REVISTA MEDUBI
ED. IX
NOVEMBRO 2018
InteRnAtO Internato no Brasil Dra. Sara Amaral
ActiviDaDes Intercâmbios - Abroad Adventures Med On Tour
EnsinO Desmistificando a Tese Entrevista ao Prof. Doutor David Ângelo A liçao do Professor Doutor Manuel Antunes
vOluNtaRiaDo AIESEC - Entrevista a Marco Raposo
PROJETO: MedUBI MORADA: MedUBI - Nucleo de Estudantes de Medicina da Universidade da Beira Interior Faculdade de Ciências da Saúde | Rua Infante D. Henrique | 6200-506 Covilhã | Portugal TELEFONE: +351 275 329 002 E-MAIL: geral@medubi.pt
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FICHA TECNICA DIRETOR Jónatas Nogueira
DESIGN E PAGINAÇÃO Jónatas Nogueira
EDITORA GERAL Tatiana Neves
ILUSTRAÇÕES Mariana Pereira
DIRETOR CIENTÍFICO Ricardo Ascenção
CARTOON Mariana Pereira
DIRETORA CULTURAL Marta Afonso
DEPARTAMENTOS Educação Médica Mobilidade Saúde e Ação Social
TESOUREIRA Marta Figueiral COMUNICAÇÃO Mariana Silva COLABORADORES Eduarda Oliveira Maria Lúcia Castro Mariana Castro Mariana Pereira Mariana Torres Vasco Figueiredo
CONTACTOS diagnostico@medubi.pt medubi.pt/diagnostico facebook.com/diagnostico.ubi
Revista DiagnOstico
EDITORIAL epois de longos anos de interrupção, a revista Diagnóstico não mais parou e caminha para a sua quinta edição. Trata-se de um esforço conjunto de estudantes para estudantes, com o intuito de auxiliar a formação de médicos mais atentos e humanos, que vejam o paciente para além da doença, e que encarem a formação académica para além do currículo obrigatório da Faculdade. Esta revista, que é a tua, continuamente se tem readaptado e moldado às necessidades atuais, com temas e testemunhos de relevância confirmada. Esta revista, que é a tua, continuamente procura formar os médicos do futuro, capazes de perceber o impacto da diversidade e multiculturalidade, bem como a necessidade de um olhar atento e espírito crítico. Para esta edição, trazemos-te as temáticas das viagens e do voluntariado. Deixa-te envolver na multiculturalidade, e inspira-te a ser mais!
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CATARINA GONÇALVES , PRESIDENTE MEDUBI
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INDICE 03 EDITORIAL 05 ACONTECEU AGRADECIMENTOS
08 ABROAD ADVENTURES 10 ROCHEDO 11 ESPECIALIDADE NO ESTRANGEIRO BRASIL
14 AIESEC ENTREVISTA A MARCO RAPOSO E MADALENA ESPADA
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20 A LIÇAO DO PROFESSOR , DR. MANUEL ANTUNES 23 MED ON TOUR ENTREVISTA A SUSANA VIANA E SARA JUSTO
26 HOW TO LEARN ABOUT ME SPECIAL(TIES) EDITION DR. DAVID ANGELO
30 DESMISTIFICANDO A TESE 36 CARTOON 37 CONGRESSOS NACIONAIS 38 PERDER AS ESTRIBEIRAS
Revista DiagnOstico
ACONTECEU
LOCAL SOCIAL PROGRAM
COVILHA ON IFMSA EXCHANGES SCOPE AND SCORE POR DEPARTAMENTO DE MOBILIDADE á já mais de 30 anos que Portugal envia para o estrangeiro, através da ANEM, estudantes de medicina em estágios científicos ou clínicos. De igual forma, Portugal mantém-se a renovar contratos com outros países, acolhendo alunos estrangeiros de origem cada vez mais vasta. E é como membro da IFMSA que a ANEM participa no maior programa de mobilidade organizado por estudantes e para estudantes.
mar. Agradecemos à Chefe de Divisão de Informação e Projetos Turísticos, Clara Noronha, pela oferta bastante prezada por todo o grupo.
Como de habitual, no mês de julho foram recebidos 20 alunos vindos de todos os cantos do mundo, na Covilhã, cidade neve. É um prazer acolher estes futuros empreendedores na nossa cidade e contamos com a hospitalidade da Universidade da Beira Interior assim como do Hospital Pêro da Covilhã e seus funcionários.
E falando em hospitalidade os agradecimentos remetem também à Pousada da Juventude da Calheta.
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Sendo este programa de intercâmbio organizado por estudantes para estudantes e tendo já muitos dos membros da associação de estudantes de medicina, MedUBI, experienciado o estagio no estrangeiro, valorizamos a oportunidade única de aprendizagem e crescimento pessoal, e trabalhamos todos os anos para elevar as fasquias e superar expetativas em relação à qualidade destes estágios. Iniciámos durante o mês de julho, projetos pioneiros no que concerne ao Programa Social Local destes estágios. Foram vários os sonhos, os obstáculos, e por fim as vitórias. Notamos a importância do apoio que varias entidades se disponibilizaram a dar em prole da melhor qualidade do programa. Organizamos uma viagem à Madeira nos dias 6, 7 e 8 de julho. Os alunos ficaram a conhecer toda a beleza natural e riqueza da ilha, assim como as potencialidades económicas e turísticas. A satisfação imensa foi geral e por isso não poderemos deixar de agradecer às mais nobres entidades que nos apoiaram. Deixamos um agradecimento especial à Câmara Municipal do Funchal pelo incrível acolhimento e pela emblemática visita guiada à ilha, com notável contributo da Técnica Superior de Turismo, Maria da Luz Ribeiro.
Não poderemos deixar de agradecer à Associação Juvenil de Medicina da Madeira, AjeMED, por todo o apoio na concretização dos planos para o fim-de-semana. A hospitalidade mostrada é de louvar.
Não poderíamos, no entanto, iniciar os primeiros passos na viagem sem o apoio do Filarmónica Recreativa Carvalhense e do Grupo Folclórico das Cortes que nos emprestaram carrinhas para transporte dos estudantes. Os mais cordiais agradecimentos. No mesmo fim de semana, organizamos uma viagem alternativa a Peniche. Os alunos participantes aprenderam sobre a importância do mar para a economia portuguesa, passando pelas docas. Tiveram o deleite de embarcar até às Ilhas Berlengas e passaram pela aventura de uma aula de surf. Em Peniche, os estudantes de medicina tiveram a oportunidade de contribuir para a saúde pública, uma vez que realizaram rastreios na praia, onde mediram glicémia e tensão arterial, assim como promoveram a educação para a saúde. Os alunos foram recebidos de forma extraordinária pelo Presidente da Câmara Municipal de Peniche, Henrique Antunes, ao qual temos a agradecer pelo nobre ato. Agradecemos também a oferta de alojamento no Centro de Alto Rendimento de Peniche. Agradecemos à Surg Embassy Hostel, pela disponibilidade na aula de surf. Proporcionaram a maior parte do espirito de aventura da atividade. Um obrigada à docapesca e à Feeling Berlenga pelo contributo nas atividades de visita às docas e passeio de barco, respetivamente.
De igual forma, um obrigado à Câmara Municipal da Calheta que nos facultou transporte necessário dentro da ilha.
Deixamos também especial agradecimento à Farmácia Holon na Covilhã que disponibilizou todo material necessário aos rastreios.
Graças à Secretaria Regional do Turismo e Cultura, os estudantes puderam absorver melhor a cultura madeirense, com um magnífico jantar de boas-vindas à beira
A nossa satisfação é enorme e pretendemos apenas acrescentar a estes programas.
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AGRADECIMENTO MADEIRA odos os anos, o MedUBI recebe na Covilhã estudantes estrangeiros de medicina no âmbito dos Intercâmbios Clínicos e Científicos da IFMSA. Estes alunos realizam um estágio clínico no Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB) ou têm a oportunidade de acompanhar um projeto de investigação desenvolvido no Centro de Investigação em Ciências da Saúde (CICS). Por outro lado, podem também participar num programa social que lhes permite divertir, conhecer melhor o país e explorar a cultura portuguesa.
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Entre todas as atividades desenvolvidas, destaca-se a viagem à Madeira, que decorreu nos dias 6, 7 e 8 de julho, e que deu a singular oportunidade a um grupo de 17 alunos de descobrir uma ilha de paisagens naturais exuberantes e com uma riqueza cultural única. O MedUBI gostaria de agradecer o apoio de diferentes entidades sem as quais este projeto não teria sido possível: -Secretaria Regional do Turismo e Cultura, na pessoa da Chefe de Divi-
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são de Informação e Projetos Turísticos, Clara Noronha, pelo Jantar de Boas-Vindas à beira-mar; -Câmara Municipal do Funchal, na pessoa da Técnica Superior de Turismo, Maria da Luz Ribeiro, pela organização de uma visita a toda a ilha; -Câmara Municipal da Calheta, pela oferta de transporte na ilha;
-Pousada da Juventude da Calheta, por toda a hospitalidade; -Associação Juvenil de Medicina da Madeira, AjeMED, por todo a ajuda facultada na preparação da viagem; -Filarmónica Recreativa Carvalhense e Grupo Folclórico das Cortes, pela disponibilização de carrinhas para o transporte de estudantes.
Revista DiagnOstico
AGRADECIMENTO PENICHE odos os anos, o MedUBI recebe na Covilhã estudantes estrangeiros de medicina no âmbito dos Intercâmbios Clínicos e Científicos da IFMSA. Estes alunos realizam um estágio clínico no Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB) ou têm a oportunidade de acompanhar um projeto de investigação desenvolvido no Centro de Investigação em Ciências da Saúde (CICS). Por outro lado, podem também participar num programa social que lhes permite divertir, conhecer melhor o país e explorar a cultura portuguesa.
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Entre todas as atividades desenvolvidas, destaca-se uma viagem a Peniche, que decorreu nos dias 6, 7 e 8 de julho e que deu a oportunidade a um grupo de 5 alunos de compreender a importância do mar no contexto nacional e descobrir toda a beleza natural da região. Por outro lado, foi promovida uma atividade de saúde pública, com a realização de rastreios na praia dirigidos à comunidade.
O MedUBI gostaria de agradecer o apoio facultado por inúmeras comunidades, sem as quais esta atividade não teria sido possível: -Câmara Municipal de Peniche, na pessoa do seu Presidente, Henrique Antunes, por ter recebido os alunos e por toda a hospitalidade; -Centro de Alto Rendimento de Peniche, por ter cedido alojamento; -Surf Embassy Hostel, por ter realizado a aula de surf. -Docapesca, por ter disponibilizado uma visita às docas; -Feeling Berlenga, pela realização de um passeio de barco às Berlengas; -Farmácia Holon na Covilhã, por ter cedido todo o material necessário à realização.
