhã me ter albergado tão bem, me ter fornecido uma segunda casa, mesmo que inicialmente não a tivesse visto dessa maneira, e grata pela fa-

culdade existir, porque sem ela não teria seguido o meu sonho. Hoje agradeço aos meus tutores por todos os ensinamentos e conselhos essenciais. Agradeço à minha família, afilhados e amigos, pois deram-me forças quando não as tive, apoiaram-me sempre em tempos difíceis, ajudaram-me incondicionalmente e nunca faltaram aos momentos especiais. Um obrigada gigante em especial aos meus pais por todo o esforço que constantemente fazem para que eu e a minha irmã possamos seguir os nossos sonhos. Bem-haja!

inha segunda casa. nho a mim, no coração, para sempre.

MARIANA RIBEIRO


CROnICa

O ÍNICIO Nem sei como se começam estas coisas, nem sei se o propósito é ter sequer um começo ou se posso começar pelo fim, depois enveredar pelo início e só no final falar do que está no meio. No entanto, isso para mim não teria jeito, era estar aqui a ostentar-me como experiente nestas andanças, coisa que não sou. Ninguém quer uma novata armada aos cucos. Há uns dias encontrei um excerto que, mais tarde, vim a descobrir que pertencia a uma obra de Herberto Helder, “Photomaton & Vox”. Era assim: “Vou contar uma história. Havia uma rapariga que era maior de um lado do que do outro. Cortaram-lhe um bocado

do lado maior: foi de mais. Ficou maior do lado que era dantes mais pequeno. Cortaram: Ficou de novo maior do lado que era primitivamente maior. Tornaram a cortar. Foram cortando e cortando. O objetivo era este: criar um ser normal. Não conseguiam. A rapariga acabou por desaparecer, de tão cortada nos dois lados. “ Devo dizer que a minha primeira reação ao ler este texto foi pensar “Outra vez a falarem do mesmo arroz: a pressão para sermos todos iguais e a opressão ao que é diferente na sociedade”. Tentem imaginar-me com voz de sátira a dizer estas palavras na minha cabeça. Não lhe dei, de todo, a importância que este merecia porque olhei para ele como um burro olha para um palácio, sem tentar ver o que está além. Os dias depressa passam quando estamos ocupados, quando temos de estudar e não temos tempo para pensar direito no que é inacessível aos olhos. Pensamos superficialmente, deixamos que aquilo em que pensamos se desvaneça e que a nossa mente se volte a focar naquilo que é importante. Talvez nos falhem coisas quando não pensamos nelas como deveríamos. Talvez as coisas que achávamos que eram importantes em primeiro lugar não o sejam. Talvez o que eu esteja aqui a dizer seja uma tolice e não nos falhe nada. A verdade, é que sinto que vivo sem pensar. Sei que


CROnICa faz pouco sentido, mas desde que acordo até que me deito, tenho o dia quase todo planeado em função de um objetivo, seja estudar para aquele exame, ou estar com determinadas pessoas, ou até ir às compras e arrumar a casa. Faz-me falta parar, e finalmente o fiz nesse dia. Não conseguia dormir. Já tinha lido aquilo uma vez, contudo puxei outra vez do telemóvel antes de me deitar e reli. E pensei. Primeiro imaginei que partes do meu corpo eram mesmo cortadas e aí é que foi hipoteticamente doloroso. Depois pensei em como é estar sob pressão externa para ser uma pessoa que não queres ser. Não deve ser agradável. Por fim pus-me a pensar como seria se víssemos uma parte de nós que estivesse fora do sitio, mais inclinada para um lado do que para o outro e decidíssemos removê-la. Então, dia após dia, partes nossas que se interpusessem no caminho entre o que somos e o que pretendemos ser seriam progressivamente cortadas. Chop, chop, chop. E depois ficávamos melhor. Se calhar não era assim tão mau retirar as nossas partes fracas.

Assim poderíamos ser melhores pessoas, melhores profissionais e até melhorar as nossas relações interpessoais. No fundo fazemos isso muitas vezes. Quantas vezes não relegamos para segundo plano partes nossas que querem ser diferentes daquilo que temos estabelecido para elas. Parece paradoxal, parece contraditório, mas tiremos todos um momento para pensar se, em determinada parte da nossa vida, já nos apeteceu ser algo de diferente do que somos hoje. Depois, tão rapidamente quanto essa ideia surgiu, também ela desapareceu porque lembramo-nos que os planos que temos primariamente definidos são insustentáveis com aquela ideiazinha que temos ali a despontar. Podemos ter perdido coisas incríveis ou podemos ter-nos livrado de momentos desagradáveis, mas nunca saberemos. Não passa só por isso. Passa por querermos eliminar características nossas porque elas nos trazem problemas: não querer ser teimoso, não querer ser sensível, não querer ter mau génio. O medo de nos caracterizarem pelos nossos defeitos traz-nos vulnerabilidade. E a vulnerabilidade deixa-nos aterrorizados. Aí estanco e penso que o erro, inevitavelmente presente no nosso dia-a-


