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17 minute read
O INSTITUTO ENTREVISTA
by comlimone
Por Felipe Ricco
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MIGUEL DELAET
Miguel De Laet atua há mais de 20 anos no setor musical, desempenhando diversas atividades. Foi músico erudito e popular, tocou na banda de rock Karmanguia e no grupo de prog metal santista Metal Jam, que teve álbuns distribuídos em 8 países. Foi editor da revista Violão PRO. Produziu jingles e spots publicitários, trabalhou como músico de estúdio, produtor musical e atuava como desenvolvedor de produtos de fabricantes, tanto do Brasil quanto do exterior.
Em 2014, trabalhando na Anafima, elaborou o plano de internacionalização setorial de que auxiliou empresas como Tagima, Rozini, Music Kolor, Meteoro, Giannini, Izzo Musical e Odery. Após este período, teve contatos com alguns fabricantes de instrumento brasileiros para desenvolver projetos em conjunto. Foi aí que surgiu o esboço da De Laet.
De Laet se tornou a marca que dá nome ao ateliê onde Miguel produz seus instrumentos autorais. Nessa entrevista ele conta mais sobre toda sua empreitada.
Como você começou na luthieria?
Comecei razoavelmente cedo. Sempre fui muito curioso e, quando adolescente, comecei a estudar de forma autodidata depois que ouvi de um luthier “quem é você na fila do pão?” para negar um trabalho de um violão fretless. Estudei métodos de construção de autores do hemisfério norte, como os de Jonathan Natelson, William Cumpiano e Heron-Allen, entre outros, e não parei mais. Frequentei a B&H Escola de Luthieria bem garoto. Quando me dei conta já estava construindo meus primeiros instrumentos e foi um caminho natural trabalhar para alguns fabricantes do segmento, coordenando departamentos de marketing e desenvolvendo novos produtos. Continuei meus estudos no Conservatório de Tatuí, onde pude estudar de forma aprofundada conceitos e técnicas de construção da Escola de Cremona orientado pelos professores Fachinetti e Vlamir Ramos.
Quando você entrou no mercado, o principal intuito era construir instrumentos ou trabalhar com regulagem?
Quando entrei no mercado meu intuito era fazer música, não importava onde, com quem ou de que forma. Isso foi tomando uma proporção tão grande que não consigo separar a música da minha vida. Tudo que tenho hoje eu construí através dela.
A construção entrou de forma curiosa. Eu comecei a estudar muito cedo, e isso pode ser legal por um ponto, mas péssimo pela imaturidade e pelas ideias esdrúxulas. Num determinado momento dos primeiros passos de concertista, tive a “ideia genial” de querer estudar com um violão sem trastes, visto que os instrumentos temperados (ou seja, que renunciam à afinação natural pela praticidade do cromatismo, nos quais o dó sustenido e ré bemol são a mesma nota, por exemplo) jamais conseguiriam soar com a afinação perfeita.
Na época, um amigo me sugeriu procurar um luthier para fazer o trabalho. Foi o que fiz! Quando apresentei minha ideia, o luthier perguntou “quem é você na fila do pão? Violão fretless, isso nunca vai dar certo! Vai soar desafinado e eu não quero meu nome envolvido nisso”. Isso foi um convite para eu começar a construir meus primeiros instrumentos. A partir disso, o resto é essa carreira toda sinuosa que foi construída no meio musical.
Você se especializou numa das mais tradicionais escolas do país, o conservatório de Tatuí. Conta pra gente a importância de fazer um curso numa escola de luthieria.
Se eu fosse levar em consideração a percepção dos clientes que a maioria das oficinas de instrumentos de cordas atendem, talvez eu nem saísse de casa pra estudar. Via de regra, o cliente que busca o serviço de um luthier deseja pagar mais barato por um serviço que ele não consegue fazer ou não quer se aventurar.
No entanto, pessoalmente tem um peso muito importante na minha formação e me ajudou a compreender melhor aspectos históricos e os motivos das transformações estéticas e mecânicas dos instrumentos, o que nos cria atalhos na aplicação de soluções, seja na construção ou na manutenção de um instrumento musical, em especial nos violinos que, não raramente, possuem alto valor mercadológico e histórico.
