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NOVA MALANDRAGEM
by comlimone
“O que eu quero é tocar em lugares que tenham pessoas parecidas comigo”, diz Luan Charles, idealizador da Banda Nova Maladragem, uma banda formada prioritariamente por homens negros. “O homem negro é a maior parte da população carcerária neste país, o homem negro é quem mais morre nas mãos da polícia e por mortes violentas, quando você vê uma banda de homens pretos tocando música, não era para estarmos lá”.
A Banda Nova Malandragem lançou, no dia 11 de junho, seu primeiro EP, em que sua música instrumental, criada nas periferias de São Paulo, nasce pronta para o baile. Produzido por Marco Mattoli, do veterano Clube do Balanço, a banda une a percussão brasileira com o brilho da orquestra de metais.
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A banda é formada por Luan Charles, Atila Silva (trompetes), Everton Martins, Ian de Souza Arruda (trombones), Danilo Rocha (sax alto), Léo Brandão (sax tenor), Wellington Souza (sax barítono), Mateus José (baixo elétrico), Gabriel Cartocci (guitarra), Matheus Marinho (bateria), Lucas Souza, Danilo Rodrigues, Clency Santana (percussões). Os músicos, vindos na sua maioria das periferias de São Paulo, foram alunos da Escola do Auditório Ibirapuera, de grandes nomes da música instrumental brasileira, como Nailor Proveta e Walmir Gil, Edson Alves (Banda Mantiqueira), Maestro José Roberto Branco (Banda Savana).
Quando ressaltamos a ausência as mulheres na banda ele deixa claro: “Não podemos, nem temos a obrigação de abraçar todas as causas, a gente mal consegue juntar uma banda somente de homens negros”, uma vez que a banda conta com dois integrantes que não se encaixariam no perfil. Mas, para ele, diante das circunstâncias de violência racial no Brasil, é importante que seja possível apresentar a imagem de homens negros fazendo arte.
Assim, conta sobre a formação: “A Escola do Auditório Ibirapuera foi, para a maioria de nós, um espaço de (re)conhecimento e descoberta dessa plêiade de gêneros musicais que compõem aquilo que hoje chamamos de Música Popular Brasileira. Foi lá, ao lado de renomados maestros, músicos e professores, que pudemos desenvolver uma formação voltada à produção artístico-musical de uma afro-diáspora brasileira, ainda muito pouco estudada em conservatórios e universidades do Brasil” conta Luan Charles, “uma vez que banda traz em sua formação instrumental uma maioria de homens negros, visados ao cárcere e ao extermínio sistêmico, todo ou qualquer trabalho desenvolvido por nós revela implicitamente e explicitamente, as dimensões políticas de nossa existência; inclusive, no mero fato de existirmos enquanto banda.”
Por outro lado, rejeitam o discurso da superação, e com isso o olhar condescendente que está incluído neste imaginário. Assim como sua música, a banda se coloca intensamente no papel de protagonista de sua história.
Ainda que não seja uma Big Band em sua formação tradicional, a Nova Malandragem soa perfeitamente como uma, aproveitando a tarimba de seus integrantes que, a despeito de ainda que serem jovens, já são experientes. É, provavelmente uma das consequências de sua “nova malandragem”, este savoir-faire desenvolvido pelas populações periféricas para sobreviver em uma sociedade que impõe as estatísticas contra sua existência individual.
A banda, portanto, apresenta proposta radical, em seu sentido mais literal, em que as raízes cravam todos os aspectos de sua atuação, musical e politicamente.