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ABROAD ADVENTURES MARIANA RIBEIRO
ara mim, o intercâmbio foi a melhor experiência que tive oportunidade de viver! A cidade onde fiquei, Kaunas, era bonita e muito mais verde do que estava à espera, o que foi um ponto a favor já que adoro a natureza. Os jardins combinados com vários lagos tornaram o sítio ainda mais especial, podendo desfrutar o sol de verão da melhor forma!
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Consegui sair da minha zona de conforto, fazer muitos amigos de várias nacionalidades, praticar o inglês e também aprender um pouco de marroquino e francês. Visitei diferentes cidades e países e conheci várias culturas, um pouco distintas da nossa. Em termos de segurança, senti-me sempre segura, mesmo nas saídas à noite em grupo para jantar ou ir à discoteca. Relativamente à possibilidade de tempestade tropical, apenas numa situação tivemos de aguardar dentro da residência, mas sem intercorrências. Em relação a estagiar noutro hospital totalmente desconhecido, considero que é uma oportunidade para nos auto-desafiarmos a chegar mais longe, além de que investimos na nossa aprendizagem e acabamos por conhecer outras realidades de trabalho. Na minha experiência hospitalar pude acompanhar os médicos nas visitas aos pacientes, ir para o serviço de urgência e observar as consultas. Apesar de a componente prática não ter sido tão intensas, aprendi muito com os casos que surgiram naquele mês.
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Revista DiagnOstico Tivemos oportunidade de fazer um curso de suturas, que foi muito bem estruturado e planeado. Consegui relembrar a base teórica e treinar nos modelos espetaculares que nos foram fornecidos. Gostava de salientar que notei algumas diferenças na prática clínica entre o hospital de Kaunas e os hospitais da Covilhã/ Guarda/Castelo Branco. Acredito que me vá ajudar no futuro, pois fui capaz de me adaptar a um ambiente de trabalho distinto. Em todo o mês de Agosto fiquei a residir numa residência de estudantes, que ficava a 5 minutos a pé do hospital. Tinha vários pisos, possuindo tanto escadas, como elevador. Um dos vários pontos positivos foi que da varanda se assistiam a pôr-de-sol maravilhosos enquanto cozinhávamos. Um ponto negativo foi que apenas uma cozinha (a do nosso piso) tinha mesa e equipamentos culinários. Quanto aos almoços, aproveitei as senhas de almoço que nos foram fornecidas pela associação de estudantes, almoçando todos os dias da semana no hospital. O jantar era preparado por nós. Havia vários supermercados perto da residência, o que facilitava muito o processo de compra de alimentos. Verifiquei que o custo de vida era semelhante ao de Portugal, o que foi ótimo para me habituar rapidamente aos gastos. O menos agradável foi o facto de nos restaurantes da Lituânia muitas vezes não permitirem o pagamento do almoço ou jantar em separado, fazendo uma só conta, o que levou a alguns desentendimentos. Mas de resto correu tudo bem.
sociação tivemos oportunidade de conhecer as duas cidades da Lituânia (Kaunas e Vilnius),Tallin (Estónia), Klaipeda, Nida, Trakai e Riga (Letónia). Foram viagens bastante positivas, apesar de terem falhado em algumas questões de organização. Entre amigos, combinamos ir a Varsóvia. É uma cidade totalmente diferente, enorme e com muito para descobrir. Posteriormente ainda consegui ir a Auschwitz. Uma experiência marcante, mas importante.
senãos, a experiência no global foi fantástica. Repetiria! Portanto evidentemente recomendo a todos os meus amigos. A bagagem que trouxe de volta comigo para Portugal veio recheada, tanto pessoalmente como profissionalmente. Tornei-me numa pessoa diferente, melhor. As experiências que vivenciei os momentos que passei vão sempre ficar na memória. Terminei a minha aventura com um saldo bastante positivo.
A minha avaliação global de 0 a 5 é um 5, visto que apesar de alguns
Tive muita sorte com a Contact Person que me calhou, estava sempre preocupada comigo. Logo no primeiro dia em que lá cheguei, às duas da manhã, foi buscar-me à paragem de autocarro e levou-me à residência. No dia seguinte orientou-me no hospital, levando-me ao serviço de Pediatria onde iria ter estágio. Sinto uma enorme gratidão pela ajuda que me forneceu. Gostei imenso de todos os sítios que visitei, tanto os das atividades organizadas pela associação, como das planeadas por nós. Com a as-
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O ROCHEDO CATARINA GOMES GONÇALVES ,
Pedaço de pedra inanimado, Todos te olham com desprezo, Julgando que és mal amado, Impotente e um tanto indefeso. Pedaço de pedra audaz, Que ouves sem poder falar, E tens na essência gravado, O poder, capaz de mudar. Ó Majestoso, Ó incomensurável, Detentor de inigualável sabedoria, Escondes no teu grande porte, O vislumbro, De quem tem nostalgia. Foste homem, agora és pedra, E o coração já não ouves bater, Eras sangue, impávido demónio, Agora não sabes, O que hás-de ser.
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Revista DiagnOstico
ESPECIALIDADE NO ESTRANGEIRO Como tem sido habitual nas outras edições, e devido ao grande interesse da parte dos alunos, a Diagnóstico foi tentar saber como é o internato médico em mais dois países, e o que é preciso fazer para entrar numa especialidade no estrangeiro. Trazemos-te mais duas entrevistas: uma à Dra. Sara Amaral, que se encontra no Brasil; e outra ao Dr. X do Japão. Esperamos que deste modo consigas ficar mais esclarecido, e se tiveres alguma dúvida ou sugestão de um futuro país que queiras conhecer, não hesites em contactar-nos.
BRASIL DRA. SARA AMARAL
- RESIDENTE INTERNA DE ANESTESIOLOGIA DO ÚLTIMO ANO - MÉDICA NAS AMBULÂNCIAS DE SUPORTE AVANÇADO DE VIDA DO SAMU SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL EM URGÊNCIA EQUIVALENTE AO INEM.
1. O que mais a motivou a ir para o Brasil? No 6º ano fiz um estágio de 6 meses no Recife e apaixonei-me por este país, pela alegria do povo, pela forma de viver aqui e, principalmente, pelo ambiente de trabalho muito mais leve do que estava habituada. Também tive alguns motivos pessoais, mas devo dizer que trabalhar num lugar onde parece que estou no café com os amigos, foi o que realmente me fez querer vir para cá. 2. Chegou a fazer o Harrison ou a escolher especialidade antes de ir? Eu comecei a estudar, mas acabei por decidir vir para o Brasil e não fiz o Harrison. 3. Já tinha algum tipo de contactos antes de ir? Nenhum! Foi bem difícil no início. Eu fui das primeiras pessoas a fazer este percurso e não havia absolutamente ninguém para me guiar.
4. Como é o acesso à especialidade médica no Brasil? É necessária alguma acreditação prévia? O acesso é feito por exames nacionais, mas existem várias diferenças. Aqui prestam-se exames para cada instituição que queremos concorrer. Isso tem pontos positivos e negativos. A parte boa é que existem inúmeros exames, ou seja, inúmeras tentativas e não existe número limite de tentativas. A parte negativa é que cada exame tem um custo, e quanto quisermos fazer, maior o custo (cada inscrição varia entre 500-1000 reais = 100200 euros). Os exames avaliam todas as áreas clínicas: obstetrícia e ginecologia, pediatria, medicina interna, cirurgia e medicina preventiva. Parece assustador, mas o estudo para estes exames traz muito conhecimento prático e útil, não perguntam tanto coisas de rodapé como aí. Os enunciados geralmente são casos clínicos. Outra parte negativa é que o país é enorme, então o número de candidatos para cada exame é muito grande também. Instituições boas e especialidades boas são tão ou mais concorridas que em Portugal.
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Para fazer a especialidade aqui, é preciso validar o diploma de Medicina primeiro, com um exame anual chamado Revalida, onde sai basicamente a mesma matéria que sai nos exames de especialidade. O Revalida tem uma parte escrita e uma parte prática, feita com cenários clínicos com actores ou bonecos e situações clínicas reais. 5. Qual a parte do processo que considerou mais difícil? A burocracia. E para mim, que fui das primeiras a vir, descobrir o que precisava fazer para vir. Demorei cerca de 6 meses só para perceber o que era necessário em termos de documentação, orçamento e exames. Colegas que vieram depois de mim tiveram a minha ajuda e começamos a formar uma rede de ajuda, de modo que quem vem hoje já sabe exactamente como é o processo. 6. Apesar de falarmos a mesma língua, notou alguma diferença, ou passou por alguma dificuldade, com os termos usados ou expressões? A linguagem médica tem algumas alterações, principalmente nas siglas, mas nada que tenha dificultado muito a minha vida. Com o tempo as diferenças entram na rotina. Ainda hoje, 6 anos depois, se falar muito rápido não me percebem. Mas tudo é uma questão de hábito. 7. Qual a posição da população perante os médicos estrangeiros? Algum problema de receptividade? Sempre fui extremamente bem recebida. Os brasileiros têm um carinho grande por portugueses e um grande respeito por qualquer pessoa que venha da Europa. Brinco, mas sinto-me sempre a “estrela da companhia” pelos serviços onde passo.
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8. Qual a remuneração base de um médico? É extremamente variável. Varia com a região do país, com o tipo de cidade (capital ou interior), com a especialidade e, claro, com a carga horária. Mas digamos que começa nos 10.000 reais (2400 euros). Menos durante a especialidade, que se recebe uma bolsa de 2900 reais (680 euros) o que implica sempre trabalhar por fora. No entanto, não dá para pensar em conversão direta do dinheiro, porque o custo de vida e o tipo de despesas que se tem aqui são um pouco diferentes. Por exemplo, as coisas do quotidiano (comida, vestuário, eletrónicos) são muito mais caras. Coisas como seguro de carro e de saúde também são muito mais caras. Mas habitação é mais barata (variável, é claro, com a cidade). 9. Considera ficar a trabalhar no Brasil após concluir a especialidade? Se sim, considera algum dia regressar a Portugal? Estou numa fase de transição do meu pensamento. Estou há 6 anos no Brasil e sempre pensei ficar por cá depois. Mas agora que se aproxima o fim da especialidade, comecei a pensar voltar para Portugal. O problema é que validar a especialidade aí é um processo complexo e que pode demorar 1 a 2 anos. 10. O que mais gosta no país? Gosto das pessoas, da positividade e alegria deste povo, do ambiente leve que se tem no trabalho. Gosto da beleza natural que ele tem, da sua dimensão continental que me permite conhecer coisas novas o tempo todo. Gosto da forma como se encaram os problemas e como nada é razão para deixar de fazer alguma coisa. Se falta material, damos um jeito de fazer na mesma. A capacidade de resolução de problemas com poucos meios
Revista DiagnOstico é extraordinária. Além disso, para quem está a fazer uma especialidade cirúrgica ou Anestesiologia (como é o meu caso), a casuística de casos graves é altíssima. Vou sair daqui com uma capacidade para lidar com PCR, politrauma, ferimentos por arma branca e de fogo e doente muito grave que seria impossível conseguir na Europa. E isso é importante, não só pela capacidade de lidar com situações graves, mas porque aprendemos a lidar muito bem com situações de stress extremo, necessidade de decisões muito rápidas e, muitas vezes, com poucos recursos. Já trabalhei em cuidados intensivos e hoje, além da especialidade faço atendimento pré-hospitalar, onde tenho ganho uma experiência de paciente muito grave que será preciosa para o resto da minha vida tanto profissional como pessoal. Moro no Sul do Brasil, em Florianópolis, onde tenho o melhor de dois mundos (o brasileiro e o europeu). Aqui a cultura é muito europeia, então tenho qualidade de vida superior à do resto do Brasil, maior segurança, melhores infraestruturas e uma medicina extremamente moderna e avançada. Mas continuo a ter a forma feliz de estar do brasileiro. Então também é preciso pensar que o Brasil é um país continental e que tem diferenças regionais muito grandes.
12. Que conselhos daria a um estudante de medicina interessado em fazer a especialidade no Brasil? Não vale a pena vir aqui só para fazer a especialidade e voltar. A maior parte das especialidades aqui são mais curtas (em anos) e o processo de validação é complexo, moroso e dispendioso. Lembrar que é preciso validar diploma de médico aqui e depois o da especialidade aí. Mas para vir como projeto a longo prazo, o Brasil tem muito para oferecer. Sou feliz aqui todos os dias desde que decidi vir, têm sido os melhores 6 anos da minha vida e cresci aqui mais do que teria conseguido em Portugal, em todos os níveis. Embora esteja a ponderar voltar, não me arrependo de ter vindo. Só não acho que seja a melhor opção para “só” vir fazer a especialidade, até porque também não é fácil entrar em especialidades concorridas (curiosamente, aqui Anestesiologia é das mais difíceis de entrar). Por exemplo, onde faço residência, havia 7 vagas para cerca de 1000 candidatos. Os lugares bons são extremamente concorridos. Então tem que pensar bem quais são os objectivos de vir aqui.
11. E o que menos gosta? Ainda existe uma descriminação de géneros inadmissível (esse é um dos motivos que me faz pensar em voltar). Aqui trabalha-se demais... jornadas semanais de 90-110 horas são o padrão. Ganha-se muito? Sim (Um anestesiologista recém formado pode começar com um salário de 20.000 reais = 4600 euros e em menos de 10 anos chegar a 40.000 reais = 9.500 euros). Mas às custas de quase ausência de vida pessoal. Claro que isso depende da especialidade e da região onde se mora. Pessoalmente valorizo muito mais a qualidade de vida do que a conta bancária ao final do mês.
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ENTREVISTA A MARCO RAPOSO
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arco Raposo, de 23 anos, é aluno da Universidade da Beira Interior (UBI). Entrou na UBI em 2013 e está na reta final da sua passagem pela Covilhã. Durante este tempo, envolveu-se em projetos de associativismo, nomeadamente como membro do Conselho Fiscal da Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI). Além disso, pertence à comitiva da AIESEC desde 2017, desempenhando o cargo de Presidente da extensão da AIESEC na Covilhã desde 1 de fevereiro de 2018. Cessa funções em Janeiro do ano que se aproxima e passa a pasta a outra pessoa, que se comprometerá a levar avante os projetos passados e instituir ideias para o futuro, fazendo crescer a AIESEC in UBI como até agora.
Revista DiagnOstico Marco, obrigada, antes de mais, por aceitares o nosso convite. Podes começar por nos explicar o que é, ao certo, a AIESEC? A AIESEC é a maior organização mundial liderada por jovens, estando presente em mais de 120 países. O nosso objetivo é claro: Peace and Fullfilment of Human Kind’s potential que em português basicamente significa “Paz e desenvolvimento do potencial humano”. Como é que conseguimos isto? Pois bem, nós acreditamos que a liderança é a solução fundamental para conseguirmos atingir o nosso objetivo e é por isso que por todo o mundo criamos experiências desafiantes e extremamente gratificantes, cujo objetivo é o desenvolvimento da liderança, para todo e qualquer jovem que queira embarcar nesta aventura e encontrar o líder que há em si. A AIESEC oferece estágios internacionais para qualquer jovem adulto entre as idades de 18-30 anos, desde estágios de voluntariado a estágios profissionais. Como é que te envolveste no comité da AIESEC na Covilhã? E porquê? No final do meu segundo ano em engenharia informática cheguei à conclusão de que não estava satisfeito com a minha experiencia universitária, sentia que faltava alguma coisa. Foi então que decidi juntar-me à AIESEC, em Junho de 2017.
Marco Raposo - Presidente da extensão da AIESEC na Covilhã Alguma vez, além do teu atual cargo, participaste em alguma atividade organizada pela AIESEC? Não, por estar agora a desempenhar a função de presidente, infelizmente ainda não tive a oportunidade de participar em nenhum Estágio de Voluntariado pela AIESEC.
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Não há nada como ver de perto as vidas que a AIESEC toca (...)” E agora, depois de teres estado no backstage, passou a ser uma possibilidade para ti aventurares-te nesses caminhos? Claro que sim! Não há nada como ver de perto as vidas que a AIESEC toca e as pessoas que vêm completamente mudadas depois de participarem numa das nossas experiências. É com certeza uma das minhas prioridades de vida, assim que me seja possível.
Como percecionas a adesão dos alunos da Covilhã e da UBI aos projetos da AIESEC? Consideras que é uma entidade que cativa os jovens? Sinto que tem sido uma chance falhada por grande parte dos Estudantes UBIanos não tirarem proveito das oportunidades que a AIESEC in UBI tem para lhes oferecer. Achas que os projetos da AIESEC são mais direcionados para um grupo específico de pessoas (quer pela sua formação profissional, quer pelas suas características pessoais), ou não? Os projetos da AIESEC são destinados única e exclusivamente a jovens entre os 18-30 anos, independentemente da sua formação académica ou profissional.
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Dos feedbacks que tens tido de jovens que ingressaram em atividades com a AIESEC in UBI, é notório o desenvolvimento do potencial humano, que a organização preconiza?
Como é que os alunos da UBI que nunca se envolveram em projetos de voluntariado podem saber novidades sobre esta organização e entrar em contacto convosco?
É notório o papel da AIESEC no desenvolvimento pessoal de todos os jovens que já fizeram parte dos nossos estágios. Não há nada como ouvir um “obrigado” por parte de uma pessoa que, acompanhada por nós, diz ter tido a experiencia mais marcante da sua vida. E não estamos a falar apenas de um caso isolado! Durante os nossos atos de promoção tentamos ao máximo dar a conhecer todas as histórias de sucesso que aconteceram por causa da AIESEC.
É mesmo muito simples! Só têm de se inscrever em www.aiesec.org para terem um acompanhamento personalizado e qualificado por parte de um dos membros da AIESEC in UBI! Todas e quaisquer perguntas que possam ter acerca dos nossos estágios e também sobre a organização em si serão respondidas! A inscrição leva menos de um minuto e é livre de qualquer compromisso. Também podem gostar da pagina de Facebook da AIESEC Portugal e ficar ao corrente de todas as campanhas que estejam a acontecer.
Quase a terminar, tendo em conta o momento em que pegaste neste projeto e sabendo que o deixarás num futuro próximo, concordas que houve evolução e que estão no caminho certo para o crescimento constante, aqui na Covilhã? O objetivo é, e sempre foi, impactar o maior número possível de pessoas. Seja a enviar jovens da UBI para explorar o mundo, ou a trazer o mundo à Beira Interior na forma de jovens voluntários eufóricos para integrar um dos nossos vários projetos sociais construídos em parceria com escolas e instituições locais. O nome da AIESEC já começa a ficar no ouvido dos estudantes à medida que vamos acumulando mais e mais histórias de sucesso e dando voz a estas pessoas que viveram estas experiência para poderem partilhar a sua jornada. Também este ano celebrámos o primeiro protocolo de cooperação com o Município do Fundão, de forma a dinamizar e melhor disseminar todos os nossos projetos na região, uma estreia a nível nacional no que toca a parcerias com municípios locais. Portanto sim, estamos no caminho certo, agora mais que nunca, de conseguir mudar o mundo, começando aqui pela nossa Beira Interior, uma pessoa de cada vez.
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Revista DiagnOstico Concluímos voltando um pouco à primeira questão: O que é, agora para ti, a AIESEC? Consideras que ainda há muito a fazer? O que gostarias de ver a AIESEC conquistar em particular, a partir do próximo mandato? A AIESEC para mim foi algo extremamente marcante. Poder fazer parte desta organização fez-me ver que uma pessoa, por mais insignificante que possa parecer na grande escala do nosso mundo, pode realmente fazer a diferença e ter um impacto real na vida de outro alguém. Trabalhar na AIESEC foi sem duvida a experiência profissional mais significativa que tive enquanto estudante da UBI e tenho plena noção do arsenal de ferramentas que desenvolvi durante este ano, desde soft-skills a gestão de pessoas. Foi também a AIESEC que me fez dar
um salto para o mundo do associativismo, algo que aconselho vivamente a todos os estudantes, no mínimo tentar, antes de concluírem o seu percurso académico. Ainda há muito a fazer na AIESEC in UBI, em particular dentro da Universidade. Só iremos descansar assim que conseguirmos chegar a todos os mais de 7 mil estudantes da nossa academia. Também já começamos a explorar a hipótese de alargar a nossa área de operações a Castelo Branco e Guarda, de forma a atingir o número máximo de pessoas possível. O mandato de 19/20 já está a ser preparado, a próxima Presidente da AIESEC in UBI já foi eleita (Maria Martins, estudante de Marketing) e caso estejam interessados em juntar- se a nós fiquem atentos, o recrutamento começa em Dezembro!
ENTREVISTA A
Porque decidiste fazer voluntariado? E porquê naquela fase do teu percurso académico?
Madalena, obrigada por teres aceite o nosso convite para expores com os leitores da Diagnóstico um pouco da tua experiência de voluntariado, no âmbito da AIESEC. Antes de mais, como tiveste conhecimento da AIESEC?
Tal como mencionei na questão anterior, desde pequena que me imaginava numa experiência de voluntariado, sempre tive aquela vontade de ajudar mais, saindo também da minha zona de conforto. À medida que fui conhecendo a AIESEC e percebi que o período mínimo de experiência é de 6 semanas, percebi que tinha de aproveitar o último ano em que iria ter férias de verão tão longas.