Importante lembrar que a educação, infelizmente, é pouco valorizada em países sul-americanos de forma geral. E sempre que me questionam sobre a importância de se estudar formalmente, sempre digo que depende muito daquilo que procura. Se o intuito é apenas um diploma, não vale a pena, pois é um curso que exige sacrifícios de tempo e recursos.
No entanto, é possível, atualmente, ter contatos homeopáticos com o estudo da luteria através de cursos online, minicursos, oficinas, entre outros formatos de curta duração e descobrir se realmente está dis-
posto a investir tempo e dinheiro, pois além do trabalho e dedicação, temos o ferramental para desempenhar nossas atividades.
Podemos ilustrar o caminho de possibilidades entre os cursos regulares/formais e os cursos livres/ informais com os termos “luthieria” e “luteria”. Se você perguntar para um músico ou um luthier informal qual é a forma correta de dizer, muitos deles irão afirmar categoricamente “luthieria”, porque o termo “luteria é estranho” ou algo do gênero. Se você perguntar para um acadêmico, um estudante de letras, ou para um luthier que estudou formalmente, categoricamente dirão que “luteria” é o correto e irão argumentar com referências bibliográficas e, principalmente, com o dicionário de português que possui apenas o verbete “luteria” catalogado. De fato, se levarmos em consideração a língua portuguesa, luteria é o único termo correto e aceito.
No entanto, existe uma terceira via apresentada pela sociolinguística de Saussure que leva em consideração o hábito de um povo, indicando que não se deve corrigir a maneira de se expressar, sendo aceitável o uso do termo comercial “mussarela” para se referir ao tipo de queijo que possui a grafia correta “muçarela”, ou até mesmo o uso coloquial de “praca” para designar “placa”; basta lembrarmos também do termo “igreja” que surgiu de “iglesia” e se tornou o termo para designar um templo em português. Deste modo, “luthieria” é um termo que deve ser compreendido também como correto em um ambiente coloquial, pois a maioria das pessoas da cultura a que pertence entendem o seu significado.
Vejo o estudo da luteria (ou luthieria) do mesmo modo. Não importa muito o caminho, mas o quão profundamente você deseja seguir naquele estudo. Muita gente não deseja se aprofundar num determinado tópico, e isso não irá aumentar ou diminuir o seu grau de importância mercadológica. Você pode, informalmente, traçar estudos daquilo que interessa ou não para desempenhar determinada atividade.
Do mesmo modo, o estudo formal não será determinante para se atingir o sucesso em uma determinada área, apesar do seu peso acadêmico. Muitos profissionais não concluíram cursos de graduação e se tornaram referências em suas áreas. Isso não quer dizer que não houve estudo e disciplina na construção do seu conhecimento.
O domínio da técnica (prática) em conjunto com a compreensão teórica e o domínio do referencial bibliográfico são complementares e essenciais quando se exige verdadeiramente a excelência num determinado serviço ou produto. E, infelizmente, não há outra forma
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de se chegar a isso sem renúncias e sacrifícios.
Estudar qualquer coisa demanda tempo. Estudar uma arte multidisciplinar que exige conhecimento de princípios de física (mecânica, acústica etc.), química (para o preparo de vernizes, no caso dos ateliês de luteria clássica), dendrologia, artes plásticas e percepção musical, por exemplo, é algo que deve ser realizado com persistência, dedicação, disciplina e preparo físico também.
Entrar num curso de luteria sem base alguma, sem conseguir esculpir um cubo de madeira e acreditar que o mesmo será capaz de torná-lo um luthier em um curto período de tempo será frustrante, pois qualquer curso formal exigirá conhecimentos e habilidades mínimas necessárias para um bom rendimento do estudante. Por isso, é fundamental reconhecer que o esforço pessoal é determinante nos estudos, ainda mais nesta área.
Já ministrou algum curso na área?
Sim. No segmento de luteria ministrei algumas oficinas. Até 2019, atuava como professor universitário em cursos presenciais da área de música, mas nenhuma disciplina relacionada à luteria, apesar de ter um projeto para um curso de graduação na gaveta. Com a pandemia, tive que deixar a sala de aula e estou apenas com as atividades de construção de instrumentos do ateliê.
