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O Punk de Violet Soda

O PUNK DEVIOLET SODA

Do “faça você mesmo” à estratégia bem traçada, a banda mostra que sabe o que está fazendo dentro e fora dos palcos

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Por Fernando de Freitas e Ian Sniesko

Não basta entender a atitude punk. Não é mera estética, e o Violet Soda entendeu isso. Eles parecem saber que o desafio é subverter o sistema com as ferramentas do próprio sistema. O som é autêntico e indefinível. É uma junção de todas as suas referências em uma proposta sem compromissos com movimentos ou tradições geográficas (talvez por isso os rotulem de pós-grunge). Simples, distorcido e rápido. É o bom e velho rock’n’roll. E agrada.

Talvez isso pouco lembre a tropa periférica que invadiu o Sesc Pompeia no “Começo do Fim do Mundo”, em 1982. E, realmente, o Violet Soda tem muito pouca relação com esse movimento, mas isso não faz deles menos punks, pois punk é, acima de tudo, uma atitude e não uma estética a ser copiada.

As chancelas que eles carregam não são poucas: estão vinculados a Chuck Hipólitho, membro dos Vespas Mandarinas e velho conhecido da MTV, em cujo estúdio eles têm realizado as gravações e com quem dividem outros projetos. O produtor é Alexandre “Capilé” Zampiéri, que tem sua própria história na cena underground brasileira e comandou as gravações no Costella, entregando a cozinha (André Dea e Tuti AC) de presente para Karen Dió e Murilo Benites. Não é demais lembrar que eles também têm um “day job” com Raffa Brazil, do Far From Alaska, em uma agência de marketing musical.

Enquanto um bando de moleques se reunia na loja de roupas de Malcom Maclaren, no bairro do Chelsea, em Londres, um jovem de classe privilegiada, que nunca se ajustou às escolas particulares as quais tivera acesso, escondia seus antecedentes em busca de autenticidade. Nasciam, assim, dois ícones do punk: Sex Pistols e The Clash. A autenticidade era um selo de qualidade da estética proposta, e isso podia definir o seu sucesso naquele momento. Era preciso vender sua autenticidade e aqueles que entendiam as regras do jogo levaram vantagem. Malcom Maclaren, Johnny (Rotten) Lydon e Joe Strumer foram personagens que entenderam, assim como Patti Smith e Iggy Pop, que foram recebidos como precursores.

Se todos os músicos vieram de projetos anteriores, algo fez com que o som entre eles funcionasse. E não importa se para isso Murilo Benites, que é baixista de ofício, tenha assumido a guitarra (tirando sua Fender Jazzmaster do case em que estava guardada) e Tuti AC, que fala de boca cheia, assuma o baixo, mesmo dizendo, de boca cheia, que é guitarrista. É provável que a autenticidade seja o produto desta condição, a simplicidade decorrente de estarem ambos distantes de suas zonas de conforto.

Também é necessário dizer que Karen Dió é uma personalidade que se transforma: fora do palco, de óculos, uma menina miúda e tímida; sobre ele, empertigada se projeta junto com sua voz com o vigor de que o rock precisa.

Embora, por alguns momentos, seja possível lembrar de músicas como “Spiderweb”, do NoDoubt (Tragic Kingdon), a sonoridade tem mais influências mais próximas, como de Courtney Barnett e das guitarras do álbum “Melted”, de Ty Segall. Porém, todas as influências, música a música, parecem, como um caleidoscópio, se misturar em um novo fractal combinatório e trazer à tona uma nova sonoridade. O importante é que o Violet Soda é uma banda verdadeiramente independente, sem a obrigação de respeitar cenas e tradições e, por isso mesmo, fazendo um som autêntico. Afinal, não era isso o punk, para começo de conversa?

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