MADALENA ESPADA
Desde o meu primeiro ano de faculdade que fui assistindo às várias palestras de apresentação da associação, devido também ao interesse que sempre tive em fazer um projeto de voluntariado.
Agradecemos a tua disponibilidade e colaboração desde o primeiro momento com a Diagnóstico, Marco. É nosso objetivo dar a entender a todos os leitores da revista que associações como a AIESEC existem e estão disponíveis para fazer abrir horizontes a todos os jovens que entrem em contacto com ela. O teu testemunho mostra um pouco a perspetiva de quem está do lado que nem sempre é exibido, mas que nunca deve ser esquecido.
POR MARTA AFONSO
Quais eram as tuas expectativas? Foram superadas? Se sim, de que maneira? Esperava acima de tudo a surpresa e, nesse aspeto, claramente que foram superadas. Queria muito, e era o meu principal objetivo, que
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em cada dia de atividade conseguisse contribuir pelo menos colocando um sorriso na cara de uma criança e posso dizer que acho que o consegui! Conta-nos mais detalhadamente esta tua experiência com a AIESEC. A minha experiência consistiu em acompanhar crianças autistas num hospital, nas suas atividades diárias. Estava numa turma de crianças entre os 2 e os 5 anos e, acompanhada pela minha colega chinesa (que me ajudava com a tradução e em tudo mais que eu precisasse) ajudava na realização das suas tarefas. À tarde, com o resto dos voluntários, aproveitávamos para passear e conhecer um pouco mais sobre a cultura. De que maneira as tuas vivências com a AIESEC/durante o voluntariado, contribuíram para o teu desenvolvimento pessoal? E profissional? Achas que poderás pôr em prática as novas competências no âmbito do teu curso? Penso que o crescimento, a todos os níveis, foi surgindo quer pelo contacto que tinha com as crianças, quer pela partilha com os restantes voluntários da experiência e da sua forma de a encarar. Fui conhecendo novas formas de pensamento, de encarar as adversidades e isso também nos molda. Penso que será difícil, no entanto, aplicar algum deste conhecimento no âmbito do meu curso, não lhe tirando qualquer valor: apenas pelo simples facto de as duas atividades não estarem assim
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tão relacionadas, tal como nos vamos apercebendo na prática clínica. Voltavas a ter uma experiência como esta? O que mudavas? Sim, claramente. Muito sinceramente, acho que não mudaria nada. Houve coisas que não correram bem, mesmo nada bem, mas que acho que foram aquelas que mais estimularam o meu crescimento.
Qual é o perfil pessoal que, na tua opinião, melhor se adequa a este tipo de experiência? Penso que é extremamente importante que a pessoa seja “um espírito livre”. É muito difícil partir numa aventura destas se não se for com uma mente completamente aberta. Temos que saber que, muito certamente, iremos encontrar experiências que não vão ser assim tanto do nosso agrado e que, ainda assim,
Revista DiagnOstico vamos ter que as superar. Se olharmos para elas como mais uma parte do nosso processo de crescimento, então será muito mais fácil. Que conselho darias a quem está a considerar aventurar-se como tu? A minha resposta aqui vai um pouco de encontro à anterior. No entanto, e para além disso, o importante é que aproveitem ao máximo cada momento. Acreditem que é uma experiência que vos irá marcar para sempre (eu já fui há mais de um ano e ainda hoje não paro de falar sobre isso). E para quem está neste momento a “considerar” ir o meu conselho mesmo é que vá! Muito obrigada pela colaboração com a Diagnóstico, Madalena. Esperamos conseguir, deste modo, abrir mais portas para o voluntariado, tirando o máximo de dúvidas aos nossos leitores, com base em experiências reais como a tua.
POR MARIANA TORRES
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A LIÇAO DO PROFESSOR , DOUTOR MANUEL ANTUNES POR CARLA PUIG MARTY MEMBRO DO DEPARTAMENTO DE FORMAÇAO , CIENTIFICA E EDUCAÇAO MEDICA DO MEDUBI , Na Memória, Leiria, a 20 de Julho de 1948, nasceu o Mestre da Cirurgia Cardiotorácica. Em 1972 completou a sua licenciatura em Medicina e Cirurgia na Universidade de Lourenço Marques e, em 1987, conquistou o grau de Doutor em Cirurgia Cardiotorácica na Universidade de Coimbra. Longos anos de estudo e treino intensivo para tocar pela primeira vez num coração. De Coimbra para o Mundo, Prof. Doutor Manuel Antunes leccionou em 120 locais espalhados pelos vários continentes e realizou cirurgia de demonstração e tratamento em 22 pontos do globo. O serviço de Cirurgia Cardiotorácica que liderou durante 30 anos é reconhecido pela sua exímia taxa de sucesso e elevado número de transplantes a nível nacional. Detentor de um currículo vastíssimo com inúmeras distinções académicas, experiência administrativa, foi vencedor de inúmeros prémios e conta com publicações nas mais conceituadas revistas nacionais e internacionais da Cirurgia Cardiotorácica. Desde fevereiro que estava agendada esta lição na Cidade Neve, que viria a ocorrer no dia 3 de outubro de 2018. No Grande Auditório da Faculdade de Ci-
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Professor Doutor Manuel Antunes durante a sua lição na Covilhã
Revista DiagnOstico
No final do (In)Forma-te sobre Cirurgia e Transplantação Cardíaca, o público que encheu o Grande Auditório da FCS aplaudiu de pé o Prof. Doutor Manuel Antunes ências da Saúde, praticamente cheio, estiveram presentes Estudantes de Medicina, Professores, Médicos, Profissionais de saúde... e pessoas cujas vidas foram salvas pelo Professor. Vieram de propósito para o ver, cumprimentar e agradecer. A lição incidiu sobre a cirurgia cardíaca e a sua evolução ao longo dos tempos; numa frase de McGoon, o Professor assume que “A cirurgia cardíaca representa um desafio na técnica cirúrgica comparável à da música de Liszt para o pianista, às Olimpíadas para o atleta ou ao Monte Everest para o alpinista. Mas a recompensa do cirurgião não é apenas a emoção da realização, também é a saúde e felicidade de muitos dos seus pacientes”. Sobre a transplantação cardíaca é de salientar a falta de dadores e o elevado número de candidatos.
O programa de transplantação cardíaca em Coimbra teve início em 2003 e tem permitido salvar milhares de vidas dos vários pontos do país. O Professor falou
anormais por nascimento ou por doença”. Por fim, partilhou a sua experiência relativa às intervenções cirúrgicas que realizou no âmbito das missões humanitárias através da Cadeia da Esperança Europa. No Instituto do Coração, em Moçambique, operou mais de 350 doentes, principalmente com idades inferiores a 18 anos, intervenções realizadas com elevadíssima taxa de sucesso. Também na Jordânia, de onde o Professor havia chegado há alguns dias, a sobrevivência é neste momento de cem por cento. “Da minha equipa levo o melhor, nada menos do que isso”, refere. Duainda sobre o coração artificial e rante um vídeo apresentado na da paixão pela cirurgia. “Temos palestra, falava um Pai de uma o privilégio de tocar o coração, o criança síria operada pelo Procoração de ricos e de pobres, os fessor, “não só deram a vida ao corações de todas as idades, ta- meu pequeno bebé, como deram manhos e cor, mas todos eles são a vida a toda a minha família”,
“
(...) Temos o privilégio de tocar o coração, o coração de ricos e de pobres, os corações de todas as idades, tamanhos e cor,...
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frase que certamente alguns dos presentes sentiram como suas. O Professor afirma que o que faz é pela paixão à cirurgia e dificilmente se veria a fazer qualquer outra coisa. “Quando chego à sala de operações não vejo o doente, porque já está coberto com as toalhas, mas por baixo daqueles panos está um paciente que tem um nome, uma família, que me confiou a sua vida. Eu mereço essa confiança?” O público aplaudiu de pé a palestra que acabou com o Professor dizendo “Se queres ser médico, assegura-te de que estás preparado para dedicar a tua vida aos doentes. Depois estuda, estuda, estuda... Trabalha, trabalha, trabalha. Se não tens tempo
para isso não tentes tornar-te cirurgião cardíaco” e, podemos nós acrescentar, ama aquilo que fazes e todos aqueles que salvares ficar-te-ão eternamente gratos. Foi uma honra receber o Prof. Doutor Manuel Antunes no (In) Forma-te sobre a Cirurgia e Transplantação Cardíaca, a lição de uma vida inteira. Aos 70 anos é Ex-Diretor do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e Professor Jubilado da Universidade de Coimbra. Pelas suas mãos passaram mais de trinta mil corações, as mãos que lutaram incansavelmente por aquelas vidas, o Homem que faz a História na Medicina.
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(...)Um Médico do Mundo. Uma vida com o coração nas mãos.
Prof. Doutor Manuel Antunes e Esposa, acompanhados pela Prof.ª Doutora Luiza Granadeiro, Doutor António Peixeiro e Membros da Direção do MedUBI, Beatriz Mendes, Carla Puig Marty e Catarina Gonçalves
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Revista DiagnOstico
MED ON TOUR POR EDUARDA OLIVEIRA E MARIANA CASTRO
a tua faculdade existem muitas actividades de voluntariado em que podes participar. Uma delas é o Med On Tour, e para sabermos mais sobre o que consite este projeto, decidimos falar com a Susana Viana do 6º ano, que está à frente do mesmo com o departamento de Saúde e Ação Social. Também falámos com a Sara Justo do 5º ano, que participou na ultima actividade do Med On Tour, para termos a perspetiva de um dos volutários.
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Olá Susana, podes-nos dizer o que é o Med on Tour? O Med On Tour – Rastreios à Beira é uma atividade organizada pelo MedUBI na qual os estudantes de medicina se deslocam a uma localidade mais isolada da Beira Interior para dinamizar rastreios cardiovasculares à população e outras atividades de educação para a saúde, abrangendo as diferentes faixas etárias. Este ano teve lugar em Loriga, uma vila do concelho de Seia, nos dias 4, 5, 6 e 7 de outubro. Como surgiu o conceito? O conceito do Med On Tour surgiu principalmente por dois motivos: a necessidade de criar uma atividade que desse a oportunidade aos estudantes de medicina de atuarem mais diretamente na comunidade, aplicando os conhecimentos adquiridos durante a faculdade, e também devido à necessidade de levar cuidados de saúde às populações mais isoladas geograficamente, o que condiciona um menor acesso a profissionais de saúde e que é um paradigma muito frequente aqui no interior do país. Desta forma, a atividade tem como missão a aproximação dos estudantes de medicina da comunidade da Beira Interior, mas também ter um impacto na saúde local através da promoção de um estilo de vida saudável.
SUSANA VIANA DEPARTAMENTO SAUDE E AÇAO SOCIAL ,
Quais as principais atividades desenvolvidas junto das populações? Os rastreios cardiovasculares, com a medição da pressão arterial, glicémia capilar e parâmetros antropométricos, são a principal atividade desenvolvida, e uma constante em todas as edições realizadas. Aproveita-se sempre este momento de contacto para estimular hábitos de vida saudáveis, um envelhecimento ativo e alertar para os vários fatores de risco cardiovasculares. Atividades dinâmicas como o Era Uma Vez o Corpo Humano, onde ensinamos o corpo humano de forma divertida, jogos tradicionais para estimular o exercício físico ou um Mini-Chef onde se fez uma salada de frutas são alguns exemplos de algumas atividades dinamizadas junto das crianças.
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Quais são as perspetivas futuras em relação à organização do Med on Tour? Penso que o Med On Tour é uma atividade que irá viver durante longos anos, sempre com muito potencial para se tornar cada vez maior e melhor. Desde que os estudantes mantenham o interesse neste tipo de atividades e mantenham a vontade de atuar mais diretamente na comunidade que os acolhe penso que haverá muitas mais oportunidades para esta atividade crescer.
Esta edição contou também como Porta-a-Porta, na qual grupos de participantes andam pela vila fazendo sensibilização direta à população, um jogo de Bingo e uma aula de Zumba. Qual é o feedback das populações visitadas e dos participantes? Para a realização desta atividade tem de existir sempre algum apoio a nível local, e por isso temos de agradecer à Junta de Freguesia e aos Bombeiros Voluntários de Loriga. A população mostrou-se mesmo muito recetiva às nossas atividades, recebendo-nos de uma forma muito carinhosa. Sentimos realmente que tivemos um impacto na comunidade, tanto nos mais idosos como também nas crianças, as quais estiveram presentes todos os dias nas nossas atividades. É uma atividade muito gratificante e recompensadora e acabamos por sentir que vale sempre a pena. O feedback dos participantes também foi muito positivo. Penso que se criou um grupo muito engraçado durante este fim-de-semana, com pessoas tão diferentes e que não se conheciam, inclusivamente estudantes de outras faculdades.
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O que é preciso para participar numa próxima edição? Não é preciso nenhum pré-requisito para participar no Med On Tour, apenas ser estudante de medicina e ter vontade de dar um bocadinho de si aos outros. A atividade é divulgada sempre com alguma antecedência porque as vagas são limitadas. Agora também já há a possibilidade de alunos de outras escolas médicas do país poderem participar, uma novidade deste ano.
Há sempre o esforço da parte da organização de inovar a cada edição e melhorá-la consoante o feedback recebido das edições anteriores. O Med On Tour - Rastreios à Beira está agora englobado num projeto nacional da ANEM, havendo uma maior coordenação entre os vários núcleos para a melhoria da atividade. Existem novos projetos planeados pelo departamento? Claro! Em breve haverá a primeira edição das Jornadas de Saúde Health Essentials, onde serão abordados diferentes temas tanto na área de saúde pública, saúde sexual e reprodutiva e direitos humanos e ética médica.
Revista DiagnOstico Também teremos o Abraço de Natal, uma atividade muito querida nossa e que iniciou o ano passado, onde os estudantes terão oportunidade de ir a diferentes instituições criar um dia diferente àqueles que se encontram em situações mais frágeis, aproveitando o espírito de partilha intrínseco à época natalícia.
ENTREVISTA A
SARA JUSTO Olá Sara! O que mais te motivou a participar neste projeto? O que é que te fez aceitar o desafio? No último ano fiz por aproveitar melhor todas as oportunidades que o MedUBI nos traz para nos envolvermos mais em atividades extracurriculares diferentes e, após ter visto como os participantes de edições anteriores gostaram da experiência e ter compreendido como esta iniciativa promovia uma grande ligação à população e um clima de entreajuda da própria equipa que iria viver em comunidade por uns dias, decidi que este era o ano em que tentaria fazer parte da equipa Med On Tour! De que forma é que a tua participação neste projeto mudou a tua perspetiva enquanto estudante de medicina? Esta aventura de cerca de 4 dias permitiu-me vivenciar a verdadeira essência da medicina, pelo contacto próximo à população, rastreios, conversas e a compreensão dos hábitos da mesma, das mudanças que são necessárias para se atingir um nível de saúde cada vez maior e para prevenir a doença com a adoção de estilos de vida mais saudáveis decorrentes da mudança de comportamentos promovida pela sensibilização desde crianças a idosos! Esta atividade abriu-me os horizontes para as necessidades de uma po-
pulação diferente daquela que encontro na minha cidade-natal e na cidade que me acolheu enquanto estudante, fez-me confrontar realidades por vezes difíceis de um lugar onde o acesso aos cuidados de saúde não é o mesmo que encontramos nas cidades, onde as oportunidades e o nível de vida nem sempre são iguais, mas onde as pessoas são acolhedoras, trabalhadoras e aderiram bastante à nossa iniciativa de espalhar saúde e conhecimento por Loriga! Que conselhos darias às pessoas interessadas a participar no próximo Med On Tour?
Voltarias a repetir a experiência? Porquê?
A quem estiver interessado em participar em futuras edições, vão! Inscrevam-se! Saiam da vossa zona de conforto! Quer sejam do primeiro ou do sexto, têm sempre algo a ensinar e têm mesmo muito a aprender com quem vos vai acompanhar e com quem vos vai receber seja para onde forem, por isso vão de braços abertos e irão receber imenso desta experiência! Não há um conselho prático, penso que cada participante se adapta às circunstâncias de forma diferente mas se forem com a mente aberta a um ambiente de partilha, se se dedicarem às várias atividades e fizerem por dar valor a cada momento, vai ser sem dúvida enriquecedor!
Foi um fim-de-semana incrível, uma lufada de ar fresco num sítio encantador e na companhia de um grupo espetacular! Entre rastreios, jogos com as crianças, conversas com os idosos, formação com os bombeiros de Loriga, brincadeiras com o cão do quartel onde ficámos hospedados, entre mil e uma partilhas, caminhadas, gargalhadas e descobertas com o grupo que fez parte desta experiência tão especial, passei dias inesquecíveis! Sem dúvida que recomendo e repetiria, pois a nossa formação enquanto estudantes de medicina e enquanto pessoas não passa apenas pelos livros mas por iniciativas destas, aprendi mais do que ensinei em Loriga e recebi muito mais do que dei!
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HOW TO LEARN ABOUT SPECIAL(TIES) EDITION Coluna sobre Educação Médica do Departamento de Formação Científica e Educação Médica do MedUBI
Em 2010 concluiu o Mestrado Integrado em Medicina na FCS-UBI e em Maio do presente ano obteve o grau de Doutor em Medicina, especialidade de Cirurgia Maxilofacial. Esta é a entrevista ao Prof. Doutor David Ângelo
POR DFCEM E COLABORADOR VASCO GUERRA DE FIGUEIREDO
1 – Enquanto estudante desta faculdade, foi um dos fundadores da Tuna-Mus. De que forma este papel ativo o enriqueceu como estudante de Medicina?
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Ser estudante de Medicina, como sabemos, é extremamente exigente. Não só sofremos um desgaste e uma grande pressão para entrar no curso, como quando entramos no curso sentimos novamente essa pressão para manter o ritmo frenético conducente à realização dos objetivos que pretendemos. Sou defensor que qualquer atividade que permita aliviar essa pressão é imprescindível ao sucesso e ao bem-estar psicológico. Podemos encontrar alternativas no desporto, na música, no teatro, na dança, etc.. Todas estas atividades são enriquecedoras. Não por permitirem reduzir os níveis de stress, mas porque melhoram as nossas aptidões sociais e o nosso relacionamento humano. Na minha opinião o fator humano é um elemento fundamental em qualquer médico. A Tuna permitiu-me crescer muito como pessoa. É uma instituição que tem os seus próprios regulamentos, que nós fundadores escrevemos e fomos adaptando consoante o nosso crescimento. Estar na Tuna, não é só tocar vários instrumentos; temos funções administrativas, é preciso fazer uma gestão dos custos, dos recursos humanos (tivemos de pensar num modelo sustentável de recrutamento de novos elementos), temos de ter uma liderança sólida e metodologia e rigor nos nossos ensaios. Mas mais importante temos de trabalhar em equipa, e isso aprende-se e cultiva-se na Tuna.
Prof. Doutor David Ângelo Todas estas experiências foram enriquecedoras, pois podemos em parte, transpô-las para a nossa vida profissional. Para resumir, foi uma honra ter sido um dos fundadores da Tuna-Mus – aprendi e desenvolvi algumas funções administrativas, aprendi o que é liderança emocional mas mais importante aprendi a trabalhar em equipa e diverti-me muito. Sem estar planeado, eu e os meus colegas deixamos um legado, que eu espero, possa durar muitas gerações. Tive um orgulho imenso de ter participado no aniverário dos 10 anos da minha Tuna e reencontrar amigos e conhecer os novos elementos. Imagine um dia, os meus filhos estudarem Medicina na UBI e integrarem a Tuna-Mus – seria fantástico e gosto de pensar que pode ser possível.
2 – Durante o seu percurso académico ingressou em algum tipo de programa de voluntariado? Sim. Integrei uma equipa da AMI (Assistência Médica Internacional) e estive na Guiné - Bissau e Bolama. 2.1 - O que o levou a fazer este tipo de programa? A maioria dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) ainda não possui respostas técnicas e humanas eficazes em algumas áreas da saúde. No Hospital de Santa Maria - Lisboa, onde fiz o meu internato, recebíamos muitos casos de doentes do protocolo PALOP. Quando eu fazia a história clínica percebia que estes doentes ficavam demasiado tempo à espera do transporte para Portugal
Revista DiagnOstico e isso permitia que a doença fosse progredindo, diminuindo o sucesso do tratamento. Foi então que montei um programa para agilizar este processo. Como recebia muitos doentes da Guiné, montei, em parceira com a AMI, um programa para lá. O meu plano dividia-se em três fases. Numa fase 1 – foi feito um alerta para os médicos da Guiné estarem atentos a alterações orais e craniofaciais. Qualquer sinal de suspeita seria para notificar o doente. Na fase 2 eu iria à Guiné para ver esses doentes – faria uma história clínica, registo fotográfico e biópsias (se necessário). Fiz um acordo com o IPO de Lisboa para eles analisarem as biópsias. Numa fase 3 iria com uma equipa maior para tratar cirurgicamente os casos mais necessitados. Infelizmente o plano não correu como eu tinha planeado. Os doentes não foram notificados, quando cheguei vi poucos doentes. O material que tinha sido doado pelo Hospital de Santa Maria desapareceu quando chegamos. Depois o Hospital de Bolama ficou sem gerador elétrico. Uma imensidão de adversidades que dificultaram o projeto. Foi uma grande frustração, pois não consegui ajudar muitos doentes e nos últimos dias limitei-me a ensinar o básico no Hospital – como lavar as mãos, técnicas de sutura, noções de assepsia, como fazer uma história clínica, etc.. África é um mundo à parte e eu fui demasiado otimista. 3 - Quando concluiu o Mestrado Integrado em Medicina, quais foram os principais motivos pelos quais decidiu envergar pela Estomatologia? Para ser muito sincero eu queria uma especialidade cirúrgica e tinha planeado ir para cirurgia maxilofacial. No entanto no meu ano só abriu uma vaga e eu não consegui entrar. Como não tive coragem de repetir o Harrison optei por ir à descoberta da especialidade de Estomatologia. Fui o primeiro interno do país a entrar em Estomatologia no meu concurso, foi uma decisão muito difícil, porque não sabia bem o que esperar. Pensei que o pior que poderia acontecer era não me identificar com a especialidade e ter de repetir o exame. Não me arrependi da decisão que tomei.