É a favor do uso da tecnologia para passar conhecimento? O que você acha de cursos online de luthieria?
Sim! A tecnologia e a era da informação revolucionaram o mundo, não poderia ser diferente com a educação. Existe a limitação de se conseguir efetivamente acompanhar um curso online de luteria por conta do ferramental necessário para algumas atividades. Digo isso porque é alto o investimento em ferramentas como goivas, plainas boas, ferramentas de corte boas, sargentos, grampos de qualidade, assim como madeiras, o que impede muita gente de iniciar um curso de luteria à distância e de se desenvolver na área. No entanto, vi muita coisa legal sendo produzida online, especialmente abordando regulagem de instrumentos de cordas dedilhadas ou princípios básicos de construção que podem ajudar estudantes a terem confiança em pegar seus primeiros serviços de manutenção e chegar naquele conhecimento mínimo necessário, que comentamos anteriormente, para encarar um curso formal, ou paulatinamente adquirir ferramental e novos cursos online, e evoluir efetivamente.
Outro ponto que podemos destacar – e que ficou ainda mais evidente no período de pandemia - é a dificuldade que muitos possuem para se deslocar e ir ao local do curso. O e-learning veio para ficar como solução para levar a educação de qualidade para áreas remotas ou para que as pessoas estudem de acordo com o seu tempo disponível.
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Além das guitarras, você está construindo violinos também. Como está esse projeto? Conta o intuito dele pra gente.
Eu, basicamente, produzo instrumentos de autor, então consigo flexibilidade para trabalhar com projetos de guitarras, violinos, ou qualquer outro que um músico desejar construir. Mas acho legal contar uma história que pode ajudar a entender um pouco melhor a “maluquice” de misturar guitarras com violinos. Quando comecei a produzir as guitarras usando apenas espécies brasileiras como conceito do projeto, um amigo meu, luthier, afirmava que “eu iria morrer na praia. Ninguém compraria, pois era impossível vender guitarra com madeiras nacionais, ainda mais apostando em design original”. Depois de alguns anos, recebemos, com o nosso modelo DeLaet Julie Spicy, o selo “Melhor Compra” da revista Total Guitar (2016) e vimos tanta gente boa surgir, seja produzindo instrumentos de autor seja instrumentos de oficina (aqueles que contam com uma equipe de luthiers ou uma CNC), utilizando somente madeiras brasileiras. Isso sem contar as grandes fabricantes internacionais, que estão utilizando nossas espécies.
Eu não fui o primeiro a usar exclusivamente madeiras brasileiras em projetos. Referências minhas, como o Ronay e o Josino Saraiva da Cast Guitars, já faziam isso muito bem décadas atrás e com resultados excepcionais. A única coisa que fiz diferente de luthiers de gerações anteriores é que eu não vendia instrumentos com madeira brasileira como uma alternativa, “madeira substituta” para as espécies tradicionais. Os instrumentos foram projetados para o uso delas, levando em considerações suas características mecânicas e acústicas, e, por esse motivo, conquistaram os músicos e o público que atendemos. Com o tempo, por pedido de um ou outro cliente, fui produzindo com madeiras tradicionais também, sem que isso afetasse o DNA dos instrumentos DeLaet, que são autorais.
Os violinos surgiram de forma curiosa. Visitando a casa da minha mãe para buscar alguns documentos, encontrei, entre as caixas que ali estavam, um antigo violino tcheco que ganhei de presente quando era criança. Levei pra casa, o restaurei e comecei a estudar novamente alguns temas no violino (aqueles do método Suzuki, bem básicos). Quando me dei conta, estava novamente debruçado em livros, anotações e muito cavaco de madeira, construindo instrumentos inspirados no período de ouro (1700) dos instrumentos de cordas friccionadas.
Não demorou muito para que os violinos inspirados no Messiah (1716), de Stradivari, que estou fazendo, dividissem espaço na bancada com um projeto autoral que, aliás, devo apresentar ainda este ano. O mapa foi baseado na proporção áurea com o intuito de oferecer um instrumento contemporâneo com projeção e equilíbrio tonal, mantendo os princípios estéticos que norteiam um instrumento de alto padrão.
