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A fantástica história secreta de André e os super-heróis do pop brasileiro
A FANTÁSTICA HISTÓRIA SECRETA DE ANDRÉ E OS SUPER-HERÓIS DO POP BRASILEIRO
Por Fernando de Freitas
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Importante! Essa é uma narrativa fictícia inspirada na maravilhosa série documental dirigida por André Barcinski “A História Secreta do Pop Brasileiro”.Este conto/crônica nada tem de documental ou compromisso com os fatos, pretende apenas de homenagear seu trabalho.
Barcinski, certo?”, disse o senhor de pernas cruzadas e costume impecável, levantando os
“Andrei
olhos do jornal. “Conheci um Andrei Barcinski. Um polaco. Camareiro do Lido, em Paris”.
Era Jorge Daniel, em perfeita postura portenha, como se em La Biela estivesse a tomar seu cortado aproveitando o sol de uma manhã na Recoleta. O sorriso sutil dava ambiguidade à afirmação. “Sente-se.” Daniel abaixou o jornal e, em sincronia com o movimento de André, da mesa atrás dele veio um homem baixo e corpulento, apoiando ambas as mãos sobre uma bengala em frente ao corpo após se sentar. Os nós impressionantes dos dedos alinhados com o queixo e o olhar fixo. “Você acha que ele é confiável, Jorge?” “No lo se, Prini. Mas o Andrei aqui está fazendo preguntas que um dia precisam ser respondidas”.
Eles olhavam para André fixamente. Ele, que desde cedo assumira que as páginas do jornalismo cultural o deixariam longe das enrascadas que os amigos dos cadernos policiais se deliciavam em contar. ‘Ele’ significava um enigmático argentino que fora parceiro da Ava Gardner, contracenara com Oscarito e Grande Othelo, teve carreira em Paris e fez sucesso no Brazilian Ghengis Khan. Agora, em nada parecia com o homem sem camisa, careca e com a longa trança. O outro era Prini Lores, alguém que imitava tão bem Trini Lopez que, quando foi ao México, teve que enfrentar os rufiões que colocaram a cabeça do americano a prêmio. Pior para os rufiões, contava a lenda.
“Escuchame Andrei! Você está chegando muy próximo de um segredo da indústria. Nós estamos aqui porque já fomos revelados, mas temos que proteger muitos outros”, disse Daniel sem titubear, e completou: “O que vamos te mostrar hoje só pode ser revelado una parte. Só a parte creíble”.
André concordou acenando a cabeça. Antes que pudesse fazer qualquer pergunta, Daniel e Prini se levantaram e André os acompanhou. Entraram em um carro preto, enorme, parado em frente ao restaurante, que ele jurava que não estava ali quando chegou. Os vidros eram escuros e sabia que ninguém poderia vê-lo na companhia daquelas lendas. Saíram das ruas quase portenhas da Santa Cecília, subindo a Consolação e seguindo pela Avenida Paulista com seus banqueiros e mendigos.
Quando achou que ia parar no Paraíso, esboçou um sorriso, mas passaram direto. Perdeu o direito à ironia.
Quando o carro parou em uma pequena rua da Vila Mariana, André percebeu que não havia ninguém sentado no lugar do motorista. E esse passeio, que começara estranho, com figuras POP falando de maneira misteriosa, estava se tornando assustador.
A porta do casarão estava aberta e Daniel e Prini ficaram no carro. André entrou sozinho. Setas rosas de gaffer tape apontavam para a escada que levava ao subsolo. Era uma escada pouco íngreme e longa. Calculava André que devia atravessar o terreno e ultrapassar seus limites. E de sua saída brilhava uma enorme luz. Era tarde demais para voltar. Se era curiosidade ou uma atração além da racionalidade, não sabia. Era tarde demais para desistir.
Empurrou a porta. Mudou de repente a incidência de luz. Alguns segundos para as pupilas e receptores se adaptarem. Recuperou a visão e se revelou uma enorme sala de controle. Um estúdio. Detrás do vidro ele viu Steve Crooper e uma versão envelhecida de Otis Redding cantando. Mal podia acreditar. Cada nota. Ao fim da canção, se distraiu e já estavam na sala Muddy Watters e Little Walter tocando. Ao fim da música, André não desprendeu o olhar e viu as figuras se transmutarem novamente em John e Paul. E a cada música aqueles seres mudavam diante de seus olhos. Quando acabaram, as pernas de André não se firmavam no chão, as figuras atravessaram a parede entre a sala de gravação e a de controle, estenderam as mãos e disseram:
“Nós somos os irmãos Carezzato, mas nos conhecem como Os Carbonos. Somos as cópias de qualquer um que quisermos. Você vai contar nossa história, mas não vai contar toda a verdade”.