3.1 - As atividades extracurriculares influenciaram de alguma forma a escolha? Ou reconhece alguma influência na sua escolha? As atividades extracurriculares ajudaram-me a decidir o que eu não queria escolher. Não queria psiquiatria, medicina física e reabilitação, medicina geral e familiar, cardiologia, etc.. Sempre estive muito aberto às diferentes especialidades cirúrgicas com maior afinidade para o tratamento de patologia craniofacial. Quando estive num estágio de ORL no Brasil durante o meu 5º ano de Faculdade vi muitas reconstruções faciais e fiquei fascinado com essa área de atuação.
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(...)somos nós que fazemos o nosso internato. Não há especialidades melhores ou piores. Há sim, internos com atitudes boas e internos com atitudes menos boas.
4 - Relativamente à especialidade, o internato decorreu conforme as suas expectativas? Eu costumo dizer que somos nós que fazemos o nosso internato. Não há especialidades melhores ou piores. Há sim, internos com atitudes boas e internos com atitudes menos boas. Eu trabalhei muito para que o internato corresse conforme as minhas expectativas, procurei sempre aprender com os melhores, estudar muito, e muitas vezes fui para outros serviços e para outros hospitais aprender. Depois, tentei diferenciar-me numa área muito específica e ser uma referência nessa área. Foi um percurso que fui planeando e hoje estou contente com as minhas decisões. A realidade nem sempre corresponde às nossas expectativas, mas com o tempo vamos aprendendo a fazer uma gestão de expectativas de maneira inteligente. O segredo é a nossa capacidade de nos adaptarmos aos diferentes cenários e aproveitar o melhor de cada experiência. 5 - Depois de concluída a especialidade em 2016, em que projetos tem estado envolvido ou como tem complementado a sua formação? Quando acabei o internato tive necessidade de sair do serviço onde estava! Senti que devia explorar uma realidade diferente e de mudança. Como fiquei bem posicionado no concurso nacional, tive a oportunidade de escolher o Hospital de Setúbal. Era perto de Lisboa, havia muitos tempos de bloco operatório e poucos médicos, ou seja, eu iria operar muito e teria a possibilidade de dinamizar o serviço. Quando cheguei organizei dois congressos para imprimir outra dinâmica no serviço e a nossa posição no hospital. Mas a realidade era muito diferente. Os blocos estavam sempre a ser cancelados por não haver anestesistas e eu operava muito pouco. Não sentia abertura para a mudança. Comecei a ficar desmotivado com a minha vida no hospital, porque senti que me estava a acomodar. Foi nessa altura que percebi que tinha duas opções: ou me deixava estar, ou arriscava tudo e dava início a um projeto próprio. Foi nessa altura que decidi sair
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da função pública e fundar o Instituto Português da Face com o meu amigo David Sanz. Hoje sou sócio fundador e diretor clínico do IPFACE. Tenho uma grande amizade com o David Sanz e identifico-me muito com a sua maneira de trabalhar. Ele é muito humano e muito preocupado com a qualidade e rigor dos procedimentos; estamos a crescer os dois nesta nova aventura! Operamos duas vezes por semana e temos um modelo de clínica centrada no doente. Queremos ser uma referência no nosso país. 6 – Relativamente à Blocomed, como surgiu esta ideia? A blocomed surgiu da necessidade. Ou seja, enquanto estudante tive uma má experiência no primeiro doente em que suturei uma cabeça. Demorei muito tempo, pois não tinha tido oportunidade de aperfeiçoar o meu gesto cirúrgico. Eu sabia a teoria, mas não tinha experiência prática na técnica de sutura. O stress foi tanto que até tive palpitações. O Médico sénior a gritar comigo, etc.. Foi um cenário muito triste. Percebi que não havia nenhum simulador acessível no mercado que me permitisse desenvolver as minhas habilidades cirúrgicas básicas e decidi, juntamente com o colega Mi-
guel Nunes, desenhar um protótipo para uso pessoal. Muitos dos nossos colegas mostraram interesse no nosso protótipo. Decidimos fazer 30 unidades para teste, que vendemos rapidamente. Percebemos que poderia ser interessante desenvolver o projeto. 6.1- Como passou de projeto a realidade? Foi uma grande aventura com muitas dificuldades. Lembro-me de passar muitas tardes com o Miguel com protótipos. Testamos diferentes tipos de pele, diferentes tipos de lacagem, etc.. Foi muito divertido e nessa altura tínhamos tempo! Hoje seria impossível desenvolver um projeto destes, infelizmente não tenho tempo para nada! O ponto alto foi sem dúvida ir ao Shark Tank Portugal e ter o Miguel Ribeiro dentro da sociedade. Ele permitiu profissionalizar a empresa e dar um passo importante para assumir o estatuto que tem hoje. Eu e o Miguel fizemos já um número significativo de Workshops de Pequena Cirurgia, dentro de Portugal Continental e Ilhas. Tivemos um projeto para fazer cursos no Estrangeiro, mas não avançou. Em 2016, cerca de 20% das nossas vendas foram para fora de Portugal. No entanto, este produ-
to tem pouca escala de vendas e é difícil ter um crescimento contínuo. Mas continuamos a fazer um esforço para a Blocomed se manter de boa saúde. 7 - Em Maio do presente ano defendeu a sua tese de doutoramento em Medicina, especialidade de Cirurgia Maxilofacial. Em breves palavras, como foi completar mais uma grande etapa na sua vida? Foi o culminar de um sonho. Passei por fases críticas onde tive dúvidas se alguma vez seria capaz de terminar o doutoramento. Lembro-me que o meu primeiro contacto com o CAML (Programa Doutoral do Centro Académico Médico de Lisboa) surgiu no dia 07/05/12. Tendo em consideração que ingressei na Especialidade em Janeiro de 2012, após 5 meses de internato surgia o minha primeira intenção de doutoramento. Seguiram-se várias alterações ao projeto inicial e só em 2014 consegui desenhar um projeto com qualidade e rigor para ser aceite pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. É legítimo perguntar o que andei a fazer durante esses dois anos! Este projeto envolveu quase 40 pessoas, de Sidney, Pittsburgh, ao Instituto Politécnico de Leiria. Fiz cursos de experimentação
Prof. Doutor David Ângelo acompanhado pelos Membros do Júri do seu Doutoramento em Maio do presente ano
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Revista DiagnOstico animal, fiz cursos de investigação e estatística, ou seja, estive dois anos a preparar o início dos trabalhos. Quando comecei oficialmente o doutoramento em 2014, já era uma pessoa mais madura e consciente de que os 4 anos que viriam aí seriam muito exigentes. Para não me alongar, foi uma enorme alegria concluir o doutoramento com louvor e distinção na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Senti um grande alívio por ter finalizado esta etapa e poder agora manter a minha atividade clínica e científica com este reconhecimento. 8 - Recentemente foi o primeiro médico português a integrar a sociedade europeia de cirurgiões da articulação temporomandibular (ESTMJS). O que significa para si essa conquista?
atitude. Ou seja, é a nossa atitude e o nosso conhecimento que definem o nosso sucesso. Tenham a atitude certa e serão bem sucedidos! O segundo conselho é: sejam muito persistentes – dou este exemplo: o primeiro artigo que tentei publicar foi recusado 5 vezes. Submeti-o uma sexta vez numa revista ainda melhor que as outras e acabou por ser aceite. Não desistam e acreditem no potencial do vosso trabalho. O terceiro conselho é: não se acomodem, nunca! Pensem que há sempre potencial de melhorar em tudo o que fazemos! Por último: acreditem e tenham fé! Quando acreditamos muito em determinada meta, mais tarde ou mais
cedo, essa meta acaba por se concretizar. Por vezes pode demorar, mas termos objetivos e acreditarmos neles é fundamental! 10 – Ao olhar para trás, faria algo diferente? Quando analiso o meu percurso profissional fico bastante satisfeito. Seria imprudente dizer que não faria nada diferente, porque em tudo o que fazemos há sempre margem para melhorar! Mas com 33 anos, acredito que apesar de muitos dos meus sonhos estarem realizados, tenho muito para dar e para aprender.
Pertencer à ESTMJS significa estar com os maiores experts europeus desta área. Representa um desafio constante e tenho de estar ativamente atento ao progresso científico na área da Articulação Temporomandibular, partilhando regularmente com a sociedade os meus resultados clínicos e científicos. Para além da partilha de conhecimento científico, existe ainda uma cooperação contínua entre os diferentes membros, significando que poderei deslocar-me com frequência aos diferentes centros de referência europeus. Por exemplo, em fevereiro estarei em Nottingham a colaborar com uma equipa numa série de intervenções à ATM. Era importante para Portugal ter um médico nesta sociedade, pois era frequente alguns colegas espanhóis e ingleses receberem casos mais complexos para intervenções cirúrgicas à ATM. Neste momento estou reconhecido para realizar qualquer intervenção à ATM e procurarei estar à altura desta grande responsabilidade para com os meus doentes! 9 – Pela sua passagem pela FCS e pela sua notável experiência, quais são os seus conselhos para os atuais estudantes desta faculdade? Primeiro conselho: sucesso é igual a conhecimento multiplicado por
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DESMISTIFICANDO A TESE
Baseado na sessão do MedUBI InForma-te: Tudo sobre a Tese, decorrida a 27 de fevereiro de 2018.
A tese tem que ser feita, mais tarde ou mais cedo, para poderes terminar o curso. Uma tese é uma proposição intelectual mandatária para todos os estudantes que pretendam concluir o mestrado integrado em medicina. Esta tem como objetivo inserir o estudante na comunidade científica e mostrar os primeiros passos daquilo que poderá ser parte da sua futura carreira ou vida. A tese, no entanto, torna-se, por vezes um “bicho de sete cabeças” para aqueles menos experientes no mundo científico e sobretudo para alunos dos primeiros anos do curso que ouvem falar desta como algo muitas vezes mirabolante.