CROnICa

-dia, se deve a tudo isso, a nunca sermos 100% aptos para fazer algo bem. Temos uma natureza que perpetua o erro, no entanto, nem sempre coisas más daí resultam. Talvez esta mesma natureza seja a que nos traz versatilidade, diferença e beleza. Se a diferença não existisse a arte pouca piada tinha, tendo em conta que seria toda monótona. Faço um esgar porque acabei de perceber que a última coisa que me tinha ocorrido acerca daquilo era muito similar à minha primeira conclusão, porém é um pouco mais do que aquilo em que eu pensei no imediato e só isso já me trouxe mais alívio. Há coisas que não vemos logo à primeira e que exigem tempo de nós. Acabei por ficar satisfeita por tê-lo despendido a pensar naquilo. Viro-me para o outro lado. Faço retrospetivas e penso se de há uns anos para cá já andei a cortar bocadinhos de mim. Considero que não, ainda assim

não estou igual. De facto, estou cheia de remendos, cheia de coisas novas que me foram surgindo ao longo dos anos e que as decidi coser a mim. Não quero ficar sempre igual, mas também não quero andar perder bocadinhos de mim. Ainda estou inteira e isso chega-me. Acho que já vou conseguir dormir.

CÁTIA BÁTISTA


TRILHOS DA SERRA Um Olhar Diferente

POIOS BRANCOS Tipo: Circular Altitude início: 1520 m Altitude mínima: 1440 m Altitude máxima: 1680 m Dificuldade: Média Extensão: 7,9 km | 25,4 km


A Mão Que Nos Opera

Confissões de um cirurgião sobre uma ciência imperfeita De: Atul Gawande

Um best-seller internacional, considerado como fascinante, autêntico e visionário por vários críticos, entre os quais, do The Nation, Time e The New York Times Book Review.

JÉSSICA LEMOS


InSPIRACAO nA LEITURA O escritor, Atul Gawande, é um cirurgião geral norte-americano, formado nas Universidades de Stanford, Oxford e Harvard. Atualmente, professor assistente em Harvard, sendo considerado um dos maiores especialistas mundiais na remoção de glândulas endócrinas cancerígenas. Reconhecido também pelo seu trabalho na área de Saúde Pública, auxiliando na redução de erros e aumento da eficácia, eficiência e segurança dos procedimentos cirúrgicos. Na escrita apresenta diversos livros já publicados e é colunista em revistas e jornais médicos. Com direito a um prefácio escrito por João Lobo Antunes, que faz referência à simplicidade e coragem que o autor demonstra ao abordar assuntos mais delicados da prática médica atual, um deles a incerteza, mencionando que “(...) é indispensável ensinar a incerteza aos nossos estudantes de Medicina.” O neurocirurgião português, prescreve então este livro como leitura obrigatória para todos os médicos, onde estes “(...) encontrarão ainda o consolo de perceber que fazem parte de uma

comunidade solidária e universal, que fala uma língua singular com mais de dois mil anos de existência.” Uma obra que visa o relato de histórias reais vivenciadas pelo próprio autor, como: os seus anos como interno, primeiras inter venções cirúrgicas e casos bizarros; oferecendo-nos uma visão desassombrada sobre a mais fascinante e intuitiva das profissões. O livro está dividido em 3 partes, cujos temas principais são: Falibilidade, Mistério e Incerteza. Começa com uma história da “bala perdida”, que demonstra o mistério que é a medicina, uma ciência imperfeita, que não se encontra explicada nos grandes e conceituados livros de estudo; e termina com uma reflexão sobre a incerteza e os riscos da profissão. No tema da Incerteza, um caso incluid o no tópico de “Afinal, de Quem É o Corpo?” suscitou algum “desconforto” e “inquietação” sobre a capacidade de decisão e o consentimento informado de um doente. Relata que. quando era interno de primeiro ano de cirurgia, tinha ido obter a autorização para uma cirurgia para descompressão


InSPIRACAO nA LEITURA

(…) Mas, como lhe fora explicado, a vida não era o que tínhamos para lhe oferecer. (…) Teria sido um erro, então, ter-lhe sequer falado sobre a opção cirurgia? O nosso credo médico contemporâneo pôs-nos numa sintonia delicada com os requisitos da autonomia do doente. Mas existem ocasiões (…) em que um médico tem de orientar os doentes para fazerem o que é bom para eles próprios. (…) um bom médico não pode simplesmente pôr-se ao lado quando os doentes tomam decisões más ou autodestrutivas (…)”. Para terminar, fica a mensagem que mais impactante e que demonstra a ideia que o autor tenta transmitir:

Não podemos compreender a medicina se não compreendermos porque é que às vezes corre mal

de uma metástase na medula espinal a um senhor com um cancro disseminado por todo o corpo, com hipóteses de sobrevivência à intervenção e de voltar para casa escassas. Mesmo sendo informado das possíveis complicações, o doente tinha o desejo de ser operado, porque não queria ficar paralisado devido ao tumor. A operação foi um sucesso, contudo ocorreram várias complicações no pós-operatório, cujos esforços da equipa eram inúteis. O doente estava amarrado à cama, sedado e ligado a um ventilador, exatamente a forma como ele não queria morrer. Ao décimo quarto dia, o filho pediu que desligassem o ventilador. A conclusão do médico é que o doente “tinha feito uma má escolha porque ia contra os seus interesses mais profundos (…), era evidente que queria viver.


DIaGnOSTICO

Seminários “in a nutshell”

MARIANA PEREIRA

FUNNY SECTION


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QUAL E O TEU?

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