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No Site da De Laet há um blog com textos muito bem escritos, inclusive com textos e pesquisas bastante pertinentes. Você tem esse perfil de pesquisador? Gosta de estudar e adquirir novos conhecimentos? Como isso pode acrescentar ao trabalho de um luthier?
Obrigado! Sempre gostei de escrever. Fui editor da revista Violão PRO por muitos anos. Depois, fui colaborador da revista Música&Mercado para matérias técnicas voltadas para lojistas e fabricantes. Como professor universitário também publiquei alguns artigos científicos, mas sempre tive a intenção de ter um canal direto para falar sobre coisas diversas, mesmo que de maneira informal.
Acredito que a busca pelo aprimoramento deve ser uma constante na vida do ser humano. Na luteria, por ser uma área multidisciplinar, a exigência é ainda maior. Infelizmente, são poucos os estudos publicados em nosso país para nossa área de estudo, mas, graças à tecnologia, consigo pesquisar em sites e bancos de pesquisa de instituições europeias que possuem muito material. Artigos que tratam do comportamento vibracional de polímeros naturais (madeiras), sintéticos, propriedades de amortecimento sonoro de tipos de cola na luteria, por exemplo. Muitos estudos não contribuem necessariamente para a evolução da prática, mas servem de parâmetro para desmistificar assuntos que geram discussões intermináveis e que se resumem a uma opinião e gosto pessoal.
O blog foi sugestão de minha es-
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posa, Dandara, mas confesso que comecei a me dedicar há pouco tempo devido à agenda corrida que temos aqui. Ultimamente, venho estudando um material publicado em 1786 por Antonio Bagatella sobre design de instrumentos e que serve de base até hoje para luthiers da Alemanha e da região do Tirol. Ele foi apresentado na época em que o autor publicou na Academia de Ciência, Letras e Artes de Padova. É um material que devo compartilhar no blog, certamente.
Espero que o espaço possa contribuir, de algum modo, com outros apaixonados pela música e luteria, bem como estimular as pessoas a compartilhar suas vivências e práticas dentro deste nosso rico universo.
Com a pandemia do Coronavírus, diversos segmentos do mercado entraram em crise e muita gente está precisando se adaptar. Como a De Laet está lidando com esses novos tempos?
Sim. Um ateliê de instrumentos artesanais de alto padrão não atende muita gente, normalmente. Não dá para negar que fomos afetados, em especial com inadimplência e atrasos de pagamento, mas temos que agradecer por continuarmos vivos e trabalhando. São raras as empresas que se mantiveram e muitos profissionais estão sofrendo com a falta de trabalho e emprego.
Atualmente, trabalho sozinho na oficina. São raros os casos de recebermos serviços de manutenção, mas, quando acontece, os clientes apenas deixam os instrumentos e retornam para retirá-los. Quanto ao envio ou entrega dos instrumentos, sempre tivemos preocupação com a higienização das peças. Seguimos com o mesmo rigor com o intuito de evitarmos as chances de contágio, tanto nossa como dos clientes.
Acredito que muitos dos hábitos que surgiram durante a pandemia continuarão persistindo. O uso de máscara, apesar de poder logo mais não ser exigido, pode se tornar um hábito comum para alguns adeptos, mesmo quando a pandemia do Covid-19 estiver controlada, assim como acontece em países no oriente. Torço para que, em breve, este temor se torne apenas uma lembrança e que voltem os espetáculos musicais, a alegria das rodas choro, a balada rock do final de semana.
Como você vê o mercado da luthieria no Brasil?
Bastante promissor, em especial no setor de guitarras. É incrível como temos inúmeros bons construtores, talvez pelo mix de grande oferta de cursos online, fóruns de discussão na internet de construção de instrumentos e facilidade da aplicação e acesso a máquinas CNCs, tornando viável o surgimento de novos empreendedores no setor, que atualmente não precisam ter habilidades artísticas para usinar uma peça de madeira. De qualquer modo, exige-se conhecimento do material a ser usinado e de programação.