TIPOS DE DISSERTAÇAO , Existem 3 tipos de dissertações que podem ser feitas de acordo com os regulamentos das Universidades: - Trabalho de investigação - Monografia - Relatório de estágio, com desenvolvimento de aspetos científicos. Destes, apenas os dois primeiros são aceites no curso de medicina, sendo que os mesmos têm normas específicas que devem ser consultadas na área “Dissertação” na intranet. Começando pela monografia, esta consiste num trabalho de revisão bibliográfica onde se sumariza o estado atual de um determinado tema, sem realizar a parte experimental. Desenvolver uma monografia envolve basicamente procurar a literatura existente acerca do tema que pretendem abordar e recolher as partes essenciais ao vosso tema. Não existindo a necessidade de recolher dados de processos clínicos ou pacientes, este é o tipo de abordagem que mais depende do próprio aluno, não necessitando tanto da disponibilidade do orientador ou de terceiros. Não há desculpa para não ter o trabalho feito!
Revisão sistemática. Ao contrário da monografia, digamos, convencional, uma revisão sistemática poderá ser considerada como um trabalho original. Embora a abordagem seja muito semelhante à anterior, esta obedece a critérios muito mais rigorosos, permitindo apenas intervalos de tempo restritos, populações específicas e artigos com significância estatística e clínica relevante. De forma a ser considerada sistemática, uma revisão deverá obedecer aos critérios definidos pela PRISMA, que podem ser consultados online. Poderás igualmente encontrar tutoriais da Cochrane (que é considerada a maior base de dados online em termos de revisões sistemáticas da literatura). Caso pretendas ou já estejas mesmo a fazer uma revisão sistemática e tenhas intenções de publicar, é necessário registares o teu trabalho na plataforma PROSPERO. Nela são registadas todas as revisões sistemáticas atualmente em curso a nível mundial, de forma a que não existam duas pessoas a escrever algo igual, uma vez que uma revisão deste tipo, para além de levar tempo e bastante trabalho, também é suposto ser considerada um trabalho original e único.
São considerados como o pilar do conhecimento científico pois é o que melhor permite aplicar direAinda dentro das monografias, existe um tipo de tamente o método e testar hipóteses. abordagem à literatura científica denominado de Antes de começar um estudo, seja ele qual for, a
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Revista DiagnOstico primeira coisa a fazer é sempre uma pesquisa bibliográfica extensiva. Nunca sabes quando a tua pergunta já não terá sido respondida por alguém. É também útil para te situares até que ponto o tema já se encontra desenvolvido e possivelmente trabalhares a partir dessa informação. Depois só resta desenhares o estudo e pôr as mãos à obra. Existem diversas formas de se fazer um estudo, como por exemplo, através dos processos clínicos, questionários, abordagens à comunidade, colheita de amostras ou até teste de abordagens terapêuticas.
ATENÇAO - Para realizares um estudo, necessi, tarás quase sempre do aval da comissão de ética. Dependendo da complexidade do mesmo e da envolvência de pacientes ou de dados clínicos, poderá ser exigido mais ou menos pormenores e meios de suporte por parte da comissão. Cabe-te a ti planear e decidir o que fazer! O ideal é sentares-te em reunião com o teu orientador e ambos batalharem ideias acerca do desenrolar do processo. A ciência é um mundo em constante expansão e existem ainda milhões de perguntas à espera de ser respondidas!
COMO ESCOLHER O TEMA Eis o dilema com que nos batalhamos desde o primeiro ao sexto ano! Este é sem dúvida o ponto mais importante de toda a tese e o que começa todo o processo. Com tanto ainda por explorar, vemo-nos por vezes numa grave indecisão de escolher um tópico a abordar. Querer planear tudo com antecedência de forma a acabar a tese no início do último ano para ganhar tempo útil de estudo, colide muitas vezes com o facto de existir um grande desconhecimento frente às cadeiras dos últimos anos, e que poderão dar origem a ideias interessantes de abordar. No meio deste dilema, o mais importante é pegar num tema que de facto gostes! Pode ser uma pergunta que te tenhas questionado e que nunca tenhas obtido uma resposta nos livros, uma área
que gostes, ou mesmo por sugestão do orientador. Se escolheres um tema que não capte o teu interesse vais dar por ti, a certo ponto, a trabalhar contrariado, enquanto que se escolheres um tópico que te cative vais trabalhar sem olhar para as horas e todo o trabalho será muito mais fácil. Poderás procurar, um tema que seja relevante para a nossa comunidade (hospital, universidade, região da beira interior, Portugal). Caso pretendas trabalhar lado-a-lado com a faculdade poderás sempre enveredar pelo tema da Educação Médica. Caso precises de ideias ou inspiração poderás sempre consultar o portal do Thesis onde verás as teses a decorrer, as terminadas, e ainda temas sugeridos por vários docentes associados à faculdade.
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ORIENTADORES Tendo em conta que ninguém nasce ensinado, e não existindo propriamente aulas de como elaborar uma tese, o orientador será um docente ou médico escolhido por vocês que, em princípio, ficará responsável por te guiar e orientar na elaboração de uma. Desta forma o orientador será alguém experiente e especialista na área em que pretendes aprofundar para a dissertação. Deverás esperar do orientador que te guie no processo, em procedimentos protocolares, corrija métodos, pensamento ou conclusões e que responda a dúvidas. Se a pessoa que pretendes que te oriente for alguém externo à faculdade ou um professor jubilado (que se encontre reformado do ensino na faculdade) poderás escolhê-la unicamente se tiverem um coorientador com vínculo à universidade. - Algum médico ou docente que tenham gostado, no estágio ou na aula; - Médicos ou docentes especialistas na área que pretendam aprofundar; - Através de feedback de pessoas que estão a fazer ou já fizeram a tese; um bom orientador é alguém que em princípio se interessará pelo vosso trabalho e que terá disponibilidade para vos apoiar e responder a dúvidas. Um orientador desinteressado poderá ser uma fonte de trabalho dificultado! - Por uma questão de utilidade (ex. por questões de tratamento estatístico) Qual a melhor forma de entrar em contacto com o orientador? (Esta questão depende muito da vossa relação) - Inicialmente a pessoa que queiram convidar para vos orientar deverá, geralmente, ser abordada por email ou pessoalmente. - Posteriormente, caso exista maior proximidade ou confiança (sobretudo quando se trata de orientadores mais jovens), poderão ser abordados por outros meios como facebook, sms, ou por chamada telefónica. DICA - Os orientadores, mesmo tendo a máxima vontade, nem sempre têm a máxima disponibilidade. Assim, é importante tratar de todos os assuntos com antecedência e não esperar resposta imediata ao enviar coisas à última da hora. Caso a resposta demore muito podes sempre ir enviando lembretes.
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DICA - É importante marcar reuniões periódicas com o orientador ou enviar frequentemente os avanços na redação da vossa tese, de forma a não se perderem no processo e evitar a procrastinação ao máximo DICA - De forma a facilitar a comunicação entre os dois, e para evitar perda de informação ou de questões, poderá ajudar escrever os emails por tópicos e de forma sintetizada. Caso estejas muito insatisfeito com o decorrer do trabalho e sintas que estás a ser gravemente prejudicado poderás sempre mudar de orientador e de tema. O mais importante é ter um orientador presente e que vos apoie no trabalho. Caso se sintam desapontados, e não conseguirem avançar, podem terminar o projeto e escolher outro. No entanto, não esperes que o orientador faça a tese por ti! O facto de não responder não é desculpa para não ir fazendo o trabalho! Caso pretendas ter mais que um orientador, poderás fazê-lo. Neste caso deverás convidar alguém para ser coorientador. Um coorientador tem exatamente as mesmas funções do orientador, e é muitas vezes convidado por questões práticas e que tragam alguma vantagem ao trabalho. Deverás considerar esta opção caso o tema que escolhas cruze várias áreas ou especialidades, ou envolva trabalho bastante pesado a nível estatístico. DICA - Para tratar da estatística poderás sempre fazer usufruto do gabinete de estatística da faculdade ou inclusivamente convidar um professor de bioestatística para coorientador. Uma vez tendo escolhido orientador e decidido o tema do trabalho, deverás ter preenchida a “Declaração de aceitação de orientação” e submetê-la no secretariado da faculdade para que fique registado na página Thesis. -
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COMISSAO DE ETICA Em regra, todos os estudos científicos deverão obrigatoriamente ter o aval da comissão de ética de forma a que possam ser realizados. Esta comissão é composta por um grupo de profissionais de várias áreas que reúne mensalmente para avaliar e aprovar a realização de estudos pro-
Revista DiagnOstico postos. Existem várias comissões de ética a que poderás recorrer, como a da Universidade da Beira Interior, a do Centro Hospitalar e Universitário da Beira Interior ou a do Centro Académico Clínico das Beiras. Dependendo do tipo de estudo que proponhas, este poderá ser maior ou menor alvo de comentários ou pedidos de reformulação por parte da comissão. Se desenvolveres um estudo de intervenção na comunidade ou que lide com pacientes terás necessáriamente de ter um consentimento informado. Para mais informações poderás consultar a Norma 015/2013 da DGS. Existem modelos de consentimento informado que poderás utilizar, no entanto, estes terão de ser adaptados a cada caso em concreto.
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COMEÇAR A ESCREVER/REDAÇAO , , DA TESE
Acontece muitas vezes que a parte em que se sente maiores dificuldades é a da redação e de como começar a escrever. Seja por falta de ideias ou por não saber onde começar que o trabalho acaba por se atrasar e depois é tudo feito em cima da hora e sob stress extremo. Muitas vezes recomenda-se começar pelos métodos, uma vez que se trata dos parâmetros mais objetivos a redigir. No entanto és tu que escolhes por onde inicias a redação. A última parte a escrever geralmente é o resumo/ abstract, pois precisas da maioria da informação para o construir. Acima da tudo o mais importante é começar, tudo o resto se torna mais fluido quando já existe alguPara submeteres o teu projeto, deverás entregar ma coisa escrita. no secretariado da comissão de ética: DICA - Caso não tenhas nenhuma ideia de como - Consentimento informado (mais detalhado começar, poderás ir transcrevendo algumas ciquanto mais interveniente for o estudo no pacien- tações de artigos relacionados e ir elaborando a te); partir daí. - Projeto/desenho do estudo - Cronograma (planificação temporal) ATENÇAO - Sempre que uses conclusões, resul, - Resumo tados ou transcrevas de outros artigos terás de - Estado da Arte referenciar a origem bibliográfica. Caso não o faças, poderá ser considerado plágio! Questionários e inquéritos também necessitam de ser submetidos para aprovação. DICA - Começa a escrever a tese logo no modelo oficial de teses e dissertações da UBI, que poderás fazer download da "Área Reservada” no portal ATENÇAO - Só poderás começar um estudo , “Minha UBI”. após obteres a aprovação da comissão de ética! Fazer o contrário poderá trazer implicações legais! DICA - Os softwares de referenciação serão muitas vezes os vossos melhores amigos e irão poupar o trabalho infernal de escrever à mão toda a DICA - Para evitar mal-entendidos e facilitar o bibliografia. processo, recomendamos que consultes a nova legislação acerca da proteção de dados. ATENÇAO - Menores de idade necessitarão de , consentimentos mais abrangentes, pois terão de envolver os pais também! DICA - Enquanto se aguarda o parecer a comissão de ética, poderás começar a fazer a revisão bibliográfica e introdução do trabalho de forma a rentabilizares o tempo.
