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Bernard Fowler - Subversão de Dentro para Fora
SUBVERSÃO DE DENTRO PARA FORA
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Em Inside Out, Bernard Fowler homenageia os Rolling Stones em uma leal traição
Por Fernando de Freitas
Imagine se você entrasse em um estúdio e encontrasse Steve Jordan, baterista e braço direito de Keith Richards; Darryl Jones, que saiu da banda de Miles Davis para substituir Bill Wyman nos Stones; o lendário Ray Parker Jr., que tocou com todo mundo, de Stevie Wonder a Herbie Hancock, passando por Aretha e Tina Turner e, ainda, compôs a música-tema dos Caça-Fantasmas. Quem você imaginaria à frente desta banda? O nome dele é Bernard Fowler, o backing-vocal dos Rolling Stones que, hoje, divide com Corey Glover (Living Colour) a posição de frontman da A Bowie Celebration.
O resultado dessa reunião de talentos é o disco Inside Out, em que Bernard Fowler decidiu apresentar suas próprias versões de músicas dos Rolling Stones. E não poderia ser mais surpreendente, depois de 30 anos cantando um passo atrás de Mick Jagger, ele decidiu fazer sua homenagem com uma grande dose de subversão. Nada mais justo quando se trata dos Stones.
Enquanto em seu disco anterior, The Bura, o trabalho era prioritariamente autoral, mostrando mais das composições como as que ele já havia compartilhado nos álbuns de Ronnie Wood, Inside Out é dedicado inteiramente aos Rolling Stones. A primeira novidade da proposta está em como ele usa a própria voz, entre o declamar e o Rap. Assim, ele pega a música que Mick e Keith emprestaram do delta do Mississipi e de Chicago e joga nas esquinas e linhas de metrô de Nova York. Rouba sem roubar, devolve sem devolver. Ninguém personificou tão bem o espírito dos Rolling Stones sem ser um deles, é uma dualidade presente em cada faixa e verso do álbum.
STREET FIGHTING MAN
O amor à palavra, e nesse caso às palavras de Mick Jagger que ele tem cantado nos últimos 30 anos, o afasta das melodias originais, mas seu declamar não deixa de ser um cantar. Ressoa, inevitável, os anos 70. Por vezes Isacc Hayes, por outras Patti Smith e Lou Reed. Claro que seu time irrefreável de instrumentistas entrega o som, o soul e o sangue que corre em suas veias a cada compasso, é como se todos eles estivessem juntos em catarse. Por meio de Mr. Fowler, são os fiéis traidores em festa.
Esse revide musical é o resultado do que os próprios Stones fizeram durante toda sua carreira com a música negra norte-americana. Começaram tocando covers, acelerando os temas de Muddy Waters e outros talentos da Chess Records, para depois colocar em sua retaguarda os melhores entre os melhores músicos afro-americanos para dar o som que queriam. Eventualmente, trazendo-os para frente, como aconteceu com Merry Clayton em Gimme Shelter, contratando Lisa Fisher, já ganhadora de um Grammy, o próprio Fowler e, claro, Darryl Jones. Era de se esperar que alguém fizesse com eles o mesmo. O surpreendente é isso acontecer de dentro para fora, sob a liderança daqueles que servem de suporte para suas intermináveis turnês e exatamente por aquele que era o homem de confiança de Jagger. Mas, talvez, seja isso que Keith Richard viu e confidenciou logo de cara - “Eu não queria gostar de você.” -, logo após a primeira gravação com ele, na década de 80, como conta em sua autobiografia.
A BOWIE CELEBRATION
Mike Garson, Earl Slick, Gerry Leonard, Carmine Rojas, Mark Plati e Charlie Sexton, músicos que acompanharam David Bowie, se reuniram para celebrar o legado deste e permanecem em turnê sob o nome A Bowie Celebration. Para isso, eles se juntaram com vocalistas de primeira linha como Bernard Fowler, Corey Glover, Joe Sumner e Gaby Moreno.
Um dos pontos altos do show é a interpretação de Under Pressure.