Além do surgimento de fabricantes voltados a instrumentos de oficina com uso de CNC, temos o setor de serviços de pintura que ajudou bastante gente a ter um acabamento profissional, resolvendo com a terceirização a etapa mais importante para um instrumento de alto padrão. Cito a Music Kolor como uma das pioneiras e a grande referência neste segmento. Os acessórios produzidos no país também são merecedores de destaque. Christian Bove, uma das maiores referências, produz hardware custom com um capricho ímpar. Ramme Custom, pelo que acompanho nas redes sociais, vem agradando muita gente também.
Creio que a luthieria brasileira nunca esteve em um nível tão elevado e promissor. E tem guitarra e baixo para todo tipo de gosto e bolsos.
Algum conselho para novos profissionais?
Dediquem-se ao máximo em tudo que se comprometerem a fazer. Sejam perseverantes, tenham paciência e não tenham receio de errar. Sejam obstinados, arrisquem-se e, principalmente, estudem! A educação é transformadora. Façam as renúncias e sacrifícios valerem a pena.
E como último conselho: “não sigam conselhos desmotivadores”. Se eu tivesse seguido os “sábios conselhos” de um amigo luthier, perderia a chance de vivenciar todas as experiências importantes que me trouxeram até aqui. Curtam a jornada, pois ela é a razão de tudo.
Finalizando por aqui, muito obrigado pela entrevista, o espaço é seu para mandar um recado.
Quero agradecer a toda equipe da 440hz pela oportunidade da entrevista e a você, Felipe, pelo trabalho que O Instituto desempenha, contribuindo na formação de muita gente interessada pelo universo musical.
Por Érico Malagoli
PASSEATA CONTRA A GUITARRA ELÉTRICA
Sim, isso ocorreu… no Brasil, é claro! Anos 50 e 60, enquanto, nos EUA, inventores como Leo Fender e Les Paul, à frente de fábricas como Fender e Gibson desenvolviam guitarras, no Brasil algumas personalidades da música da época, especialmente da MPB, decidiram se colocar contra o instrumento que, para eles, simbolizava a invasão cultural estrangeira, especialmente da música americana e inglesa. Nesse período já se fabricavam guitarras no Brasil e muitos músicos do rock brasileiro a usavam, mas eram “malvistos” por seus colegas músicos. Com o slogan “defender o que é nosso” em mente, para se proteger da influência cultural estrangeira (além de alguns outros interesses não ditos), em 17 julho de 1967, centenas de pessoas, acompanhadas por artistas do gabarito de Gilberto Gil, Jair Rodrigues, Geraldo Vandré e Edu Lobo, dentre outros, liderados por Elis Regina, caminharam pelo centro de São Paulo gritando “Fora Guitarra”! O trajeto percorrido foi desde o Largo São Francisco até o Teatro Paramount (hoje Teatro Renault), na avenida Brigadeiro Luís Antonio, onde ocorreria o programa Frente Ampla da MPB. Diz a história que Caetano Veloso e Nara Leão assistiam a tudo da janela do Hotel Danúbio horrorizados. Nara chegou a dizer que aquilo parecia uma manifestação integralista. Em entrevista ao jornalista Júlio Maria, Gilberto Gil se justificou de maneira equilibrada: “Eu participava com Elis daquela coisa cívica, em defesa da brasilidade, tinha aquela mítica da guitarra como invasora, e eu não tinha isso com a guitarra, mas tinha com outras questões, da militância, era o momento em que nós todos queríamos atuar. E aquela passeata era um pouco a manifestação desse afã na Elis”. Chico Buarque, quando cobrado por não ter participado, teria respondido “não tenho nada contra a guitarra elétrica, só não toco”. O irônico é que é impossível imaginar os grandes discos de Elis Regina da década de 70 sem a guitarra de Natan Marques, por exemplo. Pouco tempo depois, em outubro de 1967, aconteceria o III Festival da TV Record, histórico, porque foi aí que se revelou a renovação da MPB, onde Gil tocou com os Mutantes e Caetano Veloso se apresentou com os Beat Boys (banda de rock argentina), marcando uma aproximação dos músicos com a guitarra, e dando origem ao movimentoconhecido como Tropicália.
Anneliese Kappey
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Erico Malagoli Ana Sniesko
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Fernando de Freitas
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Ian Sniesko Luis Barbosa Camila Duarte
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Lucas Vieira Henrike Balíú
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AFINADA PARA QUEM GOSTA DE MÚSICA
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440 Hz
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