Deverás ir guardando os artigos que usas à medida que os vais lendo, para que no final, estando sob stress, não escape nenhum!
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PROVAS PUBLICAS
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PUBLICAÇOES E APRESENTAÇOES , , Quando finalmente terminas a redação da tua EM CONGRESSOS
tese, chega o tempo de a submeteres para avaliação. Para tal deverás entregar o documento escrito no centro académico, que posteriormente será enviado a um júri constituído por 3 pessoas. Um será o orientador, outro o diretor de curso e o último um especialista na área da tua dissertação. Estes serão, também, os membros arguentes que encontrarás no momento de apresentar e discutir a tua tese. ATENÇAO - Existe um prazo final para submis, são da dissertação, geralmente por volta do final de abril, sendo que após essa data, serão descontados pontos na nota final! ATENÇAO - O prazo de submissão da tese para , o curso de medicina é diferente do da faculdade, sendo o primeiro muito mais cedo do que o da UBI.
Antes de defenderes a tua tese em prova pública, poderás submeter o teu trabalho para publicação numa revista peer reviewed ou para apresentação num congresso ou serviço clínico. A divulgação da tua dissertação fora das provas públicas soma pontos na tua avaliação final, desde que feita antes das provas públicas. DICA - Caso apresentes num congresso ou num serviço clínico deverás pedir um certificado para entregares no final da prova pública e teres assim pontos extra na nota final. Consulta o regulamento/critérios de avalização disponíveis na intranet, no módulo “Dissertação”!
O QUE COSTUMA CORRER MAL?
Alguns dos erros que mais ocorrem, que sobreApós submetida, a tua tese será avaliada pelo júri carregam todo o processo e que causam problemas que concluirá se está em condições de ser subme- são na maioria dos casos evitáveis: tida a provas públicas. Caso não esteja, ela será devolvida sob o pedido de reformulação e um prazo - Procrastinação! Esta é a principal fonte de atrapara ser submetida de novo. sos na submissão e de stress extremo quando os Uma vez aprovada, será marcada uma prova pú- prazos se começam a aproximar. blica para apresentação perante o júri, de qualquer Medicina é um curso que não têm tempo dedicado membro da faculdade, ou mesmo da população ge- para elaboração da dissertação, pois esse é ocuparal (as provas, sendo públicas, encontram-se aber- do com prática clínica e com o estudo para a Prova tas à comunidade para assistir) Nacional de Acesso à Especialidade. Desta forma, o tempo tem que ser gerido em conjunto com tudo DICA - Poderás consultar todos os critérios de e o stress pode começar a apertar à medida que os prazos de submissão se aproximam. avalização da tese e da prova pública na intranet! Fazer as coisas com a devida antecedência poderá poupar bastante trabalho. - Mau planeamento! Deverás logo a partir do momento em que começas a fazer a tese, planeá-la a nível temporal (cronograma) e financeiro. Desenhares projetos que, por exemplo, exijam análises caras pode exigir um financiamento externo. A faculdade e o hospital não comparticipam financeiramente projetos de mestrado integrado, pelo que poderás apenas concorrer a bolsas de investigação A nota da dissertação ser-te-á comunicada no externas. Deverás ter em mente que estas bolsas final da prova pública após a defesa da mesma e demoram tempo a ser atribuídas. entrega de documentos relativos a publicação em revistas ou apresentação do trabalho em congres- Estatística! É um facto que o bloco de bioestasos ou serviços. tística do 1º ano, para além de já se encontrar dis-
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Revista DiagnOstico tante na memória das pessoas aquando da elaboração da tese, demonstra-se, também, insuficiente, muitas vezes, para a elaboração de uma análise complexa exigida por um estudo científico de qualidade. Poderás sempre enveredar no curso opcional de Biostatística ou SPSS no 5º ano, no entanto, a abordagem mais fácil e com melhores resultados, será consultares o centro de estatística da faculdade sempre que precisares de ajuda ou considerares ter um coorientador da área da estatística.
DICAS - Monografias são desprovidas de análise estatística e de aprovações da comissão de ética, pelo que te poderão poupar algum trabalho.
- Se um dos teus objetivos é publicar e entrar dentro do mundo da investigação clínica ou mesmo científica, trabalhares numa tese de investigação é uma ótima forma de ganhares experiência e currículo. Será também muito mais fácil de publicar uma - Má comunicação com os orientadores! Este tese de investigação do que uma monografia dado é um problema não muito comum, mas que pode que a estrutura é muito semelhante à de um artigo trazer consequências graves à sanidade mental de científico. qualquer aluno. Procura fazer as coisas com antecedência, para não estares à espera de resposta em - O aluno é completamente livre de escrever e véspera de prazos de submissão, e tenta marcar apresentar a tese em inglês. Isto pode facilitar e reuniões periódicas com o teu orientador. poupar algum trabalho caso um dos teus objetivos seja publicar numa revista peer-reviewed internaDe forma a manteres o orientador constante- cional ou num congresso internacional. mente a par do trabalho, um conselho é trabalhares na tua tese num doc na google drive e partilhares o - Tem em atenção que a aprovação para publicalink. Desta forma, os avanços poderão ser constan- ção demora tempo e os prazos de submissão de temente atualizados, consultados e comentados, abstracts nos congressos são fechados com basou poderás ir enviando um lembrete para que o tante antecedência do congresso em si, pelo que orientador vá ver o trabalho. Tens também a vanta- não deixes as coisas para a última da hora se quigem de centralizar todas as alterações num único seres ter uns pontinhos extra. documento e não em ficheiros dispersos. - Procura terminar a tese o mais cedo possível, idealmente no fim do 5º ano ou início do 6º, de forma a teres tempo de submeter a publicação ou congressos e para conseguires ter mais tempo dedicado ao estudo para a Prova Nacional de Acesso à Especialidade. - Procura utilizar sempre que possível os artigos mais recentes, pois valoriza qualquer trabalho a nível científico e facilita a publicação em revistas indexadas. - Não te esqueças de referenciar todos os artigos que utilizes de base. O plágio pode trazer consequências graves na tua carreira, tal como artigos publicados e posteriormente retraídos (retracted articles). REDIGIDO POR
RICARDO ASCENÇAO ,
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CARTOON
POR MARIANA PEREIRA
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Revista DiagnOstico
CONGRESSOS NACIONAIS
POR MARIA LUCIA CASTRO
NOVEMBRO DE 8 A 10
34.º CONGRESSO PORTUGUÊS DE PNEUMOLOGIA Centro de Congressos Epic Sana, Praia da Falésia, Algarve
DIA 10
2.º MEETING IPO-PORTO Auditorio Principal IPO, Porto
DIAS 15 E 16
XVIII JORNADAS CIENTÍFICAS DA DELEGAÇÃO CENTRO DA FUNDAÇÃO PORTUGUESA DE CARDIOLOGIA Hotel D. Luis, Coimbra
DIA 16
X FÓRUM DO MEDICAMENTO Centro Cultural de Belém, Lisboa
DIAS 21 A 23
7.º CONGRESSO INTERNACIONAL DOS HOSPITAIS Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa
DIAS 22 E 23
III JORNADAS DE SAÚDE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Bragança
DIA 23
5.º FÓRUM DE IMUNOALERGOLOGIA DO CENTRO Hotel Quinta das Lágrimas, Coimbra
DE 30 A 1
I JORNADAS DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA DO CACB Auditório do Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira, Covilhã
DEZEMBRO DIAS 6 E 7
QUINTA JORNADA DE PATOLOGIA PULMONAR CRÓNICA Porto
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PERDER AS ESTRIBEIRAS
CONGRESSO MEDUBI POR DIOGO MINISTRO A décima edição do Congresso MedUBI começou no início deste ano lectivo a desvendar aos poucos as novidades que irão existir no X BeInMed, a realizar em janeiro do próximo ano. Puxando a fita deste filme atrás, ainda em maio deste ano foi revelado um novo nome e um novo logótipo projetando assim a imagem de um congresso que continua a crescer e vê na sua idade a responsabilidade de cada vez mais contribuir para a formação médica e partilha de conhecimento entre estudantes e profissionais de saúde. Com o tema já anunciado (“O Futuro da Medicina”) serão muitas as novidades que chegarão ao longo deste mês de novembro. Até à abertura de inscrições dia 26 deste mês, serão anunciados os nomes que vão compor os diferentes painéis e os temas não podiam ser mais abrangentes! Cirurgia, comunicação e o impacto das tecnologias na relação médico-doente, saúde global e internacionalização, genética e investigação, robótica e medicina aeroespacial, endocrinologia e oncologia são temas que serão abordados ao longo dos dias 18, 19 e 20 de janeiro. O tema teve também como objetivo a liberdade de poder explorar diferentes áreas médicas sem nunca esquecer o principal foco: o futuro. Ainda durante as sessões, haverá um novo momento designado “Scientific Moment” que pretende valorizar cada vez mais o trabalho desenvolvido pelos estudantes, nomeadamente através da participação na competição científica durante o congresso (cujas inscrições para submissão de abstracts terminam a 16 de dezembro). Estão a ser desenvolvidas várias iniciativas para comemorar os dez anos de congresso, com a organização de uma gala e outras surpresas que só serão reveladas ao longo dos três dias. Este ano poderás ainda contar com um programa social que te preencherá todas as noites! Ainda antes da abertura das inscrições serão revelados pormenores de um sessão pré-congresso bastante diferente e que irá abrir, de forma informal, o X BeInMed. Além do referido, estão ainda planeadas mais de 20 sessões paralelas e mais de 20 workshops de maneira a complementar de forma mais específica a formação de cada participante. A comissão organizadora do X BeInMed convida todos os estudantes a fazerem parte de uma das maiores atividades já realizadas na nossa faculdade. Marca já na tua agenda os dias 18, 19 e 20 de janeiro! Abertura de inscrições: 26 de Novembro
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EXPRESSA-TE EXPRESSA-TE EXPRESSA-TE Envia-nos o teu texto para diagnostico@medubi.pt
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Qual E O tEu?