2 minute read

REENCONTRANDO O RUMO

Por Fernando de Freitas RUMO REVISTO

Advertisement

“Nós só éramos famosos na praça Benedito Calixto e arredores”, diz um dos membros da banda Rumo em determinado ponto do documentário que retrata o grupo. Para quem conhece São Paulo, isso é até um pouco irônico. A praça fica no bairro de Pinheiros, entre as ruas Teodoro Sampaio e Cardeal Arcoverde, e é como um portal para o bairro boêmio da Vila Madalena para quem vêm da região central. Lá, aos sábados, é montada uma feira de pulgas (que, ao longo dos anos, se tornou mais abrangente), ponto de reunião histórico de artistas. É um daqueles lugares que povoa o imaginário cultural da cidade. Ser famoso “só na Benedito Calixto” é algo bastante significativo.

O grupo formado por Luiz Tatit, Ná Ozzetti, Hélio Ziskind, Paulo Tatit, Pedro Mourão, Gal Oppido, Zecarlos Ribeiro, Geraldo Leite, Ricardo Breim, Fábio Tagliaferri, Akira Ueno e Ciça Tuccori (falecida), existiu initerruptamente entre 1974 e 1991, fazendo eventuais reuniões posteriores. Alguns nomes nesta lista podem ser, inclusive, familiares aos ouvidos, como o de Luiz Tatit, professor estrela da Letras-USP ou o de seu irmão, Paulo Tatit, que faz a cabeça da criançada com o Palavra Cantada. A cantora Ná Ozzetti dispensa apresentações. Gal Opiddo é um importante fotógrafo do meio musical e Pedro Mourão professor de música respeitado (com quem o autor deste texto teve aulas durante a adolescência).

Essa reunião, um tanto eclética, se fez durante um período durante o qual, em São Paulo, se formava um movimento que ficou conhecido como Vanguarda Paulistana, uma cena alternativa que se reunia em torno do Teatro Lira Paulistana. Seus contemporâneos eram Arrigo Barnabé, como o Premeditando o Breque, Os Mulheres Negras, Língua de Trapo, Itamar Assumpção, entre tantos outros. Eram, em sua essência, músicos que faziam uma nova leitura experimental da música popular, sem a extravagância da tropicália ou da contemporânea Geração do Desbunde.

Para apresentar a banda para as novas gerações, foi lançado o excelente documentário de Flavio Frederico e Mariana Pamblona com o nome da Banda. Misturando desenho animado, composições gráficas, depoimentos atuais e antigos, material de arquivo de shows, fotos, matérias de jornal, televisão e rádio o documentário resgata a história de do grupo.

O filme expõe toda a diversidade de imagens de arquivo das principais e mais conhecidas canções do grupo, assim como trechos de antigas entrevistas, clipes e bastidores, de forma bem-humorada e buscando alcançar um tom de leveza e humor, sem que se abra mão do compromisso histórico e de conteúdo de um bom documentário.

É rico em apresentar o panorama cultural dos anos 80 em São Paulo, traçando um quadro mais amplo do período e discutindo os seus significados através de diferentes pontos de vista. Vale a reflexão sobre a desconstrução das animações ao longo do filme, talvez, como o encontro com a realidade que se forma aos poucos.

This article is from: